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1 Universidade Federal do Rio de Janeiro A ORDEM DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS NAS VARIEDADES URBANAS EUROPEIA, BRASILEIRA E SÃO-TOMENSE: UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DO PORTUGUÊS NO INÍCIO DO SÉCULO XXI Maria de Fatima Vieira 2016

2 2 A ORDEM DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS NAS VARIEDADES URBANAS EUROPEIA, BRASILEIRA E SÃO-TOMENSE: UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DO PORTUGUÊS NO INÍCIO DO SÉCULO XXI Maria de Fatima Vieira Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pósgraduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutora em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira Rio de Janeiro Fevereiro de 2016

3 3 A ORDEM DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS NAS VARIEDADES URBANAS EUROPEIA, BRASILEIRA E SÃO-TOMENSE: UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DO PORTUGUÊS NO INÍCIO DO SÉCULO XXI Maria de Fatima Vieira Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutora em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Examinada por: Presidente, Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira UFRJ Professora Doutora Izete Lehmkuhl Coelho UFSC Professor Doutor Gilson Costa Freire UFRRJ Professora Doutora Beatriz Protti Christino UFRJ Professora Doutora Silvia Figueiredo Brandão UFRJ Professora Doutora Marcia dos Santos Machado Vieira UFRJ, Suplente Professora Doutora Christina Abreu Gomes UFRJ, Suplente Rio de Janeiro Fevereiro de 2016

4 4 VIEIRA, Maria de Fatima. A ordem dos clíticos pronominais nas variedades urbanas europeia, brasileira e são-tomense: uma análise Sociolinguística do Português no início do século XXI / Maria de Fatima Vieira. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, xvii, 238f.:il.; 35cm. Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira Tese (Doutorado) UFRJ/ FL/ Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), Referências Bibliográficas: f Clíticos Pronominais. 2. Ordem. 3. Sociolinguística. 4. Variedades do Português. I. VIEIRA, Silvia Rodrigues. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). III. A ordem dos clíticos pronominais nas variedades urbanas europeia, brasileira e são-tomense: uma análise Sociolinguística do Português no início do século XXI.

5 5 À Maria Eduarda, minha pequena, que me mostrou o lado bom da vida! Não sei quanto o mundo é bom Mas ele está melhor Porque você chegou E explicou O mundo pra mim (Espatódia Nando Reis)

6 6 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, quero agradecer a Deus por tudo! Especialmente, por essa oportunidade de fazer o doutorado; sou a primeira pessoa da família que está cursando o doutorado, muito obrigada, Senhor! Agradecer a Deus por ter me dado os dois empregos um no Rio e outro em Angra, agradecer por cada dia me dar mais forças para continuar nessa caminhada e por toda a minha família, em especial a que eu estou começando a formar com o Maurício e a Maria Eduarda! Só tenho a agradecer muito a esse Deus que é tão maravilhoso e misericordioso! Agradeço também a Nossa Senhora por toda a intercessão em todos esses anos de doutorado. Que Nossa Senhora continue me protegendo e me guiando sempre para o caminho certo. Quero agradecer a todos os membros da minha família por sempre acreditarem em mim e estarem ao meu lado. Meus irmãos: Ana Lúcia, Tuninho, Beto e João; minhas cunhadas e cunhados: Damiana, Vera, Renata, Márcia, Tainá, Tuninho, Adriano e Júnior; meu sogro, Manoel, minha sogra, Maria; e todos os meus sobrinhos, que não são poucos: Aninha, Cristiane, João Vitor, Felipe, Maria Caroline, Luiz Fernando, Fabiana, Luiz Henrique, Gabriel, Maria Luiza, Emanuelle, Yuri, Ana Julia e Luiz Antônio. Além das minhas tias Conceição e Cecília, que não entendem porque eu ainda estou estudando, mas, mesmo assim, me incentivam. De modo especial, quero agradecer ao meu pai Antônio Vieira, in memoriam, que não está ao meu lado para ver tantas conquistas que Deus tem realizado na minha vida, mas, com certeza, está lá de cima olhando tudo e pedindo a Deus que nos proteja e nos ajude nessa caminhada. Sempre me incentivou muito a estudar e ficou muito orgulhoso quando eu consegui dois empregos por causa do estudo! Pai, muito obrigada por tudo! Agora é a vez da minha mãe, um anjo que Deus colocou na minha vida. A pessoa que mais me ajudou até hoje, em especial nessa reta final da tese, olhando minha princesa e sempre me dando forças para nunca desistir dos meus sonhos! Mãe, obrigada por tudo! Você é maravilhosa! Quero ser uma mãe igual a senhora é para mim! Tudo o que tenho e sou hoje, eu agradeço à senhora. Não posso esquecer do Mauricio, meu maridão! Sempre me dando forças para estudar e me ajudando a decidir que caminho seguir. Desde o vestibular até agora no doutorado, já se foram treze anos juntos, de muito amor e conquistas, graças a Deus! Que Deus continue nos abençoando e nos protegendo hoje e sempre. Obrigada por tudo, amor!

7 7 Maria Eduarda! Um anjo que Deus me deu para alegrar todos os meus dias. Sempre com um beijinho e um carinho bem gostoso, inclusive depois de várias noites não dormidas. Sempre acorda de manhã toda feliz por ver a mamãe! Filha, você é a alegria do meu viver! Desculpa pela falta de tempo e, principalmente, pela distância e ausência desses dias. Saiba que te amo muito e sempre vou te amar, minha pequena! Falando em anjo... Deus me abençoou profundamente quando colocou na minha vida uma orientadora muito importante, uma pessoa com quem posso contar sempre. Dos 30 anos que tenho de vida, já estamos juntas há 10! Um terço da minha vida com uma orientadora maravilhosa, juntando iniciação científica, mestrado e doutorado... Graças a Deus, sou uma pessoa bem orientada! Vieira orientando Vieira! Saiba que sigo seu exemplo para sempre ser uma professora boa, competente e amiga como você é. Muito obrigada por tudo e espero que tenhamos mais oportunidades de trabalharmos juntas, que não seja o fim, mas o começo de mais e mais trabalhos juntas! E... Vamos que vamos! Quero também agradecer às diretoras do município do Rio, Fatinha Guerreira e Si Mizael, mais dois anjos que entraram na minha vida. Obrigada pelo carinho e compreensão de um ano bem complicado para mim. Também aos diretores de Angra dos Reis, Iná e Emmanuel, que sempre compreenderam minha ausência em vários momentos. Agradeço também aos colegas de trabalho que sempre estavam me dando forças para seguir: Miguel, Sandra, Herculano, Kátia, Carla e Cristiane. Além de todos os colegas e amigos da F-310, em especial minhas amigas Adriana e Giselle, que, mesmo distantes, sempre estão me ajudando com suas palavras amigas. De forma muito especial, quero agradecer às professoras que participaram da minha banca da qualificação, Izete Lehmkuhl Coelho e Silvia Figueiredo Brandão, por terem me dado várias dicas e orientações para a continuação da tese. Agradeço também à professora Beatriz Protti Christino e ao professor Gilson Costa Freire, por terem aceitado gentilmente o convite de participar da minha banca de doutorado, bem como Christina Abreu Gomes e Marcia dos Santos Machado Vieira, que aceitaram ser suplentes da minha banca. Enfim, quero agradecer a todos que, direta ou indiretamente, me ajudaram nessa caminhada e acreditaram em mim, sabendo que, com a graça de Deus, JÁ DEU TUDO CERTO!!!

8 8 Pode se alegrar e a Deus louvar Que já deu tudo certo! (Padre Marcelo Rossi)

9 9 SINOPSE Estudo da ordem dos clíticos pronominais em estruturas com lexias verbais simples e com complexos verbais. Análise contrastiva das normas de uso das variedades europeia, brasileira e são-tomense no século XXI, a partir da Sociolinguística Variacionista. Interpretação do estatuto da ordem em função de restrições linguísticas e extralinguísticas e da situação de contato linguístico nos países colonizados.

10 10 RESUMO A ORDEM DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS NAS VARIEDADES URBANAS EUROPEIA, BRASILEIRA E SÃO-TOMENSE: UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DO PORTUGUÊS NO INÍCIO DO SÉCULO XXI Maria de Fatima Vieira Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de pós-graduação em Letras Vernáculas, área de concentração Língua Portuguesa, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutora em Língua Portuguesa. Com o objetivo de investigar a colocação dos clíticos pronominais na modalidade oral da Língua Portuguesa, a presente tese utiliza dados do Português Europeu (PE), do Português Brasileiro (PB) e do Português de São Tomé (PST). A pesquisa tem como base (i) a Sociolinguística Variacionista (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968); (ii) o tratamento dado aos temas gramaticais, como a colocação pronominal, a noção de complexos verbais, em estudos anteriores; e (iii) questões relacionadas a situação de contato linguístico. Pretende, assim, verificar se a regra de colocação pronominal nas três variedades é categórica, semicategórica ou variável (LABOV, 2003), além de mostrar, com base em análise comparativa dos dados, as semelhanças e diferenças entre os padrões verificados na língua do país colonizador (PE) e na dos países colonizados (PB e PST). Para tanto, foram analisadas as estruturas com um constituinte verbal lexias verbais simples e com mais de um complexos verbais. O corpus pertence ao banco de dados do projeto Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias. Todos os dados são de variedades urbanas do início do século XXI e podem ocupar, em relação às lexias verbais simples, as posições: proclítica (Não se senta), enclítica (Senta-se) ou mesoclítica (Sentar-se-á). Nos complexos verbais, os dados poderão aparecer antes do complexo verbal (Não se pode sentar), no interior, em ênclise a v1 ou em próclise a v2 (Pode(-)se sentar / Pode-se sempre sentar / Pode sempre se sentar) ou depois (Pode sentar-se). Com o auxílio computacional do GOLDVARB-X, determinam-se as variáveis linguísticas e extralinguísticas importantes, em caso de regra variável. Foi possível, verificar que, no PB, a regra é semicategórica variante pré-verbal/próclise a v2. No PE e no PST, há ênclise categórica em início absoluto de oração. Nos demais contextos, há variação nessas duas variedades, com preferência pela próclise em contextos com atratores; no PST, essa preferência ocorre em meio a maior oscilação nos mesmos contextos sintáticos típica de uma língua em formação sobretudo em situação de intenso contato linguístico. Mesmo com a presença de proclisadores clássicos, a próclise não ocorreu de forma categórica no PE nem no PST e, nesta variedade, ocorreram alguns dados semelhantes aos brasileiros, como a próclise com sujeitos e conjunções coordenativas. Nos complexos verbais, a colocação pronominal nas duas variedades é sensível à forma do verbo principal: com gerúndio e particípio, ocorre a próclise ou a ênclise a v1; com infinitivo, há variação sensível ao tipo de complexo, ao tipo de clítico e ao elemento antecedente ao complexo. Palavras-chave: Clíticos pronominais; Ordem; Sociolinguística; Variedades do Português. Rio de Janeiro Fevereiro de 2016

11 11 ABSTRACT CLITIC PRONOUN ORDER IN URBAN EUROPEAN, BRAZILIAN AND SÃO-TOMÉ VARIETIES OF PORTUGUESE: A SOCIOLINGUISTIC ANALYSIS OF EARLY 21 ST - CENTURY PORTUGUESE Maria de Fatima Vieira Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de pós-graduação em Letras Vernáculas, área de concentração Língua Portuguesa, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutora em Língua Portuguesa. This thesis uses data from European Portuguese (EP), Brazilian Portuguese (BP) and São Tomé Portuguese (STP) to ascertain the placement of clitic pronouns in oral Portuguese. The study is grounded in (i) Variationist Sociolinguistics (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968); (ii) the treatment given to grammatical topics, such as pronoun placement and the notion of verbal complexes, in previous studies; and (iii) issues deriving from situations of linguistic contact. The purpose is thus to determine whether pronoun placement rules in the three varieties are categorical, semi-categorical or variable (LABOV, 2003) and, by comparative data analysis, to show whether there are similarities or differences between the patterns found in the language of the colonising country (EP) and of those colonised (BP and STP). To that end, structures with one verbal constituent single-word verbs and with more than one verbal complexes were examined. The corpus belongs to the data base of the project Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias [Comparative study of concordance patterns in African, Brazilian and European varieties]. All data are from the early 21 st century and, in single-word verbs, can occupy the positions: proclitic (Não se senta), enclitic (Senta-se) or mesoclitic (Sentarse-á). In verbal complexes, the data can appear before the verbal complex (Não se pode sentar), within it, in V1 enclisis or V2 proclisis (Pode(-)se sentar / Pode-se sempre sentar/ Pode sempre se sentar) or after it (Pode sentar-se). In cases of variable rules, the relevant linguistic and extra-linguistic variables were determined with the assistance of GOLDVARB-X software. It was found that, in BP, the rule is semi-categorical: proclisis in single-word verbs and V2 proclisis in verbal complexes. In EP and STP, enclisis is categorical at the absolute sentence initial position. In other contexts, there is variation in these two varieties. In EP, preference is for proclisis in contexts with attractors, while in STP, as is typical of a language in formation, there are oscillations in these same syntactic contexts. In both varieties, pronoun placement is sensitive to the main verb in verbal complexes: with the gerund and participle, proclisis or V1 enclisis occurs, while with the infinitive, placement varies among three positions sensitive to the clitic type and to the element preceding the complex. Keywords: Clitic pronouns; Order; Sociolinguistics; Varieties of Portuguese Rio de Janeiro February 2016

12 12 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO CLITICIZAÇÃO E A ORDEM DOS CLÍTICOS NO PORTUGUÊS Cliticização e padrões de colocação pronominal Revisão da literatura: a ordem dos clíticos pronominais A colocação pronominal segundo compêndios gramaticais A colocação pronominal segundo as pesquisas linguísticas A colocação pronominal no Português: estudos diacrônicos A colocação pronominal no Português: estudos sincrônicos Síntese das principais tendências dos estudos TEORIA DA VARIAÇÃO E MUDANÇA: PRESSUPOSTOS BÁSICOS FORMAÇÃO HISTÓRICA E LINGUÍSTICA DAS VARIEDADES BRASILEIRA E SÃO-TOMENSE Conceitos básicos Um pouco da história dos países colonizados Breve história de colonização no Brasil Breve história de colonização em São Tomé Descrição do Forro e a colocação pronominal Semelhanças na história linguística dos países colonizados (PB e PST) ASPECTOS METODOLÓGICOS Justificativa, problemas e hipóteses Procedimentos para a análise dos dados e descrição do corpus Descrição das variáveis Variável dependente Variáveis independentes...105

13 Variáveis extralinguísticas Variáveis linguísticas ANÁLISE DOS DADOS Lexias verbais simples Distribuição geral dos dados pela variável dependente Distribuição dos dados pelas variáveis extralinguísticas Variáveis relevantes para o fenômeno Português do Brasil Português Europeu Português de São Tomé Sistematização dos resultados das lexias verbais simples Complexos Verbais Distribuição geral dos dados pela variável dependente e pela forma do verbo principal Português do Brasil Complexos verbais do PB com o verbo principal no infinitivo Complexos verbais do PB com o verbo principal no gerúndio Complexos verbais do PB com o verbo principal no particípio Português Europeu Complexos verbais do PE com o verbo principal no infinitivo Complexos verbais do PE com o verbo principal no gerúndio Complexos verbais do PE com o verbo principal no particípio Português de São Tomé Complexos verbais do PST com o verbo principal no infinitivo Complexos verbais do PST com o verbo principal no gerúndio Complexos verbais do PST com o verbo principal no particípio...210

14 Sistematização dos resultados dos complexos verbais Os resultados dos complexos com infinitivo Os resultados dos complexos com gerúndio Os resultados dos complexos com particípio O estatuto da ordem dos clíticos nas três variedades da Língua Portuguesa: para a definição dos parâmetros de colocação CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA...232

15 15 TABELAS: LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E QUADROS 1. Distribuição das variantes relativas à ordem dos clíticos em lexias verbais simples no corpus oral das três variedades do Português segundo Vieira (2002) Índices de frequência da próclise por presença de operador de próclise na oração e variedade do Português nas lexias verbais simples do corpus oral segundo Vieira (2002) Distribuição das variantes pré-cv, pós-cv e intra-cv no corpus oral das três variedades do Português segundo Vieira (2002) Dados sobre as línguas faladas censos de 1991 e de 2001 da população com mais de 5 anos segundo Hagemeijer (2009) Dados sobre as línguas faladas censos de 1991, de 2001 e de 2012 segundo censo de Perfil dos informantes do PE e PB segundo o Projeto Concordância Distribuição do número total de dados encontrados nas lexias verbais simples e nos complexos verbais no PB, PE e PST Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais pelas variáveis extralinguísticas nas lexias verbais simples no PB, PE e PST Distribuição dos dados da variante proclítica nas lexias verbais simples pelas três faixas etárias do PB Distribuição dos dados da variante enclítica nas lexias verbais simples do PB pelo tipo de clítico Distribuição dos dados da variante proclítica nas lexias verbais simples do PB por tipo de clítico Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com o elemento antecedente nas lexias verbais simples do PB Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com o elemento antecedente nas lexias verbais simples do PE Distribuição dos dados de próclise e ênclise de acordo com o cruzamento entre Localidade dos informantes e Elementos antecedentes nas lexias verbais simples do PE Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com o tempo/modo verbal nas lexias verbais simples do PE Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com a distância entre o clítico e um elemento antecedente nas lexias verbais simples do PE Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com o sexo dos informantes nas lexias verbais simples do PST Distribuição dos dados de próclise e ênclise de acordo com o cruzamento entre Sexo dos informantes e Elementos antecedentes nas lexias verbais simples do PST Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com a presença e natureza do elemento antecedente nas lexias verbais simples do PST...158

16 Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com o tempo/modo verbal nas lexias verbais simples do PST Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com a distância entre o clítico e um elemento antecedente nas lexias verbais simples do PST Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com a tonicidade das formas verbais nas lexias verbais simples do PST Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com a frequência de uso de um crioulo nas lexias verbais simples do PST Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais do PB, PE e PST Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais segundo a forma do verbo principal no PB Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais segundo a forma do verbo principal no PE Elementos integrantes e intervenientes aos complexos verbais no PB e PE e a ordem dos clíticos em complexos verbais Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais segundo o elemento antecedente com a forma do verbo principal no infinitivo no PE Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais segundo a forma do verbo principal no PST GRÁFICOS: 1. Aplicação da próclise (peso relativo) segundo o elemento antecedente ao clítico segundo Vieira (2011) Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nas lexias verbais simples no PB, PE e PST Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nas lexias verbais simples no PB Aplicação da próclise nas lexias verbais simples do PB de acordo como a faixa etária Aplicação da próclise nas lexias verbais simples do PB de acordo com o tipo de clítico Aplicação da próclise de acordo com o elemento antecedente nas lexias verbais simples do PB Aplicação da próclise de acordo com o elemento antecedente nas lexias verbais simples do PE Aplicação da próclise de acordo com o tempo/modo verbal nas lexias verbais simples do PE Aplicação da próclise de acordo com a distância entre o clítico e um elemento antecedente nas lexias verbais simples do PE...154

17 Aplicação da próclise de acordo com o sexo dos informantes nas lexias verbais simples do PST Distribuição dos clíticos pronominais encontrados na variante proclítica de acordo com a presença e natureza do elemento antecedente nas lexias verbais simples do PST Aplicação da próclise de acordo com o tempo/modo verbal nas lexias verbais simples do PST Aplicação da próclise de acordo com a distância entre o clítico e um elemento antecedente nas lexias verbais simples do PST Aplicação da próclise de acordo com a tonicidade das formas verbais nas lexias verbais simples do PST Aplicação da próclise de acordo com a frequência de uso de um crioulo nas lexias verbais simples do PST Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais do PB, PE e PST Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais do PB: variável ternária Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais do PE Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais do PST Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais do PB, PE e PST (fatores intra-cv amalgamados) Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais no infinitivo do PB, PE e PST (fatores intra-cv amalgamados) Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais no gerúndio do PB, PE e PST (fatores intra-cv amalgamados) Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais no particípio do PB, PE e PST (fatores intra-cv amalgamados) QUADRO: 1. Perfil dos informantes do PE e do PB segundo o Projeto Concordância Sistematização da ordem dos clíticos pronominais em lexias verbais simples nas três variedades FIGURAS: 1. Mapa do Brasil Mapa de São Tomé e Príncipe...86

18 18 1. INTRODUÇÃO A presente pesquisa tem como objetivo investigar a colocação dos clíticos pronominais na modalidade oral do Português Europeu (PE), do Português do Brasil (PB) e do Português de São Tomé (PST), doravante PE (Português da Europa Lisboa/Oeiras, Cacém e Funchal), PB (Português do Brasil Copacabana e Nova Iguaçu) e PST (Português de São Tomé ). Pretende-se verificar se a regra de colocação dos pronomes oblíquos átonos nas três variedades admite comportamento de uma regra categórica, semicategórica ou variável (LABOV, 2003). Com base na análise comparativa dos dados, será possível verificar semelhanças ou divergências do fenômeno nessas três variedades da língua portuguesa e mostrar se o tipo de cliticização dos pronomes no país colonizador (PE) se manteve ou foi alterado nos países colonizados (PB e PST). Por hipótese, haveria motivação sintática como o favorecimento da variante pré-verbal na presença de elementos proclisadores para a ordem dos clíticos no PE (país colonizador), mas no PB e no PST (países colonizados), se houver variação, essa motivação não seria sistemática, sobretudo por razões relacionadas ao fato de se tratar de ambientes de intenso contato linguístico. Dessa forma, acredita-se que haverá particularidades ou parâmetros diferenciados por variedade, havendo, assim, três possíveis normas de colocação na Língua Portuguesa. Para o desenvolvimento do tema, investiga-se a ordem dos clíticos, considerando-se lexias verbais simples estruturas com apenas um constituinte verbal e complexos verbais 1 estruturas com mais de um constituinte verbal produzidos no início do século XXI, com base no banco de dados construído recentemente pelo Projeto Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias do Português (cf. Em relação às lexias verbais simples, os dados analisados poderão estar em próclise (Não se senta melhor aqui 2 ), ênclise (Senta-se melhor aqui) ou mesóclise (Sentar-se-á 1 Nesta pesquisa, serão consideradas todas as estruturas em que há mais de uma forma verbal desde que haja certo grau de integração sintático-semântica e que seja possível a alternância do clítico pronominal, sendo mantido o mesmo conteúdo básico em questão. Sendo assim, são considerados não só os complexos verbais formados por auxiliares de uso mais frequente, como ter, haver, ser e estar (CUNHA & CINTRA, 2007), mas também os chamados semiauxiliares e outros que atendem a poucos requisitos de auxiliaridade (MACHADO VIEIRA, 2004). Mais detalhes serão apresentados na descrição da variável tipo de complexo verbal. 2 Os exemplos apresentados na introdução foram criados com os mesmos verbos para que o leitor pudesse visualizar a variação da ordem e compreender cada uma das colocações possíveis, facilitando, assim, a comparabilidade das posições dos clíticos. No decorrer do trabalho, haverá diversos exemplos dos dados estudados na presente pesquisa.

19 19 melhor aqui). No que tange aos complexos verbais 3, os dados poderão estar nas seguintes posições: cl v1 v2 ou pré-complexo verbal (Não se pode sentar melhor aqui); no interior do complexo verbal (Pode(-)se sentar melhor aqui), que pode configurar uma variante do tipo v1-cl v2 / ênclise a v1 (Pode-se sempre sentar melhor aqui) ou um caso do tipo v1 cl-v2 / próclise a v2 (Pode sempre se sentar melhor aqui); e pós-complexo verbal ou v1 v2-cl (Pode sentar-se melhor aqui). A pesquisa tem como base (i) a Teoria da Variação e Mudança, de orientação laboviana (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972, 1994, 2003), para o tratamento da variabilidade no tema em questão; (ii) os pressupostos para o tratamento da cliticização e dos temas gramaticais: parâmetros de cliticização segundo Klavans (1985), abordagem tradicional (ROCHA LIMA, 2001; CUNHA & CINTRA, 2007) e linguística (PERINI, 2007; CASTILHO, 2010; MATEUS et alii, 2003; RAPOSO et alii, 2013) para a colocação pronominal e a noção de complexo verbal, além da consulta de diversos estudos científicos anteriores; (iii) as bases para a interpretação das variedades: país colonizador (PE) e países colonizados (PB e PST), a história de implantação da Língua Portuguesa nos países colonizados, o contato linguístico e o multilinguismo (HAGEMEIJER, 2009; LUCCHESI, 2004; LUCCHESI et alii, 2009). Dessa forma, pretende-se, com a presente pesquisa, verificar os elementos motivadores da ordem dos clíticos pronominais nas três variedades do Português, reconhecendo suas convergências e divergências, e debater a gênese e as possíveis explicações para a divergência de comportamento entre as variedades, quando for o caso. Além disso, será possível fornecer dados sobre as três variedades linguísticas, principalmente sobre as duas menos exploradas (PE e PST) em termos sociolinguísticos, e expandir conhecimentos acerca da norma de colocação dos clíticos pronominais, referentes a um e a mais de um constituinte verbal, na modalidade oral do PE, PB e PST, demonstrando a opção preferencial em cada caso. Para tanto, com o auxílio do Programa Goldvarb-X, será possível (i) descrever, em dados orais contemporâneos, a variante mais produtiva no PE, PB e PST (próclise, ênclise ou mesóclise; cl-v1 v2, v1(-)cl v2 ou v1 v2-cl), em diversos ambientes em que o clítico se encontra, para que se possa verificar quais seriam as opções preferenciais quanto à colocação dos clíticos pronominais nas três variedades em questão; (ii) averiguar o estatuto da colocação 3 Destaca-se que serão coletados todos os complexos com infinitivo, gerúndio e particípio, mas cada uma dessas estruturas será tratada separadamente.

20 20 em cada variedade nas lexias verbais simples e nos complexos verbais, verificando, consoante Labov (2003), se se trata realmente de uma regra variável, semicategórica ou categórica; (iii) em caso de regra variável, identificar as variáveis linguísticas e extralinguísticas que atuam no comportamento do fenômeno, apontando os elementos que funcionam, de fato, como favorecedores da próclise e observando se tais elementos atuam igualmente nos contextos de complexos verbais; (iv) comparar os padrões de colocação pronominal na fala dos indivíduos pertencentes ao país colonizador (PE) e na fala dos informantes dos países colonizados, além de verificar se na fala dos informantes dos dois países colonizados há semelhanças ou diferenças, para propor um debate acerca da origem das diferenças ou semelhanças detectadas e, caso haja diferenças, analisar se elas são quantitativa e qualitativamente suficientes para que se postule a concretização de parâmetros diferenciados por variedade; e (v) com base nos resultados obtidos para o PST, discutir questões atinentes a situações de contato linguístico e a uma possível influência quanto aos parâmetros de cliticização pronominal. Para tanto, pretende-se apresentar os elementos linguísticos e extralinguísticos que, efetivamente, determinam a ordem de colocação dos clíticos pronominais no Português Europeu e no Português de São Tomé no âmbito das lexias verbais simples e dos complexos verbais, em que se verificaria, por hipótese, uma regra variável, em contraste com a análise do fenômeno no PB. Com o estudo comparativo das variedades, será possível estabelecer as características da gramática do Português utilizado em dados contemporâneos. Sabe-se que apenas os trabalhos de Vieira (2002), Gonçalves (2009), Vieira, M. F. (2011) e Corrêa (2012), até onde vai nosso conhecimento, contemplam dados da Língua Portuguesa falada, que, segundo a orientação laboviana, seriam os mais indicados para o estudo efetivo da língua. Além de Vieira (2002), ainda não há descrição/análise sociolinguística contrastiva de dados da língua falada em lexias verbais simples e complexos verbais em variedades do Português. Este trabalho investiga dados do século XXI valendo-se de amostras com os mesmos perfis de informantes, para verificar a implementação de determinadas estruturas, se motivada por fatores internos ou externos à língua, bem como a possível influência da situação de intenso contato linguístico. Dessa forma, a investigação variacionista ora proposta pretende contribuir para a expansão dos conhecimentos acerca da ordem dos clíticos pronominais na modalidade oral das variedades brasileira e europeia. Além disso, de forma original, o presente trabalho irá contribuir para o conhecimento da variedade de são-tomense e da localidade de Funchal, nas quais o tema ainda não foi descrito e estudado em termos sociolinguísticos. Dessa forma, a parca exploração do tema nas duas localidades, especialmente considerando a língua falada,

21 21 confere, por si só, a necessária originalidade e justificativa da pesquisa. Ademais, a pesquisa almeja alcançar a desejável relevância em termos explicativos, ao conjugar a descrição dos dados às reflexões concernentes ao estatuto variável ou semicategórico de cada variedade e à interpretação da formação da Língua Portuguesa nos dois países colonizados, considerando sobretudo a situação de contato linguístico. Assim, propõe-se a análise contrastiva das três variedades em conjunto e, especialmente com a análise dos dados do PST, propicia-se um conhecimento mais amplo de uma variedade africana de Língua Portuguesa: o Português de São Tomé. A presente tese, em termos de estruturação do texto, subdivide-se em oito capítulos, incluindo este primeiro de introdução. O segundo capítulo mostra que o presente trabalho se baseia em pressupostos relativos ao tema da cliticização pronominal, dos padrões de colocação e em ampla revisão bibliográfica. Assim, há a descrição do tema abordado em compêndios gramaticais diversos, passando por diversos estudos sobre a ordem dos pronomes na diacronia e na sincronia, havendo, no final desse capítulo, uma síntese com os principais resultados sobre as lexias verbais simples e os complexos verbais. O capítulo terceiro apresenta os pressupostos básicos da Teoria da Variação e Mudança, a Sociolinguística Laboviana, que embasam a presente pesquisa em termos de fundamentação teórico-metodológica. Logo após, no quarto capítulo, são apresentados os pressupostos relacionados à influência de ambientes de intenso contato linguístico, como é o caso de São Tomé atualmente. Há um breve panorama da formação linguística dos dois países colonizados (PB e PST), mostrando algumas semelhanças socio-históricas a eles relacionadas. Além disso, nesse capítulo também há a descrição da colocação pronominal do crioulo mais utilizado em São Tomé, o Forro, com base em Ferraz (1979) e Hagemeijer (2007). No quinto capítulo, toda a metodologia utilizada na elaboração da presente tese é descrita, desde a justificativa, problemas e hipóteses até os procedimentos de análise dos dados, que contemplam a coleta das ocorrências, passando pela codificação das variáveis linguísticas e extralinguísticas, até chegar às decisões de codificação e recodificação dos dados. Além disso, no âmbito da descrição das variáveis, apresenta-se a definição do que se concebe como um complexo verbal e os tipos de complexos que serão analisados. No capítulo sexto, é apresentada toda a análise das lexias verbais simples e dos complexos verbais, com a separação por variedade da Língua Portuguesa e, nos complexos verbais, por forma do verbo principal também, fazendo, sempre que possível, o debate sobre

22 22 as semelhanças e diferenças na colocação dos clíticos pronominais nas três variedades. No final de cada análise lexias verbais simples e complexos verbais, há uma breve sistematização dos principais resultados encontrados e, logo após, a interpretação do perfil de cada variedade, mostrando o estatuto da ordem dos pronomes no PB, PE e PST com o objetivo de definir os parâmetros de colocação. A conclusão do trabalho encontra-se no sétimo capítulo, em que há a retomada das hipóteses mostradas na metodologia e as contribuições que foram possíveis com a elaboração da presente pesquisa e, por último, no capítulo oitavo, referente à bibliografia, estão todas as fontes consultadas para que esta pesquisa se concretizasse.

23 23 2. CLITICIZAÇÃO E A ORDEM DOS CLÍTICOS NO PORTUGUÊS Diversos estudos variacionistas sobre a colocação pronominal, em especial no Português do Brasil, já foram desenvolvidos. Entretanto, em relação ao Português Europeu e ao Português de São Tomé, especialmente na modalidade oral, praticamente não se dispõe de pesquisas sobre o tema com base no arcabouço teórico-metodológico sociolinguístico. Esta seção busca apresentar um panorama dos trabalhos variacionistas já desenvolvidos sobre o tema nas referidas variedades, as quais constituem objeto da presente investigação. Assim, não haverá um levantamento e uma descrição exaustiva dos trabalhos, mas uma visão geral dos resultados que serviram de fundamentação para a presente pesquisa. Antes, porém, haverá a definição do que seria um clítico e os padrões de colocação pronominal da Língua Portuguesa Cliticização e padrões de colocação pronominal O clítico corresponde a toda partícula átona que se liga a um vocábulo tônico. Os clíticos podem aparecer antes ou depois desse vocábulo. Como a presente tese trata da cliticização pronominal, a seguir serão mostradas algumas definições de clítico que serviram de base ao tratamento dos dados e à interpretação dos resultados. Segundo Houaiss (2001, p. 741), clítico seria todo vocábulo átono que, num enunciado, se integra fonologicamente à palavra anterior ou posterior, formando uma sílaba da mesma (pronomes oblíquos, preposições, conjunções, artigos etc.). O vocábulo clítico, de acordo com o Dicionário Aurélio (1986, p. 418), seria de origem grega, e designaria qualquer monossílabo átono subordinado, por meio de elemento prosódico, ao vocábulo que o precede, ou que o segue, ou no qual se acha inserido. Para David Crystal (1997, p ), como propõe em seu Dicionário de Linguística, um clítico seria parecido com uma palavra, mas não poderia ser colocado sozinho em uma frase, pois ele seria estruturalmente dependente da palavra vizinha na construção. (O termo clítico vem do grego inclinado ) (...). De acordo com as definições anteriores, fica clara a dependência dos clíticos em relação às palavras próximas, mostrando sua necessidade de inclinar-se a outro termo. Constata-se, assim, que, além dos pronomes átonos, a categoria abrange outros termos como as preposições, os artigos, as conjunções, entre outros.

24 24 Na mais recente gramática do Português Europeu (RAPOSO et alii, 2013), também se verifica a definição do que seria um clítico. No capítulo sobre o tema, escrito por Ana Maria Martins (2013, p. 2231), a autora destaca que: (...) os itens lexicais se organizam numa tipologia morfológica contendo três categorias: palavra, afixo e clítico (o último, designado tradicionalmente por palavra átona ). Um clítico foi definido como um item lexical sem acento prosódico atribuído no léxico (tal como os afixos e contrariamente às palavras; cf. Caps. 11 e 14), mas com uma certa liberdade posicional (tal como as palavras, mas contrariamente aos afixos). A ausência de acento de palavra faz com que o clítico dependa necessariamente de uma palavra adjacente acentuada. A esta palavra à qual o clítico se liga chama-se palavra hospedeira ou, simplesmente, hospedeiro do clítico. Ao processo de ligação do clítico ao seu hospedeiro, chama-se cliticização. Embora prosodicamente dependente (de uma palavra acentuada), o clítico goza de autonomia no plano morfológico (por oposição aos afixos, presos a uma base). A autora assim como faz detalhadamente Vieira (2002) compara os clíticos com as palavras e os afixos, mostrando que os clíticos possuem uma mobilidade posicional, como as palavras, mas não possuem acento prosódico, como os afixos. Por isso, eles sempre dependem de um hospedeiro para se ligar prosodicamente, havendo, assim, a cliticização. No que tange ao tema da colocação dos pronomes oblíquos átonos, verifica-se que os clíticos pronominais possuem como palavras hospedeiras, em termos sintáticos, os verbos. Dessa forma, os clíticos, dependendo de sua colocação em relação à forma verbal, nas lexias verbais simples, podem aparecer: Proclíticos: Não se vive bem aqui. Enclíticos: Vive-se bem aqui. Mesoclíticos: Viver-se-á bem aqui. Já nos complexos verbais, há mais possibilidades de ligação, pois há mais de uma forma verbal para que os clíticos pronominais se conectem. Abaixo, podem-se observar posições superficiais do clítico em termos de adjacência aos elementos circunvizinhos: Pré-cv: Não se pode viver bem aqui. V1-cl x v2: Pode-se agora viver bem aqui. V1 (-) cl v2: Pode (-) 4 se viver bem aqui. V1 x cl v2: Pode agora se viver bem aqui. 4 O hífen, nessa variante, está entre parênteses porque o clítico, dependendo da variedade do Português, pode se ligar ao verbo auxiliar (como no PE) ou ao verbo principal (como no PB). Vale ressaltar que os exemplos foram retirados exatamente de como estavam nas transcrições feitas; por isso, ora os hífens estão presentes em alguns dados e ora não estão.

25 25 Pós-cv: Pode viver-se bem aqui. Em relação à ligação fonológica do clítico pronominal com seu hospedeiro, a presente pesquisa também se baseou nos parâmetros defendidos por Klavans (1985), para que se possam sistematizar os parâmetros que efetivamente definem a ordem dos pronomes átonos. Baseando-se nas realizações dos parâmetros de cliticização, a autora pretende mostrar as opções preferenciais das línguas do mundo, categorizando-as segundo a produção de certas estruturas gramaticais. Embora não constitua interesse específico do presente estudo o debate acerca da noção de parâmetro, o tema constitui aspecto relevante para a investigação, o que pode ser verificado no artigo de Kato (2002). A autora, no referido trabalho, demonstra que, na teoria de Princípios e Parâmetros, no início, o conceito de "parâmetro" procurava definir a língua através do conjunto de propriedades correlatas, mas, com a guinada conceitual de atribuir a variação linguística a propriedades das categorias funcionais, parâmetros passam a ser definidos cada vez mais como construções específicas e não como "macro-parâmetros ". (KATO, 2002, p. 330). Dessa forma, a autora mostra que Os estudos sobre Parâmetros que partiram de fenômenos empíricos de variação têm sua trajetória marcada pela preocupação de procurar correlações entre propriedades. Poderíamos dizer que tais estudos buscam não Parâmetros associados a Princípios, mas "princípios" associados a Parâmetros. Assim, uma propriedade singular de uma língua não constitui um Parâmetro, mas sim a manifestação substantiva de alguma propriedade formal abstrata da qual decorrem outras propriedades substantivas na língua. Esses "princípios" são similares aos universais de variação perseguidos desde Greenberg. (KATO, 2002, p. 325) Em relação ao Parâmetro pro-drop, a autora utiliza como exemplo as línguas de sujeito nulo. Ressalta, dentre outros exemplos, o fato de o PB ser considerado como uma língua pro-drop parcial, ou seja, aceita sujeitos nulos na terceira pessoa, mas não na primeira e na segunda pessoas. Assim, considerando a variação presente nas línguas de sujeito nulo, a autora afirma que o Parâmetro pro-drop não é algo uniforme, havendo, por isso, possíveis subparametrizações. Klavans (1985) propõe 8 possibilidades para enquadrar as opções de determinada língua em relação aos 3 parâmetros de cliticização propostos. De um lado, verifica-se a preocupação com a tipologia linguística; de outro, atesta-se o propósito em descrever as línguas em relação a uma construção específica. É nesse sentido que o presente trabalho

26 26 aborda o tema da colocação pronominal nas variedades do Português. Vale-se de uma construção específica para observar o comportamento das variedades em estudo. Após estudar os clíticos em várias línguas, Klavans verificou que eles possuem características que se aproximariam às vezes de palavras, às vezes de afixos, como já se evidenciou nesta seção. Por isso, os clíticos parecem ser palavras independentes, no plano da sintaxe e, ao mesmo tempo, parecem ser partes de palavras, no plano morfológico e/ou fonológico. Dessa forma, a autora mostrou que existe uma independência entre a sintaxe e a fonologia, ou seja, o hospedeiro sintático do clítico não precisaria ser, obrigatoriamente, seu hospedeiro fonológico. Em relação aos clíticos pronominais, eles podem estar sintaticamente ligado a um hospedeiro verbal e fonologicamente ligado a outro. Com base nessas dependências fonológicas e sintáticas do clítico em relação a seu hospedeiro, Klavans propõe três parâmetros para analisar a cliticização, sendo o primeiro e o segundo de natureza sintática, enquanto o terceiro seria de natureza fonológica (KLAVANS, 1985, p ) 5 : O P1 ou parâmetro da dominância (inicial / final). Verifica o hospedeiro sintático do clítico, mostrando se o clítico se ligará ao constituinte inicial ou final de um sintagma específico. Com os clíticos pronominais do Português, a palavra hospedeira sempre será o verbo. O P2 ou parâmetro da precedência (antes / depois). Determina as colocações em que o clítico pode aparecer em relação a seu hospedeiro sintático que foi selecionado pelo P1, podendo aparecer antes ou depois dele. Esse parâmetro será o utilizado para verificar a colocação pronominal, se antes ou depois do verbo / complexo verbal. O P3 ou parâmetro da ligação fonológica (proclítico / enclítico). Mostra se o clítico se ligará fonologicamente à palavra da direita (proclítico) ou da esquerda (enclítico). Essa palavra será o hospedeiro fonológico do clítico que não precisa ser, necessariamente, o hospedeiro sintático. Com os pronomes 5 Parameter 1 (also referred to as P1) expresses the possibility that a clític attaches to the initial or final constituent dominated by a specified phrase. ( ) The second parameter, P2, encodes the other part of configurational information, i.e. PRECEDENCE: it specifies whether a clitic occurs BEFORE or AFTER the host chosen by P1. ( ) The third parameter (P3) gives the direction of phonological attachment; it is a property of the clitic itself. (KLAVANS, 1985, p )

27 27 clíticos, a ligação sintática pode ser a uma palavra, mas o clítico pode ligar-se fonologicamente a outra palavra. Constata-se, assim, que o primeiro parâmetro se refere à forma verbal, pois a palavra hospedeira do clítico pronominal na Língua Portuguesa é o verbo. Em relação ao terceiro parâmetro, não se pretende fazer, na presente pesquisa, uma análise de natureza fonético-fonológica, mesmo sabendo que os dados são oriundos da oralidade, porque o estudo desse parâmetro requer a realização de uma pesquisa específica com corpus especialmente preparado para a análise prosódica, como mostram os trabalhos de Vieira (2002) e Corrêa (2012), o que foge ao escopo do trabalho. A presente investigação, portanto, vale-se, especificamente, do segundo parâmetro, que se refere à posição dos pronomes oblíquos átonos: se ele aparece antes ou depois de seu hospedeiro verbal. Assim, pretende-se verificar, em relação às lexias verbais simples, se o pronome oblíquo átono aparece proclítico (cl v) ou enclítico (v-cl); e, em relação aos complexos verbais, na posição pré-cv (cl v1 v2), intra-cv (v1(-) cl v2, ligado à primeira forma verbal, como em v1-cl (X) v2 ou à segunda forma verbal, como em v1 (X) cl v2), ou pós-cv (v1 v2-cl) na modalidade oral das variedades europeia, brasileira e são-tomense do Português. Ao descrever a variante mais produtiva e os contextos em que a variação efetivamente ocorre, o estudo pode delinear as opções gramaticais que configuram o perfil de cada variedade em termos preferenciais, paramétricos, por assim dizer. De um lado, tais resultados poderão confirmar e/ou ampliar o conhecimento que se tem das tendências que serão sistematizadas posteriormente (cf. Capítulo ) nos poucos estudos com dados da fala, sobretudo brasileira e europeia, e, de outro, prover descrição e interpretação da ordem dos clíticos pronominais no Português de São Tomé, considerando os diversos contextos sintáticos (e não apenas os controlados por GONÇALVES, 2009). Embora não se tenha por objetivo específico a investigação de natureza fonéticofonológica, proposta no terceiro parâmetro, é importante sistematizar, aqui, as poucas evidências empíricas que se tem para o postulado de que PB e PE adotam diferentes opções paramétricas nesse caso. Como o trabalho de Corrêa (2012) trata alguns dados do PB que também serão verificados neste trabalho, cabe sintetizar, aqui, os principais resultados da análise fonética-fonológica da referida pesquisa. A autora verificou as características prosódicas dos pronomes oblíquos átonos e a direção da ligação do clítico com o hospedeiro fonológico, ou seja, se há próclise ligação para a direita ou ênclise fonológica ligação para a esquerda.

28 28 Corrêa (2012), em sua dissertação de mestrado, verificou a análise variacionista dos clíticos pronominais (cf. Capítulo ) e também fez um estudo fonético-fonológico para verificar a cliticização fonológica. Para tanto, baseou-se na Fonética Acústica e Fonologia Experimental de modo a investigar quais seriam as ligações fonológicas possíveis. A autora fez experimentos acústicos para verificar quais seriam as características prosódicas dos clíticos pronominais e analisar a direção da ligação com sua palavra hospedeira, se seria em próclise fonológica (pode me-dar), para a direita, ou ênclise fonológica (pode-me dar), para a esquerda. Para a análise fonético-fonológica, Corrêa utilizou enunciados lidos e gravados em laboratórios. Dessa forma, as frases obtidas permitiram a realização de três experimentos: (i) comparar as sílabas clíticas (me, te e se) com as sílabas vocabulares, (ii) verificar a ligação fonológica dos pronomes se reflexivo/inerente e se indeterminador/apassivador presentes entre dois verbos, e (iii) perceber a ligação fonológica dos clíticos pronominais. Assim, com essa análise, a autora verificou que os pronomes me, te e se (reflexivo/inerente e indeterminador/apassivador), nas lexias verbais simples, se aproximam das sílabas átonas vocabulares/lexicais. Quando esses pronomes estavam antepostos, sua vogal aproximava-se da pretônica alta derivada ou da pretônica alta subjacente. Quando estavam pospostos, assemelhavam-se, geralmente, à vogal postônica. Nos contextos com complexos verbais, a autora verificou a duração, intensidade média, F1 e F2 da vogal dos pronomes átonos. Em relação à duração, Corrêa (2012) verificou que: observando a duração por si só, isolada do parâmetro intensidade, não se conseguiu distinguir, com segurança, vogal pretônica de postônica, nem vogal de pronome anteposto de posposto, comprometendo qualquer paralelismo entre esses fragmentos. Dessa forma, o controle da duração permitiu opor termos com segmentos vocálicos nitidamente distintos (vogal média e vogal alta); não se conseguiu, entretanto, atestar diferenças estatisticamente significativas e sistemáticas entre vogais a priori com diferentes graus acentuais. (CORRÊA, 2012, p. 174) No que diz respeito à intensidade, a autora também não verificou diferenças significantes quando o pronome mudava de posição. Somente a intensidade da vogal do clítico te sofreu algum tipo de alteração. Segundo a autora, os outros clíticos parecem se comportar de forma constante; mesmo quando a intensidade da vogal muda, não é algo regular. (CORRÊA, 2012, p. 188).

29 29 A autora ressalta que, embora a duração e a intensidade, vistas separadamente, não tenham mostrado resultados significativos para o fenômeno em estudo, esses parâmetros, quando atuam de forma conjunta, podem ser responsáveis pelas diferenças perceptuais. No que se refere à frequência fundamental, Corrêa verificou, quanto ao primeiro formante, que há diferenças entre a vogal média e a alta. Além disso, ressaltou que o se indeterminador/apassivador foi o único a ter alterado realmente o formante a depender da sua posição sintática e, provavelmente, em função do tipo de ligação fonológica (CORRÊA, 2012, p. 200). Em relação ao segundo formante, a análise não se mostrou variável nos contrastes das sílabas com o pronome me. No entanto, quando contrastadas com os pronomes te e se (indeterminador/apassivador e reflexivo/inerente), verificaram-se diferenças entre as vogais médias e altas. Dessa forma, no experimento 1, que verifica os parâmetros acústicos da vogal dos pronomes (me, te e se) de uma sílaba átona vocabular, a autora constatou que a análise de forma isolada dos parâmetros não se mostrou esclarecedora, mas que, mesmo que indiretamente, há um certo paralelismo entre o pronome e a sílaba átona. No experimento 2, que analisa a ligação fonológica das vogais do pronome se (reflexivo/inerente e indeterminador/apassivador), esses clíticos pronominais foram confrontados entre si e em relação a uma vogal pretônica vocabular correspondente. Verificou-se que a intensidade e F1 foram relevantes, ou seja, esses dois parâmetros definiram se o pronome seria enclítico ao verbo auxiliar ou ao verbo principal. Sendo assim, apresentam comportamento semelhante do ponto de vista prosódico, as estruturas do tipo: pode se dirigir (reflexivo) e pode se dirigir (indeterminador). Nem sempre, entretanto, o pronome reflexivo/inerente possui comportamento proclítico ou o indeterminador/apassivador apresenta somente comportamento enclítico. Essas são as ligações mais usuais, mas há diversos fatores que podem impedir essa realização, fazendo com que o clítico se fonologicamente se ligue tanto ao verbo auxiliar como ao verbo principal, havendo, assim, ora uma ligação proclítica, ora uma ligação enclítica. Por último, no experimento 3, foi feito um teste de percepção com ressíntese de fala, e verificou-se que, na posição intra-cv, o pronome se indeterminador/apassivador se ligaria fonologicamente ao verbo auxiliar, havendo uma ênclise fonológica, enquanto o se reflexivo/inerente se ligaria ao verbo principal, formando uma próclise fonológica.

30 30 Depois das principais definições e considerações sobre a natureza dos clíticos e os parâmetros de cliticização em questão, verificam-se, a seguir, o que dizem os diversos compêndios gramaticais estudados, assim como os vários trabalhos que tratam o tema, tanto na diacronia quanto na sincronia da Língua Portuguesa Revisão da literatura: a ordem dos clíticos pronominais Nesta seção, apresenta-se uma breve descrição do que algumas gramáticas falam sobre o tema em estudo, com uma visão mais tradicional e mais descritiva (2.2.1.), além da síntese dos resultados de trabalhos acadêmicos sobre o tema estudado (2.2.2.) divididos em trabalhos diacrônicos ( ) e trabalhos sincrônicos ( ) A colocação pronominal segundo compêndios gramaticais A gramática de Cunha e Cintra (2007), feita em parceria por filólogo brasileiro e português, foi escolhida como melhor representante do pensamento tradicional que, em certa medida, visa a unificar o modelo de norma padrão para Brasil e Portugal, embora, ao final, particularize o Português do Brasil. Complementarmente, apresenta-se a gramática de Rocha Lima, que também segue essa tendência. Não se localizaram, até o momento, gramáticas tradicionais para o Português de São Tomé, o qual toma como modelo, em contexto escolar, a orientação europeia. Na gramática de Cunha e Cintra (2007), intitulada Nova Gramática do Português Contemporâneo, os autores explicam em que posições os pronomes podem aparecer (próclise, ênclise e mesóclise) e depois ressaltam que a colocação mais habitual é a ênclise. A próclise ocorreria nas orações: a) com palavras negativas (sem pausa); b) com pronomes e advérbios interrogativos; c) com palavras exclamativas e em orações optativas; d) nas orações subordinadas desenvolvidas (mesmo com a conjunção oculta); e) com o gerúndio antecedido pela preposição em ; f) com certos advérbios (bem, mal, ainda, só, já etc.); g) com pronomes indefinidos (tudo, todo, alguém etc.); e h) com orações alternativas. Segundo os autores, pode ocorrer a próclise ou a ênclise com os infinitivos, mesmo que haja um elemento proclisador na frase. Já com as locuções verbais, os autores mostram que há três posições possíveis: ênclise ao verbo principal (infinitivo ou gerúndio), próclise ao verbo auxiliar ou ênclise ao verbo auxiliar.

