O RESGATE DO BANHO DE MAR À FANTASIA Uma Manifestação Carnavalesca Esquecida Carla Vaz da Silva UFRJ RESUMO:
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- Valdomiro Maranhão Braga
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1 O RESGATE DO BANHO DE MAR À FANTASIA Uma Manifestação Carnavalesca Esquecida Carla Vaz da Silva UFRJ RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar uma parte esquecida da nossa cultura popular. O Rio de Janeiro foi palco de diversas manifestações carnavalescas. Aqui veremos um evento momesco que ocorreu nas primeiras décadas do século XX, e perdurou até a década de 1960 nas ruas e terminando nas praias cariocas. O Banho de mar à fantasia atraía todas as faixas etárias e contribuía com o embelezamento das ruas e da orla, com caráter lúdico, criativo e efêmero. Infelizmente, muito pouca informação se tem sobre este evento. Este trabalho é o início de um resgate cultural de uma memória carnavalesca esquecida atualmente, mas muito conhecida no século passado. Palavras-chave: carnaval, banho, memória Apresentação: Os Carnavais do passado e suas origens, dos mais diversos estados e países, são pesquisas que foram e estão sendo realizadas, e, felizmente, muitos deles se transformaram em livros, artigos e monografias. Os assuntos abordados são diversos: entrudo, bailes, fantasias, sambas, desfiles, corsos, ranchos, zé-pereira, blocos, cordões, escolas de samba, etc., tendo como referência nomes como: Felipe Ferreira, Hiran Araújo, Maria Isaura Pereira de Queiroz, Maria Laura, Helenise Monteiro Guimarães, Haroldo Costa, Roberto Da Matta, Granja Coutinho, fora as dissertações e teses que também abordam cientificamente o tema. Mas algumas manifestações carnavalescas cariocas continuam no esquecimento, por isso, buscando resgatar esta memória de um passado que se fez presente entre
2 a população, e que hoje em dia quase ninguém sabe de sua existência, optei por falar deste movimento carnavalesco, em específico, por ter tido uma excelente aceitação por parte da população. Evento este, que era aclamado pelo público, inclusive fazendo parte do roteiro carnavalesco do touring club, Memórias Carnavalescas São Memórias do nosso Brasil, do Rio de Janeiro, e que precisam ser revisitadas. O banho de mar à fantasia surgiu nas primeiras décadas do século XX e perpetuou-se além da década de Foram desfiles aguardados, que seguiam pelas ruas em forma de competição e que permitiam o acesso de todos. Com a transformação urbanística de Pereira Passos, visando às melhorias da nossa cidade, era necessário o quanto antes que atitudes fossem tomadas, para segundo o prefeito, melhorar as condições de vida da população e modificar a imagem do Rio de Janeiro no exterior, desta forma atraindo mais turistas. Teve então inicio o movimento bota-abaixo....e a importância cada vez maior da cidade no contexto internacional não condiziam com a existência de uma área central ainda com características coloniais, com as ruas estreitas e sombrias, e onde se misturavam as sedes dos poderes político e econômico com carroças, animais e cortiços. Não condiziam também, com a ausência de obras suntuosas, que proporcionavam status às rivais platinas. Era preciso acabar com a noção de que o Rio era sinônimo de febre amarela e de condições anti-higiênicas e transforma-lo num verdadeiro símbolo do novo Brasil. 1 É importante ressaltar que novas mudanças durante o período de carnaval seriam bem-vindas, justamente para substituir o entrudo e elitizar um pouco a festa. Por isso os bailes foram bem aceitos juntamente com os desfiles das grandes sociedades, ranchos, cordões, e depois, os blocos e diversas outras formas de se brincar o carnaval. (1) ABREU, Maurício de. Evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO, 1997.Pag.59-60
3 Banho de Mar à Fantasia O Banho de Mar à Fantasia fez a felicidade de muitos foliões no Brasil. Acredita-se que o mesmo tenha tido seu início, aqui na cidade maravilhosa, por volta da década de O fato é que se espalhou muito facilmente pelo Sudeste, sendo incorporado na década de 1940 aos carnavais de Santos e, em meados de 1960, no Espírito Santo, onde ainda existe uma adequação do movimento. Consistia de um bloco de foliões que escolhiam uma temática, onde preparavam suas fantasias e desfilavam com seus instrumentos ao som de marchinhas da época, mas à medida que passavam nas ruas, o bloco crescia com a adesão de novas pessoas, que aguardavam ansiosas sua passagem. A condição para participar era que todos estivessem com vestimentas de banho por baixo das fantasias, e estas eram trabalhadas com cuidado, devido ao material ser delicado, pois eram feitas de papel crepom colorido. Neste momento, os foliões se rendiam ao carnaval, colorindo as águas e seus próprios corpos com as fantasias que se desintegravam, sendo levadas pelo mar. Aqui no Rio, em vários pontos da orla, temos a presença destes festejos em Ramos, Ilha do Governador, Copacabana, Urca, e acredita-se que por toda orla carioca. Banho de Mar a Fantasia-Niterói-1940
4 Banho de Mar a Fantasia-Praia de Copacabana-1934 Banho de Mar a Fantasia-Niterói-1941 Durante muitos anos, os banhos de mar ocorriam nos cinco sábados que antecediam ao carnaval. Para muita gente, o banho de mar à fantasia é uma saudosa referência de uma maneira carioca de se brincar o carnaval.
