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1 Universidade Federal do Rio de Janeiro ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO SEGUNDO O CONJUGADO VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO por Daniely Cassimiro de Oliveira Santos 2010

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3 2 ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO SEGUNDO O CONJUGADO VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO Daniely Cassimiro de Oliveira Santos Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira Rio de Janeiro Fevereiro de 2010

4 3 ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO SEGUNDO O CONJUGADO VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO Daniely Cassimiro de Oliveira Santos Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Aprovada por: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira UFRJ Professora Doutora Maria da Conceição Auxiliadora de Paiva UFRJ Professora Doutora Silvia Figueiredo Brandão UFRJ Professor Doutor Afranio Gonçalves Barbosa UFRJ, suplente (Presidente) Professora Doutora Christina Abreu Gomes UFRJ, suplente Rio de Janeiro Fevereiro de 2010

5 SANTOS, Daniely Cassimiro de Oliveira. Análise diacrônica da colocação pronominal nas variedades brasileira e européia do Português Literário: um estudo segundo o conjugado Variação- Mudança & Cliticização / Daniely Cassimiro de Oliveira Santos. Rio de Janeiro: UFRJ/ FL, xxiv, 280f.: il.; 31 cm. Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira Dissertação (Mestrado) UFRJ / FL / Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), Referências Bibliográficas: f Sociolingüística. 2. Variação. 3. Cliticização. 4. Morfossintaxe. 5. Ordenação dos pronomes I. VIEIRA, Silvia Rodrigues. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). III. Título. 4

6 5 Dedico esta obra ao Cristo Eucarístico, cuja grandeza infinitamente me excede, bem como aos meus pais, Sebastião e Fátima, e a minha irmã, Thamiris, pela razão de, muitas vezes, terem confundido suas vidas a minha, quando, em inúmeras renúncias, optaram por mim em primeiro lugar.

7 6 AGRADECIMENTOS Eis o momento em que me sinto à vontade para expressar, em primeira pessoa, os meus mais profundos e eternos agradecimentos àqueles que me auxiliaram a tornar realidade o estudo que nas próximas páginas se expõe. Registro, de modo primeiro, a minha gratidão imensurável à Santíssima Trindade, revelada a mim por meio da docilidade do Pai Eterno, do Cristo misericordioso e do Espírito Santo, meu inspirador. Agradeço, pois, a Deus por me ser sempre propício, por ser responsável por minha vida, trajetória e conquistas, por transformar em certeza o meu talvez, em coragem e força as minhas aflições e medos. Remeto, também, os meus humildes agradecimentos à Santíssima Virgem Maria especialmente sob os títulos de Aparecida, de Fátima e de Guadalupe pelas intercessões poderosas, assim como a todos os anjos e santos de Deus. No desejo de demonstrar minha gratidão aos meus amados e queridos pais, Sebastião e Fátima, razão da minha existência, presto minha singela homenagem àqueles que me formam no amor, carinho, ternura, zelo, cumplicidade, dedicação e em tantos outros substantivos abstratos os quais, na prática dos meus dias, se fazem concretos. Nesse ensejo, dedico meus agradecimentos a minha querida irmã, Thamiris, meu exemplo de coragem e de força. Que todos os meus familiares, principalmente minha avó Isaura, minha Madrinha Verônica, meu Padrinho Paulo e meu primo Paulo Henrique, se sintam contemplados em minhas expressões de gratidão e afeto. Agradeço, neste momento, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo incentivo à permanência nas atividades de pesquisa, com as bolsas de Iniciação Científica (do Programa PIBIC/UFRJ) e de Mestrado (agosto de 2008 a janeiro de 2009), bem como à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), pelos financiamentos concernentes ao Programa Bolsa Nota 10 (fevereiro de 2009 a fevereiro de 2010). De modo particular, apresento minha gratidão à Professora Silvia Figueiredo Brandão, responsável por me introduzir no fascinante mundo da investigação científica e por me ser sempre solícita. Destino, também, o meu muito obrigado aos Professores Afranio Gonçalves Barbosa (quem me concedeu diversas orientações e conselhos ao longo do Curso de

8 7 Mestrado), a Maria da Conceição Auxiliadora de Paiva, e Christina Abreu Gomes, pela prontidão no aceite em integrar a banca examinadora de meu trabalho. Aos Professores Antônio Carlos Secchin, Mônica Figueiredo e Luci Ruas, dedico meus agradecimentos em virtude da ajuda que me facultaram para a constituição dos corpora literários que servem à presente pesquisa. Agradeço, ainda, a todos os professores que passaram por minha vida, apresentando a mim palavras de amizade, incentivo e motivação. Expresso, agora, todo meu carinho aos meus amigos e colegas principalmente a Maria de Fátima Vieira, Adriana Lopes, Cristina Márcia, Giselle Esteves, Carla Nunes e Rodrigo Ribeiro, pelo companheirismo na jornada acadêmica. A todos aqueles que passaram pela minha vida, cujos nomes foram mencionados ou omitidos, expresso minha gratidão sincera.

9 8 Especiais agradecimentos Julgo mais do que oportuno sublinhar o quanto sou grata a minha orientadora, Silvia Rodrigues Vieira, a quem chamo de amiga, por todas as orientações valiosas (desde a época de Iniciação Científica) que extrapolaram o âmbito acadêmico e se revelaram como verdadeiros conselhos de vida. Agradeço-lhe por todas as palavras, carinho, generosidade, paciência e compreensão. Que meus agradecimentos sejam acolhidos por aquela que acredita em mim e que, de modo direto, me auxiliou (e certamente me auxiliará em vários outros estudos) a concretizar este trabalho que, antes, era somente um projeto.

10 9 Ad majorem Dei gloriam.

11 10 Parte desta investigação foi fomentada pelo apoio financeiro do CNPq (agosto de 2008 a janeiro de 2009) bem como pelo Programa Bolsa Nota 10 FAPERJ (fevereiro de 2009 a fevereiro de 2010).

12 11 SINOPSE Investigação da ordem dos clíticos pronominais em domínios de lexias verbais simples e complexas coletadas de romances representativos do Português do Brasil e do Português Europeu dos séculos XIX e XX. Estudo da variação e mudança relacionadas ao segundo parâmetro de cliticização proposto por Klavans (1985), à luz dos fundamentos teórico-metodológicos da Sociolingüística Laboviana.

13 12 RESUMO ANÁLISE DIACRÔNICA DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS VARIEDADES BRASILEIRA E EUROPÉIA DO PORTUGUÊS LITERÁRIO: UM ESTUDO SEGUNDO O CONJUGADO VARIAÇÃO-MUDANÇA & CLITICIZAÇÃO Daniely Cassimiro de Oliveira Santos Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). O trabalho dissertativo presente concorre por investigar o fenômeno variável da ordenação dos clíticos pronominais nas variedades brasileira e européia do Português atestado no percurso diacrônico dos séculos XIX e XX, a partir de corpora criteriosamente constituídos de romances compostos por escritores representativos da Literatura de aquém e além-mar. Promove-se, pois, o exame da colocação discriminando-se contextos de lexias verbais simples em face dos fatores (i) próclise (aqui se investiga), (ii) mesóclise (investigar-se-á) e (iii) ênclise (investiga-se), bem como de complexos verbais segundo as posições (i) pré-lvc (aqui se pode investigar), (ii) intra-lvc com hífen (pode-se investigar), (iii) intra-lvc sem hífen (pode se investigar) e (iv) pós-lvc (pode investigar-se). De natureza variacionista, o estudo ampara-se nos princípios preconizados pela Sociolingüística Laboviana (cf. WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968, por ex.) e nos pressupostos de cliticização avalizados por Klavans (1985), no que respeita, especificamente, ao Parâmetro 2, de caráter morfossintático. A propósito do tratamento estatístico dos dados, adota-se o instrumental Goldvarb X, o qual concede, dentre outras informações, os índices absolutos, percentuais e relativos de cada fator controlado, além de sinalizar os grupos relevantes no condicionamento do fenômeno. Os resultados permitem vislumbrar, além de algumas semelhanças, diferenças que sugerem conceber PB e PE como normas distintas de aplicação do evento variável. Pelos esclarecimentos prestados, este trabalho empreende uma apresentação consistente da colocação dos clíticos pronominais no domínio literário do Português, concedendo novos subsídios ao conhecimento do fenômeno de colocação, cujo estudo a gramática contemporânea pede seja pormenorizado. Palavras-chave: Sociolingüística, cliticização, morfossintaxe, ordem dos pronomes. Rio de Janeiro Fevereiro de 2010

14 13 ABSTRACT DIACRONIC ANALYSIS OF PRONOMINAL COLLOCATION IN THE BRAZILIAN AND EUROPEAN VARIETIES OF LITERARY PORTUGUESE: A STUDY ACCORDING TO SUBJECT VARIATION-CHANGE AND CLITICIZATION Daniely Cassimiro de Oliveira Santos Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). This dissertative work concerns about the phenomenon of pronominal collocation in Brazilian and European varieties of Portuguese, attested in the diacronic route of the 19th and 20th centuries, using corpora composed by novel written by representative authors of both Brazilian and Portuguese Literature. Examination of clitic order in simple verbal context according to proclitic, mesoclitic and enclitic positions and in complex verbal structures through the variants: clitic before verbal complex structure, clitic inside verbal complex stucture and clitic after verbal complex structure is performed. This study, conceived as a variacionist approach, is based on the principles of Labovian Sociolinguistics (WEINREICH, LABOV and HERZOG, 1968, for example) and on the postulates of cliticization proposed by Klavans (1985), considering, especially, the morphosyntactic Parameter 2. Goldvarb X instrumental is adopted in order to perform statistic treatment of data, that provides several pieces of information like these ones: absolute numbers, percentages and relative values concerning controlled factors, showing, besides other aspects, relevant restrictions for the variable phenomenum. The results show, besides some similarities, differences that suggest that Brazilian and European Portuguese apply distinct norms of pronominal collocation. It is convenient to emphasize that this analysis undertakes a consistent study of pronominal order in Literary Portuguese, providing new information about the phenomenon whose study modern grammar requests to be revised. Key words: Sociolinguistics, cliticization, Morphosyntax, pronominal order. Rio de Janeiro Fevereiro de 2010

15 14 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO Justificativas e problemas Objetivos Gerais Específicos Hipóteses da investigação As partes integrantes de um todo REVISÃO DA LITERATURA CONCERNENTE AO TEMA DA COLOCAÇÃO A ordenação dos clíticos pronominais consoante o panorama tradicional A ordenação dos clíticos pronominais consoante o panorama não-tradicional A ordem mediante dois compêndios gramaticais descritivos A ordem mediante diversas investigações científicas FUNDAMENTOS TEÓRICOS As diretrizes do tratamento da cliticização O aporte sociolingüístico PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS As etapas percorridas para o desenvolvimento da análise variacionista Descrição dos corpora Delimitação da variável dependente Os fatores da variável dependente em contexto de Lexias Verbais Simples Os fatores da variável dependente em contexto de Lexias Verbais Complexas A concepção de Lexias Verbais Complexas pelo confronto entre algumas perspectivas Descrição das variáveis independentes: as pressões sociais e estruturais motivadoras do fenômeno em variância Grupos de fatores de natureza extralingüística Grupos de fatores de natureza lingüística Medidas concernentes ao tratamento quantitativo efetuado EXPOSIÇÃO ANALÍTICA DOS DADOS: OS RESULTADOS ALCANÇADOS MEDIANTE EXAME DOS CORPORA A ordem em ambientes de Lexias Verbais Simples: a realidade dos corpora A colocação pronominal em domínio de Lexias Verbais Simples

16 Grupos de fatores relevantes no condicionamento da próclise em LVS, no âmbito do PB e do PE dos séculos XIX e XX Variável de cunho extralingüístico Variáveis de cunho lingüístico A ordem em ambientes de Lexias Verbais Complexas: a realidade dos corpora A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal no gerúndio A ordem pronominal em LVC com gerúndio a partir de variáveis extralingüísticas A ordem pronominal em LVC com gerúndio a partir de variáveis lingüísticas A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal no particípio A ordem pronominal em LVC com particípio a partir de variáveis extralingüísticas A ordem pronominal em LVC com particípio a partir de variáveis lingüísticas A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal no infinitivo A ordem pronominal em LVC com infinitivo a partir de variáveis extralingüísticas A ordem pronominal em LVC com infinitivo a partir de variáveis lingüísticas O fenômeno da interpolação SISTEMATIZAÇÃO DOS RESULTADOS E REFLEXÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS

17 16 ÍNDICE DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS QUADROS Quadro 1: Apresentação dos autores com suas respectivas obras contempladas nos corpora brasileiro e europeu dos séculos XIX e XX Quadro 2: Distribuição geral do número de dados colhidos nas variedades brasileira e européia do Português dos séculos XIX e XX pelos contextos sob análise Quadro 3: Sistematização dos critérios de auxiliaridade propostas por Barroso (1994) apud Vieira (2002: 243) Quadro 4: Continuum de auxiliaridade proposto por Machado Vieira (2004) Quadro 5: Variáveis selecionadas quanto ao evento da ordem em LVS no PB e no PE dos séculos XIX e XX TABELAS Tabela 1: Distribuição geral das variantes no PB dos séculos XIX e XX, em todos os contextos de LVS Tabela 2: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX Tabela 3: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e nãocanônicos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX Tabela 4: Distribuição geral das variantes no PE dos séculos XIX e XX, em todos os contextos de LVS Tabela 5: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX Tabela 6: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e nãocanônicos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX Tabela 7: Distribuição do número total de dados no âmbito das LVS, no PB e no PE dos séculos XIX e XX, em todos os contextos Tabela 8: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX Tabela 9: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e nãocanônicos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX Tabela 10: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX Tabela 11: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e nãocanônicos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX Tabela 12: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, segundo o grupo de fatores época/fase de publicação das obras adotadas, em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 13: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, segundo os fatores amalgamados da variável presença de um possível elemento proclisador: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 14: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, segundo os fatores amalgamados da variável tipo de clítico pronominal: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 15: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, segundo fatores amalgamados da variável tempo e modo das formas verbais: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples

18 17 Tabela 16: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, segundo o grupo de fatores tonicidade dos itens verbais: PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 17: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, segundo fatores amalgamados da variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 18: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com gerúndio, referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX Tabela 19: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de estrutura (semi-)auxiliar + gerúndio no PB e no PE dos séculos XIX e XX Tabela 20: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com gerúndio Tabela 21: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com gerúndio Tabela 22: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença/ausência de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com gerúndio Tabela 23: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo dos verbos (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com gerúndio Tabela 24: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com particípio, referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX Tabela 25: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de haver + particípio e ter + particípio no PB e no PE dos séculos XIX e XX Tabela 26: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com particípio Tabela 27: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com particípio Tabela 28: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença/ausência de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com particípio Tabela 29: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo das formas auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com particípio Tabela 30: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX Tabela 31: Distribuição geral das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX Tabela 32: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX Tabela 33: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX Tabela 34: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX Tabela 35: Distribuição percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores fase/época dos romances eleitos em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo

19 18 Tabela 36: Distribuição percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores séculos investigados em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo Tabela 37: Produtividade percentual e absoluta das variantes amalgamadas em face do grupo de fatores vozes do romance no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo Tabela 38: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores autores contemplados em referência ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo... Tabela 39: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores autores contemplados em referência ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo Tabela 40: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores gênero/sexo dos autores contemplados em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo Tabela 41: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença / ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito dos complexos verbais com infinitivo Tabela 42: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável natureza da oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo Tabela 43: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável presença de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com infinitivo Tabela 44: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída de clítico e complexo verbal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo Tabela 45: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável tempo e modo das formas (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo Tabela 46: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável tipo de clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo Tabela 47: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face dos fatores amalgamados da variável tipo de lexia verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito dos complexos verbais com infinitivo ANEXOS Anexo 3 Tabela 48: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de fatores vozes do romance no que concerne ao PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples... Tabela 49: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de fatores autores contemplados no que concerne ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 50: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de fatores autores contemplados no que concerne ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 51: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de fatores gênero/sexo dos autores contemplados no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples

20 19 Tabela 52: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de fatores séculos investigados no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 53: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de fatores distância entre possível elemento proclisador e segmento constituído por clítico e item verbal no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 54: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de fatores natureza da oração no que concerne ao PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 55: Produtividade percentual e absoluta das variantes proclítica e enclítica em face do grupo de fatores tonicidade dos itens verbais no que concerne ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Anexo 4 Tabela 56: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, segundo a variável presença de possível elemento proclisador: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 57: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, segundo a variável tipo de clítico pronominal: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 58: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, segundo a variável tempo e modo das formas verbais: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Tabela 59: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, segundo a variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Anexo 5 Tabela 60: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo Tabela 61: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de presença de possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo Tabela 62: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores distância entre um possível elemento proclisador e complexo verbal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo Tabela 63: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo dos verbos (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo Tabela 64: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo Tabela 65: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de lexia verbal complexa em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito dos complexos verbais com infinitivo FIGURAS Figura 1: A variante proclítica mediante verbos em posição inicial, com base no gráfico extraído de Martins (2009: 181) Figura 2: Distribuição dos índices de próclise em contexto de início absoluto de oração no PB dos séculos XIX e XX Figura 3: Distribuição dos índices de próclise em contexto de início absoluto de oração no PE dos séculos

21 20 XIX e XX Figura 4: Concretização das variantes em todos os contextos, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Figura 5: Concretização das variantes em todos os contextos, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX Figura 6: Concretização das variantes em início absoluto, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Figura 7: Concretização das variantes em início absoluto, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX Figura 8: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Figura 9: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX Figura 10: Concretização das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Figura 11: Concretização das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX 133 Figura 12: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Figura 13: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito das lexias verbais simples, pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX Figura 14: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável época/fase de publicação das obras adotadas: PB dos séculos XIX e XX Figura 15: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável época/fase de publicação das obras adotadas: PE dos séculos XIX e XX Figura 16: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável presença de um possível elemento proclisador: PB dos séculos XIX e XX Figura 17: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável presença de um possível elemento proclisador: PE dos séculos XIX e XX Figura 18: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, mediante a variável tipo de clítico pronominal: PB dos séculos XIX e XX Figura 19: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, mediante a variável tipo de clítico pronominal: PE dos séculos XIX e XX Figura 20: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, mediante a variável tempo e modo das formas verbais: PB dos séculos XIX e XX Figura 21: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, mediante a variável tempo e modo das formas verbais: PE dos séculos XIX e XX Figura 22: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, mediante a variável tonicidade dos itens verbais: PB dos séculos XIX e XX Figura 23: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, mediante a variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX Figura 24: Distribuição das variantes em domínio de LVC integrada por gerúndio, no PB dos séculos XIX e XX Figura 25: Distribuição das variantes em domínio de LVC integrada por gerúndio, no PE dos séculos XIX e XX Figura 26: Freqüência percentual das estruturas (semi-)auxiliar + gerúndio no PB e no PE dos séculos XIX

22 21 e XX Figura 27: Distribuição das variantes em domínio de LVC participial, no PB dos séculos XIX e XX Figura 28: Distribuição das variantes em domínio de LVC participial, no PE dos séculos XIX e XX Figura 29: Freqüência percentual das estruturas ter + particípio e haver + particípio no PB e no PE dos séculos XIX e XX Figura 30: Distribuição das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX Figura 31: Distribuição das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX Figura 32: Distribuição das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX Figura 33: Distribuição das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX Figura 34: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX Figura 35: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX Figura 36: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores não-canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX Figura 37: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores não-canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX Figura 38: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX Figura 39: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX Figura 40: Concretização das variantes em todos os contextos pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Figura 41: Concretização das variantes em todos os contextos pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX Figura 42: Concretização das variantes em início absoluto pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Figura 43: Concretização das variantes em início absoluto pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX Figura 44: Concretização das variantes em contextos de proclisadores não-canônicos pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Figura 45: Concretização das variantes em contextos de proclisadores não-canônicos pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX Figura 46: Concretização das variantes em contextos de proclisadores canônicos pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Figura 47: Concretização das variantes em contextos de proclisadores canônicos pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX Figura 48: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Figura 49: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances portugueses dos séculos XIX e XX

23 22 Sintagmas: ABREVIATURA E CONVENÇÕES SAdv Sintagma Adverbial SN Sintagma Nominal SPrep Sintagma Preposicional Categorias/Classes de palavras: Adv. Advérbio V Verbo Cl Clítico Conj. Conjunção Conj. coord. Conjunção coordenativa Loc. Locução Loc. conj. Locução conjuntiva Prep. Preposição Pron. Pronome Pron. indef. Pronome indefinido Tempo verbal: Pres. Presente Pret. Pretérito Perf. Perfeito Imp. Imperfeito Natureza de oração: Or. coord. Oração coordenada Or. sub. Oração subordinada Or. sub. red. Oração subordinada reduzida Variedades do Português: PB Português do Brasil PE Português Europeu Banco de dados NURC Projeto Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta do Rio de Janeiro VARPORT Projeto Análise Contrastiva de Variedades do Português Outras categorias: Pal. Palavra Suj. Sujeito Domínios examinados: LVS Lexia Verbal Simples LVC Lexia Verbal Complexa

24 23 Variantes: Cl-LVC Clítico-lexia verbal complexa Pré- LVC Pré-lexia verbal complexa Intra- LVC Intra-lexia verbal complexa Pós- LVC Pós-lexia verbal complexa ABREVIATURAS ONOMÁSTICAS DOS AUTORES CONTEMPLADOS Autores concernentes ao Português do Brasil Século XIX AAz Aluísio Azevedo BG Bernardo Guimarães JAl José de Alencar JL Júlia Lopes JMM Joaquim Manuel de Macedo MA Machado de Assis MAA Manuel Antônio de Almeida RP Raul Pompéia Século XX AAr Afonso Arinos DSQ Dinah Silveira de Queiroz EC Euclides da Cunha EV Érico Veríssimo GR Guimarães Rosa GrR Graciliano Ramos JAm Jorge Amado JLR José Lins do Rego LB Lima Barreto LFT Lygia Fagundes Telles NP Nélida Piñon RQ Rachel de Queiroz Autores concernentes ao Português Europeu Século XIX AG Almeida Garrett AH Alexandre Herculano ArG Arnaldo Gama CCB Camilo Castelo Branco EQ Eça de Queiroz FA Fialho de Almeida JD Júlio Dinis TC Trindade Coelho Século XX AAb Augusto Abelaira AB Abel Botelho

25 ABL Augustina Bessa Luís AlR Alves Redol AqR Aquilino Ribeiro CM Campos Monteiro FN Fernando Namora JCP José Cardoso Pires JS José Saramago RB Raul Brandão VF Vergílio Ferreira VN Vitorino Nemésio 24

26 25 1. INTRODUÇÃO É objetivo do trabalho dissertativo, que ora se apresenta, investigar, à luz de critérios científicos, o fenômeno da colocação dos átonos pronominais nas variedades brasileira (PB) e européia (PE) do Português Literário averiguado no decurso dos séculos XIX e XX. Pretende-se, a partir do cotejo de textos concernentes à literatura de aquém e além-mar, estabelecer as regras que efetivamente presidem o evento da ordem em contextos com lexias verbais simples 1 isto é, manifestação do clítico mediante uma única forma verbal e com complexos verbais 2 comportamento do pronome átono em face de uma estrutura perifrástica. Quanto à fundamentação teórico-metodológica, o presente exame, de caráter variacionista, concebe-se sob a égide dos postulados da Sociolingüística Laboviana (cf. WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1972, 1994, por ex.), ancorandose, também, nos preceitos estabelecidos por Klavans (1985), no que tange aos parâmetros de cliticização, dentre os quais se discrimina, principalmente, o Parâmetro 2, de caráter morfossintático. A conjugação dessas orientações investigativas favorece a adequação descritiva e explicativa que se pretende alcançar no desenvolvimento da pesquisa. Com base nas discrepâncias existentes entre o PB e o PE e na forma como as gramáticas brasileiras abordam o tema da colocação pronominal, tendo supostamente como paradigma a realização lusitana, a pesquisa visa a contribuir, a partir de descrições e análises criteriosas, por apresentar a efetiva identidade lingüística do padrão culto escrito literário característico das normas brasileira e européia do idioma. Para que esta investigação assuma um caráter empírico, recorre-se a corpora criteriosamente constituídos de romances produzidos na diacronia dos séculos XIX e XX por autores representativos da Literatura de ambas as variedades. 1.1 Justificativas e problemas 1 A respeito das lexias verbais simples, tomem-se os seguintes exemplos: (i) Aqui se promove o estudo da ordem. [posição pré-verbal / próclise], (ii) Promover-se-á o estudo da ordem. [posição intraverbal / mesóclise], (iii) Promove-se o estudo da ordem. [posição pós-verbal / ênclise]. 2 No que tange aos complexos verbais construções constituídas de mais de uma forma verbal, sendo a última uma forma não-finita, com algum grau de integração sintático-semântica, eis as ilustrações: (i) Sempre se deve promover o estudo da ordem pronominal. [Colocação pré-lvc], (ii) Deve-se promover o estudo da ordem pronominal. [Colocação intra-lvc com hífen], (iii) Deve se promover o estudo da ordem pronominal. [Colocação intra-lvc sem hífen], (iv) Deve promover-se o estudo da ordem pronominal. [Colocação pós-lvc].

