FERRAMENTAS METODOLÓGICAS: BIBLIOTECA ONLINE PARA ONGS

Transcrição

1 Prevenir a Violência contra à Honra pela educação & diálogo através de ONGs de Apoio a Imigrantes Estudo de caso sobre crime de honra NOME DA ORGANIZAÇÃO PARCEIRA: Folkuniversitetet PAÍS: Suécia LÍNGUA: PT

2 INTRODUCÃO Um crime de honra é um assassinato de uma pessoa acusada de envergonhar ou desonrar a sua família. O conceito de desonra é muito vago e pode incluir qualquer coisa como recusar-se a um casamento arranjado ou estar num relacionamento contra a vontade da sua família ou tornar-se vítima de violação. As estatísticas de crime de honra são muito obscuras uma vez que muitos dos casos não são registados como homicídio. Os crimes de honra acontecem em todo o mundo. Este documentário revela a situação de crime de honra na Suécia. As questões de discussão abordam as razões, padrões e normas que levam ao crime de honra e possíveis formas de prevenir que estes casos se repitam. DESCRIÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO Objetivo principal O objetivo principal das discussões nos grupos de foco é para refletir e compreender o fenómeno da violência contra a honra baseados em histórias reais. A segunda parte da discussão é centrada em encontrar soluções de prevenção da violência e crime contra a honra através de trabalho comunitário por parte da sociedade civil. A metodologia recomendada para a discussão, GRUPOS DE FOCO, é especialmente relevante pelas seguintes razões: Pode ser usado para avaliar as necessidades reais dos participantes e, assim, orientar a discussão na direção certa. Em grupos de foco os participantes com necessidades e problemas semelhantes podem apoiar-se mutuamente, com novas ideias e reações. Desta forma, os participantes chegam às soluções através do diálogo, em vez de obter soluções "pré-determinadas". O papel do facilitador é liderar o grupo, a fim de debaterem as questões e problemas por eles próprios. Para criar o sentimento eu não estou só quando os participantes sentem que não estão sozinhos e que há outras pessoas com problemas semelhantes, o que cria o sentimento de confiança. Resultados esperados Compreensão do fenómeno do crime de honra. Compreensão das normas" da honra. Reflexão sobre possíveis medidas preventivas / metodologias através de trabalho comunitário e sensibilização. 2

3 Etapas de implementação 1. Selecionar o facilitador para liderar a discussão. 2. Deixar os participantes ler o estudo de caso (anexo). 3. Começar uma discussão com a visualização do vídeo sobre o crime de honra na Suécia: Vídeo: Islam na Suécia Crime de Honra 4. Começar os grupos de foco: o Obter o consentimento verbal com os participantes Leia o roteiro de consentimento verbal. Certifique-se que os participantes compreenderam os seus direitos, e garantir-lhes que as suas identidades não serão reveladas em quaisquer publicações / relatórios. o Estabelecer uma harmonia Muitas vezes os participantes não sabem o que esperar de discussões em grupo. É útil para o facilitador delinear o objetivo e formato da discussão no início da sessão e deixar o grupo à vontade. Os participantes devem ser informados de que a discussão é informal, todos devem participar, e que as opiniões divergentes são bem-vindas. o Seguir as etapas do plano que estabeleceu no início sobre temas e conteúdos de cada sessão O plano que o facilitador configura previamente será uma espécie de um quadro para o facilitador explorar, investigar e fazer perguntas. Iniciando cada tópico com uma pergunta cuidadosamente elaborada, ajudará os participantes a partilharem as suas experiências, mas de forma concentrada e significativa. Além disso, recorrendo a um plano, aumenta a abrangência dos dados. Se os participantes darem respostas incompletas ou irrelevantes, o facilitador pode procurar respostas mais completas e claras. Algumas técnicas sugeridas são: Repetir a pergunta - a repetição dá mais tempo para pensar. Fazer uma pausa para a resposta - um aceno pensativo ou olhar de expectativa pode transmitir que você quer uma resposta mais completa. Repetir a resposta - ouvi-la novamente, por vezes, estimula a conversação. Perguntar quando, o quê, onde e como desta forma provoca-se informações mais detalhadas. Usar comentários neutros como Mais alguma coisa? 3

