A DOUTRINA ESPÍRITA - III PARTE - FILOSOFIA ESPÍRITA, RELIGIÃO E PROCESSO CONSCIENCIAL.
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- Vinícius Padilha Neves
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1 A DOUTRINA ESPÍRITA - III PARTE - FILOSOFIA ESPÍRITA, RELIGIÃO E PROCESSO CONSCIENCIAL. Pedro (Espírito) Psicofonia compilada por Maria José Gontijo Revisão: Sem correção Resumo: Trata-se do terceiro estudo de uma série de cinco que trata da Doutrina dos Espíritos. Neste estudo Pedro faz uma proposta de ampliar os três aspectos do Espiritismo que são a Filosofia, Ciência e Religião, para cinco, dividindo o aspecto religião em três Revelação, Religiosidade e Ética, objetivando um conhecimento maior do Espiritismo. Faz-se ampla explanação sobre estes aspectos, proporcionando um conhecimento da sua importância para compreensão e vivência da Doutrina dos Espíritos. Palavras chaves: Filosofia, Ciência, Religião, Revelação, Ética, Religiosidade, Moral, Espiritismo, Movimento Espírita, comportamento, fé raciocinada, dogmas, rituais, Centros Espíritas, médiuns. Sejam bem vindos a esse momento e espaço, para que possamos juntos compartilhar consciência, conhecimento e propostas, lembrando que toda ação começa no pensamento, que toda realização começa na vontade, que toda transformação começa num simples desejo de evoluir. Que nessa noite Jesus possa incentivar todos a caminhar em sua direção. Continuando nossa série de estudos na tentativa de compreender um pouco melhor, mais profundamente, esse grande desconhecido que é o Espiritismo. Quero propor para vocês o alargamento de visão, apresentando os cinco aspectos do Espiritismo. No senso comum costuma-se utilizar para o estudo dele apenas três aspectos: Filosofia, Ciência e Religião. Eu gostaria de propor uma ampliação decompondo a Religião em pelo menos três aspectos diferentes. Porque já discutimos em aulas anteriores que considerar o Espiritismo como Religião seria no mínimo uma simplificação na qual perderíamos grandes e importantes características dele. A primeira definição que Kardec dá ao Espiritismo é a Ciência que vai estudar a relação dos homens com os espíritos, que vai estudar o mundo espiritual. Ele define Espiritismo como Ciência num primeiro momento. Não questionamos que o Espiritismo é Ciência. Porém a Ciência é a mais difícil de ser exercida na prática, porque a sociedade brasileira tem grandes dificuldades de fazê-la, porque existem dificuldades culturais, técnicas e econômicas. A Ciência Espírita está muito atrasada, encontra-se no final do séc. XIX e início do século XX. Têm-se quase cem anos de avanço da Ciência que o Movimento Espírita não conseguiu acompanhar. Quais são as dificuldades técnicas para se fazer Ciência Espírita? A primeira dificuldade é que ela requer uma metodologia própria e específica. Então, exige especialistas, impossibilitando que qualquer um possa fazê-la. A Ciência é dividida em vários compartimentos que são suas especialidades. Por exemplo, nós temos aqui dois especialistas em Direito. Como se poderia fazer Ciência na área de Direito? Teria que se especializar nesta área. Pela metodologia 1
2 científica somente doutores e mestres poderiam propor pesquisas em suas especialidades. Quantos especialistas ou pesquisadores existiam no Brasil no século XX? Muito poucos. Outra dificuldade é o fator econômico. Uma pesquisa, por exemplo, sobre como o Espiritismo poderia colaborar em determinada área de conhecimento, exigiria um esforço enorme, uma dedicação quase que integral, como uma profissão. A Ciência é financiada por instituições científicas de fomento, que são materialistas. E aí eu pergunto: que instituição de fomento vai incentivar pesquisas espiritualistas, se em seus fundamentos afirmam que o espiritualismo é produto da fé e não de Ciência? Atualmente, estão se iniciando pesquisas com pesquisadores voluntários, de forma incipiente. São algumas pessoas que já vêm reencarnando com esse objetivo, com esse planejamento. Também, porque fato é fato e alguns fatos aguçam a curiosidade. Espíritas e espiritualistas têm visitado hospitais e dado passes em pacientes. Alguns pesquisadores resolveram fazer uma pesquisa quantitativa, uma estatística dos pacientes que recebem o passe e os que não recebem. Os resultados começam a aparecer. Estamos começando a ter tantos cientistas não espíritas, quanto espíritas especialistas que começam a desenvolver e propor pesquisas segundo a metodologia científica tradicional, mas estamos muito atrasados ainda neste aspecto. P.1 (M.J.G): Um dos problemas que precisa ser contornado é esse: o do uso da metodologia cientifica na pesquisa