RELIGIÃO E LITERATURA EM IFIGÊNIA. Compreendendo as entrelinhas do mito

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1 RELIGIÃO E LITERATURA EM IFIGÊNIA Compreendendo as entrelinhas do mito

2 IFIGÊNIA EM ÁULIS Autor: Eurípedes Nascido em Salamina, provavelmente em 484 a.c. Teve educação primorosa: filosofia, música, poesia... Diferentemente de Sófocles, manteve-se longe da vida política, mas não evitou referências à vida política de seu tempo. Sua primeira tragédia foi representada em 455. Exerceu sua profissão durante mais de 50 anos, tendo sido premiado apenas cinco vezes. Escreveu 92 dramas, mas só nos restaram 17 tragédias e uma sátira. Morreu na Macedônia, onde foi viver a convite do rei Arquelau, em 406 a.c. Quando Sófocles soube de sua morte, estava para iniciar uma encenação e apresentouse de luto, assim como todos os atores.

3 RECONSTRUINDO A HISTÓRIA Exército grego esperando condições climáticas favoráveis para embarcar e atacar Troia; Fome e desânimo; Saque de animais sagrados para alimentar os homens famintos; Morte do cervo consagrado aos deuses; Exigência de um sacrifício humano, pelos deuses, para reparar tamanho insulto: a morte da filha primogênita de Agamenon, o rei que lidera os exércitos gregos; Dramas pessoais enfrentados por: Agamenon (pai); Clitemnestra (mãe); Menelau (irmão de Agamenon e esposo traído por Páris, rei de Troia, que lhe rouba Helena, sua esposa, episódio que é o estopim para a guerra); Aquiles (que acaba sendo metido na história por uma mentira de Agamenon à sua esposa); Ifigênia.

4 DRAMAS PESSOAIS QUE SE TRANSFORMAM Agamenon: inicialmente reage mal ao desígnio do oráculo. Manda uma carta para chamar Ifigênia. Depois, manda outra para desfazer a primeira. Quando Menelau, seu irmão, está também disposto a não sacrificar a sobrinha, o pai percebe o peso de seu cargo e entende que deve realmente sacrificar a filha. Menelau: hesita entre o papel de tio e o de homem de guerra. Estranha o comportamento final do irmão, ainda que o desejasse inicialmente. Clitemnestra: é irmã de Helena, o pivô da guerra, esposa do rei Agamenon e mãe de Ifigênia. Deve pensar e agir como? Está no centro do conflito de forma intensa e sofre desesperadamente. É a única personagem que mantém sempre a mesma postura: é mãe e quer proteger sua filha. Pede a ajuda a Aquiles, enfrenta o marido. Não aceita a vontade divina. No final do texto original, Artemis consola Clitemnestra, dizendo que a filha fora salva, visto que a deusa, no último momento, substitui-a por um cervo. O texto que temos tem seu final modificado posteriormente.

5 IFIGÊNIA Personagem cativante: muito jovem, mas feminina, afetuosa, desejosa de casar-se, como todas as moças de seu tempo. Para ela, a vida parece uma festa. Nutre um grande amor pelo pai e percebe sua perturbação: Mas agora você é todo meu. Não pense nas suas preocupações. Subitamente, percebe a extensão de seu drama e encontra-se diante da morte iminente. E essa vem ao seu encontro por meio do pai que ama com tanta ternura. Então se rebela, implora pela própria vida, maldiz Páris, chora, reza, chama o pai de ímpio, mas é a última palavra contra ele. E chora a própria morte. Quando Aquiles comunica a Clitemnestra que o exército quer o sacrifício, Ifigênia permanece surda e muda, perdida num sonho. De repente, começa a falar e pede callma à mãe, visto que é inútil teimar e obstinar-se contra a necessidade: Toda a Grécia olha para mim.

6 O DESTINO DE IFIGÊNIA Em sua Poética, Arsitóteles acusou Eurípedes de incoerência porque lhe pareceu arbitrário a mudança imprevista de Ifigênia. Eurípedes era melhor psicólogo que o filósofo... É notável a transformação que ocorre na alma da protagonista. O pensamento de ser a salvadora, a heroína, de ir para a morte diante do olhar de todos, conforta a jovem. A tomada de Troia e a vitória dos gregos sobre os troianos valerão para ela tanto quanto a alegria do casamento e dos filhos, único destino que lhe caberia. Ifigênia caminha para a morte como para uma festa. Pede às virgens que cantem o hino a Artemis. Os elementos para o sacrifício a inebriam. Ifigênia torna-se espetáculo para si mesma, autora de uma personagem: ela mesma. O sacrifício de si a fascina em sua grandeza e magnitude.

7 QUESTIONAMENTOS QUE INQUIETAM: Nossas escolhas não são neutras. O que fazer entre o interesse particular e o coletivo? O que o povo espera de seus governantes? Uma jovem pode ser capaz de tomar decisões de vital importância? Lembrar o caso das meninas de 12 anos que se prostituíam... O caso despertou a indignação da ONU: crianças não podem tomar certas decisões, devem ser protegidas. Nós também nos imaginamos como heróis das nossas vidas? Por que o heroísmo vence o medo? Ifigênia fez a melhor escolha? Quando temos certeza de que escolhemos o melhor caminho?

8 O MITO: O PAPEL DOS DEUSES Os deuses atuam diretamente no mundo material do filme; De que modo isso acontece? E o que sucede quando as regras impostas pelos deuses são desrespeitadas?

9 O MITO: O PAPEL DOS DEUSES De que forma isso se relaciona com aquilo que estamos estudando sobre os mitos religiosos? O que significa para as sociedades de nossos antepassados acreditar nos deuses? De que maneira poderíamos aproximar o mundo dos mitos religiosos dessa época com o mundo mágico de Harry Potter, por exemplo?

10 OS MITOS RELIGIOSOS: SEUS RESQUÍCIOS EM NOSSA FÉ ATUAL Poderíamos dizer que esse comportamento dos gregos é primitivo e pouco evoluído, que se eles conhecessem a ciência como nós conhecemos, não cairiam nessas histórias, etc., certo? Mas os cristãos que esperam a intervenção mágica de Deus nas suas vidas não estão agindo do mesmo modo? Acreditar que Deus pode alterar a ordem concreta do nosso mundo não é algo semelhante à fé dos gregos apresentada no filme? Contudo, se despirmos o Deus cristão desse poder mágico, é possível ainda seguir acreditando em Deus? Que Deus seria esse?

11 O PODER DO MITO E DA RELIGIÃO: A ÉTICA Mas, para além de Uma explicação sobre o funcionamento da realidade; Uma receita para controlar o mundo; E de uma história que oferece um sentido para as coisas e para a própria existência, os mitos religiosos trazem consigo um outro elemento importantíssimo para as sociedades humanas. Que elemento seria esse? A ética! A lei que rege (ou que deveria reger) o comportamento de todas as pessoas. A vontade dos deuses torna-se o fundamento para as leis: tal lei/ regra/ costume é certo, porque os deuses querem assim ; E quando não agimos de acordo com a vontade deles, somos castigados; Mas se Deus ou as divindades não podem agir diretamente sobre o mundo físico, como podemos ter certeza sobre o que eles acham ser o certo ou o errado? Como podemos fazer para não apequenarmos a nossa vida a partir de uma interpretação equivocada do vontade divina?

12 DEUS Juntando as duas perguntas deixadas em aberto a respeito de Deus, poderíamos indagar: quem é o Deus cristão? Ou, o que é mais ou menos a mesma coisa, qual é a sua vontade para a gente??