31 31 A ênclise ao verbo principal só poderá ocorrer com os verbos principais no infinitivo e no gerúndio. Com o particípio, só poderá ocorrer a próclise ou a ênclise ao verbo auxiliar. A próclise ao verbo auxiliar acontecerá quando os elementos antecedentes forem: a) uma palavra negativa; b) pronomes ou advérbio interrogativo; c) palavra exclamativa e oração optativa; e d) subordinada desenvolvida (mesmo que não apareça a conjunção). A ênclise ao verbo auxiliar ocorrerá quando não aparecer nenhum desses elementos antecedentes. No final dessa seção, os autores abordam A colocação dos pronomes átonos no Brasil (p. 330) e destacam algumas características particulares do PB, como: a) a próclise em início de frases; b) a próclise nas orações absolutas, principais e coordenadas; e c) a próclise ao verbo principal nas locuções verbais. Na gramática de Rocha Lima (2001), Gramática Normativa da Língua Portuguesa, o autor mostra que, com as formas verbais finitas, a posição normal dos clíticos pronominais é depois do verbo, em ênclise, e isso deve ocorrer quando: a) o verbo iniciar período ou oração; b) o sujeito estiver antes do verbo; c) se tratar de orações coordenadas sindéticas. Entretanto, Rocha Lima ressalta, no final dessa parte, que a próclise pode ocorrer por puro arbítrio, ou gosto (p. 451), menos no início de período. Já a próclise, segundo o autor, seria obrigatória: a) nas orações negativas (sem pausa); nas orações exclamativas (com palavras exclamativas) e optativas; c) nas orações interrogativas (com pronomes ou advérbios interrogativos); d) nas orações subordinadas; e e) com advérbios e pronomes indefinidos (sem pausa; se houver pausa, ocorrerá a ênclise). Com o infinitivo, o que ocorrerá será a ênclise, mas, se for infinitivo não-flexionado e houver uma preposição ou palavra negativa antes dele, a colocação é facultativa. Se o infinitivo estiver flexionado, prefere-se a próclise. Com o gerúndio, a ênclise também é a regra, mas a próclise será obrigatória quando antes do gerúndio estiver: a) a preposição em ou b) um advérbio que o modifique. Nas locuções verbais com infinitivo, pode ocorrer, segundo o autor: a) ênclise ao infinitivo, b) ênclise ou próclise ao auxiliar e c) próclise ou ênclise ao infinitivo precedido de preposição (ex. deixei de te ajudar ou deixei de ajudar-te ). Com o gerúndio, pode acontecer a ênclise ao verbo principal e a ênclise ou a próclise ao auxiliar. Já com o particípio só pode ocorrer ênclise ou próclise ao auxiliar. Ainda em relação às locuções verbais, o autor destaca que A interposição do pronome átono nas locuções verbais, sem se ligar por hífen ao auxiliar, é sintaxe brasileira que se consagrou na língua literária, a partir (ao que

32 32 parece) do Romantismo (...) Vivia sozinho, não queria se casar. (José Lins do Rego). Tal construção não tem agasalho com o pronome o (a, os, as), em razão, decerto, do volume fonético dele, mais reduzido do que o das demais partículas pronominais átonas. De fato, não se usa estou o esperando, etc. (p. 455) Dessa forma, verifica-se que a sintaxe brasileira é contemplada, em certa medida, nas gramáticas normativas do Português. Curiosamente, nas duas gramáticas do PB e, como se verá adiante, na de Mateus et alii (2003), há a abordagem de peculiaridades que ocorrem no Português do Brasil. Verificase, assim, que, mesmo no modelo normativo de colocação para o PE e PB, está descrita a tendência particular de cada variedade, de modo que o PB assume comportamento diferente do tradicionalmente proposto e o PE não apresenta dados categóricos consoante esse modelo, como seria o esperado e será visto nos resultados mais adiante. Em relação às gramáticas de cunho mais descritivo, no que se refere ao PB, pode-se observar o fenômeno no tratamento descritivo das gramáticas de Perini (2007) e Castilho (2010). Perini (2007), na seção referente ao posicionamento dos clíticos, deixa claro que mostrará o que parece ser o mais amplamente aceito pelos usuários do padrão brasileiro (p. 229). O autor define as restrições à próclise e à ênclise, mostrando que a colocação proclítica não deveria ocorrer no início de estrutura oracional não-subordinada ou logo após elemento topicalizado. (PERINI, p. 229) e a ênclise não poderia ocorrer quando o verbo estivesse no gerúndio precedido da preposição em ; quando estivesse no particípio e quando a oração fosse precedida de elemento atrator. O autor deixa claro que A ênclise está desaparecendo do português brasileiro; essa tendência, dominante na modalidade falada, já deixou marcas muito profundas no próprio padrão escrito. Conseqüentemente, as duas restrições tendem a desaparecer, para serem substituídas por um princípio mais simples, que estabelece apenas que os clíticos se colocam sempre antes do NdP. A análise acima cobre uma forma muito conservadora da língua, conforme se verá na exemplificação. É necessário atualizá-la, mas isso deverá ser precedido de um levantamento do uso dos clíticos no padrão brasileiro moderno (PERINI, p. 230) Logo após, Perini mostra que não há consenso no que é dito em todas as gramáticas, mas que os contextos em que haveria atração seriam os que possuíssem: (i) os relativos e interrogativos; (ii) as partículas não, nunca, só, até, mesmo, também, tudo, nada, alguém, ninguém e o complementizador que. Segundo o autor, nas demais gramáticas, às vezes, são

33 33 mencionados também: (i) SNs acompanhados de predeterminante (todos, ambos); (ii) SNs iniciados por qualquer, nenhum; e (iii) itens como: bem, mal, ainda, já, sempre. Após os elementos atratores, o autor, mais uma vez, mostra a necessidade da pesquisa: A única maneira de decidir quais desses itens realmente exercem atração é fazer levantamentos nos textos (...). Na falta de estudos detalhados sobre o assunto, teremos de deixar a lista em aberto; fica a sugestão de pesquisa (PERINI, p. 232). Com os complexos verbais, ele ressalta que pode haver ênclise ao auxiliar ou ao verbo principal, desde que não haja as referidas restrições à ênclise, e mostra que, no PB, a próclise pode ocorrer com o verbo auxiliar ou principal (ex.: Minhas primas se estão portando bem ou Minhas primas estão se portando bem ). Perini também deixa claro que essa segunda colocação seria a mais utilizada no padrão brasileiro atual de modo que se pode dizer que a posição natural do clítico, quando o predicado é complexo, é a próclise ao NdP: precisamente a construção antigamente considerada incorreta. (p. 231). Vale ressaltar que, com a presente tese, haverá, de certa forma, a atualização dos contextos em que ocorrem a ênclise e a próclise nas estruturas com um ou mais verbos na modalidade oral do Português do Brasil e de mais duas variedades do Português (PE e PST). Castilho (2010) cita que os clíticos pronominais podem aparecer antes ou depois de um verbo no PE, e predominantemente antes no PB (p. 483). O autor faz um resumo do que é descrito na gramática normativa: (1) a ênclise seria a posição básica dos clíticos; (2) a próclise ocorre quando há: (i) conjunção integrante ou pronome relativo, (ii) advérbios (negação, tempo e focalização) e (iii) sujeito quantificado; (3) não se começa sentença com um clítico: (i) nas perífrases com gerúndio e particípio, o clítico poderá posicionar-se antes ou depois do verbo auxiliar e (ii) nas perífrases com infinitivo, o pronome estará sempre enclítico ao verbo no infinitivo, mesmo na presença de atratores. Logo após mostrar o que a gramática tradicional descreve, o autor retorna à história dos clíticos no Português e mostra que havia a oscilação entre a próclise e a ênclise nos mesmos contextos, mas com certo predomínio da ênclise, até o século XIV; depois, passou-se a utilizar preferencialmente a próclise até o século XVI. O autor mostra vários dados de estudos diacrônicos de diversos autores (SALVI, 1994; MARTINS, 1994; PAGOTO, 1992 entre outros) e deixa a hipótese de que o predomínio da próclise brasileira pode ter tido suas origens no início do século XVI, quando o Brasil foi colonizado. Segundo Castilho Focalizando os tempos modernos, vê-se que o português europeu é predominantemente enclítico, ao passo que o PB é predominantemente proclítico. Nas

34 34 perífrases e nos tempos compostos, o PB favorece a colocação do pronome antes do verbo pleno na forma nominal (p. 484). Ainda com uma agordagem mais descritiva, para o PE, será brevemente abordado o tratamento do tema nas gramáticas de Mateus et alii (2003) e Raposo et alii (2013). Mateus et alii (2003), na Gramática da Língua Portuguesa, destacam que vão mostrar a colocação da variedade do PE moderno, segundo a qual o clítico pode aparecer proclítico ou enclítico a seu hospedeiro verbal. No entanto, em diversos contextos, a variação das duas posições não é livre, em especial no início absoluto, pois, segundo a Lei de Tobler- Moussafia, as formas clíticas não podem ocupar a posição inicial absoluta de frase (MATEUS et alii, 2003, p. 849). Em nota, as autoras ressaltam que essa generalização não se concretiza em outras línguas românicas nem no PB. Após a análise de diversos exemplos, concluem que a ênclise é o padrão básico de colocação dos pronomes clíticos na variedade europeia do português moderno (MATEUS et alii, 2003, p. 852) e a posição antes do verbo só ocorrerá quando houver a presença dos atractores de próclise ou proclisadores antes do hospedeiro verbal do pronome. Logo após, são elencados os elementos que seriam proclisadores: partículas de negação (não, ninguém), palavras qu- (que, quem), conjunções subordinativas e preposições (que, para), advérbios de focalização (só, apenas, já, também), alguns quantificadores (todos, ambos, qualquer, alguém, algo), algumas conjunções correlativas (não só... mas, ou... ou, ora...ora) e alguns constituintes locativos ou dêiticos demonstrativos (aqui, isso). Depois, as autoras abordam o tema da subida de clítico, que ocorre quando há duas formas verbais e o clítico deixa de se ligar ao seu hospedeiro verbal para juntar-se ao verbo auxiliar. Isso ocorre, especialmente, quando: (i) os verbos principais estiverem no gerúndio ou particípio (em que a subida de clítico seria obrigatória e o clítico deve aparecer antes ou depois do verbo auxiliar, dependendo da presença ou ausência de elementos proclisadores) e (ii) com os verbos semiauxiliares aspectuais que selecionam complementos com as preposições a, de e por. A subida de clítico ocorre não só quando há um elemento proclisador, mas também quando a preposição no meio dos dois verbos for a ou de, nunca com por. Quando os complementos não são preposicionados, mesmo que haja um elemento proclisador antes, pode ocorrer a subida de clítico ( O João não a vai provavelmente convidar ) ou não ( O João não vai provavelmente convidá-la. ). Para as frases não finitas, com infinitivo não flexionado, as autoras destacam que há casos particulares de colocação e pode haver: (a) ocorrência de ênclise na presença de um

35 35 constituinte negativo; (b) ocorrência de ênclise em construções-q (interrogativas independentes e encaixadas, relativas livres e relativas finais); e (c) oscilação entre ênclise e próclise com preposições (MATEUS et alii, 2003, p. 861). Recentemente, Raposo et alii (2013) publicaram a Gramática do Português, em que Ana Maria Martins, no capítulo sobre a colocação dos clíticos pronominais, descreve, detalhadamente, todos os contextos de realização das variantes proclítica e enclítica. Nesta parte, buscando dar destaque às informações mais relevantes para o presente trabalho, será apresentada uma visão panorâmica da colocação abordada na obra referida. A próclise, segundo a autora, ocorre: (i) nas orações principais negativas (não, nem, nunca, ninguém, jamais, nenhum, nada); (ii) nas orações principais afirmativas em que há a presença de: alguns quantificadores pronominais ou adjetivais que sejam não referenciais, ou seja, aqueles que não se referem a indivíduos identificados pelo interlocutor (alguém, algum, pouco(s), ambos, bastante, todo(s), tudo, vários etc); certos advérbios focalizadores e locativos enfáticos (apenas, só, também, até, logo, já, ainda, aqui, lá, aí, cá etc.); outros focos contrastivos antepostos (não adverbiais - ex.: de pequeno se torce o pepino ); orações declarativas afirmativas enfáticas (ex.: Devagar se vai ao longe ); palavras qu- (pronomes ou advérbios: que, quem, onde, como, quando etc); (iii) nas orações subordinadas finitas (ex.: Se me descuido, estou-lhe no papo ) ; (iv) nas orações subordinadas de infinitivo simples com proclisadores (ex.: Pode até pouco te importar, mas a mim preocupa-me muito ); (v) nas orações subordinadas de infinitivo flexionado sem preposição e com proclisadores (ex.: Eles não tinham onde se esconderem ); e (vi) nas orações subordinadas de infinitivo flexionado com as preposições de, por, para, em e sem ( Para o impressionarem, diziam-lhe sempre isso. ). Resumidamente, a autora ressalta que, apesar de parecer que há diversos contextos favorecedores da variante proclítica nas orações principais, a próclise está aí associada aos processos gramaticais da negação, da quantificação, da focalização e da ênfase, tomados singularmente ou não (MARTINS in RAPOSO et alii, 2013, p. 2241). Já a ênclise acontece: nas orações principais afirmativas sem proclisadores, na presença de alguns quantificadores pronominais ou adjetivais que se referem a indivíduos

36 36 identificados pelo interlocutor (alguns, muitos etc.), com alguns advérbios topicalizados (logo, assim, aqui, aí, lá etc.), nas orações subordinadas de infinitivo simples sem proclisadores (ex.: Dizer-lhe o que íamos fazer parecia-me ainda mais absurdo ); nas orações subordinadas de infinitivo simples sem proclisadores e com as preposições a e com (ex.: Não ficávamos nada contentes com reprová-lo ); e nas orações subordinadas de infinitivo flexionado sem proclisadores e sem preposição (ou com as preposições a e com ex.: Basta olharem-lhe para a cara ). A próclise e a ênclise são facultativas: com a palavra próprio; nas orações subordinadas finitas (em algumas orações completivas com verbo no indicativo, em orações consecutivas, em algumas estruturas clivadas); nas orações subordinadas de infinitivo simples negativas sem preposição somente com a palavra proclisadora não ; nas orações subordinadas de infinitivo simples sem proclisadores e com as preposições de, por, para, em e sem ; nas orações infinitivas simples subordinadas a haver que, ter que (ex.: Tenho que confessar-lhe / Tenho que lhe confessar ); nas orações infinitivas simples introduzidas por que, quem e palavras afins sem elementos proclisadores; e nas orações subordinadas de infinitivo flexionado sem proclisadores e com a preposição em. A subida de clítico será facultativa (i) nas frases com infinitivo em que os clíticos possuem a função de complemento (ex.: Vai arranjar-lhe uns ovos! ou Vai-lhe arranjar uns ovos! ); (ii) nas orações gerundivas sem preposição e sem proclisador, deverá ocorrer a ênclise (ex.: Bocejava, coçando-se todo de preguiça e de sono ), mas se houver preposição ou proclisador, acontecerá a próclise (ex.: Os pais sabiam que era muito independente, só lhes pedindo ajuda em ocasiões raras ); e (iii) com os complexos verbais com gerúndio e particípio, a subida do clítico é obrigatória (ex.: Ia-me atrasando, mas cá estou. A ênclise ao gerúndio só pode ocorrer se houver a anteposição dele ex.: Atrasando-me ia eu! ) A colocação pronominal segundo as pesquisas linguísticas Embora o presente trabalho trate de corpus da sincronia atual, serão apresentados, primeiramente, alguns trabalhos com dados diacrônicos que abordam o tema, para que se observem tendências mais gerais verificadas na evolução do fenômeno em cada variedade. Dessa forma, serão apresentados, separadamente, os trabalhos descritivos com dados diacrônicos ( ) e com dados sincrônicos mais recentes ( ). Os estudos tratam do tema em lexias verbais simples e/ou complexos verbais, e serão descritos em ordem cronológica de publicação.

37 A colocação pronominal no Português: estudos diacrônicos Em sua dissertação de mestrado, cujo título é A colocação dos clíticos em Português: duas sincronias em confronto, Lobo (1992) baseou-se no arcabouço teórico-metodológico da Sociolinguística Laboviana para o tratamento e a análise dos dados, e utilizou, como corpus do Português Quinhentista, os documentos da corte de Dom João III cartas representativas da variedade culta da língua e, para o Português do Brasil, os inquéritos do Projeto NURC. A autora fez uma comparação do PB com o PE contemporâneo, baseando-se em pesquisas de outros estudiosos, além de ter analisado a posição dos clíticos pronominais, em estruturas com apenas um verbo, na norma culta do Português Quinhentista, fazendo uma comparação com o PB atual. O estudo verificou as seguintes variáveis linguísticas: (i) tipo de oração, (ii) elemento que antecede imediatamente o verbo, (iii) tempo e modo do verbo, (iv) tipo de clítico e (v) tonicidade das formas verbais. As variáveis extralinguísticas verificadas foram: (i) faixa etária, (ii) local de origem dos informantes, (iii) (des)obediência à norma-padrão para o Português do século XX. Para o século XVI, (i) a natureza estilística do texto (prosa epistolar ou prosa legal) e (ii) os diferentes remetentes e destinatários da prova epistolar. Vale ressaltar que, segundo a autora, as variáveis extralinguísticas controladas não se mostraram relevantes, uma vez que o condicionamento do fenômeno estudado é de natureza estrutural. Após a detalhada apresentação dos resultados em cada corpus, a autora propôs uma breve comparação entre o Português do Brasil e o Português Europeu e verificou que há uma variabilidade da posição dos clíticos no PB na maioria dos contextos, enquanto no PE a opção por uma das variantes em um determinado contexto sintático quase que implicaria a exclusão de outra variante. Os padrões da colocação pronominal com os verbos nas formas finitas e não-finitas para o PB e para o PE são sintetizados a seguir: Quanto às formas finitas: (a) nas orações subordinadas desenvolvidas, tanto no PB quanto no PE, tem-se a colocação pré-verbal; (b) nas orações principais / absolutas: possibilidade no PB e impossibilidade no PE (em qualquer das suas variantes) de ser o clítico o primeiro elemento da oração; verbo em posição não-inicial, antecedido por: (i) Sadv de negação: colocação préverbal no PB e no PE; (ii) SN sujeito nominal ou pronome pessoal: no PE, colocação pós-verbal, e no PB, colocação pré-verbal categórica (pron. pessoal) ou quase categórica (sintagma nominal); (iii) Sadvs ou Spreps circunstanciais: tanto no PE quanto no PB, Sadvs que apresentam uma relação mais estreita com o verbo, colocação pré-verbal; os demais, colocação variável; (c) nas orações coordenadas: no PE, é marcante a posição pós-verbal; no PB, variabilidade posicional, com preferência pela colocação pré-verbal. (LOBO, 1992, p )

38 38 Quanto às formas não-finitas: (a) nas orações subordinadas reduzidas de infinitivo: no PE, colocação pós-verbal, quando não regida por preposição, e colocação variável, quando regida; no PB, preferência pela colocação pré-verbal, em ambos os casos. (b) nas orações subordinadas reduzidas de gerúndio não regidas por prep.: no PE, colocação pós-verbal; no PB, preferência pela colocação pós-verbal (único contexto em que se dá tal preferência). (LOBO, 1992, p ) A autora confirmou a diferença existente entre o PE e o PB, destacando que, no PE, o ambiente sintático em que o clítico se encontra influenciaria na colocação pronominal, enquanto que, no PB, a próclise se daria de forma generalizada: O Português Europeu contemporâneo conserva um sistema de colocação dos clíticos que se define a partir dos condicionamentos sintáticos. Já no Português do Brasil, esses condicionamentos sintáticos praticamente desapareceram, em função do uso generalizado da colocação pré-verbal. (LOBO, 1992, p. 228) Martins (1994), em sua tese de doutorado Clíticos na história do Português, analisou a ordem dos clíticos pronominais em dois períodos: (i) do século XIII ao XVI e (ii) do século XVI aos dias atuais. Martins partiu do princípio de que a mudança na ordem dos pronomes oblíquos átonos, nas línguas românicas, estivesse diretamente relacionada à natureza categorial funcional Sigma. Dessa forma, a autora verificou a colocação pronominal no Português Medieval e Português Clássico, baseando-se na Teoria de Princípios e Parâmetros. A autora destacou que, atualmente, no PE, os clíticos aparecem, geralmente, adjacentes ao verbo, embora ainda existam alguns contextos em que há a possibilidade de ocorrência de elemento entre o pronome e seu hospedeiro verbal, o que se chama de interpolação. Entre os séculos XIII e XVI, houve a possibilidade de interpolação de diferentes tipos de elementos. Contudo, a partir do século XVII, houve a perda da interpolação de elementos entre o clítico e o verbo, exceto o não, que continuou a ser interpolado em alguns contextos. Em relação ao desenvolvimento do estudo, com base na descrição de documentos não literários (notariais) e na descrição de documentos literários portugueses, houve a descrição detalhada do comportamento linguístico nos dois períodos; mostrou-se, nessa parte, a apresentação de todos os dados sob análise. A autora verificou que, nas lexias verbais simples com orações não dependentes afirmativas e não introduzidas por quantificadores, advérbios, sintagmas qu- ou focalizadores do Português Medieval e Clássico, os clíticos apareciam proclíticos ou enclíticos ao verbo, menos no início absoluto de oração. No entanto, no PE atual, verifica-se que o clítico aparece em ênclise nos contextos acima.

39 39 Martins fez um resumo da trajetória da posição dos pronomes oblíquos átonos durante os séculos e constatou que, no século XIII, havia a preferência pela ênclise e esta foi dando espaço, progressivamente, para a próclise, no século XVI, nos ambientes sem proclisadores. Destacou-se que essa mudança ocorreu de forma lenta, gradual e ao longo de séculos de alterações. No entanto, depois do século XVI, a posição proclítica foi tendo um enfraquecimento, pois era utilizada em 70% e 100% dos contextos e passou a ser concretizada em apenas 30% dos dados, mostrando que a colocação enclítica se tornou a mais utilizada nos séculos XVII e XVIII, em contextos sem proclisadores. Essa última mudança já ocorreu de forma mais rápida, diferente da anteriormente citada. Percebe-se, assim, que, a partir do século XVII, houve a mudança sintática da ordem dos pronomes átonos da próclise para a ênclise, sobretudo nos contextos sem proclisador. No que diz respeito aos complexos verbais, a autora não verificou as estruturas com o verbo principal no particípio nem no gerúndio, pois, segundo ela, não haveria variação na ordem dos pronomes oblíquos átonos, tendo em vista que a colocação pós-complexo verbal não foi utilizada nesses contextos. Desse modo, houve apenas a análise das construções com o verbo principal no infinitivo. As estruturas verificadas foram as dos modais (dever a/de, poder, haver a/de), aspectuais (começar a/de, tornar a, soer a/de) e temporais (ir, vir a, haver de). Na trajetória dos complexos verbais, Martins destacou que os clíticos se ligavam, preferencialmente, ao verbo auxiliar, entre os séculos XIII e XVI, e não ao infinitivo. O clítico ligava-se ao verbo principal no infinitivo apenas quando o verbo auxiliar se encontrava elíptico. A colocação dos clíticos, nos complexos verbais, em relação ao verbo auxiliar, mostrou-se bem parecida com a das lexias verbais simples, sendo a colocação pré-verbal a mais utilizada no período referido acima. Destaca-se que a próclise era obrigatória nas orações subordinadas finitas, nas orações negativas, depois de algumas preposições ( pera, de e sem) e do advérbio asy. Assim, no século XIII, houve o predomínio da ênclise ao verbo auxiliar, passando por uma distribuição equilibrada entre a próclise e ênclise ao verbo auxiliar no século XIV. Nos séculos XV e XVI, houve o predomínio da colocação proclítica. Como não houve qualquer apontamento em relação às estruturas em complexos verbais durante os séculos XVI e XX, supõe-se que não houve a análise dessas estruturas durante o referido período. Houve algumas estruturas em que o verbo auxiliar era precedido pelo verbo principal, fazendo com que houvesse uma inversão das posições dos verbos, e o clítico pronominal apareceria, em geral, à esquerda dos dois verbos (cl Vp. V aux.). A autora

40 40 destacou, também, que, dos 106 dados analisados, apenas 5 aparecem enclítico ao verbo principal no infinitivo este em posição habitual, ou seja, depois do auxiliar e não sozinho com o auxiliar elíptico (v1 v2-cl). A ênclise ao verbo auxiliar ocorreu apenas em 16 dados em que havia preposição e advérbios intervenientes ao complexo verbal, fazendo com que houvesse a separação do clítico e do infinitivo; ou quando havia a contração entre os clíticos acusativos o(s), a(s) e uma forma verbal terminada em s ou vogal nasal, gerando uma cliticização fonologicamente visível ao auxiliar. (MARTINS, 1994, p. 152). Dessa forma, sintetizando os resultados referentes aos complexos verbais produzidos entre os séculos XIII e XVI, na tese de Martins (1994), observou-se que a ligação a v2 foi muito pouco produtiva, inclusive nos dados em que o infinitivo estava antes do verbo auxiliar, pois os clíticos ficaram, preferencialmente, adjacentes a v1, mostrando que a colocação adjacente ao verbo auxiliar foi a mais utilizada no corpus analisado. Galves, Britto e Paixão de Souza (2005), em seu trabalho intitulado The Change in Clitic Placement from Classical to Modern European Portuguese: Results from the Tycho Brahe Corpus, fizeram uma análise diacrônica dos clíticos pronominais na história da Língua Portuguesa, de 1500 a 1850, a fim de verificar os indícios da provável competição de gramáticas. As autoras estudaram a ordem dos pronomes nas lexias verbais simples encontradas em 20 textos literários escritos por autores portugueses nascidos da metade do século XVI até início do século XIX. As autoras verificaram dois momentos na variação das colocações proclítica e enclítica: (1) a ênclise não era muito produtiva, variando entre 0% a 20%, nos textos dos autores que nasceram até o final do século XVII exceto o texto de Vieira, Os Sermões, em que 45% dos clíticos estavam enclíticos, tendo em vista as razões estilísticas do Barroco; e (2) o aumento progressivo e significativo da ênclise, chegando a quase 90% dos casos, nos textos dos autores nascidos no início do século XVIII. As pesquisadoras descreveram esses dois momentos como duas fases diferentes da gramática. No primeiro período, a posição proclítica seria a opção preferencial, não-marcada, sendo o reflexo do Português Clássico, mas haveria também a utilização da ênclise. Já no segundo momento, a próclise passou a ser considerada como um resquício da gramática antiga na escrita, tendo em vista uma mudança gramatical segundo a qual a ênclise seria a única opção possível, havendo, assim, a inversão dos dados proclíticos pelos enclíticos. Os resultados mostraram a instabilidade da colocação pronominal oscilações entre o uso da próclise e da ênclise até o início do século XVIII. A partir daí, houve um aumento

41 41 considerável da colocação enclítica até o século XIX. As autoras mostraram que a ênclise aumentou progressivamente ao longo dos séculos. Galves, Britto e Paixão de Souza interpretaram os períodos em que houve grande variação e verificaram como um processo de competição de gramáticas no uso dos pronomes oblíquos átonos, havendo uma gramática inovadora dividindo o mesmo espaço com uma gramática conservadora. Os dados foram divididos em três contextos: (1) verbo antecedido por um sujeito referencial não focalizado, alguns advérbios ou um sintagma preposicional com função de advérbio; (2) orações antecedidas por uma conjunção coordenativa ou oração independente; (3) contextos em que a variação não foi verificada. As autoras observaram que os contextos em que o elemento antecedente do verbo era uma conjunção coordenativa ou uma oração independente apresentaram uma variação muito importante desde o século XVI. No entanto, nos contextos em que o verbo era antecedido por um sujeito referencial não focalizado, alguns tipos de advérbios ou por um sintagma preposicional com função adverbial, haveria certa uniformidade entre os autores e poucos dados na posição enclítica durante os séculos XVI e XVII. As pesquisadoras verificaram, também, que a próclise se tornou categórica nos contextos de: orações negativas, orações subordinadas, orações em que o verbo é antecedido por um quantificador, um operador QU, um sintagma focalizado ou alguns advérbios e a ênclise era categórica quando o verbo se encontrava em início absoluto de oração. As autoras destacaram, assim, que os escritores nascidos no século XVIII modificaram a posição dos clíticos pronominais por causa de uma mudança gramatical verificada na base do Português Europeu. Martins (2009), em sua tese de doutorado intitulada Competições de gramáticas do português na escrita catarinense dos séculos XIX e XX, verificou os padrões empíricos da colocação dos pronomes átonos na escrita de Santa Catarina, no PB, e de Lisboa, no PE. O autor objetivou verificar se houve indícios de competição de gramáticas e, para tanto, analisou dados de orações finitas não-dependentes, tanto com um como com mais verbos. Os dados foram retirados de vinte e quatro peças teatrais de autores catarinenses (na escrita do PB) e vinte e uma peças de autores lisboetas (na escrita do PE) nascidos durante os séculos XIX e XX. Martins defendeu que os padrões empíricos de colocação dos pronomes oblíquos átonos verificados nos textos escritos refletiam características de três gramáticas do Português: PB, PC e PE. Segundo o autor, haveria, portanto, uma competição de gramáticas,

42 42 seguindo as propostas da Teoria Gerativa e baseando-se no trabalho de Galves, Britto e Paixão de Souza (2005). O autor, em sua análise, utilizou dois quadros teóricos: os pressupostos da Teoria de Princípios e Parâmetros, em sua versão minimalista, e os pressupostos da Teoria da Variação e Mudança. A pesquisa de Martins, baseando-se em trabalhos anteriores, mostrou que, em toda a história do português, em especial, na escrita dos séculos XIII a XX, a próclise foi a colocação padrão em orações com operadores de negação predicativa, em orações iniciadas por quantificadores, por determinados advérbios ou por constituintes focalizados, enquanto a ênclise foi a ordem padrão em contextos em que o verbo se encontrava em início absoluto de oração. A próclise, nesse último contexto, não foi encontrada na diacronia do Português, exceto em textos brasileiros dos séculos XIX e XX, mostrando que essa posição é uma inovação da gramática brasileira. Nos contextos de orações iniciadas por sujeitos não focalizados, advérbios nãomodais e sintagmas preposicionais, houve variação das colocações proclíticas e ênclíticas. Nos textos dos séculos XIII a XVI, a ênclise foi a posição mais utilizada e houve um aumento progressivo da próclise, enquanto, nos textos dos séculos XVI a XVIII, a próclise foi amplamente utilizada. Nos textos do PE dos séculos XVIII e XIX, houve variação da próclise e da ênclise, mas houve um aumento significativo da ênclise e esta tornou-se a colocação padrão nesses contextos. Nos textos do PB dos séculos XVIII a XX, ocorreu o inverso, a próclise tornou-se a variante mais utilizada; no entanto, houve ainda casos de ênclise nos textos escritos supostamente por influência do padrão de colocação do PE. Com os resultados estatísticos, o autor mostrou que, nas lexias verbais simples do PB, houve um aumento progressivo da próclise, em especial, nos contextos antecedidos por um sujeito, um advérbio não-modal ou um sintagma preposicional, de tal forma que, no século XX, a colocação proclítica em orações com sujeitos antes do verbo chegou a ser categórica. No século XIX, a variante pré-verbal estava correlacionada à natureza dos sujeitos. Nas estruturas compostas por mais de um verbo, o autor encontrou, no PB, a próclise ao verbo auxiliar e ao verbo principal, nos textos de autores nascidos no século XIX, e houve seu aumento gradativo nos textos dos autores nascidos no século XX. Em relação a esses dois contextos, a variante proclítica ao verbo principal seria a forma inovadora da gramática do PB, uma vez que não é encontrada em outros estágios do Português. Destacou-se que a colocação enclítica a v2 nos textos do PB também se mostrou produtiva, tendo em vista, segundo o autor, a influência da gramática do PE.

43 43 Sendo assim, Martins defendeu a tese de que a ordem dos clíticos pronominais é resultado de um caso específico de competição de três gramáticas do Português: o Português Clássico, o Português do Brasil e o Português Europeu, apoiando-se nos resultados empíricos descritos e analisados em seu trabalho. Nunes (2009), em sua dissertação de mestrado: Um estudo sociolinguístico sobre a ordem dos clíticos em complexos verbais no PB e no PE, utilizando textos jornalísticos e publicitários (anúncios, editoriais e notícias) do Brasil e de Portugal produzidos nos séculos XIX e XX, procedeu a uma investigação sociolinguística da ordem dos pronomes átonos em construções com complexos verbais em dados do Português do Brasil e do Português Europeu, apresentando as semelhanças e diferenças entre as duas variedades durante todo o período analisado A pesquisadora encontrou 300 ocorrências no PB e 449 no PE, totalizando 749 dados com os clíticos em complexos verbais. Verificou a produtividade das três variantes encontradas no corpus: pré-complexo verbal Não se pode fazer ; intra-complexo verbal Pode(-)se fazer e pós-complexo verbal Pode fazer-se. Para a análise dos dados, foi utilizado o aporte teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista de orientação Laboviana. Destacou-se que não houve a variante proclítica ao complexo verbal em início absoluto de oração. Embora, nos demais contextos, a colocação pré-complexo verbal tivesse sido a mais utilizada no século XIX, tanto no PB quanto no PE, seguida pela variante póscomplexo verbal. Já no século XX, houve diferenças entre as variedades do Português, uma vez que o PE continuou com a produtividade da variante pré-complexo verbal e não possuiu alto índice da variante intra-complexo verbal. O PB, no entanto, aumentou significativamente o uso da variante intra-complexo verbal, com o registro de uma variante inovadora, a próclise a v2, e realizou equilibradamente as colocações pré e pós complexo verbal. O que favoreceu uma determinada variante no PE foi o contexto linguístico em que o clítico se encontrava, ou seja, havia uma sistematicidade na colocação de acordo com os aspectos estruturais dos contextos. No PB, tal sistematicidade não foi encontrada; o que se encontrou foi, possivelmente, um início de mudança no padrão da escrita brasileira, uma vez que houve o declínio da variante proclítica ao complexo e um aumento significativo da colocação intra-complexo verbal. A autora destacou que, no século XIX e XX, a próclise a v2 inovação do PB foi a colocação mais utilizada, inclusive em textos jornalísticos, confirmando a mudança de colocação nos complexos verbais.

44 44 Nunes analisou contextos linguísticos e extralinguísticos que poderiam favorecer, ou não, uma determinada variante na colocação pronominal e verificou que foram relevantes para a pesquisa as seguintes variáveis: presença de um possível elemento proclisador, forma do verbo principal e tipo de clítico. A próclise ao complexo verbal foi a mais favorecida nas duas variedades e nos dois séculos quando havia algum elemento proclisador antes do clítico. A autora destacou o fato de os índices, nesses contextos, não serem categóricos nem próximos ao categórico em nenhuma das variedades e séculos. No entanto, o PE realizou mais a variante próclítica do que o PB, já que nos dados do século XX do PB a variante pré-complexo verbal foi menos utilizada do que no século XIX. No século XX, o PB utilizou mais a variante proclítica ao verbo principal, mesmo em contextos em que havia a presença de elementos proclisadores, mostrando que a escrita jornalística brasileira estivesse assumindo seu padrão vernacular de próclise a v2. Em relação à forma do verbo principal, verificou-se que não houve dado com a variante pós-complexo verbal com o verbo principal no particípio, mas o uso majoritariamente da pré-complexo verbal nas duas variedades e nos dois séculos. Com o gerúndio, houve um equilíbrio na distribuição dos dados no PB e PE, em especial, no século XX. Já com o verbo principal no infinitivo, o elemento proclisador favorecia a variante précomplexo verbal no século XIX, mas, no século XX, mesmo na presença desses contextos, a variante mais utilizada foi a ênclise a v2, em especial no PB. Com relação ao tipo de clítico, o se indeterminador ligou-se mais ao verbo auxiliar e o se reflexivo/inerente mais ao verbo principal. O clítico acusativo o/a (s), no século XIX e em ambas as variedades, estava condicionado à presença de um elemento proclisador. Já no século XX, os dados do PB mostraram o aumento significativo da colocação póscomplexo verbal. Quanto ao condicionamento extralinguístico, apenas o PB sofreu influência da época de publicação e dos gêneros textuais. A época de publicação, ou seja, o século em que o texto foi produzido, como já foi dito anteriormente, fez com que a realização das variantes fosse bem distinta, havendo um aumento significativo da variante intra-complexo verbal no século XX. Em relação aos gêneros textuais, os anúncios por serem mais próximos à oralidade utilizaram mais a colocação intra-complexo, enquanto, nos editoriais, houve uma influência maior da atração dos elementos proclisadores, sendo a colocação pré-complexo verbal a mais utilizada.

45 45 Santos (2010) analisou sociolinguisticamente a colocação dos pronomes átonos em lexias verbais simples e em complexos verbais nas variedades brasileira e europeia no percurso dos séculos XIX e XX em sua dissertação denominada Análise diacrônica da colocação pronominal nas variedades brasileira e europeia do português literário: um estudo segundo o conjugado variação-mudança & cliticização. Para tanto, utilizou romances compostos por escritores da literatura brasileira e portuguesa, de modo a aferir a proximidade ou o distanciamento das normas de uso verificadas em relação às normas idealizadas em compêndios normativos. Para a análise, a autora contou com 1427 dados do PB e 1538 do PE, em relação às lexias verbais simples. Já para os complexos verbais, foram coletadas 431 ocorrências, sendo 194 do PB e 237 do PE. Constatou-se que há uma distribuição equilibrada entre próclise e ênclise nas lexias verbais simples, provavelmente, por causa do ambiente sintático em que se encontrava o pronome e a forma verbal. A posição mesoclítica não foi relevante e ocorreu, majoritariamente, no PE. Em relação ao início absoluto de oração, a ênclise foi categórica no PE, nos dois séculos; já no PB, a alta produtividade da ênclise cedeu ao uso da próclise no final do século XX. Nos demais contextos, a próclise foi bem produtiva quando havia a presença de elementos proclisadores clássicos tanto no PE quanto no PB e nos dois séculos, em especial no PE, em que a variante proclítica ocorreu de forma quase categórica. Santos separou os complexos verbais segundo a forma do v2 (particípio, gerúndio e infinitivo) e verificou que a colocação proclítica a v1 não foi efetivamente favorecida nos complexos verbais como ocorreu com as lexias verbais simples. Somente os complexos verbais com o verbo principal no particípio tiveram o favorecimento dessa variante, tendo em vista a impossibilidade da realização da colocação pós-complexo verbal com o particípio. Segundo a autora, a forma mais utilizada com o infinitivo foi a pós-complexo verbal. Com o gerúndio, a posição mais produtiva, no século XIX, foi a proclítica ao complexo verbal e, no século XX, foi a intra-complexo verbal com hífen. Já com o verbo principal no particípio, houve o favorecimento da variante pré-complexo verbal talvez, segundo a autora, por causa da presença de elementos proclisadores no contexto e não houve a utilização da colocação pós-complexo verbal. Nunes (2014), em sua tese de doutorado, intitulada A ordenação do clítico se em complexos verbais nas produções escritas do Brasil e de Portugal nos séculos XIX e XX segundo a perspectiva sociolinguística, investigou a colocação do pronome átono se em estruturas com mais de uma forma verbal nas variedades brasileira e europeia. O corpus foi da

46 46 modalidade escrita e retirado de editoriais, notícias e anúncios dos jornais dos séculos XIX e XX. A autora mostrou as diferenças e semelhanças na utilização do clítico se em estruturas verbais complexas nas duas variedades. O trabalho adotou uma abordagem diacrônica e utilizou como fundamentação a Teoria da Variação e Mudança Laboviana. A autora verificou o comportamento das normas de uso brasileiras e europeias ao longo dos dois séculos. Com a análise dos dados, verificou-se que, durante toda a trajetória, houve uma aproximação, no século XIX, da escrita brasileira à europeia, com o uso mais frequente da variante proclítica a v1 ou enclítica a v2; e, no século XX, foi aumentando paulatinamente o distanciamento das duas variedades, havendo, no PB, o início do uso da variante proclítica a v2. Já no PE, a ordem dos pronomes estaria quase sempre relacionada com as motivações estruturais, como o uso da próclise ao complexo verbal quando houvesse a presença de algum elemento proclisador. Entretanto, vale ressaltar que, quando havia algum elemento que favorecesse a variante proclítica, a próclise não se deu de maneira categórica, mas foi muito produtiva. Em relação ao tipo de clítico, vale ressaltar especificamente a diferença no comportamento dos tipos de se. O se indeterminador ligou-se, em especial, a v1, e o reflexivo/inerente ligou-se predominantemente a v2. A autora verificou que haveria comportamento diferente de acordo com o tipo de se e segundo a variedade em questão brasileira ou europeia. Sendo assim, no PB, o pronome se reflexivo/inerente apareceria mais proclítico a v2, que é o verbo que lhe dá papel semântico. Na última fase do século XX, a ênclise a v1 chegou a desaparecer na amostra brasileira e a próclise a v1 apresentou forte declínio. O se indeterminador/apassivador estaria mais ligado a v1. Já no PE, a diferença entre os tipos de clítico seria menos evidente embora o se indeterminador/apassivador estivesse mais ligado a v1, pois o que atuaria fortemente seria o ambiente sintático em que o clítico aparece. NUNES destacou algumas semelhanças entre as variedades brasileira e europeia quanto à colocação do clítico se em complexos verbais, como pode ser verificado abaixo: (i) Em contexto de início absoluto de período/oração, não houve registros de próclise a v1; (ii) não houve dados de ênclise a v2 com a forma participial do verbo principal; (iii) a próclise a v1 é a variante preferencial com o indeterminador, enquanto a ênclise a v2 é a variante preferencial com o reflexivo; (iv) o se indeterminador parece mais sensível à atuação do elemento proclisador do que o se reflexivo. (NUNES, 2014, p. 264)

47 47 A autora ressaltou também que, em relação ao PB, a utilização da próclise do se reflexivo a v2 foi considerada uma inovação brasileira, tendo em vista o fato de não ser encontrada na amostra europeia nem em outras línguas românicas. A colocação v1 (x) cl v2 foi utilizada, no PE, somente nas frases em que o complexo verbal era formado por uma preposição ou conector interveniente com uma função proclisadora no interior da construção; assim, o que haveria seria a ênclise ao elemento interveniente e não próclise a v2. Além disso, também destacou o fato de a modalidade escrita ser bem diferente da modalidade oral, uma vez que os resultados encontrados do PB escrito, embora sugiram as transformações ocorridas na fala, estariam muito distantes dos verificados na norma vernacular brasileira. Sendo assim, a partir da análise do corpus, verificou-se que a modalidade escrita é completamente diferente da oral. Maior evidência disso foi o fato de não ter ocorrido próclise a v1 em início de período ou oração, em nenhum período analisado. Dessa forma, verifica-se que a tese de Nunes demonstra que a história do clítico se se particulariza em relação à história dos clíticos em geral. Com o pronome se indeterminador, não houve mudança nem diferença entre PB e PE; com se reflexivo, no entanto, há uma aproximação da história geral da colocação, havendo, assim, a efetiva alteração para a variante proclítica a v2. Para atestar o que efetivamente acontece em dados sincrônicos do Português do Brasil, do Português Europeu e do Português de São Tomé, serão resumidamente descritos, no próximo tópico, os principais trabalhos que tratam o tema na sincronia mais contemporânea A colocação pronominal no Português: estudos sincrônicos Nesta seção, serão apresentados os trabalhos de Vieira (2002), Magro (2004), Gonçalves (2009), Vieira, M. F. (2011) e Corrêa (2012), que estudam o tema em variedades da Língua Portuguesa, com dados recolhidos entre os anos 70 e 90 do século passado e, no caso do último trabalho citado, dados do século XXI. Vieira (2002), em sua tese de doutorado, nomeada Colocação pronominal nas variedades europeia, brasileira e moçambicana: para a definição da natureza do clítico em português, mostrou resultados comparativos da ordem dos clíticos pronominais entre as

48 48 variedades europeia, brasileira e moçambicana, com base na análise sociolinguística dos dados da fala e da escrita do Português no século XX. A autora analisou um total de 5196 dados de clíticos pronominais em lexias verbais simples e complexos verbais, distribuídos pelas modalidades oral e escrita das três variedades do Português. As lexias verbais simples compreenderam o total de 4167 dados e os complexos verbais, 1029 casos. Considerando exclusivamente os dados das lexias verbais simples e dos complexos verbais na escrita, a pesquisa contou com o total de 722 ocorrências das primeiras e 137 ocorrências dos últimos, no conjunto das três variedades. Na modalidade escrita, os grupos de fatores mais relevantes foram: para o Português Europeu: operador de próclise, distância operador-clítico e tempo e modo verbais; para o Português Moçambicano: operador de próclise, distância operadorclítico, tipo de oração e tipo de clítico; para o Português do Brasil: operador de próclise, tipo de clítico / valor de se, tipo de oração e distância operador-clítico. Constatou-se que, de forma geral, a ênclise foi a variante não-marcada no PE e PM, mas no PB foi a próclise. Em relação ao PE, verificou-se que, nas lexias verbais simples, há um condicionamento estrutural sistemático na modalidade escrita, ou seja, quando havia um elemento proclisador, ocorria a variante pré-verbal, mas, quando não havia, o que se dava era a ênclise. Destacou-se, assim, a grande atuação dos elementos proclisadores no PE. A autora também verificou que o número das duas variantes próclise e ênclise ficou equilibrado por causa dos contextos subordinados, havendo, assim, elementos que favorecem a variante préverbal. Nos complexos verbais da modalidade escrita, a colocação pré-complexo verbal também foi a mais utilizada quando havia algum elemento proclisador. No Português Moçambicano, o condicionamento não se mostrou sistemático como no PE; o que há é uma instabilidade da operação de próclise, uma vez que a ênclise é uma variante produtivamente utilizada nas lexias verbais simples, mesmo em contextos em que se esperaria a realização da variante pré-verbal. Nos complexos verbais, a colocação précomplexo verbal também foi a mais encontrada, especialmente com o elemento proclisador não. Em relação ao Português do Brasil, houve um comportamento bem diferente em cada modalidade. Nas lexias verbais simples da modalidade escrita, a posição enclítica ocorreu, em

49 49 geral, quando não havia a presença de elementos proclisadores, mas, quando havia, verificouse mais a próclise. Nos complexos verbais, a variante mais encontrada foi a intra-complexo verbal, com o clítico ligado ao verbo principal, configurando a chamada próclise a v2. Para os dados orais do PE, a autora utilizou inquéritos de informantes com diferentes faixas etárias e níveis de escolaridade, retirados do Corpus de Referência do Português Contemporâneo (CRPC) pertencentes ao Português Fundamental. Para investigar o Português Moçambicano, os dados foram retirados do corpus do Projeto Panorama do Português Oral de Maputo (PPOM), organizado por Perpétua Gonçalves, da Universidade Eduardo Mondlane, considerado como os únicos dados de língua oral de Moçambique disponíveis para estudo no momento da investigação. Para o estudo do PB, foram utilizadas as entrevistas coletadas de três Projetos de Pesquisa: o Projeto NURC/Rio (Norma Linguística Urbana Culta do Rio de Janeiro), o Projeto PEUL (Programa de Estudos do Uso da Linguagem) e o Projeto APERJ (Atlas Etnolinguístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro). Vieira obteve, para as lexias verbais simples na modalidade oral, um total de 3445 dados, bem mais elevado do que o da modalidade escrita, que correspondeu a apenas 722 dados. Os complexos verbais na amostra de fala apresentaram 892 ocorrências, também um número bem maior que o da escrita, representada apenas por 137 casos nas três variedades. Em relação às lexias verbais simples, semelhantemente ao que ocorreu na escrita, a ênclise, na modalidade oral, também foi a variante não-marcada no Português Moçambicano, enquanto no Português do Brasil foi a próclise. No Português Europeu, a próclise ocorreu um pouco mais que a ênclise, provavelmente por causa da presença de elementos proclisadores. Na tabela retirada da tese de Vieira (2002, p. 85), pode-se observar a ocorrência das variantes nas três variedades: Lexias verbais simples Modalidade Oral Português Europeu Português Moçambicano Português do Brasil Freqüência Percentual Freqüência Percentual Freqüência Percentual Próclise 383/729 53% 651/ % 1221/ % Ênclise 346/729 47% 696/ % 148/ % Mesóclise 0/729 0% 0/1347 0% 0/1369 0% Tabela 1: Distribuição das variantes relativas à ordem dos clíticos em lexias verbais simples no corpus oral das três variedades do Português segundo Vieira (2002)

50 50 De acordo com a tabela, verifica-se que, no PE, houve mais dados proclíticos (53%), enquanto, no PM, ocorreram mais dados enclíticos (52%). No entanto, nas duas variedades, as duas variantes estão bem próximas da metade (50%). O resultado mais diferente está no PB em que os índices da variante proclítica foram bem elevados (89%). Os grupos de fatores mais relevantes para o condicionamento do fenômeno foram os seguintes: para o Português Europeu: operador de próclise, distância operador-clítico, tempo e modo verbais e tipo de clítico; para o Português Moçambicano: operador de próclise, distância operadorclítico, tempo e modo verbais, tipo de clítico e tipo de oração; para o Português do Brasil: operador de próclise, tipo de clítico, valor de se e faixa etária. Além do operador de próclise, que foi relevante para as três variedades e será detalhado a seguir, no PE e no PM, a distância operador-clítico, tempo e modo verbais e tipo de clítico também se mostraram importantes para a efetivação do fenômeno, além do tipo de oração para o PM. Verifica-se, assim, que até os elementos importantes no condicionamento do fenômeno são parecidos no PE e no PM. A forte atuação dos elementos proclisadores nas lexias verbais simples do PE na modalidade escrita também foi verificada nos dados orais, fazendo com que a próclise fosse a mais utilizada nesses contextos, mas nem sempre de forma categórica, como se pode verificar na tabela a seguir retirada de Vieira (2002, p. 103): OPERADOR DE PRÓCLISE Lexias verbais simples Modalidade oral Português Europeu Português Moçambicano Português do Brasil Freqüência Percentual Freqüência Percentual Freqüência Percentual Nenhum 2/174 1% 8/285 3% 166/250 66% SN sujeito nominal 3/26 12% 10/55 18% 57/62 92% SN sujeito pronome pessoal SN sujeito pronome indefinido SN suj. pronome demonstrativo 3/20 15% 6/45 13% 140/143 98% 1/5 20% 3/3 100% 0/5 0% 0/5 0% 13/14 93% Conj. coord. aditiva 0/31 0% 2/62 3% 41/55 75% Conj. coord. altern. 1/5 20% 1/8 13% 0/1 0%

51 51 Conj. coord. advers. 1/9 11% 1/18 6% 16/20 80% Conj. coord. concl. 0/1 0% 0/7 0% Conj. coord. explic. 4/17 24% 8/30 27% 19/21 90% SAdv aqui 20/25 80% 16/28 57% 44/55 82% SAdv sempre 3/17 18% 9/31 29% 20/22 91% Sadv em mente 0/4 0% 1/3 33% 3/3 100% Locuções adverbiais 2/21 10% 0/12 0% 9/12 75% Elem. denotativo 20/23 87% 6/20 30% 24/25 96% Prep. A 2/6 33% 3/17 18% 3/3 100% Prep. Para 18/19 95% 63/74 85% 45/47 96% Prep. De 26/32 81% 45/59 76% 25/28 89% Prep. Por 2/4 50% 1/1 100% Prep. sem 3/3 100% 5/5 100% 2/2 100% Prep. Em 2/4 50% 0/3 0% 3/3 100% Part. de negação 96/96 100% 177/179 99% 210/ % Conj. Subordinativa 31/35 89% 52/74 70% 55/57 96% Conj. integrante se 4/5 80% 2/3 67% Conj. integrante que 27/28 96% 25/52 48% 33/36 92% Pron. relativo que 94/95 99% 144/183 79% 155/159 97% Loc. Conj. em que 11/16 69% 12/14 86% 15/16 94% Est. clivada em que 11/12 92% 26/32 81% 78/79 99% Pal. QU- inter. pron. 5/5 100% 1/1 100% Pal. QU- inter. adv. 6/7 86% 21/21 100% Pron. / adv. Relativo 2/2 100% 15/20 75% 11/11 100% Tabela 2: Índices de frequência da próclise por presença de operador de próclise na oração e variedade do Português nas lexias verbais simples do corpus oral segundo Vieira (2002) Somente com as partículas de negação e com os pronomes e advérbios relativos, a próclise se deu de forma categórica no PE. Com os outros elementos proclisadores, como as conjunções subordinativas (89%), conjunções integrantes (96%) e pronome relativo que (99%), os índices foram bem altos, mas nenhum categórico. Para o PM, a modalidade oral teve os resultados bem parecidos com os da escrita, apresentando produtivamente a variante pós-verbal para as lexias verbais simples, mesmo nos contextos favorecedores da próclise, mostrando a assistematicidade da colocação pronominal no PM, como pode ser verificado na tabela acima, em que os elementos como as conjunções subordinativas (70%), conjunções integrantes (48%) e pronome relativo que (79%) tiveram

52 52 os índices bem abaixo do que ocorreu no PE. Dessa forma, no PE, apesar de não ser categórica, a próclise, nesses contextos, ocorre com bem mais frequência que no PM. Diferentemente do que ocorreu para as demais variedades do Português, a colocação dos clíticos no PB, em relação às lexias verbais simples, deu-se de forma bem peculiar, dependendo da modalidade em que se inseria. Como se viu, na escrita, houve produtiva realização da variante enclítica (93/201 46%), em comparação com a modalidade oral, em que a colocação proclítica foi a mais utilizada (1221/ %), independente da presença de um elemento proclisador. Dessa forma, a próclise foi a que prevaleceu de modo generalizado nos contextos de lexias verbais simples. Isso mostrou que, na escola, se aprende uma norma bem diferente da que é utilizada naturalmente pelos falantes, o que configuraria, segundo a autora, uma nítida situação de diglossia. Ressalta-se que os 11% dos dados de ênclises ocorridos no PB eram de tipo estrutural específico. Em relação aos complexos verbais, pode ser observada a distribuição das três variantes em cada modalidade do português na tabela abaixo retirada de Vieira (2002, p. 262): Complexos verbais Modalidade Oral Português Europeu Português Moçambicano Português do Brasil Freqüência Percentual Freqüência Percentual Freqüência Percentual cl V1 V2 70/201 35% 86/437 20% 18/254 7% V1 cl V2 92/201 46% 282/437 64% 229/254 90% V1 V2 cl 39/201 19% 69/437 16% 7/254 3% Tabela 3: Distribuição das variantes pré-cv, pós-cv e intra-cv no corpus oral das três variedades do Português segundo Vieira (2002) No PE oral, a colocação mais utilizada foi a intra-complexo verbal (46%) e o clítico estava enclítico a v1. A variante pré-complexo verbal foi a segunda mais utilizada (35%) e, assim como nas lexias verbais simples, foi favorecida pela presença de elementos proclisadores no contexto em que o clítico se inseria, embora o registro dessa variante não tenha sido categórico, como não o foi nas lexias verbais simples. Por último, foi a realização da pós-cv com 19% das ocorrências. No PM, a maior ocorrência da colocação foi a intra-complexo verbal (64%), estando o clítico pronominal ligado ao verbo auxiliar, como ocorreu no PE. Depois houve a maior realização da pré-cv (20%) seguida pela pós-cv (16%).

53 53 Com os complexos verbais, na modalidade oral, a variante mais utilizada, no PB, também foi a intra-complexo verbal. Vale ressaltar que essa variante foi utilizada em 90% dos dados, independentemente da atuação de qualquer elemento proclisador. O clítico, nesses casos, ao que parece, não se ligaria ao verbo auxiliar como ênclise a v1, mas estaria ligado ao verbo principal como próclise a v2. Essa é uma particularidade do PB, segundo apontam diversos estudos sobre o tema. A autora também realizou uma análise prosódica da ligação dos clíticos aos vocábulos circunvizinhos, além de apresentar condicionamentos linguísticos e sociais referentes às lexias verbais simples e aos complexos verbais. Assim sendo, a tese levou em consideração a interface morfologia-sintaxe-fonologia e utilizou o aporte teóricometodológico da Sociolinguística Variacionista Laboviana, com o objetivo de estabelecer os condicionamentos linguísticos e extralinguísticos que determinam os parâmetros de colocação dos pronomes oblíquos átonos. Quanto à análise dos dados pela base acústica, Vieira fez uso do Programa CLS (Computerized Speech Lab), utilizando dois procedimentos metodológicos: a medição dos parâmetros acústicos de acento e a síntese de fala associada a testes de percepção auditiva. Com base na análise prosódica, Vieira constatou que o pronome oblíquo átono no PE, no que diz respeito à duração e à intensidade, possuía as mesmas características de uma sílaba postônica vocabular e que a ligação fonológica do clítico pronominal no PE assumia o parâmetro de ligação fonológica para a esquerda, o que confirmaria, também no plano da pronúncia, o padrão enclítico dessa variedade. No PM, assim como o PE, supôs-se que o padrão de cliticização fonológica também seria à esquerda. Diferentemente das outras duas variedades, a análise acústica mostrou que o clítico, no PB, possui, quanto à duração e à intensidade, as mesmas características de uma sílaba pretônica vocabular. O estudo sobre a cliticização fonológica também mostrou que, diferentemente das demais variedades, o padrão da ligação fonológica do PB é à direita, inversa das demais variedades em estudo. Os resultados de Vieira (2002) e de outros estudiosos que analisam a(s) norma(s) brasileira(s) mostram a distância entre a língua que se aprenderia na escola no caso de alguns fenômenos, como se fosse um código estranho ao usuário, e a fala natural, que revelaria a língua vernacular. Confirma-se com clareza, assim, o pressuposto da afirmativa de Sartre (apud VIEIRA): falamos em nossa própria língua e escrevemos em língua estrangeira.

54 54 Considerando exclusivamente dados do Português Europeu, Magro (2004), em seu trabalho intitulado O fenómeno da subida de clítico a luz de dados não-standard 6 do PE, apresentou os contextos em que há a possibilidade de um clítico, que é argumento do verbo principal (v2), subir e ligar-se ao verbo auxiliar (v1), antes ou depois deste. No decorrer do trabalho, a autora mostrou algumas propostas para analisar a subida do clítico no PE standard e em outras línguas românicas, como o italiano e o espanhol. A pesquisadora analisou 824 estruturas em que fosse possível a subida do clítico coletadas de dados dialetais do PE contemporâneo encontrados no corpus CORDIAL-SIN Corpus Dialectal para o estudo da Sintaxe. Esse corpus é composto por dados orais de dezenove localidades de Portugal, recolhidos entre os anos 70 e os anos 90. Das 824 estruturas, 245 delas cliticizaram-se ao verbo principal e 579 ligaram-se ao verbo auxiliar, mostrando a grande quantidade da subida de clítico nos dados analisados. Ressaltou-se que, no PE standard, a subida de clítico, nos contextos em que havia mais de um verbo, sempre ocorre quando o verbo principal é formado por gerúndio ou particípio. Contudo, quando o verbo principal está no infinitivo não-flexionado, a subida do clítico poderia acontecer ou não. A autora destacou o fato de os dados analisados, por serem extraídos de corpus chamado dialetal, serem mais propícios à subida de clítico do que os das gramáticas consideradas standard. Verificou, também, que os contextos que eram introduzidos por que e com infinitivos preposicionados por de, em e para não eram favorecedores da subida de clítico no Português Europeu dialetal e que havia uma preferência pela subida dos clíticos nas estruturas em que os infinitivos não estavam preposicionados ( A minha mãe adora-me ver com estas calças ) ou estavam preposicionados por a (ex.: Eu já me aprendi a controlar ). Gonçalves (2009), em sua dissertação de mestrado denominada A colocação dos pronomes clíticos no português oral de São Tomé: análise e discussão de contextos numa perspectiva comparativa, ocupou-se, como evidencia o título, da colocação dos clíticos pronominais em corpus oral de São Tomé. A autora ressaltou a falta de trabalhos do Português Africano e destacou que, quando há algum trabalho, geralmente é do Português de Moçambique ou de Angola. 6 Vale ressaltar que o chamado Português não-standard ou dialectal se refere aos dados dos falantes considerados analfabetos ou com pouca escolaridade de diversas regiões de Portugal.

55 55 A pesquisadora teve como objetivo principal analisar e discutir os contextos em que os clíticos pronominais apareceriam nos dados empíricos recolhidos nas entrevistas de São Tomé e, para isso, baseou-se nos trabalhos que tratam do tema no Português nas variedades padrão e dialetais, bem como os trabalhos sobre o Português do Brasil, Moçambicano e o de Afonso (2008), que trata do Português em São Tomé. O corpus utilizado pertence ao Projeto VAPOR Variedades Africanas do Português 7. Inicialmente, a autora pretendia verificar todos os contextos relacionados ao fenômeno; no entanto, como havia muitos dados, optou por analisar apenas dois tópicos: a) a colocação dos clíticos em frases finitas e b) as estratégias de realização do clítico acusativo e dativo de terceira pessoa. Além disso, a autora não utilizou as entrevistas de todos os informantes do corpus, mas apenas as dez que já possuíam a transcrição dos dados orais até o momento de sua dissertação, sendo seis do sexo masculino e quatro do sexo feminino. No início de seu trabalho, a autora contextualizou o Português de São Tomé e Príncipe como um espaço plurilinguístico. No entanto, ressaltou o fato de a maior parte da população dizer que falava como língua materna o Português, e utilizava o crioulo apenas quando não queriam ser compreendidos ou com pessoas mais velhas. As crianças, em geral, não sabiam falar crioulo. A autora fez a apresentação e descrição detalhada de todos os dados nos contextos de (i) orações principais finitas e em orações subordinadas e (ii) estratégias de realização do pronome acusativo e dativo de 3ª pessoa. Nas orações principais finitas, houve a análise dos clíticos pronominais nas frases simples, nas orações principais de frases complexas (períodos compostos) e nas orações coordenadas aditivas e adversativas em oposição às orações subordinadas. Todos os dados foram analisados separando os dados proclíticos dos enclíticos nos contextos em que havia (i) negação, (ii) advérbios focalizadores, (iii) advérbios focalizados, (iv) declarativas enfáticas e (v) contextos ambíguos (quando houve a interpolação). Nas orações subordinadas, foram analisadas as colocações dos clíticos em todos os contextos das diversas orações: relativas, completivas, adverbiais, comparativas e construções de clivagem. Com a análise detalhada de cada exemplo encontrado em cada contexto, a autora verificou que havia variação entre próclise e ênclise nos mesmos ambientes sintáticos semelhantemente ao que, em certa medida, se atesta nos resultados de Vieira (2002) para o 7 Parte da amostra da presente tese é comum ao conjunto de dados verificados por Gonçalves (2009). No entanto, diferentemente do ocorrido no trabalho da autora, que usou apenas parte dos dados produzidos por dez informantes cujas entrevistas estavam transcritas, será analisada a totalidade das ocorrências produzidas por esses informantes, além de todas as estruturas com clíticos verificadas em outros sete inquéritos não analisados por Gonçalves (2009).