da Ciência espírita, devido ao objeto da pesquisa, não é? R.1: O objeto próprio do Espiritismo que é o espírito, nenhuma metodologia materialista nos servirá completamente. Esta é uma dificuldade que a ciência vai ter que encarar, porque se o objeto é simples, a metodologia é simples. Qual o objeto mais simples da Ciência? É o físico, o objeto inanimado, o material. A Física estuda os objetos inanimados, a lei da gravidade, espaço, aceleração e tempo. Complica-se um pouco mais quando se estuda o reino vegetal e animal, nascendo a Biologia. Ela já tem grandes dificuldades de analisar os objetos de estudos, porque a complexidade da vida já é muito grande. O objeto de estudo da Psicologia já é tão complexo que ela nem é aceita como Ciência por todos porque seu objeto é invisível. Agora imagine o objeto que nem material é? Voltemos ao nosso estudo. A Filosofia já é mais acessível que a Ciência. Preferimos dizer Filosofia Espírita a dizer Doutrina Espírita. Filosofia Espírita é síntese das reflexões, de cada ser que tomou contato com os Princípios revelados pelos Espíritos, pelas conclusões que a Ciência Espírita chegou, desde o século XIX, aquelas que Kardec e outros pesquisadores concluíram. Cada um de nós é capaz de pensar e refletir esta Filosofia em seu nível evolutivo. Não se trata esta reflexão de um pensamento simples ou leviano. Mas são reflexões fundamentadas na lógica, baseadas na experiência que têm tanto um sentido universal quanto individual e pessoal. A Filosofia Espírita é todo o conhecimento Espírita, tanto aquele que já foi grafado em livros, quanto àquele que está nas cabeças dos pensadores e de cada um de nós. Ao terceiro aspecto do Espiritismo, a Religião, já dedicamos uma aula inteira a desconstruí-la. Por que o Espiritismo acabou se tornando formalmente uma Religião? 2
3 O que aconteceu com esses Princípios Básicos Espíritas, que não são propriamente religiosos, se materializaram, simplificaram-se e resumiram-se na forma de Religião no Brasil? Para responder estes questionamentos abordaremos alguns aspectos. O primeiro aspecto é o de Revelação: A Doutrina Espírita ou Espiritismo como Revelação. Na última aula tratamos desse assunto; traçamos uma linha histórica das revelações desde o horizonte primitivo, o agrícola, moderno e contemporâneo. A humanidade encarnada nunca esteve sozinha, ela sempre foi acompanhada por elas. O Espiritismo também é uma Revelação, ou seja, ele não veio da humanidade encarnada, mas sim, da desencarnada, que de elos em elos vai até uma angelitude, ou seja, de uma realidade superior para a humana. É revelado do alto, no sentido de alguém que tem uma visão mais ampla, uma compreensão maior, explica e revela àquele que está caminhando em direção ao alto. Neste aspecto, o Espiritismo não é só revelação, mas revela o próprio processo da revelação, a mediunidade. A Ciência vai demonstrar, de uma forma muito clara, como é o processo, o mecanismo pelo qual acontece a Revelação: é o estudo da mediunidade. Se anteriormente os canais de revelação eram sempre os do misticismo, magia e mistério, onde havia apenas uma noção do que estava acontecendo, no sentido de que é a palavra de Deus, ou é o demônio, eles não entendiam bem, já no Espiritismo há um esclarecimento cada vez maior dos processos de como a humanidade recebe essas revelações do alto, ou seja, dos processos da mediunidade, intuição, da percepção espiritual e de ampliação consciencial. Este aspecto da revelação, anteriormente era ligado à Religião. Considerar o Espiritismo Religião, por ele ter um aspecto de revelação é uma simplificação que adulterou o sentido real, porque ele é Revelação, mas não é só uma religião como as outras são. Estou dividindo o aspecto religião em três: Revelação, Ética e Religiosidade. O segundo aspecto é a Ética. O Espiritismo é uma filosofia profundamente ética. O que significa isso? É uma filosofia que tem o poder de mudar os nossos comportamentos, nossos hábitos e o mundo. Pois se muda o indivíduo, consequentemente muda a humanidade. Desde início Kardec já percebia isso; dizia que o Espiritismo era Ciência e Filosofia com conseqüências morais, que é a Ética. Por que ele não usava a palavra Ética? Porque os pensadores franceses daquela época não utilizavam a palavra Ética. Ela era mais usada pelos alemães e posteriormente pelos ingleses. Por que usamos a palavra ética? Porque havia uma dubiedade na palavra moral. A mesma palavra era usada para costumes pré-estabelecidos de um determinado povo e também era para um sentido mais amplo, para refletir sobre as morais, ou seja, a busca da universalidade moral. Como era usada a mesma palavra para as duas coisas, preferimos usar a palavra ética para representar o sentido universal da mesma. Quando a moral define o certo ou errado em uma cultura, na verdade essa moral não é universal. Quando a moral defina alguma coisa universal, ela é ética, pois vale para toda humanidade. 3
