Palavras-chave: Formação de professor. Ensino de Química. Ensino Médio.
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1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE QUÍMICA E A SUA PRÁTICA NA SALA DE AULA: O CASO DAS ESCOLAS DE ENSINO MÉDIO DE CRATEÚS/CE Luciana Rodrigues Leite José Ossian Gadelha de Lima Universidade Estadual do Ceará (UECE) RESUMO Muitos pesquisadores e estudiosos da área de Educação têm discutido a problemática relacionada ao Ensino de Química que se desenvolve nas escolas de Nível Básico de todo o país. Dentre os temas mais abordados nessas discussões, estão aqueles relacionados à falta de interesse dos alunos pelos conteúdos da disciplina e às metodologias de ensino desenvolvidas pelos professores na sala de aula. A partir dessas conjecturas, o objetivo deste trabalho é estudar a realidade vivida por estudantes e professores do Ensino Básico do município de Crateús-Ceará diante do processo de ensino e aprendizagem da disciplina de Química. Para isso, buscamos identificar as causas do baixo nível de aprendizado e do pouco interesse dos discentes dessa região pela Química, analisando até que ponto a formação inicial dos docentes corrobora para que esta problemática se efetive. Para a coleta de dados, foram elaborados dois tipos de questionários. Um foi aplicado a oito docentes e outro a sessenta discentes de três Escolas Públicas do Ensino Médio da região de Crateús. A partir dos resultados preliminares obtidos com a análise das respostas aos questionários aplicados até agora, podemos apontar a formação não adequada dos professores de Química como um dos fatores que, nessas escolas de Ensino Médio, estão contribuindo para o fracasso do processo de ensino e aprendizagem da disciplina de Química. A prática profissional advinda de uma formação deficiente não consegue alcançar a qualidade necessária para o desempenho de um bom trabalho. Com uma formação insatisfatória, os professores são obrigados a ministrar aulas fundamentadas na metodologia de um ensino essencialmente tradicional, desvinculando a Química da realidade dos alunos. Ainda muito arraigada e persistente em nossas escolas, essa prática está gerando descontentamento e desinteresse dos alunos pela disciplina. Palavras-chave: Formação de professor. Ensino de Química. Ensino Médio. 1. INTRODUÇÃO A apropriação das habilidades necessárias para o desenvolvimento cognitivo do ser humano está condicionada a aquisição dos conhecimentos fundamentais que promovem uma relação de familiaridade entre as disciplinas escolares e o aluno. Assim sendo, a escola desempenha um papel indispensável no desenvolvimento dessa familiarização, a qual determina o grau de empatia dos estudantes pela aprendizagem (ZALESKI, 2009). No âmbito escolar, em se tratando das disciplinas da área das ciências da natureza, observa-se um nível de empatia extremamente baixo dos alunos em relação a elas. Fato 00784
2 2 que pode ser observado em praticamente todas as escolas do Ensino Médio da região dos Sertões de Crateús-Ceará, onde são debatidos entre os professores temas relacionados à grande dificuldade que os alunos enfrentam na aquisição do conhecimento químico (LIMA; LEITE, 2012). A disciplina de Química é parte integrante do currículo escolar do Ensino Médio, sendo ministrada durante os três anos nos quais se desenvolve esse nível de escolaridade. No Ensino Fundamental, os conhecimentos Químicos são explorados de maneira mais específica como uma das duas partes que compõem a disciplina de Ciências do nono ano. Segundo o que foi estabelecido nos PCNEM (BRASIL, 1999), O aprendizado de Química pelos alunos de Ensino Médio implica que eles compreendam as transformações químicas que ocorrem no mundo físico de forma abrangente e integrada e assim possam julgar com fundamentos as informações advindas da tradição cultural, da mídia e da própria escola e tomar decisões autonomamente, enquanto indivíduos e cidadãos (BRASIL, 1999, p. 31). No entanto, em contraposição às recomendações dos PCNEM, a metodologia do Ensino de Química na Educação Básica ainda é permeada pelo tradicionalismo, destacando-se as técnicas de