4 o Rever Questões de Grupo de Foco Deverá rever uma ou duas perguntas, a fim de aumentar a sensibilidade cultural ou capacidade de resposta do plano inicialmente estabelecido. É uma ajuda verificar a questão revista com o grupo envolvido no estabelecimento do plano inicial. Além disso, esteja ciente de que certos tipos de perguntas poderão impedir discussões em grupo. Por exemplo, sim ou não perguntas são unidimensionais e não estimulam a discussão. Questões do tipo Porquê?" colocam as pessoas na defensiva e leva-as a tomar partidos "politicamente corretos" acerca de questões controversas. o Outras dicas para guiar a discussão Nos grupos de foco, é comum que alguns indivíduos dominem a discussão. A sua tarefa é equilibrar a participação e garantir que cada participante tem a oportunidade de contribuir para a discussão. Poderá precisar das seguintes estratégias para isso: Direcionar as questões para os indivíduos que estão resistentes em falar. Dar sinais não-verbais (olhar para outra direção ou parar de tomar notas quando um individuo intervém por um período mais prolongado). Intervir, educadamente resumir o ponto e, em seguida voltar a centrar a discussão. Minimizar a pressão para obedecer a um ponto de vista dominante. Quando uma ideia está a ser adotada sem qualquer discussão ou discordância geral, é mais provável que a pressão do grupo esteja suscetível a estar em conformidade com um ponto de vista dominante. Para minimizar esta dinâmica de grupo, o facilitador deve procurar visões alternativas. Por exemplo, o facilitador pode levantar uma outra questão, ou dizer, "Nós tivemos uma discussão interessante, mas vamos explorar outras ideias ou pontos de vista. Alguém já teve uma experiência diferente e deseja partilhar? 5. Após a discussão, é necessário explicar a ideia do exercício e a forma como as pessoas reagiram: tais decisões são baseadas nos valores encontrados na parte submersa do iceberg, a maioria dos quais são valores inconscientes. INFORMAÇÃO ADICIONAL Sugestão de questões para a discussão O que quer Fadime dizer com choque de norma entre a sua família e a sociedade sueca? Por que é que ela foi forçada a viver uma vida dupla? Qual é a explicação de crime de honra a partir dos olhos da família da Fadime? 4

5 Que medidas preventivas poderiam as ONGs na sua comunidade tomar para salvar a sua vida? Que medidas preventivas poderia o Estado sueco fazer para salvar a vida dela? Materiais necessários - Exemplares do livro em papel ou em formato eletrónico. - Uma lista de perguntas para a discussão. Duração / Tempo de processamento - É recomendado organizar 2 sessões consecutivas, 40 minutos por sessão, com 10 minutos de intervalo. ANEXO Estudo de caso de Fadime Sahindal baseado no seu discurso no Parlamento sueco em novembro de 2011, um ano antes de ser morta pela sua família. No início era uma vida pacífica, mas quanto mais velha eu me tornei, maior era o controlo a que eu estava exposta. Os primeiros sinais foram a proibição de brincar com os meus amigos suecos ou participar nas atividades fora da escola. Depois da escola, eu tinha de regressar diretamente para casa para ajudar a minha mãe com a lida da casa para me tornar numa menina bonita. Os meus pais acharam que seria bom eu saber ler e escrever, para eu servir de ligação com a sociedade sueca, porque eles eram analfabetos. Mas eles não queriam que eu estudasse mais. Achavam que não era preciso ir para o ensino superior para cuidar do marido e dos filhos. Quando fiz 18 anos, os meus pais queriam que eu fosse para a Turquia para casar com um dos meus primos, precisamente como as minhas irmãs mais velhas fizeram. Recusei-me a fazê-lo. Eu sentia-me muito jovem e imatura para tomar uma decisão tão importante. Além disso, eu é que queria decidir com quem eu queria compartilhar a minha vida. Os meus pais pensaram que eu precisava de pensar em primeiro lugar o que era melhor para a minha família. É melhor que uma só pessoa sofra, do que toda a família sofrer. Em confronto com os meus pais, eu morava e fazia parte da sociedade sueca. Eu fui para a escola sueca, comia comida sueca, tinha amigos suecos e assistia a TV sueca. Claro que eu estava influenciada pelos valores suecos e a sua maneira de viver. Comecei a testar os seus limites, porque eu não queria aceitar tudo isto. Eu continuei a encontrar-me com os meus amigos suecos, ia tomar café e voltava para casa depois da hora permitida. Eu tinha os meus próprios sonhos e objetivos. Eu queria viver a minha vida nas minhas próprias condições, cometer 5

6 os meus próprios erros e aprender com eles. Eu não aceitava que alguém decidisse por mim. Além disso, foi muito importante para mim continuar a minha educação e autodesenvolvimento. Os meus pais pensavam que os suecos eram pessoas sem cultura, moral e valores éticos. Isto foi baseado em preconceitos, pois eles nunca tinham convivido com os suecos. Eu fui forçada a equilibrar entre as normas suecas e as normas da minha família. Eu fui obrigada a viver a vida para satisfazer as expectativas de ambas as sociedades como uma jovem mulher. Fadime continuou a sua história, contando como ela conheceu o seu namorado, Patrick. Apaixonaram-se e começaram o seu relacionamento às escondidas. Um dia o pai da Fadime viu-os num café e começou a bater-lhes. A família entendeu que Fadime perdeu a virgindade e, assim, tornou-se uma vergonha para a sua família. Fadime deixou Uppsala por ter entendido que a sua família precisava de dar a sua vida para salvar a sua honra aos olhos dos familiares e da comunidade. Ela viveu escondida por algum tempo longe da sua família e parentes, sentindo-se dividida e confusa. Um dia a mãe convidou-a de volta para casa para uma reconciliação e o seu pai e irmão mataram-na. Aconteceu em O pai de Fadime estará livre em 2 anos em vez de cumprir prisão perpétua. 6