27 26 A pesquisa pleiteia respostas e a atestagem de hipóteses acerca do fenômeno de cliticização de modo a acrescentar informações atualizadas ao conhecimento sobre o evento da ordem, que se julga ainda insuficiente para traçar o que se concebe como norma(s) de uso do PB e do PE. Assim, observem-se as palavras de Perini (2001: 230) a respeito da variedade brasileira: A análise [do evento de colocação elucidada nos compêndios gramaticais brasileiros] cobre uma forma muito conservadora da língua [...]. É necessário atualizá-la, mas isso deverá ser precedido de um levantamento do uso dos clíticos no padrão brasileiro moderno [...]. De fato, os manuais gramaticais utilizados no Brasil carecem de descrições precisas e consistentes a propósito da colocação, fator que motiva e justifica a relevância da presente investigação. Ademais, os referidos compêndios prescrevem um ideal de língua inspirado nos parâmetros literários e lusitanos em detrimento da realidade lingüística praticada no Brasil, o que se denuncia em Bechara (2003: 591): Há certas tendências brasileiras que nem sempre a Gramática agasalha como dignas de imitação, presa que está a um critério de autoridade que a lingüística moderna pede seja revisto. A respeito da língua preconizada nos compêndios gramaticais, registrem-se, ainda, as ponderações de Rocha Lima (2005: 7), na seqüência, apresentadas: Fundamentam-se as regras da gramática normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou. Corrobore-se, pois, que as gramáticas e, aqui em especial, os compêndios brasileiros, se inspiram nas regras do bem escrever dos escritores mais ilustres da língua. Ocorre que, como bem se avalia na citação, as regras prescritas nos manuais normativos advêm de uma língua idealizada e estilizada, própria de um domínio artístico, como é o da Literatura. Justifique-se, pois, a relevância deste estudo, haja vista que, aqui, se pretende tratar do evento da ordem no âmbito literário, pouco explorado dentre os trabalhos desenvolvidos acerca da colocação (dentre eles, destaque-se o de Schei, 2003), no que concerne às lexias verbais simples e, mais especificamente, aos complexos verbais. A propósito dessas últimas construções, pontuem-se as palavras de Pagotto (1992: 30), agora transcritas: Os trabalhos que lidam com a questão da posição dos clíticos normalmente negligenciam os casos em que eles aparecem em construções com dois verbos. É oportuno considerar que, embora o autor tenha realizado tal consideração em

28 , se advoga que, até ao que se conhece, a comunidade lingüística, mesmo com avanços científicos testemunhados ao longo do tempo, ainda carece de análises que se somem às já feitas que abordam o tema a partir da observação do uso dos clíticos em construções verbais complexas. Com base nas justificativas apresentadas até aqui, arrolam-se, a seguir, os principais problemas relacionados ao assunto deste estudo, que, uma vez respondidos, atendem a alguns dos objetivos propostos: (i) Qual é o padrão que efetivamente constitui a norma vigente da ordem dos clíticos pronominais nas variedades brasileira e européia do Português Literário, no que tange aos domínios de lexias verbais simples e complexas? (ii) Qual é a variante da ordem dos clíticos pronominais mais produtiva em cada fase investigada de ambas as variedades? (iii) Dentre as variáveis lingüísticas, quais se constituem relevantes à ocorrência do fenômeno? Em que medida o contexto morfossintático opera na colocação dos clíticos nos domínios de lexias verbais simples e de complexos verbais? (iv) No que concerne às variáveis de cunho extralingüístico, quais se apresentam significativas ao condicionamento da ordem? As respostas aos questionamentos acima servirão para que se tracem reflexões a respeito de três grandes questões científicas usualmente relacionadas ao tema da ordem dos clíticos pronominais: (1) a norma de uso atestada nos dados literários condiz com a norma idealizada em manuais prescritivos?; (2) os resultados indiciam normas diferenciadas no PB e no PE?; e (3) no que se refere ao percurso diacrônico, os registros de colocação sugerem situação de mudança no PB e /ou no PE? Espera-se que, em alguma medida, os resultados do presente trabalho contribuam com o debate dessas questões. 1.2 Objetivos Conhecidas as justificativas e os problemas a serem abordados no estudo da ordem, propõem-se os seguintes objetivos para o tratamento do tema: Gerais

29 28 (i) Concorrer para o maior conhecimento acerca do fenômeno de cliticização nas duas variedades contempladas. (ii) Contribuir por descrever a identidade lingüística do PB e do PE, no que tange ao evento da colocação dos pronomes Específicos (i) Atestar a norma de ordenação dos clíticos pronominais no PB e no PE, elegendo-se, para tanto, testemunhos literários produzidos por autores representativos da Literatura de ambas as variedades. (ii) Identificar as variáveis lingüísticas e extralingüísticas relevantes ao fenômeno da cliticização pronominal em ambientes de lexias verbais simples e complexas. (iii) Averiguar o estatuto da ordem mediante a transição das fases de publicação dos romances adotados na diacronia dos séculos XIX e XX. 1.3 Hipóteses da investigação No que concerne às hipóteses gerais que nortearam a execução do presente trabalho, tomem-se os seguintes itens: (i) Postula-se que, no que toca ao fenômeno da ordem, PB e PE apresentariam freqüência distribucional das variantes de modo semelhante no âmbito das lexias verbais simples. A propósito dos domínios de complexos verbais, a variedade brasileira tenderia a denotar maiores índices de manifestação da ordem intra- LVC sem hífen em oposição aos verificados na escrita literária européia. (ii) No que tange às variáveis de cunho lingüístico condicionadoras da ordem em ambas as variedades, acredita-se que os grupos de fatores possível elemento proclisador e tipo de clítico pronominal seriam decisivos à ordenação dos pronomes átonos de modo geral. (iii) Acerca das variáveis extralingüísticas, o grupo de fatores época/fase de publicação das obras adotadas constituiria ponto crucial para a compreensão da ordem em termos diacrônicos. Informa-se que, consoante o desenvolvimento do trabalho, serão apresentadas hipóteses específicas para as demais questões aludidas nesta introdução e para cada contexto e grupo de fatores controlados na pesquisa. Para maiores esclarecimentos a propósito da configuração estrutural pela qual a presente dissertação se delineia, considere-se a subseção agora introduzida.

30 As partes integrantes de um todo Constate-se que este trabalho se constitui, além deste segmento introdutório, de mais cinco capítulos, os quais, neste momento, passam a ser apresentados. No capítulo 2, promove-se a apresentação panorâmica de parte dos estudos que tratam do tema da colocação pronominal na Língua Portuguesa, especialmente em suas variedades brasileira e européia, discriminando-se aqueles cujo domínio temporal examinado coincide, em alguma medida, com as fases aqui contempladas. Lança-se mão, ainda, de alguns compêndios gramaticais de cunho tradicional e não-tradicional relevantes para a compreensão do tema proposto, empreendendo, em seguida, a descrição dos principais resultados obtidos nos diversos trabalhos resenhados. No que respeita ao capítulo 3, expõem-se os fundamentos teóricos nos quais esta análise se ancora acerca dos princípios preconizados pela Sociolingüística de orientação Laboviana bem como sobre os pressupostos da cliticização, destacando-se, principalmente, o Parâmetro 2, de natureza morfossintática, proposto por Klavans (1985). A propósito das diretrizes metodológicas, elucidam-se, no quarto capítulo, os pontos cruciais pelos quais se delineia esta investigação, prestando esclarecimentos acerca das etapas cumpridas para o desenvolvimento da análise, no que toca, especificamente, à constituição dos corpora investigados, ao tratamento estatístico dos dados codificados em face das variáveis de caráter lingüístico e extralingüístico, assim como às diversas opções metodológicas adotadas. O quinto dos capítulos promove a apresentação dos resultados alcançados neste exame variacionista, discriminando-se, separadamente, as constatações evidenciadas acerca da ordem em domínios de lexias verbais simples e complexas, e considerando-se, ainda, o fenômeno de interpolação. O sexto capítulo, de caráter sistemático e conclusivo, empreende a exposição sumarizada dos resultados quanto à colocação no Português Literário, nos contextos de lexias verbais simples e de lexias verbais complexas, seguida de breves reflexões acerca das contribuições desta pesquisa às questões lingüísticas gerais concernentes ao tratamento do Português do Brasil e do Português Europeu, já mencionadas nesta introdução.

31 30 Procede-se, ao fim do trabalho, à apresentação das referências bibliográficas que nortearam as considerações efetuadas. Destaque-se, na seqüência, um segmento de anexos no qual se introduzem informações paralelas, julgando-se relevante concedê-las. Por todas as considerações proporcionadas, saliente-se, em linhas gerais, que a investigação presente, ao buscar desenvolver uma análise consistente acerca da colocação dos clíticos pronominais nas variedades brasileira e européia do Português Literário, testemunhado no decurso dos séculos XIX e XX, acrescenta novas informações ao conhecimento de que se dispõe acerca do fenômeno. Espera-se que as ponderações aqui estabelecidas suscitem novos debates que encorajem o sempre saudável prosseguimento e aprofundamento das pesquisas científicas no âmbito dos estudos que tomam a língua como seu objeto primordial.

32 31 2. REVISÃO DA LITERATURA CONCERNENTE AO TEMA DA COLOCAÇÃO Cumpre-se, aqui, o objetivo de apresentar os principais trabalhos 3 que tratam do tema da ordem pronominal, os quais, de modo indubitável, suscitam diversos debates no panorama descritivo e prescritivo. Destaque-se que diversos estudos de cunho teórico-descritivo, especialmente os de orientação formalista, se interessam pelo fenômeno de colocação, uma vez que a ordem dos pronomes átonos vem sendo concebida como parâmetro essencial para a identificação de características que permitem delinear gramáticas consideradas opções estruturais prototípicas e adquiridas nos primeiros anos de aprendizagem das línguas ou variedades lingüísticas existentes. Sublinhem-se, assim, dentre as diversas pesquisas que concedem possíveis explicações sintáticas para o estabelecimento dos parâmetros de ordenação do clítico, embora não necessariamente estabeleçam descrições a partir do exame de dados, as investigações de Duarte (1983), Galves (1993), Duarte & Matos (1994), Duarte et alii (2001), dentre outras. No âmbito fonológico, as propostas de Carvalho (1989), Nunes (1996), Galves & Abaurre (1996), Frota & Vigário (1999), por exemplo, objetivam relacionar a colocação ao condicionamento rítmico e acentual. 4 Aos estudos supracitados, acrescentem-se as investigações que se valem de corpus representativo para análise empírica da ordem segundo a perspectiva sincrônica e diacrônica do fenômeno no Português do Brasil e no Português Europeu, dentre as quais se verificam aquelas que se ocupam ora de ambas as variedades, ora exclusivamente de uma delas. No âmbito do Português Europeu, arrolam-se, por exemplo, as análises de Lobo (1991) 5, Martins (1994), Ribeiro (1995) e Magro (2004). A propósito do Português do Brasil 6, ressaltem-se, dentre vários trabalhos, as contribuições de Pereira (1981), 3 Convém registrar que o capítulo presente contempla parte dos trabalhos que possuem como objeto central de debate a ordenação dos clíticos pronominais, não estabelecendo um levantamento exaustivo dos estudos que integram a vasta literatura acerca da questão. Priorizaram-se aqueles que buscam apresentar normas subjetivas ou objetivas acerca do fenômeno, bem como aqueles que se ocuparam do percurso diacrônico com base no tratamento empírico de dados. 4 Para maior conhecimento do teor dos trabalhos citados, sugere-se consultar, além das próprias obras em questão, a tese de doutorado de Vieira (2002). 5 Certifique-se de que Lobo (1991) estabelece um estudo sincrônico a partir de textos do século XV, cotejando seus resultados com dados das variedades européia e brasileira obtidos em outras investigações. 6 Grande parte das investigações arroladas no domínio do Português do Brasil ocupa-se, também, de outras variedades, como Vieira (2002), que efetua o exame não somente contemplando o Português do Brasil e o Português Europeu, como também a variedade moçambicana da língua.