memorização de regras, fórmulas, nomes e estruturas, além de apresentar esses conteúdos completamente distanciados do cotidiano dos alunos. Dentro desse contexto, Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011), frente aos desafios de se trabalhar o saber científico com um alunado culturalmente heterogêneo, destacam a necessidade de mudanças desse hábito milenar do professorado. Associados aos pontos discutidos anteriormente, podemos observar diversos outros com os quais professores e alunos se deparam diariamente. Medeiros (2014) discute em seu trabalho questões ligadas à falta de leitura: [...] no que tange à habilidade da leitura, observa-se que a maioria dos alunos apresentam sérias dificuldades. Muitos deles chegam ao Ensino Médio, por vezes, sem saber ler, sendo que boa parte não demonstra capacidade de abstrair as ideias mais relevantes do texto. Alguns apresentam apenas a capacidade de decodificação simples, o que não significa que a compreensão tenha ocorrido (MEDEIROS, 2014, p ). Ao analisarmos profundamente essa questão, entretanto, tornam-se visíveis diversos outros problemas que inviabilizam uma melhoria desse ensino. Diante dessas conjecturas, este trabalho tem por objetivo estudar a realidade vivida pelos estudantes e professores do Ensino Médio da região de Crateús, considerando o processo de ensino e aprendizagem da disciplina de Química na tentativa de poder identificar como a 00785
3 3 formação do professor de Química influencia a sua prática escolar, o nível de aprendizado dos educandos e o interesse desses alunos por esta disciplina. 2. METODOLOGIA Esta pesquisa caracteriza-se como quantitativo-qualitativa, podendo ser classificada como exploratória, pois seu maior propósito fundamenta-se em enriquecer o acervo de conhecimentos sobre o assunto discutido (MARCONI; LAKATOS, 2010). O processo metodológico que está sendo utilizado em seu desenvolvimento baseia-se na técnica de estudo de campo, para a qual elaboramos 02 (dois) tipos de questionários: um para ser aplicado aos alunos e outro aos professores. O questionário dos alunos foi organizado somente com questões objetivas e de múltipla escolha, enquanto o dos professores apresentava algumas questões abertas. Decidimos trabalhar com amostragens, optando por analisarmos turmas de primeiro e terceiro anos do Ensino Médio, dos turnos da manhã e da noite. Pedimos aos professores que, em cada turma, indicasse 05 (cinco) alunos com as seguintes características: 01 (um) aluno com bom rendimento escolar, 03 (três) alunos com rendimento mediano e 01 (um) com baixo rendimento. Ao todo já foram aplicados 60 (sessenta) questionários a alunos e 08 (oito) a professores, em 03 (três) escolas da cidade de Crateús, com análise de turmas que funcionam na sede do município e também na zona rural. 3. RESULTADOS PRELIMINARES E DISCUSSÃO Para apresentar de forma mais clara e objetiva os resultados, as respostas dadas pelos alunos e professores aos questionários foram agrupadas em categorias. Entretanto, como o trabalho em questão ainda está em andamento, somente a categoria Formação do professor pôde ser sistematizada. Apresentaremos a seguir estes resultados preliminares Observações de Campo No momento da aplicação dos questionários, observamos alguns fatos que muito contribuíram para um melhor entendimento dos resultados iniciais. O primeiro se refere à falta de pontualidade e compromisso de alguns professores. Mesmo que a aplicação dos questionários tenha sido marcada com antecedência, poucos foram aqueles que compareceram na data prevista. Algumas das justificativas por eles alegadas foram: 00786
