VER-SUS Local: Assentamento Che Guevara Moreno/PE Vivente: David Yuri Souto Ayres Período de Vivência: 10/12/2016 à 23/10/2016
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- Mikaela Peralta Amaro
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1 VER-SUS Local: Assentamento Che Guevara Moreno/PE Vivente: David Yuri Souto Ayres Período de Vivência: 10/12/2016 à 23/10/2016 Portfólio VER-SUS O acolhimento dos viventes foi bastante dinâmico e aconchegante, feito pelos facilitadores da forma mais completa possível, desde a organização dos
2 ônibus que foram buscar os viventes até a dinâmica de apresentação. Figura 1 Acolhimento Logo após o acolhimento, houve uma conversa com representantes da secretaria de saúde do município de Moreno, na qual foi enriquecedor saber sobre as vitórias e desafios da gestão, frente a tantos retrocessos que vem acontecendo no Brasil ultimamente. No período da noite foram feitas as identidades dos Núcleos de Base (NB), crachás, uma dinâmica na qual identificava a imagem que tínhamos do Sistema Único de Saúde e a apresentação de um vídeo sobre o que é o SUS. Particularmente, fiquei no NB Multiversus, no qual, criamos uma conexão entre os membros do mesmo. Foi discutido que dentro do NB, tinha uma pluralidade de pensamentos e formas de agir, que particularizava cada um, na qual cada um mantinha um universo diferente dentro de sua subjetividade. A partir daí, também relacionamos nossa identidade ao beija flor, que não é encontrado preso em gaiolas, daí criamos nosso grito de guerra: Liberte-se para não aprisionar; Liberte-se para enxergar Há múltiplos universos
3 Para revolucionar. Machismo! LIBERTE-SE LGBTFobia! LIBERTE-SE Racismo! LIBERTE-SE Capitalismo! LIBERTE-SE Opressão! LIBERTE-SE Figura 2 - IDENTIDADE DO NB - MULTIVERSUS No segundo dia, tivemos a entrega das bolsas com os materiais do VER- SUS, e uma atividade centrada na briga de classes e o antagonismo entre burguesia (representado pelo tubarão) e proletariado (representado pelos peixinhos), também ficou mais claro o nível de desigualdade social existente na sociedade capitalista em que estamos inseridos. Foram feitas algumas dinâmicas em grupos, em que cada um apresentou de forma lúdica o entendimento acerca do assunto. O meu NB utilizou a música Comida escrita por Arnaldo Antunes, para fazer a apresentação.
4 Figura 3 - RESULTADO FINAL DA DINAMICA DOS PEIXINHOS Nos outros períodos foram feitas discussões e exibido vídeos sobre o papel do trabalho para a transformação do macaco em homem, e o vídeo história das coisas, que retrata como o capitalismo se apropria da natureza com brutalidade sem se importar com as consequências a médio e longo prazo para a sociedade. E no período da noite foi feita uma vivência dentro de um terreiro, enriquecendo a vivência com experiências que não imaginávamos que teríamos, aprendendo sobre uma religião que desde a colonização é marginalizada e demonizada por religiões que se dizem do bem. Figura 4 - VIVÊNCIA NO TERREIRO No terceiro dia o eixo foi sobre o racismo no Brasil, foram feitos trabalhos nos NBs, leituras de textos, apresentação de vídeos e místicas para enriquecer
5 a discussão sobre o assunto. Nosso NB fez uma paródia com a Música do bonde das maravilhas que ficou dessa forma: O bonde da redução é a nova sensação, E pra começar chama a PM e o camburão, Só tem preto ladrão, mata (3x) A pedido do congresso que vai discriminando e a PM que é racista Bum bum, atirando! (3X) E a mídia que é golpista ela vem te enganando Chega globo elitista alienando (3x) O bonde da juventude vem lançar um jeito novo Se não quer jovem bandido Dá condição ao povo (3x) Percebe-se que no Brasil existe uma falsa democracia racial, na qual as pessoas postulam que não são racistas, porém, não exitam em ser racista do mínimo ao mais alto nível de racismo, provando que é necessária uma reparação com esse povo que foi tirado de suas terras para serem utilizados como mão de obra na construção desse país, e depois foram jogados nas ruas sem nada, para sobreviver à própria sorte. Isso resultou na segregação e criminalização do povo negro, principalmente os jovens, que são os que mais morrem no Brasil. E por fim teve uma dinâmica, que abarcava discussões sobre a LGBTfobia, e seu desdobramento na comunidade LGBT. Figura 5 - LEVANTE CONTRA A LGBTFOBIA No quarto dia estava programada uma vivência numa comunidade quilombola que não foi possível realizar, devido a alguns problemas, então foi