56 56 Português Moçambicano e isso era muito frequente no Português de São Tomé e Príncipe. A pesquisadora ressaltou que essa era uma característica bem comum de uma variedade linguística que estava começando a firmar o Português como língua materna. Ressaltou, ainda, que: Aquilo que os dados dos clíticos nos mostram é que, muito provavelmente, o português de S. Tomé constitui uma interlíngua ainda não fossilizada pelo que a variação nas mesmas estruturas não nos permite caracterizar o sistema de colocação dos clíticos, mas tão-somente descrevê-lo o mais pormenorizadamente possível procurando entrever aquilo que pode vir a constituir uma idiossincrasia do seu sistema linguístico. (Gonçalves, 2009, p. 22) Na segunda parte de seu trabalho, Gonçalves verificou as estratégias de realização do clítico acusativo e dativo de terceira pessoa. Em relação ao caso acusativo, analisou o uso das formas acusativas, nominativas e outras formas de realização. No que diz respeito ao caso dativo, averiguou seu uso nas formas dativa, oblíqua, nominativa, com as preposições a e para. Com os resultados das análises, foi possível verificar que o corpus tende a evitar a realização do pronome acusativo e dativo de 3ª pessoa, fazendo o uso de outras formas em seu lugar. Nos dados, havia variação entre as formas átonas e tônicas dos pronomes. Em relação à utilização do clítico acusativo e outras estratégias de realização do pronome, há variação entre as duas. No que diz respeito ao pronome dativo, a variação ocorreu com a forma dativa e as formas nominais divididas em: forma oblíqua com complemento preposicionado e o uso do pronome sujeito. Os clíticos dativos, assim como os acusativos, estavam bem próximos da variação. No final de seu trabalho, os dados foram mostrados em uma perspectiva comparativa entre as variedades nacionais e dialetais do Português em relação à norma padrão do Português Europeu. A autora ressaltou o fato de seu trabalho ser um dos poucos que abordavam o Português de São Tomé e enfatizou que ainda havia muita coisa para se observar e discutir nessa variedade. Além disso, informou o que ainda poderia ser trabalhado com os clíticos pronominais, mas que ainda não foi feito, como verificar os contextos de omissão dos pronomes clíticos e verificar se é uma estratégia recorrente como ocorre no PB e analisar se os dados das orações subordinadas infinitivas seria fundamental para a criação do quadro geral de colocação dos pronomes clíticos no Português Oral de S. Tomé (p. 41). Com a presente tese, a análise de todas as orações com clíticos no Corpus VARPOR será feita, colaborando para a ampliação do conhecimento da ordem dos clíticos pronominais no Português de São Tomé.

57 57 Vieira, M. F. (2011), em sua dissertação de mestrado intitulada A cliticização pronominal em lexias verbais simples e em complexos verbais no Português Europeu oral contemporâneo: uma investigação sociolinguística, verificou a cliticização pronominal em entrevistas produzidas no final do século XX por informantes entre 40 e 80 anos, analfabetos ou com pouca escolaridade, do Português Europeu. Foram coletados os dados de dezesseis localidades, utilizando, para tanto, o CORDIAL-SIN corpus dialetal para o estudo da sintaxe do Português Europeu, o mesmo material que foi usado no trabalho de MAGRO (2004). A autora analisou dados em lexias verbais simples e em complexos verbais, mostrando os principais condicionamentos linguísticos e extralinguísticos atuantes na referida variedade, tendo como arcabouço teórico-metodológico a Sociolinguística Variacionista Laboviana e a proposta de parâmetros de cliticização. Com a coleta de dados, obteve-se o total de ocorrências de lexias verbais simples, sendo em início de oração e/ou período e 1920 nos demais contextos com algum elemento antecedente. Nos complexos verbais, foram encontrados 450 dados; 6 referiam-se a estruturas com dois verbos auxiliares e foram analisadas separadamente, sobrando, assim, 444 ocorrências. Nos complexos verbais, a estrutura mais produtiva foi com o verbo principal no infinitivo (384 dados), seguida das estruturas com gerúndio (51 dados) e particípio (11 dados). No que diz respeito às lexias verbais simples, destacou-se que, confirmando a variante prototípica em estruturas não marcadas no PE, não houve dado proclítico em início absoluto de oração nem de período; por isso, esses contextos foram separados dos demais em que o pronome aparecia e havia a presença de algum elemento antecedente. As variáveis linguísticas selecionadas pelo programa GOLDVARB-X como estatisticamente relevantes, para os demais contextos, foram: (i) elemento antecedente ao clítico, (ii) forma verbal, (iii) tipo de oração, e (iv) distância entre o clítico e um elemento antecedente. Não houve a seleção de variáveis extralinguísticas pelo Programa, mostrando que, no PE dialetal, o condicionamento da colocação pronominal era eminentemente linguístico. A variante mais utilizada nas lexias verbais simples foi a ênclise, com 52% dos dados, seguida pela próclise, com 48% das ocorrências, evidenciando distribuição geral equilibrada entre as duas variantes, com cerca de metade dos dados para cada uma delas. Vale ressaltar que não houve qualquer dado de mesóclise em todo o corpus analisado.

58 Peso Relativo 58 Observando o gráfico, a seguir, retirado da dissertação de Vieira (2011, p. 89), podese constatar o favorecimento da próclise com os elementos proclisadores. No entanto, cabe observar que não há dados categóricos em nenhum dos contextos controlados. 1 0, Partículas de negação Prep. 'para', 'de', 'por' e 'sem' Elementos de foco Estruturas clivadas 0,6 0,4 0, Elementos subordinativos Advérbios Preposições 'a' e 'em' SN sujeito SPrep Elementos discursivos Conjunções coordenativas Gráfico 1: Aplicação da próclise (peso relativo) segundo o elemento antecedente ao clítico segundo Vieira (2011) As partículas de negação (.98), as preposições para, de, por e sem (.97), os elementos de foco (.95), as estruturas clivadas (.94) e os elementos subordinativos (.76) são nitidamente favorecedores da variante proclítica. Em relação aos complexos verbais, a interpretação dos resultados foi feita pelos percentuais das seguintes variáveis linguísticas: (i) elemento antecedente ao clítico, (ii) tipo de clítico, (iii) tipo de complexo verbal, (iv) presença/ausência de elementos intervenientes no complexo verbal e (v) forma verbal auxiliar. A variante mais utilizada foi a ênclise a v1 com 58% dos resultados. A colocação pré-complexo verbal (28% dos dados) foi favorecida pela presença de algum elemento proclisador, tendo em vista que no PE, inclusive no chamado dialetal, os contextos descritos como tipicamente atratores realmente favoreciam a colocação do clítico pronominal antes do complexo. No entanto, assim como ocorreu nas lexias verbais simples, a variante proclítica, nesse caso ao complexo verbal, não foi categórica nesses contextos, mas ocorreu, principalmente, quando o elemento antecedente era um dos seguintes tipos: partícula de negação, conjunção subordinativa, estrutura clivada ou preposição para / de. A variante pós-complexo verbal (14% das ocorrências) foi a menos produtiva em todo o corpus, tendo em vista que não houve nenhum dado com o particípio e

59 59 apenas dois dados com o gerúndio; essa variante foi utilizada, em geral, com o infinitivo. Conforme já se esperava, não houve qualquer dado de próclise ao complexo verbal em início de oração e período, resultado igual ao das lexias verbais simples. Em sua dissertação de mestrado denominada Cliticização pronominal na região metropolitana do Rio de Janeiro: a interface sintaxe-fonologia, Corrêa (2012) fez o estudo da colocação pronominal em complexos verbais de dados orais, do presente século, de falantes de três faixas etárias e com três níveis de instrução da região metropolitana do Rio de Janeiro, sendo consideradas as regiões de Nova Iguaçu e de Copacabana (e adjacências). Os dados foram retirados do corpus do Projeto Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias 8. A autora dividiu seu trabalho em duas partes: a primeira tratava da variação e a segunda da cliticização pronominal no âmbito fonético-fonológico. Sendo assim, verificaramse, em especial, os níveis sintático a variação posicional dos pronomes e fonéticofonológico a cliticização pronominal propriamente dita, ou seja, a autora verificou se os pronomes átonos se inclinariam para a direita (próclise fonológica) ou para a esquerda (ênclise fonológica), com o apoio da Fonologia Experimental. Como a presente tese trata apenas do plano sintático, será feito, aqui, um pequeno resumo sobre os resultados variacionistas do trabalho de Corrêa a colocação sintática propriamente dita. No entanto, na seção 2.1. Cliticização e padrões de colocação pronominal, já houve a abordagem dos resultados referentes aos planos fonético-fonológico, mostrando a cliticização fonológica dos pronomes. Corrêa (2012) analisou, considerando as duas comunidades de fala, 258 dados de lexias complexas. Desse total, 5 (2%) dados ocuparam a posição antes do complexo, 247 (96%) ocorrências foram realizadas no interior do complexo e 6 (2%) ocuparam a posição posterior ao complexo verbal. Dessa forma, como já se esperava, observou-se que, de 258 dados, há somente 11 ocorrências que não ocuparam a variante interna ao complexo verbal. Assim, para a análise dos resultados, a pesquisadora utilizou duas estratégias: (i) a descrição dos dados em termos qualitativos e (ii) a observação de cada variante. Em Vieira (2002) também se verificou que a posição intra-complexo verbal foi a mais utilizada no corpus analisado, sendo um total de 90% dos dados, enquanto a posição 8 Ressalta-se que a amostra de onde se extraíram os dados estudados por Corrêa (2012) também será analisada na presente tese. No entanto, além das ocorrências com duas formas verbais, os dados com apenas uma também serão analisados.

60 60 proclítica ao complexo verbal teve 7% das ocorrências e 3% foi da variante enclítica ao complexo verbal. Trata-se de resultados com tendências bem parecidas com as verificadas em Corrêa (2012). Corrêa (2012) mostrou que, nos dados sob análise, a colocação intra-complexo verbal estava presente em 96% dos dados. A colocação funcionaria, então, como uma regra semicategórica (LABOV, 2003), sendo a posição dos clíticos entre as duas formas verbais a ordem não-marcada. Os poucos dados diferentes seriam de natureza específica, pois a posição pré-cv ocorreu somente com o pronome se indeterminador/apassivador e a pós-cv somente com o acusativo o/a (s). Destacou-se que, em termos extralinguísticos, as colocações dos clíticos antes e depois dos complexos verbais ocorreram praticamente nos dados de nível superior. Considerando os falantes de ensino fundamental e médio, eles produziram apenas 1% dos dados que não ocupassem a posição intra-complexo verbal. O caráter semicategórico ficou mais expressivo ainda quando se abordou o nível de escolaridade; assim, os falantes com baixo ou intermediário nível de escolaridade produziram em 99% de seus dados a variante entre as duas formas verbais. Esta também foi a preferida em todos os contextos controlados das variedades como localidade, faixa etária e sexo. Houve um pouco mais de variação apenas em Copacabana e nos indivíduos homens com mais de 56 anos. Assim, foi possível supor que as variantes proclítica e enclítica ao complexo verbal, em geral, não fazem parte do padrão de colocação pronominal dos indivíduos jovens e de pouca escolaridade. De modo geral, a autora constatou que a cliticização pronominal, nos complexos verbais, não configuraria efetivamente um fenômeno variável, mas um processo de mudança concluído excetuando-se os dados com se indeterminador/apassivador, tendo em vista o elevado número de dados intra-complexo verbal e a especificidade das estruturas com a variante pré-complexo verbal Síntese das principais tendências dos estudos No caso das lexias verbais simples, os trabalhos que tratam do fenômeno numa perspectiva diacrônica mostraram que, no século XVI, a colocação mais utilizada em construções com uma só forma verbal, exceto em início absoluto de oração, era a proclítica. No entanto, a partir do século XVII, a posição enclítica foi ganhando espaço, de modo que o PE a adotou como posição não-marcada, ficando a próclise relegada a condicionamentos específicos, o que se perpetua até os dias atuais ao menos como tendência geral (embora não

61 61 se registrem dados categóricos ou próximo disso). No Português do Brasil, além da continuidade da próclise nos contextos em que ela já ocorria, houve sua extensão para os demais, como o do início absoluto de oração. No que se refere aos complexos verbais, os resultados diacrônicos mostraram que no PE, tanto no século XIX quanto no XX, não ocorreu a próclise a v2. O pronome apareceu à esquerda de v2 apenas quando havia uma preposição que integrava o complexo verbal, como em tem de fazer. Além disso, com a presença de elementos proclisadores ocorreu preferencialmente a próclise a v1, embora a ênclise a v2 também fosse verificada. No PB do século XIX, registraram-se alguns dados com a variante inovadora, a próclise a v2, e, no século XX, a ocorrência dessa posição aumentou, em especial com o reflexivo (cf. NUNES, 2014). Nunes (2014) demonstrou que o clítico se em contextos de indeterminação apresentou comportamento diferenciado do verificado para os demais clíticos. Assim, a mudança que fez diferenciar PB e PE não foi efetivamente observável no caso desse pronome, que, por ser nominativo, apresentou preferencialmente a posição adjacente a v1 nas duas variedades. Para sintetizar as principais tendências verificadas nos trabalhos sincrônicos escritos, pode-se afirmar que, em contextos de uma só forma verbal, a colocação dos clíticos no PE contemporâneo escrito ou oral teve forte condicionamento sintático, especialmente no que concerne à presença de elementos proclisadores, contexto que favorece a variante pré-verbal. No entanto, vale destacar que, nos contextos em que há elementos que favorecem a variante pré-verbal, a próclise não se dá de forma categórica, como mostraram os estudos de Vieira (2002) e Vieira, M. F. (2011). Na ausência de determinados elementos e, em especial, no início absoluto de frase, ocorreu a ênclise 9. Na modalidade oral das lexias verbais simples, nos contextos de início absoluto de oração e de período, a variante enclítica ocorreu de forma categórica no PE (VIEIRA, 2002; VIEIRA, 2011). Já nos demais contextos, o ambiente sintático indicaria se a maior ocorrência seria de próclise ou de ênclise no PE, embora de forma menos rigorosa se comparada com a escrita. A variante preferencial no PB foi a pré-verbal, ficando a pós-verbal circunscrita a contextos muito específicos relacionados ao tipo de clítico, sobretudo o acusativo de terceira pessoa, pouco produtivo de modo geral, e o se como estratégia de indeterminação. Ficou claro, também, pela observação dos resultados, que as diferenças entre PB e PE foram 9 Na gramática do Raposo et alii (2013), Ana Maria Martins sistematiza detalhadamente os elementos que licenciariam a próclise e a ênclise.

62 62 fortemente atenuadas na modalidade escrita, por força do ideal de norma postulado, que se inspira fundamentalmente no modelo europeu. No entanto, na modalidade oral a diferença é bem significativa, em especial, dentro do próprio PB, nos quais os resultados da escrita não são comparáveis com os da oralidade, tendo em vista que os índices de próclise nos dados orais são quase categóricos nas lexias verbais simples. Embora praticamente não se verifiquem resultados sobre variedades africanas do Português, Vieira (2002) aponta que, em Moçambique, a colocação mais expressiva é a pósverbal, ocorrendo, inclusive, em contextos em que se costuma esperar consoante o padrão de uso europeu a próclise ao verbo, o que sinalizaria certa instabilidade na opção preferencial da variedade, típica da situação de formação inicial de uma variedade linguística. Gonçalves (2009) verificou que, nos dados estudados em São Tomé, ocorreu a variação entre próclise e ênclise nos mesmos contextos sintáticos. Segundo a autora, isso se justificaria pelo fato de o Português em São Tomé ser uma variedade que, embora actualmente comece a afirmar-se como língua materna, foi adquirida como língua segunda (GONÇALVES, 2009, p. 22). Assim, segundo a autora, o Português em São Tomé constitui uma interlíngua ainda não fossilizada pelo que a variação nas mesmas estruturas não nos permite caracterizar o sistema de colocação dos clíticos mas tão somente descrevê-lo o mais pormenorizadamente possível. (GONÇALVES, 2009, p. 22), ou seja, a próclise e a ênclise ocorreriam, muitas vezes, nos mesmos contextos, fazendo com que nem sempre fosse possível definir uma preferência por determinada colocação. Sendo assim, Gonçalves não conseguiu caracterizar todo o sistema de colocação dos pronomes átonos, mas o descreveu o mais minuciosamente possível, para verificar o que poderia ser uma idiossincrasia do sistema linguístico da variedade em formação. Quanto à colocação dos pronomes átonos nos complexos verbais, ressalta-se que há apenas cinco trabalhos de natureza variacionista, dentre os pesquisados que trataram dessas estruturas na modalidade oral da Língua Portuguesa Vieira (2002), Magro (2004), Gonçalves (2009), Vieira, M. F. (2011) e Corrêa (2012) e, dentre eles, apenas três abordaram o tema no PE Vieira (2002), Magro (2004) e Vieira, M. F. (2011). Estes trabalhos sugeriram, em geral, que, no Português Europeu, os clíticos apareceriam mais na posição intra-complexo verbal e, aparentemente, estariam ligados, preferencialmente, ao verbo auxiliar (v1-cl v2). A pré-cv ocorreria principalmente na presença de elementos proclisadores e com o pronome se indeterminador/apassivador; a pós-cv seria desfavorecida com verbos no gerúndio, não ocorreria com verbos no particípio e seria favorecida pelos

63 63 pronomes acusativos o/a (s). Em relação ao conjunto de mudanças sintáticas por que passou a Língua Portuguesa, os estudos advertiram, também no caso dos complexos verbais, para a diferenciação entre o Português da Europa e o Português do Brasil. No PB, a regra foi semicategórica, uma vez que a colocação interna ao complexo verbal foi a mais utilizada, independentemente da presença de qualquer tipo de elemento condicionador, com o pronome ligado ao verbo posterior, configurando um caso de próclise a V2. Nessa variedade, os contextos enclíticos a v2 ocorreram somente com os pronomes acusativos ( o (s) e a (s) ) e os proclíticos a v1, somente com os pronomes se, em especial o indeterminador. Em Moçambique, Vieira (2002) observou que o clítico, quando localizado entre as duas formas verbais, preferencialmente se ligaria a V1. Em relação aos resultados do PST, não foi possível propor qualquer sistematização, porque Gonçalves (2009) não estudou as estruturas com mais de uma forma verbal. Como se pode observar, a análise comparativa entre as três variedades do Português proposta na presente pesquisa poderá preencher, ao menos em parte, a lacuna que existe em descrições científicas, sobretudo as de natureza variacionista, em relação ao fenômeno em pauta. Ademais, procura verificar se a colocação, em cada uma dessas regiões, possui características diferentes ou semelhantes e, em que medida, pode ser aproximada a língua do colonizador (PE) e dos colonizados (PB e PST), além de discutir se, de alguma forma, haveria motivações, diretas ou indiretas, relacionadas à situação de contato linguístico envolvendo os países colonizados.

64 64 3. TEORIA DA VARIAÇÃO E MUDANÇA: PRESSUPOSTOS BÁSICOS Neste capítulo, serão apresentados os pressupostos básicos da Teoria da Variação e Mudança de orientação laboviana, destacando os principais conceitos e os cinco problemas da mudança linguística. Para a Sociolinguística Laboviana, a variação faz parte da língua e não ocorre aleatoriamente, ou seja, a variação encontrada na língua ocorre de forma regular e sistemática, havendo, assim, uma heterogeneidade ordenada (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972; 1994; 2003). Dessa forma, pode-se dizer que a variação e/ou mudança ocorre de maneira ordenada, influenciada por condicionadores internos e externos da língua, contrapondo-se à tradição estruturalista de Saussure, que privilegiava o caráter homogêneo da língua. A análise da cliticização dos pronomes oblíquos átonos, como um fenômeno variável, baseia-se, então, na Teoria da Variação e Mudança Linguística, referida acima. Para tanto, verifica se a variação, ou seja, o fato de duas ou mais formas de colocação pronominal transmitirem, em um determinado contexto, o mesmo significado, foi influenciada pelos fatores línguísticos e/ou extralinguísticos sob análise. Interessada fundamentalmente pela variação e mudança linguística, a análise sociolinguística prioriza o estudo da língua utilizada dentro da sociedade, em situações reais de fala. Para Labov (2008 [1972], p. 215), este tipo de pesquisa tem sido às vezes rotulado de sociolinguística, embora este seja um uso um tanto enganoso de um termo estranhamente redundante. A língua é uma forma de comportamento social (...). Sendo assim, o objetivo principal da Sociolinguística é verificar a relação entre língua e sociedade e estudar a variação e/ou mudança linguísticas dentro do contexto social de uma comunidade de fala. Na Teoria da Variação e Mudança, o importante é estudar a estrutura e a evolução da língua, tendo em vista sua interação com a sociedade. O lugar para verificar a variação e/ou mudança linguística chama-se comunidade de fala. Para Labov (2008 [1972], p. 287), as atitudes sociais para com a língua são extremamente uniformes dentro de uma comunidade de fala, ou seja, os indivíduos não precisam usar as mesmas formas da língua, mas devem acreditar nas mesmas normas de uso da língua para estarem dentro de uma comunidade de fala. Guy (2000, p. 18) resume as características de uma comunidade de fala da seguinte forma:

65 65 (1) Definição de comunidade de fala - características lingüísticas compartilhadas; isto é, palavras, sons ou construções gramaticais que são usados na comunidade, mas não o são fora dela. - densidade de comunicação interna relativamente alta; isto é, as pessoas normalmente falam com mais freqüência com outras que estão dentro do grupo do que com aquelas que estão fora dele. - normas compartilhadas; isto é, atitudes em comum sobre o uso da língua, normas em comum sobre a direção da variação estilística, avaliações sociais em comum sobre variáveis lingüísticas. Dessa forma, para a Sociolinguística, para que seja possível estudar a língua, deve-se verificar a comunidade de fala e não o indivíduo isoladamente, mas os falantes em seu ambiente social. Dessa forma, os indivíduos que pertencem à mesma comunidade de fala não precisam compartilhar idênticas formas linguísticas, mas precisam ter as mesmas tendências de uso e as mesmas normas de avaliação. Na presente tese, serão analisadas as ocorrências de clíticos pronominais produzidas nas diferentes comunidades de fala em estudo e, além da análise qualitativa das estruturas gramaticais encontradas, serão observadas as tendências/frequências de uso de cada comunidade, com base nos valores absolutos e percentuais, além dos pesos relativos, quando possível, obtidos para cada fator controlado nas amostras de cada uma das variedades. Segundo Labov, o vernáculo da língua seria o estilo em que se presta o mínimo de atenção ao monitoramento da fala. A observação do vernáculo nos oferece os dados mais sistemáticos para a análise da estrutura linguística. (2008 [1972], p. 244). Constata-se, assim, que, para as pesquisas sociolinguísticas, o tratamento dos dados linguísticos deve considerar, em especial, a modalidade oral da língua, tendo em vista que esta representaria o perfil vernacular da comunidade de fala em estudo, sendo, portanto, fonte certa para o estudo da mudança linguística. Por isso, o presente estudo, que se ocupa da variação linguística no âmbito do Português da Europa, do Brasil e de São Tomé, utiliza a fala dos informantes dessas três variedades do Português supracitadas, entendendo que as entrevistas sociolinguísticas podem revelar as configurações preferenciais que caracterizam cada amostra. Contudo, não se pode deixar de considerar o que Labov aponta como o paradoxo do observador (LABOV, 2008 [1972], p. 244), mostrando que o objetivo da pesquisa lingüística na comunidade deve ser descobrir como as pessoas falam quando não estão sendo sistematicamente observadas no entanto, só podemos obter tais dados por meio da observação sistemática.. Dessa forma, acredita-se que, mesmo que o corpus analisado não seja o mais espontâneo possível, tendo em vista a necessidade da presença de um

66 66 entrevistador, ele seria o que mais chegaria próximo ao vernáculo da língua, mostrando quais seriam as tendências utilizadas pelos entrevistados nas três variedades analisadas. Sabe-se, como propõe Labov (2003), que o falante não possui um estilo único, mas pode alterá-lo constantemente. Essas mudanças se revelam nos diversos níveis gramaticais, dependendo do contexto em que se encontram. As mudanças estilísticas podem ocorrer de acordo com: (i) o grau de intimidade/familiaridade com o receptor, (ii) o contexto social e (iii) o assunto. Não obstante o caráter estilístico que sempre afeta o plano linguístico, Labov ressalta que os fenômenos podem assumir comportamentos que configuram três tipos de regras: a categórica, a semicategórica e a variável. A primeira regra, a categórica, equivale a 100% de aplicação, ou seja, haveria apenas uma maneira de utilização, pois o outro uso não seria empregado e, portanto, não ocorreria efetivamente variação. A segunda regra, a semicategórica, ocorre quando há variação entre duas formas alternantes, mas uma delas é utilizada em 95% a 99% dos casos; assim, uma das variantes é praticamente a única forma utilizada na língua, embora as demais formas também sejam reconhecidas pelos falantes e possivelmente empregadas em estruturas e contextos particulares. A terceira regra denominase variável e dá-se quando as formas alternantes são utilizadas pelos falantes de forma produtiva, ocorrendo entre 5% a 95% dos casos, restringida efetivamente por fatores linguísticos e extralinguísticos, havendo, portanto, a variação 10. Levando em consideração que a cliticização pronominal admite formas alternantes, como os exemplos já oferecidos ao longo do trabalho permitem observar, supõe-se que ela venha a se enquadrar no segundo ou no terceiro tipo de regras proposto por Labov (2003). No entanto, somente com a análise dos dados, será possível verificar se o fenômeno é realmente variável em cada variedade estudada e qual regra se aplicaria ao tema estudado com os dados sob análise. Assim, para verificar em que tipo de regra variável os clíticos estudados se encaixam, utilizou-se o pacote de programas GOLDVARB-X, que é de suma importância, uma vez que mostra a produtividade do fenômeno no corpus estudado, além de definir as condições que estatisticamente favorecem ou restringem as variações e/ou mudanças e verificar se realmente ocorre a variação nos dados analisados. 10 I 100% = none in natural speech / II 95-99% = rare and reportable / 5-95% = none by definition and unreportable (LABOV, 2003, p. 243)

67 67 Embora a presente pesquisa focalize a regra variável em estudo numa dada sincronia, é importante salientar que, na Sociolinguística Laboviana, é concebida estreita relação entre variação e mudança linguística, tendo em vista o pressuposto de que toda mudança linguística advém de uma competição de formas alternantes. Por isso, a mudança não ocorre de maneira uniforme e instantânea, mas influenciada por fatores linguísticos e sociais. Assim, as formas que estão variando continuam em competição durante algum tempo e, depois de um período, uma dessas formas alternantes pode se tornar a nova variante a ser utilizada pelos falantes mudança linguística ou ambas permanecerem alternando, sem que nenhuma seja escolhida em detrimento de outra variação estável. Desse modo, Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968], p. 126) constatam que nem toda variabilidade e heterogeneidade na estrutura linguística implica mudança, mas toda mudança implica variabilidade e heterogeneidade., ou seja, as formas podem variar e, depois de algum tempo, ocorrer a mudança, ou apenas permanecerem em variação sem que a mudança efetivamente se concretize. Verifica-se que, nas duas opções, a variação e a mudança se relacionam, mas a variação está presente nos dois casos, enquanto a mudança se encontra apenas no primeiro caso. Essa relação entre a variação e a mudança é importante para mostrar que os dados que se encontram em variação no presente podem refletir algum tipo de mudança que ocorreu no passado, pois, de acordo com o princípio do uniformitarismo (2008 [1972], p. 317), as forças que operam para produzir a mudança lingüística hoje são do mesmo tipo e ordem de grandeza das que operaram no passado, há cinco ou dez mil anos. Desse modo, a análise da variação da colocação dos clíticos pronominais nos dados sincrônicos das três variedades do Português em estudo poderá, mesmo que indiretamente, refletir algum tipo de mudança que possa ter ocorrido no passado. Segundo Labov (2008 [1972]), a mudança em progresso pode ser estudada em tempo real ou em tempo aparente. A mudança em tempo real pode ser feita pelo estudo de painel ou pelo estudo de tendência. O primeiro consiste em fazer o recontato dos mesmos informantes em um período posterior, enquanto o segundo se vale da constituição de uma nova amostra que seja representativa do mesmo perfil de informantes. O estudo em tempo aparente que se baseia na observação do comportamento de diversos informantes com diferentes idades num dado espaço de tempo pode sinalizar a dinamicidade da mudança em progresso, uma vez que permite analisar as tendências de várias gerações de falantes, que adquiriram a língua em épocas diferentes. Destaca-se que, na presente investigação, só se desenvolve a observação da

68 68 mudança em tempo aparente, tendo em vista que se trata de informantes de diversas faixas etárias de uma mesma sincronia. Sendo assim, pretende-se verificar se o fenômeno ocorre da mesma maneira com os jovens e os idosos de cada continente. Acredita-se que, no PE e no PB, não haja muita diferença entre esses dois grupos, visto se tratar de fenômeno aparentemente bastante estabilizado nessas variedades. No entanto, com o PST, essa diferença pode ser significativa, tendo em vista que o contato linguístico com o Forro, pelo que indicam os resultados do último censo em São Tomé a que se teve acesso, vem diminuindo significativamente; assim, os jovens usariam bem menos o Forro, se comparados aos idosos. Ao analisar as diferenças e/ou as semelhanças entre os diferentes grupos etários num determinado momento do tempo, será possível perceber se está ocorrendo uma tendência a mudança linguística em progresso ou não. Segundo Labov (2008 [1972], p. 318), a combinação de evidências no tempo aparente e no tempo real é o método básico para o estudo da mudança em progresso. Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968]) buscam responder a questão de como a língua continua bem estruturada enquanto as mudanças estão ocorrendo. Assim, chegam à conclusão de que a heterogeneidade da língua é ordenada, como já foi dito anteriormente, e formulam cinco problemas (questões) para a investigação da mudança linguística, tornando possível, assim, relacionar os dados variáveis aos pressupostos teóricos. A seguir, os cinco problemas da mudança serão sinteticamente apresentados: (i) O problema dos fatores condicionantes ou das restrições para verificar a variação e a mudança linguística, é necessário tomar como base as variáveis linguísticas e extralínguísticas que possivelmente influenciariam / condicionariam a variação do fenômeno. Verifica-se, com essa questão, quais são as condições que poderiam favorecer ou restringir as mudanças e constatar quais são as possíveis mudanças. Estas seguiriam princípios universais e levariam à simplificação e à generalização das regras, tendo como base a estrutura social da língua. Por isso, o problema dos condicionantes que buscaria generalizações, tendências gerais, regularidades deve estar ligado ao problema do encaixamento que seria mais específico. (ii) O problema do encaixamento está ligado à estrutura linguística e social da comunidade de fala e seria mais específico que o problema anterior. Assim, há duas vertentes complementares: a) o encaixamento na estrutura

69 69 (iii) (iv) (v) linguística que verifica a variação linguística dos membros da comunidade de fala, considerando o grupo todo e não um indivíduo apenas, tendo em vista que uma mudança ocorre sempre em conjunto dentro de uma comunidade de fala; e b) o encaixamento na estrutura social que constata os elementos sociais que são importantes para a mudança linguística. Dessa forma, as mudanças vão acontecendo durante um período de tempo sem que cause prejuízo à comunicação dos indivíduos, fazendo com que eles continuem se comunicando muito bem, e, ao mesmo tempo, os fenômenos em mudança, vão se encaixando no sistema linguístico, sendo influenciados pelas estruturas linguísticas e sociais que estão encaixadas entre si. A junção das duas estruturas dá uma visão mais adequada do processo histórico da formação de uma língua. O problema da transição mostra como as mudanças passam de um momento para o outro e demonstra se seus estágios são discretos ou se são um continuum. Verifica, em especial, a transmissão de um fenômeno novo, mostrando como a mudança ocorreu ao longo do tempo, com as diferentes gerações desse período e com os distintos grupos sociais. Fica evidente, com o problema da transição, que a mudança não ocorre de maneira abrupta, mas de forma lenta e gradual a partir de um continuum ininterrupto de variação em que as formas variantes se alternam (formas conservadoras e inovadoras) e, depois de um certo período, uma variante se sobrepõe a outra, ocasionando, efetivamente, a mudança linguística. O problema da avaliação verifica como o falante avalia as mudanças, refere-se a sua avaliação subjetiva e consciente do fenômeno linguístico que está em variação/mudança. Há dois tipos de avaliação: a linguística e a social. Esta refere-se à atribuição de valores sociais a um determinado fenômeno linguístico, qualificando-o como algo positivo ou não, dependendo da avaliação que a sociedade possui dessas variantes, considerando-as como de prestígio ou estigmatizadas; aquela verifica a funcionalidade do fenômeno em variação e mostra sua eficiência, ou não, na língua. Determina-se, assim, em que medida a avaliação dos indivíduos pode influenciar no processo da mudança linguística. O problema da implementação mostra por que ocorreu a implementação da mudança em uma determinada língua e em um determinado período.

70 70 Investiga os estímulos e as restrições da comunidade de fala e da estrutura da língua para verificar o que realmente favoreceu a implementação da mudança e por que houve sua implementação em um determinado lugar e período e não em outro. Dessa forma, é possível compreender como se deu o processo, durante o tempo, de um certo fenômeno línguístico que estava em variação e passou a uma mudança, em determinada comunidade linguística. A partir dos cinco problemas investigados acima, cabe ressaltar que, apesar de terem sido analisados separadamente, eles sempre estão inter-relacionados, para que se possa ter uma análise mais efetiva da mudança linguística. No presente estudo, de todos os problemas citados, serão investigados, em especial, o problema das restrições ou fatores condicionantes e, consequentemente, o encaixamento, verificando quais as condições linguísticas e sociais que podem favorecer ou restringir a variação, de modo que se possa postular a opção preferencial em cada variedade em questão; e o problema da implementação, tendo em vista que se busca interpretar o que está ocorrendo na variedade são-tomense, ainda em formação, e, pelo princípio do uniformitarismo, algumas reflexões poderão ser feitas acerca do que teria acontecido na formação da variedade brasileira também. Dessa forma, com a interpretação dos resultados, relacionados em maior ou menor graus às questões das restrições, do encaixamento e da implementação, acredita-se que os objetivos mais originais da presente investigação poderão ser alcançados.

71 71 4. FORMAÇÃO HISTÓRICA E LINGUÍSTICA DAS VARIEDADES BRASILEIRA E SÃO-TOMENSE Dê-me um cigarro, diz a gramática do professor e do aluno e do mulato sabido mas o bom negro e o bom branco da nação brasileira dizem todos os dias deixa disso, camarada me dá um cigarro (Oswald de Andrade, 1922) Antes de abordar a formação histórica e linguística dos países colonizados, propõe-se a apresentação de alguns conceitos básicos referentes ao tratamento de situações de multilinguismo, que serão utilizados neste capítulo. Logo após, propõe-se uma breve exposição de fatos relativos à colonização no Brasil e em São Tomé, seguida pela descrição do Forro, principal crioulo utilizado em São Tomé; para finalizar, destacam-se algumas semelhanças na história linguística do PB e do PST Conceitos básicos Nesta parte, serão apresentadas algumas noções que serão utilizadas nos próximos capítulos, relativas a contato linguístico, crioulo, crioulização, transmissão linguística irregular, tese da deriva, entre outras. Antes de mostrar tais definições, é interessante compreender em quais ambientes elas, geralmente, ocorrem e, para tanto, o PB servirá como base para exemplificação. Destaca-se que não é o objetivo, da presente seção, defender uma ou outra tese relativa à formação do PB, mas abordar propostas teóricas sobre o assunto. Em diversos espaços territoriais, e muito comumente em países colonizados, há o que se chama multilinguismo, situação que envolve uma complexidade de situações e que ocorre pelo fato de diversos povos de diferentes regiões estarem em contato direto em uma determinada região. Desse modo, com esses diversos povos, há a convivência das diversas culturas, fazendo com que haja um ambiente em que muitas línguas são utilizadas. Assim, mediante a diversidade linguística que acomete o contato entres os povos e a necessidade de intercompreensão, pode nascer daí, dentre várias possibilidades, uma língua franca, um pidgin ou um crioulo. Língua franca é uma língua geral utilizada por um grupo multilíngue de pessoas de uma mesma região para se comunicarem. O Pidgin nasce quando vocábulos de uma ou mais línguas são utilizados na comunicação de diversas dessas pessoas, mas ele não é considerado língua porque não possui uma gramática estruturada e não se torna língua materna de ninguém. Quando esse pidgin se torna uma língua materna, com estruturas

72 72 e vocabulários consolidados, passa a ser um crioulo. Segundo Pereira (2006, p ), pode-se observar uma abordagem mais detalhada: Crioulos Os crioulos são línguas novas que emergem em comunidades onde previamente se desenvolveu um pidgin para a comunicação entre os falantes das diferentes línguas maternas em presença. Devido ao seu uso continuado, num número cada vez maior de situações, esse pidgin acaba por se reestruturar, complexificar e sistematizar, com a ajuda das novas gerações de crianças que o adoptam como língua materna, dando assim origem aos crioulos. Pidgin forma de linguagem criada por falantes de diferentes línguas maternas, convivendo em comunidades relativamente estáveis, quando se sentem obrigados, por razões de sobrevivência, a comunicar entre si, embora num conjunto restrito de situações. Para tanto, recorrem inicialmente a um léxico reduzido, em geral da língua do grupo dominante, que estruturam de forma idêntica à dos falantes adultos em fase inicial de aprendizagem de uma língua não materna, em contexto natural. Se os falantes acabam por adquirir plenamente a língua do grupo dominante, ou se deixam de ter necessidade de comunicar entre si, o pidgin desaparece. Se o pidgin é adoptado como língua materna da comunidade, complexifica-se, expande o seu léxico, torna-se mais sistemático e transforma-se num crioulo. Holm (2000, p. 6) também oferece esclarecimentos sobre a relação entre línguas crioulas e a pidginização, bem como sobre as condições que geralmente envolvem sociedades nessa situação de multilinguismo: Um crioulo tem um jargão ou um pidgin em sua ascendência; é falado nativamente por uma comunidade de fala inteira, comunidade cujos antepassados frequentemente foram deslocados geograficamente, de modo que seus laços com sua língua original e identidade sociocultural foram parcialmente quebrados. Tais condições sociais foram muitas vezes o resultado de escravidão. 11 Verifica-se, assim, que o crioulo nasce em um ambiente multilíngue e a expansão gramatical dessa variedade linguística [crioulo] que se forma na situação de contato decorrente principalmente dos processos de reestruturação original da gramática e da transferência de estruturas provenientes das línguas do substrato (LUCCHESI et alii, 2009, p. 107). Línguas do substrato referem-se às línguas dos povos dominados e, portanto, seria baseado nelas que o crioulo se formaria. Holm (2000, p. 8) também faz uma discussão acerca da relação entre pidgins e crioulos, chamando a atenção para a prudência que se deve ter quanto às considerações muitas vezes incipientes acerca desses estágios de formação linguística. Segundo o autor, Alguns linguistas fazem uma distinção entre a crioulização de um pidgin estendido, que é ao mesmo tempo social e linguisticamente gradual, e a crioulização de um pidgin jovem ou mesmo um jargão instável, chamado crioulização precoce 11 A creole has a jargon or a pidgin in its ancestry; it is spoken natively by an entire speech community, often one whose ancestors were displaced geographically so that their ties with their original language and sociocultural identity were partly broken. Such social conditions were often the result of slavery.

73 73 (Bickerton in Bickerton et alii, 1984) ou crioulização abrupta (Thomason and Kaufmann, 1988). Se crioulos caribenhos e outros tivessem crescido de fato a partir de variedades nativizadas ou de jargões pré-pidgin instáveis, então a definição clássica de um crioulo como "qualquer língua com um pidgin em sua ascendência" estaria tecnicamente errada. [...] No entanto, nosso conhecimento das fases iniciais de crioulos particulares normalmente é bastante modesto e baseado em especulação mais do que em evidência direta. Pode ser prudente certa reserva de juízo sobre essa questão. 12 Há duas interpretações que costumam ser muito debatidas sobre o nascimento de uma nova língua, com feições próprias, em situações de dominação político-econômica: uma que aposta na continuidade das características da língua do colonizador, que transferiria os padrões com adaptações; e outra que propõe que a nova língua sofreria processos de adaptações advindos sobretudo da situação de multilinguismo. No caso do PB, que se usa aqui como ilustração, já se propôs que houve uma língua crioula de base portuguesa no Brasil e, depois, poderia ter havido um processo de descrioulização, fazendo com que esse crioulo desse origem ao Português Brasileiro. Por isso, este teria algumas diferenças cruciais em relação ao Português Europeu. Uma segunda tese não proporia uma origem crioula, mas apostaria nas mudanças internas da língua; o PB seria, assim, o resultado de uma continuação da mudança que vem ocorrendo desde o latim vulgar. Desse modo, o PB seria diferente do PE porque o português carrega em si diversas possibilidades de mudanças estruturais; algumas delas se desenvolveram no Brasil e outras não; o mesmo vale, mutatis mutandis, para Portugal. (BASSO e GONÇALVES, 2014, p. 289). De acordo com Tarallo (apud BASSO e GONÇALVES, 2014), no Brasil, não teria ocorrido a descrioulização. Segundo o autor, essa ideia é problemática porque com o passar do tempo a distância entre as estruturas do PB e do PE só aumenta: se uma descrioulização estivesse em andamento, deveríamos esperar que o PB se aproximasse cada vez mais do PE, que afinal é o alvo da descrioulização, a gramática para a qual a língua crioula estaria rumando. Porém, tanto na língua escrita notadamente mais conservadora quanto na fala vernacular, o PB e PE vão se afastando. Sem essa aproximação entre o PB e PE, a ideia de descrioulização fica bastante enfraquecida e, por consequência, também a ideia de que houve um crioulo na base do português (p. 293). No que se refere à formação do PB, por exemplo, existem duas teses, mais difundidas, que abordam esse assunto: a tese da deriva e a tese da transmissão linguística 12 Some linguists distinguish between the creolization of an extended pidgin, which is both socially and linguistically gradual, and the creolization of an early pidgin or even an unstable jargon, called early creolization (Bickerton in Bickerton et alii, 1984) or abrupt creolization (Thomason and Kaufmann, 1988). If Caribbean and other creoles did indeed grow out of nativized varieties of unstable pre-pidgin jargons, then the classical definition of a creole as any language with a pidgin in its ancestry is technically wrong. [ ] However, our knowledge of the earlier stages of particular creoles is usually quite sketchy and based on speculation rather than direct evidence. It may be prudent to reserve judgement on this issue. (HOLM, 2000, p. 8).

74 74 irregular. Esta subdivide-se em duas: uma versão mais forte, que consistiria num processo de crioulização/descrioulização (GUY, 1981, 1989; HOLM, 2003), e uma versão mais leve (LUCCHESI et alii, 2009). A primeira defende que a aquisição da língua em situação de contato linguístico, originaria uma aquisição imperfeita. Assim, a transmissão linguística irregular designaria amplamente os processos históricos de contato maciço entre povos falantes de línguas tipologicamente diferenciadas, entre os séculos XVI e XIX, em decorrência da ação do colonialismo europeu na África, Ásia, América e Oceania. Nas diversas situações de dominação que se constituíram nesse contexto histórico, a língua do grupo dominante, denominada língua de superstrato ou língua-alvo, se impõe, de modo que os falantes de outras línguas, em sua maioria adultos, são forçados a adquiri-la em condições bastante adversas de aprendizado, em função de sua sujeitação e marginalização. As variedades de segunda língua que se formam nessas condições, mais ou menos defectivas consoante as especificidades de cada contexto histórico, acabam por fornecer os modelos para aquisição da língua materna para as novas gerações de falantes, na medida em que os grupos dominados vão abandonando as suas línguas nativas. (LUCCHESI et alii, 2009, p. 101) Essa transmissão ocorreria de maneira irregular e poderia formar uma língua crioula, que se designaria como um processo do tipo radical ou poderia dar origem a outra variedade da língua do povo dominante, que seria denominada de leve. Lucchesi, que é um dos defensores dessa tese, acredita que no Brasil a transmissão línguística que ocorreu foi do tipo leve, havendo, assim, a formação de uma variedade da língua-alvo afetada por mudanças induzidas pelo contato. (LUCCHESI et alii, 2009, p. 517). De acordo com Roberts (apud LUCCHESI et alii, 2009, p. 147), na transmissão linguística irregular, existem três propriedades dos sistemas linguísticos que seriam importantes: (i) as evidências para certos parâmetros parecem instáveis (como é o caso do parâmetro do sujeito nulo no PB culto e popular); (ii) a tendência a não realizar a morfologia flexional (como é o caso da variação de concordância no PB); (iii) as alterações em diversas estruturas da língua-alvo (como é o caso das estruturas relativas do PB, bem como algumas partículas gramaticais, como o artigo, as preposições e os clíticos). A tese da deriva é defendida por Naro e Scherre (2007), que acreditam na existência de confluência de motivos que levariam à deriva. Segundo os autores, no Brasil, os contextos sociais e linguísticos favoreceram a deriva, ou seja, essa confluência de motivos fizeram com que o PB acelerasse ou freasse a deriva linguística, mas de qualquer forma, se distanciasse do PE.

75 75 De acordo com Naro e Scherre (2007, p. 31), parece então improvável que tenha existido no Brasil uma língua pidgin ou crioula de base lexical portuguesa associada predominantemente com a etnia afro-brasileira ou ameríndia. Os autores destacam que Para dar conta da mudança que ocorreu no português brasileiro é o da CONFLUÊNCIA DE MOTIVAÇÕES, SEM CRIOULIZAÇÃO PRÉVIA do português, mas levando em conta a existência da língua geral (ou das línguas gerais) e da língua de preto prévias. (...) o português moderno brasileiro é o resultado natural da deriva secular inerente na língua trazida de Portugal, indubitavelmente exagerada no Brasil pela exuberância do contato de adultos, falantes de línguas das mais diversas origens, e da nativização desta língua pelas comunidades formadas por esses falantes e seus descendentes. (p. 85) Vale destacar que, independentemente da defesa de uma das duas teses, é inegável que o contato linguístico nas duas propostas é fator muito importante para as feições características do Português do Brasil. No próximo capítulo, será mostrada brevemente a história desse contato linguístico que foi muito importante no Brasil e também é em São Tomé, uma vez que o contato com diversas línguas interferiria diretamente nas feições das variedades em formação, fazendo com que nascesse uma variedade nos países colonizados que não possuiria, exatamente, as mesmas características da variedade do país colonizador Um pouco da história dos países colonizados Breve história de colonização no Brasil 13 Com a expansão marítimo-comercial, os portugueses, representados por Pedro Álvares Cabral, chegaram ao Novo Mundo (América), no território que hoje se chama brasileiro, no século XVI. O Brasil era habitado por variados povos indígenas, que viviam, especialmente, da caça e da pesca e utilizavam diversas línguas para se comunicarem. De acordo com Basso e Gonçalves (2014, p ): estima-se que a população indígena, por volta de 1500, girava em torno de 2 a 6 milhões de pessoas. Essa população, apesar da unidade tupi-guarani no litoral e em parte do interior, era bastante diversificada em termos culturais e linguísticos, e alguns pesquisadores creem que havia aqui nada menos que mil línguas indígenas no tempo do descobrimento. Sobretudo para a catequização por parte dos jesuítas, os portugueses valeram-se da chamada língua geral, utilizada nas missões pelos povos indígenas, em especial os da costa. Essa língua geral, mais tarde denominada de língua geral paulista, perdurou até o início do 13 Ressalta-se que o panorama histórico sobre o PB se baseou, além dos diversos textos sobre o assunto, principalmente, em Lucchesi et alii (2009).

76 76 século XVIII. Vale ressaltar que, também ao norte do país, havia a chamada Língua Geral Amazônica (LGA); essa língua, de base tupinambá, e atualmente chamada de nheengatu ( a língua/fala boa ), sobrevive em vários pontos da Região Amazônica e é, como dissemos, ainda hoje a língua oficial do município de São Gabriel da Cachoeira. (BASSO e GONÇALVES, 2014, p. 278). Com a colonização do território brasileiro pelos portugueses, em especial a partir de 1530, período em que surgiram as primeiras plantações de cana-de-açúcar, a mão de obra indígena foi utilizada abundantemente; contudo, com a maior facilidade dos povos indígenas de fugirem por conhecerem geograficamente o território e, principalmente, pelo lucro que o tráfico de escravos concedia aos colonizadores, a mão de obra indígena foi sendo substituída pela africana. O tráfico de escravos tornou-se mais uma fonte de lucros, além da produção de açúcar, para o governo e para os colonizadores portugueses. Dessa forma, vieram ao Brasil vários negros escravizados e, com eles, suas línguas e culturas. Nesse período, segundo Lobo & Oliveira (2009, p. 7), dá-se início ao tráfico de escravos que para aqui [Brasil] trará falantes de, aproximadamente, 200 a 300 línguas. De acordo com Raimundo (apud LUCCHESI et alii, 2009 p. 45), era permitido aos donos de engenho do Brasil o resgate de escravos da Costa da Guiné e da Ilha de São Tomé, por sua própria conta, até o limite de cento e vinte peças para cada engenho montado. No século XVIII, destaca-se, ainda, no Brasil, o ciclo da mineração. Assim, houve um deslocamento de grande contingente escravo do nordeste para o sudeste para trabalhar nas minerações, visto que a atividade açucareira no nordeste entra em declínio. Além disso, vários portugueses vieram para o Brasil, buscando o enriquecimento fácil. No que se refere às línguas de intercomunicação entre esses diversos grupos conviventes no país, cabe destacar que, na década de 1750, uma Provisão Real proibiu a utilização do tupi, consoante a reforma pombalina e a expulsão dos jesuítas do Brasil (LUCCHESI et alii, 2009, p. 48), fazendo com que o Português se tornasse, definitivamente, a língua oficial. Quando a família real veio para o Brasil, entre 1808 e 1821, o uso da Língua Portuguesa intensificou-se consideravelmente. Ao longo desse processo de intenso convívio entre línguas, diversos povos, para se aproximarem da cultura do branco, utilizavam a norma que fosse mais parecida com a língua do dominador. Assim, Lucchesi et alii (2009, p. 69) citam o exemplo dos mestiços, que possuíam mais facilidade de integração cultural e ascensão social, e mostram que: Os reflexos, no plano linguístico, desse esforço do mestiço em se integrar aos padrões culturais da sociedade branca são inegáveis; como atestado na observação

77 77 perspicaz (posto que um tanto quanto romântica) do conhecido poema de Oswald de Andrade, em que o negro e o bom brasileiro dizem me dá um cigarro, enquanto o mulato, mais realista que o rei, diz dá-me um cigarro. Após a independência, em 1822, inicia-se o período da Monarquia com Dom Pedro I e depois com seu sucessor Dom Pedro II. Somente em 1888 houve a abolição da escravidão e foi intensificada a vinda de mão de obra imigrante. Com isso, pessoas de diversos países trouxeram suas línguas e culturas para o Brasil. Segundo Lucchesi et alii (2009), o português que esses imigrantes italianos, japoneses, alemães, etc. aprenderam, ao chegar ao Brasil, era o português popular, com as mais profundas mudanças decorrentes do processo de transmissão linguística irregular por que este havia passado. (p. 55). O fim do período Monárquico, com o início da industrialização, chegou junto com a República em Esse período é marcado por uma urbanização crescente do território brasileiro, fazendo com que povos de diferentes nacionalidades convivessem muito mais proximamente. Em 1930, teve início a era Vargas, que durou até Logo depois, tem-se um período nacional desenvolvimentista, no qual se pode destacar o governo de Juscelino Kubitschek (JK) e a construção de Brasília para ser a capital do país. Nesse período, houve grande migração para o Planalto Central de diversas populações para a realização das obras da capital. Diversas estradas foram construídas ligando pontos distantes do país e levando ao contato mais intenso de diversas regiões. Dessa forma, houve a intensa migração nacional entre as regiões brasileiras e a vinda de diversos imigrantes ao Brasil. Com o intenso contato linguístico, que caracterizou toda a história de formação do Português do Brasil, diversas palavras indígenas, estruturas lexicais, expressões e a cultura dos povos africanos, além de expressões utilizadas pelos imigrantes foram incorporados à Língua Portuguesa do Brasil. Assim, o contato com os indígenas, africanos e imigrantes de diversas regiões favoreceu o chamado multilinguismo que contribuiu para a formação da identidade do Português Brasileiro. De acordo com Basso e Gonçalves (2014, p. 220), o multilinguismo parece ser a situação mais comum nos primeiros séculos da América Portuguesa. Línguas indígenas, línguas gerais, línguas africanas, línguas de imigrantes europeus e o português conviveram em solo brasileiro e, à sua maneira, contribuíram para a formação, constituição e fixação do que chamamos de português brasileiro (ou PB). Sabe-se que, no Brasil, por causa de sua grande extensão territorial (cf. Figura 1: Mapa do Brasil), é mais do que esperada certa variação regional. Esta pode estar relacionada ao grande fluxo migratório e ao tamanho geográfico desse país; pode-se entender melhor,

78 78 assim, por que o Brasil é um território pluridialetal e com certas diferenças linguísticas em diversas regiões. O contato linguístico, decorrente do processo de formação de sua nacionalidade, com diversos povos, fez com que a variação da língua aumentasse significativamente no território brasileiro e possivelmente trouxesse feições próprias. Essa é a proposta de alguns estudiosos do Português, como se observa em Basso e Gonçalves (2014), que afirmam que o PB é diferente do PE porque sofreu, ao longo de séculos, influências de outras línguas que não o português línguas indígenas, africanas, de outros imigrantes e por isso o PB mudou tanto em relação ao PE, que, por sua vez, não teve um contato tão próximo e constante com outras línguas. (p. 190). Conforme já se observou, no que se refere à formação do Português do Brasil, há duas teses diferentes e não compatíveis, que mostram que o PB teria nascido: (i) de uma transmissão linguística irregular ou (ii) de uma deriva (cf. Capítulo 4.1). Mesmo em se tratando de teses diferentes, nas duas o contato linguístico existente no Brasil é inegável e muito importante para a caracterização do PB. A primeira tese, da transmissão linguística irregular, é defendida por vários estudiosos que apresentam evidências de que o PB teria nascido e se formado a partir dessa transmissão defeituosa entre falantes de diferentes gerações. Segundo Lucchesi et alii (2009, p. 53) a língua portuguesa passava por drásticas alterações, sobretudo em função do processo de transmissão linguística irregular, desencadeado nas situações de contato entre línguas abrupto, massivo e radical, compreendendo a aquisição precária do português por parte dos índios e africanos, a sua socialização entre esses segmentos e a sua nativização, a partir desses modelos defectivos, entre os descendentes endógamos e mestiços desses índios aculturados e africanos escravizados. Basso e Gonçalves (2014) corroboram essa afirmação concluindo que no Brasil podemos supor que a transmissão lingüística se deu entre falantes, em sua imensa maioria adultos, distante de condições mínimas de aprendizado formal, sem esquecer o fato de que esses falantes provavelmente falavam outras línguas, como as indígenas e as africanas. (p. 298). A segunda tese, que seria da deriva, é defendida por Naro e Scherre (2007). Os autores reforçam que no Brasil as variações linguísticas ocorreram com mais vigor por causa do ambiente de intenso contato linguístico daqui, pois

79 79 (...) temos que levar em conta a dimensão tempo, ao longo da qual chegaram ao Brasil ondas de populações de diversas origens étnicas. Esses movimentos demográficos tiveram o efeito de reforçar certas forças arroladas acima e de inibir outras. (...) segundo nossa visão, o impulso motor do desenvolvimento do Português do Brasil veio já embutido na deriva secular da língua de Portugal. Se as sementes trazidas de lá germinaram mais rápido e cresceram mais fortes, é que as condições, aqui, mostraram-se mais propícias devido a uma CONFLUÊNCIA DE MOTIVOS. (p ) Assim, os autores defendem que as variações linguísticas e as modificações ocorridas na Língua Portuguesa do Brasil já estavam presentes em Portugal, ou seja, derivam do PE. E, na variedade brasileira, por causa do ambiente de intenso contato linguístico, houve uma expansão das mudanças com mais facilidade e rapidez que no continente europeu. Dessa forma, eles destacam que: O português brasileiro não é o português simplificado ou o português com influência africana; é o português com as suas raízes originais, rurais e populares, transplantado para uma terra mais fértil e conseqüentemente com um desenvolvimento mais intenso. Longe de ser um português crioulizado, o português do Brasil é o português radicalizado. (p. 186) Figura 1: Mapa do Brasil Mapa retirado do site:

80 Breve história de colonização em São Tomé São Tomé e Príncipe é o menor estado da África ocidental, está situado no Golfo da Guiné, no oceano Atlântico, e é um arquipélogo constituído de duas ilhas principais São Tomé e Príncipe mais 20 ilhéus e rochedos. Segundo Basso e Gonçalves (2014), as ilhas estiveram desabitadas até 1470, quando os navegadores portugueses João de Santarém e Pêro Escobar as descobriram, no final do século XV, e elas foram povoadas e colonizadas pelos portugueses. Estes trouxeram habitantes de outras partes do continente africano que eram utilizados como escravos na produção de cana-de-açúcar. A África passou a ser o maior exportador desse alimento na época; além disso, a ilha também servia como ponto de escala nas rotas de navegação, sendo um ponto estratégico, para o comércio de escravos. As circunstâncias em que se deu a origem de São Tomé e Príncipe foram propícias à crioulização, pois havia uma grande necessidade de os portugueses e de os escravos se comunicarem, havendo, sobretudo, um número maior de africanos. No século XIX, as plantações de café e cacau substituíram a cana-de-açúcar. São Tomé e Príncipe tornaram-se grandes produtores de cacau mundialmente conhecidos e esta continua sendo a cultura mais importante do país juntamente com o turismo e a exploração de petróleo a partir de Mesmo após a abolição da escravidão, em 1876, muitos habitantes continuavam trabalhando de forma escrava, e isso fez com que ocorresse uma rebelião em 1953 chamada de o Massacre de Batepa, na qual muitos foram mortos nos confrontos. Em 1975, houve a independência de São Tomé e Príncipe, logo após a queda do ditador Português Marcelo Caetano, na Revolução dos Cravos em No entanto, a primeira eleição democrática ocorreu apenas em Em São Tomé e Príncipe, há cerca de habitantes, incluindo vários imigrantes que vieram ao país desde São identificados sete grupos 15 : Mestiços, ou os chamados mulatos, descendentes de colonos e escravos Africanos trazidos para as ilhas durante os primeiros anos de assentamento do Benim, Gabão e Congo (essas pessoas também são conhecidos como Filhos da Terra). Angolares, supostamente descendentes de escravos angolanos que sobreviveram a um naufrágio 1540 e agora ganham a pesca de subsistência; Forros, descendentes de escravos libertos quando a escravidão foi abolida; Serviçais, trabalhadores contratados de Angola, Moçambique e Cabo Verde, que vivem temporariamente nas ilhas; Tongas, filhos de serviçais nascidos nas ilhas; 15 Dados retirados do site:

81 81 Europeus, principalmente portugueses; Asiáticos, incluindo pessoas de ascendência macaense e chinesa Português misto de Macau. Verifica-se, assim, com a mistura de tantos povos, em um espaço tão pequeno de terra 16, que a riqueza cultural das ilhas se origina dessa miscigenação entre os portugueses e nativos que vieram da costa do Golfo da Guiné, Angola, Cabo Verde e Moçambique. Além das duas principais ilhas São Tomé e Príncipe, há outros ilhéus menores que fazem parte do território, num total de aproximadamente 1000 km² de extensão, fazendo de São Tomé e Príncipe o segundo menor país africano em território. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), quase metade da população vive abaixo da linha da pobreza. O idioma oficial é o Português, mas também há diversas línguas regionais que convivem com a Língua Portuguesa, configurando o multilinguismo presente no país. Sendo assim, o Português é a língua oficial, mas o Forro (ou são-tomense) também é utilizado pela população e o Crioulo (cabo-verdiano) usado pelos carboverdianos e seus descendentes é a terceira língua mais falada nas ilhas. Além dessas línguas, também são utilizadas: o angolar, o tonga e o monco (ou principense) que são faladas pelos habitantes 17 : O Forro (ou são-tomense) é um crioulo de origem portuguesa, que se originou da mistura da antiga língua utilizada pela população livre e mestiça das cidades. O angolar é um outro crioulo de base portuguesa, mas com mais termos de origem bantu e chegou às ilhas no século XVI depois do naufrágio de um barco de escravos angolanos perto da região e muitos desses escravos conseguiram nadar até o território e formaram um grupo étnico a parte. No entanto, há muita semelhança cerca de 78% entre o Forro e o angolar. O tonga é um crioulo formado com base no português e em outras línguas da África, e é utilizado pela comunidade descendente dos trabalhadores oriundos de outros países africanos (como Angola, Moçambique e Cabo-Verde). O cabo-verdiano é o crioulo trazido por milhares de cabo-verdianos que vieram para o país para trabalharem na agricultura no século XX. O monco (Lung ie ou principense) é utilizado na Ilha de Príncipe e originou-se da Língua Portuguesa com acréscimos de outras línguas indo-européias. Verifica-se, assim, a intensa diversidade linguística presente em São Tomé e Príncipe. Segundo Hagemeijer (2009, p. 1), apesar do espaço geográfico limitado e do reduzido número de habitantes, as ilhas de S. Tomé e Príncipe são autênticas ilhas de Babel. Essa diversidade linguística está diretamente relacionada aos dois ciclos presentes na história das ilhas, já mencionados anteriormente: o ciclo da cana-de-açúcar no século XVII e o ciclo do café e do cacau nos séculos XIX e XX. De acordo com o autor: é fácil perceber 16 Ver Figura 2: Mapa de São Tomé e Príncipe. 17 Dados retirados de Hagemeijer (2009) e do site:

82 82 que as ilhas vivem actualmente uma situação de multilinguismo. Basta analisar os dados estatísticos para perceber que a maioria da população sabe falar duas línguas ou até mais línguas (p. 18), como se pode verificar na tabela abaixo retirada de Hagemeijer (2009, p. 18): Pessoas > 5 anos Português Santomé Lung ie Outras línguas ,8% 73,5% 1,6% 13,4% ,599 98,9% 72,4% 2,4% 12,8% Tabela 4: Dados sobre as línguas faladas censos de 1991 e de 2001 da população com mais de 5 anos segundo Hagemeijer (2009) Constata-se, assim, que o Português é a língua mais falada e isso, segundo Hagemeijer (2009), está se intensificando em relação às línguas crioulas da região: A maior mobilidade social, à qual não é alheio o fenómeno da emigração, o acesso generalizado ao ensino e aos meios de comunicação na língua oficial, a ausência de políticas orientadas para as línguas crioulas, assim remetidas à informalidade e à oralidade, são factores que têm desfavorecido cada vez mais as línguas minoritárias das ilhas. O censo de 2001 referente à língua falada por grupo etário mostra, por exemplo, que entre os jovens com menos de 20 anos há uma quebra acentuada do número de falantes que alega falar o Santomé. (p. 19). De acordo com o CENSO de , a tabela anterior poderá ser ampliada com informações mais atuais sobre a realidade populacional e linguística de São Tomé, como se pode verificar abaixo: Pessoas > 5 anos Português Santomé Lung ie Outras línguas (Forro) ,8% 73,5% 1,6% 13,4% ,599 98,9% 72,4% 2,4% 12,8% ,356 98,4% 36,2% 1,0% 26,9% Tabela 5: Dados sobre as línguas faladas censos de 1991, de 2001 e de 2012 segundo censo de Dados retirados do site: NAIS%20%20DA%20POPULACAO%20Recenseamento% pdf

83 83 No site Central Intelligence Agency (CIA) 19, em que há informações mais atualizadas, verificou-se que, em julho de 2015, havia 194,006 habitantes no total populacional. De acordo com as informações do Censo oferecidas na Tabela 5, a Língua Portuguesa continuaria sendo a mais utilizada em São Tomé, com o passar dos anos, e, curiosamente, ocorreria grande diminuição, em níveis percentuais, da utilização do Forro, tendo em vista que em 2001 ele seria falado por 72,4% dos habitantes e, em 2012, passaria a ser utilizado por apenas 36,2% dos falantes. Além do Forro, o Lung ie também teria diminuido consideravelmente seu emprego, de 2,4% para 1%. Como se pode observar, segundo o Censo, está havendo uma drástica redução do uso das línguas locais e um aumento muito expressivo do Português. A esse respeito, é importante apontar que não se teve acesso às perguntas e aos critérios de recolhas de informações linguísticas utilizados pelos organizadores do Censo, o que certamente influencia os resultados obtidos nesse tipo de pesquisa. De todo modo, embora não se possa avaliar a efetiva representatividade dos índices apresentados, entende-se ser essa uma fonte relevante no que se refere à indicação de clara tendência ao aumento do uso do Português e à diminuição do uso das línguas locais, sobretudo do Forro. Vale ressaltar que se manteve a categoria denominada outras línguas da tabela anterior com os dados oferecidos por Hagemeijer (2009, p. 18), para que pudesse ser feita uma comparação depois de tantos anos. No entanto, quando se fala em outras línguas, a comparação não poderia ser tão fiel, tendo em vista que não se sabe quais seriam as outras línguas a que Hagemeijer faz referência. A parte referente às demais línguas, no CENSO de 2012, refere-se às seguintes: Cabo Verdiano: 8,5%, Francês: 6,8%, Angolar: 6,6%, Inglês: 5%. Assim, apesar de o Forro, como já foi mencionado anteriormente, ser conhecido e utilizado pela maioria da população, a Língua Portuguesa está cada vez mais sendo utilizada pelos são-tomenses. Segundo Petter & Fiorin (2008, p. 68), para alguns, falar português bem pode ter sido um objetivo que permitiria atingir funções mais gratificantes; geralmente as mulheres falam uma língua mais afastada do português padrão. A escolarização recente das crianças tem um impacto não somente sobre o português que elas falam mas também sobre o de seus pais, o que introduz novas variações no seio da comunidade. 19 Dados retirados do site:

84 84 Segundo Hagemeijer (2009), São Tomé e Príncipe é o único país de Língua Portuguesa da África em que a maioria de seus habitantes tem o Português como L1. No entanto, na prática, é preciso atentar para o fato de que há diversos registros do Português, ou seja, um mais próximo do PE e outro em que há certo grau de influência dos crioulos, dependendo do nível de escolaridade, social e econômico. Segundo Mata (2009, p. 14), As interferências das línguas crioulas, sobretudo do crioulo do Forro, fazem-se perceptíveis na sintaxe, na fonologia, na semântica e na prosódia do português oral, criando uma grande distância entre a língua falada ao nível informal e a língua falada em situações formais (no discurso político, na comunicação social, na Igreja, na Escola). E a distância é ainda maior quando se trata da língua escrita, que é a língua de estudo e do Estado. De acordo com o CENSO 2012, os dados revelam que em S. Tomé e Príncipe o Português é a língua mais falada ao nível nacional e igualmente no meio urbano e rural. (p. 12). Além disso, seria a língua mais utilizada pela população jovem que não utilizaria muito o Forro, enquanto as pessoas com mais de 50 anos usariam um pouco menos o Português e um pouco mais o Forro. De acordo com Pontífice (apud MATA, 2009, p ), com base em um dos trabalhos de Pontífice em 1991, a autora verificou que as crianças: Geralmente provenientes das camadas económicas e socialmente mais desfavorecidas e de famílias com baixo grau de instrução, [as crianças] encontramse numa das seguintes situações: a) no seio da família exprimem-se única e exclusivamente em português (deturpado); b) o meio familiar é bilingue, todavia as crianças não são bilingues na medida em que não são falantes activos de duas línguas. Atentemos no caso do Forro em que podemos falar com relativa segurança: as crianças entendem-no mas não o falam. Aprendem, por imersão total no meio familiar, as suas estruturas, adquirindo uma certa performance mas não atingem a competência, isto é, não são capazes de o falar. É frequente assistirmos à cena em que, numa conversa bem longa entre um adulto e uma criança, aquele fala em Forro e esta português, mesmo que deturpado. (PONTÍFICE, 1991, p. 89) De acordo com Pereira (2006, p. 62), Em S. Tomé há muitas famílias que evitam o uso do Forro e procuram que os seus filhos adquiram Português desde a infância. Dessa forma, acredita-se que os crioulos que hoje existem, tendem a desaparecer, pois os jovens e as crianças não se interessam em aprendê-los, havendo sua utilização bem reduzida (cf. CENSO 2012). Além disso, as famílias estão, cada vez mais, influenciando, em geral, o uso da Língua Portuguesa para que seus filhos possam ascender socialmente (PETTER & FIORIN, 2008). Os próprios informantes do corpus utilizados na presente pesquisa relatam que o Português é a língua materna e que, na infância, os pais ficavam irritados ou proibiam que

85 85 eles falassem outra língua que não fosse o Português, como se pode verificar nos depoimentos abaixo: I: não sei, bom naquela altura a gente, por exemplo, eu vejo a casa que, por exemplo, se estiveres a falar dialecto mãe zanga, diz não precisa falar essa língua não, a gente tem que aprender a falar português, não sei quê mas eu acho que aprender dialecto também é bom, porque o dialecto também é eu nasci e ouvi dizer que dialecto é nossa língua mas apesar que nasci a gente fala mais português que mas T: Sempre falou mais português? I: Sim, (...) T: E e achas que ago& hoje, não é, comparando com o passado, achas que hoje há menos pessoas que falam essa língua ou está está igual? I: Eu acho que está há menos, né, porque antigamente pessoa falava mais dialecto nossas avós usavam mais o di&, mais dialecto mas com cada vez com a evolução de escola, então jovens, estamos a crescer mas a falar a aproximar para português do que dialecto. [ST-A-1-M] S quer dizer a mãe não, mas pronto a mãe gostava, era uma ideologia que nós tínhamos que estudar depois, essas coisas todas, ela não queria que nós voltássemos para para para o Forro e depois perder o feed-back do desenvolvimento e então ela falava mais português mas com a minha avó, os meus tios falavam sempre Forro. [ST-A-2-H] S: entender eu entendo mas não sei falar muito bem o crioulo porque muitas vezes eu tenho às vezes posso misturar o crioulo com o português e não fica muito bem correcto. [ST-A-2-M] G: Eu acho que a língua Forro está a ficar um pouco mais aportuguesada, não é o português que está a ficar Forro, nada disso, porquê? Porque a influência do português está cada vez mais dominante, está cada vez mais dominante. [ST-A-3-H] D: de casa quando era pequeno... falava português? L: sempre português D: sempre português L: porque nós sabemos/ nós vivemos a educação colonial portanto era proibido falar na escola os meus pais não queriam que eu na escola não tivesse dificuldade na aprendizagem então eu tinha que falar português em casa para ser meu hábito falar português ouvir e perceber bem os Meus professores... portanto mas todavia como eu tinha por exemplo avó que era analfabeta portanto tinha que falar a língua nacional portanto aí portanto fui ouvindo e ouvir todos os dias claro que a gente aprende portanto foi aí que eu aprendi. [ST-B-3-H] Assim, as línguas crioulas das ilhas por não serem o idioma oficial, não possuírem uma ortografia própria e divulgada para a população (cf. HAGEMEIJER, 2009), serem utilizadas apenas nos registros sobretudo de fala informal, e não serem muito utilizadas pelos jovens tendem a desaparecer, uma vez que o número de pessoas que utilizam e sabem o Forro diminuiu pela metade, conforme confirma o CENSO de Destaca-se, também, que ainda não há tentativas oficiais que identifiquem a ortografia das línguas locais. Assim, acredita-se que elas podem mesmo se extinguir, se não houver uma política linguística que contribua para sua manutenção.

86 86 Figura 2: Mapa de São Tomé e Príncipe Descrição do Forro e a colocação pronominal De acordo com Petter & Fiorin (2008), A ilha de São Tomé foi descoberta pelos portugueses no fim do século XV e efetivamente povoada a partir do início do século XVI. Nesse primeiro povoamento, dois crioulos, que são ainda falados, nasceram: a lungwa santomé ou o Forro e lunga ngola ou angolar (p ). Segundo Holm (2000, p.72): Angolar, chamado ngola por seus falantes, é um crioulo de base portuguesa falado pelos Angolares, na ilha de São Tomé. Eles constituem um grupo etnolinguístico minoritário, configurando menos de 10% da população da ilha. Mantiveram-se distintos da população geral de Forro (literalmente 'libertos'), i. e. dos crioulos da mesma ilha que falam São-tomense Mapa retirado do site: pt.mapsofworld.com/sao-tome-principe/ 21 Angolar, called ngola by its speakers, is a Portuguese-based creole spoken by the Angolares on the island of São Tomé. They constitute an ethnolinguistic minority group making up under 10% of the island s population. They have remained distinct from the general population of Forro (literally freedmen ), i. e. the creoles of the same island who speak São Tomense.

87 87 O Forro das ilhas de São Tomé e Príncipe derivou de um crioulo com base no Português. Pereira (2006) mostra que, para que uma língua seja considerada um crioulo, os falantes ou os pesquisadores da língua devem denominá-la como tal. No entanto, por vezes, não existe coincidência entre falantes e linguistas. Os santomenses, por exemplo, dizem que falam Lungwa Santomé (Língua Santomé) ou Forro, ou mesmo dialecto, mas nunca chamam à sua língua crioulo. No entanto, para os linguistas, o Forro de São Tomé é um crioulo, tal como o Principense (da ilha de Príncipe) ou o cabo-verdiano. Esta classificação tem por base um conjunto de critérios que assentam, sobretudo, no processo de formação destas línguas, em contextos sociolinguísticos excepcionais. (p. 22) as línguas locais: De acordo com o CENSO de 2012, o português é a língua oficial que conviveria com Efectivamente, o português é, além da língua oficial de trabalho, e portanto, utilizada nos documentos oficiais, a língua de comunicação mais utilizada e considerada por grande parte da população como língua materna. As línguas locais, utilizadas em paralelo com o português, são apelidadas de crioulo, por terem fortes raízes na língua portuguesa, e, geralmente não são escritas. Dessas línguas destacam-se o Fôrro, o Angolar e o Lunguié. (p. 74) Basso e Gonçalves (2014) explicam um pouco sobre os crioulos afro-portugueses de São Tomé e confirmam que a língua oficial de São Tomé e Príncipe é o Português; porém, ao lado do Português há o Forro ou São-tomense, um crioulo de base portuguesa, com influência de línguas do grupo Kwa, falado por praticamente toda a população do país (p ). Para que se possa conhecer um pouco mais sobre o Forro, serão mostradas algumas contribuições do trabalho de Ferraz (1979), que estudou e descreveu, cuidadosamente, esse crioulo durante sua estadia nas ilhas, fazendo comparações com outras línguas locais e mostrando várias características elementares do Forro. Não se tem conhecimento de outro trabalho que tenha feito um panorama tão detalhado sobre o São-tomense 22. Ferraz (1979) destaca que há quatro línguas faladas no Golfo da Guiné, sendo três em São Tomé, e todas possuem como base o Português. Trata-se, na realidade, de três ilhas: a de São Tomé, onde se falaria o São-tomense (mais ao norte) e o angolar (mais ao sul); a ilha de Príncipe, na qual se falaria o principense; e a ilha do Anno Bom, onde se falaria o annobonense. Apesar de serem quatro tipos de crioulos, o autor destaca o fato de os quatro possuírem muitas palavras do léxico em comum e com base no Português. Em relação à 22 Nessa descrição do crioulo de São Tomé mais falado, serão utilizados como sinônimos os vocábulos crioulo, Forro e São-tomense.

88 88 fonologia, as diferenças são significativas e, do ponto de vista gramatical, as diferenças já não seriam tão grandes. Em seu texto, Ferraz mostra diversas características importantes sobre o crioulo Sãotomense, que é falado pela maioria dos habitantes de São Tomé, e mostra diversos aspectos relevantes que estão presentes na fonologia, morfologia e sintaxe dessa língua. O autor destaca que a maioria do léxico do Forro veio do Português, mas esse crioulo possui muita influência africana também, principalmente na fonologia e na sintaxe, que são bem parecidas com as do Bantu e Kwa, que são grupos linguísticos da Costa Oeste Africana. Além disso, ele destaca que o crioulo demorou, aproximadamente, 80 anos para a formação e consolidação, e possuiria, então, mais ou menos 400 anos. Em relação à utilização dos pronomes pessoais sujeitos, Ferraz destaca o fato de o crioulo ter mais de uma forma de expressar os pronomes pessoais, diferentemente do que ocorre com o Português; por exemplo, a primeira pessoa do singular, em Português, sempre será eu, mas, no Forro, teria diversas formas para expressar o mesmo pronome. Observe, abaixo, o quadro, retirado de Ferraz (1979, p. 62), que mostra os pronomes sujeitos e objetos: Os pronomes pessoais objetos seriam mais simples no Forro que em Português, tendo em vista que este idioma possui diversas formas e regras que não existem no crioulo. O

89 89 autor cita algumas dessas construções que existem no Português e não são encontradas no Forro (FERRAZ, 1979, p ) 23 : (a) Diferentemente do Português, São-tomense não possui conjuntos de pronomes objetos acentuados e não acentuados para distinguir respectivamente objetos de preposições dos objetos de verbos, como ocorre nos seguintes exemplos do Português: Ptg dá-me give me (átono) Para mim for me (tônico) Comigo with me (tônico) (b) São-tomense não tem pronomes objetos infixais como encontrados nos tempos futuros e condicionais do Português, como pode ser ilustrado pelos seguintes exemplos : Ptg dá-lo-ei I Will give it da-lo-ia I would give it cf. ST nga da e I-ka give it I will give it (c) Os objetos pronomes de São-tomense não mudam a posição na sentença, como ocorre em Português. Eles sempre seguem o verbo ou a preposição de que são objetos, diferentemente do Português, em que transformações diversas acarretam uma mudança na posição do pronome objeto. Se por exemplo, a transformação negativa é aplicada em Português, o pronome objeto muda da posição pós-verbal para a préverbal, como em: 23 (a) Unlike Portuguese, ST does not have sets of stressed and unstressed object pronouns to distinguish respectively objects of prepositions from objects of verbs, such as occur in the following Portuguese examples: Ptg dá-me give me (unstressed) Para mim for me (stressed) Comigo with me (stressed) (b) ST does not have the infixal object pronouns found in the Portuguese future and conditional tenses, as may be illustrated by the following exemples: Ptg dá-lo-ei I Will give it da-lo-ia I would give it cf. ST nga da e I-ka give it I will give it (c) The object pronouns of ST do not change position in the sentence, as occurs in Portuguese. They always follow the verb or the preposition of which they are objects, unlike Portuguese, where several transformations entail a change in the position of the object pronoun. If, for instance, the negative transformation is applied in Portuguese, the object pronoun changes from post verbal to pre verbal position, as in: Ptg dei-o "I gave it", ndo o dei "I did not give it (d) There is no equivalent category in ST for the Portuguese sets of possessives (meu, teu, seu, etc.). In ST the object pronouns are used to indicate genitive relationships, as in: ST e be mu "He sees me." lu mõ mu (brother me) "my brother".

90 90 Ptg dei-o "I gave it", não o dei "I did not give it (d) Não existe uma categoria equivalente em São-tomense para a série de possessivos do Português (meu, teu, seu etc.). Em São-tomense, os pronomes objetos são usados para expressar relações genitivas, como em: ST e be mu "He sees me." lu mõ mu (brother me) "my brother" Além dessas informações, o autor ressalta que não há pronomes reflexivos no Forro (FERRAZ, 1979, p. 110). Com base no quadro pronominal apresentado e nos quatro tópicos acima, algumas informações sobre o Forro interessam particularmente ao presente trabalho: (i) primeiramente, as formas pronominais sujeito e complementos, bem como complementos verbais e preposicionais podem ser as mesmas ou semelhantes; (ii) não ocorre a mesóclise; (iii) o pronome objeto sempre se encontra na posição depois do verbo ou da preposição, não havendo efeitos de partículas proclisadoras. Num trabalho comparativo entre o crioulo utilizado na Alta Guiné e no Golfo da Guiné, Hagemeijer & Alexandre (2012) também verificaram que o sistema pronominal, nas línguas das duas regiões, apresentaria formas parecidas para as posições sujeito e objeto, e mostraram os seguintes exemplos (HAGEMEIJER & ALEXANDRE, 2012, p. 243):

91 91 Ao que parece, em relação à colocação pronominal, os pronomes objetos fracos parecem estar sempre depois do verbo, confirmando os resultados de Ferraz (1979). Além disso, os autores propõem uma diferença importante entre o comportamento dos pronomes fracos dos crioulos da Alta Guiné e o dos pronomes dos crioulos do Golfo da Guiné, onde se inclui o Forro: enquanto os primeiros seriam sintáticos, os últimos assumiriam o estatudo de clíticos fonológicos: O funcionamento do sistema pronominal dos CAG e dos CGG é, no entanto, bastante distinto. Tem-se argumentado que os pronomes fracos dos CAG se comportam como clíticos sintácticos (Baptista 2002; Pratas 2004), enquanto os mesmos pronomes nos CGG têm o estatuto de clíticos fonológicos (Hagemeijer 2007). Além disso, a oposição entre pronomes fortes e fracos abrange apenas uma parte do paradigma pronominal nos CGG e o paradigma no seu todo nos CAG. (p. 244) Propõe-se, assim, que, no Golfo da Guiné, provavelmente, haveria clíticos fonológicos. Ao consultar a tese de doutorado do referido autor (HAGEMEIJER, 2007), verificou-se que haveria, em São-tomense, uma ligação do pronome para a esquerda, como se confirma a seguir: Um dos argumentos usados por Deprez (1994) em sua argumentação contra os clíticos sintáticos no Haitiano é o comportamento dos clíticos objetos nessa língua. As posições dos objetos corroboram que pronomes podem cliticizar-se à esquerda, mas sem estarem relacionados com o movimento do verbo. A esse respeito, um paralelo pode ser estabelecido entre Santome e o Haitiano. Note-se, em primeiro lugar, que o paradigma de sujeito e objeto são virtualmente idênticos em suas formas. 24 (HAGEMEIJER, 2007, p. 38) O autor compara os pronomes fracos do Haitiano com os de São-tomense, mostrando que, nos dois, haveria a realização de clíticos fonológicos. Para confirmar sua constatação, o autor ressalta (HAGEMEIJER, 2007, p ) que as formas fortes não podem ocorrer na posição do objecto, como mostram os exemplos que se seguem 25 : 24 One of the arguments used by Déprez (1994) in her argumentation against syntactic clitics in Haitian is the behavior of object clitics in that language. Object positions corroborate that pronouns may cliticize to the left but without being related to verb movement. In this respect, a parallel can be established between Santome and Haitian. Note in the first place that the subject and object paradigm are virtually identical in form. 25 Strong forms cannot occur in object position, as shown by the following examples.

92 92 Verifica-se, assim, que, na realidade, a cliticização fonológica é sensível ao fraseamento fonológico, que, por sua vez, é sensível ao bracketing sintático. Foi mostrado que o pronome sujeito n se cliticiza para a direita, enquanto os pronomes objetos se cliticizam para a esquerda 26 (grifo nosso) (HAGEMEIJER, 2007, p. 40). O autor mostra que a cliticização para a esquerda fica claramente explícita com os pronomes fracos da 3SG, que sofrem diversos processos fonológicos (harmonização vocálica, semivocalização e contrações), como mostram os exemplos a seguir (HAGEMEIJER, 2007, p. 40): Logo após, o autor reafirma que os pronomes objetos confirmam a importância da cliticização fonológica em São Tomé 27. Dessa forma, de acordo com todo o exposto acima, baseado em Ferraz (1979) e Hagemeijer (2007), os pronomes objetos fracos no Forro serão considerados como possíveis clíticos fonológicos que ocorreriam em posição pós-verbal. Para finalizar essa parte sobre a descrição do Forro, a título de curiosidade quanto a como se escreveria nas línguas acima mencionadas, retirou-se de Pereira (2006, p. 39) uma 26 In fact, phonological cliticization is sensitive to phonological phrasing, which on its turn is sensitive to syntactic bracketing. It was shown that subject pronoun n cliticizes rightwards, whereas object pronouns cliticize leftwards. 27 Hence, object pronouns confirm the importance of phonological cliticization in Santome, but also confirm that the behavior of subject 1sg n cannot be explained by phonology alone.

93 93 parte do poema clássico de Camões com uma tentativa de representar graficamente tais línguas: o Forro de São Tomé e o Lung ie do Príncipe: Amor é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente é dor que desatina sem doer. (Luís de Camões) Amuêlê sá ua Fôgô cu cá lêdê sê pá abê; ê sá flida cucá dá dôlô, magi ê Sá mó fingui lóló; ê sua contentamento sê contento, ê sá dôlô cucá fé a tlapaiá sê pá a sêbê. (Tradução, para Forro de São Tomé, de Guslário de Almeida) Amoê fôgô ua kiçá rêdê kia sa vê-fá; ê flida ua kça dá dô maji açá chintchi-fá; ê contentamento ua xi contento, ê ká dá dô kia tapaia xi pá sêbê. (Tradução, para o Lung ie do Príncipe, de Lucília Lavres) Semelhanças na história linguística dos países colonizados (PB e PST) Depois desse breve panorama histórico e linguístico, referente à formação do Português do Brasil e de São Tomé, pode-se perceber que a história de colonização e do contato com diversos povos e culturas constitui fator fundamental na diferenciação entre a história de formação dessas variedades do Português. Esse contato com os diferentes povos fez com que a língua do colonizador fosse influenciada pelas línguas dos povos que habitavam ou vieram para o Brasil, na época da colonização e nos séculos seguintes, fazendo com que esse contato influenciasse diretamente o PB em formação. Em São Tomé, o contato com diversos povos que foram levados para as ilhas também influenciaria diretamente a formação do PST. Essa influência, que ocorreu nos dois países durante muitos séculos, faz com que o Português utilizado nos países colonizados não seja exatamente igual ao do país colonizador. No PB, em que a Língua Portuguesa já está edificada, verifica-se essa diferença muito claramente, principalmente na modalidade oral. No PST, país em que a Língua Portuguesa ainda está em formação, também se verificam algumas diferenças em relação à língua do país colonizador.

94 94 Vários linguistas verificaram algum tipo de aproximação da história da língua no Brasil e em São Tomé. Segundo Lucchesi et alii (2009), no PB e no PST, não ocorreu a perda de morfologia flexional porque nos casos de uma transmissão linguística irregular mais leve (a exemplo do crioulo francês da Ilha de Reunião, o inglês de Singapura, o português de Maputo, em Moçambique, e o português dos tongas de São Tomé), não se configura um quadro de eliminação em níveis tão categóricos, mas um quadro de variação mais ou menos intenso conforme o caso. (p. 124) Holm (apud NARO e SCHERRE, 2007, p. 184) ressalta que parece provável que a alternância (ente [l] e [r]) do PPB [português popular do Brasil] seja TAMBÉM o resultado de influência crioula, alegando a existência do mesmo fenômeno em diversas línguas de substrato africano, em especial na língua crioula de São Tomé Ferraz (1979) também compara o PB e o PST, mostrando que a dupla negação que ocorre no Português do Brasil, também ocorre nos crioulos de São Tomé e, provavelmente, ocorra nos dois países por causa da influência da língua africana utilizada em diversos séculos nos dois continentes. De acordo com Baxter et alii (1998, p. 98), o Português do Brasil teve um contexo sociolinguístico caracterizado por três fatores principais: (i) por situação de contato entre diversas variedades do Português e as línguas ameríndias e africanas, (ii) pelo bilinguismo, e (iii) pelo domínio do Português e o gradual abandono das outras línguas. O autor ressalta que esses não são os únicos parâmetros, mas são os mais relevantes para a construção do PB. Ele destaca que o terceiro deles, no Brasil, implicaria três fatores: (i) (ii) (iii) a mudança de língua criou uma considerável população de falantes africanos e indígenas de variedades L2 do português; estas variedades L2 do português teriam construído um modelo estímulo potencial para a aquisição L1 do português por descendentes de africanos e índios; As variedades L1 e L2 do português faladas por africanos e índios ou pelos seus descendentes teriam fornecido um modelo-estímulo potencial para fases posteriores da aquisição do português como L2 e L1 dentro destes dois grupos. (BAXTER et alii, 1998, p. 98) Com base nos argumentos acima, acredita-se que o que ocorreu com o PB poderá ocorrer com o PST, ou seja, supõe-se que, daqui a alguns anos ou séculos, o Português poderá ser o idioma utilizado por todos em São Tomé e os crioulos, existentes hoje, deixariam de existir como língua, mas permanecerão de forma indireta dentro da Língua Portuguesa que se formará, como afirma Hagemeijer (2009, p ): muito mais significativo é, no entanto, o impacto do Santome no Português porque, além de influência lexical, a gramática do crioulo penetra a língua oficial a todos os níveis (e. g. Afonso, 2008). Em vez de existir uma diglossia exemplar entre os

95 95 crioulos, por um lado, e o português, por outro, esta parece estar a fundir-se no Português local. Por isso, de acordo com Hagemeijer & Gonçalves (2015, p. 9), o Português de São Tomé e Príncipe estaria passando de L2 para L1: São Tomé e Príncipe sofreu uma transformação linguística e sociolinguística a partir do último quartel do século XIX que se traduz atualmente na hegemonia do português em detrimento das línguas crioulas autóctones. Esta transição histórica de português L2 para português L1 reflete-se nas características que hoje constituem o português de São Tomé.

96 96 5. ASPECTOS METODOLÓGICOS Neste capítulo, serão apresentados os problemas e as hipóteses, além da justificativa, que norteiam a presente pesquisa. Os procedimentos para a análise dos dados, assim como a descrição do corpus também serão expostos nesta parte, com a apresentação detalhada das variáveis em estudo tanto a dependente como as independentes (extralinguísticas e linguísticas) Justificativa, problemas e hipóteses Com o levantamento dos resultados das pesquisas sobre o fenômeno (cf. Capítulo A colocação pronominal segundo as pesquisas linguísticas), foi possível verificar que apenas os trabalhos de Vieira (2002), Magro (2004), Gonçalves (2009), Vieira, M. F. (2011) e Corrêa (2012), até onde vai nosso conhecimento, contemplam dados da Língua Portuguesa falada nos séculos XX e XXI 28. Desse modo, é flagrante a falta de descrição sociolinguística de dados espontâneos contemporâneos, principalmente do PST (variedade mais recente e ainda em formação). Além disso, constatou-se que não é proposta uma análise contrastiva das ocorrências sob as mesmas bases e a partir de amostras com os mesmos perfis, para, acima de tudo, buscar respostas para o debate sobre a implementação de determinadas estruturas, se motivada por fatores internos ou externos à língua, como aqueles decorrentes da situação de intenso contato linguístico. A pesquisa pretende descrever o fenômeno com base em dados da ordem dos clíticos em lexias verbais simples e em complexos verbais, estratificados sociolinguisticamente e coletados da fala de portugueses, brasileiros e africanos de São Tomé no período de 2008 a Dessa forma, pretende-se realizar uma análise contrastiva do fenômeno de cliticização nas três variedades, com base no emprego efetivo e empiricamente atestado dessa estrutura nos dias atuais. Segundo orientação laboviana, os dados orais seriam os mais indicados para o estudo real da língua, uma vez que apresentariam a maneira como a língua está sendo efetivamente usada com naturalidade e espontaneidade. Assim sendo, justifica-se, aqui, também a escolha da modalidade oral para o cumprimento dos objetivos postulados. Pretende-se, com a presente pesquisa, verificar os fatores linguísticos e extralinguísticos que favorecem e desfavorecem cada variante e fazer uma descrição 28 Como foi visto no capítulo 2, a maioria dos trabalhos variacionistas usa dados de escrita. Somente os trabalhos aqui citados tratam de dados retirados da fala.

97 97 detalhada das três variedades linguísticas. Será possível, assim, ampliar o conhecimento que já se tem do PB e do PE e conhecer o que ocorre na localidade de Funchal e na variedade de São Tomé que não foram ainda exploradas, em especial no que diz respeito aos estudos sociolinguísticos. Ademais, a conjugação dos resultados oriundos da descrição dos dados às reflexões concernentes ao estatuto variável ou semicategórico da colocação pronominal permitirá apresentar as opções preferenciais de cada variedade em análise. Para investigar a posição preferencial do pronome átono na modalidade oral, buscase responder a algumas questões referentes ao fenômeno, tais como: (i) a ordem dos clíticos manifesta-se, tanto nas lexias verbais simples quanto nos complexos verbais, como efetivamente variável nas três variedades em estudo?; (ii) caso a regra em questão seja variável, que variáveis linguísticas, efetivamente, determinam a colocação dos clíticos pronominais na modalidade oral do PE, PB e PST nos contextos de lexias verbais simples e de complexos verbais?; (iii) quais são os elementos que funcionam como proclisadores nos contextos com um e mais de um verbo?; (iv) as variáveis extralinguísticas interferem na preferência por determinada variante, quanto à ordem dos pronomes oblíquos átonos?; (v) quais são as diferenças significativas entre PE (variedade do país colonizador), PB e PST (variedades dos países colonizados)?; (vi) essas diferenças são quantitativa e qualitativamente suficientes para que se postule a concretização de parâmetros diferenciados por variedade?; (vii) a história das variedades colonizadas (PB e PST), ou seja, a implementação da Língua Portuguesa já formada (PB) ou sendo formada (PST) em um contexto com flagrante e intenso contato linguístico aproximam ou distanciam as duas variedades dos países colonizados? Para tais questionamentos, tem-se algumas hipóteses: (i) no PE, a colocação seria efetivamente variável em determinados contextos sintáticos, nos ambientes de lexias verbais simples e nos complexos verbais. No PB, não haveria efetiva variação nas lexias verbais simples nem nos

98 98 complexos verbais, o que configuraria um caso de regra semicategórica 29. Já no PST, a variação ocorreria nas lexias verbais simples e nos complexos verbais, mas não haveria a atuação dos condicionamentos de forma sistemática, como ocorreria na língua do colonizador. (ii) nas lexias verbais simples, o elemento que antecede o clítico seria o determinador da colocação no PE, o que não ocorreria de forma expressiva no PST nem no PB. Nos complexos verbais do PE, com a presença de um elemento proclisador, haveria o favorecimento da variante pré-cv, mas ocorreriam também, nesses contextos, dados da ênclise a v2 e ênclise a v1. No PST, haveria também a colocação pré-cv, mas não seria com um número expressivo de dados. Já o PB seria uma variedade em que não se teria efetivamente uma regra variável, mas uma regra semicategórica para os CVs, com ampla realização da próclise a v2; (iii) nas variedades em que se verifica o efeito proclisador, as partículas de negação, os elementos subordinativos e as palavras QU- seriam os favorecedores da posição pré-verbal e pré-cv, em especial no PE; (iv) existiria certa diferença na colocação dos clíticos pronominais, de acordo com o nível de escolaridade do informante, no PB, mas essa variável não se mostraria relevante para as outras variedades; (v) haveria motivação sintática como a presença de elementos proclisadores para a ordem dos clíticos pronominais no PE, variedade do país colonizador, mas no PST essa motivação não seria sistemática; (vi) as diferenças seriam quantitativa e qualitativamente suficientes para que se postule que haveria uma norma/gramática da colocação pronominal diferente para cada variedade; e (vii) a análise contrastiva entre o PB e o PST mostraria que a colocação dos pronomes átonos ocorreria de forma distinta entre as duas variedades colonizadas. Ressalta-se que essa última hipótese se baseia no processo da implantação da Língua Portuguesa no PB e no PST, tendo em consideração sua história de colonização. Esse 29 Vale ressaltar que Corrêa (2012), em sua dissertação de mestrado, verificou que o comportamento da colocação pronominal em complexos verbais em dados coletados do PB seria semicategórico, e não efetivamente variável.

99 99 enfraquecimento dos padrões regulares de motivação sintática seria reflexo da existência de uma situação típica de intenso contato linguístico que foi presente no Brasil e ainda ocorre em São Tomé. Seriam importantes, segundo Lucchesi (2009, p. 101), os processos históricos de contato maciço entre povos falantes de línguas tipologicamente diferenciadas, entre os séculos XVI e XIX, em decorrência da ação do colonialismo europeu na África, Ásia, América e Oceania. Nas diversas situações de dominação que se constituíram nesse contexto histórico, a língua do grupo dominante, denominada língua de superstrato ou língua-alvo, se impõe, de modo que os falantes das outras línguas, em sua maioria adultos, são forçados a adquiri-la em condições bastante adversas de aprendizado, em função de sua sujeição e marginalização. As variedades de segunda língua que se formam nessas condições, mais ou menos defectivas consoante as especificidades de cada contexto histórico, acabam por fornecer os modelos para aquisição da língua materna para as novas gerações de falantes, na medida em que os grupos dominados vão abandonando as suas línguas nativas. O autor ressalta que, dessa forma, o processo de nativização da língua do colonizador ocorre de maneira irregular, uma vez que os dados linguísticos primários ensinados às crianças que nascem nessas situações provêm, em geral, de versões de segunda língua desenvolvidas entre os falantes adultos das outras línguas, apresentando, assim, lacunas e reanálises em relação aos seus mecanismos gramaticais. Desse modo, não surpreende que o PST, embora tenha por modelo de aprendizagem do Português o PE, possa apresentar usos diferentes desse modelo, em função da intensa situação de contato linguístico e, hoje, da aquisição de Português como L1 com gerações que nem sempre tiveram o Português como L1. Destaca-se que, nas duas variedades dos países colonizados, o intenso contato linguístico teria influenciado diretamente na formação da Língua Portuguesa; no entanto, esta pode não ter ocorrido da mesma maneira nos dois continentes, pois a história de colonização e os povos que conviveram em cada localidade não foram os mesmos. No PB, antes da chegada dos portugueses, já havia a presença de povos indígenas no Brasil e vieram povos de diferentes países no decorrer do processo de colonização (cf. Capítulo 4). Já no PST, não havia, segundo mostram os estudiosos, habitantes em São Tomé e Príncipe e os portugueses o habitaram com diversos escravos de diferentes regiões, fazendo com que o ambiente social propiciasse a formação de diversos crioulos que existem até hoje e são utilizados por uma parte da população, como o Forro. No PB, a Língua Portuguesa já está formada e é utilizada pela maioria dos habitantes, mas ela não é igual à do país colonizador. Em relação aos clíticos pronominais, por exemplo, no Brasil a colocação é basicamente proclítica, enquanto no PE é enclítica com diversos contextos favorecedores da próclise.

100 100 Dessa forma, acredita-se que, em São Tomé país em que a variedade local da Língua Portuguesa ainda está em formação, o Português assumirá possivelmente feições semelhantes às do PE, mas terá suas peculiaridades resultantes, dentre outros motivos, da história da colonização e do contato linguístico existente durante todo esse período de formação. Segundo o estudo da ordem dos clíticos pronominais desenvolvido por GONÇALVES (2009), o Português possuiria um comportamento oscilante em São Tomé, o que seria típico de línguas em situação de intenso contato linguístico, como é o caso dessa variedade. Na realidade, a complexidade da situação de multilinguismo em São Tomé colaboraria para essa suposta instabilidade na fixação dos padrões linguísticos: de um lado, acredita-se que o Forro, ainda utilizado sobretudo pelos indivíduos mais velhos, pode deixar alguma influência sobre a variedade do Português em formação; de outro, tem-se por hipótese que esse processo de consolidação da Língua Portuguesa em São Tomé também seja influenciado diretamente pela língua do colonizador, uma vez que há um forte decréscimo da utilização do Forro (CENSO, 2012), fazendo com que, cada vez mais, o PST possa adotar padrões compatíveis com os praticados no PE. Supõe-se, assim, que a colocação dos clíticos pronominais daqui a alguns anos ou, provavelmente, séculos poderá ser até mesmo o inverso do que ocorre no Brasil hoje, ou seja, pode ser praticamente toda enclítica, pois o PE tem como ordem não marcada a ênclise e os pronomes objetos fracos no Forro encontram-se sempre depois dos verbos, segundo Ferraz (1979) e Hagemeijer (2007), e provavelmente em ligação fonológica para a esquerda. De outro lado, a admissão do efeito proclisador, advindo do modelo do PE, pode vir a ser parcialmente adotada, o que geraria certa instabilidade no comportamento do PST, como proposto por Gonçalves (2009). Sendo esta apenas uma suposição, para verificar se ela ocorrerá ou não, somente os estudos, como o presente e os que venham a ser desenvolvidos por futuros pesquisadores, poderão desvendar se isso será uma afirmativa ou não Procedimentos para a análise dos dados e descrição do corpus Baseando-se na metodologia utilizada nos trabalhos de orientação sociolinguística, a presente investigação desenvolve os seguintes procedimentos: 1º) coleta de dados em todo o corpus; 2º) estabelecimento das variáveis linguísticas e extralinguísticas a serem investigadas; 3º) codificação dos dados segundo tais variáveis; 4º) tratamento dos dados segundo o instrumental técnico-computacional do pacote de programas GOLDVARB-X; e 5º) análise e

101 101 interpretação dos resultados, à luz do perfil de cada variável linguística e extralinguística controlada e, ainda, da situação de formação socio-histórica em questão. Como já mencionado, serão analisados os dados produzidos nas variedades do Português praticadas na Europa, no Brasil e em São Tomé, em amostras estratificadas segundo variáveis sociolinguísticas. Recorre-se ao corpus do Projeto Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias 30, a fim de descrever os inquéritos selecionados a partir de critérios extralinguísticos. Trata-se de um banco de dados com entrevistas produzidas no século XXI. Os dados pertencentes a esse corpus coletado de 2008 a 2011 obedecem ao método dos estudos de variação e mudança linguística, havendo, portanto, a constituição de amostra estratificada, consoante o mesmo número de informantes para cada variável extralinguística controlada. No site verifica-se que o corpus faz parte do referido projeto de cooperação internacional Brasil-Portugal coordenado pelas professoras doutoras Silvia Rodrigues Vieira Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Maria Antónia Ramos Coelho da Mota Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL), hoje Projeto ALFAL 21. Há três pontos de inquérito em Portugal, dois no Brasil e um em São Tomé e Príncipe. No total, são 107 entrevistas, sendo, no PE, 18 de Lisboa/Oeiras, 18 de Cacém e 18 de Funchal, na Ilha da Madeira. No PB, são 18 de Copacabana e 18 da cidade de Nova Iguaçu. No PST, são somente 17 gravações, pois falta um informante feminino com nível superior da faixa etária C, perfil raro na sociedade são-tomense, que não foi encontrado quando da formação da amostra. Por que a utilização da subamostra recolhida em Funchal? Esta pergunta deve ser respondida para esclarecer a introdução dessa localidade extra apenas no caso do PE. Como se sabe, a história de formação da Língua Portuguesa em Funchal, que é um território insular, é bem diferente da que ocorreu com o Português continental. No entanto, como não há efetivo conhecimento do que ocorre na variedade portuguesa madeirense e como já estavam disponíveis todos os inquéritos para a análise, optou-se por averiguar o que realmente se efetiva na colocação pronominal, mesmo sabendo que, além das características potencialmente particulares dessa subamostra, haveria uma assimetria em relação às localidades e à quantidade de informantes por variedades. 30

102 102 Sabe-se que a realidade social, cultural e histórica de Funchal é bem diferente daquela que se encontra em Lisboa e Cacém. Guy e Zilles (2007) deixam claro que o ideal é garantir que a amostra represente o mais fidedignamente possível a comunidade de fala, ou, nos casos em que isso não seja possível, que o pesquisador assuma explicitamente que seus resultados se aplicam a amostras diferentes. Assim, em caso de comparações, os autores ressaltam que se deve ter cuidado ao comparar resultados obtidos em diferentes amostras, já que elas devem apresentar os mesmos parâmetros de constituição. Todas as amostras tiveram os mesmos parâmetros em sua constituição como se mostrará a seguir e, na análise dos dados, será possível decidir se a localidade de Funchal poderá integrar os demais dados do PE ou se deverá ser feita uma análise em separado dessa localidade. Os critérios utilizados para a construção da amostra respeitam, além da região, três variáveis extralinguísticas sexo, nível de instrução e faixa etária, como se pode observar na tabela a seguir, extraída do site Faixa etária Nível de escolaridade Gênero A = 18 a 35 anos 1 = Fundamental 2º segmento (6º ao 9º ano) Masculino B = 36 a 55 anos 2 = Médio (10º ao 12º ano) Feminino C = 56 a 75 anos 3 = Superior 3 células x 3 células x 2 células =18 informantes (naturais das localidades em estudo) Quadro 1: Perfil dos informantes do PE e do PB segundo o Projeto Concordância 31 Para investigar o Português de São Tomé, a pesquisa contará com uma das amostras do corpus VAPOR, construída pelo pesquisador Tjerk Hagemeijer, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL). Ressalta-se que todos os informantes desse corpus 31 Todos os dados do corpus serão identificados da seguinte forma: localização (COP Copacabana, NIG Nova Iguaçu, OEI Oeiras/Lisboa, CAC Cacém, FNC Funchal e ST São Tomé), faixa etária (A, B e C), nível de instrução (1, 2 e 3) e sexo dos informantes (H homem e M mulher), respectivamente. Ressalta-se que essa identificação foi retirada do site

103 103 possuem, segundo o pesquisador, a Língua Portuguesa como L1, embora os informantes declarem ter graus de domínio linguístico bastante diferenciado 32. Segundo Hagemeijer (2009, p. 19), em São Tomé e Príncipe, o Português é a língua mais falada, uma tendência que actualmente parece estar a intensificar-se em detrimento das línguas crioulas autóctones. O autor ressalta que, além do Português, são faladas três línguas crioulas autóctones: o Santomé ou Forro, o Lung ie e o Angolar. Ainda coexistem com elas o crioulo de Cabo Verde e o Português dos Tongas, além dos resquícios de línguas do grupo Bantu. Com a análise dos dados de todo o corpus, pretende-se comparar as variedades do Português usadas nas três regiões (Europa, Brasil e São Tomé), e, para tanto, foi utilizado o programa GOLDVARB-X, para que fosse possível fazer a análise estatística e quantitativa das ocorrências. Ele fornece a aplicabilidade da regra, as frequências, os percentuais e os pesos relativos de cada uma das variantes verificadas na ordem dos clíticos. Além disso, verifica quais as variáveis sejam de ordem linguística ou extralinguística que favorecem o uso das variantes em questão, por ordem de seleção e mostra a influência de cada fator no condicionamento do fenômeno. Com os resultados obtidos a partir das rodadas feitas pelo Programa, pode-se confirmar (ou não) as hipóteses iniciais e: (i) verificar, em dados orais contemporâneos, a variante mais produtiva no PE, PB e PST (próclise, ênclise ou mesóclise; cl v1 v2, v1(-) cl v2 ou v1 v2-cl), nos diversos contextos sintáticos, para que se possam estabelecer os padrões da cliticização pronominal da modalidade oral das três variedades; e (ii) identificar as variáveis linguísticas e extralinguísticas que determinam a opção pela variante pré-verbal, no caso de rodadas multivariadas, verificando os elementos que funcionam, de fato, como elementos favorecedores dessas variantes, se houver efetivamente uma regra variável. Assim, o estudo detalhado de cada uma das variedades permitirá esboçar, em síntese, o panorama da colocação dos clíticos pronominais da modalidade oral nas variedades portuguesa, brasileira e são-tomense do século XXI, permitindo a análise contrastiva dos resultados e a interpretação da formação dessas variedades quanto ao fenômeno estudado. 32 Brandão (2011) verificou a possibilidade de interferência de outras línguas faladas e sua frequência, e propôs uma variável, em seu trabalho, que controlou se os falantes de São Tomé se consideravam falantes apenas da Língua Portuguesa ou do crioulo também (cf. Item ). No presente trabalho, esse controle também foi feito, seguindo os critérios propostos por Brandão (2011).

104 Descrição das variáveis Variável dependente As variantes da variável dependente da presente pesquisa são as já citadas anteriormente: nas lexias verbais simples, próclise (ex.: Não se senta muito), ênclise (ex.: Senta-se muito) ou mesóclise (ex.: Sentar-se-á muito). Acredita-se que a mesóclise não ocorrerá em nenhuma das variedades da Língua Portuguesa em estudo. No PE, supõe-se que a variante enclítica será a mais utilizada e a proclítica ocorrerá somente quando houver algum tipo de elemento proclisador na frase. No PST, espera-se que ocorra mais a variante enclítica; no entanto, como ainda está em formação a Língua Portuguesa e pelo intenso contato linguístico com o Português do país colonizador, também haveria dados proclíticos, devido ao modelo europeu, mesmo que de forma oscilante nos mesmos contextos sintáticos. Já no PB, acredita-se que a variante proclítica ocorrerá de forma generalizada, independentemente do elemento que vier antes do verbo, mas a ênclise também ocorrerá com tipos específicos de clíticos (como os acusativos), em poucos dados, provavelmente. Em relação aos complexos verbais, os clíticos podem aparecer nas posições: próclise a v1 ou cl v1 v2 (ex.: Não se pode sentar) pré-complexo verbal; ênclise a v1 ou v1-cl v2 (ex.: Pode-se depois sentar muito) intra-complexo verbal; próclise a v2 ou v1 cl-v2 (ex.: Pode depois se-sentar muito) intra-complexo verbal; ou ênclise a v2 ou v1 v2-cl (ex.: Pode sentar-se muito) pós-complexo verbal. A próclise a v1 (cl v1 v2 pré-complexo verbal) e a ênclise a v2 (v1 v2-cl pós complexo verbal) não deixam dúvidas quanto à ligação do clítico ao verbo. No entanto, quando o pronome átono aparece no meio do complexo verbal, pode-se ter ênclise a v1 (v1-cl v2) ou próclise a v2 (v1 cl-v2). Como se trata de dados orais, não se pode garantir, apenas pela audição dos enunciados, qual seria a ligação fonológica do clítico, ou seja, há a impossibilidade de definir se houve ênclise a v1 ou próclise a v2 em termos fonéticofonológicos. Nos dados em que há algum elemento interveniente, fica clara a ligação do clítico ao verbo; estes dados serão descritos separadamente dos demais, a fim de fundamentar a interpretação geral que se faz dos dados de clítico na posição intra-complexo verbal. Ainda em relação aos complexos verbais, destaca-se que a análise de cada variedade será dividida em três grupos, a depender do verbo principal: (a) infinitivo, (b) gerúndio e (c) particípio. Essa análise separada de cada tipo de verbo principal ocorrerá pelo fato de os

105 105 clíticos não se comportarem da mesma forma em cada uma delas. Com o v2 no infinitivo, a posição pós-cv poderá ocorrer; entretanto, se estiver no particípio ou no gerúndio, resultados de estudos anteriores fazem supor que ela provavelmente não ocorrerá. Com os verbos no particípio, acredita-se que a colocação pré-cv será a mais produtiva e, com os complexos gerundivos, a intra-cv (seja v1-cl x v2 ou v1 x cl v2). Isso provavelmente ocorrerá com o PE e PST; no entanto, com o PB, acredita-se que a colocação no interior do complexo verbal será a mais utilizada, independentemente da forma do verbo principal Variáveis independentes Considerando-se que cada variedade do Português pode apresentar distintas normas de uso da ordem dos clíticos pronominais, as três amostras (PB, PE e PST) serão discutidas separadamente. Assim, para a análise dos dados, haverá o tratamento das variáveis extralinguísticas e linguísticas a seguir: Variáveis extralinguísticas Na qualidade de variáveis extralinguísticas, foram considerados quatro grupos de fatores relativos ao perfil do informante na estratificação proposta para o banco de dados utilizado: sexo, faixa etária, nível de escolaridade e a localidade de cada informante. Sexo: homem ou mulher No que diz respeito ao sexo dos informantes, acredita-se que as mulheres se mostrem mais conservadoras no que se refere ao atendimento ao que se considera padrão do que os homens, o que se sustenta na proposta laboviana (LABOV, 1972). No entanto, isso só ocorreria, provavelmente, nas variedades do PE e PST, nas quais haveria certa motivação sintática na colocação pronominal, vinculada sobretudo ao efeito de partículas proclisadoras. No entanto, para o PB, em que a colocação pronominal teria um comportamento mais uniforme, supõe-se que a regra não seria influenciada pela diferença entre homens ou mulheres. Faixa etária: A = 18 a 35 anos, B = 36 a 55 anos e C = 57 a 75 anos Como esclarecem Coelho et alii (2015), a mudança linguística na sincronia, conhecida como mudança em tempo aparente, cada pessoa preserva durante a vida o

106 106 sistema vernacular que foi adquirido durante seus primeiros anos de formação até a puberdade (de 5 a 15 anos, aproximadamente) (p. 85). Sendo assim, o idoso teria em sua língua vernacular o que ele aprendeu nessa faixa etária e conserva até hoje, ou seja, sua fala refletiria o vernáculo de seus anos iniciais. Com a análise da variável extralinguística referente à faixa etária dos informantes, será possível verificar se há uma mudança linguística em tempo aparente, ao considerar se há ou não alteração do comportamento linguístico em uma determinada sincronia. Desse modo, pode-se verificar se há uma mudança em progresso ou uma variação estável da língua num determinado período de tempo. Acredita-se que, no PE, a faixa etária dos informantes não faça diferença. No PB e no PST, parece que ela será importante. Talvez a variante enclítica seja mais produzida por falantes com mais idade nessas duas variedades. Nível de escolaridade: nível 1 = fundamental, nível 2 = médio e nível 3 = superior Acredita-se que quanto mais escolarizado for o indivíduo, mais formas cultas da língua ele produzirá. Supõe-se que essa variável afete as três variedades em estudo, em especial o PB, visto que, nessa variedade, é pela influência do contato com práticas letradas que se tem acesso a normas de colocação segundo o contexto morfossintático e o efeito proclisador. Segundo Teyssier (1997, p. 98) as divisões dialetais no Brasil são menos geográficas que socioculturais. As diferenças na maneira de falar são maiores, num determinado lugar, entre um homem culto e o vizinho analfabeto que entre dois brasileiros do mesmo nível cultural originários de duas regiões distintas uma da outra. Localidade: Lisboa/Oeiras, Cacém, Funchal, Nova Iguaçu, Copacabana e São Tomé Supõe-se que haja uma regra relativamente igual para todas as localidades de uma mesma variedade do Português. Sendo assim, a localidade de que se origina o informante não influenciaria na ordem dos pronomes oblíquos átonos em cada país. Acredita-se, com base na observação impressionística das ocorrências, que isso também ocorrerá com a localidade de Funchal e que não será necessária sua separação das demais, mas isso só será confirmado na análise dos dados.

