TRATAMENTO DE SEMENTES DE SOJA COM FUNGICIDA E/OU ANTIBIÓTICO, SOB CONDIÇÕES DE SEMEADURA EM SOLO COM BAIXA DISPONIBILIDADE HÍDRICA 1

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1 TRATAMENTO DE SEMENTES DE SOJA COM FUNGICIDA E/OU ANTIBIÓTICO, SOB CONDIÇÕES DE SEMEADURA EM SOLO COM BAIXA DISPONIBILIDADE HÍDRICA 1 LUIZ A.G. PEREIRA 2, NILTON P. DA COSTA 3, ÁLVARO M.R. ALMEIDA 3, JOSÉ DE B. FRANÇA NETO 3, JOÃO L. GILIOLI 3 e ADEMIR A. HENNING 4 Revista Brasileira de Sementes, vol. 15, n o 2, p , 1993 RESUMO - Três experimentos foram conduzidos nas safras 1977/78, 1978/79 e 1979/80, visando estudar o plantio de sementes de soja tratadas com thiram ((2,1 g p.a./kg semente) e/ou estreptomcina (1,0 g p.a./kg semente) em solo com baixo teor de umidade insuficiente para promover a germinação das sementes. Os experimentos foram conduzidos no município de Londrina, PR, em Latossolo Roxo Distrófico. O plantio, para os três anos de estudo, foi feito em faixas, sendo que a primeira foi irrigada no dia do plantio, enquanto as outras receberam irrigação a intervalos de quatro dias. Em cada irrigação aplicou- se o equivalente a 0 mm de chuva. Nos três anos agrícolas estudados, a presença do fungicida induziu sempre melhor emergencio. Entretanto, à medida que as sementes permaneciam no solo à espera de irrigação, ocorria declínio na porcentagem de emergência, com maior redução para as sementes não tratadas. As sementes tratadas com estreptomicina apresentaram os mais baixos valores de emergência, não diferindo da testemunha nos três anos do estudo. Em solo seco, sementes tratadas com fungicida mantiveram a sua viabilidade em níveis aceitáveis por períodos de quatro a doze dias, dependendo de seu nível de vigor. Termos para indexação: tratamento químico, emergência, irrigação, fungicidas SOYBEAN SEED TREATMENT WITH FUNGICIDE AND/OR ANTIBIOTIC AND ITS EFFECTS ON SEEDLLNG EMERGENCE UNDER LOW SOIL MOISTURE CONDITIONS ABSTRACT - The purpose of this study was tu determine the effects of seed treatment with thiram (2.1 g a.i./kg of seed), streptomycin (1,0 g a.i./kg of seed) and their mixture, on emergence of soybean seed planted in soil with low water availability. Three experiments were carried out on Latossolo Roxo Distrófico, at Londrina, Paraná, in 1977/78, 1978/79 and 1979/80. lhe sou was previously dried by conventional tiliage, before planting. lhe seed were planted in four blocks: the first was irrigated at the planting date, and the other ones sucessively at a four day interval. Each irrigation was equivalent to 10 mm of rainfali. Treatment with thiram always reduced in better emergence during the 1 Aceito para publicação em Ex-Pesquisador da EMBRAPA/Centro Nacional de Pesquisa de Soja, Londrina, PR 3 Eng. Agr., Pesquisador da EMBRAPA/Centro Nacional de Pesquisa de soja - Caixa Postal Londrina, PR 4 Ex-Pesquisador da EMBRAPA/Centro Nacional de Pesquisa de Soja, atualmente na FT- Pesquisa e Sementes, Brasília, DF