6 feita uma roda de diálogos com duas profissionais que trabalham com políticas de atenção a população indígena e foram feitas algumas apresentações dos NBs, voltados para o tema. E por fim, houve uma avaliação em conjunto da estrutura, facilitadores, metodologia, convidados e o contrato de acordo que foi feito no primeiro dia. Figura 6 - APRESENTAÇÃO DOS NBS No quinto dia, o eixo foi sobre as políticas públicas de saúde no Brasil, no qual foi feito uma linha do tempo, traçando a história das políticas de saúde desde o período colonial até o período atual. Pode-se perceber que só a partir das lutas da reforma sanitária, com a criação da lei 8.080/90, foi que o Brasil passou a dar mais atenção para a área da saúde pública. Pois antes disso, só quem tinha acesso à saúde eram trabalhadores devidamente regulamentados e pessoas que detinham riquezas. Com a implementação do SUS, a saúde passa a ser direito de todos e todas e dever do Estado, gerando conflitos dentro da sociedade brasileira até os dias de hoje. Houve também discussões sobre o
7 movimento sanitarista brasileiro e discussões nos NBs e por fim foi exibido o documentário Sicko. Figura 7 - LINHA DO TEMPO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE No sexto dia foram realizadas vivências nos dispositivos de saúde da atenção básica nos municípios de Moreno e Jaboatão, o meu grupo foi ao NASF de Moreno, que é um programa do ministério da saúde, fomos atendidos por Isabela, fisioterapeuta e coordenadora do NASF. O núcleo de apoio a saúde da família conta com profissionais de diversas áreas de atuação na saúde, e foi bastante revigorante, saber que são profissionais que se importam com a saúde pública e procuram atender os usuários da melhor forma possível. Depois voltamos para o assentamento e compartilhamos o que cada um aprendeu nas visitas, e fizemos um trabalho nos NBs e discutimos sobre o tema em plenária, e por fim, assistimos alguns vídeos sobre o programa Mais Médicos e Você já ouviu falar bem do SUS?, terminando a noite com debates sobre os vídeos. Figura 8 - VISITA AO NASF DE MORENO
8 No sétimo dia os grupos foram separados, alguns visitaram CAPS dos municípios de Moreno e Jaboatão, já outros ficaram no assentamento para visitar algumas casas dos assentados e fazer algumas perguntas acerca da saúde mental. No caso do meu grupo, ficamos no assentamento e visitamos cinco residências, essa foi uma experiência muito enriquecedora e humanizadora, pois entramos em contato com os usuários da rede de saúde, e podemos verificar que me ambas as casas, todos necessitam e a mesmo tempo há uma carência desse atendimento, que identificamos ser primordial para que essa população tenha mínimas condições de manterem sua saúde mental. Em ambas as casas foi verificada que sempre tinha algum caso de distúrbio mental ou problemas com drogas e nem sempre eram acompanhados pela rede de atenção à saúde mental e por se tratarem de pessoas que tem pouco acesso a informação, não iam atrás de seus direitos e acabavam por eles mesmos arrumar uma saída. No período da tarde foram feitos os repasses dos grupos e um estudo de caso feito por cada NB individualmente e socializado para os outros. Também discutiu-se sobre a reforma psiquiátrica e a forma como as casas terapêuticas estão seguindo o mesmo caminho, infelizmente. Figura 9 - VISITA NAS CASAS DOS ASSENTADOS E VISITA A PLANTAÇÃO DE FEIJÃO DA MORADORA No oitavo dia, houveram discussões sobre os movimentos sociais do campo, que coube perfeitamente bem, por estarmos num assentamento de uma luta por terras que se concentra no campo. Os debates foram bastante ricos, pois fizeram questões como a mídia deturpa o movimento e a sociedade reproduz sem o senso crítico, criminalizando aqueles que lutam por condições de vida. Após esse debate, fizemos organizamos o espaço da biblioteca e pintamos a faixada da plenária. Segue abaixo fotos:
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10 Figura 10 - PROCESSO DE PINTURA E RESTAURAÇÃO DA BIBLIOTECA E FAIXADA DA PLENÁRIA No nono dia, foram feitas visitas em casas do assentamento para aplicar um instrumental: Diagnóstico Simplificado da Saúde para Áreas de Reforma
11 Agrária e uma discussão sobre o mesmo, buscando analisar a situação em que o assentamento se encontra nas questões de saúde. E por último foi feita a jornada socialista, na qual os NBs se reuniram e tentaram de forma lúdica mostrar a trajetória do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, em forma de homenagem.