107 107 Para São Tomé, verificou-se, também, segundo o próprio depoimento dos informantes, se os falantes utilizavam outras línguas locais (ou não) e com que frequência eles o faziam. Para isso, utilizou-se a variável relativa à frequência de uso de um crioulo proposta por Brandão (2011): zero/baixa, os indivíduos que se expressam fundamentalmente em Português; média, os indivíduos que se expressam em Português, mas dominam um crioulo e dele fazem uso eventualmente; alta, os indivíduos que, embora falem o Português, se expressam, regularmente, num crioulo. Supõe-se, para essa variedade da língua, que quanto mais contato o indivíduo tiver com o Forro, mais formas pós-verbais ele produzirá, ou, pelo menos, haverá mais oscilações na posição dos pronomes Variáveis linguísticas Para as lexias verbais simples e para os complexos verbais, foram consideradas as seguintes variáveis linguísticas: 1) Tipo de clítico Foram coletados e codificados separadamente os pronomes oblíquos átonos: me, te, se reflexivo / inerente, se indeterminador, se apassivador, o(s)/a(s), nos,vos e lhe(s). Ressaltase que, nas rodadas para a análise, foram feitas algumas amalgamações para que fosse possível verificar o que acontecia com um grupo de pronomes, como os de primeira pessoa, segunda pessoa etc. Como já foi verificado em trabalhos anteriores (VIEIRA, 2002; VIEIRA, M. F. 2011; CORRÊA, 2012; NUNES, 2014; dentre outros), o tipo de clítico favorece ou desfavorece as formas de colocação pronominal. Dessa forma, verificou-se que os acusativos, por exemplo, em geral, ocorrem na posição pós-verbal e pós-cv por causa de sua fragilidade fonética. Corrêa (2012) só encontrou a colocação pós-cv com esses tipos de clítico no PB. Abaixo, seguem os exemplos com esse tipo de pronome: Ex. [LVS]: o que eu faria assim... expandia a rede de abrigos e torná-los centros de formação... realmente do indivíduo e naqueles locais as pessoas terem [COP-A-2-H]

108 108 Ex. [CV]: a educação do índio era... permanente coletiva se um garoto indígena fosse pra: caçada... ele ia encontrar lá um mais velho que ia orientá-lo ia ensinar etc [NIG-C-3-H] Em relação ao clítico se, ele apresentaria mais mobilidade nas lexias verbais simples e nos complexos verbais, consoante o tipo de função que exerce. No entanto, com os dados em que há mais de uma forma verbal, o pronome se indeterminador/apassivador estariam, em geral, mais próximos de v1 e o se reflexivo/inerente se ligariam mais a v2, que seria o verbo que lhe dá papel temático. 2) Tipo de oração Foram analisadas separadamente as orações principal ou absoluta, coordenada assindética, coordenada sindética, subordinada desenvolvida, subordinada reduzida de infinitivo, subordinada reduzida de gerúndio, subordinada reduzida de particípio e estruturas clivadas. No entanto, para que os resultados fossem mais bem analisados, as orações coordenadas foram amalgamadas, assim como as subordinadas desenvolvidas. No PB, independentemente do tipo de oração, acredita-se que as colocações proclíticas ao verbo das lexias verbais simples e ao verbo principal dos complexos seriam as mais utilizadas. Já no PE e PST, supõe-se que o tipo de oração influenciaria diretamente na ordem dos clíticos pronominais, uma vez que as orações subordinadas desenvolvidas favoreceriam a colocação pré-verbal e pré-cv. Já com as coordenadas, não ocorreriam a colocação proclítica ao verbo e ao complexo verbal; ela só aconteceria se houvesse um elemento proclisador antes (como a partícula não, por exemplo); se não houvesse nenhum elemento atrator antecedendo, ocorreria a ênclise, para as lexias verbais simples, e a colocação interna ou pós-cv, para os complexos verbais, como se pode verificar nos exemplos a seguir: Ex. [LVS]: L sei lá já muitas vezes já me ligaram e depois disseram que me ligaram e eu não vi nada [CAC-B-1-H] Ex. [CV]: é que vieram para outros pescadores tomaram canoa lá e vieram buscarme [ST-A-1-H]

109 109 3) Presença e natureza do elemento antecedente ao verbo (ou complexo verbal) 33 : Vale ressaltar que foram considerados diversos elementos que apareceram antes do verbo. Assim, além da posição inicial absoluta de oração/período, foram investigados, também, os elementos considerados como atratores do clítico pronominal e vários outros que apareceram antes dele, para que se pudesse verificar quais podem favorecer, em alguma medida, a variante proclítica ao verbo/complexo verbal. Entende-se que, quando há um elemento antes do clítico que seja considerado tradicionalmente uma palavra atratora, a variante antes do verbo e do complexo verbal seria a mais utilizada, em especial no PE e no PST. No entanto, quando a ocorrência fosse de um elemento sem o efeito proclisador, a colocação mais frequente seria a pós-verbal/cv ou intracv. No entanto, essa regra não seria efetiva nos dados do PB, uma vez que, independentemente de o elemento antecedente ser ou não considerado como um proclisador clássico, a variante mais utilizada seria a proclítica, nas lexias vebais simples, e a próclítica a v2, nos complexos verbais. Para verificar quais elementos seriam os favorecedores de cada variante e em cada variedade em estudo, os elementos analisados foram os seguintes: a) posição inicial absoluta de oração ou período, b) sintagmas nominais sujeito, c) complementos preposicionados antepostos/focalizados, d) partículas de negação, e) adjuntos adverbiais (advérbios simples, advérbios em mente ou locuções adverbiais), f) preposições, g) conjunções coordenativas, h) elementos subordinativas, i) operadores de foco, j) elementos discursivos/fáticos e k) hesitações, interjeições e truncamentos. Tendo como base os argumentos acima, seguem os exemplos de cada elemento antecedente controlado. Vale relembrar que cada elemento encontrado entre parênteses foi codificado separadamente; no entanto, tendo em vista a mesma natureza funcional de cada um, eles foram amalgamados para que a análise e a interpretação dos resultados fosse o mais clara e objetiva: 33 Vale ressaltar que cada elemento citado a seguir foi codificado separadamente. No entanto, para melhor verificação e interpretação dos resultados, houve a necessidade de amalgamá-los, para melhor compreendê-los. Os dados que foram codificados separadamente estão entre parênteses.

110 110 a) Posição inicial absoluta de oração ou posição inicial absoluta de período 34 Ex. [LVS]: não aceitei de ir então o meu pai foi. Deixou-me aqui com minha avó [ST- A-1-M] Ex. [CV]: muita juventude morreu a defender o quê e quem? Começaram-se a aperceber disto e depois- tinham os estudos [OEI-C-1-H] b) Sintagmas nominais sujeito (SN sujeito nominal / SN sujeito mais constituinte adjunto, SN sujeito pronome pessoal, SN sujeito pronome indefinido exceto ninguém, SN sujeito pronome demonstrativo) Ex. [LVS]: L: a minha sogra telefonou-nos a dizer que tava no hospital com ela... [CAC-B-3-H] Ex. [CV]: É culpa de quem? Ele é que é culpado. O indivíduo pode até se exprimir assim, abertamente [ST-A-3-H] c) Complementos preposicionados (objeto indireto...) Ex. [LVS]: então qualquer bairro que não seja... zona norte zona sul zona leste oeste que não seja perto de praia a mim me incomoda eu fico meia... ah tá faltando alguma coisa... [COP-B-3-M] Ex. [CV]: não é só no Brasil não é só no Rio cá vai acontecer também em segurança começa-se a notar está bem? [OEI-A-3-M] 34 Destaca-se que o início absoluto de oração e o início absoluto de período foram codificados separadamente, mas, como não houve nenhuma diferença significativa entre eles, foram amalgamados. Os contextos em que havia hesitações (eh: ah:), interjeições e truncamentos também receberam um código diferente, mas esses contextos foram amalgamados ao início absoluto, entendendo que haveria uma pausa e depois que se retomaria a frase nesses contextos, havendo, portanto, um início absoluto.

111 111 d) Partículas de negação (nenhum, não, nunca) Ex. [LVS]: Quando uma dívida já estava soldada saldada com a xx duplicou mas sinceramente onde é que nós estamos, não se faz nada, não se ouve nada sobre isso [ST-A-2-H] Ex. [CV]: nesse aspecto pouco ou nada tenho mais que dizer porque eu quero não não posso ensinar-lhe nada [OEI-C-1-H] e) Adjuntos adverbiais (advérbios simples, advérbios em mente ou locuções adverbiais) Ex. [LVS]: L: eu aqui dedico-me exclusivamente aos trabalhos que eles têm da escola...ao ajudá-los na escola... [CAC-B-2-M] Ex. [CV]: os pais têm um papel fundamental fundamental porque infelizmente veio-se a provar pela experiência [CAC-B-2-H] Ex. [LVS]: LF: às vezes às vezes nota-se: é mais o caso da indisciplina...[st-b-3-m] f) Preposições (para, a, de, por, sem, em) Ex. [LVS]: L: eu acho que: eu não queria ter filho fui quase que meu marido levou cinco anos para me convencer a ter um filho aí eu disse que só teria um e acabei tendo dois ((risos)) [COP-C-3-M] Ex. [CV]: então eu tomei um pedaço de tábua, de canoa, daquelas canoa já já partida e que dava muito bem para se ir remar um bocado[st-a-1-h] g) Conjunções coordenativas (aditiva, alternativa, adversativa, conclusiva, explicativa) Ex. [LVS]: O país tem condições, apesar de não ser tão grande né, mas vê-se mesmo que o estado lá está a fazer alguma coisa [ST-A-3-M]

112 112 Ex. [CV]: e a gente as raparigas e punha-se a dizer qual era a que cortava uã [FNC- C-1-M] h) Conjunções subordinativas (quando, se, embora, enquanto etc; pronome relativo que ; outros pronomes/ advérbios relativos (cujo, o qual, onde, quem); conjunções integrantes que e se ; partícula que em estruturas clivadas e que em locução conjuntiva (para que...); palavra QU interrogativa do tipo pronominal (quem, qual...) e do tipo adverbial (quando, como, onde, por que)) Ex. [LVS]: depois de conhecer o pessoal ehh fiquei aceitei ir e foi uma das coisas que me também marcou a universidade [FNC-A-3-H] 35 Ex. [CV]: D: porque quando ia levantar-me às vezes não me conseguia levantar [CAC-C-1-M] i) Operadores de foco apenas, só, até, mesmo, ainda, inclusive e também (inclusão) Ex. [LVS]: porque que ele trabalha em Angra né... a gente não se vê... a gente só se vê finais de semana... [NIG-A-2-M] Ex. [CV]: eu não digo que é devido quer dizer isso também depende da pessoa, a pessoa também tem que dedicar-se, é assim nosso país [ST-B-2-M] j) Elementos discursivos / fáticos (quer dizer... por favor... então tá) Ex. [LVS]: mas uma forma geral vende todas as coisas que o outro também vende, quer dizer não há, quer dizer vê-se tanto [ST-B-2-M] Ex. [CV]: a partir de aí assim então é que realmente quer dizer comecei a sentir-me mais integrado em igreja [OEI-C-3-H] 35 Curiosamente, neste dado, o efeito de atração do pronome relativo que mostrou-se tão atuante que houve a interpolação da palavra também. Segundo Mateus et alii (2003), não ocorreria, no PE contemporâneo, interpolação com palavras diferentes do advérbio de negação não.

113 113 k) Hesitações (eh: ah:), interjeições, truncamentos Ex. [LVS]: INF: ehh a gente joga-se à bola vole [voleiy] a gente corre ehh joga-se às escondidas [FNC-A-1-M] Ex. [CV]: D: acha que fala assim fala... ele consegue se expressar? L: ah...consegue se expressar bem [NIG-C-1-M] 4) Distância entre V-Cl ou CL-V e um possível elemento antecedente Verificou-se a distância existente entre o verbo e o clítico com um elemento antecedente (zero sílaba, uma sílaba, duas sílabas, três sílabas, quatro sílabas, cinco sílabas, seis sílabas, sete a 10 sílabas, 11 sílabas em diante, ausência de elemento). Ex. [LVS]: e você saiba usar esse dinheiro de forma direita... e não se torne um escravo do dinheiro...excelente. [NIG-B-1-H] Ex. [CV]: gestos quotidianos que são muito específicos daquela daquela cultura e que aos poucos vão-se perdendo vão-se perdendo [CAC-B-2-H] 5) Tempo/modo verbal Os tempos verbais verificados foram amalgamados segundo o modo verbal e/ou a forma nominal e houve a seguinte separação: (i) indicativo (presente, pretérito imperfeito, pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente, futuro do pretérito), (ii) subjuntivo (presente, pretérito imperfeito, futuro), (iii) imperativo, (iv) infinitivo e (v) gerúndio 36. Cabe esclarecer, aqui, que a variável tempo e modo verbal nos complexos verbais foi controlada em relação à forma do verbo auxiliar, aquela que carrega as informações flexionais da construção. Supõe-se que o tempo e o modo verbal sejam importantes na ordem dos clíticos pronominais, uma vez que o modo subjuntivo favoreceria a posição proclítica e, no modo 36 Nesta parte, o particípio não foi investigado tendo em vista a não ocorrência de formas do tipo: Encontradoo reduzida de particípio (LVS) e Tido encontrado-o verbo auxiliar no particípio (CV).

114 114 indicativo, essa posição só ocorreria quando houvesse um elemento proclisador antecedendo, como se pode verificar nos exemplos abaixo: Ex. [LVS]: eu por exemplo sou católico pedir a Deus que nos ajude de forma a nós ultrapassarmos esta fase [ST-B-3-H] Ex. [CV]: não faço assim actividades com com elas ah no entanto quer dizer a única coisa que eu lhe posso dizer neste momento[oei-c-3-h] Com as formas não finitas excetuando o particípio, que não aceitaria a ênclise e o imperativo, haveria o favorecimento à ênclise. Ex. [LVS]: já todas dizem oh senhor Guimarães dê-me lá mais dois quilos como os da semana passada pronto [CAC-B-1-H] Ex. [CV]: L: então andava lá na escola e a mãe coitada ia para o trabalho e às vezes ia a avó para o ir buscar mas a avó tinha que tirar o o passe [CAC-C-1-M] 6) Tonicidade das formas verbais O controle da tonicidade das formas verbais em oxítonas, paroxítonas ou proparoxítonas pode ser importante, tendo em vista que ela poderia influenciar a colocação dos clíticos por motivos de natureza rítmica. Dessa forma, seria importante sua análise para verificar que tipo de tonicidade verbal favoreceria uma variante em detrimento de outra. Assim, quando o hospedeiro verbal possuir a tonicidade de uma palavra paroxítona ou proparoxítona, provavelmente, a colocação pós-verbal será desfavorecida, pois não é habitual, na Língua Portuguesa, a formação de palavras proparoxítonas. Com isso, mesmo sem um elemento proclisador clássico, a variante proclítica poderá ser favorecida, como pode ser observado no exemplo a seguir: Ex. [LVS]: foi uma mais-valia e e e ainda mais por ser um trabalho de voluntariado porque nós nos esforçávamos [FNC-A-3-H] Como se pôde observar, todas as variáveis acima foram codificadas nos contextos de lexias verbais simples e de complexos verbais, exceto a última tonicidade, que não foi controlada no caso do complexos. Como se trata de duas formas verbais presentes na

115 115 estrutura, só seria viável considerá-la como um todo; desse modo, eleger o elemento a que se ligaria o pronome a priori e prever o vocábulo fonológico resultante com a adjunção do clítico seria uma tarefa por demais subjetiva. variável: Para o controle da ordem em complexos verbais, também foi acrescentada a seguinte 7) Tipo de complexo A fim de fundamentar a coleta de dados da presente pesquisa no que se refere aos complexos verbais, fez-se um levantamento dos diversos tipos contemplados em trabalhos referentes ao tema, em especial no artigo de Machado Vieira (2004), que detalha e aprofunda o tema de forma particular. Em seu trabalho, a autora estuda diversas perífrases verbais e mostra que a auxiliaridade verbal constitui tema de alta complexidade, de modo que, diversas vezes, estruturas diversas (como querer + infinitivo, tentar + infinitivo, poder + infinitivo, entre outras) oferecem dificuldade quanto às propriedades de auxiliarização e consequente classificação quanto ao tema abordado. A autora demostra que a tradição gramatical mostra apenas a diferença dos verbos auxiliares (não nocionais/lexicais) e principais (nocionais/lexicais), como se houvesse apenas essas duas grandes classes verbais. Assim, não abordaria os verbos que seriam semiauxiliares, ou seja, os verbos que estariam entre os verbos auxiliares e os verbos principais, no que se configura, na realidade, como um continuum de auxiliarização. Em seu trabalho, Machado Vieira apresenta várias propriedades que permitiriam a definição dos verbos auxiliares (com caráter gramatical) e semiauxiliares (com caráter semigramatical), em oposição aos plenos. Antes, porém, ela apresenta diversos pressupostos que encaminham o tratamento proposto para a categorização dos verbos. Entre eles, estão: (i) A relação entre sintaxe e semântica (a semântica influenciando na escolha do verbo), (ii) a categorização escalar (a proposta da classificação dos verbos em um continuum), (iii) A multifuncionalidade dos verbos (o mesmo verbo, dependendo do contexto, pode se localizar em mais de um ponto do continuum), (iv) o que significa auxiliaridade (a definição de auxiliaridade e auxiliarização), (v) a noção de perífrase verbal (os diferentes graus de integração entre dois verbos) e (vi) a identificação da auxiliarização (os parâmetros que distinguem o elemento auxiliar do elemento auxiliado). Machado Vieira (2004), com base em tais pressupostos, apresenta, então, na seção referente aos tipos e subtipos de verbos, os critérios que são utilizados para definir a

116 116 auxiliaridade. Esclarece, então, que todos os critérios podem ser observados nas formas verbais temporais ter e haver + particípio, ou seja, quando utilizados como verbos auxiliares: (1) Operação/atuação sobre outro(s) verbo(s) num domínio predicativo; (2) alteração/perda semântica; (3) desligamento semântico entre Vauxiliar e sujeito gramatical; (4) unidade significativa/fusão semântica com um Vpredicador numa única predicação; (5) impossibilidade de co-ocorrência da parte da sequência introduzida por Vpredicador com oração completiva finita; (6) uma só posição sintática de sujeito com um só referente-sujeito para as formas verbais da unidade complexa; (7) impossibilidade de substituição da estrutura sintagmática introduzida pelo Vpredicador por uma forma pronominal demonstrativa; (8) ocorrência de complementos clíticos em adjacência ao Vauxiliar; (9) impossibilidade de incidência de operador de negação sobre o domínio do Vpredicador; (10) impossibilidade de circunstante temporal que afete apenas o domínio do Vpredicador; (11) comportamento em bloco do Vauxiliar e do Vauxiliado diante das transformações passiva e interrogativa. (p ). A autora sugere que haja uma categorização escalar das perífrases estudadas e propõe 5 graus de afastamento do pólo da auxiliaridade, formando, assim, o continuum que vai do polo com verbo mais auxiliar para o menos auxiliar/mais lexicalizado. Segundo Machado Vieira (2004, p. 80), Os elementos que não revelam todas essas características são considerados semiauxiliares (...), classe que, por sua vez, abrange membros com diferentes comportamentos, visto que engloba casos de verbos que se apresentam em diferentes estágios de gramaticalização: alguns sofreram um processo de semiauxiliarização mais completo, outros, menos completo. Dos cinco graus propostos para a classificação das formas verbais auxiliares/semiauxiliares no trabalho de Machado Vieira, foram feitas adaptações (amálgama do terceiro e quarto graus, e reorganização dos graus 2, 3 e 4) para o tratamento das ocorrências analisadas na presente tese, obtendo-se, assim, quatro grandes grupos de complexos verbais, como se pode verificar abaixo: (1) Passiva de ser: ser + particípio; (2) perífrases temporais e aspectuais: ter + particípio; haver + particípio; ir + infinitivo; estar + gerúndio; estar + a + infinitivo; vir + infinitivo; ir + gerúndio; vir + gerúndio; acabar + gerúndio; acabar + de/por + infinitivo; chegar + a + infinitivo; começar / passar / voltar / pôr-se / tornar-se + a + infinitivo; continuar / ficar /

117 117 habituar / andar + a + infinitivo; costumar + infinitivo; continuar / ficar / andar + gerúndio; (3) perífrases modais: haver + de / que + infinitivo; ter + de / que + infinitivo; poder + infinitivo; dever + infinitivo; precisar + infinitivo; dar + pra + infinitivo; (4) complexos bi-oracionais com mesmo referente sujeito (verbos volitivos/optativos ou declarativos): querer / evitar / prometer / resolver / decidir / pretender / preferir + infinitivo; saber + infinitivo; tentar / procurar / conseguir / ousar + infinitivo. Cabe destacar que cada estrutura encontrada no corpus foi codificada individualmente e, depois, as ocorrências foram amalgamadas em um dos grupos referidos acima por terem propriedades sintáticas e semânticas parecidas, em relação ao nível de auxiliaridade do v1. Vale destacar que os verbos causativos (mandar, fazer, deixar) e sensitivos (ver, olhar, ouvir), além dos verbos bi-oracionais com referente sujeito diferente, não foram considerados como complexos verbais, tendo em vista que o clítico não configuraria em todas as posições da mesma forma, ou seja, não transmitiriam o mesmo significado, como ocorre nos verbos citados acima. Como exemplo, observe a sentença a seguir: Deixei João vender o livro Deixei-o vender Deixei vendê-lo. Nas duas últimas frases, não há uma correspondência semântica, uma vez que o clítico da última frase corresponderia à palavra livro e o pronome do exemplo anterior retomaria o nome João. Ressalta-se, assim, que, para a presente tese, foram consideradas como complexos verbais as estruturas com duas formas verbais sendo a segunda um particípio, gerúndio ou infinitivo entre as quais se registra, de certa forma, algum grau de integração sintáticosemântica e nas quais os clíticos pronominais possam ocupar as quatro posições em análise: próclise a v1, ênclise a v1, próclise a v2 e ênclise a v2. Destaca-se que a codificação inicial foi feita pelas formas verbais auxiliares/semiauxiliares verificadas no corpus, consideradas individualmente. Sem dúvida, é importante que se proceda à análise dos tipos de complexos verbais, tendo em vista que a colocação pronominal, dependendo da natureza do complexo, não seria a mesma. Assim, nos complexos com particípio e gerúndio, por hipótese a colocação pós-cv não ocorreria, ao menos de forma produtiva, em nenhuma das variedades do Português. No entanto, quando o verbo principal estivesse no infinitivo, todas as posições poderiam ocorrer, dependendo da presença ou ausência de um elemento proclisador antes do complexo. Caso

118 118 haja a presença de tal elemento, a colocação pré-cv seria a mais utilizada no PE e PST, mas, se não houver nenhum elemento favorecedor da variante proclítica, o pronome poderia ocorrer enclítico a v1 ou a v2. Entretanto, no PB, independentemente do elemento antecedente do clítico e do tipo do complexo verbal, a colocação predominantemente seria a intra-cv com próclise a v2. Ressalta-se que cada tipo de complexo verbal referente a v1 foi coletado e codificado individualmente. No entanto, para melhor análise dos resultados, fez-se necessária a junção de acordo com as semelhanças presentes em cada estrutura. Abaixo, segue a lista dos vários complexos verbais encontrados já reunidos em subgrupos, nos quais se detectou, a partir dos dados, a possibilidade de o clítico figurar nas várias posições possíveis. a) Passiva de ser: ser + particípio Ex. [CV]: pra todo povo de forma social para os estudantes como nós não tínhamos educação e saúde era-nos garantido a cem por cento [ST-B-3-H] b) Perífrases temporais e aspectuais: ter + particípio; haver + particípio; ir + infinitivo; estar + gerúndio; estar + a + infinitivo; vir + infinitivo; ir + gerúndio; vir + gerúndio; acabar + gerúndio; acabar + de/por + infinitivo; chegar + a + infinitivo; começar / passar / voltar / pôr-se / tornar-se + a + infinitivo; continuar / ficar / habituar / andar + a + infinitivo; costumar + infinitivo; continuar / ficar / andar + gerúndio Ex. [CV]: L: olha eu acho preocupando mais acredito... [COP-C-1-M] que como tem menos saúde... as pessoas estão se c) Perífrases modais: haver + de / que+ infinitivo; ter + de / que + infinitivo; poder + infinitivo; dever + infinitivo; precisar + infinitivo; dar + pra + infinitivo Ex. [CV]: I é - eles utilizam mais essa essa linguagem hum como é que te hei-de explicar? [OEI-A-3-H]

119 119 d) Complexos bi-oracionais com mesmo referente sujeito (verbos volitivos/optativos ou declarativos): querer / evitar / prometer / resolver / decidir / pretender / preferir + infinitivo; saber + infinitivo; tentar / procurar / conseguir / ousar + infinitivo Ex. [CV]: muito poucas pessoas querendo estudar... querendo realmente levar a sério a escola... a pessoa quer se formar... não quero me formar... [NIG-B-1-H]

120 ANÁLISE DOS DADOS Por vários anos, resisti ao termo Sociolinguística, já que ele implica que pode haver uma teoria ou prática linguística bem-sucedida que não é social. (Labov, 2008 [1972]) Neste capítulo, serão apresentados os resultados da ordem dos clíticos tanto no contexto das lexias verbais simples, quanto no dos complexos verbais. No que se refere aos dados com apenas um constituinte verbal, estes serão analisados de acordo com os resultados da rodada variacionista multivariada. Assim, será considerado, em cada variedade do Português, o peso relativo de cada fator das variáveis selecionadas pelo programa Goldvarb-x, quando se tratar de uma regra variável. Quando a regra não for considerada efetivamente variável, mas semicategórica, serão analisados qualitativamente todos os dados que apresentem a ordem do clítico pouco produzida, para verificar em que contexto essa estrutura ocorre; adicionalmente, qualquer índice relativo extraído de uma experiência adicional que se realizou com rodada multivariada no Goldvarb- X será apresentado para justificativas e esclarecimentos que se julguem necessários. Para os complexos verbais, como se conta com uma regra em geral ternária, optouse por apresentar as frequências absolutas e percentuais obtidas para cada variedade do Português, considerando separadamente as subamostras por tipo de verbo principal, ou seja, os resultados dos complexos com infinitivo, gerúndio e particípio serão mostrados individualmente. Na tabela a seguir, pode-se verificar a quantidade de dados encontrados em cada uma das variedades do Português, tanto nas lexias verbais simples como nos complexos verbais: Total de dados encontrados nas LVS e nos CVS no PB, PE e PST Variedades Lexias verbais simples Complexos verbais Português do Brasil Português Europeu Português de São Tomé

121 121 Total de dados Tabela 7: Distribuição do número total de dados encontrados nas lexias verbais simples e nos complexos verbais no PB, PE e PST 37 A seguir, serão mostrados os resultados das lexias verbais simples e, logo após, dos complexos verbais Lexias verbais simples Quanto às ocorrências de clíticos em lexias verbais simples, registrou-se o total de dados, em relação aos quais foi possível obter a distribuição absoluta e percentual dos dados e, depois de fazer algumas recodificações, o peso relativo dos fatores relevantes para o favorecimento da próclise, e o valor de aplicação escolhido. No gráfico abaixo, serão mostrados os percentuais de próclise, ênclise e mesóclise verificados em cada variedade do Português em estudo Distribuição geral dos dados pela variável dependente No gráfico a seguir, encontra-se a realização das variantes da ordem dos clíticos em cada uma das variedades em estudo: 37 O número de dados por variedade deve ser relativizado pelo fato de no PE se tratar de três localidades (Oeiras, Cacém e Funchal), no PB duas (Copacabana e Nova Iguaçu) e no PST uma (área urbana de São Tomé) (cf. 5. Metodologia). Além disso, no PST, as entrevistas são mais curtas do que nas outras variedades. Além dessas características das amostras, vale destacar as particularidades de cada variedade; no PB, além de serem apenas duas localidades, há o fato de haver outras estratégias para substituir o clítico pronominal, ou seja, nem sempre o objeto é retomado com a forma átona, sendo, em alguns casos, a retomada feita pela forma tônica ou nula.

122 % 97% Variável dependente PB, PE e PST 80% 60% 40% 20% 0% 55% 45% 40% 0% 3% 0% 1% PB PE PST 59% Próclise Mesóclise Ênclise Gráfico 2: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nas lexias verbais simples no PB, PE e PST Na amostra brasileira, foram encontrados dados com lexias verbais simples e a próclise foi a opção preferencial, pela maioria dos informantes, tendo um percentual muito alto de realização (1.053/1088; 97%) em relação à ênclise (35/1088; 3%), pouco produtiva no corpus. Segundo Labov (2003 cf. Capítulo 3), quando há mais de 95% da realização de uma das supostas formas alternantes, a regra não seria variável, mas semicategórica. Destaca-se, também, que não houve a ocorrência da variante mesoclítica no PB. Comparando os resultados desta pesquisa à de Vieira (2002), verifica-se que a expressividade dos presentes resultados é ainda maior: enquanto em Vieira (2002) se encontraram 11% de dados da variante pós-verbal, o presente estudo encontrou apenas 3%, passados cerca de 30 anos entre uma amostra e outra. Esses dados também confirmam o que Castilho (2010, p. 484) mostra sobre o PB em sua gramática, confirmando que o PB é predominantemente proclítico. Abaixo, pode-se observar um exemplo da posição pré-verbal do clítico, prototípica no PB, e um da posição pós-verbal, em uma das estruturas particulares em que se encontra essa forma na variedade brasileira: Ex.1: L: vê com LF onde é que tira meu amor... e quando você descobrir me fala porque eu também que precisa tirar [COP-B-2-M] - Próclise Ex.2: sorvete na mão falou ah segura aí meu sorvete ((risos)) ai ganhou-lhe um TApa pela mão né o sorvete foi parar longe... [NIG-B-3-M] - Ênclise

123 123 No PE, obteve-se um total de dados com um constituinte verbal e verificou-se que há uma distribuição equilibrada entre as duas variantes da variável dependente, tendo a próclise (1.453/2664; 55%) ocorrido um pouco mais do que a ênclise (1.211/2664; 45%). Esse resultado está bem parecido com o de Vieira (2002), no qual a próclise (53%) também ocorreu um pouco mais que a ênclise (47%). Não se registrou qualquer dado em mesóclise. Assim, diferentemente do PB, a regra seria variável, ao menos em termos quantitativos, tendo sido as variantes proclítica e enclítica bem produtivas. Por meio da análise variacionista, será possível estabelecer os condicionamentos que atuam quanto ao uso de cada variante. Seguem os exemplos no PE: Ex.3: é que era sempre meio traquinas e dei cabo da cabeça dos meus pais mas por acaso em relação à educação que os meus pais me deram foi excelente [FNC-A-1- H] - Próclise Ex.4: L: somos um povo envelhecido por algum motivo é não é? e depois as pessoas queixam-se muito que isto não tá bom de finanças pa ter filhos. [CAC-A-1-M] - Ênclise No PST, encontraram-se 525 dados com uma forma verbal. Em relação aos resultados percentuais, essa variedade apresentou comportamento semelhante ao do PE, tendo a ênclise (310/525; 59%) ocorrido um pouco mais do que a próclise (215/525; 40%). A distribuição dos dados com maior produtividade da variante enclítica no PST pode estar relacionada não só ao modelo europeu de colocação, mas também à situação de contato linguístico na sociedade são-tomense, o que será observado melhor com o levantamento dos condicionamentos da regra variável. A regra nessa variedade também apresenta comportamento quantitativo variável, como no PE, como mostram os exemplos a seguir. Ex.5: fui trabalhar na casa de pessoa porque salário era muito baixo, também com a ajuda de minha avó sempre ela apoiou-me porque hoje em dia mesmo há mais [ST- A-1-M] - Ênclise Ex.6: eu tento lutar também porque a gente não pode sentar só esperar o que Deus vai dar né Deus, bíblia diz, Deus disse põe tua mão que eu te ajudo então eu ponho mão [ST-A-1-M] - Próclise Diferentemente das outras variedades, houve a realização da mesóclise (1/525; 1%), embora em apenas um dado, como se pode observar no exemplo abaixo: Ex.7: MAS é preciso que haja motivação por parte dos governantes e essa motivação tornar-se-ia mais extensiva aos professores [ST-C-3-H] - Mesóclise

124 124 Com base no descrito anteriormente, os dados do PB serão analisados de forma diferente das outras variedades. Como a regra é semicategórica, será feita a análise dos dados enclíticos e, adicionalmente, haverá uma demonstração das variáveis selecionadas pelo programa em uma rodada experimental, de modo a confirmar estatisticamente os contextos específicos em que se registra a posição pós-verbal. Já com o PE e com o PST, realiza-se um efetivo tratamento de regra variável e serão mostradas as variáveis selecionadas pelo programa, acompanhadas de exemplificação adequada. Antes, porém, observa-se a distribuição das ocorrências pelas variáveis extralinguísticas Distribuição dos dados pelas variáveis extralinguísticas Serão apresentados os resultados obtidos quanto às três variáveis extralinguísticas codificadas sexo, faixa etária e nível de instrução para a verificação do que ocorreu na fala dos indivíduos de cada sexo, das três faixas etárias e dos três níveis de instrução. Vale destacar que nem todas as variáveis foram selecionadas pelo Programa para o fenômeno; somente o sexo no caso do PST foi selecionado. No entanto, acredita-se ser importante sua análise para que se possa construir um panorama do comportamento de cada variedade. Variáveis extralinguísticas nas três variedades Próclise Sexo Faixa etária Nível de instrução PB 536/558 Homem Mulher Faixa A Faixa B Faixa C Nível 1 Nível 2 Nível 3 (96%) PE 659/1.215 (54%) PST 137/260 (53%) 517/530 (98%) 794/1.449 (55%) 78/265 (29%) 290/300 (97%) 360/657 (55%) 82/154 (53%) 374/382 (98%) 503/926 (54%) 60/180 (33%) 389/406 (96%) 590/1.081 (55%) 73/191 (38%) 365/371 (98%) 503/991 (51%) 44/126 (35%) 325/336 (97%) 476/833 (57%) 59/169 (35%) 363/381 (95%) 474/840 (56%) 112/230 (49%) Tabela 8: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais pelas variáveis extralinguísticas nas lexias verbais simples no PB, PE e PST No PB, verifica-se que os índices são muito próximos (todos a partir de 95%), não havendo, portanto, diferença expressiva pelos percentuais. Confirma-se, assim, que a regra é realmente semicategórica na variedade como um todo, não se tratando mais de fenômeno sensível a condicionamentos sociais.

125 125 No PE, conforme já foi dito anteriormente, nenhuma das variáveis extralinguísticas foi selecionada. Essa não seleção realmente se justifica pelo fato de os índices estarem bem próximos (entre 51% - 57%). Com isso, os resultados demonstram que o fenômeno não é sensível ao perfil do informante quanto ao sexo e à faixa etária (54% - 55%) nem ao nível de instrução (51% - 57%). Confirmam, assim, que a colocação dos clíticos pronominais depende, de forma geral, dos contextos sintáticos em que o pronome se encontra, contextos que serão descritos na próxima seção. Vale ressaltar que, no PE, a distribuição das variantes em relação a cada uma das três localidades controladas não foi efetivamente distinta, obtendo-se a variante proclítica em 57% dos dados em Cacém, 54% em Lisboa e 52% em Funchal. Além da distribuição geral dos dados, fez-se um cruzamento das três localidades com os elementos antecedentes (que será devidamente explorado na análise dos dados do PE) para verificar se haveria alguma diferença significativa nessa localidade, diferença que também não foi detectada. Pelo fato de não haver qualquer diferença significativa entre as três localidades do PE em termos percentuais e, ainda, de nenhuma variável extralinguística ter sido selecionada pelo Programa Goldvarb-x, não se separou a localidade de Funchal das demais. Com relação à atuação das variáveis extralinguísticas na amostra do PST, há uma perceptível diferença de comportamento entre os dados produzidos por indivíduos do sexo masculino (53%) e os do sexo feminino (29%), uma vez que os homens utilizam mais de 50% de próclise enquanto as mulheres utilizam apenas 29%. A faixa B (33%) e a faixa C (38%) estão bem próximas no que diz respeito à utilização da próclise, enquanto diferentemente a faixa A foi a que mais utilizou essa variante (53%). Quanto aos graus de instrução, também houve um equilíbrio nos níveis 1 e 2, tendo ambos 35% dos dados na posição proclítica, e o nível 3 foi o que mais realizou essa colocação (49%). Além de haver certa diferença percentual entre os fatores, a análise multivariada revelou condicionamento da variável sexo, que foi selecionada pelo programa Goldvarb-x e será mais bem analisada em subseção a seguir (cf Português de São Tomé). Com base na descrição ora apresentada, verifica-se que a distribuição quase idêntica quanto aos fatores sociais no PB e no PE sugere que o fenômeno está com o comportamento totalmente estável, pois, no PB, a próclise realmente seria quase categórica para todas as variáveis extralinguísticas e, no PE, elas não se mostrariam relevantes, pois o contexto estrutural em que o clítico se encontra seria o que realmente condicionaria cada variante em questão. No caso do PST, diferentemente das duas anteriores, não há uma estabilidade no condicionamento social do fenômeno, uma vez que a variável sexo (29% - 53%) foi

126 126 selecionada pelo programa, mostrando sua importância, e há níveis de realização bem diferentes na faixa etária (33% - 53%) bem como no nível de instrução dos informantes (35% - 49%). Assim, no PST, estaria ocorrendo uma instabilidade também no encaixamento social do fenômeno, que ainda está em via de se estabelecer como um tendência efetiva geral sãotomense Variáveis relevantes para o fenômeno O Programa selecionou, para o PE e PST, de todas as variáveis linguísticas codificadas para este estudo, as variáveis presença e natureza do elemento antecedente, tempo/modo verbal e distância entre o clítico e um elemento antecedente. Para o PST, além dessas variáveis, o programa também selecionou o sexo dos informantes e a tonicidade das formas verbais. Vale ressaltar que foram feitas várias rodadas com junções diferentes e foram escolhidas as rodadas multivariadas em que se pudesse observar o efeito das referidas variáveis sempre selecionadas e nas quais a significância fosse considerada muito boa para o tratamento das três variedades do Português: PB (0.04), PE (0,00) e PST (0,03). Destaca-se que, para o PB, como já foi dito anteriormente, a análise qualitativa será dos dados enclíticos, mas a rodada mais relevante será mostrada a título de curiosidade e informação adicional. Por isso, a partir daqui, os resultados apresentados das lexias verbais simples não só os valores absolutos e percentuais (nas tabelas/gráficos), mas também os pesos relativos (nos gráficos) referem-se às variáveis selecionadas pelo programa Português do Brasil Para analisar as lexias verbais simples do PB, observe-se o gráfico apresentado abaixo, que mostra a expressiva ocorrência da próclise em todos os contextos (início absoluto de oração/período e demais contextos):

127 127 Português do Brasil Mesóclise 0% Ênclise 3% Próclise 97% Gráfico 3: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nas lexias verbais simples no PB Como os índices gerais de próclise no PB alcançaram exatamente 97% dos casos, o que configuraria uma regra semicategórica nos termos de Labov (2003), e como nos contextos com elementos antecedentes à forma verbal, a maioria passou de 95%, é preciso investigar a natureza dos dados de ênclise para testar a hipótese de que eles não configurem efetivamente uma situação de variação. Por isso, diferentemente da análise do PE e do PST, em que a ênfase será dada à variante proclítica, para o PB, a análise será baseada nos dados enclíticos. Vale ressaltar que, quando possível e necessário, serão utilizados os resultados da rodada multivariada para confirmar o que estiver sendo analisado. Destaca-se que foram feitas diversas rodadas: com todas as variáveis linguísticas, retirando da rodada os dados categóricos com o pronome te e as partículas de negação, retirando o pronome te e todos os elementos antecedentes e, por último, retirando tudo o que fosse categórico (pronome te, partículas de negação, orações subordinativas e modo verbal no subjuntivo). Esta última rodada será utilizada na análise, pois foi a que mostrou os resultados de forma mais esclarecedora. A significância foi de.04 e o input, ou seja, a tendência da aplicação da próclise, foi de.98, mostrando que a tendência do PB é a colocação proclítica e confirmando que o estatuto da regra de colocação pronominal no PB é semicategórico. Dessa forma, dos dados em lexias verbais simples encontrados no PB, 1053 dados estão proclíticos, confirmando que a próclise em diversos contextos é comum na variedade brasileira (CUNHA & CINTRA, 2007; CASTILHO, 2010; VIEIRA, 2002) 38, inclusive em início absoluto de frase, sendo uma inovação brasileira, segundo Martins (2009). 38 Em contextos da escrita (LOBO, 1992; VIEIRA, 2002; MARTINS, 2009), embora também se registrem, a depender sobretudo do gênero textual, a próclise em diversos contextos, a distribuição dos dados é bastante diferente da fala brasileira, visto haver o uso produtivo da ênclise.

128 128 Descumpre-se, assim, a chamada Lei de Tobler-Moussafia, segundo a qual as formas clíticas não podem ocupar a posição inicial absoluta de frase; de acordo com Mateus et alii (2003, p. 849), esta generalização não é válida para (...) o português brasileiro (...) Me conta essa história direitinho. Foram encontrados somente 35 exemplos de ênclise em todo o corpus, confirmando o que Perini (2007, p. 2030) diz em sua gramática: a ênclise está desaparecendo do português brasileiro. Dessa forma, foram analisados tais dados, listados a seguir, para verificar em quais contextos ela ainda ocorre. Ex.8: outros não outros estão ali de repente... alguns frustrados porque não alcançaram o que desejavam na vida e restou-lhes apenas lecionar na rede pública [COP-A-2-H] Ex.9: se por exemplo no caso hipoteticamente eu sou o prefeito do Rio de Janeiro... o que eu faria assim... expandia a rede de abrigos e torná-los centros de formação... [COP-A-2-H] Ex.10: àquelas pessoas dar cidadania dar... horizontes pra ela você formá-la se a família não teve a competência de formar aquela/ aquele indivíduo NE [COP-A-2-H] Ex.11: as armas só só trazem/ o que elas podem trazer? eh morte apenas né eu acho que deveria estar restrita a quem é capaz e competente para usá-la pra manuseá-la... [COP-A-2-H] Ex.12: as armas só só trazem/ o que elas podem trazer? eh morte apenas né eu acho que deveria estar restrita a quem é capaz e competente para usá-la pra manuseá-la... reformar a polícia [COP-A-2-H] Ex.13: então eh: então eles vêm aqui justamente com essa intenção (que) as pessoas aqui têm como eh provê-las essas pessoas nesse sentido né [COP-A-2-H] Ex.14: você moldar você controlar se torna muito mais complicado né então se houvesse um preparação de pais de ensiná-los a ser pais o que é ser pai? [COP-A-2- H] Ex.15: eu tenho uma relação de respeito com o meu pai que: assim nunca precisou bater em mim pra... eu temê-lo pra que eu (o) respeitasse... [COP-A-3-H] Ex.16: uns Erros gritantes assim... nunca ví... falam BEM... são duas pessoas que discursam bem eu já tive oportunidade de/ de vê-los de PERto e tudo... eh:: e são pessoas que falam bem [COP-A-3-H] Ex.17: L: que i::sso ca:ra como é que tu pode deixar um negócio desse acontecer na tua ca::sa rapaz:... que falta de (sabe) D1: é L: perdeu-se a questão (do sentar-me) à me:sa [COP-B-1-H]

129 129 Ex.18: L: que i::sso ca:ra como é que tu pode deixar um negócio desse acontecer na tua ca::sa rapaz:... que falta de (sabe) D1: é L: perdeu-se a questão (do sentar-me) à me:sa [COP-B-1-H] Ex.19: Maria e José que acompanhavam Jesus onde ele ia: entendeu Jesus que respeitava os seus pais... perdeu-se hoje isso... e (tal) não tem mais respeito né [COP-B-1-H] Ex.20: L: então perdeu-se muito isso... (já do meu outro irmão) é uma zo:na D2: ((risos)) [COP-B-1-H] Ex.21: L: eu tenho... não quando eu me aposentar eu provavelmente vou-me embora pra Maceió e vou vir ao Rio apenas pra passear [COP-B-2-M] Ex.22: L: então o quê que você tem que fazer daqui pra frente na sua vida?... tudo que você quiser ou acontecer você diz envolvo-me... na força da imensidão do amor de Deus... [COP-C-1-M] Ex.23: ajudar a fazer currículo... ensinavam como a gente deveria proceder... nas entrevistas... foi muito bom e acabou-se... [COP-C-2-M] Ex.24: a mulher é mulher e homem é homem... hoje em dia em dia eu sou amiga do meu marido... eu sou de deixá-lo... eu acho que ele vai ficar sozinho [COP-C-2-M] Ex.25: L: lá nos Estados Unidos... quando ele tirou o:... o PHD... e: o orientador dele... até hoje... convida-o... para dar aulas no lugar dele [COP-C-3-H] Ex.26: L: é batalhão (Suez)... chama-se batalhão Suez um batalhão do segundo regimento de infantaria... aqui do Rio [COP-C-3-H] Ex.27: L: com coisinhas para os/... mandavam goiabada (mandavam isso mandavam aquilo)... e na volta... o avião levava... coisas que o pessoal de lá comprava D: uhn L: mandava-se... e/ essas coisas raras (que tem por aí) [COP-C-3-H] Ex.28: L: eh fui receber a LF no Cairo D: uhn L: e levei-a para um ( )... lá ela ficou hospedada na pensão que havia justamente pra isso [COP-C-3-H] Ex.29: a LF foi pra (uma ilha) no Cairo... passamos uns dias lá e depois ela foi pra Faixa de Gaza... eu levei-a pra pensão [COP-C-3-H] Ex.30: L: mas ganhavam tudo... no meu batalhão... no/ na minha metade/ no meu batalhão que é o décimo primeiro... foi o campeão brasileiro de tiro... chamava-se Major LM... [COP-C-3-H]

130 130 Ex.31: L: é as pessoas L: percebe... percebe-se muito aí fora [NIG-A-2-M] Ex.32: Pai Rico Pai Pobre... chama-se criar um portefólio... você tem que criar teu portefólio... [NIG-B-3-H] Ex.33: sorvete na mão falou ah segura aí meu sorvete ((risos)) ai ganhou-lhe um TApa pela mão né o sorvete foi parar longe... [NIG-B-3-M] Ex.34: aí você imagina... eu: já tou aqui... eu NASCI:: no K onze... então o K onze pra mim tornou-se realmente assim... [NIG-B-3-M] Ex.35: ah não peraí tá entrando lama na caixa econômica se é um banco do Brasil ah não tem que f/ fechar... que se dane-se Guanabara se fosse uma polícia federal... [NIG-C-1-H] 39 Ex.36: deram o nome de Bahia de todos os santos por que dia primeiro é dia de todos os santos então usa-se esse costume de dar nomes aos locais para identificar... [NIG- C-3-H] Ex.37: as crianças estão muito sol:tas muito não/ não tem assim uma re:gra a seguir: e isso parece-me que é voz geral em to:das as escolas... entendeu? [NIG-C-3-M] Ex.38: por exemplo quando é as pessoas que moram lá dentro de Iguaçu Ve:lho por exemplo... parece-me que é até às dez horas da noite que o ônibus chega [NIG-C-3- M] Ex.39: o projeto é do Bournier... agora parece-me que vai se estender a/ o projeto o / oficial é que ele/ a: Via Light se estenda até o porto de Sepetiba né... [NIG-C-3-M] Ex.40: a Via Li:ght é o cartão de visitas deve-se ao Bournier... aí fica naquela / naquele jogo de empurra... [NIG-C-3-M] Ex.41: L: só não vale é botar um monte de criança no mundo e não ter como fazer para / para faze-lo ge / gente grande gente descente... [NIG-C-3-M] Ex.42: L: ele simplesmente tirou ZERO... o professor de ciências deu-lhe ZERO... isso palav / coisas contadas por ele [NIG-C-3-M] Analisando os 35 exemplos supracitados, verifica-se que a ênclise ocorre em contexto com ou sem proclisador, embora a grande maioria desses dados tenha ocorrido sem elemento proclisador clássico: como no início absoluto, depois de sujeitos, de conjunções coordenativas etc. 39 Verifica-se que o clítico apareceu duplicado nesse exemplo, mostrando a dúvida do falante, se utilizaria a colocação proclítica ou enclítica. Embora não seja objetivo específico do presente estudo observar essas estruturas, comportamentos como esse são relevantes para sinalizar o processo de aquisição de variantes pouco familiares a usuários de normas vernaculares distintas das que se tem como modelares.

131 131 Cabe observar, ainda, que, dos 36 informantes brasileiros investigados no presente estudo, os dados de ênclise ocorreram na fala de apenas 13, sendo que 4 deles foram os que mais produziram a variante enclítica os quatro em conjunto concretizaram 23 das 35 ocorrências. São três homens de Copacabana: COP-A-2-H com 7 dados, COP-B-1-H com 4 dados e COP-C-3-H com 6 dados; e uma mulher de Nova Iguaçu: NIG-C-3-M com 6 dados. Vale destacar que os dois últimos informantes são da faixa etária C e do nível de instrução 3. Além disso, dos 35 dados enclíticos, 25 são de Copacabana e somente 10 de Nova Iguaçu. Provavelmente, essa diferença pode estar relacionada ao fato de os informantes de Copacabana terem mais acesso a uma variedade de práticas socioculturais e consequentes experiências de letramentos múltiplos, típicas da região de prestígio em uma sociedade, se comparados aos indivíduos de Nova Iguaçu. Obviamente, essa hipótese só poderá ser confirmada mediante um estudo sociológico aprofundado dessas comunidades, bem como do impacto de suas características em relação a vários fenômenos linguísticos. No que diz respeito, ainda, às variáveis extralinguísticas, os falantes do sexo masculino produziram maior número de dados: foram 22 ocorrências encontradas na fala dos informantes do sexo masculino e apenas 13 na do sexo feminino. O controle do nível de instrução demonstrou que mais da metade dos dados foi concretizada por informantes com nível 3 (superior) de escolaridade, indivíduos que estudaram mais, o que confirmaria o pressuposto de o clítico na posição pós-verbal ser um aprendizado da escola. Interessante é a escala que se formou nessa variável, tendo em vista que, depois do nível 3 (com 18 dados de ênclise), vem o nível 2 (com 11 dados) e, por último, o nível 1 (com apenas 6 dados), mostrando que, na subamostra de dados de colocação pósverbal, quanto mais instruído é o indivíduo, maior é o número de ênclises por ele produzida. Em relação à faixa etária, verificou-se certa diferença, tendo em vista que quase a metade dos dados foi produzida pela faixa etária C (17 dados), ou seja, por falantes mais velhos. Na rodada experimental, em que, mesmo assumindo não haver um caso de efetiva regra variável, se testou o tratamento estatístico, a faixa etária foi selecionada pelo programa e teve o seguinte resultado:

132 132 LVS - PB Faixa etária no PB Próclise Faixa A 290/300-97% Faixa B 374/382-98% Faixa C 389/406-96% Tabela 9: Distribuição dos dados da variante proclítica nas lexias verbais simples pelas três faixas etárias do PB Faixa Etária - PB 1 0,8 0,6 0,4 0,7 0,52 0,32 Próclise 0,2 0 Faixa A Faixa B Faixa C Gráfico 4: Aplicação da próclise nas lexias verbais simples do PB de acordo como a faixa etária 40 Analisando os resultados acima, embora se reafirme que percentualmente não há praticamente diferença entre as faixas etárias (A = 97%, B = 98% e C = 96%), os pesos relativos indicam tendência à implementação genérica da próclise, de modo que, quanto mais jovem, maior se mostra a realização da próclise nas lexias verbais simples; assim, a faixa etária A (0,7) favorece a posição proclítica, seguida da faixa B (0,52) com favorecimento mais discreto, visto estar próximo ao ponto neutro (0,50), e a faixa C (0,32) desfavoreceria a posição antes do verbo, como se pode observar nos exemplos a seguir: Ex.43: L: então eu pa/ passava o dia inteiro com a minha vó entendeu... a minha avó o meu avô me levavam pra escola de manhã... fazia almoço [COP-A-2-M] Faixa A 40 Constata-se que houve certa assimetria entre os percentuais e os pesos relativos no caso da variável faixa etária. No entanto, vale destacar que, percentualmente, a distribuição da próclise por faixa etária se mostrou praticamente idêntica nos três fatores controlados; desse modo, coube à análise estatística desenvolvida pelo Programa ponderar os diversos fatores em coatuação e prover os pesos relativos dispostos no gráfico, que sinalizam o efetivo efeito condicionador em questão.

133 133 Ex.44: L: as minhas noras me chamam de você [NIG-B-1-M] Faixa B Ex.45: as crianças estão muito sol:tas muito não/ não tem assim uma re:gra a seguir: e isso parece-me que é voz geral em to:das as escolas... entendeu? [NIG-C-3-M] Faixa C Em relação às variáveis linguísticas, no que tange ao tempo verbal, há onze exemplos com o verbo no infinitivo e vinte e quatro com o verbo no indicativo. Dos verbos no indicativo, doze estão no passado e doze no presente; esse uso expressivo de formas infinitivas sugere um comportamento particular dessas estruturas, o que, como se observa a seguir, se associa ao tipo de pronome em questão. No que diz respeito ao tipo de clítico, dos 35 dados de ênclise, 13 são com os clíticos acusativos, mostrando que a posição pós-verbal é verificada com as formas o(s) e a(s), principalmente quando o verbo está no infinitivo. Na tabela a seguir, registra-se a distribuição percentual do total de dados de ênclise quanto ao tipo de clítico: Tipo de clítico Clíticos Ênclise O (s), a (s) 13/35 = 37% Se 13/35 = 37% Me 6/35 = 17% Lhe 3/35 = 9% Tabela 10: Distribuição dos dados da variante enclítica nas lexias verbais simples do PB pelo tipo de clítico No que se refere exclusivamente aos 35 dados de ênclise e ainda ao tipo de clítico, os exemplos ocorrem com o acusativo (13 dados), com a forma dativa lhe (3 dados), como se mostrou anteriormente, ou com o se (13 dados), além de 6 ocorrências com o pronome me, o que pode estar relacionado ao que o indivíduo aprendeu na escola. Estudos anteriores, como os de Rodrigues-Coelho (2011), demonstram que, no contexto escolar, os brasileiros acabam por utilizar, até o fim do ensino médio, as formas acusativa e dativa, além do clítico se sobretudo em estruturas indeterminadoras clíticos pouco utilizados na fala vernacular, espontânea e não monitorada em ênclise nas redações escolares. Além disso, há que se atentar para a presença de construções como se fossem formas fixas com o se, como nos dados de chama-se, dane-se, ou, ainda, deve-se. Quanto às três ocorrências de lhe, sobretudo duas, elas também podem, ao que parece, estar associadas a um tipo de construção mais ou menos fixa, uma com o verbo dar ( deu-lhe

134 134 zero ) e outra com o verbo ganhar ( ganhou-lhe uma tapa ), além da ocorrência com o verbo restar ( restou-lhe ). Dos seis dados com o me, o exemplo 22 é uma citação; há dois dados com o pronome inerente ligados o verbo ir (vou-me) e sentar (sentar-me); e os outros três dados são com o verbo parecer o que também se associa a certo grau de fixidez na construção parece-me que... e são do mesmo informante: uma mulher de Nova Iguaçu da faixa etária C e com o nível 3 de instrução. Para confirmar a análise feita sobre os pronomes enclíticos, observe-se a tabela, a seguir, que apresenta os índices percentuais de próclise na totalidade dos dados do PB, considerando a variável tipo de clítico: LVS PB Tipo de pronome Próclise te / % me, nos 479/485-99% se reflexivo 304/308-99% se indeterminador/apassivador 157/166-95% o (s), a (s), lhe (s) 42 9/25-36% Tabela 11: Distribuição dos dados da variante proclítica nas lexias verbais simples do PB por tipo de clítico A tabela mostra que, percentualmente, os clíticos o(s), a(s) e lhe(s) realizariam efetivamente mais a ênclise, sendo a próclise registrada em apenas 36% dos dados. Tal resultado pode estar diretamente relacionado ao fato de esses pronomes serem adquiridos por intermédio da escola, da leitura de textos mais formais, conforme já se apresentou. Nos exemplos a seguir, verifica-se o comportamento preferencial dos clíticos acusativo e dativo de terceira pessoa. Ex.46: L: primeiramente quanto aquele problema que a gente falou inicialmente os moradores de rua ter na/ eh se por exemplo no caso hipoteticamente eu sou o prefeito do Rio de Janeiro... o que eu faria assim... expandia a rede de abrigos e torná-los centros de formação... realmente do indivíduo e naqueles locais as pessoas terem [COP-A-2-H] 41 Vale ressaltar que todos os dados com o pronome te apareceram proclíticos; por isso, no gráfico a seguir apresentado só figura o percentual, e não o peso relativo. 42 Como já foi visto anteriormente, houve somente seis dados com o lhe (s), motivo pelo qual se optou, para a rodada multivariada experimental, fazer a junção dos referidos clíticos de terceira pessoa e os acusativos.