5 Banho de Mar a Fantasia-Ramos-1960 O Banho de Mar à Fantasia foi uma das manifestações urbanas, que pretendiam modificar as celebrações carnavalescas, que até então existiam na cidade do Rio de Janeiro àquela época. É necessária a valorização destes eventos, caracterizando desta forma sua real importância para as transformações ocorridas no espaço da festa urbana, bem como, comprovar pontos de contato entre ambas, que propiciavam, além da abertura para os festejos momescos, a utilização de linguagens efêmeras de interferência na natureza, atribuindo beleza e cor às ruas e ao mar da cidade, mesmo que temporariamente, resgatando e revivendo a memória do nosso passado nem tão distante, e trazendo de volta suas imagens e sua história. Recorremos a testemunhos para reforçar ou enfraquecer e também para completar o que sabemos de um evento sobre o qual já temos alguma informação, embora muitas circunstâncias a ele relativa, permaneçam obscuras para nós, segundo (HALBWACHS, Maurice). Nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, o Banho de Mar à Fantasia desfilava e interagia com a sociedade carioca, que assistia e/ou participava destes eventos carnavalescos. E logo, ganhou o gosto popular, tendo uma maior aceitação pelas classes média e a população mais humilde. Este trabalho é parte de um estudo já iniciado na Dissertação de Mestrado, que visa trazer novas informações sobre manifestações do carnaval carioca pouco
6 pesquisadas, que, durante décadas, fizeram parte e contribuíram e interferiram no universo dessa festa popular e que ainda se encontram perdidas no passado. Bibliografia ABREU, Maurício de. Evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO, BECKER, Howard. Uma Teoria da Ação Coletiva. Rio de Janeiro: Zahar Editores, Howard. Mundos Artísticos e Tipos Sociais. Sociologia. Rio de Janeiro:Zahar Editores, BURKE, Peter. Hibridismos Culturais. UNISINOS:S.Paulo, 1990 CANCLINI. Nestor G. A Produção Simbólica.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1979..A Socialização da Arte. São Paulo: ed. Cultrix, Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: EDUSP, COSTA,Haroldo.100 Anos de Carnaval No Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:Irmãos Vitais-Brasil,2001 DA MATTA, Roberto. A casa e a rua. São Paulo, Brasiliense, Carnavais, malandros e heróis - Para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos o que nos olha Editora:34, FERREIRA,Felipe. O Livro de Ouro do Carnaval Brasileiro.Ediouro,2005..Inventando Carnavais. Editora UFRJ.Rio de Janeiro,2005.
7 GEERTZ, Clifford. O Saber Local. Novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, GUIMARÃES, Helenise Monteiro. Tese: A Batalha das Decorações :A Escola de Belas Artes e o carnaval carioca. Orientador: Prof.a Dra. Ângela Ancora da Luz. PPGAVEBA-UFRJ: 2006 HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Trad. de Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, VELHO, Gilberto. Projeto e Metamorfose. Antropologia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2003.
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