33 32 Pagotto (1992), Lobo (1991), Monteiro (1994), Vieira (2002), Schei (2003), Machado Morito (2007), Martins (2009) e Nunes (2009). Mediante o panorama geral das obras ora apresentado, promove-se, doravante, a apresentação sintética dos estudos selecionados, contemplando-se, ainda, as considerações tecidas sobre a ordem em determinados compêndios gramaticais. 2.1 A ordenação dos clíticos pronominais consoante o panorama tradicional A fim de ilustrar parte das constatações dignas de nota acerca do evento da ordem no âmbito do tratamento tradicional, promove-se, na seqüência, a apresentação de algumas ponderações que se julgam relevantes. No que se refere a dois estudos do início do século XX a respeito do estabelecimento de uma norma brasileira e de uma norma européia acerca da colocação pronominal, considerem-se, por exemplo, os trabalhos de Figueiredo (1917 [1909]) e de Said Ali (1966 [1908]), apresentados de modo sintético. O europeu Cândido de Figueiredo, em O problema da colocação de pronomes, datado de 1909, apesar do extremo conservadorismo purista em considerar que algumas estruturas observadas no Português do Brasil não poderiam ser avalizadas como portuguesas, salienta que, segundo a intenção e a entoação de quem fala, a ordenação dos elementos de uma frase ou de um período pode sofrer variação. No que concerne ao estudioso brasileiro Said Ali, em Dificuldades da língua portuguesa, de 1908, o autor tece importantes considerações sobre o que seria a norma de colocação dos pronomes átonos nas variedades brasileira e européia do Português, dentre as quais se destacam as de caráter fonético no que se refere, especificamente, ao conceito de atração. O teórico postula que qualquer vocábulo pode exercer influência na atração fonética do pronome átono desde que anteposto ao verbo, destituído de entonação e pausa. Acerca da tonicidade das palavras, salienta a tendência do Português em evitar criação de segmentos proparoxítonos. Conforme se constata pelos estudos supracitados, perceba-se que, apesar de trabalhos do início do século XX salientarem que as regras de colocação brasileira se revelam divergentes das portuguesas, os compêndios gramaticais prescritivos atuais determinam regras que se aplicariam, igualmente, tanto à variedade brasileira quanto à variedade européia do idioma. Isso dito, ressalte-se que tais gramáticas, embora reconheçam disparidades entre PB e PE quanto ao fenômeno da ordem, recomendam,

34 33 por exemplo, a colocação enclítica como regra geral, considerando, de modo especial, o que se idealiza para a escrita literária (cf. Cunha & Cintra, 2001: 300). No que tange aos contextos em que a variante pré-verbal se faz obrigatória devido à atração exercida por alguns itens, discriminem-se os seguintes domínios arrolados pela tradição gramatical, em contextos com formas verbais finitas: (i) Sentenças negativas (Nunca se viu tal atitude 7 ); (ii) Orações exclamativas (Quanto sangue se derramou inutilmente!); (iii) Orações interrogativas (Quem o obrigou a sair?); (iv) Orações subordinadas (Espero que me atendas sem demora); (v) Construções com alguns elementos adverbiais [já, aqui, bem, entre outros] (Aqui se aprende a defender a pátria); (vi) Pronomes indefinidos e numeral ambos (Tudo se fez como você sugeriu; Todos os barcos se perdem, entre o passado e o futuro). Considere-se que a pausa identificada nos manuais pela vírgula entre um elemento atrator e o verbo é sinalizada como fator que tende a favorecer a ênclise, mesmo estando o pronome antecedido por um item proclisador. Ademais, propõe-se a ênclise como regra geral com formas verbais no infinitivo e no gerúndio. Entretanto, no que respeita ao infinitivo, admite-se, ainda, a possibilidade de colocação proclítica ou enclítica uma vez que o verbo se encontre antecedido de preposição ou de vocábulo negativo. Sugere-se a ênclise como opção preferencial quando o elemento verbal no infinitivo se exibe regido de preposição a associado ao pronome o/a (Se soubesse, não continuaria a lê-lo). Recomenda-se a próclise obrigatória nos casos em que o gerúndio se encontra precedido pela preposição em (Em se tratando de minorar o sofrimento alheio, podemos contar com a sua colaboração.), bem como por advérbios responsáveis por modificar o pronome sem pausa entre si (Não nos provando essa grave denúncia, a testemunha será processada.). No que tange ao evento da ordem em locuções verbais, grosso modo, os manuais prescritivos admitem três possibilidades, quais sejam: (i) ênclise ao verbo auxiliar (O presidente quer lhe falar ainda hoje.), (ii) próclise ao verbo auxiliar (O presidente lhe quer falar ainda hoje.) e (iii) ênclise ao verbo principal (O presidente quer falar-lhe ainda hoje.) sendo esta última possibilidade não aplicada às estruturas participiais. 7 As ilustrações indicadas correspondem, por vezes, a adaptações dos exemplos observados nos manuais analisados.

35 34 Ressalte-se que as gramáticas, como em uma espécie de reconhecimento das particularidades da norma brasileira, admitem que é sintaxe brasileira a interposição do pronome átono nas locuções verbais, sem se ligar por hífen ao auxiliar (ROCHA LIMA, 2005: 455). Pontue-se, ainda, que alguns manuais, em referência às locuções como vem verme, sinalizam que o Português do Brasil possui por opção a ligação do pronome ao verbo que o rege. Uma vez contempladas as principais prescrições concernentes ao fenômeno de ordenação dos clíticos pronominais, ponderem-se, na seqüência, algumas das propostas apresentadas em manuais que assumem realizar uma abordagem gramatical descritiva. 2.2 A ordenação dos clíticos pronominais consoante o panorama não-tradicional Pontuem-se, aqui, os vários estudos que desenvolvem o exame da ordenação dos átonos pronominais, sem o compromisso prescritivo adotado pela abordagem tradicional A ordem mediante dois compêndios gramaticais descritivos Promove-se, nesta subseção, uma apreciação sintética das propostas apresentadas pelas gramáticas de Perini (2001 [1995]) e de Mateus et alii (2003), no propósito de se contemplar o evento da ordem segundo uma abordagem diferenciada. Perini (2001), em Gramática descritiva do português, intenta conceder a professores e alunos um material atualizado que descreva a norma culta verificável na escrita jornalística e acadêmica e não apresente três principais problemas averiguados nas gramáticas tradicionais: falta de coerência teórica, falta de adequação à realidade da língua e normativismo sem controle. Considerando, especificamente, o fenômeno de colocação dos clíticos pronominais, o estudioso pontua que os princípios atuantes no evento são simples e que o verdadeiro problema se deposita nas incertezas de julgamento a propósito da posição dos pronomes em determinados casos. Salienta que tais incertezas decorrem da diferença significativa entre as variedades brasileira e européia. Para o teórico, a variante enclítica não seria observada com grande freqüência no Português do Brasil, sobretudo na modalidade falada, tendência tal que, possivelmente,

36 35 teria já deixado profundas marcas no padrão escrito. Sugere a simplificação das regras apresentadas pelos manuais normativos em favor da proposta de que, no PB, os clíticos se colocariam sempre antepostos ao núcleo do predicado. Ao ressaltar a próclise e a ênclise como duas posições dos pronomes clíticos, Perini (2001) estabelece as restrições que, segundo ele, cobririam a maior parte dos casos de colocação do padrão culto escrito, a saber: Restrição à próclise: É mal formada toda oração que contenha proclítico no início de estrutura oracional não-subordinada ou logo após elemento topicalizado. Restrição à ênclise: É mal formada toda oração que contenha enclítico quando: o elemento verbal (Aux ou NdP) é gerúndio, precedido de em; ou o Aux/NdP é particípio; ou a oração se inicie com item marcado [+Atração]. Em todos os outros casos, usa-se próclise ou ênclise, indiferentemente. (PERINI, 2001: ) O autor pontua que, no que se refere aos compêndios gramaticais, apesar da indicação recorrente de alguns vocábulos (relativos; interrogativos; os elementos não, nunca, só, até, mesmo, também, tudo, nada, alguém, ninguém; o complementizador que), não existe, quanto aos elementos que atuariam de modo efetivo como atratores, grande consenso. Salienta, ainda, que, em contextos nos quais não se verificam fatores de próclise tradicionais, se pode optar, de certa forma, pelas variantes proclítica ou enclítica. A propósito da colocação dos pronomes em estruturas verbais complexas, o autor observa que o átono se posiciona nos limites da mesma oração. Sublinha, no entanto, a hipótese de que (i) construções com o verbo saber admitiriam a posição proclítica ao verbo auxiliar (Ela me sabe agradar) e (ii) estruturas com item auxiliar acompanhado de preposição (Ela se deixou de maquiar) poderiam aceitar a próclise na modalidade escrita do Português do Brasil. No que respeita às considerações feitas por Mateus et alii (2003), certifique-se de que as autoras, ao pontuarem o que seria a norma-padrão verificada no Português Europeu moderno, praticado em Lisboa, apresentam uma descrição que se aproxima das propostas observadas nos compêndios gramaticais brasileiros considerados. Estabelecem que os clíticos pronominais dependem de um hospedeiro verbal forma finita ou não-finita, ao qual se acomodam em adjacência. No que respeita ao contexto de posição inicial absoluta de frase, indicam, como regra geral, que os pronomes átonos europeus se pospõem ao verbo. Tal como considerado pelas autoras (MATEUS et alii, 2003: ), destaquem-se os seguintes contextos nos quais se pode observar a colocação proclítica

37 36 no Português Europeu: operadores de negação e sintagmas negativos, sintagmas-q, complementadores, advérbios de focalização, de referência predicativa, confirmativos, de atitude proposicional e aspectuais, subtipos de quantificadores e conectores de coordenação (correlativas com um elemento de polaridade negativa e correlativas disjuntivas), além de constituintes ligados discursivamente em construções apresentativas (de inversão locativa). A propósito das construções verbais complexas, as autoras destacam os domínios em que se verifica o fenômeno de subida de clítico 8, o qual consiste na selecção de um verbo do qual o pronome clítico não é dependente para hospedeiro verbal (MATEUS et alii, 2003: 857), como na exemplificação: O João não a vai provavelmente convidar. Embora as estudiosas tratem do tema da colocação com maior rigor teórico, o que se reflete na própria terminologia utilizada, verifica-se, em termos descritivos, a proximidade existente entre a descrição da variedade européia proposta e a determinada em compêndios tradicionais brasileiros A ordem mediante diversas investigações científicas Sumarizam-se, nesta subseção, as constatações advindas de estudos apresentados em ordem cronológica de publicação que promovem o exame de dados coletados nos períodos que, de certo modo, sincrônica ou diacronicamente, coincidem com o intervalo de tempo investigado no presente trabalho. De modo a versar sobre o evento da colocação pronominal no âmbito do Português do Brasil, Pereira (1981) vale-se de corpora que contemplam dados das modalidades oral e escrita. Mediante a análise desenvolvida, a autora constata, no que concerne à modalidade oral averiguada segundo dados produzidos por falantes masculinos e femininos de distintas idades e escolaridades naturais dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Alagoas, que o PB não cumpre as recomendações prescritas pela tradição gramatical. Ainda no que tange a tal modalidade, ressalte-se que, consoante as constatações da pesquisadora, peculiaridades como (i) predomínio da variante 8 O termo pressupõe que, na estrutura formal arbórea, o clítico ultrapassa o nó relacionado ao verbo que lhe dá existência e se localiza acima, antes do verbo auxiliar.

38 37 proclítica, (ii) ocorrência de ênclise restrita a determinados clíticos pronominais, (iii) ausência de registros de mesóclise, bem como (iv) apagamento e/ou substituição do átono pronominal por sua forma reta correspondente caracterizam o Português vernacular atestado no Brasil. A propósito do PB escrito, examinado segundo uma amostra constituída de textos jornalísticos modernos assim como de manuscritos dos séculos XVII, XVIII e XIX além de crônicas do século XX, Pereira pontua a existência de variação quanto ao evento da ordem nos manuscritos examinados, variação essa que se estende ao momento contemporâneo contemplado por ela. No que respeita à colocação mesoclítica, afirma a pesquisadora que tal variante se constitui como a única posição a revelar extinção na diacronia considerada. A respeito da ênclise, salienta que a opção pela ordem pós-verbal se manifesta com predomínio nos contextos integrados pelos pronomes se e me, sendo sobrepujada, na maior parte dos ambientes investigados, pela colocação pré-verbal, contrariando, por vezes, os postulados preconizados pela tradição gramatical. Ainda no que toca à posição proclítica, Pereira verifica a potencialidade dos chamados fatores de próclise concebidos no presente trabalho como proclisadores (canônicos e não-canônicos) como decisivos, na maior parte dos casos, para o fenômeno da ordenação pronominal. Pontua, também, que, em textos de registros informais, o evento da ordem se procede mediante a condição de manter ou configurar vocábulos paroxítonos. No que concerne ao peso das variáveis relacionadas aos operadores de próclise e à manutenção ou formação de palavras com pauta acentual paroxítona, postula Pereira que a ordem dos clíticos pronominais apresenta maior eficácia explicativa caso se considere a influência dos fatores de próclise, apesar de a hipótese dos vocábulos paroxítonos ser mais adequada em determinadas situações. Lobo (1991), ao investigar o evento da ordem na variedade culta do Português averiguado nos períodos quinhentista e atual, comparando o PB e o PE contemporâneos, lança mão de amostra constituída de documentos da corte de Dom João III para o exame da colocação no Português quinhentista bem como de corpus que compila quinze inquéritos disponibilizados pelo Projeto NURC. Ancorada no arcabouço teórico-metodológico da Sociolingüística Laboviana, a autora apresenta as prováveis motivações sociolingüísticas para as variantes atestadas.