12 Figura 11 JORNADA SOCIALISTA
13 No décimo dia tivemos discussões sobre as políticas de saúde e suas especificidades, a interlocução entre os movimentos sociais e a saúde pública no Brasil e o fortalecimento do SUS. E discussão em NBs no qual cada um ficou com uma especificidade, no caso do meu NB foi a política de saúde mental. E por último uma nova avaliação do espaço. No décimo primeiro dia fomos fazer vivências em dispositivos de saúde de atenção especializada, média e alta complexidade, pudemos conhecer a UPA de Engenho Velho, no município de Jaboatão e detectar que mesmo com todo suporte que a lei dá, o sistema ainda carece de algumas atenções, porém, depende muito da gestão para que se faça cumprir a lei. Foram vivências que deixaram um gosto de quero mais, e nos fez querer trabalhar no sistema único de saúde, buscando sempre melhorar os dispositivos e atender os usuários da melhor forma possível.
14 No décimo segundo dia, tivemos uma discussão do papel social do graduando, por exemplo: para quem é a universidade, a quem serve o conhecimento, qual o nosso papel dentro da universidade, como entender o SUS nesse contexto e a importância de se organizar e como pautar transformações através do movimento estudantil. O que nos fez refletir como é que estávamos conduzindo nossos passos dentro das universidades, pois se não é para servir ao povo, então para que serve? Acerca disso, nota-se que há dentro das universidades, uma grande corrida para encher o lattes de títulos e produções somente para se vangloriar. Foi importante essa discussão para notarmos como estamos cheios de nós mesmos e praticando cada vez menos a empatia com o outro. No outro turno debatemos sobre o projeto popular, na qual propõe uma sociedade organizada pelo povo, para o povo. Fizemos de forma lúdica uma paródia da música do DJ Val, Faz o V e vem pra cá, segue abaixo a paródia do meu NB Multiversus: Projeto popular é o caminho pra mudar Projeto popular vem com a gente transformar Chega de manipular o povo, Desliga a rede globo e tira a venda pra enxergar. Um povo colorido, sem racismo, sem machismo Contra o capitalismo queremos constituinte já! Eu vi que dava certo organizar Saúde, educação pro povo melhorar. E a burguesia fingindo ser boazinha Com a PEC 55 querendo direitos tirar. Eu juro o povo vai lutar, Vamo botar, vamo botar o povo pra se mexer, reforma com o povo no poder! (2x)
15 No décimo terceiro e último dia, foi o dia de fazer uma recapitulação de tudo que passamos, e avaliar o que o VER-SUS mudou em nossas mentes, em nossas vidas e o que de importante ele trouxe para nós. Precisamos sair de um mundo quadrado, cheio de regras e preconceitos para sentir a dor do outro, aprender a ter mais empatia, e a tratar as pessoas independente de sexo, raça, religião, sempre de igual para igual, com cuidado para não ferir suas diferenças. Pois, no mundo o que precisamos para torná-lo melhor é amor com o próximo, o sentimento de pertencimento a uma só raça, a humana. Tivemos que expor a nova visão que tínhamos do SUS, após essas vivências, na qual muitas mudaram e muitas já tinham chegado com uma visão ampla. Construímos um painel, em que deixamos nossas marcas e tudo o que sentimos nesses 13 dias de reconstrução. E por último fizemos uma avaliação da importância desse projeto para as vidas que iremos tratar e para nossas próprias vidas. No mais, o VER-SUS é um projeto importantíssimo na formação dos profissionais, tanto de saúde quanto de qualquer outra área, pois nos ajuda a ver um mundo diferente daquilo que nos é imposto. VER-SUS não se descreve, se vive.
16 A troca de energia, experiências, visão de mundos, culturas e entre outras coisas foi maravilhosa durante todo o processo. Foram pessoas maravilhosas que passaram por nossas vidas e vão deixar um pedacinho de si em cada um de nós.
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