135 135 Ex.47: àquelas pessoas dar cidadania dar... horizontes pra ela você formá-la se a família não teve a competência de formar aquela/ aquele indivíduo né então o Estado assume a responsabilidade de formar aquele indivíduo dar educação [COP-A-2-H] Ex.48: L: mas muito bonzinho... pra nós que estávamos ( )... e:... a LF foi pra (uma ilha) no Cairo... passamos uns dias lá e depois ela foi pra Faixa de Gaza... eu levei-a pra pensão [COP-C-3-H] Ex.49: sorvete na mão falou ah segura aí meu sorvete ((risos)) ai ganhou-lhe um TApa pela mão né o sorvete foi parar longe... [NIG-B-3-M] Na rodada multivariada experimental adicional, o programa indicou o desfavorecimento da próclise com os pronomes acusativos, o lhe(s) e o se indeterminador/ apassivador, como pode ser visto no gráfico a seguir 43 : 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 Tipo de Clítico - PB 1 0,63 0,59 0,21 0 Próclise Gráfico 5: Aplicação da próclise nas lexias verbais simples do PB de acordo com o tipo de clítico Em relação aos tipos de clíticos, verifica-se que os pronomes te (100% de próclise), os de primeira pessoa me, nos (0,63) e o se reflexivo (0,59) favorecem a próclise, enquanto os clíticos se indeterminador e apassivador (0,21) e os pronomes acusativo e dativo de terceira pessoa o (s), a (s) e lhe (s) (0,00) desfavorecem a referida variante. 43 Quando os índices foram categóricos, seja para a próclise (100%) ou para a ênclise (0%), o resultado foi adaptado para a representação em peso relativo, como mostra o Gráfico 5, no qual a próclise se deu, por exemplo, em 100% dos dados com o pronome te.

136 136 Apenas para confirmar que a variante proclítica assume caráter geral na variedade brasileira, apresentam-se, aqui, os resultados quantitativos referentes à presença e à natureza do elemento antecedente, como se pode observar na tabela e no gráfico a seguir: Elementos antecedentes LVS PB Próclise Partículas de negação 177/ % Conjunções subordinativas 266/268-99% Sujeitos 286/291-98% Adjuntos adverbiais 60/64-94% Preposições 101/108-93% Complementos preposicionados 14/15-93% Início absoluto 116/128-91% Conjunções coordenativas 33/37-89% Tabela 12: Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com o elemento antecedente nas lexias verbais simples do PB 100% 80% 60% 40% 20% 0% Elementos Antecedentes - PB 100% 99% 98% 94% 93% 93% 91% 89% Próclise Gráfico 6: Aplicação da próclise de acordo com o elemento antecedente nas lexias verbais simples do PB No Português do Brasil, quando se analisam os percentuais dos elementos antecedentes, confirma-se não haver qualquer efeito proclisador, visto que, mesmo em início absoluto de oração, a próclise chega a alcançar 91% das ocorrências. Os resultados apontam,

137 137 ainda, a próclise categórica com as partículas de negação (100%) e quase categórica com as conjunções subordinativas (99%), consideradas tradicionalmente atratoras, mas também após sujeitos (98%), contexto que obrigaria a ênclise na visão tradicional. Além disso, vale destacar que os demais contextos analisados se mostraram com um percentual bem relevante, sendo a maioria acima de 91%, somente as conjunções coordenativas tiveram um percentual um pouco menor (89%). Embora haja certa oscilação dos índices percentuais, verifica-se a confirmação do input geral da regra, mostrando que a próclise é a colocação geral, de modo que os valores percentuais registram essa opção preferencial em todos os contextos, considerados atratores tradicionais ou não, o que invalida a possibilidade de interpretação de efeito proclisador no PB. Esse resultado demonstra que não há, efetivamente, o tradicional efeito proclisador, mas um comportamento particular no PB, como pode ser verificado nos exemplos a seguir: Ex.50: L: é eu trabalhei no Humaitá... antes... porque eu trabalhei num órgão da prefeitura... eh:: e trabalhar no Centro é muito melhor por tudo por transporte que é mais fácil porque o metrô te leva até lá... coisa que/ no Humaitá já não tem metrô... né... eh [COP-A-3-H] Ex.51: eh justamente isso você... embora... eh você pode conse/ muitos claro que não são não tem essa/ esse instinto não tem essa caráter delinqüente assim não são bandidos mas você se sente inseguro [COP-A-2-H] Ex.52: D: e você acha que em matéria de segurança o seu bairro é um bom bairro? você se sente seguro? L: me sinto eu nunca fui assaltado só você andar na rua que tá tranqüilo... [COP-A- 1-H] Assim, após a análise qualitativa dos 35 dados enclíticos encontrados em ocorrências coletadas para o PB, complementada pela rodada multivariada que se experimentou fazer e pela análise de alguns grupos de fatores costumeiramente relevantes ao fenômeno, pode-se mostrar que as ênclises encontradas são muito específicas, pois ocorrem, em geral, com determinadas formas verbais (infinitivo (11), além do presente e passado do indicativo) e determinadas formas pronominais (destacando-se o(s), a(s) ), além de em alguns casos parecerem expressões com algum grau de fixação lexical, como em deu-lhe, parece-me e chama-se. Dessa forma, confirma-se o estatuto semicategórico da colocação pronominal no PB também em termos qualitativos. Em relação à realização da variante pós-verbal, a maioria dos

138 138 casos é, de fato, de construções particulares e está longe de representar mobilidade geral dos clíticos no PB. Trata-se de pronomes normalmente adquiridos por letramento, de frases prontas, não configurando ser a ênclise uma construção sintática natural. Ao que parece, seriam construções mais fixas, cristalizadas ou, mais raramente, adquiridas através de experiências de letramento, na escola ou por meio da leitura de textos Português Europeu Tendo sido atestada a variação quantitativa na colocação pronominal do PE, serão mostradas as variáveis relevantes selecionadas pelo programa, considerando como valor de aplicação a variante pré-verbal, quais sejam: presença e natureza do elemento antecedente, modos verbais e distância entre o clítico e um elemento antecedente. Sendo a ordem dos clíticos pronominais no PE um fenômeno controlado estruturalmente, os grupos de fatores relacionados limitam-se ao efeito exercido pela presença e natureza do elemento antecedente ao verbo e à própria forma verbal em questão. a) Presença e natureza do elemento antecedente LVS PE Presença e natureza do elemento antecedente Próclise Partículas de negação 387/398-97% Conjunções subordinativas 702/770-91% Prep. para, de por e sem 145/155-93% Operadores de foco 130/151-86% Adjuntos adverbiais 15/96-15% Complementos preposicionados 6/42-14% Preposições a e em 5/34-14% Sujeitos 39/348-11% Conjunções coordenativas 20/186-10% Início absoluto 0/484-0% Tabela 13: Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com o elemento antecedente nas lexias verbais simples do PE

139 139 Elementos Antecedentes - PE 1 0,91 0,81 0,77 0,8 0,66 0,6 0,4 0,2 0 0,04 0,04 0,03 0,03 0,02 0 Próclise Gráfico 7: Aplicação da próclise de acordo com o elemento antecedente nas lexias verbais simples do PE Na tabela e no gráfico acima, verifica-se que, em início de sentença (oração e período), não houve nenhum dado em próclise, como se esperava, motivo pelo qual foram desconsiderados (excluídos da amostra) os dados em início absoluto de oração e de período. Esse resultado categórico que confirma o que foi atestado nos poucos estudos que tratam da fala portuguesa, como Vieira (2002), Vieira, M. F. (2011) é fundamental para o estabelecimento do perfil de cada variedade do Português, sobretudo porque se configura uma diferença radical entre o parâmetro adotado no PB (com 91% de próclise nesse contexto) e o adotado no PE, com ausência de variação no início de sentença. Quanto aos demais contextos, constata-se a atuação de dois grupos em direção contrária: o dos elementos que exerceram efeito proclisador e o dos elementos sem esse efeito. As partículas de negação (0,91) e as conjunções subordinativas (0,81) são os elementos que mais favorecem a realização da próclise. Além dos dois fatores já referidos, as preposições para, de, por e sem (0,77) e os operadores de foco (0,66) também favoreceram a variante proclítica. Ex.53:INF: porquê porque as pessaoas [pessoas] não se respeitam agora as melheres [mulheres] já não se se submetem aos homens [FNC-A-1-M] Ex.54: o momento mais marcante se calhar vai ser (XX) provavelmente foi quando me disseram a nota do do projecto final [FNC-A-3-H]

140 140 Ex.55: L: os meus pais são capazes de se sentar comigo e com o meu irmão e termos ali uma conversa... [CAC-A-2-H] Ex.56: L:...aqui onde eu estou por exemplo acontece muito isso a gente temos pessoas mais do Norte também se vê muitos alentejanos acho engraçado... [CAC-A- 1-M] No entanto, é importante destacar que essa realização proclítica não registra nem se aproxima de índices categóricos (cf. exemplos a seguir), ou seja, a realização da próclise não se deu em 100% dos dados que tinham esses elementos antes do clítico. Com as partículas de negação, por exemplo, registrou-se o percentual de 3% da variante pós-verbal e o peso relativo de 0,09 em relação à ênclise. Esse resultado não confirma a suposta parametrização radical em relação ao efeito proclisador no PE. Nos trabalhos de Vieira (2002) e Vieira, M. F. (2011), esse efeito proclisador categórico também não foi confirmado. Em Vieira (2002), só as partículas de negação obtiveram 100% dos dados enclíticos; nos demais contextos proclisadores, isso não ocorreu (conjunção subordinativa (89%), conjunção integrante (96%) e pronome relativo que (99%), por exemplo). Essa variação em tais contextos foi confirmada, quase dez anos depois, com o trabalho de Vieira, M. F. (2011), que verificou a colocação no chamado Português Dialetal e mostrou que não houve nenhum dado com atração categórica (partículas de negação (.98), preposições para, de, por e sem (.97), elementos de foco (.95), estruturas clivadas (.94) e elementos subordinativos (.76)). De acordo com a mais recente gramática de Raposo et alii (2013) 44, Martins propõe que os pronomes clíticos são sempre proclíticos nas orações principais negativas, até mesmo nos casos em que ocorre a chamada negação expletiva (grifo nosso) (p. 2242). Além disso, destaca que as palavras nenhum, nada, ninguém se encontram associadas ao valor negativo e à natureza quantificacional, o que permitiria juntá-las ao grupo dos quantificadores, que são também desencadeadores de próclise (p. 2243). Com as conjunções subordinativas, o percentual de ênclise foi ainda maior, de 9% e 0,19. Entretanto, segundo Martins (in Raposo et alii, 2013), os pronomes clíticos ocorrem em posição proclítica em todos os tipos de orações subordinadas finitas. (p. 2274). Na página seguinte, a fim de ilustrar a universalidade da próclise nos domínios de subordinação finita (grifo nosso) (p. 2275), apresenta-se um conjunto de exemplos em que a colocação proclítica ocorre, mesmo quando o elemento subordinativo não está adjacente ao verbo. No entanto, 44 Escolheu-se essa gramática por ser a mais recente, mas, em Mateus et alii (2003), as considerações sobre a colocação nesses contextos são bem parecidas.

141 141 como se pode observar, os dados da presente pesquisa com negativas não se revelaram sempre proclíticos (há 11 contra-exemplos) e os subordinativos não mostraram a universalidade da próclise (há 68 contra-exemplos), como se pode observar nas ocorrências a seguir: Ex.57: I- o que é que me agrada em Lisboa eu amo muito eu acho que eu acho que agrada-me quase quase tudo eu gosto muito de viver em Lisboa [OEI-B-2-H] Ex.58: comia e aproveitava e ía visitar e isso parece que não dava-me um sentido ah moral e psicológico que parece que não a ajuda-me o dia-a-dia ficava preenchido [OEI-C-2-H] Ex.59: as mercearias na altura fechava às onze às nove da noite a gente só tomava-se banho pois ia-se pá [para a] mercearia enquanto ia-se pá mercearia [FNC-B-1-M] Ex.60: eu também trabalhei no bes no bes foi uma experiência do meu primeiro ano de curso que eu candidatei-me [FNC-A-3-M] Ex.61: mas é que quando ela foi pa lá disse tu vais gostar tu vais gostar diana que ela chama-se Diana [FNC-B-3-M] Ex.62: e então isto era chamado a gaiola representava o figorífico mas era chamado a gaiola e era que cozia-se o comer [FNC-C-1-H] Ex.63: todas essas aritméticas é um fascínio que eu sempre tive ehh é evidente que uma pessoa sente-se bem [FNC-C-2-H] Ex.64: era tudo pronto tudo à mão tudo eram pronto eram foram tempos espectaculares que eu recordo me iss/isso tendo em vista talvez hoje [CAC-C-2-H] Ex.65: não podia comer aquilo houve uma vez que o miúdo a sentiu-se à solta [OEI- C-2-M] Ex.66: portanto eu era a mais pequena ah batiam-me não é mas depois havia uns que eles protegiam-me não é? [OEI-C-3-M] Ex.67: já tenho estado em países que aquilo depois é um odor inesquecível que eu às vezes lembro-me daquele país [OEI-C-3-M] Ex.68: e então meu pai eeh eles era ele era ele ele dormia num quarto sozinho e a minha mãe à [é] que dava-lhe o almoço [FNC-B-1-M] Ex.69: é assim eu adoro todos os miúdos que tenho aqui...e o engraçado é que eles sentem-se aqui bem... [CAC-B-2-M] Ex.70: a palavra é a MESMA coisa portanto não vejo diferença tanto que eu sinto me bem tanto numa como noutra [CAC-C-2-H]

142 142 Ex.71: como se tem ouvido ultimamente que não tenha ido ao conhecimento dele só que ele faz-se ingénuo e ignorante [CAC-C-2-H] Ex.72: INF: eh é assim ele eu quero que ele estude e que concretize-se profissionalmente [FNC-A-3-M] Ex.73: não há nenhuma criança que não seja um pouco distraída porque acho que as crianças distraem-se com facilidade [FNC-B-2-H] Ex.74: oxalá que eu teja [esteja] enganado e que eu diga que esta selecção surpreendeu-me pela positiva [FNC-B-2-H] Ex.75: porque a matriz é a mesma agora é evidente que a partir daí abre-se um campo de possibilidades [FNC-B-3-H] Ex.76: a: portanto a: era o suficiente para eu ficar com medo não fiquei não fiquei muito assustada a: acho que pensei que aconteceu-me a mim e já aconteceu a tanta gente [CAC-A-2-M] Ex.77: agora mora mais em cima noutro noutro noutro bloco de de prédio a: mas estão ali todos três juntos e se eu disser que passa-se mês meses que a gente não se vê [CAC-C-1-M] Ex.78: abriu de repente abriu a ferida e: eu estava em casa a fazer repouso entretanto vejo através da televisão que as pessoas encaminhavam-se prá/prá Itália [CAC-C-2- M] Ex.79: bem como a identidade e a cultura própria e é evidente que isso traz-nos alguns problemas [CAC-C-3-H] Ex.80: I- se eu vejo-me casado e com filhos? a eu sou a favor do casamento a sou a favor de ter filhos também acho que sim que vejo-me casado e com filhos [OEI-B-2- H] Ex.81: gosto muito de estar sossegada até mesmo se estiver sozinha não me importo nada que eu distraio-me sempre [OEI-C-2-M] Nos exemplos acima, a colocação proclítica não ocorreu. Na gramática de Raposo et alii (2013), Martins não abre nenhuma exceção em relação às partículas negativas, como seria o exemplo 58. No entanto, em relação às orações subordinadas finitas, ela ressalta que embora a próclise seja o padrão dominante de colocação dos pronomes clíticos em todos os tipos de orações subordinadas, a ênclise é permitida (sendo uma opção de expressão pouco frequente) nas seguintes situações (p. 2276) e mostra que nas orações com os verbos declarativos (afirmar, concluir, declarar), apresentativos (ocorrer, acontecer), de crença e de conhecimentos (achar, acreditar, pensar, saber), de percepção (ouvir, sentir) e pelo verbo

143 143 parecer, além das orações consecutivas e algumas estruturas clivadas. Com a quantidade e a variedade dos exemplos acima, pode-se constatar que, ao contrário do que diz a gramática, não seria pouco frequente a ênclise nesses contextos; além de essa variante ser registrada com as partículas de negação, diversos casos não se encaixam nos contextos particulares citados pela gramática. Os operadores de foco são favorecedores da variante proclítica e apresentaram muitas ocorrências proclíticas, uma vez que, de 151 dados, 130 concretizaram essa variante. Ressalta-se que esses elementos ocorreram com uma frequência considerável, tendo em vista que se trata de dados orais e são muito comuns nessa modalidade. Os dados que estão nesse grupo são, como já foi visto na metodologia, apenas, só, até, mesmo, ainda, inclusive, também, já entre outros, como se pode observar nos exemplos a seguir: Ex.82: para o supremo tribunal o seguinte e um processo muito vasto agora ehh a maior parte das questões até se resolvem normalmente por negociação [FNC-C-3-H] Ex.83: a casa de minha mãe bordar e a gente também se bordava quando a minha tia vinha [FNC-B-1-M] Ex.84: L:...aqui onde eu estou por exemplo acontece muito isso a gente temos pessoas mais do Norte também se vê muitos alentejanos acho engraçado... [CAC-A- 1-M] Ex.85: são coisas que faci resolve-se facilmente porque as pessoas que já lá estão já se conhecem muito bem [FNC-A-3-H] Ex.86: INF: a gente trab ah lá a gente trabalha ganhamos mas a gente trabalha não é coma [como a] aqui isto aqui também ganha-se pouco [FNC-C-2-M] Ex.87: e depois a na as mercearias na altura fechava às onze às nove da noite a gente só tomava-se banho [FNC-B-1-M] Na gramática de Raposo et alii (2013), Martins destaca que os advérbios focalizadores, tanto os de inclusão como os de exclusão, determinam próclise obrigatória quando precedem o verbo (p. 2255). Analisando os exemplos acima, verifica-se que a maioria ocorreu com a variante proclítica. No entanto, nos dois últimos, a ênclise foi realizada. Assim, destaca-se que, apesar de ser bem produtiva a próclise depois desses operadores de foco, como determina a gramática portuguesa, há alguns exemplos que não seguem essa tendência.

144 144 Os adjuntos adverbiais (0,04), os complementos preposicionados (0,04), as preposições a e em (0,03), os sujeitos (0,03) e as conjunções coordenativas (0,03) desfavoreceram a próclise. Em relação aos adjuntos adverbiais, como já foi dito na metodologia, foram considerados os advérbios simples, os advérbios em mente e as locuções adverbiais. Na realidade, dos 96 dados com esses advérbios, 15, com os advérbios simples (mais curtos como o aqui), concretizaram a colocação proclítica, enquanto os advérbios mais longos (em mente) e as locuções adverbiais favoreceram a colocação enclítica, como se pode verificar nos exemplos abaixo: Ex.88: L: pronto eu nasci numa aldeia pequenina... mesmo a minha aldeia tem uma festinha anual... pronto lá lhe dão um nome... [CAC-B-2-M] Ex.89: os meus amigos da rua depois os meus pais lá me chamavam à razão para ir para casa [CAC-A-3-H] Ex.90: estava com atenção e isso parece que não mas por aqui se vê na realidade a diferença [OEI-C-2-H] Ex.91: quande antigamente antigamente ia-se comia-se mais verduras coisas naturais [FNC-C-1-M] Ex.92: INF: antigamente arranjava-se um noivo [FNC-C-1-M] Ex.93: L: não ando a pé na rua portanto logo também ah.. estas questões me podem passar um bocadinho mais despercebidas ah mas realmente nota-se que é uma zona mais desfavorecida [CAC-A-3-M] Ex.94: parece que não a ajuda-me o dia-a-dia ficava preenchido até depois às vezes discutia-se com horários [OEI-C-2-H] Ex.95: aquele barulho muito grande de volta dos ouvidos já não não ah tenho aí filmes por vezes esqueço-me de os passar porquê? [OEI-C-2-H] Ex.96: D: o principal era a sopa e então pronto todos os dias se variava não é todos os dias [CAC-C-1-M] Ex.97: L: pó alto mar pá pesca e é assim a vida e assim se passa... num instante se passa o ano [CAC-C-1-H] Destaca-se que, nos dois últimos exemplos, há dois tipos de adjuntos adverbiais do tipo locução e, mesmo sendo um adjunto longo, que, geralmente, não favorece a próclise, esta variante foi a que ocorreu. Isso pode ter ocorrido por ter havido, ao que parece, uma

145 145 focalização do constituinte adverbial, que estaria fora de sua posição normal após o verbo. Na gramática de Raposo et alii (2013), Martins afirma que os advérbios focalizados ocorrem em posição pré-verbal e induzem a colocação proclítica dos pronomes átonos. (p. 2261). No que diz respeito ao sujeito, foram encontradas 348 ocorrências e 39 com a variante proclítica. Destaca-se que a maioria dessas ocorrências antes do verbo ocorreu com sujeitos em que havia algum tipo de quantificador ou demonstrativo, e, por vezes, com pronomes pessoais, como mostra a maior parte dos exemplos a seguir: Ex.98: L: se tivermos acompanhados pouca gente se metem connosco... [CAC-A-2- H] Ex.99: L: toda gente se conhece... toda gente se fala... toda gente sabe das vidas uns dos outros digamos assim... [CAC-B-2-M] Ex.100: mas infelizmente foi desviado dinheiro pá aqui pá acolá toda gente se governou todos todos... os que lá passaram todos os governos todos eles se governaram... nenhum criou uma lei a favorecer o povo [CAC-C-1-H] Ex.101: infelizmente foi desviado dinheiro pá aqui pá acolá toda gente se governou todos todos... os que lá passaram todos os governos todos eles se governaram... nenhum criou uma lei a favorecer o povo [CAC-C-1-H] Ex.102: eles vinham cá e nós íamos muito a casa deles e até ia a França e então e eu recusava-me a falar e toda a gente me dizia qualquer dia não sabes falar [CAC-B- 3-M] Ex.103: o que é que foram surpresas agradáveis a muita coisa agradável me aconteceu mas assim surpresas mesmo [OEI-B-3-H] Ex.104: é mais pequeno ainda não percebi esta esta lotação mas efectivamente eu constato que é e toda a gente e toda a gente o diz [FNC-B-3-M] Ex.105: a selecção nacional bem deve pensar que o povo suportará suportará melhor os sacrifícios que tem tido tudo se liga com tudo [FNC-B-3-H] Ex.106: como diz a canção uma bola que rebola e e é uma constante da vida como tudo muda tudo tudo se anticipa [OEI-C-1-H] Ex.107: com brasileiro falo à brasileiro com o português falo à português e nós todos nos entendemos não tem problema nenhum [OEI-A-3-M] Ex.108: no lugar de mandares pra casa na direcção de casa ia pa ilma a na na direcção da ilma a depois aquilo me fazia uã confusão [FNC-B-1-M]

146 146 Ex.109: são capazes de fazer tão mal a seres tão tão inocentes tão pequeninos mas pronto em todo mundo isso se faz pronto isso era uma das coisas que e nem é só o trabalho infantil [OEI-B-2-M] Ex.110: todas as semanas e é quase tude a a todas principalmente todas as semanas eu falo com eles ou eles me tilfonam [telefonam] [FNC-C-1-M] conjunção correlativa Ex.111: mas não dá olha Rui a tua mãe deu-me estas ordens assim ou tu te portas como deve ser pronto pronto [CAC-C-1-M] conjunção correlativa Ex.112: a directora de turma sabia... que não era a de português... mas ela sabia e o miúdo lhe disse ( ) filho... quando ela/eu recebo a caderneta [CAC-B-1-M] Ex.113: a minha mais velha fez o exame do nono ano notou-se nos testes que foram fáceis ela me disse ah isso foi uma perna às costas [OEI-B-1-H] Ex.114: eu tinha que ensinar um colega meu que tinha estudado comigo era complicado mas o chefe lhe indicou que eu tinha mais conhecimentos do que ele [FNC-A-3-M] Ex.115: L: então eu pronto eu conforme as atitudes que eu tinha com os alunos os pais me conheciam [CAC-C-1-M] Ex.116: ah casamento isso ah isso para mim o que interessa é a pessoa se dar bem o casal se dar bem sim tudo bem concordo mas pronto acho que se deviam manter certas tradições [OEI-A-2-M] Ex.117: INF: ah eu me lidava bem [FNC-C-2-M] Ex.118: ao terxeiro [terceiro] pontapé apareceu uã uã rapariga à frente dele e ele disse ele à rapariga o que fazes aqui? ela disse ah eeh tu me deste um pontapé vais ter que me pôr a casa [FNC-B-1-M] De acordo com os exemplos acima, verifica-se que a maioria dos dados ocorre com os sujeitos que possuem algum tipo de quantificador ( pouca, toda, muita, tudo, todos ), demonstrativo ( aquilo, isso ), ou conjunções correlativas ( ou ). A próclise nesses contextos é agasalhada tanto pela gramática de Mateus et alii (2003) quanto pela de Raposo et alii (2013), como se pode ver nos exemplos de 98 até 111. A próclise está aí associada aos processos gramaticais da negação, da quantificação, da focalização e da ênfase, tomados singularmente ou não (MARTINS in RAPOSO et alii, 2013, p. 2241). No entanto, curiosamente, a colocação proclítica também ocorreu com sujeitos sem quantificadores e depois de pronomes pessoais, como nos exemplos de 112 até 118, um tipo de sujeito que não é abordado nas gramáticas portuguesas como contexto de próclise. De todo

147 147 modo, não se pode negar a possibilidade de esses dados, que são em número reduzido, representarem um caso de ênfase nas referidas situações em que foram empregados. Os complementos preposicionados e as preposições a e em também se mostraram desfavorecedoras da variante proclítica, como pode ser observado nos exemplos abaixo: Ex.119: se te oferecerem cigarros tu nunca aceites... nem nada que te dêem tu não aceites nem os trates mal... nem te dês mal com eles mas também não te acompanhes com eles não te aproximes... trata essas pessoas assim com indiferença pra ti é-te indiferente se eles tiverem se eles não tiverem [CAC-B-1-M] Ex.120: escrever com giz e mapas que andávamos com eles mapas enormes a transportá-los de de casa pra escola [FNC-B-2-M] Ex.121: se calhar até ajudam um uma pessoa velhota a entar dentro do autocarro ou a levantarem-se para dar a uma pessoa para dar lugar [OEI-A-1-H] Ex.122: nós temos prazos pra cumprir e não conseguimos às vezes lidar lidar conseguimos temos é alguma dificuldade em resolvê-los todos [OEI-B-3-M] No que se refere ao comportamento da preposição a, embora a variante mais frequente tenha sido a enclítica, também se realizou ocasionalmente a variante proclítica. Ex.123: INF: nã [nã] eu pensava qu era [que era] um fantasma pensava que era alguém a se mexer [FNC-B-1-H] Ex.124: quando ele portanto ele foi pa o qua ele foi po ultramar ele mandou uma carta à mãe a me pedir namoro [FNC-B-1-M] Ressalta-se o fato de, na gramática de Raposo et alii (2013), Martins não mostrar nenhum exemplo como os da preposição a proclítica acima, uma vez que, segundo a autora: a variação entre ênclise e próclise em infinitivas preposicionadas é independente da distinção entre orações infinitivas completivas e orações infinitivas adverbiais e quase abrange a generalidade das preposições. Ficam, contudo, fora do padrão de variação as preposições a e com, que se associam sempre à ênclise. (p. 2280) Desse modo, há que se registrar alguns contraexemplos a essa generalização, o que carece de maior número de dados para qualquer interpretação segura. No que tange ao contexto de verbo antecedido de conjunções coordenativas, das 186 estruturas encontradas, 20 apareceram proclíticas ao verbo, como se pode verificar nos exemplos a seguir:

148 148 Ex.125: é normal que a seguir prevaleça e os corrija de com maior cuidado [FNC-A- 3-M] Ex.126: silos que permitissem que as pessoas a preços acessíveis que as pessoas pudessem deixar os carros aí e se deslocarem ao centro do Funchal [FNC-B-3-M] Ex.127: Com os outros ele só querem o deles e se acabou [FNC-C-2-M] Ex.128: vou pró Estádio Nacional ou pró Estádio Universitário mas é assim quem tem hipóteses de pegar nas coisas e se afastar não usufrui ali... [CAC-B-3-M] Ex.129: L: variaçõ/ sim por mais variedade de coisas... no entanto eu acho quando uma família dedica o tempo... dedica um tempo suficiente a estar/a estar junta com os filhos e se constitui o pai e mãe e até outros familiares como modelo não é? [CAC-C-3-M] Ex.130: há muitas que vêm do Alentejo e que se vê que são aletenjanas... que vêm do Norte e se vê claramente em termos de linguagem mesmo [CAC-C-3-M] Ex.131: ver ou discutir futebol é um excelente como gosto muito é uma excelente forma de sair deste quadrado e pensar noutras coisas e me descontrair e a leitura de jornais eu uso isso [FNC-B-3-H] Ex.132: INF: mas não quer dizer que ainda não vá ehh saber ou me informar come é [FNC-B-2-M] Ex.133: alimento mínimo seja o que for essas pessoas não fazem sequer pela vida é normal que se fale em subsídio ou se fale nisto ou se fale há pobreza claro [OEI-A-3- M] Ex.134: Pra estrada antiga porque se vê a aquelas casas com as varandas [FNC-C-1- M] Ex.135: o tradicional almoço de domingo acho que já não é tão sólido como era antigamente as pessoas porque se desculpam porque tão muito cansadas [CAC-A-1- M] Ex.136: L: eles sabem... eles sabem... eles practicam o sexo porque se lembram que é assim [CAC-B-1-M] Ex.137: estou lá quase como ( ) estou como professor e isso é é bom porque na te sentes bem em ajudar as pessoas [OEI-A-3-H] Nos exemplos acima, verifica-se que alguns estão em frases subordinadas coordenadas entre si ou possuem conjunção alternativa e esses dois casos são descritos nas gramáticas portuguesas. Destaca-se que, no exemplo 131, haveria um de elíptico em coordenação à estrutura anterior, o que provavelmente justifique a variante proclítica. No entanto, há outros em que nenhuma das situações anteriores ocorre e, mesmo assim, a variante

149 149 proclítica se concretizou. Nesses, ao que tudo indica, é a presença da conjunção porque a motivação para a próclise. Considerando seu valor semântico entre explicação e causalidade, acredita-se ser o efeito proclisador nesse caso uma possibilidade. Vale destacar, mais uma vez, que nenhuma variável extralinguística foi selecionada no tratamento dos dados do PE, mostrando que o fenômeno é apenas condicionado estruturalmente. Sendo assim, não se viu a necessidade da separação da localidade de Funchal, mesmo sabendo que se trata de um Português insular com uma história bem diferente da do Português continental. O tratamento das variáveis na análise multivariada também sustenta esse tratamento conjunto das três subamostras do PE, visto que a localidade também não foi selecionada. De todo modo, sabendo das diferenças sócio-históricas e até linguísticas que existem entre as três localidades e para assegurar que não haveria a necessidade da separação dos resultados de Funchal, procedeu-se a um cruzamento de dados entre as localidades e os elementos antecedentes, para verificar se haveria alguma peculiaridade em Funchal. Esse cruzamento forneceu os resultados expostos na tabela a seguir: Cruzamento: Localidade dos informantes versus Elementos antecedentes Elementos antecedentes Funchal Cacém Lisboa Total Início absoluto Próclise Ênclise 100% enclítico 100% enclítico 100% enclítico 100% enclítico Partículas de negação Próclise Ênclise Conjunções subordinativas Próclise Ênclise Preposições para, de, por e sem Próclise Ênclise Operadores de foco Próclise Ênclise Adjuntos adverbiais Próclise Ênclise Complementos preposicionados Próclise Ênclise Preposições a e em Próclise Ênclise 126 (98%) 2 (2%) 209 (89%) 25 (11%) 40 (95%) 2 (5%) 36 (82%) 8 (18%) 2 (6%) 30 (94%) 2 (18%) 9 (82%) 4 (50%) 4 (50%) 155 (97%) 5 (3%) 248 (94%) 16 (6%) 60 (95%) 3 (5%) 54 (90%) 6 (10%) 5 (15%) 28 (85%) 3 (14%) 18 (86%) 0 (0%) 15 (100%) 106 (96%) 4 (4%) 245 (90%) 27 (10%) 45 (90%) 5 (10%) 40 (85%) 7 (15%) 8 (26%) 23 (74%) 1 (10%) 9 (90%) 1 (9%) 10 (91%) 387 (97%) 11 (3%) 702 (91%) 68 (9%) 145 (94%) 10 (6%) 130 (86%) 21 (14%) 15 (16%) 81 (84%) 6 (14%) 36 (86%) 5 (15%) 29 (85%) Sujeitos Próclise 12 (10%) 14 (12%) 13 (12%) 39 (11%)

150 150 Ênclise 111 (90%) 100 (88%) 98 (88%) 309 (89%) Conjunções coordenativas Próclise 9 (14%) 7 (11%) 4 (7%) 20 (11%) Ênclise 56 (86%) 58 (89%) 52 (93%) 166 (89%) Total Próclise Ênclise Total 440 (64%) 247 (36%) (69%) 249 (31%) (66%) 235 (34%) (66%) 731 (34%) 2180 Tabela 14: Distribuição dos dados de próclise e ênclise de acordo com o cruzamento entre Localidade dos informantes e Elementos antecedentes nas lexias verbais simples do PE Destaca-se que os dados em início absoluto de oração e de período apareceram sempre enclíticos nas três localidades, não havendo diferenças entre elas quando a frase ou o período se encontravam em início absoluto. De acordo com a tabela acima, constata-se, ainda, que a distribuição dos dados de próclise em relação aos elementos atratores nos dados de cada localidade é bem parecida. Os proclisadores tradicionais obtiveram índices bem altos tanto em Funchal quanto no continente, como se pode observar com as partículas de negação (98% - Funchal, 97% - Cacém e 96% - Lisboa), as conjunções subordinativas (89% - Funchal, 94% - Cacém e 90% - Lisboa), as preposições para, de, por e sem (95% - Funchal, 95% - Cacém e 90% - Lisboa) e os operadores de foco (82% - Funchal, 90% - Cacém e 85% - Lisboa). Os elementos antecedentes que não são atratores tradicionais, obtiveram percentuais bem baixos, como mostram os adjuntos adverbiais (6% - Funchal, 15% - Cacém e 26% - Lisboa), os complementos preposicionados (18% - Funchal, 14% - Cacém e 10% - Lisboa), as preposições a e em (50% - Funchal, 0% - Cacém e 9% - Lisboa), os sujeitos (10% - Funchal, 12% - Cacém e 12% - Lisboa) e as conjunções coordenativas (14% - Funchal, 11% - Cacém e 7% - Lisboa). De todos esses elementos, somente as preposições a e em destoaram das demais, mas isso pode ser explicado pela pouca quantidade de dados: em Funchal, ocorreram somente oito dados com esses elementos antecedentes, sendo quatro proclíticos e quatro enclíticos, enquanto nas demais localidades houve um pouco mais de dados (15 em Cacém e 11 em Lisboa). Até mesmo os dados que fogem à regra concretizaram-se de maneira semelhante nas três localidades. A título de exemplificação, podem-se citar as partículas de negação que seriam atratores clássicos. Ocorreram onze dados enclíticos, sendo 2 em Funchal, 5 em Cacém e 4 em Lisboa. Verifica-se, assim, que Funchal foi a localidade que mais seguiu a regra da atração gramatical, mas que, mesmo assim, também realizou dados enclíticos, apesar de ter sido em menor quantidade.

151 151 Pelo fato de a variável localidade não ter sido selecionada pelo Programa, pelo fato de a distribuição percentual nas três localidades ter sido bem parecida e por tudo que foi exposto acima, mostrando a semelhança na utilização dos clíticos pronominais nas três localidades, optou-se por não separar a localidade de Funchal das demais, havendo, assim, a análise do PE englobando sempre as três. b) Tempo/modo verbal LVS - PE Tempo/modo verbal Próclise Subjuntivo 120/129-93% Infinitivo 199/295-67% Indicativo 1.129/ % Imperativo / gerúndio 5/27-18% Tabela 15: Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com o tempo/modo verbal nas lexias verbais simples do PE Tempo/modo Verbal - PE 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0,86 0,56 0,46 0,12 Próclise Gráfico 8: Aplicação da próclise de acordo com o tempo/modo verbal nas lexias verbais simples do PE Verifica-se, de acordo com o gráfico e a tabela acima, que o modo subjuntivo favorece consideravelmente a próclise (0,86), o que se associa, principalmente, à presença de elementos antecedentes que são subordinativos (cf. Exemplo 138). No entanto, cabe mencionar que também se encontraram dados de ênclise nesse contexto, como se pode verificar no exemplo de subjuntivo em 139, a seguir.

152 152 Ex.138: se te oferecerem cigarros tu nunca aceites...nem nada que te dêem tu não aceites nem os trates mal... nem te dês mal com eles mas também não te acompanhes com eles não te aproximes... [CAC-B-1-M]- subjuntivo Ex.139: INF: eh é assim ele eu quero que ele estude e que concretize-se profissionalmente [FNC-A-3-M] - subjuntivo Conforme evidenciam os exemplos a seguir, com o infinitivo ocorreram vários exemplos com a preposição para antecedendo a forma verbal; observou-se que o índice de favorecimento da próclise (0,56), ao que tudo indica, se relaciona a esse contexto (cf. Exemplo 140), mas, quando a preposição não estava presente, a variante enclítica era a que mais se concretizava. Assim, com o infinitivo, a próclise ou a ênclise estaria diretamente relacionada com o ambiente sintático em que se encontra o clítico e o verbo no infinitivo. O indicativo, comparativamente aos demais fatores, apresentaria leve desfavorecimento à variante proclítica, embora com peso relativo muito próximo ao ponto de neutralidade (0,46). O imperativo e o gerúndio (0,12) também desfavorecem a utilização dessa variante, como pode ser observado nos exemplos a seguir. Ex.140: I - a eu acho que que eles sabem que quando precisam eu estou lá para os ajudar em tudo se que eu puder [OEI-A-1-H] - Infinitivo Ex.141: está-se a tornar uma uma geração fác de facilitismos os pais facilitam-lhes a vida a escola facilita-lhes a vida [OEI-B-1-H]- Indicativo Ex.142: L: fazendo uma... ou as pessoas sujeitando-se mais ou menos portanto... [CAC-A-1-M]- Gerúndio Conforme já se observou, não houve qualquer ocorrência da mesóclise em dados do PE. Isto pode estar relacionado à baixa frequência de verbos no futuro. De todos os dados, apenas cinco estão no futuro e, nessas ocorrências, os clíticos apareceram na posição proclítica, como se pode verificar a seguir: Ex.143: não se pensa só nem pensa nem neles próprios pensa a a o dia-a-dia amanhã logo se verá ah um para aqui outro para acolá nem se vê então não há comer [OEI- C-1-H] Ex.144: por questão de de alguns tipos de comportamentos que para para eles são são normais e fazem parte do seu dia-a-dia e que para mim não os faria é um pouco por aí [CAC-B-2-H]

153 153 Ex.145: I - hum eu acho que tive um bom ensino sempre hum tudo depende do professor com que se calha posso-lhe dizer a nível do meu filho eu não o colocaria no público neste momento [OEI-A-3-M] Ex.146: houve oportunidades se calhar quem sabe daqui a alg mais algum tempo se verá se verá com com melhor [FNC-B-3-M] Ex.147: houve oportunidades se calhar quem sabe daqui a alg mais algum tempo se verá se verá com com melhor [FNC-B-3-M] A variante pré-verbal tem nesses exemplos alguma motivação estrutural, de modo que não se pode afirmar a inexistência da mesóclise no PE falado. No exemplo 143, houve próclise por causa do atrator logo. Nos exemplos 144 e 145, a próclise ocorreu pela presença do atrator não. Já nos exemplos 146 e 147, a posição proclítica pode estar relacionada à construção QU- constitutiva do sujeito oracional e/ou, ainda, ao adjunto adverbial intercalado. Na realidade, apenas com dados de futuro mais clíticos em situações que não favoreçam a próclise, seria possível avaliar a vitalidade ou não da mesóclise na fala europeia. b) Distância entre o clítico e um elemento antecedente LVS PE Distância entre o clítico e um elemento antecedente Próclise Zero 1.255/ % 1 ou 2 91/124-73% 3 ou mais 107/140-76% Tabela 16: Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com a distância entre o clítico e um elemento antecedente nas lexias verbais simples do PE

154 154 Distância entre o clítico e um elemento antecedente - PE 1 0,8 0,6 0,4 0,54 0,19 0,23 Próclise 0,2 0 Zero 1 ou 2 3 ou mais Gráfico 9: Aplicação da próclise de acordo com a distância entre o clítico e um elemento antecedente nas lexias verbais simples do PE 45 A seleção desta variável confirma a relevância do efeito proclisador na variedade europeia, que apenas se atenuaria mediante o fator distância. Pode-se constatar que a adjacência do clítico ao elemento que o antecede favorece a próclise, ao contrário dos demais contextos com alguma distância entre tais elementos que a desfavorecem. Fato curioso é que, quando há três ou mais sílabas, o efeito de atração é um pouco maior (0,23) do que quando há apenas uma ou duas sílabas (0,19). Porém, a diferença entre esses dois fatores não parece muito significativa, distando apenas 4 pontos relativos. Ex.148: L penso que há mais violência há e há mais perigos não é que não os houvesse quando eu estudei não é isso [CAC-A-2-M] zero sílaba Ex.149: é assim eu adoro todos os miúdos que tenho aqui... e o engraçado é que eles sentem-se aqui bem... [CAC-B-2-M] duas sílabas Ex.150: I eu por exemplo se neste momento dissessem-me que se tivesse e pudesse pôr as minhas filhas numa escola particular não não punha [OEI-B-1-H] cinco sílabas 45 Verifica-se que, também na variável distância, houve uma inversão entre os percentuais e os pesos relativos. Novamente, parte-se do pressuposto de que a análise estatística realizada obriga a considerar, com segurança, os índices relativos como mais confiáveis, tendo em vista já terem sido filtradas as possíveis influências de outras variáveis. Uma observação impressionística dos dados leva a crer que o maior índice percentual de próclise em contextos com a partícula atratora mais distante, contrariando a tendência esperada para a variável, estaria relacionado à presença de determinadas formas verbais e de certas construções sintáticas intervenientes.

155 Português de São Tomé Em relação à amostra referente ao PST, esta foi a variedade do Português em relação à qual o Programa selecionou mais variáveis como estatisticamente relevantes para o fenômeno. A primeira variável que foi selecionada foi a extralinguística, sexo, seguida pelas variáveis linguísticas: presença e natureza do elemento antecedente, tempo/modo verbal, distância entre o clítico e um elemento antecedente e a tonicidade das formas verbais. a) Sexo do informante LVS - PST Sexo do informante Próclise Homem 137/260-53% Mulher 78/265-29% Tabela 17: Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com o sexo dos informantes nas lexias verbais simples do PST Sexo do informante - PST 1 0,8 0,6 0,4 0,57 0,4 Próclise 0,2 0 Homem Mulher Gráfico 10: Aplicação da próclise de acordo com o sexo dos informantes nas lexias verbais simples do PST De acordo com a tabela e o gráfico acima, pode-se constatar a diferença na utilização da próclise entre os homens (0,57) e as mulheres (0,40). Enquanto a fala de indivíduos do sexo masculino favorece a utilização da próclise, a do sexo feminino tende a favorecer a ênclise, como se pode observar nos exemplos abaixo:

156 156 Ex.151: eu gosto de casas de madeira, é por isso que agora que, desde que essa história de abate de árvore é ilegal então as coisas se tornam mais difícil [ST-A-1-H] - homem Ex.152: o meu pai quando foi para San Catarina e achei, sim, achei que tinha os dois anos, mas des em quando dá-me assim [ST-A-1-M] mulher Para a seleção dessa variável, tem-se a seguinte hipótese: a diferença entre os dois sexos poderia estar vinculada ao fato de as mulheres, para se enquadrarem melhor na sociedade, utilizarem, ao máximo possível, as regras presentes na gramática do PE. Assim, nos contextos favorecedores da variante proclítica, elas utilizariam mais essa variante e, efetivamente quando não houvesse contexto favorecedor da posição pré-verbal, realizariam mais a ênclise. Já os homens apresentariam uma colocação pronominal mais variável e apresentariam em suas falas maior mobilidade do clítico, embora não dominassem exatamente os contextos em que se utilizaria a próclise, segundo a norma do PE. Assim, eles utilizariam tanto a próclise quanto a ênclise nos mesmos contextos. Dessa forma, nos ambientes em que há o favorecimento da variante proclítica, eles utilizariam as duas variantes, mas com mais produtividade a proclítica. No entanto, nos contextos em que há o favorecimento da ênclise, a variante proclítica também seria utilizada em larga escala. Acredita-se que a diferença existente entre os sexos só pode ser interpretada mediante o conhecimento dos contextos sintáticos em que essa diferença se expressa. Conforme já informado, o modelo para a L1 dos informantes da amostra em estudo, o Português Europeu, apresenta colocações diferentes, de acordo com o ambiente sintático em que o clítico se encontra. Para verificar, ao menos, os contextos de realização de próclise e ênclise consoante a variável sexo do informante, foi verificado o cruzamento feito entre esse grupo de fatores e a natureza do elemento antecedente, obtendo-se os seguintes resultados: Cruzamento: Sexo dos informantes versus Elementos antecedentes Sexo x Elemento antecedente Homens Mulheres Total Partículas de negação Próclise Ênclise 39 (93%) 3 (7%) 24 (92%) 2 (8%) 63 (93%) 5 (7%) Elementos subordinativos Próclise Ênclise 56 (77%) 17 (23%) 36 (78%) 10 (22%) 92 (77%) 27 (23%)

157 157 Preposições Próclise 10 (71%) 6 (60%) 16 (67%) Ênclise 4 (29%) 4 (40%) 8 (33%) Operadores de foco Próclise 11 (73%) 3 (30%) 14 (56%) Ênclise 4 (27%) 7 (70%) 11 (44%) Conjunções coordenativas Próclise 3 (43%) 1 (9%) 4 (22%) Ênclise 4 (57%) 10 (91%) 14 (78%) Adjuntos adverbiais Próclise 4 (67%) 1 (6%) 5 (21%) Ênclise 2 (33%) 17 (94%) 19 (79%) Sujeitos Próclise 12 (25%) 5 (14%) 17 (20%) Ênclise 36 (75%) 30 (86%) 66 (80%) Complementos preposicionados Próclise 2 (25%) 0 (0%) 2 (18%) Ênclise 6 (75%) 3 (100%) 9 (82%) Total Próclise 137 (64%) 76 (48%) 213 (57%) Ênclise 76 (36%) 83 (52%) 159 (43%) Tabela 18: Distribuição dos dados de próclise e ênclise de acordo com o cruzamento entre Sexo dos informantes e Elementos antecedentes nas lexias verbais simples do PST Destaca-se o fato de os dados em início absoluto de oração e de período (todos em ênclise) não entrarem na contagem dos dados nesse cruzamento, tendo em vista que eles foram retirados da rodada para que fosse possível obter os pesos relativos. Nos demais contextos, verifica-se que, com os elementos considerados como proclisadores, como as partículas de negação (H 93% / M 92%), conjunções subordinativas (H 77% / M 78%) e preposições (H 71% / M 60%), os percentuais da próclise são bem parecidos. Somente com os operadores de foco, o resultado foi oposto entre os dois sexos, pois os homens realizariam mais a próclise (73%) que as mulheres (30%), de modo que, nesse caso, estas se afastam do modelo europeu, demonstrando um domínio parcial do Português, e efetivamente generalizando o uso da variante enclítica. Ocorre que, com o pequeno número de dados desse contexto, não se pode assegurar a generalidade dessa interpretação.

158 158 A grande diferença no comportamento linguístico relativo aos dois sexos parece que está nos elementos que não são considerados tradicionais atratores, pois os homens, nesses contextos, utilizam mais a variante proclítica do que as mulheres, como nas conjunções coordenativas (H 43% / M 9%), adjuntos adverbiais (H 67% / M 6%), sujeitos (H 25% / M 14%) e complementos preposicionados (H 25% / M 0%). Dessa forma, de acordo com esses resultados, os homens tenderiam buscar a imitar a alternância que há no Português Europeu e isso faria com que houvesse maior mobilidade dos clíticos. Assim, os homens utilizariam os clíticos nas duas posições, aplicando o padrão enclítico e proclítico, mas sem seguir as regras da gramática do PE por falta de domínio. Já as mulheres utilizariam mais a colocação enclítica de modo geral (e, assim, utilizariam mais a ênclise em contextos efetivamente enclíticos); de outro lado, sendo mais conservadoras, utilizariam mais a próclise nos contextos padrão. Caso tal hipótese seja confirmada em maior número de dados e com outros materiais, pode-se supor que os homens seriam os responsáveis por dar ao PST as feições que mais o diferenciam do PE, havendo, dessa forma, mais oscilações nos mesmos ambientes sintáticos, principalmente motivadas por informantes do sexo masculino. b) Presença e natureza do elemento antecedente LVS - PST Presença e natureza do elemento antecedente Próclise Partículas de negação 63/68-93% Conjunções subordinativas 92/119-77% Preposições 16/24-67% Operadores de foco 14/25-56% Conjunções coordenativas 4/18-22% Adjuntos adverbiais 5/24-21% Sujeitos 17/83-20% Complementos preposicionados 2/11-18% Início absoluto 0/153-0% Tabela 19: Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com a presença e natureza do elemento antecedente nas lexias verbais simples do PST

159 159 Elementos Antecedentes - PST 1 0,88 0,8 0,71 0,59 0,6 0,4 0,2 0 0,42 0,17 0,15 0,12 0,1 0 Próclise Gráfico 11: Distribuição dos clíticos pronominais encontrados na variante proclítica de acordo com a presença e natureza do elemento antecedente nas lexias verbais simples do PST Ressalta-se que, como ocorreu no PE, não houve nenhum dado na posição proclítica em início de oração ou absoluto de período, o que é bem diferente do que ocorre com os dados do PB, que registram produtivamente a variante pré-verbal nesse contexto. Em relação a esse contexto de início de sentença, pode-se postular que os dados aproximam radicalmente PE e PST versus PB, ao assumirem parâmetros muito diferentes. Quanto aos demais contextos, os elementos que favorecem a próclise são as partículas de negação (0,88), as conjunções subordinativas (0,71) e as preposições (0,59). Os operadores de foco (0,42), apesar de não apresentarem índice acima de 0,50, também atuaram no maior uso da próclise se comparados aos demais contextos, nitidamente desfavorecedores dessa variante. Os demais elementos, como as conjunções coordenativas (0,17), os adjuntos adverbiais (0,15), os sujeitos (0,12) e os complementos preposicionados (0,1) desfavoreceram a posição proclítica. De modo geral, os elementos antecedentes que atuaram como proclisadores no PST são bem parecidos com os do PE, como se verá mais detalhadamente quando comparados os ranges (índices que medem as distâncias entre fatores) nas duas variedades, o que mostrará que a atuação dos elementos antecedentes pode ser diferenciada, mas todos eles apontam para uma mesma direção. Dessa forma, verifica-se que há, nas duas variedades, a clara atuação das partículas de negação (0,88 PST e 0,91 PE), das conjunções subordinativas (0,71 PST e 0,81 PE) e das preposições (0,59 PST e 0,77 PE). Os únicos elementos que favoreceram

160 160 nitidamente a próclise no PE e atuaram de forma mais discreta no PST foram os os operadores de foco (0,42 PST e 0,66 PE). De acordo com os exemplos abaixo, percebe-se uma correlação possível entre a variável Operadores de foco e a variável Sexo do informante, uma vez que os exemplos enclíticos com os operadores de foco do PST sempre ocorreram com o elemento também na fala de indivíduos do sexo masculino e com os elementos já, até e também na fala dos indivíduos do sexo feminino, como mostram os exemplos a seguir: Ex.153: não vê porque também há determinadas pessoas ocupando funções de responsabilidade também não sabe também banalizou-se [ST-C-2-H] Ex.154: esse pra mim e as filhas que eu tenho lá também deram-me grande grande grande grande apoio [ST-C-3-H] Ex.155: I: é nunca até já tinha meus tios já convidaram-nos para ir, eu e minha avó, para ir passear [ST-A-1-M] Ex.156: O meu filho que é pequenino, como ele vive lá com avó paterno, passa mais tempo com avó paterno, ela gosta mais é de utilizar o crioulo cabo-verdiano. Ele até fala-me umas palavras em crioulo [ST-A-3-M] Ex.157: depois fica a coser... depois de coser é que se põe também põe-se quiabo...[st-c-1-m] Ex.158: Eu fui obrigada agora a concluir essas essas três que me faltavam e já conclui-las e vim agora [ST-B-2-M] Ex.159: LF: e ent:ao... depois então eu já formei-me [ST-C-2-M] Nos exemplos acima, verifica-se que as mulheres utilizam mais a variante enclítica com elementos diferentes, enquanto os homens a utilizam somente com o também. Em relação às preposições, vale destacar que não houve sua separação, como ocorreu no PE, tendo em vista o pequeno número de dados. Foram encontrados somente 24 dados com a preposição e em 16 deles a variante proclítica ocorreu. Ex.160: a cobra veio, parou mesmo de frente a mim, parou mesmo também a ver-me [ST-A-1-H] Ex.161: eu creio que: Deus é misericordioso e ele será o primeiro a perdoar-me a perdoar quem sabe né? [ST-B-3-M]

161 161 Ex.162: eu posso dizer que veio em boa hora mas veio se calhar de uma forma se calha não muito convincente porque no meu entender, antes quase de se pensar na reforma [ST-A-2-H] Ex.163: era um contexto de luta, era um contexto de rivalidade, portanto havia toda essa necessidade de se desenvolver a capacidade nesse sentido, [ST-A-3-H] Ex.164: um preparação muito boa muito boa razoavelmente boa... mas ele não foi capaz de me ajuda:r não fo:i...[st-b-3-m] Ex.165: Mas também os homens devem compreender que elas às vezes fazem isso como forma de sentirem-se, de mostrarem que elas estão aí presentes [ST-A-3-M] Ex.166: desculpa no próximo ano não, no ano passado é que tive a iniciativa de conclui-las e pronto [ST-B-1-M] Ex.167: Portanto, há todo um exercício que eu tenho estado a fazer para me preparar para poder ser um pouco mais do que esse Genisvaldo do Nascimento [ST- A-3-H] Ex.168: Cada um tem seu jeito, eu procuro sempre integrar no jeito deles, falar como eles falam, procurar fazer tudo do jeito que eles fazem que seja para me enquadrar neles [ST-A-3-M] Ex.169: hoje não digo porque não tenho poder de mobilidade... estão sempre disponíveis para Me ensinar eh falar mesmo[st-c-3-h] Ex.170: pode ser sim, na rádio que tal, mensagem passa melhor, sobretudo para piada porque habituou-se muito a utilizar a nossa língua para fazer-se piada [ST-A- 3-H] Ex.171: D: havia castigos? L: não isso era só pra alertar-me depois eu consegui [ST-C-1-H] Nos exemplos com as preposições, verificou-se que, em todas as estruturas com a preposição a, a única variante utilizada foi a enclítica; com a preposição de, houve oscilação entre a próclise e a ênclise; com a preposição para, ocorreram somente os dois últimos dados (exemplos 170 e 171) com a variante enclítica, enquanto os demais apareceram em próclise. Na gramática de Raposo et alii (2013), Martins mostra que essa alternância entre próclise e ênclise com as preposições de e para é habitual e com a preposição a deveria ocorrer a variante enclítica, como confirmam os dados do PST. Embora haja quase coincidência total dos contextos apontados como proclisadores e não proclisadores no PE e no PST (o que nos faz aproximar, mais uma vez, as duas variedades), percebe-se uma diferença na atuação desse condicionamento. Vale destacar que a forma de atração no PST ocorre de uma maneira bem peculiar, tendo em vista que o efeito

162 162 proclisador representado no gráfico vai nitidamente decrescendo, de forma gradual. Para efeito de comparação, observem-se, novamente, os gráficos das duas variedades a seguir: Elementos Antecedentes - PE 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0,91 0,81 0,77 0,66 0,04 0,04 0,03 0,03 0,02 0 Elementos Antecedentes - PST 1 0,8 0,6 0,88 0,71 0,59 0,42 0,4 0,2 0,17 0,15 0,12 0,1 0 0 Comparando os ranges de fatores não proclisadores em relação a cada fator proclisador em cada uma das variedades o que permite mostrar a diferença entre um fator e outro na própria variável, verifica-se que, no PE, a distância dos adjuntos adverbiais (primeiro elemento com atuação não proclisadora) para os operadores de foco (0,62), as preposições para, de, por e sem (0,73), para as conjunções subordinativas (0,77) e para as partículas de negação (0,87) é bem maior do que a que ocorre no PST, apresentada a seguir. Quando se observam os ranges referentes aos primeiro fator não proclisador e os demais para o PST, verifica-se que a distância das conjunções coordenativas para os operadores de foco (0,25), para as preposições para, de, por e sem (0,42), para as conjunções subordinativas (0,54) e para as partículas de negação (0,71) é nitidamente menor do que a que ocorreu no PE.