39 38 A propósito dos grupos de fatores de natureza social, Lobo pontua que as variáveis extralingüísticas controladas não se revelam decisivas para o fenômeno de colocação, postulando que o evento da ordem se faz sensível fundamentalmente aos fatores de cunho estrutural. De suas constatações, destaque-se que o modelo de ordenação pronominal no PB oral culto, em registro formal, é caracterizado pela variação averiguada em quase todos os contextos sintáticos por ela examinados com opção primeira pela ordem proclítica, principalmente em enunciados cujo verbo é antecedido por SN sujeito pronome pessoal e por elementos de negação, ambientes nos quais a variante pré-verbal se manifesta de modo categórico. A respeito dos demais fatores favorecedores da posição proclítica, arrolam-se as orações subordinadas desenvolvidas, SN sujeito nominal bem como sintagmas adverbiais e preposicionais, mormente quando esses não se separam do hospedeiro verbal do clítico por meio de vírgula. Saliente-se, também, que a estudiosa atesta a generalização da variante préverbal em todos os contextos, salvo nos domínios de pronome acusativo de terceira pessoa e de ambiente de infinitivo verbal, em que impera a colocação enclítica. A propósito da posição pós-verbal, favorecem, ainda, a ênclise o domínio de orações subordinadas reduzidas de gerúndio, assim como de sentenças de sujeito semanticamente indeterminado. No que tange às variedades brasileira e européia contemporâneas e à época da publicação, Lobo, em sentenças integradas por verbos finitos, constata que PB e PE elegem, consideravelmente, a colocação pré-verbal em cláusulas subordinadas desenvolvidas. Nas orações principais/absolutas, computam-se registros de clítico em primeira posição de oração no PB, fato não constatado no PE. Estando o verbo precedido por elementos de negação, o pronome manifesta-se evidentemente em próclise nas duas variedades, ocorrendo proclítico, também, em domínios de verbos antecedidos por SN sujeito nominal e pronominal no PB e em posição de ênclise no PE. Em orações coordenadas, a colocação enclítica faz-se marcante no Português Europeu, ao passo que, na variedade brasileira, a variação posicional tende, em primeira instância, para a ordem proclítica. Ao examinar a ordem mediante formas não-finitas, Lobo atesta que, nas cláusulas subordinadas reduzidas de infinitivo, quando não regidas por preposição, a colocação enclítica ocorre soberana, competindo com as outras posições quando se

40 39 observa a presença de elementos preposicionais. A respeito da variedade brasileira, a opção majoritária por próclise independe da presença ou ausência de itens preposicionais nas sentenças reduzidas de infinitivo. Os contextos de sentenças subordinadas reduzidas de gerúndio não introduzidas por preposição revelam-se como favorecedoras da ordem pós-verbal nas duas variedades contempladas. Com fundamentos nos resultados alcançados, Lobo admite que o Português Europeu atual, ainda que se detectem algumas distinções no modelo de colocação pronominal, apresenta um condicionamento sintático semelhante ao verificado no Português quinhentista. No que toca ao Português do Brasil contemporâneo, contabilizam-se ocorrências consideráveis de próclise, fato que evidencia o desaparecimento de certas motivações sintáticas. Mediante acurada análise dos corpora contemplados, defende a pesquisadora, por meio de vários argumentos, que o Português do Brasil revela um quadro de processo de mudança lingüística quanto ao posicionamento dos átonos pronominais. Com o propósito de investigar o trajeto diacrônico dos átonos pronominais no Português atestado no decurso dos anos compreendidos entre os séculos XVI e XX, Pagotto (1992) valendo-se dos preceitos preconizados pela linha investigativa proposta por Tarallo & Kato (1989), que ficou conhecida como Sociolingüística Paramétrica visa a esclarecer o fenômeno da mudança por meio de distinções interlingüísticas verificadas segundo a ordenação dos pronomes átonos em contextos de verbos simples finitos, grupos verbais (identificados, neste trabalho, como lexias verbais complexas) e, ainda, sentenças infinitivas e gerundivas. Ao efetuar o exame da ordem em textos literários e em documentos notariais, todos produzidos no Brasil embora os testemunhos escritos até o século XVIII sejam de portugueses ou de autores cuja nacionalidade é desconhecida, o pesquisador confere ao componente sintático maior prioridade para a análise da ordem que se efetua a partir da observação de 1436 registros de pronomes átonos em diferentes contextos, nos quais se verificam distintos padrões de ordenação pronominal. Os dados de clíticos obtidos distribuem-se por quatro variáveis dependentes, quais sejam: (a) cláusulas constituídas de um único verbo; (b) cláusulas constituídas de grupos verbais; (c) cláusulas integradas por um só verbo antecedido por elemento de negação ou por advérbios configurando um caso de interpolação ; (d) cláusulas integradas por grupos verbais antecedidos por elemento de negação ou por advérbios. Uma vez consideradas

41 40 as especificidades estruturais das sentenças observadas, o autor, por vezes, procede ao tratamento da ordem em frases infinitivas e gerundivas em separado. No que tange aos resultados alcançados, Pagotto (1992), a propósito da colocação em sentenças com formas verbais simples finitas, pontua certa estabilidade quanto à ordem dos pronomes átonos na gramática do PB, no decorrer dos séculos XVI ao XX, salientando maior ocorrência de próclise no Português do Brasil clássico em comparação ao PB atual, mormente a partir do século XIX. Postula o autor que a mudança atestada (operada também no PE) rumo a um padrão enclítico atuou socialmente sobre o PB escrito, motivando os falantes brasileiros a optarem pela ênclise, caráter que contraria as tendências da língua falada. Pondera, ainda, que a próclise, tida como a norma até o século XVIII, passa a ser estigmatizada no Português do Brasil em virtude da mudança ocorrida no PE. Acerca da ordenação dos clíticos em grupos verbais, salienta o pesquisador que a próclise a v1, independentemente do tipo de pronome átono e da presença dos chamados fatores de próclise os quais, ao que parece, contribuíam, apenas, por aumentar a concretização dessa variante, constitui o padrão de ordenação até a primeira metade do século XVIII. Destaca o autor que, na segunda metade do mesmo século, a ordem cl v1 v2 passa a ser sobrepujada pelo padrão v1 cl v2, ocorrendo, assim, a mudança de colocação implementada, principalmente, pelos grupos integrados por verbos no infinitivo acompanhados de pronomes reflexivos. No que se refere à ocorrência de ênclise a v2, o estudo pontua maiores registros de tal posição em domínio de clítico acusativo de terceira pessoa. No que concerne à ordem em contexto de formas verbais simples acompanhadas de elementos de negação e de advérbios, o trabalho de Pagotto sublinha que, no curso dos séculos XVI ao XVIII, o fenômeno de interpolação, isto é, a freqüência de cl-neg v, é mais evidente do que a variante NEG cl-v, apresentando esta, após o período referido, índice de ocorrência quase categórico. Em referência aos advérbios, a análise evidencia que o padrão ADV cl-v é a opção primeira em todo o período. Tendo em vista que o não interpolado ocorre quase unanimemente no século XVI, o estudo supõe que a anteposição do pronome aos itens adverbiais tenha sido produtiva no Português da época medieval. Quanto ao fenômeno da ordem em grupos verbais precedidos de elementos de negação bem como de advérbios, a análise de Pagotto destaca que somente a negação

42 41 admite o evento de interpolação (cl-neg v v), já que os advérbios influenciam, com maior freqüência, o padrão ADV cl v v, além de outras posições. À luz dessas evidências, o estudioso advoga que a opção primeira pela próclise ao elemento de negação, observada nos anos dos séculos XVI ao XVIII, sofreu uma mudança considerável a fim de impedir esse tipo de ordenação no PB de épocas ulteriores. No tocante ao posicionamento dos clíticos em sentenças gerundivas e infinitivas, Pagotto elucida o caráter nitidamente distinto da ordenação dos pronomes em contextos de formas verbais finitas e infinitas, principalmente nos séculos XVI, XVII e XVIII. O lingüista verifica a grande produtividade da ênclise em ambientes de formas gerundivas e infinitivas, enquanto a variante proclítica se restringe a contextos nos quais o verbo se encontra precedido de um possível fator de próclise. De seu exame, Pagotto postula que a perda do movimento do verbo assim como da longa mobilidade do clítico corresponderia às causas das mudanças no padrão de colocação em direção aos altos índices de freqüência da próclise generalizada e na alteração da natureza categorial dos clíticos no PB. Advoga, ainda, que a mudança no Português do Brasil, no que concerne à ordem pronominal, estaria concluída: os átonos pronominais seriam concebidos como partículas em desaparecimento, assumindo radicalmente a ordem pré-verbal em contextos que, porventura, sobrevivessem. Em cotejo entre PB e PE, diz Pagotto, em defesa do Português como uma língua que passa a percorrer dois caminhos distintos, que o fato de a variedade européia exercer forte pressão sobre o Português do Brasil estaria fortemente relacionado ao fato de a modalidade escrita do PB acolher estruturas que não condizem com sua realidade vernacular. Monteiro (1994), em seu trabalho intitulado Pronomes pessoais: subsídios para uma gramática do português do Brasil, promove, em seção especial de sínclise pronominal, considerações acerca da ordenação dos clíticos no PB oral culto observada em cinco cidades brasileiras por meio de inquéritos fornecidos pelo Projeto NURC. A análise quantitativa desenvolvida pelo pesquisador contabiliza, apenas, 15% de manifestação da variante enclítica. Postula o autor que os baixos registros de ênclise se relacionam, dentre outros fatores, ao tipo de clítico pronominal e ao fenômeno de apagamento do objeto sintático. No intuito de elucidar a natureza do fenômeno de colocação, Monteiro expõe as três explicações comumente utilizadas para sua apreciação, a saber: (i) a atração lexical,

43 42 por meio da qual determinados vocábulos, mediante o sentido que expressam, exigiriam a adjacência do pronome a si; (ii) o reflexo da função expressiva, visto que a ordem estaria diretamente relacionada a fatores de natureza estilística, e (iii) a ação dos fatores rítmico-prosódicos. A respeito do postulado da atração lexical, Monteiro trava severas críticas quanto a tal explicação, ressaltando que se de fato determinadas palavras tivessem o poder de atrair o pronome oblíquo, este mudaria de posição toda vez que elas também se deslocassem ou fossem retiradas da frase (MONTEIRO, 1994: 188). Quanto à função expressiva, considera o estudioso que alguns autores argumentam que, para justificar o fenômeno da colocação, se torna necessária a análise das relações entre os componentes sintático, prosódico e informacional do enunciado. No que respeita ao caráter rítmico-prosódico, ancorado em estudos anteriores ao dele, Monteiro atesta que uma possível explicação acerca da ordenação pronominal em Português se alicerça no postulado de que as sentenças do PB se constituem com um padrão de ritmo binário relacionado a uma pauta acentual de natureza paroxítona. Em consideração ao posicionamento dos pronomes em face de duas formas verbais, o pesquisador propõe, mediante suas intuições na audição dos inquéritos examinados, que o clítico ora se revela como segmento silábico postônico em relação ao verbo auxiliar, ora como sílaba pretônica ao verbo principal, sendo essa opção mais freqüente. Realizadas todas as constatações, Monteiro (1994) reitera que a ordem dos clíticos no PB se revela diretamente relacionada ao preenchimento do objeto anafórico, compreendendo que o apagamento do objeto, possivelmente, constituiria um modo de se evitar a realização da variante enclítica. Martins (1994a), em sua tese de doutoramento intitulada Clíticos na história do Português, promove a análise da ordenação dos clíticos discriminando dois estágios temporais, quais sejam: (i) século XIII ao XVI período examinado segundo testemunhos notariais (não-literários) e (ii) século XVI aos dias atuais intervalo de tempo investigado por meio de documentos de natureza literária 9. 9 Conjugando a descrição dos dados ao que propõe a teoria de princípios e parâmetros em seu caráter minimalista, postula que a ordenação dos pronomes clíticos nas línguas românicas esteja relacionada à natureza da categoria funcional Sigma.

