Contribuições do pensamento nietzschiano na abordagem dos processos de criação em dança cênica (artística)
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- Maria das Dores Correia Canedo
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1 Contribuições do pensamento nietzschiano na abordagem dos processos de criação em dança cênica (artística) Contributions of Nietzsche's thought in approaching the processes of creation in scenic dance (artistic) Fernanda da Silva Passos (UFG) Nayara Lima Vianey (UFG) Marcio Pizarro Noronha (UFG) Resumo: Este artigo tem como objetivo relacionar quais as contribuições que o pensamento nietzschiano traz para os processos de criação em dança cênica. O artigo foi construído através de uma revisão bibliográfica e para melhor compreensão dividimos o texto em quatro pontos para nortear a discussão, sendo eles: Nietzsche e a obra de arte, Nietzsche e o artista, os processos criativos e danças específicas. Concluímos que as contribuições de Nietzsche acrescentam possibilidades para a criação em dança cênica. Mesmo o ballet clássico sendo tipicamente apolínea ela pode vir a atingir outros lugares dependendo da produção artística de seu criador. Palavras-chave: Dança. Nietzsche. Processo criador. Abstract: This article aims to relate the contributions of Nietzsche's thoughts to the creation processes in scenic dance. The article was built throughout a bibliographic revision and for better comprehension the text was divided into four topics to guide the discussion, they are: Nietzsche and the artwork, Nietzsche and the artist, the creative process and specific dances. We conclude that Nietzsche's contributions add possibilities for the creation in scenic dance. Even though the classic ballet being typically apollonian it can reach other scopes depending the artistic production of its creator. Keywords: Dancing. Nietzsche. Creative proccess. Introdução Este artigo tem como objetivo relacionar quais são as contribuições que o pensamento nietzschiano traz para os processos de criação em dança cênica, ou seja, a dança artística, onde nossa experiência estende-se especialmente pelo ballet clássico. A idéia surgiu a partir de um trabalho realizado por nós, acadêmicas do curso de 327
2 Licenciatura em Dança da Universidade Federal de Goiás, na disciplina de História da Arte ministrada pelo professor Doutor Márcio Pizarro Noronha, no qual pesquisamos os conceitos de arte definidos por Nietzsche. Como não se encantar com tal autor, que antes de conhecer achava ser apenas mais um cientista ateu que tentava de várias formas provar a inexistência de Deus. Obviamente depois de uma pequena aproximação todos os preconceitos caíram por terra ficando somente aquela inquietação de como trazê-lo para nosso cotidiano da dança. Para isso fizemos uma pequena revisão bibliográfica a fim de relacionar esses dois temas principais Nietzsche e a dança. Didaticamente dividimos o texto em quatro partes: Nietzsche e a obra de arte; Nietzsche e o artista; O processo criador e por fim a Dança específica, onde iremos relacionar as teorias nietzschianas abordadas ao longo do texto com a nossa vivência no ballet clássico. Nietzsche e a obra de arte Segundo Haar (2000), Nietzsche considerou em duas de suas grandes obras, O nascimento da tragédia (1872) e nos Fragmentos dos anos 1880 que, "primeiro importava mais a criação e o estado criador do que a obra", e segundo que a arte surge no homem como uma força da natureza. Dessa forma somente os artistas, sendo mais frágeis e mais fortes que os outros homens, seriam capazes de traduzir esse impulso da natureza como obra de arte. Tais impulsos surgem no homem através de determinados estados corporais, tanto no artista como em quem contempla a obra, resgatando assim o sentido originário do termo aisthesis, de experiência sensível, sensória, perceptual e o seu respectivo compartilhamento como estado coletivo de afecção provocada pela experimentação. Em O nascimento da tragédia, essas pulsões artísticas da natureza, aparecem no homem através de dois estados criativos: o sonho e a embriaguez, onde o primeiro está nas visões apolíneas e a segunda nas visões dionisíacas como explica Haar (2000). Como explica Roble (2009), Apolo é o representante estético da harmonia, das 328