163 163 Tendo como base, além do aspecto visualmente mais gradual da ação dos elementos controlados no PST do que no PE, os ranges calculados acima, verifica-se que não há uma delimitação tão precisa dos elementos que favorecem a próclise em oposição aos outros, que não a favorecem no PST, como ocorreu no PE, em que o menor range foi de 0,62. Em outras palavras, não se verifica um efeito indubitavelmente proclisador, de um lado, contra outro nada ou quase nada proclisador, de outro, como no PE, mas o que ocorre no PST é um declínio gradual do efeito de atração, que teve o menor range de 0,25, passando por 0,42, 0,54 e 0,71. Fica, então, evidenciada a concretização do que se tem identificado como certo efeito oscilante, como mostram os exemplos a seguir: Ex.172: por exemplo, um professor ou um médico, por exemplo. Por exemplo, se formos para médico, eu já fui para para para para hospital hhh naquilo que chama-se de urgência [ST-A-2-H] Ex.173: posso apoiar também qualquer amigo qualquer amigo que me peça, vamos lá [ST-A-1-H] Ex.174: mas continuamos sempre a movimentar. E se for sentido contrário ao tecto, pior um pouco, mas se perguntarem-nos: estão a movimentar? [ST-B-2-H] Ex.175: Eu admirava porque a forma como a minha mãe nos criou era totalmente diferente [ST-A-2-H] Ex.176: em termos de política (como que) oposição aí tinha problemas era mais no sentido/ ( ) não era porque o povo tava oprimido que não Se podia nada não falavase fazia-se tudo (normal) [ST-C-2-H] Ex.177: A: Não, lá não, não se paga nada. hhh todo o mundo é bem-vindo [ST-A-1- H] Ex.178: pode ser sim, na rádio que tal, mensagem passa melhor, sobretudo para piada porque habituou-se muito a utilizar a nossa língua para fazer-se piada [ST-A- 3-H] Ex.179: Cada um tem seu jeito, eu procuro sempre integrar no jeito deles, falar como eles falam, procurar fazer tudo do jeito que eles fazem que é para me enquadrar neles [ST-A-3-M] Ex.180: dos dois um de química: e um de biologia ((risos)) Eu lembro-me é [ST-B- 3-M] Ex.181: foi cubano... o de biologia no décimo primerio também foi cubano... eu me lembro do/ dos dois professores que tive [ST-B-3-M]

164 164 Nos exemplos acima, pode-se verificar que não há uma regra clara para cada tipo de elemento que antecede o clítico pronominal, mas o que há, realmente, é uma oscilação no comportamento do clítico dentro do mesmo ambiente sintático. Ocorre tanto a próclise como a ênclise em elementos subordinativos, com o advérbio de negação, com a preposição para e até com elementos que não são proclisadores, como o pronome pessoal, nos dois últimos exemplos. Embora os dados europeus não apresentem efeito categórico, as tendências são claramente definidas entre proclisadores e não proclisadores, enquanto os dados são-tomenses apresentam uma tendência geral de efeito proclisador, produtivamente contrariada do ponto de vista quantitativo e qualitativo. Ainda em relação aos elementos antecedentes, destaca-se que houve próclise no PST em contextos com vários itens que não são considerados atratores clássicos, segundo a norma europeia, como depois de conjunções coordenativas e SN sujeito. Ex.182: lá naquelas tascas, não os altos restaurantes mas lá onde os pobres comem, viver e sentir o calor da cozinha, ver as panelas, enfim, cheias de tisna de de forno e de carvão mas me senti como se tivesse sido em casa [ST-A-3-H] Ex.183: LF: português... e a língua do Príncipe praticamente vim aprender aqui em São Tomé porque me casei muito cedo... [ST-C-2-M] Ex.184: Eu consegui conviver com a população, consegui mergulhar onde há pobreza em Nigéria, as pessoas me olhavam com bons olhos, consegui comer com os nigerianos [ST-A-3-H] Essa certa oscilação no comportamento por contexto sintático e exemplos como os três registrados aqui em que se verifica a próclise em contextos interpretados usualmente como brasileiros (e não europeus), como após sujeito e conjunção coordenativa aproximam curiosamente certos dados do PST aos do PB. Assim, apesar de a próclise não ocorrer em início absoluto, como ocorre no PE, o comportamento oscilante em determinadas ocorrências embora não sejam quantitativamente expressivas pode mostrar que há certa aproximação com os dados brasileiros ou, simplesmente, que os falantes não dominam rigorosamente os contextos que exigem a colocação proclítica. Vale destacar que essa oscilação foi proposta por Gonçalves (2009). Segundo a autora, isso é típico de uma língua que ainda não está completamente formada, em especial em um contexto de plurilinguismo como o que existe em São Tomé (cf. Capítulo 4). Os dados de Vieira (2002), referentes ao Português de Moçambique, também mostraram a variação da próclise e da ênclise nos mesmos ambientes sintáticos, confirmando essa instabilidade.

165 165 c) Tempo/Modo verbal LVS - PST Tempo/Modo verbal Próclise Subjuntivo 17/17-100% Indicativo 174/464-37% Infinitivo 24/42-57% Imperativo 0/2-0% Tabela 20: Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com o tempo/modo verbal nas lexias verbais simples do PST Tempo/modo Verbal - PST 1 1 0,8 0,51 0,6 0,36 0,4 0,2 0 Próclise 0 Gráfico 12: Aplicação da próclise de acordo com o tempo/modo verbal nas lexias verbais simples do PST 46 Analisando o gráfico e a tabela, fica claro que o elemento nitidamente favorecedor da próclise é o subjuntivo (100%), ambiente em que ela ocorreu de forma categórica, o que não ocorreu nem com o PE. Ex.185: A: Forro, Caustrino que me ajude, hhh Caustrino é que é bom nisto [ST-A- 3-M] O Indicativo (0,51) seria neutro, ou seja, dependendo do elemento que o antecede, poderia ocorrer a próclise ou a ênclise. 46 Com a variável Tempo/modo verbal, assim como ocorreu com a variável distância, no Gráfico 9, houve certa inversão entre os percentuais e os pesos relativos. Uma vez mais, postula-se a confiabilidade dos índices relativos e pondera-se que o maior índice percentual de próclise como infinitivos, contrariando a tendência esperada para a variável, estaria relacionado à presença de preposições, influência que fora devidamente filtrada pela análise estatística.

166 166 Ex.186: não vejo isso como um dever mas faço isso por uma maneira de ajudar a igreja, eh é isso, mas o resto não tem, não se obriga ninguém a fazer nada [ST-A- 1-H] Ex.187: a gente tem que ter um pouco de coragem pra: ultrapassar se não o que nos resta só é fugir né? [ST-B-3-M] Ex.188: é isso a fazer consultas aos doentes... depois colocou-se o sapateiro no lugar do agricultor... [ST-B-3-M] O infinitivo (0,36) e o imperativo (0,0 em apenas duas ocorrências) seriam contextos desfavorecedores da variante proclítica. Ex.189: D: havia castigos? L: não isso era só pra alertar-me depois eu consegui [ST-C-1-H] Ex.190: Se o senhor hoje, um professor, qualquer funcionário, vai xx olhe dê-me tal produto no dia vinte cinco eu venho-te pagar [ST-A-2-H] Nos exemplos acima, verifica-se a próclise no modo subjuntivo e no modo indicativo quando há a presença de um elemento proclisador clássico (o pronome que ). No entanto, no modo indicativo com um elemento antecedente que não é um atrator, o que ocorre é a ênclise. A variante enclítica também acontece com o infinitivo, mesmo tendo uma preposição antecedendo o clítico ( para ), e com o imperativo. d) Distância entre o clítico e um elemento antecedente LVS - PST Distância entre o clítico e um elemento antecedente Próclise Zero 194/376-52% 1 ou 2 7/12-58% 3 ou mais 14/26-54% Tabela 21: Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com a distância entre o clítico e um elemento antecedente nas lexias verbais simples do PST

167 167 Distância entre o clítico e um elemento antecedente - PST 1 0,8 0,6 0,4 0,52 0,29 0,27 Próclise 0,2 0 Zero 1 ou 2 3 ou mais Gráfico 13: Aplicação da próclise de acordo com a distância entre o clítico e um elemento antecedente nas lexias verbais simples do PST Em relação à distância entre o clítico e seu elemento antecedente, verifica-se que, quando não há distância entre eles, ocorre discreto favorecimento da próclise (0,52). No entanto, quando a distância aumenta para uma ou duas sílabas (0,29) e três ou mais sílabas (0,27), há o desfavorecimento da variante proclisadora. Ex.191: é um conjunto de situação que faz com que a nossa educação não está nós deveríamos, quer dizer, como nós alvejamos que estivesse, ela não está, é melhor, é preciso que se faça mais [ST-A-2-H] Ex.192: já não se pode dizer os da roça porque às vezes há alunos que até tem pais com nome de deputados... com nomes disse e às vezes são piores... por que? por que? eu creio que isso deve-se a degradação dos valores [ST-B-3-M] Ex.193: com essa um pouco de:... desse clima de:... conturbação... Eu creio que muitos portugueses foram-se embora, não é? [ST-B-3-M] Nos exemplos supracitados, verifica-se que os elementos que antecedem o clítico são casos de proclisador tradicional, pois trata-se de conjunções integrantes nos três exemplos. Embora se registre a tendência à próclise quando não há elemento entre o clítico e o proclisador, a instabilidade da colocação pronominal no PST mesmo diante de elementos proclisadores se acentua, fazendo acontecer ainda mais a ênclise quando há duas ou mais sílabas entre o clítico e os referidos elementos.

168 168 e) Tonicidade das formas verbais LVS PST Tonicidade das formas verbais Próclise Oxítona 109/231-47% Paroxítona/proparoxítona 106/294-36% Tabela 22: Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com a tonicidade das formas verbais nas lexias verbais simples do PST Tonicidade das formas verbais - PST 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0,59 Oxítona 0,41 Parox./propar. Próclise Gráfico 14: Aplicação da próclise de acordo com a tonicidade das formas verbais nas lexias verbais simples do PST Com relação à tonicidade das formas verbais, constata-se que as formas oxítonas (0,59) favorecem a próclise e as formas paroxítonas ou proparoxítonas (apenas 3 dados desta última na amostra, em ênclise) a desfavorecem, como se pode observar nos exemplos abaixo: Ex.194: um pouco:... é:... como posso explicar? Eu não senti/ eu não me senti be:m... [ST-B-3-M] Ex.195: porque o ministério conhece sabe que eu eu tenho uma segunda profissão que eu pratico de vez em quando eu acho que foi nessa base que mandaram-me pra aqui [ST-B-3-H] Ex.196: também naquela altura eu lembro-me do velho Costa Alegre o ( ) Aguiar e: muitos outros muitos outros (enfim) ajudávamo-nos muito no conhecimento da língua [ST-C-3-H]

169 169 Verifica-se que esse resultado pode estar relacionado com o fato de a ligação fonológica do clítico no PST também ser para a esquerda, como supostamente ocorre com o PE, formando, assim, vocábulos fonológicos com o que vem antes (ênclise fonológica) e não depois (próclise fonológica), como ocorre no PB. Dessa forma, acredita-se que essa variável no PST, tendo como base a ênclise, favoreceria essa variante até com as formas paroxítonas e proparoxítonas, formando casos de formas proparoxítonas ( mandaram-me ) e até esdrúxulas ( ajudávamo-nos ). Assim, esse resultado vai ao encontro do que propõe Hagemeijer, ao advogar em favor da existência de clíticos fonológicos no Forro. Além de os pronomes objetos do Forro figurarem sempre na posição pós-verbal como confirmam os trabalhos de Ferraz (1979) e Hagemeijer (2007), a possibilidade da existências de clíticos fonológicos no PST está plenamente corroborada pelos resultados da variável ora em análise. Ademais, isso pode justificar o fato de não haver clíticos em início absoluto de oração e de período, pois a ligação fonológica do clítico no PST seria para a esquerda como no PE, ao contrário do PB, em que a ligação fonológica seria para a direita, como mostram os trabalhos de Vieira (2002) e Corrêa (2012). Para finalizar a análise dos dados do PST, vale a pena destacar o comportamento obtido com o controle do grupo de fatores relativo à frequência de uso do crioulo (BRANDÃO, 2011). Embora esse grupo tenha sido retirado da rodada multivariada básica para a análise da amostra são-tomense visto que não se trata de uma relação causa-efeito sobre a colocação pronominal, mas um grupo de controle que permite observar se a frequência de uso do Forro pode estar correlacionada ao uso da ênclise em geral ou da oscilação de comportamento quanto à colocação pronominal, apresentam-se aqui os resultados obtidos na rodada em que esse grupo de fatores estava contemplado e foi selecionado 47 : 47 Vale relembrar que os dados foram codificados segundo a proposta de Brandão (2011): zero/baixa, os indivíduos que se expressam fundamentalmente em Português; média, os indivíduos que se expressam em Português, mas dominam um crioulo e dele fazem uso eventualmente; alta, os indivíduos que, embora falem o Português, se expressam, regularmente, num crioulo

170 170 PST Frequência de uso de um Crioulo Próclise Zero/baixa 110/223-49% Média 87/275-32% Alta 48 17/22-77% Tabela 23: Distribuição dos dados da variante proclítica de acordo com a frequência de uso de um crioulo nas lexias verbais simples do PST Frequência de uso de um Crioulo 1 0,89 0,8 0,58 0,6 0,4 0,39 Próclise 0,2 0 Zero/Baixa Média Alta Gráfico 15: Aplicação da próclise de acordo com a frequência de uso de um crioulo nas lexias verbais simples do PST O comportamento desse grupo de fatores quanto à colocação pronominal mostrou que o falante que se considera uma pessoa que usa frequentemente o crioulo seria o que mais produziria a variante proclítica (0,89) o que só pode sinalizar uma tendência a generalizar a próclise por desconhecimento do efeito proclisador; em segundo lugar no que se refere ao uso da próclise, viriam os que supostamente não utilizariam o crioulo (0,58) e, por último, os falantes que só o utilizam às vezes, mostrando que a próclise seria desfavorecida nesse caso (0,39). Retirando o único informante que se declara como um falante do crioulo com alta frequência, verifica-se que os que afirmam utilizar basicamente o Português teriam uma 48 Destaca-se o fato de somente um informante (do sexo masculino) se considerar como um falante regular do crioulo, o que justifica o menor número de dados.

171 171 preferência pela variante proclítica (possivelmente por dominar os contextos europeus de próclise), e os que conhecem e utilizam o Forro, mesmo que eventualmente, prefeririam a colocação enclítica, o que talvez possa sinalizar a influência da colocação pós-verbal dos pronomes objetos do crioulo, segundo Ferraz (1979) e Hagemeijer (2007). Efetivamente, qualquer interpretação das interinfluências do uso do Forro dependeria de pesquisa específica com amostra que controlasse efetivamente esse efeito, além de pesquisa etnográfica a respeito dos informantes e de sua relação com o uso da Língua Portuguesa e da língua local. De todo modo, é interessante perceber que, ainda que não se tenha uma interpretação segura acerca desse efeito considerando os limites metodológicos do presente trabalho, os resultados sugerem a interrelação entre a colocação pronominal e a frequência de uso de um crioulo Sistematização dos resultados das lexias verbais simples A seguir, segue um quadro resumitivo com os principais resultados de cada variedade em estudo. Destaca-se que, para a análise do PB, essa sistematização toma por base os comentários qualitativos dos 35 dados enclíticos encontrados, enquanto, para o PE e o PST, considera o comportamento das variáveis selecionadas pelo programa. Quadro 2 Sistematização da ordem dos clíticos pronominais em lexias verbais simples nas três variedades LVS PB PE PST Início absoluto de oração Próclise = 91% Ênclise = 100% Ênclise = 100% Próclise em início absoluto Sim Não Não Distribuição das variantes nos demais contextos Próclise = 97% Ênclise = 3% Mesóclise = 0% Próclise = 55% Ênclise = 45% Mesóclise =0% Próclise = 40% Ênclise = 59% Mesóclise = 1% Estatuto da regra segundo Labov (2003) Semicategórica Variável Variável

172 172 Variáveis extralinguísticas condicionamento externo Não 49 Obs.: Os informantes com mais instrução e idade foram os que mais utilizaram a variante enclítica. Não Atuação da variável sexo e, em plano secundário, do grupo de controle Frequência de uso de um crioulo Variáveis linguísticas Não A ênclise é registrada sobretudo com acusativos de 3ª pessoa (frequentemente combinados com infinitivos), alguns casos de lhe e de se, em estratégia de indeterminação. Presença de expressões fixas. - Presença e natureza do elemento antecedente -Tempo/modo verbal - Distância entre o clítico e um elemento antecedente - Presença e natureza do elemento antecedente -Tempo/modo verbal - Distância entre o clítico e um elemento antecedente - Tonicidade das formas verbais Efeito proclisador Não Sim embora o efeito não seja categórico, dois grupos proclisadores versus não proclisadores podem ser claramente delimitados. Sim com certa instabilidade; e distância de comportamento entre proclisadores e não proclisadores menor. Favorecem a próclise em maior ou menor medida: Partículas de negação Conjunções subordinativas Preposições Operadores de foco Favorecem a próclise: Conjunções coordenativas Não se aplica! Em qualquer contexto, inclusive em início absoluto, a próclise acontece com alta frequência Embora haja, entre os dados de ênclise, maior incidência de Não Sim Sim Sim (para, de) Sim (também,já, até) Sim Sim Sim Não Não 49 Por princípio, não se pode falar em condicionamentos linguísticos e extralinguísticos, já que não se concebe uma regra variável no caso do PB, mas uma regra semicategórica. Apenas se observam as tendências verificadas nos poucos dados da variante pós-verbal.

173 173 Sujeitos Adjuntos adverbiais Compl. preposicionados ambientes sem tradicionais atratores, nenhuma generalização segura pode ser proposta, visto não haver, em geral, efeito proclisador. Não Não Não Não Não Não Quadro 2 - Sistematização da ordem dos clíticos pronominais em lexias verbais simples nas três variedades De acordo com o quadro acima, constata-se que, no PB, ocorre próclise em início absoluto e com grande frequência (91%). Essa frequência seria também produtiva nos demais contextos (97%), mostrando que não há variação nas lexias verbais simples, sendo a regra, então, semicategórica, segundo Labov (2003). Assim, o parâmetro de colocação do PB seria bem diferente do praticado na língua do país colonizador e do outro país colonizado em estudo, o PST, como se verá mais adiante. No PB, o perfil do informante que produziu os poucos dados de ênclise correlacionase, possivelmente, a maior idade e, secundariamente, a maior nível de instrução. Como são restritos os dados de ênclise quantitativa (apenas 3%) e qualitativamente (estruturas particulares), qualquer conclusão nesse sentido é, sem dúvida, prematura. Hipoteticamente, os resultados fazem supor que, possivelmente, quanto mais instruído e idoso for o informante, maior será a probabilidade de uso da posição pós-verbal, sugerindo que os mais velhos, possivelmente, teriam recebido mais esse suposto efeito do letramento. Nas variáveis linguísticas, os clíticos acusativos, principalmente com o verbo no infinitivo, e o pronome se seriam os contextos em que a posição enclítica mais ocorreria. Além disso, houve exemplos de construções cristalizadas (como chama-se, deu-lhe, ganhou-lhe e pareceme ) que concretizaram a colocação enclítica. Em relação ao país colonizador, verifica-se que, no PE, em início absoluto, a colocação é categoricamente enclítica, nos contextos de LVS. Nos demais contextos, há variação nas lexias verbais simples, o que se configura uma diferença paramétrica fundamental. Não houve seleção de nenhuma variável extralinguística, mostrando que o ambiente sintático é o que realmente influencia na posição dos clíticos pronominais. As variáveis linguísticas selecionadas foram presença de um elemento antecedente, tempo/modo verbal e distância entre o clítico e um elemento antecedente. No entanto, não há

174 174 efeito categórico dos proclisadores, pois os contextos antecedentes com as partículas de negação, as conjunções subordinativas, as preposições para, de, por e sem e os operadores de foco mais determinados advérbios favoreceram a próclise, mas também apresentam a ênclise em número expressivo de dados. Em relação à distância entre o pronome clítico e o elemento antecedente proclisador, verificou-se que a adjacência do clítico a esse elemento favorece a realização da próclise e, quando ocorre distância entre tais elementos, não se registra o referido favorecimento. De toda forma, é nítida a atuação diferenciada do grupo dos elementos que atuaram como proclisadores versus o grupo dos elementos que não atuaram como proclisadores, o que valida a interpretação de que o PE, embora em todos os casos registre variação entre as variantes pré e pós-verbal, permite a generalização de que existem contextos de (i) ênclise categórica (início absoluto de oração e de período); (ii) próclise altamente favorecida (partículas de negação, elementos subordinativos, preposições para, de, por e sem e operadores de foco); e (iii) próclise altamente desfavorecida (adjuntos adverbiais, complementos preposicionados, preposições a e em, sujeitos e conjunções coordenativas). O PST, de acordo com a análise, segue tendências gerais equivalentes às verificadas para o PE, quais sejam: (i) o fenômeno também se mostra variável; (ii) ocorre ênclise categórica em início absoluto de oração e de período (diferenciando-se ambas do PB radicalmente nesse contexto) e (iii) apresenta algumas variáveis linguísticas como condicionamentos favorecedores da próclise consoante as mesmas tendências gerais. No que se refere aos condicionamentos linguísticos relevantes para os contextos de um verbo, além de o elemento antecedente, tempo/modo verbal e a distância entre o clítico e o elemento antecedente terem sido selecionados, a tonicidade das formas verbais também se mostrou relevante para o fenômeno. Constatou-se que, em relação ao elemento antecedente, a ação dos elementos proclisadores não é dicotômica como no PE, ou seja, as diferenças entre os elementos proclisadores e não proclisadores não são tão bem delimitadas como o são no PE, uma vez que o que se verifica, no PST, é uma queda de influência gradual dos elementos, como distâncias mais curtas entre tais elementos conforme demonstrou a análise dos ranges. As tendências quanto ao favorecimento da variante pré-verbal por parte desses elementos, entretanto, são bem parecidas, tendo em vista que somente a atuação dos operadores de foco, em termos de efeito relativo, diverge um pouco entre eles. Além da presença de um elemento antecedente, tempo/modo verbal e da distância entre o clítico e um elemento antecedente, o que também aproxima PST do PE, houve

175 175 também na amostra são-tomense a seleção do grupo de fatores Tonicidade da forma verbal, segundo a qual as formas paroxítonas favoreceriam a ênclise. Desse modo, assim como se afirma na literatura ocorrer no PE, a tendência rítmica do PST favoreceria a ligação de formas átonas a vocábulos precedentes. Esse comportamento foneticamente enclítico parece justificar o fato de, em início de absoluto de oração/período, a ênclise ter sido categórica, mostrando uma ligação fonológica para a esquerda, também como no PE. Embora não se encontre a variante proclítica em início absoluto de oração/período e os condicionamentos relativos ao efeito de partículas proclisadoras sejam semelhantes aproximando o PST ao PE, é preciso registrar que ocorre no PST efetivamente a próclise em contextos considerados tipicamente brasileiros, como depois do sujeito (SN com núcleo substantivo e sem quantificadores etc.) e das conjunções coordenativas (sem subordinação coordenada), por exemplo. Dessa forma, o PST se particulariza e, em termos qualitativos, até se aproxima do PB no que se refere à oscilação da colocação em determinados ambientes sintáticos, os quais assumem um comportamento fixo ou muito rígido no PE. Assim, esse país colonizado não segue rigorosamente as normas de colocação do país colonizador quanto à efetiva ação dos elementos proclisadores, embora adote a ênclise como ordem não marcada, e siga condicionamentos sintáticos semelhantes aos europeus como tendência geral. Essa particularização do PST em relação ao PE fica ainda mais evidente, quando se verificam alguns dados considerados na literatura inovações do Português do Brasil na amostra são-tomense. De acordo com o princípio do uniformitarismo, dados do presente podem indicar o que aconteceu no passado; assim, comportamentos que ocorrem exclusivamente no PB e no PST, em contraste com o PE, merecem destacada atenção. Por ora, salienta-se que pode haver explicações internas e/ou externas para essas semelhanças/diferenças, que serão brevemente discutidas após a análise dos complexos verbais.

176 0% 2% 2% 11% 12% 13% 10% 12% 18% 22% 18% 27% 37% 38% 78% Complexos verbais No que se refere aos complexos verbais, apresentam-se, inicialmente, os valores absolutos e percentuais de todas as variantes controladas separadamente, para proporcionar uma visão geral da colocação no total de dados de complexos verbais nas três variedades. Para uma visualização panorâmica da colocação dos pronomes nos complexos verbais, a tabela e o gráfico abaixo mostram a produtividade das variantes da variável dependente em seu maior grau de detalhamento, controlando a posição superficial e a presença ou não de material interveniente em cada variedade do Português: Distribuição da variável dependente no PB, PE e PST Variedades cl v1 v2 v1-cl x v2 v1 (-) 50 cl v2 v1 x cl v2 v1 v2 cl Total PB 8 2% 0 0% % 66 18% 6 2% 369 PE % 68 11% % 75 12% 81 13% 642 PST 26 22% 12 10% 45 38% 14 12% 23 18% 120 Tabela 24: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais do PB, PE e PST A variável dependente: PB, PE e PST 100% 80% 60% cl v1 v2 v1-cl x v2 40% v1 (-) cl v2 v1 x cl v2 20% v1 v2-cl 0% PB PE PST Gráfico 16: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais do PB, PE e PST 50 Cabe relembrar que há dados que aparecem com hífen e outros não, mas, em todos os exemplos dados na presente tese, as estruturas foram retiradas exatamente como se encontravam na transcrição do Corpus Concordância.

177 177 De modo geral, a visualização do gráfico faz aproximar PE e PST e separar PB, com um comportamento nitidamente particular quanto à colocação pronominal em complexos verbais. No PB, a variante mais produzida foi a v1 (-) cl v2 (78%) e não ocorreu a colocação do clítico antes de um elemento interveniente, posição esta que asseguraria a interpretação da presença de ênclise a v1 na variedade em questão (como em ele pode-me hoje dar). Destacase que, se forem amalgadas as variantes v1 (-) cl v2 (78%) e v1 x cl v2 (18%), ambas no interior do complexo verbal, o percentual registrado passa a ser de 96% dos dados, mostrando que a próclise a v2 (interpretação feita em função de haver muitos casos de clítico antes de V2 e após o elemento interveniente, como em pode hoje me dar, e de não ter sido registrada qualquer ocorrência de ênclise a v1) 51 é quase categórica, seguida pela colocação proclítica a v1 e pós-cv que obtiveram, cada uma, o mesmo percentual (2%). Diversas gramáticas confirmam a colocação proclítica a v2, desde a tradição gramatical, com (i) Cunha & Cintra (2007) a próclise ao verbo principal nas locuções verbais (p. 331) ; e (ii) Rocha Lima (2001) A interposição do pronome átono nas locuções verbais, sem se ligar por hífen ao auxiliar, é sintaxe brasileira (p. 455); passando pela tradição linguística brasileira (i) Perini (2007) No padrão brasileiro atual, (...) a posição natural do clítico, quando o predicado é complexo, é a próclise ao NdP (p. 231); e (ii) Castilho Focalizando os tempos modernos, (...) nas perífrases e nos tempos compostos, o PB favorece a colocação do pronome antes do verbo pleno na forma nominal (p. 484). Essa tendência é confirmada em diversos estudos que abordam o tema tanto na modalidade escrita (MARTINS, 2009; NUNES, 2009; VIEIRA, 2002; dentre outros), como na modalidade oral (VIEIRA, 2002 e CORRÊA, 2012). No PE, a variante proclítica a v1 foi a mais utilizada (37%), seguida pela v1 (-) cl v2 (27%) e pós-cv (13%). A colocação antes de algum elemento interveniente v1 (-) cl x v2, que não foi encontrada na amostra brasileira, ocorreu em 68 dados do PE, o que equivale a 11% dos dados. A variante v1 x cl v2 (12%) ocorreu, em geral, com os complexos verbais 51 Vale destacar que, como já foi dito nos capítulos anteriores, a ligação que se fala em toda a análise dos complexos verbais não é a fonético-fonológica, mas a sintática. Assim, serão verificadas as variantes: proclítica a v1, enclítica a v1, proclítica a v2 e enclítica a v2 no contexto sintático apenas.

178 178 que já possuem algum elemento integrante em seu interior o que e o de (ter que/de), por exemplo, mostrando que, diferentemente do PB, não ocorreria uma próclise a v2, mas uma ênclise ao elemento que atua como proclisador interno ao complexo, como em tem que se fazer (VIEIRA, 2002; VIEIRA, M. F., 2011). Na realidade, como será analisado na próxima seção, nesses casos não ocorreu propriamente um elemento interveniente, como um advérbio, por exemplo, mas sim um proclisador integrante do tipo de complexo verbal específico. No PST, a variante v1-cl v2 foi a mais produtiva (38%), seguida pela próclise a v1 (22%) e pela pós-cv (20%); as colocações antes de um elemento interveniente (10%) e depois do elemento (12%) foram as menos utilizadas. Em relação a esta última posição (14 dados), serão mostrados os contextos em que ela ocorre; com a análise, será possível verificar se ocorreu uma ênclise ao elemento que/de integrante do tipo de complexo verbal como no PE ou uma próclise a v2 como no PB, mostrando, assim, se o PST seria mais parecido com a língua do país colonizador ou do outro país colonizado. principal Distribuição geral dos dados pela variável dependente e pela forma do verbo Português do Brasil A ordem dos clíticos nos Complexos Verbais pela forma de V2: PB V2 cl v1 v2 v1-cl x v2 v1 (-) cl v2 v1 x cl v2 v1 v2 cl Total Infinitivo 8 3% 0 0% % 58 22% 6 3% % Gerúndio 0 0% 0 0% 90 92% 8 8% 0 0% 98 26% Particípio 0 0% 0 0% % 0 0% 0 0% 11 3% Total 8 2% 0 0% % 66 18% 6 2% % Tabela 25: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais segundo a forma do verbo principal no PB Verifica-se que a colocação pronominal varia dependendo da forma do verbo principal (v2). Com v2 no particípio, a regra observada no total de 11 dados registrou comportamento categórico, com todos eles no interior do complexo, o qual, por sua vez, não registrou qualquer elemento interveniente (como em tem me dado). Com o gerúndio, a colocação ocorreu no interior do complexo verbal também, mas nos ambientes sem elementos intervenientes (como em está me vendo) e depois de algum elemento (como em está sempre

179 179 me vendo). Já com a forma verbal no infinitivo, foram quatro colocações possíveis: x v1 v2, v1 (-) cl v2, v1 x cl v2 ou v1 v2 cl. Destaca-se que não houve qualquer dado enclítico a v1, que seria representado por v1 cl x v2. Na amostra brasileira como um todo, encontraram-se 369 dados de complexos verbais com clíticos. O infinitivo (71%) foi o verbo principal com mais ocorrências, sendo seguido pelo gerúndio (26%) e, por último, pelo particípio (3%). Somando todas as variantes intra-cv com e sem elementos intervenientes, pode-se constatar que a tendência geral da variedade é a chamada próclise a v2, tendo em vista que não há dados de ênclise a v1, ocorrem só oito dados de próclise a v1 e seis de ênclise a v2. Assim, independente da forma nominal utilizada como verbo principal, a posição mais utilizada é a interna ao complexo tanto no infinitivo (72% + 22%), quanto no gerúndio (92% + 8%) e particípio (100% - apenas onze dados). A colocação no interior do complexo verbal na totalidade dos dados foi a mais encontrada, com 78% dos dados sem elemento interveniente e 18% com elemento interveniente, o que perfaz um total de 96% das ocorrências. Assim, pode-se dizer que a colocação nos complexos verbais, assim como nas lexias verbais simples, também é semicategórica, segundo Labov (2003). Confirmam-se, assim, os resultados de Vieira (2002) retomados em Vieira; Corrêa (2012), em que as autoras interpretaram a regra de colocação pronominal na fala brasileira, sobretudo em complexos verbais, como semicategórica, em termos quantitativos e qualitativos, tendo em vista o alto percentual de utilização da variante que pode ser aqui interpretada como proclítica a v2, pelas razões já apresentadas e pelo respaldo dado por diversas gramáticas e trabalhos sobre o tema. A colocação pós-cv e a proclítica a v1 foram registradas em apenas 2% dos dados, cada uma. Vale ressaltar que, nos dados brasileiros, a colocação v1 cl x v2 não foi empregada pelos informantes, confirmando que não se efetiva a ênclise a v Complexos verbais do PB com o verbo principal no infinitivo Em relação aos elementos intervenientes no complexo verbal, verificou-se que a posição v1 x cl v2 ocorreu em 66 dados e, na metade deles, com complexos do tipo ter que + infinitivo (31 dados). No entanto, essa posição do clítico ocorreu também com outros tipos de construções verbais, como os que possuem os verbos auxiliares, muitos deles sem qualquer preposição/conector integrante da construção verbal, como estar, ir, dar, saber, poder,

180 180 acabar, voltar, ficar, começar, querer e vir, mostrando que essa variante pode ocorrer com diversos tipos de complexos verbais. O tipo de clítico parece também influenciar o comportamento dessa variante, uma vez que, das 66 ocorrências, 45 foram com a forma pronominal se, seguida pelos pronomes me (13 dados) e te (8 dados). Mais da metade dos dados foi com o pronome se, o que demonstra que esse pronome é bastante utilizado na posição v1 x cl v2. A seguir, serão mostrados alguns exemplos em que há um elemento interveniente, diferente das conjunções e preposições que geralmente integram o próprio complexo: Ex.197: D: = em educação física e vai ser um profissional da área L: ( ) é vai ver ele ia até se dar muito melhor na educação física [COP-A-2-M] Ex.198: comecei a trabalhar com do:ze a:no... meus pais nunca pôde me dar:... o que eu queria sempre TER né... para mim poder... me VESTIR:... eu tinha que trabalhar na casa dos ou:tro... para poder ao menos me manter né... com rou:pa calça:do... [NIG-A-1-M] Ex.199: e foi uma coisa até que talvez... pela minha inexperiência... foi tranquilo... eu não me apavorei eles queriam até me levar... e eu tive até uma atitude que não se deve ter né? [NIG-B-1-H] Ex.200: O Brasil nunca foi tão respeitado lá fora... e por incrível que pareça... eu vou falar uma coisa aqui agora... que outras pessoas podem até me recriminar:.. isso já começou lá com seu Fernando Henrique... [NIG-B-1-H] Ex.201: D2: [uhn uhn L: não custa nada... só vai só te beneficiar... tá entendendo? [NIG-C-1-H] Ex.202: L: Deus ouviu as preces até falei isso no trem né falei todo mundo depois o pessoal veio até me comprimentar pô meus parabéns tal pô você tem um filho formado em engenheiro naval aí todo mundo veio me comprimentar então eu vi a importância né [NIG-C-2-H] Com os exemplos acima, pode-se confirmar que realmente existe a próclise a v2 no PB, como já foi mostrado em estudos anteriores. A posição do clítico adjacente à segunda forma verbal e após uma diversidade dos elementos intervenientes muitos deles considerados tradicionalmente proclisadores, mas não exclusivamente desse tipo (até, sempre, nem, lá, não, ao menos, quase, só e assim) mostraria que a próclise a v2 realmente se confirma como uma variante brasileira. Por isso, com base na análise dos resultados e dos exemplos aqui apresentados, a partir daqui serão juntadas, para o PB, as variantes v1 (-) cl v2 e v1 x cl v2 internas ao complexo verbal, entendendo que nos dois tipos de colocação ocorreria o que se concebe

181 181 como próclise a v2. Dessa forma, será possível ter uma demonstração ternária do que ocorre no PB, o que facilitará a interpretação dos resultados. Desse modo, observe-se o gráfico a seguir: A variável dependente do PB 100% 94% 80% 60% Próclise a v1 Próclise a v2 40% 20% 3% 3% Ênclise a v2 0% PB Gráfico 17: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais do PB: variável ternária Com base no gráfico acima, pode-se constatar a expressiva produtividade da variante proclítica a v2, tendo um total de 94% dos dados, o que equivale a 246/260 ocorrências. Verifica-se, assim, que, realmente, a regra no PB estaria nos limites do que Labov consideraria semicategórico (a partir de 95%) no contexto dos complexos verbais também, tendo em vista a pouca ocorrência das variantes pré e pós-cv. A colocação proclítica a v1 ocorreu em somente oito dados e a pós-cv em seis dados, o que merece uma análise qualitativa, como será feito a seguir. Em relação à próclise a v1, os oito dados encontrados na amostra brasileira podem ser observados nos exemplos abaixo: Ex.203: Ex.: mas eu acho que essa história... violenta de negócio que se possa contar... nunca teve não... ((ruído)) como você tinha falado [COP-B-3-H] Ex.204: mas também é função daquilo que a gente QUER ter né e pode ter então acho que ele é menor em função... das coisas que eu posso colocar ( ) que se pode colocar dentro de casa (como a) grande maioria não pra todo mundo [COP-B-3-M]

182 182 Ex.205: você ficar muito tempo... ahn numa situação em que você precise pensar ponderar e falar depois de um certo tempo você se habitua a fazer isso pensando e refletindo pouco [COP-B-3-M] Ex.206: L2: você poderia ter tido os mesmos filhos filhos que você teve mas de repente com outra situação né? L: isso nunca se vai saber [COP-C-3-M] Ex.207: botaram as portas novas... destruíram as portas... então... eu acho que isso é vandalismo... que não se deve aprender dentro do colégio e sim dentro de casa... [NIG-A-3-H] Ex.208: eu não me apavorei eles queriam até me levar... e eu tive até uma atitude que não se deve ter né?... eu quando eles tavam tentando me jogar dentro do carro... eu me abaixei e saí... eles entraram dentro do carro... [NIG-B-1-H] Ex.209: o que que acontece... então eu acho que ele criou isso e depois ele começou a acertar esses troços... então já se começou a ter emprego... e o Lula.. [NIG-B-1-H] Ex.210: tem que ter responsabilidade com aquela criança de educar:... de conversar:... entendeu de dar amor... independente de tá separado ou não então se pode ver fizeram uma pesquisa outro dia eu escutei na televisão [NIG-C-1-M] Verifica-se que a próclise a v1 ocorre praticamente com o se indeterminador, conforme demonstram os estudos anteriores, como Pagotto (1998), Vieira (2002), Martins (2009) e Nunes (2014). Esta última autora, em especial, fez um traçado histórico dos tipos de se e sua colocação, demonstrando que, embora a colocação brasileira tenha assumido a variante proclítica a v2 a partir do século XVII/XVIII, essa mudança não teria se processado igualmente nas construções de indeterminação do sujeito, uma vez que a maioria dos dados com próclise a v1 se refere a essa construção. No que se refere aos exemplos da amostra brasileira, vale, ainda, destacar que, apesar de a maioria ser formada com se indeterminador, há um exemplo de se reflexivo/inerente ( se habitua a fazer ), mas este se ligaria exclusivamente a v1 mesmo, o que, na verdade, poderia justificar a exclusão dessa ocorrência do conjunto de dados estudados como complexo verbal. No que se relaciona aos tipos de complexos verbais, observa-se que três dados são com poder + infinitivo, dois com dever + infinitivo, um com começar a + infinitivo e um com ir + infinitivo. Com isso, constata-se que a maioria dos complexos (seis dados) é composta de perífrases verbais modais, e somente um dado é de construção temporal.

183 183 A seguir, serão analisados os seis exemplos de ênclise a v2: Ex.211: L: tirou o mestrado no Canadá... e depois foi tirar o:... doutorado... nos Estados Unidos D: uhn uhn L: ( ) nós fomos visitá-lo umas três/ três vezes ( ) [COP-C-3-H] Ex.212: a educação do índio era... permanente coletiva se um garoto indígena fosse pra: caçada... ele ia encontrar lá um mais velho que ia orientá-lo ia ensinar etc [NIG-C-3-H] Ex.213: L: até que eu consegui... levá-la pra lá.. e ela viajou pro exterior/ primeira vez que ela ia para o exterior viajou sozinha [COP-C-3-H] Ex.214: L: era um general CERTO garantido ( )... passou pra reserva nós fizemos várias... demonstrações de solidariedade a ele... e nós (diríamos) que quem devia julgá-lo... seriam oficiais que já tivessem estado [COP-C-3-H] Ex.215: porque uma vez eu... encontrei com ele no mercado... ou eu precisei de um favor dele aí eu passei a conhecê-lo... aí ficou meu amigo... [COP-B-2-M] Ex.216: os alunos têm medo professora... libera a gente porque tá ruim: sabe... o que que você entende?... você não pode deixá-los até... as tan:tas porque eles tão correndo risco [NIG-B-3-M] Vale destacar que os seis exemplos da variante pós-cv são com os clítico o (s) ou a (s), mostrando que, assim como nas lexias verbais simples, o clítico acusativo ocorre, em especial, na posição pós-cv. Em relação ao tipo de complexo verbal, foram encontrados dois dados com ir + infinitivo, e um dado com cada um dos complexos a seguir: conseguir + infinitivo, dever + infinitivo, passar a + infinitivo e poder + infinitivo. Em relação ao perfil dos falantes que empregaram essa variante, nota-se que quatro, dos seis dados, foram produzidos por informantes do sexo masculino e da faixa etária C, mostrando, que, talvez, para os complexos verbais, esses fatores também podem exercer algum tipo de influência sobre o fenômeno. Quanto ao nível de instrução, o nível superior também parece que influencia em alguma medida, tendo em vista que cinco dos seis exemplos foram de informantes desse grau de escolaridade, ou seja, indivíduos com mais instrução. Além disso, deve-se observar que três dados são do mesmo informante: COP-C-3- H. Por todo o descrito, mesmo em complexos verbais com infinitivo, com maior aparente variabilidade no comportamento da ordem dos clíticos, verifica-se que as supostas

184 184 formas alternantes na realidade são absolutamente restritas não só quantitativamente, mas também qualitativamente Complexos verbais do PB com o verbo principal no gerúndio Nos complexos verbais com o verbo principal no gerúndio, a posição pós-cv não foi encontrada, nem a próclise a v1. As únicas posições encontradas foram internas ao complexo verbal v1 cl v2 e v1 x cl v2. Em relação aos dados com gerúndio, o complexo verbal mais encontrado foi o estar + gerúndio com 65 ocorrências, seguido por acabar + gerúndio (14 dados), ir + gerúndio (10 dados), ficar + gerúndio (7 dados), vir + gerúndio (1 dado) e continuar + gerúndio (1 dado). Verifica-se, assim, que o tipo de complexo verbal mais utilizado foi o dos tempos compostos (estar, ir e vir) com um total de 76 ocorrências, em especial o complexo verbal do tipo estar + gerúndio, tendo em vista que mais da metade dos dados foram realizados com esse tipo de complexo. O outro tipo utilizado foi o das perífrases verbais (acabar, ficar e continuar) com 22 dados. No que diz respeito ao tipo de clítico, foram encontradas somente três formas pronominais: se (47 dados), me (35 dados) e te (16 dados). O tipo de clítico se mostrou-se muito produtivo, pois quase a metade dos dados foi produzida com esse pronome. O pronome me também foi bem utilizado, tendo em vista a quantidade de dados (35 ocorrências). Com o verbo principal no gerúndio, houve a realização de somente duas posições: v1 cl v2 (90 dados) e v1 x cl v2 (8 dados). Para o verbo principal no gerúndio, assim como se procedeu com o infinitivo, também serão amalgamadas as duas posições que ocorreram no interior dos complexos v1 cl v2 e v1 x cl v2, considerando que as duas seriam proclíticas a v2, obtendo-se, assim, um total de 98 dados e 100% proclíticos a v2. Isso pode ser confirmado com a análise dos oito dados em que há algum elemento interveniente no interior do complexo, como se pode ver abaixo: Ex.217: na parte da política... principalmente porque a maioria das pessoas... assim... minha tia é candida:ta... o amigo do meu pai é candidato... então a gente acaba que se envolvendo... mas eu acho que a política aqui... [NIG-A-3-H] Ex.218: L: [eu achava irritante às vezes... eu achava irritante... e eles também assim até pelo fato deles... tarem sempre me sacaneando mesmo por causa do meu sotaque... eu chagava pra pessoa oi/ conhecia alguém oi prazer tudo bom... mal eu

185 185 me apresentava prazer: e aí beleza? assim sabe... já me sacaneando de cara nem me conhece [COP-A-2-M] Ex.219: L: = isso não: pra mim não sair não façam isso que vocês tão eh até me prejudicando se eles chegarem lá e comentar alguma coisa que gostariam que eu ficasse... devido ao meu serviço até... acho bom agora... [COP-B-3-H] Ex.220: olha as senhoras não se assustam não... mas eu acho tá tendo um assalto aqui... as mulher ficaram me olhando acho que elas tavam pensando que eu tava querendo assaltar elas foi até meio estranho que elas tudo se afastaram de mim eu falei olha... a senhora não se assusta porque eu acho que tá tendo um assalto (elas foram tudo pro canto ficaram tudo me olhando) de repente veio um rapaz... [COP- B-3-H] Ex.221: você tem Deu/ você tem duas posições ou você está com Deus ou você está sem Ele... Ele estará sempre te querendo... porém você tem que dizer sim... daí o amor verdadeiro... né... então a importância de você... optar por Deus... então [COP-C-1-M] Ex.222: eu estava com dificuldade de conversar com uma pessoa... ela não me dava chance... aí eu disse Senhor... eu gostaria tanto de ter um diálogo... mas eu não tenho chance... é difícil... a gente acaba não se entendendo direito... aí Ele disse assim envia amor... [COP-C-1-M] Ex.223: mais os planos de saúde são atendidos... só que infelizmente... os nossos planos de saúde já estão quase se transformando... um... uma saúde pública [NIG- B-1-H] Ex.224: mas não é MESMO... que ele gostaria que o pai dele estivesse brincando com ele de bola na rua... se sujando todo com ele:... [NIG-B-1-H] Com base nos exemplos acima, somente o primeiro deles ( a gente acaba que se envolvendo ), em que há uma construção particular (com a presença de um que que pode ter sido utilizado em comparação com a perífrase acabar que X, como em acaba que eu me envolvi ), os demais possuem elementos variados. Pode-se verificar que os elementos intervenientes encontrados são sempre, até, tudo, não e quase. Ressalta-se que, no último exemplo, curiosamente, houve a elipse do verbo auxiliar ( estivesse ) e a variante proclítica permaneceu, confirmando, assim, que os dados com o gerúndio também confirmam o estatuto proclítico a v2 no PB de forma categórica no gerúndio assim como no particípio, como se verá a seguir.

186 Complexos verbais do PB com o verbo principal no particípio Nos exemplos abaixo, podem-se observar os onze dados com particípio: Ex.225: porque eu dou uma coisa muito chata que é número pro arquiteto que não gosta... né... mas ah: mas certamente alguém teria me... me recolocado às vezes pessoas não tão entendendo... [COP-B-3-M] Ex.226: a gente já aprendia que ela tinha que ser mais técnica... ahn:... eu não/ provavelmente se eu tivesse me tornado professora... tendo feito pedagogia eu teria levado grandes reprovações mas eu me tornei professora pelo mérito técnico... por ter feito [COP-B-3-M] Ex.227: L: eu estudava aqui pedi transferência pra lá... pelo fato/ por isso mesmo por eu ter me mudado... eu tava estudando aqui eu tomei uma carreira do rapaz ali à noite... [NIG-A-2-M] Ex.228: L: por exemplo da minha linguagem o rapaz/... o amigo dele percebeu como eu não sei ele não falou... que eu não tinha o estudo que eu não tinha me formado [NIG-A-2-M] Ex.229: deixa eu provar isso ver se é bom provei tou até hoje ((risos)) não que ela tenha ME oferecido eu pedi então a mim ninguém influenciou [NIG-B-1-M] Ex.230: apesar que eu venho de uma família de fumantes na minha casa todos são fumantes entendeu mas eu não sei não vou dizer para você... que:: minha mãe e meu pai tenha me influenciado não [NIG-B-1-M] Ex.231: ele fugiu quando eu cheguei na calçada tremendo chorava ai que eu fui sentir aquela dorzinha tinha me dado um arranhão dois arranhões [NIG-B-1-M] Ex.232: têm pessoas que diz que não mas a maioria das pessoas são hipócritas porque assim... eu penso assim... não é: se Deus tivesse me dado um filho gay [NIG- B-1-M] Ex.233: L: então eu/ eu sempre/ às vezes quando eu vejo certas pessoas que eu vejo que não... não têm certa preocupação com os filhos eu falo assim Senhor muito obrigado por ter me dado os meus filhos... e eu me preocupei com todos os problemas que eles sempre tiveram... entendeu então... eu sou muito agradecida a Deus por tudo [NIG-C-1-M] Ex.234: são muito GROssas entendeu... acha que pelo fato de você ter um estudo você ter se formado você tem que arrumar uma pessoa do seu nível... [NIG-A-2-M] Ex.235: L: ah: eu acho que foi muito bom... não tenho o que reclamar:... era:/... vamos dizer... acho é que nem nego:/ como que eu tinha te falado acho que é metade um do outro se encaixou perfeito... [COP-B-3-H]

187 187 Verificando os dados citados, percebe-se que, de 369 dados produzidos no PB, somente onze estão com o verbo principal no particípio. Não houve a ocorrência da colocação proclítica a v1 nem pós-cv e todos os exemplos são do complexo verbal do tipo ter + particípio. Além disso, nove estão com o pronome me ; somente os dois últimos não o apresentam, sendo um com o pronome se reflexivo/inerente e um com o pronome te. Ressalta-se que esses clíticos são argumentos de v2, mostrando que o que estaria se efetivando seria a próclise a v2 e confirmando, em especial, o trabalho de Nunes (2014). Não houve estruturas do tipo não me é dado e não se tinha pensado em X que são casos específicos de próclise a v1 com voz passiva de ser e com pronome se em estrutura de indeterminação do sujeito já registrados no PB e que serão encontrados na análise do PE (cf Complexos verbais do PE com o verbo principal no particípio). Dessa forma, verifica-se que a variante efetivamente brasileira e mais produtiva na amostra do PB é a próclise a v2. Essa variante foi a mais produzida no infinitivo (94%) e foi a que ocorreu de forma categórica com o verbo principal no gerúndio e no particípio, confirmando o que é dito em diversas gramáticas e trabalhos anteriores Português Europeu A ordem dos clíticos nos Complexos Verbais pela forma de V2: PE V2 cl v1 v2 v1-cl x v2 v1 (-) cl v2 v1 x cl v2 v1 v2 cl Total Infinitivo % 68 12% % 75 14% 81 15% % Gerúndio 10 22% 0 0% 38 78% 0 0% 0 0% 48 8% Particípio 28 56% 0 0% 21 44% 0 0% 0 0% 49 8% Total % 68 11% % 75 12% 81 13% % Tabela 26: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais segundo a forma do verbo principal no PE No PE, as regras de colocação são diferentes dependendo da forma do verbo principal. Em caso de v2 no gerúndio ou no particípio, não ocorreu a colocação enclítica a v2 possivelmente por serem formas mais nominais (cf. VIEIRA, 2002; VIEIRA, M. F., 2011; NUNES, 2014). Dessa forma, a regra apresentou-se como binária e o pronome apareceu, na amostra analisada, apenas antes ou depois de v1. De acordo com Mateus et alii (2003, p. 830), os complementos participiais e gerundivos de verbos auxiliares (...) representam os casos

188 188 extremos de defectividade funcional, com Subida do Clítico obrigatória para todos os pronomes clíticos. Assim, os dados em análise, realmente seguiram essa regra e houve a subida dos pronomes que apareceram apenas antes ou depois de v1. Quando o verbo principal se encontra no infinitivo, as cinco posições foram realizadas. No total de 642 dados com mais de uma forma verbal na amostra europeia, a variante mais utilizada foi a pré-complexo verbal, tendo um percentual de 37%. A preferência pela utilização da variante próclise a v1 pode ter ocorrido por causa do contexto em que os complexos estavam, ou seja, provavelmente por causa da presença de algum elemento proclisador. A segunda mais utilizada foi a v1 (-) cl v2, com 27%. A variante v1-cl x v2 teve 11% (68 dados) de produtividade, comportamento que, vale ressaltar, diferencia a variedade europeia da brasileira, em cuja amostra não se verificou essa posição. A variante v1 x cl v2 ocorreu em 12% dos dados e, como se verá adiante, está restrita ao tipo de complexo verbal; na realidade, ela foi realizada quando havia algum tipo de elemento integrante do complexo verbal, como um que ou um de, por exemplo, e não efetivamente um elemento que se colocou entre os constituintes do complexo verbal. A variante v1 v2-cl ocorreu em 13% dos dados Complexos verbais do PE com o verbo principal no infinitivo Conforme já se observou, com os complexos com infinitivo, as diversas posições superficialmente controladas ocorreram na amostra europeia. Para definir melhor o estatuto dessas formas alternantes, é preciso observar o comportamento dos dados sobretudo na posição interna ao complexo verbal. Quanto à variante interna ao complexo, o controle do contexto com material interveniente antes do clítico (v1 x cl v2) permitiu verificar que se trata de complexos que contêm em sua própria formação os elementos por (14 dados), a (6 dados) ou de (5 dados). Das construções encontradas, ocorreu, principalmente, a do tipo de complexo ter que/de + infinitivo com um total de 48 dos 75 dados. Os outros dados são formados pelos complexos acabar por/de + infinitivo (16 dados), estar a + infinitivo (3 dados), começar a + infinitivo (3 dados), poder + infinitivo (2 dados), dever de + infinitivo (2 dados) e haver de + infinitivo (1 dado), como se pode ver nos exemplos dessa forma alternantes dispostos a seguir:

189 189 Ex.236: a última a fase em que acabei por ser membro da direcção do núcleo e aí sim ehh acabou por me marcar [FNC-A-3-H] Ex.237: e de alguma forma acabou por se revelar uma certa experiência [FNC-A-3- H] Ex.238: e o mais certo é que a coisa comece ali a se baralhar toda e acabe por por desabar [FNC-A-3-H] Ex.239: em casa ela ao passar plum plum serrado tinha cana viera ela tirou apanha uma cana vieira e começou a me dar a me bater [FNC-B-1-M] Ex.240: em casa ela ao passar plum plum serrado tinha cana viera ela tirou apanha uma cana vieira e começou a me dar a me bater [FNC-B-1-M] Ex.241: a bota de ouro eu não sei sinceramente se é bota d ouro se é bola de bola de prata ehh eu penso que tá a se referir ao melhor marcador de Portugal [FNC-B-2-H] Ex.242: dalgum [de algum] tou a me lembrar dum que [FNC-B-2-M] Ex.243: já tive em paris também canárias também tou a me lembrar devagarinho mas tou tive em canárias [FNC-B-2-M] Ex.244: INF: mais nobres não há carros e portanto a pessoa devia devia de se caminhar praí [para aí] [FNC-B-3-M] Ex.245: e essas tradições deviam de se manter e as pessoas é certo que é um falar diferente [FNC-B-3-M] Ex.246: o resto das semilhas qu era batatas já não tinha a quase batatas pa ceia e muitas vezes acabavam por lhe apanhar porque já não havia comer pa todas [FNC- C-1-M] Ex.247: L: só a minha amiga ela soltou a mala e ele acabou por se satisfazer só com a mala [CAC-A-1-M] Ex.248: L não há não há tempo para se estar com os filhos acaba por se comprar um jogo acaba por se comprar uma série de coisas para lhes ocupar o tempo [CAC-A-2-M] Ex.249: L não há não há tempo para se estar com os filhos acaba por se comprar um jogo acaba por se comprar uma série de coisas para lhes ocupar o tempo [CAC-A-2-M] Ex.250: L sim sim sim sim sim acho que sim porque acaba por se estar menos tempo com as crianças [CAC-A-2-M] Ex.251: L: ah portanto também acabamos por nos identificar nalgumas nalguns pontos [CAC-A-3-M]

190 190 Ex.252: L: exactamente mais fácil até porque deixamos de ser um país fechado portanto é obvio que isto também acaba por nos trazer algumas facilidades [CAC-A-3-M] Ex.253: quando entramos na União Europeia nos acabámos por nos adaptar mais facilmente que as pessoas mais velhas [CAC-A-3-M] Ex.254: L: é é porque não se chegam a conhecer quando acabam de se conhecer também já acabou o casamento [CAC-B-1-M] Ex.255: gestos quotidianos que são muito específicos daquela daquela cultura e que aos poucos vão-se perdendo vão-se perdendo as pessoas acabam por por se adaptar adaptar a um modelo que a sociedade criou televisão internet [CAC-B-2-H] Ex.256: deixou várias zonas do nosso território praticamente despovoadas e o despovoamento de dessas regiões acabam por se perder hábitos antigos e tradições [CAC-B-2-H] Ex.257: D: ah e o pai pensa que vai a mãe e acabam por se esquecer [CAC-C-1-M] Ex.258: as pessoas acabam por se lembrar de mais coisas eu lembro-me de uma maneira geral [OEI-B-3-M] Ex.259: mesmo o pai de uma criança hoje em dia hum dá esses exemplos à criança depois como é que a criança há há de se ir por aí mas isso falta [OEI-A-3-H] Ex.260: por não haver tanta proximidade com os pais... no contacto... e pronto e se calhar o :o... a pô/a presença dos pais não ser tão efectiva e acaba por eles se tornarem tão autónomos [CAC-B-3-H] Ex.261: uma coisa quase que quase que indissolúvel as pessoas podiam não se entender ficavam ficavam fechadinhas em casa [OEI-C-A-H] Ex.262: parece que não tem vontade própria dizem pra fazer não sei quê ele vai fazer... pode não lhe apetecer mas ele vai vai atrás [CAC-B-3-M] Dos exemplos aqui apresentados, verifica-se que há somente dois dados em que ocorre um elemento efetivamente no meio do complexo verbal, o qual não integra o complexo como um conector interno/preposição; trata-se da presença de não interveniente (cf. exemplos 261 e 262), que atuaria como um proclisador entre as duas formas verbais e justificaria a posição do clítico superficialmente adjacente a V2 no PE. Ocorre, ainda, um dado com o pronome pessoal eles, mas este se encontra após a preposição por integrante do complexo (cf. exemplos 260), construção que justifica a posição do clítico antes de v2.