2 three years of study. Nevertheless, when the seed remained in the dry soil waiting for irrigation,there was a reduction on emergence, specially for the nontreated seed. Seed treatment with streptomycin had the lowest values of emergence, not differing from the non-treated control in the three years of study. When high quality seed is planted in dry soil, fungicide treatment may protect the seed for periods up to twelve days, depending on the vigor level of the seed lot. Index terms: seed treatment, emergence, irrigation, fungicide INTRODUÇÃO A obtenção de uma lavoura de soja com população adequada de plantas depende da correta utilização de diversas práticas. O bom preparo do solo, a semeadura na época adequada em solo com boa disponibilidade hídrica, a utilização correta de herbicidas e boa regulagem da semeadora quanto à densidade e semeadura são práticas essenciais. Assim, o sucesso da lavoura está condicionado à utilização de sementes de alta qualidade. No entanto, Henning et al. (1991) destacam que nem sempre a semeadura é realizada em condições ideais, o que resulta em sérios problemas de emergência, havendo, muitas vezes, a necessidade de replantio. Por essa razão, o tratamento de sementes com fungicidas vem sendo empregado pelos produtores como prática freqüente para garantir populações adequadas de plantas, quando as condições edafoclimáticas durante a semeadura são adversas (Henning et al., 1981, 1984, 1991). A semeadura em solos com baixa disponibilidade hídrica exemplifica uma dessas condições de boa umidade do solo, que garantem a rápida germinação e emergência de plântulas nem sempre ocorrem durante toda a época de semeadura. Para que o processo de germinação da semente de soja seja iniciado, o que teor de umidade deve atingir valores ao redor de 50% (Burch & Delouche, 1959). Para que isso ocorra, o solo não pode estar com baixa disponibilidade hídrica. Solos argilosos ou argilo-siltosos necessitam de um teor mínimo de umidade de 6,70% e 9,74%, respectivamente, para que a germinação de sementes de soja ocorra (Hunter & Erickson, 1952). A semeadura de sementes de soja em solos secos, ou em condições de baixa temperatura, expõem as sementes por mais tempo à ação deletéria de fungos de solo, como Rhizoctonia solani, Fusarium spp. e Aspergillus spp. (principalmente A. flavus), que podem causar a sua deterioração no solo, ou a morte de plântulas (Henning et al., 1991). O objetivo desse estudo foi determinar o nível de proteção propiciado às sementes de soja pelo tratamento com fungicida, antibiótico e a sua combinação, quando a semeadura ocorre em solo com baixa disponibilidade hídrica. MATERIAL E MÉTODOS

3 O estudo foi realizado em Londrina, PR, por três anos consecutivos nas safras 1977/78, 1978/79 e 1979/80. Foram utilizadas sementes de soja da cultivar Paraná. No primeiro ano foram empregadas sementes de baixo vigor, com emergência a campo de 60%. No segundo ano foram utilizadas sementes de vigor médio: potencial de germinação de 86% e vigor 70%, determinados pelo teste de tetrazólio. No terceiro ano o lote estuado apresentava alto vigor, com 90% de germinação potencial e 80% de vigor pelo tetrazólio. As sementes foram tratadas com o fungicida thiram (2,1g i.a./kg de semente), com o antibiótico estreptomicina (1.0g i.a./kg de semente) e a mistura deles, sendo a seguir semeadas a campo em Latossolo Roxo Distrófico, previamente seco por revolvimento contínuo, realizado por vários dias, não sendo, entretanto, determinado o seu teor de umidade no momento da semeadura. O fungicida utilizado, thiram, é classificado como fungicida protetor, sendo eficiente contra patógenos do solo e alguns fitopatógenos de sementes (Sharveile, 1961; Henning et al., 1991). A semeadura foi feita em quatro faixas, correspondendo às quatro épocas de irrigação, utilizando-se 30 sementes por metro linear. As faixas foram separadas uma da outra por um espaçamento de 40cm, evitando-se, dessa forma, migração de umidade de uma faixa para outra. A primeira faixa foi irrigada no dia da semeadura com volume de água correspondente a 10mm de chuva, e as demais, irrigadas com intervalos de 4 dias, de modo que a quarta faixa foi irrigada 12 dias após a semeadura. Uma vez iniciada a irrigação em cada faixa, a umidade foi mantida até o completo estabelecimento das plantas. Em dias chuvosos, as faixas não irrigadas foram cobertas com lona plástica apoiada em estrado de madeira com 40cm de altura. O delineamento estatístico utilizado foi o de blocos casualizados em esquema de parcelas subdivididas, com dezesseis tratamentos e quatro repetições. Cada repetição foi constituída por uma fileira de 2,0m de comprimento, com 0.30m de espaçamento entre si. A contagem de emergência foi efetuada aos 28 dias após a semeadura. RESULTADOS E DISCUSSÃO De maneira geral, durante os três anos do estudo, a porcentagem de emergência de plântulas foi reduzida, à medida que o período de permanência das sementes em solo seco aumenta a (Figs. 1, 2 e 3). Para os lotes de vigor baixo (1977/78) e médio (1978/79), consistentemente os tratamentos com thiram, com ou sem estreptomicina, apresentaram melhor emergência, mesmo em condições ideais de umidade do solo, ou seja, irrigação efetuada no dia de semeadura (Figs. 1 e 2). Esse efeito aumentou, à medida que se prolongaram os períodos em que sementes permaneceram em solo seco. Para o lote de vigor alto (Fig. 3), essas diferenças foram evidentes após a permanência das sementes em solo seco por um período de oito dias.