4 4 doenças, consulta médica, simplesmente faltou, frequentando cursos, outras. O segundo diz respeito à grande dificuldade que os alunos apresentaram em compreender os enunciados de algumas questões (mesmo após as modificações realizadas) e a falta de atenção e de concentração demonstrada por eles, deixando algumas questões sem respostas Formação do Professor Quando os alunos foram questionados sobre o grau de formação do seu professor de Química, 48 (80,0%) deles assinalaram que ele teria completado a graduação, mas não tinham certeza. Os 12 alunos restantes (20,0%) deixaram a questão sem resposta. Observamos que nenhum aluno soube informar a área específica, o curso e/ou a instituição em que seu professor teria se graduado. Sendo assim, somente a partir dos questionários respondidos pelos professores, pudemos analisar melhor esse item. Dentre os professores respondentes, 03 (37,5%) são graduados em Licenciatura Plena em Química (um deles está cursando mestrado em outra área diferente da Química), 03 (37,5%) têm formação em outra área (em cursos de dois anos de duração) e 02 (25,0%) ainda estão cursando graduação. Com relação ao posicionamento do professor de Química em sala de aula, algumas das questões colocadas para os alunos se relacionavam aos conteúdos explorados pelo professor. Nos resultados obtidos, 12 alunos (20,0%) afirmaram não sentir firmeza na exposição dos conteúdos realizada pelo professor e, como consequência disso, surgiam muitas dúvidas e questionamentos não esclarecidos. Por outro lado, 48 alunos (80,0%) disseram sentir firmeza nas explicações dos professores, e argumentaram que os mesmos entendem o assunto que está sendo abordado. Por meio desses resultados preliminares, pudemos observar claramente que, nas escolas onde se realizou esse trabalho, atuam profissionais com formação inadequada para assumirem o processo de ensino de Química, haja vista que apenas 37,5% deles são graduados em licenciatura em Química. Corrobora com essas observações, o fato de 20% dos alunos desses professores afirmarem não sentir firmeza na metodologia desenvolvida por estes profissionais. Uma formação não adequada leva professores a desenvolverem aulas de má qualidade que geram descontentamento e, consequentemente, desinteresse nos alunos pela disciplina. Portanto, há uma necessidade urgente de se priorizar um processo mais adequado de formação de nossos professores. Se isso não foi atingido durante a graduação, que uma formação continuada assuma esse papel, afim de que esses 00787
5 5 professores adquiram a capacidade de desenvolver um Ensino de Química mais motivador e interessante para nossos alunos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do que foi discutido, podemos citar a formação inadequada do professor, como uma das causas para o fracasso do processo de aprendizagem dos conteúdos da disciplina de Química dessas escolas da região de Crateús. O professor que não apresenta as habilidade e competências inerentes à sua profissão, não consegue desenvolver sua criatividade para elaborar e aplicar novas metodologias de ensino. Desse modo, suas aulas limitam-se meramente à transmissão dos conceitos prontos e acabados, ou seja, a didática preferencial ainda está centrada na de um ensino exclusivamente tradicional. Com a continuação deste trabalho, pretendemos estender a aplicação dos questionários às outras quatro escolas de Ensino Médio da cidade de Crateús, afim de aprofundar o estudo preliminar ora apresentado e identificar os demais fatores que estão dificultando o desenvolvimento de um processo de ensino e aprendizagem de Química satisfatório nessas escolas. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio). Parte III Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEMT, DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A. P.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. 4 ed. São Paulo: Cortez, ZALESKI, T. Fundamentos históricos do ensino de ciências. Coleção metodologia do ensino de biologia e química, v. 6. Curitiba: Ibpex, MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 7 ed. São Paulo: Atlas, MEDEIROS, A. V. L. J. Dificuldades no aprendizado de química: os conhecimentos básicos necessários para superá-las. 2014, 54 f. Monografia (Graduação em Licenciatura Plena em Química), Faculdade de Educação de Crateús, Universidade Estadual do Ceará, Crateús, LIMA, J. O. G.; LEITE, L. R. O processo de ensino e aprendizagem da disciplina de Química: o caso das escolas do ensino médio de Crateús/Ceará/Brasil. Revista Electrónica de Investigación en Educación en Ciencias, v. 7, n. 2, p ,
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