4 Quando o Espiritismo estabelece Leis Naturais ou Leis Divinas, que estão acima das culturas humanas e que a humanidade tem que alcançar paulatinamente a compreensão das mesmas, está estabelecendo princípios Éticos e não uma moral apenas. Se nós entendermos a Lei Divina como a Lei inteligente do universo, essa Lei por si só, também define para a humanidade o que deve ser moral e imoral. Para a humanidade, não só para um determinado povo. É muito difícil compreender, porque temos que sair da nossa cultura. Eu tenho que me entender como ser inteligente universal. O principio da inteligência pressupõe que existe uma ação melhor que a outra. Posso até errar, mas em princípio a inteligência em termos supremos e absolutos sabe o melhor caminho. E isso é Ética, mesmo que eu relativamente ainda não entenda, não compreenda o melhor caminho. Na verdade a minha moral vai se ampliando até alcançar a Ética. Dizendo de outra forma, a minha compreensão das Leis Divinas se amplia mais a cada dia. Vamos tomar como exemplo a defesa da vida e a diminuição da violência. Qual moral, hoje, nega isso? Qual sistema jurídico admite a escravidão? Todos os sistemas jurídicos já evoluíram para a sua abolição. Todo sistema jurídico da Terra já percebeu a imoralidade da escravidão. Ou seja, a escravidão é antiética, sua abolição é uma aproximação da moral humana da Ética Universal. O terceiro aspecto é justamente a religiosidade, uso essa palavra por não existir outra melhor. No código doutrinário das obras conhecidas como básicas, essa religiosidade é conhecida como Lei de Adoração, que foi estudada por nós em uma de nossas aulas (número 27 lei de adoração). O termo adoração é menos adequado que religiosidade. O termo adoração nos leva ao verbo adorar, mas o sentido é mais amplo. O sentido de adoração é a ligação entre a criatura e o Criador. Não é ligação porque a gente veio Dele, então é religação, mas não é no sentido de instituição temporal, religiosa ou religião como instituição estabelecida. Mas é profundamente íntimo, quer dizer, pessoal, cada um tem diferentemente do outro. P.2 (M.J.G) - O Espiritismo não é considerado uma instituição religiosa? R.2: O Movimento Espírita no Brasil é, inegavelmente, uma Religião. É uma instituição religiosa. Historicamente, efetivamente, antropologicamente se tornou uma Religião. O Centro Espírita tem toda uma estrutura de instituição religiosa. Poderia ser diferente, mas não foi. O que estamos defendendo aqui é que em princípio, em essência, ele é mais do que uma Religião. No seu aspecto, chamado de religioso que, dividido em três diferentes, sendo que um deles, a religiosidade, inclusive, nega um princípio das Religiões instituídas que sempre colocam intermediários entre Deus e a criatura: pastores, sacerdotes, santos. Na religiosidade não tem intermediários. A religação da criatura com Deus não precisa de intermediários. No Espiritismo como Religião, o médium, o expositor etc.; acabam sendo aqueles intermediários ou gurus das criaturas. P.3 (M.J.G): No Espiritismo nós buscamos auxílio dos bons espíritos, contamos com orientação de nossos mentores, como fica essa questão? Eles não são intermediários? R3: Busca porque você quer, se quiser pode pedir diretamente a Deus. 4
5 P.4 (M.J.G): É verdade. E porque não o fazemos? Digo, nós, incluindo os espíritas que também o fazem. (W.T.) São resquícios da matriz religiosa que ainda não conseguimos nos livrar completamente. Mesmo na codificação pode-se observar tal influência, não é? R4: Concordo com as observações, mas temos que buscar a essência. Como Jesus conseguiu colocar dentro das parábolas aquele conhecimento indelével, Kardec conseguiu colocar dentro de suas obras a revelação, ética e religiosidade. Temos que retirar ou interpretar da mesma forma que fazemos com os evangelhos de Jesus, retirando dali os aspectos históricos e geográficos que Kardec e os Espíritos que o auxiliaram, como seres culturais estavam imbuídos. Quando você lê as Obras Básicas com um senso crítico, vai observar palavras que não usaria hoje. Por exemplo, muitas vezes é usada a palavra Deus de forma antropomórfica. É importante lermos entendendo a essência. P.5 (A.M.B) - Essa intermediação a que se refere a M.J.G. faz parte do processo da nossa evolução até que tenhamos a capacidade de não necessitarmos de nenhuma intermediação? R5: O problema existe quando