44 43 No que respeita à ordenação dos clíticos em estruturas verbais simples, a estudiosa verifica a preferência pela ênclise no século XIII, ocorrendo, gradualmente e de modo lento, no século XVI, a opção pela próclise, principalmente em orações subordinadas tal como se verifica no Português Europeu atual. A variante proclítica, freqüente no século XVI, conforme já se pontuou, sofre forte decréscimo em seus índices de ocorrência e, em conseqüência, maiores registros de ênclise são contabilizados entre os séculos XVII e XIX. A autora constata, assim, o fenômeno de mudança sintática no que respeita à ordem pronominal a partir do século XVII. A propósito do fenômeno de interpolação, Martins pontua que, no decurso dos séculos XIII ao XVI, contabilizam-se ocorrências de elementos interpolados entre o pronome e o verbo. Todavia, a partir do século XVII, o fenômeno passa a apresentar escassez de manifestação, sendo, apenas, verificado por meio da interposição da partícula não. Em cotejo entre esse período e o momento atual do Português Europeu, a pesquisadora atesta que, no PE contemporâneo, os clíticos pronominais ocorrem, predominantemente, adjacentes ao seu hospedeiro verbal, computando-se, ainda, alguns registros de não interpolado, os quais se revelam restritos a determinados contextos. No que tange às estruturas verbais complexas integradas por verbo no infinitivo no decorrer dos séculos XIII ao XVI (visto que a referida pesquisa não apresenta constatações sobre as formas complexas participiais e gerundivas), Martins verifica que, na maior parte dos casos, os clíticos se adjungem ao verbo auxiliar, não estando diretamente ligados à forma principal no infinitivo. Saliente-se, entretanto, que, somente em contextos de elipse do verbo auxiliar, o pronome, necessariamente, se associa ao item no infinitivo. De modo geral, o evento da colocação entre clítico e verbo auxiliar exibe-se com características muito semelhantes à ordem em estruturas verbais simples, isto é, a precedência do pronome ao verbo ocorre em cláusulas subordinadas com item verbal finito, em orações negativas, em estruturas subordinadas finitas introduzidas por determinadas preposições e em orações principais afirmativas encetadas pela forma adverbial asy. Assim como o constatado por Martins (1994) em construções verbais simples, os átonos pronominais observados em lexias complexas em contexto de orações não-dependentes ora se antepõem, ora se pospõem ao verbo auxiliar. A pesquisadora sistematiza, então, que, no século XIII, se atesta o predomínio da ordem enclítica ao hospedeiro verbal auxiliar, havendo, no século XIV, um equilíbrio

45 44 distribucional entre as colocações proclítica e enclítica. No que respeita aos séculos XV e XVI, a próclise, nesse período, faz-se majoritária. Contabilizam-se 16 registros da variante enclítica ao verbo auxiliar em domínios nos quais os verbos do complexo apresentam preposições e advérbios intervenientes ou a contração entre os clíticos acusativos o(s), a(s) e um item verbal finalizado por s ou por vogal nasal, gerando uma cliticização fonologicamente visível ao auxiliar (MARTINS, 1994: 152). A respeito do posicionamento do clítico à esquerda dos verbos das construções complexas, Martins verifica tal colocação em situações nas quais o verbo principal antecede seu auxiliar (ex.: se fazer Vp. poder Vaux.). Quanto à ordenação do pronome em ênclise ao infinitivo, estando esse item verbal após seu auxiliar, a estudiosa salienta que a cliticização v1 v2-cl constitui apenas 5 registros dentre as 106 ocorrências examinadas. Pelas constatações efetuadas por Martins (1994), pontue-se que seu estudo demonstra, no que respeita aos complexos verbais observados no decurso dos séculos XIII e XVI, a opção preferencial pela adjacência do clítico a v1 em detrimento de v2. No que concerne ao período de tempo compreendido entre os séculos XVI e XX, não se observam considerações de Martins (1994) acerca das mudanças posteriores ao século XIX, fato que leva a crer que a autora, provavelmente, não procedeu ao tratamento analítico das construções complexas no intervalo temporal discriminado. Com o propósito de efetuar o exame da ordenação dos átonos pronominais em estruturas verbais complexas bem como em contextos de objeto nulo averiguados no Português do Brasil, Cyrino (1996) promove a observação de textos dramáticos produzidos no decurso dos séculos XVIII, XIX e XX, a fim de atestar a suposta colocação pronominal vernacular de cada fase contemplada. Considere-se que, de modo a atender às especificidades resguardadas ao tema do presente trabalho, priorizam-se, da abrangência da pesquisa de Cyrino (1996), as constatações acerca da colocação em domínio de complexos verbais. No que respeita ao fenômeno de mudança da ordem dos clíticos no PB, Cyrino salienta a não-ocorrência progressiva da variante enclítica bem como da colocação proclítica a v1 no século XX. De outro lado, pontua, para o PB contemporâneo, a freqüência de colocação do clítico à esquerda do verbo mais baixo tratamento

46 45 consoante o quadro formalista de que se vale ou ao item verbal que não revela concordância, isto é, o verbo principal (v1 cl v2). Ressalte-se que a estudiosa atesta que manifestações da variante proclítica a v2 já se verificam no século XIX, intensificando-se no período posterior de cem anos mesmo em face de elementos proclisadores. A propósito do século XX, Cyrino atesta a redução de ocorrências da variante enclítica a v1 (v1-cl v2) assim como a queda de ênclise a v2 (v1 v2-cl), além de índices reduzidos de próclise ao auxiliar (cl-v1 v2). Paralelamente ao declínio e/ou à improdutividade dessas variantes, verifica os registros cada vez maiores da ordem v1 cl v2, considerada próclise a v2, posição essa que, consoante a pesquisadora, tende a se fixar ao verbo principal no século XX, em conseqüência da imobilidade do clítico nesse período. Certifique-se, ainda, de que a autora chega a contabilizar contextos categóricos da variante v1 cl v2 no decurso do século XX em oposição aos índices nulos dessa posição no século XVIII. Em especial comparação entre os séculos XIX e XX, Cyrino salienta que realizações como João me vai dar um livro (e Tinham-lhe escrito cartas ) não são evidentes no PB atual. Em contrapartida, verifica certa mobilidade do clítico ao se deslocar para a esquerda de v1 ou permanecer à direita de v2 em contextos de sentença imperativa afirmativa, construções gerundivas ou com infinitivo pessoal, no PB do século XIX. É na primeira metade desse século que ocorrências como João vai me dar um livro passam a ser observadas nas peças teatrais examinadas. Como constatações gerais licenciadas pelo estudo realizado, Cyrino apura que, no século XVIII, as características sintáticas do item verbal auxiliar se debilitam. No que concerne à primeira metade do século XIX, a variante enclítica passa a ser reanalisada como próclise ao verbo principal, sendo esta última posição freqüente no século XX. A tese de doutoramento intitulada A colocação pronominal na língua literária contemporânea do português brasileiro 10, de autoria de Schei (2003), promove a análise de considerável número de ocorrências do fenômeno de colocação pronominal extraídas de seis romances representativos da Literatura brasileira de fins do século XX, de modo 10 Torna-se oportuno esclarecer que a resenha concernente ao trabalho, agora exposto, se efetua a partir da obra A colocação pronominal do português brasileiro: a língua literária contemporânea, a qual corresponde, originalmente, à tese de doutorado defendida por Schei, em 2000, na Universidade de Estocolmo.

47 46 a atestar as discrepâncias existentes entre aquilo que se recomenda no âmbito da prescrição gramatical (norma idealizada ou subjetiva) e a realidade lingüística que, efetivamente, se constata empiricamente (norma objetiva). De modo a investigar a hipótese de que os compêndios gramaticais brasileiros contemplam, quanto ao fenômeno da ordem, os padrões de colocação lusitanos, Schei (2003) lança mão de três romances europeus, em análise paralela à da ordenação dos clíticos na variedade brasileira. Desse modo, os materiais contemplados em conjunto fornecem mais de 8000 dados da manifestação da regra variável. A pesquisadora, embora saliente que não se possam estabelecer conclusões definitivas, corrobora, por meio dos resultados obtidos, que a ordenação dos clíticos pronominais na escrita literária do Português do Brasil difere do padrão proposto nos manuais normativos. Entretanto, dado que os seis romances brasileiros contemplados apresentam determinadas particularidades, sublinha a autora a impossibilidade de se considerar um modelo único de colocação da língua literária brasileira contemporânea. Considerando as sentenças com apenas um item verbal e os contextos integrados por mais de uma forma verbal (identificados como locuções), Schei pondera, a partir do cotejo entre os dados das amostras examinadas e as regras prescritas pela tradição gramatical, a existência de disparidades entre aquilo que se concebe como norma idealizada e o que de fato se concretiza. No que tange às formas finitas simples, destaca a autora que tais diferenças se revelam, mormente, nos contextos para os quais o padrão normativo sugere a ênclise. Em ambientes avaliados por Schei como neutros como domínios de oração principal declarativa, coordenada integrada por conjunção e, e sentença desprovida de operadores de próclise, os seis escritores das obras examinadas diferem, haja vista que alguns deles atendem aos preceitos gramaticais, realizando, quase sempre, a variante enclítica, enquanto outros optam por próclise, à semelhança da modalidade oral da variedade brasileira. A propósito da compreensão do fenômeno da ordem no âmbito das locuções verbais, Schei destaca as seguintes construções: (i) auxiliar + particípio, (ii) auxiliar + gerúndio, (iii) auxiliar + infinitivo e (iv) auxiliar com preposição + infinitivo. Dentre as evidências verificadas, ressalta a pesquisadora que o pronome se indeterminador, com freqüência, figura em posição proclítica ou enclítica em face do verbo auxiliar, em oposição aos demais pronominais átonos, os quais se colocam, na

48 47 maior parte das vezes, em próclise ao verbo principal, havendo ou não elemento proclisador. Acerca dos registros do pronome se na variedade européia, verifica-se que a ordem proclítica ao auxiliar se manifesta quando da presença de um elemento proclisador nas estruturas integradas por verbos flexionados no particípio e gerúndio, caráter esse também observado, em certa medida, com os demais átonos. No que concerne às construções verbais complexas constituídas de infinitivo, os dados advindos dos três romances portugueses concedem constatar que, nem sempre, a variante proclítica ao auxiliar se manifesta mesmo em presença de possível elemento proclisador. De modo a apresentar alguns dos pormenores da ordem em perífrases participiais (auxiliar + particípio), pontua Schei que os literatos observados produzem com freqüência a ordem proclítica ao verbo auxiliar de modo mais evidente do que o verificado em construções constituídas de gerúndio e de infinitivo. Destaca, entretanto, a particularidade de colocação dos acusativos o(s)/a(s), os quais não se posicionam em próclise ao verbo principal. Em contexto de locuções com item verbal no gerúndio, sinaliza a autora a tendência ao favorecimento geral da posição proclítica ao verbo de segunda posição. Nos domínios verbais de auxiliar + infinitivo, o posicionamento do clítico pode ser comumente atestado ora em ordem proclítica ora em colocação enclítica ao verbo principal, com especial preferência pela próclise. As estruturas complexas do tipo auxiliar com preposição + infinitivo constituem-se como ambientes de favorecimento, em primeira instância, de próclise a v2, seguida da variante enclítica ao verbo principal, principalmente quando se trata da ordenação do clítico acusativo. Pelas descrições estabelecidas, perceba-se que Schei (2003) ressalta, tendo como base a colocação de maior produtividade nos romances brasileiros examinados, que a ordem proclítica ao verbo principal tende a sobrepujar a freqüência de realização das demais colocações. Isso posto, advoga a autora que o fenômeno de posicionamento dos átonos pronominais em estruturas verbais complexas se assemelha, em alguma medida, à suposta ordem verificada na modalidade oral do Português do Brasil. Em seu trabalho investigativo intitulado Colocação pronominal nas variedades européia, brasileira e moçambicana: para a definição da natureza do clítico em

49 48 português, Vieira (2002) busca aferir o padrão de ordenação dos átonos pronominais mediante os condicionamentos de natureza lingüística e social nas três variedades discriminadas, no que respeita às modalidades oral e escrita do Português, além de realizar o exame da ordem com base prosódica. Uma vez que a análise aqui desenvolvida empreende o exame da colocação no Português do Brasil bem como no Português Europeu dos séculos XIX e XX, busca-se sublinhar as constatações de Vieira (2002), no que respeita, especificamente, às variedades destacadas. Saliente-se, apenas a título de curiosidade, que o Português Moçambicano, no âmbito das lexias verbais simples, tende a realizar a ênclise de modo generalizado, e, em construções verbais complexas, denota preferência pela colocação intra-lvc. No que tange às variedades brasileira e européia do Português oral, a investigação de Vieira (2002) considera a fala de informantes de distintos níveis de escolaridade e de faixas etárias diversificadas. A propósito da modalidade escrita, os dados colhidos advêm de textos publicados em revistas e jornais brasileiros e portugueses. Com base no arcabouço teórico-metodológico da Sociolingüística Variacionista, a análise efetuada dispõe de um total de 5196 ocorrências de pronomes átonos, distribuídas entre construções denominadas de lexias verbais simples e de lexias verbais complexas, as quais são examinadas em momentos distintos. Dentre as diversas constatações observadas pela pesquisadora, destaque-se que o Português do Brasil apresenta um comportamento particular em cada modalidade contemplada. Nas sentenças constituídas de lexias verbais simples na modalidade oral, os dados corroboram que, grosso modo, a ordem pré-verbal, condicionada fundamentalmente pela variável tipo de clítico/valor do se assim como pelo grupo de fatores extralingüístico faixa etária, é concebida como não-marcada. A propósito do corpus escrito, saliente-se a motivação considerável do grupo presença de operador de próclise na oração especialmente na oposição início absoluto versus demais contextos além das variáveis tipo de oração e distância entre o operador e o grupo clítico-verbo para a instauração de um modelo lusitano na imprensa brasileira. No tocante ao fenômeno em ambientes de construções verbais complexas, no Português do Brasil oral, a ordem intra-lvc faz-se majoritária em 90 pontos percentuais, não dependendo de motivação de proclisadores para se manifestar. A respeito da modalidade escrita, embora o estudo disponha de escassos números de dados