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6 A utilização isolada de estreptomicina não trouxe benefícios quanto à emergência, equivalendo-se, na maioria dos casos, à testemunha, que foi inferior ao tratamento com fungicida. A mistura estreptomicina + thiram, que proporcionou emergência superior à testemunha, não diferiu do tratamento thiram isolado, indicando que os bons resultados obtidos com essa mistura deveram-se apenas à proteção proporcionada pelo thiram. O bom desempenho do fungicida thiram pode ser explicado pela sua atuação protetora, sendo o mesmo considerado por Sharveile (1961) e Henning et al. (1991) como eficiente contra maioria dos fitopatógenos presentes nas sernentes e, principalmente, contra os fungos de solo. Porém, essa proteção foi limitada e a emergência de plântulas apresentou acentuado declínio, à medida que as sementes foram mantidas em solo seco. Essa proteção dependeu também do nível de vigor da semente utilizada: sementes com vigor médio (Fig. 2), tratadas com thiram, apresentaram emergência de plântulas aceitável (70,0%) até o quarto dia em solo seco; as de vigor alto (Fig. 3) apresentaram boa emergência (79,0%) até o 12º dia em solo seco. De acordo com Buckman & Brady (1968) e França Neto et al. (1985), a umidade relativa (UR) do ar presente em solos secos pode ser próxima de

7 100%. A semente de soja, sendo higroscópica, quando armazenada em silo seco, à espera de condições ideais de umidade para iniciar o processo germinativo, terá o seu grau de umidade elevado em função da elevada UR observada. Embora esse teor de umidade não tenha sido suficiente para completar o processo de germinação, com certeza permitiu alguma atividade metabólica, que resultou na produção de exudações ricas em açúcares e aminoácidos. Segundo Schroth & Cook (1964), Kraft & Erwing (1967) e Keeling (1974), sementes de feijão e soja, durante o processo de germinação, produzem exudatos que, pela sua constituição química, favorecem a proliferação dos fungos responsáveis pela redução do vigor e morte das sementes ou plântulas. Assim sendo, a permanência das sementes em solo seco por períodos mais prolongados, resulta em uma ação deteriorativa mais intensa da flora microbiana do solo, notadamente os fungos, uma vez que foi notada densa formação micelial de fungos não identificados, em sementes parcialmente destruídas e que não germinaram. Estudos mais detlhados sobre a deterioração da semente de soja no solo seco e sobre os aspectos levantados no presente trabalho estão sendo realizados na EMBRAPA-CNPSo. CONCLUSÕES Os resultados obtidos no presente trabalho possibilitaram as seguintes conclusões: a ação antibiótica ou bactericida propiciada pela estreptomicina é ineficaz para a proteção das sementes de soja semeadas em solo com baixa disponibilidade hídrica. Tal fato indica que os fatores de ordem fisiológica, interagindo com os fungos de solo, são os responsáveis pela deterioração da semente, quando semeada em solo seco; o tratamento de sementes de soja com fungicidas protetores como o thiram proporcionam proteção às sementes de soja semeadas em solo com baixa disponibilidade hídrica por periodos de 4 a 12 dias, dependendo do nível de vigor das sementes utilizadas. REFERÊNCIAS BUCKMAN, H.O.; BRADY, C.C. Natureza e propriedade dos solos. Rio de Janeiro. 1968, p.220 e 281. BURSH, T.A.; DELOUCHE, J.C. Absorption of water by seeds. Proc Assoc. Of. Seed Anal., 49:142-50, FRANÇA NETO, J.B.; HENNING, A.A.; COSTA, N.P. Estudo da deterioração da semente de soja no solo. In: RESULTADOS DE PESQUISA DE SOJA 1984/85. Londrina: EMBRAPA/CNPSo, p HENNING, A.A.; FRANÇA NETO, J.B.; COSTA, N.P. Recomendação do tratamento químico de sementes de soja (Glycine max (L.) Merrill). Londrina: EMBRAPA/CNPSo, p. (EMERAPA/CNPSo. Comunicado Técnico, 12).

8 HENNING, A.A.; FRANÇA NETO, J.B.; COSTA, N.P. Recomendação de fungicidas para o tratamento de semente de soja. Londrina: EMBRAPA/CNPSo, p. (EMBRAPA-CNPSo. Comunicado Técnico, 31). HENNING, A.A.; KRZYZANOWSKI, F.C.; FRANÇA NETO, J.B.; YORINORI, J.T. Tratamento de sementes de soja com fungicidas. Londrina: EMBRAPA-CNPSo, p. (EMBRAPA-CNPSo. Comunicado Técnico, 49). HUNTER, J.R.; ERICKSON, A.E. Relation of seed germination to soil moisture tension. Agron. J., 44:107, KEELING, B.L. Sobean seed rot and the relation of seed exudate to host susceptihility. Phvtopathology, 64:1445, KRAFT, J.M.; ERWING, D.C. Stimulation of Pythyum aphanidermatuin by exudates from mung bean seeds. Phytopathology, 57:866-8, SCHROTII, M.S.; COOK, R.J. Seed exudation and its influence on preemmergence damping-off of bean. Phytopathology, 54:670-3, SHARVELLE, E.G. The nature of uses of modern fungicides. Minneapolis: Burguess Publ., p.