3 formas exatas da ordem e da beleza equilibrada, já Dionísio representa os excessos o poder do caos e da energia. Dessa forma podemos entender que as visões Apolíneas do sonho são ligadas à forma, ao limite, à individuação e aos elementos plásticos. E na embriaguez dionisíaca manifesta-se o êxtase da possessão por forças naturais ou da fusão pânica com a natureza, o ditoso, apagar os limites (Haar, 2000). Ressaltamos também que para Nietzsche o homem vive uma constante metamorfose, por onde ele conhece os três espíritos, Camelo, leão e criança, sendo este último o ápice dos espíritos, pois lhe dá a capacidade de ser livre, de adquirir qualidades de criador, tornando-se assim a sua própria obra de arte, a vida do artista passa à obra de arte. Para Nietzsche, a obra de é uma continuação da obra de arte principal que é o próprio criador, copiando o exemplo dos gregos que produziam arte quando a mesma transbordava em seu corpo, como apresentou Roble (2009). Nietzsche e o artista Nietzsche descreve o artista e seus estados criadores, o qual vai chamar de fisiologia, estado esse de extrema sensibilidade, principalmente ao próprio corpo. A arte resulta de um processo de criação onde o artista reorganiza o mundo de acordo com seus valores. Na tipologia dos artistas uma obra de arte deve ser questionada em relação à sua origem, de qual sentimento ele advém (tipo ativo ou reativo), o que ele busca. Baseado nestes questionamentos ele dividiu quatro tipos de artista: Artista Dionisíaco necessidade de romper com as formas, resultada de uma abundancia de força; Artista do ressentimento ódio à grandeza passada; Artista ditirâmbico Desejo de ser, expressão de uma vontade afirmativa; Artista do pessimismo uma vontade sofredora, que imprime sobre as coisas seu próprio sofrimento. Os processos criativos Os processos criativos estão presentes em vários campos artísticos, na dança consideramos que: 329
4 num processo de criação, os bailarinos devem ser provocados, incitados e desafiados. Devem ser chamados a resolver problemas. Seus corpos devem ser convidados a se desacomodarem e a proporem soluções, porque o processo se dá nestes corpos e é nestes corpos que a obra se realiza. Os corpos vão transformando a coreografia, que também os vai transformando. Coreografar, transformar movimentos em movimentos de dança (...). (Dantas 1999) Podemos considerar que o sonho e a embriaguez são processos de criação propostos por Nietzsche, porque neles o homem é posto para fora de si para que ele possa criar. Portanto, enxergamos que essas duas propostas de criação se dividem no formato mas, se encontram no contexto onde a arte modifica a vida do ser humano e este modifica a arte. A dança específica Tendo em vista que nossa vivência transita pelo ballet clássico, traçamos um comparativo entre essa prática e as contribuições Nietzschianas onde concluímos que essa dança se encaixa em suas linhas mais gerais no contexto Apolíneo, uma vez que a dança romântica valorizou apenas o lado dito moralmente nobre do humano e elegeu Apolo, em suas formas, medidas e equilíbrio como o único referencial a ser seguido (Roble 2009). Entretanto, os bailarinos são livres para se definirem como qualquer uma das tipologias dos artistas sendo que não podemos defini-los por nossa conta, mesmo que se trate de uma expressão artística tipicamente apolínea. Como ser livre e dono de sua própria vida e obra, o bailarino é permitido utilizar-se de qualquer processo criativo, porque a criação acontece a partir da vida, da história e do corpo do criador. Afinal Por acaso é possível compreender melhor a vida, a não ser dançando? (GUERVÓS, 2003) 330
5 Referências DANTAD, M. Dança, o enigma do movimento. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, p GUERVÓS, L.E.S. Nos limites da linguagem: Nietzsche e a expressão vital da dança. [periódico] Disponível em: Acesso em 29 jul HAAR, M. A obra de arte Ensaio sobre a ontologia das obras. Rio de Janeiro: DIFEL, p ROBLE, O. S. Reflexões sobre a dança a partir das metáforas de Zaratustra. [artigo científico] Disponível em: Acesso em 5 ago Minicurrículos Fernanda da Silva Passos é graduanda do curso de Licenciatura em Dança, na Universidade Federal de Goiás (UFG FEF). Cursando o 2 período. passos.fernandaa@hotmail.com Nayara Lima Vianey é formada em Educação Física pela Pontifícia Universidade de Goiás (PUC-GO). Graduanda do curso de Licenciatura em Dança, na Universidade Federal de Goiás (UFG FEF). Cursando o 2 período. nayara.vianey@gmail.com Marcio Pizarro Noronha é doutorado em Antropologia (USP) e em História (PUCRS), com Mestrado em Antropologia (UFSC). Professor e Pesquisador do Curso de Dança Licenciatura FEF UFG. É professor e pesquisador do curso de pós-graduação em História da UFG é líder dos grupos de pesquisa Interartes: Processos e sistemas interartísticos e estudos de performance e do grupo FAPEG da Rede Goiana de Pesquisa Interartes: processos e sistemas interartísticos, intertextualidade, interculturalidade e estudos de performance. pizarronoronha@gmail.com 331
gênio na antiguidade, mostrando como os gregos consideraram o tema, e como o romantismo se apropriou da idéia, com forte inspiração kantiana.
Conclusão Levando em conta as discussões sobre o tema na tradição filosófica, Nietzsche escapa de um procedimento metafísico e coloca a idéia de gênio para além de um simples ideal. Por ideal, Nietzsche
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