50 49 de estruturas verbais complexas, os resultados verificados pela estudiosa evidenciam a produtividade da ordem intra-lvc. Ademais, atestam que os chamados proclisadores não denotam influência significativa para a anteposição do clítico à esquerda do complexo verbal. A posição enclítica ao complexo ocorreria em domínios específicos, como, por exemplo, em construções nas quais se vislumbra a colocação dos clíticos acusativos em face de conglomerados verbais com infinitivo. No que tange à variedade européia, a colocação assume um condicionamento, de caráter estrutural, sistemático em ambas as modalidades observadas. Embora se constate a distribuição equilibrada dos dados segundo as variantes pré-verbal e pós verbal, os resultados alcançados por Vieira (2002) permitem verificar que tal distribuição pode ser justificada, sobretudo, pelos números consideráveis de contextos de subordinação, nos quais figuram os elementos proclisadores. Em referência às constatações realizadas no âmbito dos complexos verbais, o PE oral admite, na maior parte das vezes, ênclise a V1. A ordem pré-lvc, igualmente produtiva, apresenta-se condicionada, principalmente, pela presença de operador de próclise no contexto anterior ao complexo verbal, tendendo a se manifestar, ainda, nos ambientes influenciados pela atuação dos grupos de fatores tipo de clítico e forma do verbo não-flexionado. Acerca da modalidade escrita, o estudo sinaliza que, em domínio constituído de elementos proclisadores, a variante pré-lvc constitui a opção preferencial de colocação. Nunes (2009), com o propósito de examinar a ordem pronominal em estruturas verbais complexas na modalidade escrita do PB e do PE no decorrer dos séculos XIX e XX, promove a análise de dados a partir de corpora constituídos de textos de natureza jornalística. Para tanto, alicerça a análise no arcabouço teórico-metodológico da Sociolingüística Laboviana bem como nos parâmetros de cliticização propostos por Klavans (1985). Na análise proposta, a autora adota o procedimento metodológico de avaliar o evento da ordem em contextos de início absoluto de oração bem como em domínios integrados por proclisadores canônicos e não-canônicos. Verifica, então, que, nas amostras de ambas as variedades, não foram contabilizados casos de pronomes átonos em posição inicial absoluta, o que implica atestar a ausência de manifestação da variante pré-lvc. Salienta a pesquisadora que a ordem pós-lvc se procede em maiores registros em relação às demais no que respeita

51 50 às duas variedades contempladas nos séculos XIX e XX, salvo no PB do século XIX, em que a ordem intra-lvc se revelou mais produtiva. A autora justifica tal tendência brasileira do século XIX pela variável gênero textual, uma vez que a maioria dos dados colhidos advém de anúncios, que favorecem as expressões cristalizadas próprias do gênero associadas à partícula se apassivadora / indeterminadora (ex.: Precisa-se alugar). Além disso, o particípio como verbo principal, presente em diversas construções, impossibilita a colocação pós-lvc e, uma vez que se considerem contextos isentos de elementos proclisadores, não se teria outra opção a não ser a variante intra-lvc. No que concerne à distribuição geral nos contextos desprovidos de início absoluto, postula Nunes (2009) que não se vislumbram diferenças significativas entre PB e PE, principalmente no que respeita às variantes pré-lvc e pós-lvc. Os dados examinados evidenciaram que, em ambas as variedades, nos dois séculos observados, a próclise a v1 ocorre com mais freqüência, seguida da variante pós-lvc, nos contextos com possíveis elementos proclisadores. A propósito da colocação intra-lvc, a autora sublinha o caráter inovador do PB em realizar alguns dados de próclise ao verbo principal já no século XIX. No que respeita à atuação das variáveis controladas, a estudiosa constata que o PB se revela sensível tanto aos condicionamentos de cunho externo como de caráter estrutural. Em referência ao PE, atesta Nunes que a variedade européia demonstra forte estabilidade no condicionamento do fenômeno nos dois séculos, atrelado, especialmente, à influência dos grupos de fatores de caráter lingüístico. Isso posto, no que toca à atuação dos elementos proclisadores, o estudo avaliza que os fatores de próclise operam de modo particular nas variedades examinadas: a distribuição da variante pré-lvc, por exemplo, em face de partículas de negação, apresenta-se mais produtiva no PE dos séculos XIX e XX. No PB, tais partículas revelam influência somente nas produções escritas do século XIX. Em contrapartida, os elementos subordinativos constituem-se como os condicionadores mais potenciais de próclise a v1 em todos os casos. Quanto à natureza do verbo principal, o trabalho permite vislumbrar que a forma participial assume um comportamento mais seletivo em relação à ordem, ao passo que os infinitivos concedem maior flexibilidade. O particípio, tanto no PB quanto no PE dos séculos XIX e XX, denota forte incidência da ordem pré-lvc. Em consideração ao gerúndio, pontue-se que, em seus domínios, se verifica um equilíbrio distribucional das

52 51 variantes pré-lvc e intra-lvc em ambas as variedades, especialmente no século XX. Os contextos integrados por infinitivo evidenciam, no século XIX, que a ordem dos pronomes se associa à presença de elemento proclisador. No século posterior, contabilizam-se maiores registros de ênclise a v2. Ponderações acerca do tipo de clítico pronominal são, também, estabelecidas por Nunes (2009). Assim, salienta a autora que o clítico se denota comportamento diferenciado a depender da estrutura em que ocorre nas duas variedades examinadas. A propósito dos clíticos acusativos, salvo nos casos advindos da amostra brasileira do século XX, esses se posicionam, predominantemente, em posição pré-lvc, motivados, também, pela presença de um elemento proclisador. Em contrapartida, os registros verificados no corpus do PB do século XX sinalizam a preferência pela variante pós- LVC, mormente quando o pronome se se adjunge ao verbo no infinitivo configurando uma espécie de estrutura cristalizada. Em referência ao exame desenvolvido por Martins (2009), acerca dos padrões de ordenação dos clíticos pronominais na escrita catarinense, a partir de corpus em que se compilam vinte e quatro peças teatrais escritas por brasileiros nascidos no litoral de Santa Catarina, no decurso dos séculos XIX e XX, saliente-se que o autor visa a lançar luz sobre o postulado de que a escrita catarinense refletiria um processo de mudança sintática concebida, possivelmente, como um processo gradual que se empreende via competição de gramáticas, no sentido utilizado por Anthony Kroch. A partir da análise de dados de orações finitas não-dependentes com verbos simples e construções verbais complexas, o autor apresenta, ao longo de seu trabalho, as evidências empíricas quanto à colocação dos clíticos pronominais, municiando-se, também, de uma amostra de vinte e uma peças teatrais escritas por portugueses lisboetas, todos coetâneos dos séculos XIX e XX. A hipótese de que os dados da pesquisa de Martins (2009) refletiriam a chamada competição de gramáticas ancora-se na proposta apresentada no trabalho de Galves, Brito & Paixão de Sousa (2005). As autoras, em vasto estudo diacrônico, propõem que os autores nascidos em meados do século XVIII seriam os primeiros a utilizar as estruturas da ordem que se concebem como pertencentes às gramáticas do Português Europeu e do Português Brasileiro, deixando de concretizar as estruturas típicas da gramática anterior, identificada como a gramática do Português Clássico.

53 52 Em linhas gerais, propõe-se que a gramática do PE adotaria a ênclise como opção preferencial não só em início absoluto, mas também após contextos sem fatores de próclise, enquanto a gramática do PB adotaria a próclise como opção preferencial geral. Nas construções com mais de uma forma verbal, o PB também inovaria ao adotar a próclise ao verbo principal. Os resultados obtidos na investigação proposta por Martins (2009), tratados estatisticamente à luz da Sociolingüística Laboviana, confirmam as tendências apontadas em Galves, Brito & Paixão de Sousa (2005). No que tange às construções brasileiras nas quais a variação entre próclise (clv) e ênclise (Vcl) é observada em cláusulas finitas não-dependentes, o pesquisador registra um aumento progressivo nos índices da ordem proclítica em contextos V1 assim como em domínios X(X)V, sendo X antecedido por um sujeito, um advérbio modal ou um sintagma preposicional sem focalização. Evidencia o estudioso que a colocação proclítica em escritos do PB do século XIX se revela de modo mais recorrente em cláusulas com sujeitos pré-verbais do tipo pronome pessoal, em oposição ao que se constata em sentenças com sujeitos DPs simples. Quanto à manifestação de próclise no século XX, pontua o autor a ocorrência categórica de tal ordenação mediante sujeitos pré-verbais. No que concerne ao posicionamento do átono pronominal em conglomerados verbais, verifica um progressivo acréscimo da ordem pré-verbal na adjacência do verbo não-finito, o que também seria evidência da gramática do PB. Ainda assim, advoga o pesquisador que o Português do Brasil do século XIX, no que respeita aos dados analisados, apresenta construções DPclV e estruturas XclV assim como o fenômeno de interpolação do elemento não e/ou do pronome pessoal eu, estruturas que seriam interpretadas como resquícios dos padrões supostamente instanciados pela gramática do Português Clássico. Ressalta Martins (2009) que, assim como os padrões instanciados pela gramática do Português do Brasil em textos do século XIX podem ser observados, uma vez que se constata a realização de próclise a V1 e ao verbo não-finito em construções verbais complexas, se percebe, do mesmo modo, o padrão enclítico, bastante produtivo no corpus brasileiro, que seria instanciado pela gramática do Português Europeu. Pontua, assim, o pesquisador, de modo geral, que os resultados alcançados permitem vislumbrar um complexo fenômeno entre as gramáticas do Português Clássico, do Português do Brasil, assim como do Português Europeu.

54 53 Por todas as considerações, aqui efetuadas, certifique-se de que o conhecimento dos principais trabalhos que se ocupam do tema contemplado na presente investigação é de fundamental importância não só para o estabelecimento das hipóteses investigativas que se apresentam na seção referente à descrição das variáveis, mas também para a interpretação dos resultados obtidos.

55 54 3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS A investigação presente instaura-se no conjugado dos preceitos basilares de duas orientações teóricas, quais sejam: (i) as premissas formalistas de cliticização (ZWICKY & PULLUM, 1983; ZWICKY, 1985; KLAVANS, 1985) das quais advêm os fundamentos e os parâmetros para a abordagem do fenômeno, bem como (ii) os postulados da Sociolingüística Laboviana conjunto de princípios que subsidiam a análise dos dados no que concerne à variação e mudança. Julga-se que a interface das duas orientações mencionadas se faz pertinente, uma vez que tal procedimento promove o exame da regra variável aplicado à ordem dos pronomes átonos. Desse modo, cumpre-se o propósito de se efetuar a descrição e a interpretação dos resultados quanto ao evento da ordem de forma consistente, sem que os fundamentos teóricos empregados transgridam suas fronteiras ou violem suas identidades ao responderem determinadas questões que, porventura, (não) sejam alcançadas em seu domínio teórico. Considere-se, pois, que, no tratamento da cliticização pronominal, a perspectiva dos estudos sociolingüísticos ancorada na Teoria da Variação e Mudança permite a abordagem da ordem como fenômeno variável, sendo este motivado pela interinfluência de fatores de cunho lingüístico e social. A fundamentação teórica relacionada ao conceito de cliticização, com base na perspectiva adotada pelos autores considerados, possibilita associar a variação da ordem dos clíticos não só aos outros níveis gramaticais, o que configura um nítido quadro de interface, mas também à proposta de estabelecer parâmetros de cliticização, que aproximam ou distanciam as línguas ou variedades lingüísticas, justificando-se, assim, a eficácia da adoção conjunta das abordagens contempladas para o exame da colocação, cujos pormenores agora se apresentam. 3.1 As diretrizes do tratamento da cliticização Preliminarmente, convém tratar do conceito de cliticização usualmente empregado, tendo em vista que a presente pesquisa se vale da ordem de elementos considerados clíticos na Língua Portuguesa, ou seja, os pronomes átonos. O vocábulo clítico, de origem grega, significa, em dicionários gerais do Português (cf. Aurélio, 1986: 418), qualquer monossílabo átono subordinado, por meio de elemento prosódico, ao vocábulo que o precede, ou que o segue, ou no qual se acha inserido.