191 191 Por que não se trataria de uma efetiva próclise a v2 no caso do PE, mas o que se teria em geral seria genericamente ênclise a v1, mesmo havendo a aparente colocação v1 x cl v2? Sem se valer das evidências fonéticas que confirmariam que se trata de ênclise ao elemento anterior no PE, pode-se fazer, em termos morfossintáticos, uma comparação com a variedade brasileira e constatar que, de todos os dados de complexos verbais no PB, não houve nenhum dado com a posição v1-cl x v2. Além disso, o elemento interveniente na posição v1 x cl v2 não se limitava a conectores integrantes dos complexos verbais, mas diversos elementos que não ocorreram no PE. Na tabela a seguir, há uma comparação dos elementos integrantes e intervenientes presentes nas variedades brasileira e europeia: Elementos integrantes e intervenientes nos complexos verbais do PB e PE CV PB x PE PB PE Elementos v1-cl x v2 v1 x cl v2 v1-cl x v2 v1 x cl v2 Preposição a Não 100 % 36% a 57% 3% a 10% Preposições de e por Não 100% 6% a 13% 72% a 75% Presença de advérbios Não Até, sempre, Lá, sempre e Não e eles nem, lá, não, também (precedido pela ao menos, preposição por) quase, só e assim Tabela 27: Elementos integrantes e intervenientes nos complexos verbais no PB e PE e a ordem dos clíticos em complexos verbais De acordo com a tabela acima, no PE, verifica-se que há uma preferência pela colocação v1 x cl v2 quando as preposições não são apenas uma vogal como a preposição a, mas são constituídas de consoantes e vogais como as preposições de e por. Nos exemplos acima, verificou-se que com os advérbios lá, sempre e também ocorreu sempre a colocação v1-cl x v2, bem diferentemente do que ocorreu no PB, no qual essa posição não foi encontrada e realizou-se sempre próclise a v2, como já foi exposto anteriormente. Propor que os dados do PE que ocorreram na posição v1 x cl v2 fossem casos efetivamente proclíticos a v2 não só não se sustenta na presente análise, dada a natureza particular das ocorrências encontradas no corpus, mas também contrariaria resultados de todos os trabalhos anteriores. Estes mostram que essa posição é típica do PB, que não realiza a ênclise a v1, e, munidos de evidências morfossintáticas e/ou prosódicas, também

192 192 evidenciam que no PE essa posição do clítico adjacente a v2 é limitada a determinados tipos de complexos. Na tabela anterior, como se pode observar, em quase todos os dados o elemento que se encontra no interior do complexo verbal não é um elemento interveniente do tipo adjunto adverbial, mas constitui elemento integrantes do complexo, ou seja, trata-se de elementos que fazem parte do complexo verbal ( de, por e a ). Assim, embora o clítico não esteja adjacente a v1, ele está acolhido por esses elementos que funcionariam como proclisadores nessa variedade e, no caso da colocação v1 x cl v2, integrariam um todo do complexo verbal (verbo + elemento preposição/conector a ele integrante), sendo considerado, a partir daqui, da mesma forma como se identificam os casos de ênclise a v1. Desse modo, não se propõe, efetivamente, uma próclise ao verbo principal na variedade europeia. Essa interpretação da variedade europeia, a de que ela não realiza a próclise a V2, também pode ser confirmada com os dois últimos dados particulares já comentados, aqueles que não possuem os elementos que, de ou a integrantes do complexo, mas apresentam como elemento realmente interveniente a partícula não. Acredita-se que, nesses dados as pessoas podiam não se entender e pode não lhe apetecer, o pronome apareceu no interior do complexo depois do vocábulo não por exigência semântica, uma vez que, se as frases fossem as pessoas não podiam se entender e não pode lhe apetecer não possuiriam exatamente o mesmo significado que expressam as produzidas pelos informantes. Então, acredita-se que o não foi colocado no interior do complexo para que o sentido desejado pelo falante fosse transmitido, o de negar o conteúdo especificamente de v2. Assim, até nesses dois casos não haveria próclise a v2, efetivamente revelada em construções com elementos intervenientes no PB, mas poderia ser concebida a anteposição do clítico por exigência do vocábulo não, de efeito proclisador já comprovado no PE. Feitos esses esclarecimentos, concebem-se, a partir daqui, para a análise dos dados do PE, diferentemente do que se propôs para o PB, as seguintes variantes: próclise a v1 (précv), ênclise a v1 (que abrange as posições superficiais v1 cl x v2, v1 x cl v2 e v1 (-) cl v2) e ênclise a v2 (pós-cv), para facilitar a interpretação dos resultados, como se pode observar no gráfico a seguir:

193 193 A variável dependente do PE 100% 80% 60% 38% 47% Próclise a v1 Ênclise a v1 40% 15% Ênclise a v2 20% 0% PE Gráfico 18: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais do PE Com a junção das variantes tomadas como enclíticas a v1, verifica-se que essa posição foi a mais produzida com o total de 256 dados (47%), seguida pela próclise a v1 com 208 dados (38%) e pela ênclise a v2 com 81 dados (15%). Nessa junção, como já foi dito, além das variantes que não possuem nenhum elemento interveniente e as que possuem o clítico depois de um elemento integrante, há também os exemplos em que o clítico ocorre antes de algum elemento, como se verá a seguir. Assim, ainda em relação à colocação com a presença de algum elemento interveniente, a posição v1 (-) cl x v2 ocorreu em 68 dados com infinitivo, sendo a maioria com o complexo estar a + infinitivo (31 dados) e com começar a + infinitivo (11 dados). Os outros complexos apareceram da seguinte forma: por a + infinitivo (6 dados), ter que/de + infinitivo (4 dados), ir x + infinitivo (4 dados), habituar a + infinitivo (4 dados), chegar a + infinitivo (2 dados), dar de + infinitivo (2 dados), acabar a + infinitivo (1 dado), procurar a + infinitivo (1 dado), tentar x + infinitivo (1 dado) e poder x + infinitivo (1 dado). Abaixo, segue um exemplo de cada tipo de complexo, respectivamente: Ex.263: há até algumas regiões do pa do do do país cujo centro ninguém anda de carro tou-me a lembrar por exemplo d óbidos [FNC-B-3-M] Ex.264: com azeite e vinagre e e sal pôs uma massa depois começou-me a esfregar os braços e as pernas [FNC-B-1-M]

194 194 Ex.265: e a gente as raparigas e punha-se a dizer qual era a que cortava uã [FNC-C- 1-M] Ex.266: depois tinha-se sessenta minutos depois ia-se assim por ai abaixo depois tinha-se que pedir uma hora emprestada [FNC-B-1-M] Ex.267: que Ela tinha um um pomare e de as laranjas caia no chão a gente ia-se lá pedir e ela deixava a gente apanh ajuntar [FNC-B-1-M] Ex.268: eu gostava gostava de brincar também a: prontos prontos depois isso a pessoa com o tempo habitua-se a fazer outras coisas [CAC-B-1-H] Ex.269: no fundo aquilo era acompanhar os estudos sempre que eu tinha alguma dificuldade me... chegaram-me a colocar nalguns explicadores [CAC-B-3-H] Ex.270: I - é bom ajuda a ter responsabilidades por exemplo dar-lhe de comer ir com ele à rua acho que sim [OEI-A-1-H] Ex.271: o casal acho que entram naquela rotina na mesma acabam-se a cansar por isso é que hoje se vê um casamento dura meia dúzia de anos... [CAC-B-1-M] Ex.272: I - a tentaram-me sempre mostrar qual era a melhor forma de estar na vida [OEI-B-2-H] Ex.273: a partir dai faço a minha vida não como digo não sou de andar muito lá fora porque se eu pode-se também andar bem [CAC-C-1-M] Verifica-se, de acordo com os exemplos acima, que a subida de clítico efetivamente ocorre no PE, tendo em vista os diversos tipos de complexos e de pronomes que apareceram na posição v1-cl x v2, além da grande quantidade de dados nessa posição (68 ocorrências), que se somam aos 208 de infinitivo com outros clíticos na adjacência de v1, mas na posição anterior. Vale ressaltar que, nos exemplos apresentados, além dos elementos que são efetivamente integrantes do complexo verbal (a, de e que), há alguns elementos que realmente são intervenientes, como lá, sempre e também. Nesses exemplos, o clítico ligou-se a v1 e não apareceu depois desses elementos, como aparece usualmente no PB, confirmando a proposta de que o clítico no PE se liga efetivamente em ênclise a v1. Dos 208 dados de infinitivo do PE na posição cl v1 v2, 201 ocorreram com algum tipo de elemento proclisador e 7 sem esses elementos, sendo um em início absoluto de oração, como pode ser observado nos exemplos a seguir:

195 195 Ex.274: quis a independência bem também foi comprar umas calças de catorze contos na altura os meus pais não me iam comprar eu também quis para poder comprar roupa de marca [FNC-A-1-H] Ex.275: mas não sei talvez sinceramente talvez para o ano voltar a estudar e vamos lá ver o que se vai dar [FNC-A-1-H] Ex.176: e por isso aí olho mas eles já se tão a rir porque eles tavam a falar [FNC-B- 3-H] Ex.277: por ser isse furados à moda antiga porque hoje em dia é túneles [túneis] porque quando se ia dar um passeio [FNC-C-1-M] Curiosamente, houve um dado com a variante pré-complexo verbal em início absoluto de oração e um dado com a variante mesoclítica no verbo auxiliar do complexo verbal, como se pode verificar abaixo, respectivamente: Ex.278: INF: em vez de abrirem tantas estradas se deviam abrir era sim creches para as pessoas mais necessitadas e um lar de idosos [FNC-A-1-H] Ex.279: L: não eu estou convencido não é assim poder-se-á mudar pode se mas só se a outra pessoa tiver numa situação que precise de ajuda [CAC-C-2-H] Provavelmente a colocação em início absoluto de oração se deu por causa do adjunto adverbial topicalizado, o que, de certa forma, favoreceria a próclise a v1. Além desses contextos em início absoluto, há mais seis estruturas em que a colocação proclítica a v1 ocorreu, que se encontram a seguir: Ex.280: o acesso à educação no Brasil ainda não é aquele que seria desejável e que encontramos na Europa não é? portanto tudo isso se vai reflectir nos comportamentos [CAC-C-3-H] - Sujeito Ex.281: I claro a geração dos meus pais prima-se ainda pela família independentemente daquilo que se faz fora atenção não são santos nenhuns as pessoas dessa geração pelo contrário mas hum nessa geração tudo se tem que aturar não são muitos os casais a divorciarem-se dessa geração [OEI-A-3-M] - Sujeito Ex.282: L: ou de alguma maneira se consigam juntar é impossível fazer uma situação dessas calha de vez em quando né [CAC-B-2-M] Adjunto adverbial Ex.283: L: não ando a pé na rua portanto logo também ah.. estas questões me podem passar um bocadinho mais despercebidas [CAC-A-3-M] - Sujeito

196 196 Ex.284: fui pa cama ela quando ia já ela já já tava já tinha passado ui [os] nervos ela me veio ver que tava isto tudo negro inchado [FNC-B-1-M] Sujeito Ex.285: a nível curricular poderia haver outras disciplinas de de civismo acho que falta muito civismo e cada vez se vem a perder mais o civismo [OEI-A-3-H] Adjunto adverbial Nos dois primeiros exemplos, ocorreu a colocação proclítica, provavelmente por causa de presença do elemento quantificador tudo e no exemplo 282 por causa da conjunção ou. No exemplo 283, registra-se a presença de elemento demonstrativo no sujeito; no penúltimo exemplo, um pronome pessoal no contexto imediatamente anterior ao clítico; no último exemplo, há orações subordinadas coordenadas entre si. Como se pode observar, em praticamente todos os casos, há um contexto possível de próclise em questão. Vale ressaltar, também, que houve dados em que havia a presença de um elemento proclisador, mas a variante próclise a v1 não foi realizada, como pode ser verificado nos exemplos abaixo: Ex.286: INF: como é que é ehh mal eu mehh mehhh êêê nem sequer sei lhe explicar [FNC-A-1-M] Ex.287: até estagiar ao millennium bcp e na altura não gostou muito porque eh simplesmente não gostava que eu fosse lhe ensinar [FNC-A-3-M] Ex.288: eu disse e eu vou levar uã malha tá cá nada tu tens os joelhos todos esfolados tua mãe não vai te bater [FNC-B-1-M] Ex.289: minha mãe foi assim ah rapa lo lugar de me ver a rapariga o que tu foste me fazer [FNC-B-1-M] Ex.290: a gente passava era a fazer o nosso enxovalho a bordare a fazeno pon a fazer ponte cruz e porque tamém ia-se deitar cedo [FNC-C-1-M] Ex.291: L: eu eu acho que devia-me corrigir em relação a isso [CAC-B-3-M] Ex.292: mas não há assim nada que me tenha ah traumatizado assim de uma maneira assim que que possa me lembrar há coisas bem das coisas ( ) sim lembro-me de muitas coisas [OEI-B-3-M] Ex.293: eu tenho que pensa nisso mas se eu começo a pensar nisso vou-me embora querem-me mandar embora vou-me embora dou em louco [OEI-C-1-H] Ex.294: eu não aproveitava e só e só maçava os outros a dizer ah quero me ir embora quero me ir embora e eles fartaram-se não é? [OEI-C-3-M]

197 197 É interessante perceber que há variação nos contextos com elementos proclisadores, de modo que o clítico pode ocorrer antes de v1, depois de v1 e depois de v2 (ainda a ser descrito). Na tabela a seguir, estão todos os elementos antecedentes que ocorreram com os complexos verbais no infinitivo do PE: Elementos antecedentes no infinitivo do PE CV - PE Próclise a v1 Ênclise a v1 Ênclise a v2 Partículas de negação 73/88-83% 9/88 10% 6/88-7% Conjunções subordinativas 97/141-69% 31/141-22% 13/141-9% Preposições 9/12-75% 2/12-17% 1/12-8% Operadores de foco 17/24-71% 6/24-25% 1/24-4% Adjuntos adverbiais 2/23-9% 17/23-74% 4/23-17% Sujeitos 4/86-7% 65/86-73% 17/86-20% Início absoluto 1/111 1% 86/111 77% 24/111 22% Complementos preposicionados 0/14-0% 12/14-83% 2/14-17% Conjunções coordenativas 0/46-0% 33/46-72% 13/46-28% Tabela 28: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais segundo o elemento antecedente com a forma do verbo principal no infinitivo no PE Essa posição enclítica a v1, mas com um elemento proclisador antes do complexo não seria uma possível realização de acordo com a gramática de Raposo et alii (2013), pois, segundo Martins, Em estruturas completivas infinitivas nas quais a oração infinitiva é selecionada por certos verbos, e nas perífrases verbais em geral, um pronome átono complemento do verbo infinitivo pode cliticizar-se, opcionalmente, ao verbo finito (p. 2288). Logo após, os autores mostram, dentre vários exemplos, alguns em que há um elemento proclisador clássico, como a partícula de negação não, e mostram que o clítico pode aparecer antes do complexo (em posição pré-cv) ou depois dele (em posição pós-cv). No entanto, não há nenhum exemplo como os que foram realizados nos dados da amostra acima, com ênclise a v1. A colocação pós-cv ocorreu em 81 dados e somente com o infinitivo. A maioria deles ocorreu com o complexo verbal ir + infinitivo (26 dados), seguido pelo complexo estar a + infinitivo (13 dados), tentar + infinitivo (8 dados) e conseguir + infinitivo (6 dados). Além desses complexos, também ocorreu a posição pós-complexo verbal com as seguintes formas de v1: saber, ter (que/de), vir, começar (a), poder, decidir, dever, andar (a), acabar (por), costumar, continuar (a) e procurar, mas em pouca quantidade, com menos de três dados em cada caso, na maioria. Assim, ao que parece, o tipo de complexo em si não

198 198 determinaria a colocação pós-complexo verbal, tendo em vista a variabilidade de estruturas verbais com que essa posição se realizou. Já em relação ao tipo de clítico, este, sim, influenciaria diretamente a colocação depois do verbo, uma vez que, dos 81 dados, 47 foram com o clítico acusativo (o (s), a (s)), seguido pelos pronomes me (12 dados), se (10 dados), lhe(s) (9 dados) e, por último, nos (3 dados). Verifica-se, assim, que o clítico acusativo de terceira pessoa é altamente produtivo na posição pós-verbal, como se verificou também nas lexias verbais simples. O comportamento particular desse pronome, ao que tudo indica, relaciona-se à fragilidade fonética de sua constituição, de apenas uma vogal, o que lhe atribuiria maior grau de atonicidade. Assim, sua posição enclítica ao infinitivo gera a constituição de uma sílaba CV, reduzindo sua debilidade fônica. A seguir, há um exemplo de cada tipo de pronome encontrado na posição enclítica ao complexo: Ex.295: eu não vou aos meus filhos fazer não sei quê... e eu vou deixá-los não vou obrigá-los a ir prá cama e eles vão brincar até quando quiserem [CAC-B-3-M] Ex.296: D: porque quando ia levantar-me às vezes não me conseguia levantar [CAC-C-1-M] Ex.297: até que pronto apareceu o caminho neocatecumenal umas catequisações a haver lá no bairro depois entraram para comunidade do caminho e e decidiram casar-se pela igreja [OEI-A-2-H] Ex.298: L: aquelas tretas todas aquilo é horrível mas é assim eles não têm:m não sei escapa-lhes as coisas não é? [CAC-B-3-M] Ex.299: I - fáceis totalmente fáceis mas neste momento há um eu acho também ( ) que o Brasil tem uma força muito grande entre rico e pobre a gente aqui estamos a aproximar-nos totalmente [OEI-B-1-H] De acordo com os exemplos acima, verifica-se que, dos cinco exemplos, três possuem um elemento proclisador clássico antes do complexo, mas, mesmo assim, o que ocorreu foi a posição pós-cv (exemplos 295, 296 e 298), variação já assumida por Martins (in Raposo et alii, 2013). Esse caso de variação nos complexos do PE com infinitivo, independentemente da presença de um proclisador, já foi atestado em outros trabalhos com dados europeus, como os de Vieira (2011) e Nunes (2014), em outros corpora.

199 Complexos verbais do PE com o verbo principal no gerúndio Em relação aos complexos com v2 no gerúndio, ocorreram 48 dados, sendo 38 na posição v1-cl v2 (78%) e dez antes do complexo (22% - cl v1 v2). Assim, em complexos com o gerúndio, diferentemente do PB, em que só ocorre a próclise a v2, haveria duas posições possíveis nos dados europeus: a pré-cv, com elementos proclisadores, ou a enclítica a v1, sem elementos proclisadores e, por vezes, até com eles, configurando mais um contexto de variação no PE. Houve somente dois tipos de complexos: ir + gerúndio (42 dados) e estar + gerúndio (6 dados). No que diz respeito ao tipo de clítico, somente foram encontrados quatro tipos: se (33 dados), me (12 dados), nos (2 dados) e lhe (1 dado). Dessa forma, constata-se que o tipo de complexo ( ir + gerúndio ) e de pronome ( se ou me ) são os mais produtivos na colocação com os complexos com gerúndio. Seguem os dez exemplos que estão na posição pré-cv: Ex.300: eu estimei tanto a minha bonequinha e em dois dias ela tava desfeita sim tamém me tá lembrando [me lembrando] d outra [FNC-C-1-M] Ex.301: antão fui ter com mê filho à áfrica de sul co mê marido agora ina [ainda] me tou lembrande de um pormenor [FNC-C-1-M] Ex.302: nunca faltou ( ) emprego a ninguém... havia emprego com fartura... as pessoas ainda se ia produzindo ainda se ia criando postos de trabalho [CAC-C-1-H] Ex.303: nunca faltou ( ) emprego a ninguém... havia emprego com fartura... as pessoas ainda se ia produzindo ainda se ia criando postos de trabalho [CAC-C-1-H] Ex.304: o meu marido ia buscar o tapete dos pés da cama que é maior não é punha-o aqui no chão e eu la ia me e eu la me ia ajoelhando com forme [CAC-C-1-M] Ex.305: jovens não sabem o que é isso uma folha de: papel selado a: que isso pronto são coisas que se vão perdendo outras evoluíram [CAC-C-2-H] Ex.306: estes blocos de tempo de que vão que vão alterando em que as mentalidades se vão alterando mas dentro do dentro do que era hoje [OEI-A-2-H] Ex.307: grande parte de de das pessoas que sim pelo menos o núcleo das minhas amizades acho ah acho que se mantém assim não é? mas o que se ouve falar e por outras pessoas que se conhece que se vai conhecendo acho que cada vez mais as pessoas [OEI-A-2-M]

200 200 Ex.308: há coisas que noto que leva muito tempo para se conseguir uma consulta hum hum mas também já se vai dizendo que que tem um seguro é que se safa [OEI- B-2-M] Ex.309: I- não é? e que nos vai abrindo os horizontes não é? [OEI-C-3-M] De acordo com os exemplos acima, verifica-se que, nos dados em que ocorreu a posição pré-cv, havia um elemento proclisador (também, ainda, lá, que e já), o que favoreceu essa colocação. Nos demais dados, a posição seria sempre no meio do complexo verbal e sem nenhum elemento interveniente. Abaixo, seguem, curiosamente, três dados em que há a presença de um elemento proclisador, mas a variante pré-cv não foi realizada: Ex.310: eu falei que me disseram a mesma coisa... ela a partir daí o que ela me quis dizer que já ia-se marimbando mais pró Francis/ do Francisco [CAC-B-1-M] Ex.311: gestos quotidianos que são muito específicos daquela daquela cultura e que aos poucos vão-se perdendo vão-se perdendo [CAC-B-2-H] Ex.312: I - há fases a é engraçado eu eu acho que a a história vai-se repetindo embora de formas diferentes não é? [OEI-B-3-H] Verifica-se que, na maioria dos dados em que há um elemento proclisador, a variante pré-cv foi realizada. No entanto, há os três exemplos acima que fogem à regra. Os dados analisados com o gerúndio confirmam o que Martins (in RAPOSO et alii, 2013) propõe para esse verbo principal, pois, segundo a autora, nos complexos verbais com gerúndio (...) os pronomes átonos cliticizam ao verbo finito. Há, portanto, subida do clítico, diferentemente do que acontece nas estruturas infinitivas, nas quais a subida do clítico (quando permitida) é opcional (p ). No entanto, em nenhum momento, a gramática trata da ênclise a v1 em contextos com atratores e não há nenhum exemplo, dentre os vários citados pela autora, que se aproxime dos dados acima Complexos verbais do PE com o verbo principal no particípio Nos complexos com o verbo principal no particípio, houve 49 dados, sendo 28 na posição cl v1 v2 (56%) e 21 na posição v1-cl v2 (42%), mostrando que, assim como no gerúndio, há uma colocação binária com as estruturas de v2 no particípio. De todas as ocorrências, houve somente dois tipos de complexos verbais: ter + particípio (41 dados) e ser + particípio (8 dados). Pode-se observar que o tipo de complexo ter + particípio é bem

201 201 produtivo, pois a grande maioria ocorreu com esse verbo auxiliar. No que diz respeito ao tipo de clítico, grande parte das ocorrências ocorreu com o pronome me (23 dados), seguido pelo se (14 dados), lhe (7 dados), o(s) (4 dados) e nos (1 dado). Os exemplos a seguir apresentam os clíticos na posição pré-cv, com os pronomes o (s) e nos e os complexos do tipo ser + particípio, que foram os menos utilizados: Ex.313: há alteração nos comportamentos nas atitudes nos valores o que nos tem colocado questões [CAC-C-3-H] Ex.314: INF: é evidente que quando as pessoas acordavam e que não os viam lá ficavam aparafusa ehh apavoradas se alguém os tinha roubado [FNC-C-2-H] Ex.315: em oração pedi abrandasse as dores e eu pudesse por de pé e ir e ir lá porque eu nunca o tinha visto [CAC-C-2-M] Ex.316: já o têm em conta e depois ficavam e repetiam e tal enfim ah mas já alguns o têm encontrado depois disso [OEI-C-3-M] Ex.317: a primeira classe é que foi mais complicado porque a professora esteve doente mas agora tem sido sempre a mesma e é uma excelente professora e graças a Deus tem-no ajudado imenso [OEI-A-1-M] Ex.318: que não esteja formado ainda não nomeadamente qualquer criança a- adquire e e absorve tudo aquilo que lhe foi lhe foi ensinado a quando era miúdo [OEI-B-2-H] Ex.319: no meu caso no meu horário tinha no horário horas tinha direcção de turma não é foi-me imposto não não foi eu que escolhi [CAC-A-3-H] Ex.320: eu tenho sobre a vida devo muito aos meus pais e a perspectiva também que tenho da vida em sociedade devo muito a essa educação que me foi dada não só com os meus pais [CAC-B-2-H] Ex.321: nunca tive oportunidade de/de partilhar com eles as brincadeiras deles porque pronto era me vedado esse acesso [CAC-C-2-H] Ex.322: L: vamos pronto eu/eu por aquilo que eu tenho por aquilo que me é dado [CAC-C-2-H] Ex.323: um grupo de pessoas o quão díficil pode ser ehh para responsabilizar as pessoas para que façam aquilo que lhes é incubido [FNC-A-3-H] Ex.324: tinha que pedir autorização a mê pai mê pai tava pá [para a] venezuela e então quande foi falado s eu qu ria namorar com ele foi-me dito só se mê pai autorizasse [FNC-C-1-M]

202 202 Ex.325: INF: vantagens da profissão uma profissão liberal digamos que eu não tenho um horário que me é imposto [FNC-C-3-H] Verifica-se, assim, que, com o particípio, houve mais a colocação pré-cv (28 dados) por causa da presença de elementos proclisadores. No entanto, quando não há a presença de nenhum elemento que favoreça essa variante, o que ocorre é a colocação v1-cl v2, como se pode verificar nos exemplos aqui apresentados. Dessa forma, foram 32 dados com elementos proclisadores e em 28 houve a ocorrência da colocação proclítica. Vale ressaltar que, somente nos quatro exemplos abaixo, havia a presença de algum desses elementos proclisadores e a variante proclítica a v1 não foi realizada. Ex.326: D: mas pronto acho que tem tem-se degradado aqui a zona do Cacém e arredores aqui em Sintra [CAC-A-3-H] Ex.327: pensei que tinha sid [sido] eu que tinha lhe dado um chupuro [FNC-B-1-H] Ex.328: ao nível do direito do trabalho já tinha algum conhecimento e uma relação com as leis que tinham me impulsionado para isso [FNC-C-3-H] Ex.329: também deixou de lá ir abaixo porque a as coisas cá em cima também têmse complicado [OEI-C-2-H] Martins (in RAPOSO et alii, 2013, p. 2293) ressalta que, na colocação dos pronomes átonos nos complexos com o particípio, haveria a subida de clítico obrigatória, como o disse para o gerúndio na citação anteriormente apresentada, e isso foi confirmado no presente trabalho tanto para o gerúndio quanto para o particípio. Não há na referida gramática, entretanto, qualquer referência ou exemplo que confirme como natural no PE a colocação dos dados acima, em que o clítico aparece posposto a v1 mesmo diante de elemento proclisador. Dessa forma, assim como no gerúndio, haveria duas colocações possíveis com os verbos principais no particípio: a próclise e a ênclise a v1, sendo aquela favorecida pela presença de elemento proclisador antes do complexo verbal.

203 Português de São Tomé A ordem dos clíticos nos Complexos Verbais pela forma de V2: PST V2 cl v1 v2 v1-cl x v2 v1 (-) cl v2 v1 x cl v2 v1 v2 cl Total Infinitivo 22 21% 12 11% 33 33% 14 13% 23 22% % Gerúndio 2 18% 0 0% 9 82% 0 0% 0 0% 11 9% Particípio 2 40% 0 0% 3 60% 0 0% 0 0% 5 4% Total 26 22% 12 10% 45 38% 14 12% 23 18% % Tabela 29: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais segundo a forma do verbo principal no PST Em São Tomé, foram encontrados 120 dados e a variante mais utilizada foi a interna ao complexo verbal com 60% dos dados, sendo 38% do tipo v1(-) cl v2, 12% de v1 x cl v2 e 10% de v1-cl x v2. A segunda colocação mais utilizada foi a pré-cv (22%), seguida pela póscv (18%). Os complexos com v2 no infinitivo (87%) são também os de maior ocorrência no PST, seguidos pelos formados com gerúndio (9%) e com particípio (4%). Com o verbo principal no infinitivo, a posição interna ao complexo foi a mais utilizada, com 33% dos dados sem elemento interveniente; com elemento interveniente, verificou-se a seguinte distribuição: v1 x cl v2 com 13% e v1-cl x v2 com 11%; aquela ocorreu, na maioria das vezes, com elementos integrantes no interior do complexo verbal como ocorreu no PE e não com elementos interpostos às formas verbais. A variante pós-cv ocorreu em 22% das ocorrências e a colocação pré-cv em 21% das ocorrências. O verbo principal no gerúndio teve apenas onze dados, sendo dois na posição pré-cv (18%) e nove na posição v1(-) cl v2 (82%). O particípio teve apenas cinco dados, sendo dois na posição pré-cv (40%) e três na posição v1(-) cl v2 (60%) Complexos verbais do PST com o verbo principal no infinitivo Ressalta-se que, dos quatorze dados com a variante v1 x cl v2, dez são do tipo ter que + infinitivo ; quanto aos demais dados, a seguir listados, são três do mesmo informante e um de uma mulher da mesma faixa etária e do mesmo nível de instrução do indivíduo anterior.

204 204 Ex.330: não sei o que é que estava por detrás das coisas mas, infelizmente, essas pessoas lá não estavam a se revelar muito simpáticas [ST-A-3-H] Ex.331: não é que eu não tenha mais para dar, mas eu acho que eu dei o meu contributo, eu dei o meu contributo, eu estou a me licenciar agora para poder aplicar [ST-A-3-H] Ex.332: depois estava a dar entrevista ontem a dizer não sei quê não sei quê que é culpa de não sei quê. É culpa de quem? Ele é que é culpado. O indivíduo pode até se exprimir assim, abertamente [ST-A-3-H] Ex.333: Os mais velhos, esses infelizmente estão a morrer, né, eles que têm mais conhecimento disso, estão a morrer e não estão a os jovens hoje em dia não estão a se interessar que é para aprender essa língua [ST-A-3-M] Pelos exemplos acima, e tendo em conta que os outros dez dados são com o tipo de complexo verbal ter que + infinitivo, verifica-se que haveria de modo geral, também em São Tomé, a variante enclítica a v1, como se interpretou para o comportamento do PE, uma vez que a distribuição das posições é bem parecida com a do PE. No PST, a colocação v1 cl x v2 ocorreu, principalmente, com a preposição a (33% - 55%) e a posição v1 x cl v2 foi mais realizada quando os elementos integrantes do complexo verbal eram as preposições de e por (66% - 70%). Apenas em uma ocorrência, no exemplo 332, em que o elemento interveniente é o até e não um conector/preposição integrante do complexo, ocorre, de forma particular, o pronome adjacente a v2, configurando uma construção costumeiramente considerada uma inovação brasileira, a chamada próclise a v2. Com apenas uma ocorrência desse tipo e sem um estudo específico do comportamento de grande número de dados com o vocábulo até interveniente aos complexos em diversas variedades do Português, seria prematuro afirmar que o PST se alinha ao PB nesse tipo de construção. No entanto, é digno de nota o registro dessa ocorrência na amostra são-tomense, em termos qualitativos, mesmo sendo apenas um dado. Em última análise, essa ocorrência pode sugerir que os informantes são-tomenses admitam, ainda que raramente, o pronome proclítico a v2, a variante considerada uma inovação brasileira, sendo, assim, uma particularidade do PST, não verificada na amostra do presente trabalho em relação ao PE (nem em trabalhos anteriores como os de Vieira (2002) e Vieira, M. F. (2011)). Caso realmente se confirme ser esse dado natural no PST, aumenta a confiabilidade da hipótese de que a instabilidade advinda da situação de multilinguismo que envolve a implementação da Língua Portuguesa em São Tomé, por causa da intensa situação

205 205 de contato linguístico, possa explicar as feições diferenciadas de uma língua transplantada em relação à língua do colonizador, como também aconteceu no caso do PB. Dessa forma, tendo como base os exemplos acima e considerando apenas um exemplo de uma possível próclise a v2, a partir desse momento, também serão consideradas três variantes para o PST, como ocorreu no PE, sendo próclise a v1, ênclise a v1 e ênclise a v2, como se pode verificar no gráfico a seguir: A variável dependente do PST 100% 80% 60% 40% 21% 57% 22% Próclise a v1 Ênclise a v1 Ênclise a v2 20% 0% PST Gráfico 19: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais do PST Com base no gráfico acima, constata-se que, assim como no PE, a variante enclítica a v1 foi a mais produtiva nos dados do PST com 59 dados, seguida pela pós-cv, com 23 dados, e pré-cv, com 22 ocorrências. Em relação à posição específica v1-cl x v2, ainda com a presença de elementos intervenientes, dos doze dados encontrados, quatro são do complexo verbal estar a + infinitivo, três ir a + infinitivo, dois por a + infinitivo, e um de habituar + infinitivo, de começar a + infinitivo e de ter que + infinitivo. O pronome encontrado nas estruturas foi somente o se, como pode ser observado a seguir: Ex.334: o estado não deve parar com essa política de pulverização intradomiciliária, utilização dos mosquiteiros impregnados, porque quando, repare, quando há, está-se a decorrer esse processo de pulverização intradomiciliária [ST-A-3-M] Ex.335: o paludismo, o mosquito causador de paludismo quase que não se vê. Depois de terminar as pulverizações, dois, três, quatro meses começa-se a sentir novamente o ressurgir dos mosquitos [ST-A-3-M]

206 206 Ex.336: A: nem por isso. Nem por isso. Está-se a complicar cada dia [ST-A-3-M] Ex.337: A: É, não tem qualquer estatuto. Tal como estão-se a fazer em cabo verde [ST-A-3-M] Ex.338: Eu quando estudei no novo sistema, para a xx existir não pode ser uma coisa de momento. Teria-se 52 que educar as pessoas para estarem preparadas [ST-B-2-H] Ex.339: nosso calulu, vai a cozer, descasca-se crua, descasca-se, vai-se juntamente com essas folhas xxxx todo, vai-se a cozer [ST-B-2-M] Ex.340: os meus filhos não entendem nada, assim na brincadeira às vezes eu queria divertir com eles é que falo, até meus filhos põem-se a rir comigo [ST-B-2-M] Ex.341: mandou me chamar automaticamente disse ah que eu tinha que trabalhar na escola porque tava-se a procura de um quadro com capacidade [ST-B-3-H] Ex.342: depois deita-se isso tudo no peixe depois fica a coser depois vai se a engrossar com a farinha mandioca... [ST-C-1-M] Ex.343: L: põe-se na comida... põe-se a refogar muito bem... [ST-C-1-M] Ex.344: D: e que que se faz para tratar? L: vai-se A picar [ST-C-1-M] Ex.345: pode ser sim, na rádio que tal, mensagem passa melhor, sobretudo para piada porque habituou-se muito a utilizar a nossa língua para fazer-se piada [ST-A- 3-H] Diferentemente do que ocorreu com o PB em que o clítico fica usualmente proclítico a v2 e, no caso do se indeterminador, costumeiramente antes de v1, no PST esse fenômeno, à semelhança do que ocorre na língua do país colonizador, ocorre com alguns tipos de complexos verbais, tendo sido verificado apenas com o pronome se, como os exemplos acima mostraram. Em relação aos elementos intervenientes, verifica-se que, assim como no PE, a maioria é de elementos integrantes do complexo verbal. No entanto, no último exemplo, haveria um elemento interveniente que é a palavra muito e o pronome ocorreu antes dele, havendo uma ênclise a v1, e não depois, como, provavelmente, ocorreria no PB. A posição pré-cv ocorreu em 22 dados com o infinitivo. Em relação ao tipo de complexo verbal, ocorreram 12 com o complexo verbal poder + infinitivo, o mais utilizado com essa posição, seguido pelo conseguir + infinitivo (3 dados), dever + infinitivo (3 52 Neste exemplo, a variante realizada foi a ênclise ao futuro do pretério e não a mesóclise, confirmando que os são-tomenses preferem dados enclíticos.

207 207 dados), ir + infinitivo (1 dado), começar + infinitivo (1 dado), estar + infinitivo (1 dado) e vir + infinitivo (1 dado). O pronome se foi o mais utilizado com 17 ocorrências, seguido pelo me (4 dados) e nos (1 dado). Vejam-se alguns exemplos dessa posição abaixo: Ex.346: estão a ter muita ambição para as coisas que eles acham que eles não conseguem ter porque quando se não consegue ter uma coisa você ambiciona demais [ST-A-1-H] Dado com interpolação. Ex.347: as roças estão a conhecer um novo dinamismo, algumas delas, não todas, né? Não se pode abraçar tudo ao mesmo tempo [ST-A-3-H] Ex.348: o ano que eu comecei a trabalhar as coisas, talvez as dificuldades, o próprio professor já se começava a sentir então é uma relação [ST-A-2-H] Ex.349: por exemplo agora há área a, área b, tem um xis de disciplinas na altura quando eu estudei, estudava-se dez disciplinas e só se podia passar com duas deficiências [ST-B-2-M] Ex.350: então eu tomei um pedaço de tábua, de canoa, daquelas canoa já já partida e que dava muito bem para se ir remar um bocado [ST-A-1-H] Vale destacar que a colocação pré-cv não ocorreu em início absoluto e sempre havia algum elemento proclisador antecedente, como se pode verificar nos exemplos anteriores. No entanto, assim como no PE, também houve variação com três dos elementos proclisadores mais habituais: elementos subordinativos (próclise a v1 7/25 28%; ênclise a v1 15/25 60% e ênclise a v2 3/25 12%), partículas de negação (próclise a v1 10/17 59%; ênclise a v1 5/17 29% e ênclise a v2 2/17 12%) e operadores de foco (próclise a v1 2/7 29%; ênclise a v1 2/7 29% e ênclise a v2 3/7 42%). Com os demais proclisadores, a colocação proclítica a v1 foi categórica. Assim, houve contextos em que havia um elemento proclisador, mas a variante proclítica a v1 não foi realizada, como se pode verificar nos exemplos a seguir: Ex.351: Eu se estiver a precisar de dois mil dólares para, pronto, só um exemplo, para editar um disco, o mínimo que possam me dar [ST-A-3-H] Ex.352: às vezes chega a ser uns cem dólares, eu procuro um apoio e que tal, quem pode me dar é boa iniciativa [ST-A-3-H] Ex.353: A: É por isso que maioria parte de pessoas de roça estão a deslocar para cidade, que aqui consegue-se trabalhar doméstica [ST-B-1-M] Ex.354: A: Eles não vão me perseguir porque eu não tenho dinheiro. [ST-B-1-M]

208 208 Ex.355: A: é, hhh, eu não vejo agora mas não é pilão, pilão já é para milho, isso tem outro nome, porque há uma coisa pilão que costuma-se pisar o milho [ST-B-2-M] Ex.356: LF: às vezes às vezes nota-se: é mais o caso da indisciplina... mmh isso eu acho que tem um pouco a ver com a casa não é? é que costuma-se dizer que a a a a dis(x)iplina começa-se/ começa do berço... [ST-B-3-M] Ex.357: sinta bem é na minha casa origem... é: eu fico fico mesmo antes que venha me fazer mais confusão a cabeça [ST-B-3-M] Ex.358: eu gosto da língua mas eu não sei porque mas eu não consegui me desenvolver muito... [ST-B-3-M] Ex.359: é frustrante mas pro:ntos é: eu volto um pouco/ eu volto à parte espiritual como custuma-se dize:r... quando se te:m fé é:... nós com fé nós conseguimos força [ST-B-3-M] Ex.360: L: é é... vai-se la/ depois de/ é um fruto depois de ( ) é que vai se lavar... [ST-C-1-M] Ex.361: L: muito pouco (vim) naquela altura e ainda fiz quarta classe com meus onze doze anos (Ainda com classificação de) muito bom naquela altura mas só que não prossegui na altura porque pai não podia me levar [ST-C-2-H] Dessa forma, assim como ocorre no PE, a presença de elementos proclisadores favorece a variante pré-cv, mas, nesses contextos, também ocorreu a colocação pós-cv, como é atestado em Raposo et alii (2013), e a posição enclítica a v1. Ressalta-se que esta colocação não foi citada nos exemplos citados por Raposo et alii (2013) com nenhuma das formas do verbo principal. A colocação depois do complexo verbal ocorreu em 23 dados com o infinitivo. O complexo poder + infinitivo (6 dados) foi o mais utilizado, mas além dele também ocorreu essa variante com os verbos estar + infinitivo (4 dados), conseguir + infinitivo (4 dados), ter que + infinitivo (4 dados), vir + infinitivo (2 dados), dever + infinitivo (1 dado), ficar + infinitivo (1 dado) e vir + infinitivo (1 dado). O pronome mais utilizado foi o me (12 dados), seguido pelos pronomes: se (6 dados), o (s) (4 dados) e lhe (1 dado), como se pode observar nos exemplos a seguir: Ex.362: eu não digo que é devido quer dizer isso também depende da pessoa, a pessoa também tem que dedicar-se, é assim nosso país [ST-B-2-M] Ex.363: um líquido porque não havia anestesia nem nada foi desse líquido que misturaram com qualquer outra coisa que conseguiram anestesiar-me aqui... [ST-C- 3-H]

209 209 Ex.364: eu julgo que para pessoa do do meu cariz, a pessoa do meu próprio tipo, eu acho que devo voltar-me mais para a sociedade [ST-A-3-H] Ex.365: teve uma audiência, marco mais importante que seja essa audiência eu não consigo satisfazer-me enquanto ser humano [ST-A-3-H] Ex.366: se não te:m é claro que não /(ela) não pode manifestar-se né? [ST-B-3-M] Ex.367: aprendem com muita facilidade... desde que a gente consiga:... a:... dar/ a:/ consiga dar-lhes... dar-lhes a eles uma preparação... [ST-B-3-M] A posição pós-cv ocorreu com diversos tipos de complexos verbais e com quatro tipos de pronomes ( me, se, o(s) e lhe ), diferentemente do PB que só registrou a variante com o pronome acusativo de 3ª pessoa. Além disso, verifica-se que há elementos proclisadores em diversos dados que realizaram essa posição, como ocorreu no PE, mostrando que o PST, nessa posição, também é bem parecido com a língua do colonizador e confirmando o que se diz sobre a colocação dos clíticos pronominais em complexos verbais na gramática de Raposo et alii (2013): o clítico com o infinitivo pode ocorrer, quando houver um elemento proclisador, antes do complexo ou depois dele Complexos verbais do PST com o verbo principal no gerúndio Houve somente 11 dados com o verbo principal no gerúndio (11 dados) e eles serão apresentados a seguir, para que seja feita uma análise dessas construções. Há duas ocorrências com a variante pré-cv (18%) e nove com a variante enclítica a v1 (82%), respectivamente: Ex.368: nós temos que: tentar fazer de conta eh olhando um pouco também pra: pra transformações que se foram dando que se foram dando que é o caso perca de valores não é? [ST-B-3-M] Ex.369: nós temos que: tentar fazer de conta eh olhando um pouco também pra: pra transformações que se foram dando que se foram dando que é o caso perca de valores não é? [ST-B-3-M] Ex.370: como as empresas ainda estavam nessa fase ainda de mando, estado mandava, não sei quê, ainda tinham pequenas condições, mais tarde foram-se degradando [ST-A-3-M] Ex.371: então depois disso, de estar refogado acrescenta-se água quente, aquela água fervida, então com fogo vai-se deixando, vai vendo [ST-B-2-M] Ex.372: até que as coisas hhh tiverem bem cozidas e daí vai-se vendo o ponto [ST- B-2-M]

210 210 Ex.373: eu conheci minha mãe com uma coisa assim de madeira, tipo de uma bacia mas é de madeira, depois com um pau assim vai uma madeira assim própria vai-se pisando, então é para acompanhar calulu [ST-B-2-M] Ex.374: uma vez que fazem aquilo que entendem não trabalham e se não trabalham não há produção e assim a pobreza vai se agravando portanto [ST-B-3-H] Ex.375: L: (prepara-se) por no fogo... água ou lume... descasca as bananas e põe... deixa-se dar um fervidura... depois tira-se... vai se pisar (no do) pisa-se muito bem... depois vai se fazendo as bolinhas [ST-C-1-M] Ex.376: L: é... passa-se a ( ) compra-se o comprimido e vá-se tomando as doses que mandarem... [ST-C-1-M] Ex.377: É verdade que em tempos atrás, no período no período, antes, né hhh,eu acho que já estou me perdendo um pouco [ST-A-3-H] Ex.378: a gente ouve um monte de besteira porque não estamos, não está a entender o que é que está se passando, cada um fala aquilo que ele imagina [ST-A-1-M] De acordo com os exemplos acima, pode-se observar que só há um exemplo com o pronome me e que todos os outros são com o pronome se. Além disso, em relação ao tipo de complexo verbal, há apenas dois dados com o verbo auxiliar estar ; os outros nove são com o verbo ir. Em relação à posição do clítico, verifica-se que há somente dois proclíticos ao complexo verbal (cf. Exemplos 368 e 369) e nesses dois dados há um elemento proclisador que é o pronome relativo que. No entanto, há outros exemplos com a presença de partícula proclisadora que, mas a posição pré-cv não foi concretizada, mostrando a variação da colocação dos clíticos pronominais entre próclise ou ênclise a v1 nos complexos verbais também como se verificou no PE Complexos verbais do PST com o verbo principal no particípio Ocorreram apenas duas variantes com o particípio também, a proclítica a v1 (40%) e a enclítica a v1 (60%), como se pode verificar nos cinco dados com o particípio a seguir: Ex.379: a vida tem sempre altos e baixos momentos, bons e maus momentos, e falando sobre reportagem eu não estou a ver aqui muitas que me tenham marcado de forma chocante [ST-A-3-H]

211 211 Ex.380: lá ficava oito dias portanto ia assim e como normalmente em missão oficial de serviço não nos é permitido eh desviar muito [ST-B-3-H] Ex.381: pra todo povo de forma social para os estudantes como nós não tínhamos educação e saúde era-nos garantido a cem por cento [ST-B-3-H] Ex.382: G: Exactamente, tem-se feito algum esforço através da música [ST-A-3-H] Ex.383: eu acho que tem entrado muitos nigerianos e que não há controlo, eu não acredito que tem-se feito uma avaliação [ST-B-2-M] Das cinco ocorrências, três são com o verbo auxiliar ter e duas com ser. No que diz respeito aos clíticos, verifica-se que há um exemplo com o pronome me, dois com nos e dois com se. Há somente dois dados com a variante pré-cv e os dois com elementos proclisadores clássicos ( que e não ), como se pode verificar nos exemplos 379 e 380, mas, assim como ocorreu com o gerúndio, há um dado em que essa variante poderia ter ocorrido, mas não foi concretizada, como se pode observar no último exemplo citado. Acredita-se que esses dados em que há um elemento proclisador e que não ocorre a variante pré-cv, mas a ênclise a v1, sugerem que a oscilação, que ocorreu nas estruturas de lexias verbais simples, também ocorre com os pronomes nos complexos verbais, em especial com os que possuem o verbo principal no gerúndio e particípio. Constata-se, assim, que a colocação dos clíticos pronominais no PST seria muito parecida com a língua do colonizador, embora haja um dado que pode ser interpretado como uma possível próclise a v2 e alguns dados em que não ocorre a posição pré-cv em ambientes em que há a presença de elemento proclisador. No entanto, nesses casos, apesar de a variante pré-cv não ter ocorrido, a variante enclítica a v1 está claramente representada, variação cuja produtividade ainda não se pode medir e ocorre no PE também Sistematização dos resultados dos complexos verbais No gráfico a seguir, será mostrada a variável dependente de cada variedade em estudo, tendo como base as quatro colocações possíveis e amalgamadas, conforme justificadas no corpo da análise: próclise a v1, ênclise a v1, próclise a v2 e ênclise a v2:

212 0% 2% 2% 0% 0% 13% 22% 18% 37% 50% 60% 96% 212 A variável dependente amalgamada: PB, PE e PST 100% 80% 60% Próclise a v1 Ênclise a v1 40% 20% Próclise a v2 Ênclise a v2 0% PB PE PST Gráfico 20: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais do PB, PE e PST (fatores intra-cv amalgamados) De acordo com os resultados acima, verifica-se que, assim como nas lexias verbais simples, a regra de colocação nos complexos verbais do PB não é variável, e sim, semicategórica (LABOV, 2003), tendo em vista o alto percentual da realização da variante proclítica a v2 (96%) e a especificidade das construções que não a realizam (sobretudo quanto ao tipo de clítico: se indeterminador para a próclise a v1 e clítico acusativo de 3ª pessoa para a ênclise a v2). Essa variante pode ser confirmada, conforme se buscou demonstrar em todo o detalhamento feito nas seções específicas precedentes, pelo fato de não ter ocorrido nenhum dado com a variante enclítica a v1, o que pode ser atestado nos contextos em que ocorreu algum elemento no complexo além das formas efetivamente verbais. No PE, diferentemente do PB, a colocação mais utilizada seria a enclítica a v1, com 50% dos dados, seguida pela proclítica a v1 (37%) e enclítica a v2 (13%). Ressalta-se que a colocação proclítica a v2 não foi encontrada, como já se discutiu anteriormente. A colocação pré-cv foi favorecida pela presença de algum elemento proclisador; no entanto, vale ressaltar que, mesmo com a presença desses elementos, outras posições foram verificadas: a enclítica a v1 no caso dos complexos com gerúndio e particípio; e a enclítica a v1 ou a v2 no caso dos complexos com infinitivo. Quanto à variedade do PST, pode-se constatar, pela similaridade do comportamento geral demonstrada no gráfico, que ela seria uma variedade bem parecida com a do país colonizador, uma vez que a variante enclítica a v1 também foi a mais realizada (60%),

213 0% 3% 3% 0% 0% 15% 21% 22% 38% 47% 57% 94% 213 seguida pela pré-cv (22%) e pós-cv (18%). Constata-se que até o que não é tendência como a variante enclítica a v1 em contextos com proclisadores também se efetivou nos dados sãotomenses e, nesse caso, de forma mais produtiva. Constata-se, assim, que, na amostra referente ao PB, não se verifica variação e a regra é do tipo semicategórico (Labov, 2003), dado seu perfil quantitativo e qualitativo. Quanto ao PE e ao PST, verificou-se o comportamento de uma regra variável, mas com comportamentos particulares a depender da forma de v2. A seguir, serão sistematizadas as análises segundo a forma do verbo principal Os resultados dos complexos com infinitivo A variável dependente no infinitivo: PB, PE e PST 100% 80% 60% 40% Próclise a v1 Ênclise a v1 Próclise a v2 20% Ênclise a v2 0% PB PE PST Gráfico 21: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais no infinitivo do PB, PE e PST (fatores intra-cv amalgamados) De acordo com o gráfico acima, verifica-se que, no PE e no PST, há variação com os complexos verbais que possuem o verbo principal no infinitivo, uma vez que ocorreram três variantes nessas variedades do Português, relacionadas aos contextos sintáticos em que se encontram. Com o PB, a regra, assim como nas lexias verbais simples e na totalidade dos complexos verbais, seria semicategórica, pois a grande maioria dos dados ocorreu no interior dos complexos verbais, totalizando 94% das ocorrências no infinitivo. Na amostra brasileira, houve somente oito dados na posição pré-cv e, em todos eles, o pronome encontrado foi o se indeterminador. Os tipos de complexos mais utilizados foram: poder + infinitivo e dever + infinitivo. Na posição pós-cv, houve somente seis dados e todos com os clíticos

214 214 acusativos ( o(s) e a(s) ). Já a variante proclítica a v2, a maior parte das ocorrências, foi utilizada, principalmente, com o complexo ter que + infinitivo e com os pronomes se e me. Com o PE, a variante próclise a v1 ocorreu sempre quando havia algum elemento proclisador. No entanto, houve dados em que esses elementos estavam presentes e a colocação enclítica a v1 e a v2 (esta somente com o v2 no infinitivo) também foram verificadas. Curiosamente, em início absoluto ocorreu um dado da variante pré-cv nos dados do PE, ao que tudo indica justificada pelo adjunto adverbial focalizado, o que constitui um contexto para a próclise. A pós-cv ocorreu, principalmente, com os complexos: ir + infinitivo e estar a + infinitivo. Os clíticos utilizados nessa posição foram os acusativos o(s) e a(s), me e se. Já a variante mais utilizada, que seria a enclítica a v1, foi produzida em diversos contextos sintáticos, inclusive em complexos que possuíam um conector interno como ter que + infinitivo, estar a + infinitivo e começar a + infinitivo, além de se realizarem com os complexos sem nenhum elemento no interior e com diversos tipos de pronomes e até em contextos com proclisadores antecedentes ao verbo auxiliar. Na variedade são-tomense, a colocação antes do complexo verbal ocorreu, preferencialmente, com o complexo poder + infinitivo e o pronome se. Em todos os dados havia um elemento proclisador, mas também houve dados em que, mesmo com a presença desses elementos, o que ocorreu foram as variantes enclíticas a v1 e a v2 (esta somente com o v2 no infinitivo), como também se concretizou no PE. A posição pós-cv ocorreu, em especial, com os complexos poder + infinitivo e estar + infinitivo e os pronomes se e me. A variante enclítica a v1 foi utilizada, principalmente, com os complexos ter que + infinitivo e estar a + infinitivo, além de também ser bem produtivo o pronome se.

215 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 22% 18% 78% 82% 100% Os resultados dos complexos com gerúndio A variável dependente no gerúndio: PB, PE e PST 100% 80% 60% 40% Próclise a v1 Ênclise a v1 Próclise a v2 20% Ênclise a v2 0% PB PE PST Gráfico 22: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais no gerúndio do PB, PE e PST (fatores intra-cv amalgamados) Com base nos resultados sistematizados no gráfico, verifica-se que, no PB, em complexos com o verbo principal no gerúndio, a regra não seria variável, nem semicategórica, mas categórica, uma vez que todos os dados são proclíticos a v2. A variação ocorreria somente nas variedades do PE e do PST e, curiosamente, com os resultados percentuais bem parecidos e com a concretização de apenas duas variantes. Na variedade brasileira, a única variante que se realizou foi a proclítica ao verbo principal e ocorreu, preferencialmente, com os complexos estar + gerúndio e ficar + gerúndio e com os pronomes se, me e te. Com o PE, não ocorreu a colocação pós-cv, como já era esperado, havendo a subida obrigatória do clítico. A variante pré-cv ocorreu, em geral, com o complexo ir + gerúndio e o pronome se. Em todos os dados havia um elemento proclisador, mas, da mesma forma que ocorreu com o infinitivo, houve três dados em que, mesmo com a presença desses elementos, houve a realização da ênclise a v1. Na colocação enclítica ao verbo auxiliar, o complexo ir + gerúndio também foi bem produtivo e os pronomes se e me. No PST, como ocorreu no PE, a colocação enclítica ao verbo principal no gerúndio também não foi realizada. Houve somente onze dados dessa construção; dois ocorreram na posição antes do complexo verbal e nove depois de v1. Nas duas variantes, o tipo de complexo mais utilizado foi o ir + gerúndio e o pronome se. A variante pré-cv ocorreu

216 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 42% 40% 56% 60% 100% 216 quando havia algum elemento proclisador, mas, assim como ocorreu no PE, em alguns dados em que estavam presentes esses elementos, a colocação realizada foi a enclítica a v Os resultados dos complexos com particípio A variável dependente no particípio: PB, PE e PST 100% 80% 60% 40% Próclise a v1 Ênclise a v1 Próclise a v2 20% Ênclise a v2 0% PB PE PST Gráfico 23: Distribuição geral da ordem dos clíticos pronominais nos complexos verbais no particípio do PB, PE e PST (fatores intra-cv amalgamados) Assim como ocorreu nos complexos verbais com o gerúndio, no PB, também não há variação e a regra é categórica, pois 100% dos dados ocorreram proclíticos a v2. No PE e no PST, no entanto, houve a variação entre duas variantes ligadas a v1. Com o PB, os onze dados com o particípio como verbo principal ocorreram com o complexo ter + particípio e a maioria com o pronome me. Já na variedade europeia, houve maior realização da variante pré-cv, seguida pela enclítica a v1. O tipo de complexo mais utilizado foi o ter + particípio e os clíticos me e se. Na variante pré-cv, todas as estruturas possuíam algum elemento proclisador antes, mas também havia estruturas em que, mesmo na presença desses elementos, ocorreu a colocação enclítica a v1. No PST, inversamente ao que ocorreu no PE, a variante mais utilizada foi a enclítica a v1, seguida pela proclítica. No entanto, só ocorreram cinco dados, sendo dois antes e três depois do verbo auxiliar. Nas duas posições, os complexos utilizados foram: ter + particípio e ser + particípio. Na colocação enclítica a v1, os pronomes utilizados foram o se e o nos. Já na pré-cv, houve um dado com o pronome me e um com o nos e nos dois casos havia um elemento proclisador antes, mas, da mesma forma que ocorreu no PE, havia dados

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