o intermediário ganha poder e começa a usufruir dele dominando todos. É tão interessante esse aspecto que o Espírito superior nunca manda, sempre recomenda. Por que a Ética tem sido ligada à Religião? Porque a Religião tem determinado a moral dos povos desde o princípio. Ela diz não faça isso, não faça aquilo outro. O princípio da ética do Espiritismo é diferente dos princípios das morais religiosas que determinam o que pode e o que não pode. Ela tem um princípio muito importante que é o do livre arbítrio. Novamente, é a postura da pessoa consciente, é ela que determina o que faz. O Espiritismo se posiciona, por exemplo, sobre a pena de morte. Ele explica que a morte não acaba com o problema, pois aquele que morre continua na realidade espiritual. Porém o Espiritismo deixa para a pessoa decidir se é a favor ou contra ela, usando seu livre arbítrio. Ela não diz para fazer isso ou aquilo diferentemente de seguimentos religiosos que tem listas de proibições, consideradas como pecados. P.6 (J.A.S): No estudo anterior você nos falou sobre a Teologia. É mesma coisa de Religião? R.6: Teologia no sentido lato é o estudo das obras sagradas ou dos livros sagrados. O teólogo tradicional vai estudar a Bíblia, aqui no Ocidente. Etimologicamente é o estudo de Deus. Como seria o teólogo espírita? Ele vai estudar a bíblia e interpretála como o Espiritismo a interpreta? Ele vai estudar as obras básicas? É outra questão. Ou o teólogo espírita vai tentar entender realmente a natureza de Deus? São três possibilidades de entendimento da palavra teologia. O Espiritismo tem uma parte teológica a partir do momento que ele fala a respeito de Deus. Ele não se omite de falar de Deus. Deus é a suprema inteligência causa de todas as coisas, é um enunciado teológico, mas é por isso que tenho evitado usar a palavra teologia, devido dificuldade de entendimento do que queremos dizer com esta palavra. 5
6 A Teologia Espírita seria a parte da Filosofia Espírita que fala a respeito de Deus. A questão da religiosidade, da religação também é tratada pelas religiões tradicionais. Os três aspectos (revelação, ética e religiosidade) estão dentro das religiões tradicionais, só que elas, baseadas neles, criaram rituais, classes eclesiásticas, uma estrutura de poder e dogmas. O Espiritismo não tem nada disso ou não deveria ter nada disso. No Movimento Espírita instituído, criou-se estrutura de poder, não uma classe de poder, mas um fundamentalismo sem razão de ser. Estes três aspectos: revelacional, ética e religiosidade que foram assumidos pelas religiões tradicionais, são também aspectos do Espiritismo, mas, ele não é necessariamente uma religião, por ser uma revelação, de conseqüências éticas e por induzir o sentido de religação com Deus e de religiosidade. P.7 (W.T): Ouvi recentemente um espírita dizer que o Espiritismo não é uma religião, mas a Religião. R7: O que é o Espiritismo? Quando nós reunimos todos os aspectos dele em religião, o simplificamos e ele tem uma complexidade própria que será perdida se tentarmos resumi-lo. Não podemos tirar a Filosofia, a religiosidade, ou a comunicação dos Espíritos, ou qualquer um de seus aspectos. Vejam como a revelação mediúnica ajudou no aspecto da ciência como, por exemplo, as obras do Espírito André Luiz. O que é o Espiritismo? Não é uma pergunta fácil de ser respondida. Na verdade, acredito que nem os espíritas saibam a resposta, devido à complexidade da sua constituição. Quando alguém afirma que o Espiritismo é a Religião nos entristece mais ainda. Quando falam que o Espiritismo é o grande desconhecido, Herculano Pires constatou isso. Mas, talvez, tenha acertado Leon Denis quando escreveu que o Espiritismo não é a religião do futuro, mas o futuro das Religiões. A compreensão disso faz com que não necessitemos mais de religião. E não precisamos mais ser católicos, hinduístas, protestantes ou espíritas. Quando o Movimento Espírita opta por ser religião por questões sociais, políticas, talvez até econômicas, ele faz o Espiritismo ser uma religião entre outras. Isto é triste, porque na proposta da revelação daqueles espíritos que iniciaram o Espiritismo, não queriam que fosse assim. O próprio Cristo não quis fundar religião nenhuma. Ele disse serão conhecidos como meus discípulos por muito se amarem. O que é importante, o que nos tornaria imensamente felizes, é que cada um de vocês pudessem, efetivamente, conseguir viver essa proposta e aí é importante fazer um Espiritismo aberto a todos, uma Universidade do Povo. Buscando a união e não a separação, sem orgulho. Uma forma diferente de fazer Espiritismo. 6
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