56 55 Em dicionários especializados em Lingüística, o termo cliticização também é definido considerando-se sua natureza fonética. A esse respeito, observe-se a definição de clítico proposta por Crystal (2000), em seu Dicionário de Lingüística e Fonética: Termo usado na gramática com referência a uma forma que se assemelha a uma palavra, mas não pode aparecer sozinha em um enunciado normal, sendo estruturalmente dependente da palavra vizinha na construção. (CRYSTAL, 2000: 49) Conforme se observou na revisão da literatura acerca da colocação, diversos estudos priorizam a natureza átona dos clíticos para postular hipóteses interpretativas acerca do comportamento da ordem dos pronomes átonos, bem como acerca das diferenças entre variedades do Português. Ressalte-se, a esse respeito, a consideração hipotética de que a pauta acentual produtiva da Língua Portuguesa, a paroxítona, constituiria motivação para a próclise, já que a ênclise daria origem a um vocábulo proparoxítono. Em seu Dicionário de Lingüística e Gramática, Câmara Jr. (1997) considera próclise o fato de uma forma dependente unir-se ao vocábulo que o segue, configurando um caso de inclinação para frente. Contemplando-se graus de tonicidade, postula que a forma átona, que constitui sílaba que inicia o vocábulo fonológico, apresenta atonicidade mínima (grau 1), enquanto a forma átona que se liga ao fim do vocábulo, em ênclise, assume atonicidade máxima (grau 0). Embora as definições pautadas no comportamento fonético-fonológico sejam assumidas como verdadeiras em diversas abordagens do fenômeno, os clíticos de natureza pronominal costumam ser classificados como proclíticos, enclíticos ou mesoclíticos, em função unicamente da posição em relação à palavra de que dependem sintaticamente, ou seja, a forma verbal. Em consideração às características definidoras dos clíticos ora apresentadas, pode-se perceber que essa categoria se constitui a partir da interface dos níveis gramaticais. Definido foneticamente como partícula átona, o clítico insere-se numa categoria morfológica formal entre o afixo e a palavra do tipo forma dependente que depende de outro constituinte no nível sintático. Em função desse caráter de interface gramatical que abarca os componentes fonético, morfológico e sintático, é oportuno sublinhar que a Lingüística moderna, no que concerne, especificamente, à orientação investigativa de cunho formalista, vem

57 56 deliberando acerca da natureza dos pronomes átonos com o intuito de estabelecer uma possível tipologia de clíticos nas línguas do mundo. Aronoff (1994:12), ao tratar dessa interface no tratamento do fenômeno, considera que, sendo o clítico um elemento constitutivo de uma instância sintática no que respeita à ordem de palavras, é também um item morfológico, visto que se revela como categoria pronominal que exibe, em determinados casos, características semelhantes às de um afixo, por ser concebido como uma forma dependente. A propósito do âmbito fonológico, Vieira (2002: 382), com base em bibliografia especializada, também salienta que os pronomes átonos não apresentam força acentual própria e, por essa razão, tornam-se dependentes de outro vocábulo, o que os torna deficientes no que toca ao aspecto prosódico. Desse modo, possuiriam os clíticos a natureza sintática das palavras e as características fonológicas dos afixos. Estudos realizados acerca dos átonos pronominais das línguas românicas advogam que os clíticos apresentam comportamento que os aproxima de um afixo (cf. KLAVANS, 1985). Em contrapartida, buscando caracterizar especificamente os pronomes átonos do Português Europeu, determinados trabalhos, tais como o de Vigário (1999), defendem que eles se inserem na estrutura gramatical, após o componente lexical, e que seu caráter de mobilidade no enunciado constitui evidência suficiente para que eles não sejam tidos como afixos (Cf. DUARTE, I. et alii, 2001). Spencer (1991) postula que clíticos e afixos, por apresentarem determinadas propriedades, se aproximam e se distanciam por vezes. Sublinha o autor que a principal semelhança entre ambos os elementos pode ser observada pelo fato de serem concebidos como morfemas dependentes. Ademais, ressalta o estudioso a importância do posicionamento do hospedeiro do clítico na sentença, o que lhe confere estatuto próprio em termos sintáticos. Nesse sentido, alguns estudos priorizam o exame do tema dos átonos pronominais, buscando postular tendências sintáticas, como, por exemplo, as relacionadas à posição do hospedeiro verbal na frase. Assim, postula-se, como fenômeno geral, o pressuposto identificado como fenômeno de segunda posição compreendido como a Lei de Wackernagel, segundo o qual os clíticos não iniciam sentenças, figurando, mais comumente, após o primeiro constituinte da oração. Ainda no que tange à ordem do pronome átono em segunda posição, tomem-se antigas referências, como as de Tobler (1875) e Mussafia (1886, 1898), que confirmam, em certa medida, tal tendência, propondo, entretanto, que não se determine a segunda

58 57 posição como lugar exato de ocorrência do clítico, mas que se recuse a posição do clítico como primeiro elemento da oração (Lei de Tobler-Mussafia). Corrobora-se, assim, a premissa de que pronomes objetos átonos não figuram em posição inicial absoluta na sentença (FONTANA, 1993: 28). No que concerne à natureza dos clíticos em geral, destaque-se o trabalho de Zwicky & Pullum (1983) no qual os autores apresentam alguns critérios pelos quais, possivelmente, se podem distinguir as categorias de clíticos e afixos bem como o de Zwicky (1985) em que se discute a separação entre clíticos e palavras. A propósito das observações efetuadas por Zwicky & Pullum (1983), estipulamse seis critérios de modo a evidenciar as características particulares de clíticos e afixos: (i) grau de seleção do morfema dependente em relação ao seu hospedeiro; (ii) lacunas lexicais arbitrárias; (iii) idiossincrasias fonológicas; (iv) idiossincrasias semânticas; (v) operações sintáticas que afetam possíveis combinações; (vi) restrições na combinação de clíticos e afixos. Com base em tais critérios, Vieira (2002) apresenta reflexões acerca da natureza dos clíticos em Português. A autora postula, então, duas propriedades dos pronomes portugueses que os aproximam da categoria de afixos: (i) eles posicionam-se adjacentes ao verbo, assim como um afixo se encontra adjacente à raiz que o hospeda; e (ii) semelhantemente aos afixos flexionais, os pronomes átonos integram um inventário relativamente pequeno e fechado, contrapondo-se às classes abertas, como nome, adjetivo e verbo. Duas outras propriedades dos clíticos pronominais do Português, apresentadas pela autora, impossibilitam, entretanto, o tratamento desses elementos como afixos, no sentido estrito da palavra: (i) eles ligam-se a uma instância sintática, e não a raízes vocabulares; e (ii) apresentam relativa mobilidade, podendo figurar antes ou depois do verbo, já que não se comportam como formas presas. Em face das proposta de Zwicky (1985), Vieira elucida as características sintáticas que favorecem a consideração dos pronomes átonos na categoria de palavras. Sistematizando os testes sintáticos para a diferenciação de clíticos e palavras propostos pelo autor, a autora tece as seguintes considerações: (i) o pronome do Português está sujeito ao apagamento quando idêntico (p. ex.: <eu o i vi e Ø i admirei>); (ii) sendo o próprio clítico uma proforma de um referente representável por um SN, pode vir retomado, por ele próprio, numa espécie de proforma por substituição repetitiva (cf. KOCH, 1990), como em <eu o vi e o admirei>; e (iii) está sujeito à regra de movimento, podendo antepor-se ou pospor-se ao verbo. (VIEIRA, 2002: 392)

59 58 De modo genérico, por toda a interface dos níveis gramaticais revelada na delimitação dos clíticos, em função de eles apresentarem algumas propriedades mais afixais e outras mais de palavra, essa categoria chega a ser tratada como um afixo sintagmático. Fontana (1993: 24 apud VIEIRA, 2002) afirma: Clíticos são definidos como elementos que, ao mesmo tempo em que se ligam fonologicamente a palavras, se ligam sintaticamente a sintagmas. Para Klavans, a ligação sintagmática é uma propriedade inerente dos clíticos, e, conseqüentemente, uma característica que os define universalmente: ela define clíticos especificamente como afixos sintagmáticos. A presente investigação, considerando a interface dos níveis gramaticais na caracterização do fenômeno da colocação pronominal, lança mão de parte da proposta de Klavans (1985), que objetiva caracterizar as línguas do mundo em função de parâmetros de cliticização. A autora advoga que a sintaxe e a fonologia podem atuar de forma independente no tocante ao evento da cliticização, postulando que os clíticos podem estar ligados, a um só tempo, sintaticamente a um hospedeiro e fonologicamente a outro. Partindo do pressuposto de que as formas clíticas ocorrem ligadas a um elemento sintático específico (seu hospedeiro), a estudiosa propõe que as línguas do mundo podem ser caracterizadas quanto à posição dos clíticos antes ou depois em relação a esse elemento sintático. Em termos fonéticos, eles podem figurar apoiados em qualquer forma precedente ou subseqüente a ele. A fim de observar a formulação desses parâmetros, apresentam-se as definições a seguir, preconizadas pela autora: (i) Parâmetro 1, o da dominância (inicial/ final): exprime a possibilidade de que o clítico esteja ligado ao constituinte inicial ou final dominado por um sintagma específico. (ii) Parâmetro 2, o da precedência (antes/ depois): examina-se se o clítico se posiciona antes ou depois do hospedeiro sintático escolhido no primeiro parâmetro. (iii) Parâmetro 3, o da ligação fonológica (enclítico/proclítico): exibe a ligação do clítico ao seu hospedeiro fonológico O exame aqui efetuado, no que se refere aos três parâmetros, parte da proposta da independência entre eles para propor uma pesquisa específica do parâmetro 2, ou seja, o da precedência. Investiga-se, especificamente, se o clítico elege, em relação às lexias verbais simples, a posição pré-verbal / proclítica (cl v) ou pós-verbal / enclítica (v cl); e, no que tange às lexias verbais complexas, a posição anterior (cl v1 v2), posterior

60 59 (v1 v2-cl), interveniente com hífen (v1-cl v2), ou sem hífen (vl cl v2) na modalidade escrita literária brasileira e européia. Uma vez os pronomes átonos do Português apresentando o verbo como hospedeiro sintático (determinação específica do âmbito do primeiro parâmetro), postula-se, então, a precedência (P2) do clítico a essa forma verbal, selecionada em P1. No que concerne ao terceiro parâmetro, acredita-se que apenas uma investigação de natureza fonético-fonológica com dados da modalidade oral tornaria viáveis conclusões cientificamente fundamentadas. Pontue-se que, neste trabalho, o componente rítmico-acentual especialmente no que se refere ao padrão de tonicidade do vocábulo fonológico que se constitui com a adjunção do clítico às formas verbais simples é considerado apenas na qualidade de variável independente como possível condicionamento estrutural da ordem. Feitas as considerações acerca do fenômeno que integra a base da regra variável em estudo, ou seja, a cliticização, passa-se a expor a fundamentação relacionada ao aporte que permitirá o tratamento específico das questões concernentes à variação e à mudança lingüísticas. 3.2 O aporte sociolingüístico A Teoria da Variação e Mudança, muitas vezes designada de Sociolingüística Variacionista, Quantitativa ou Laboviana, possui por escopo o estudo dos padrões lingüísticos verificados em uma determinada comunidade de fala, por meio do exame dos possíveis fatores internos ou externos à língua que motivam a manifestação de um fenômeno lingüisticamente variável. Constate-se que o modelo teórico-metodológico da Sociolingüística Variacionista compreende o conceito de comunidade de fala não como um conjunto de indivíduos que falam exatamente da mesma forma, mas que, de algum modo, compartilham traços lingüísticos que diferenciam o grupo ao qual pertencem dos demais. A partir de tal compreensão, asseguram os postulados sociolingüísticos que os falantes de uma mesma comunidade tendem a estabelecer a comunicação entre si, de um modo mais freqüente, do que com outros indivíduos oriundos de grupos distintos, apresentando normas e atitudes comuns em face do uso da língua (cf. LABOV, 1972). Ao inscrever-se na premissa de que a língua é, por excelência, concebida como sistema dotado de variação intrínseca e não-arbitrária, haja vista que pressões de

61 60 natureza estrutural (lingüística) e social (extralingüística) presidem a sistematicidade do evento em variância (cf. WEINREICH; LABOV & HERZOG, 1968), a Sociolingüística de orientação laboviana refuta a máxima estruturalista de que a variação lingüística é um fato assistemático e irregular, outorgando, desse modo, legitimidade ao princípio da heterogeneidade ordenada, em detrimento da correlação funcionalidadehomogeneidade. Em acréscimo às considerações acima determinadas no que respeita ao caráter heterogêneo e estruturado da língua, tomem-se as palavras de Weinreich, Labov & Herzog (2006 [1968]: 105), abaixo, transcritas: Para dar conta da [...] variação íntima, é necessário introduzir outro conceito no modelo de heterogeneidade ordenada que estamos desenvolvendo aqui: a variável lingüística um elemento variável dentro do sistema controlado por uma única regra. 11 Sob a égide dos postulados variacionistas, a variação, no âmbito lingüístico, constitui um fenômeno universal, o qual pressupõe a existência de formas lingüísticas alternativas designadas variantes, as quais pertencem ao domínio da variável dependente. Isso posto, certifique-se de que a análise presente comunga com o construto teórico básico do aporte sociolingüístico no que concerne à noção de regra variável, sendo essa considerada como um conjunto de duas ou mais maneiras distintas de se dizer algo, transmitindo o mesmo significado referencial em um mesmo contexto lingüístico (cf. LABOV, 1972: 271). Eis, aí, a definição clássica de variantes lingüísticas. É digna de nota a discussão aventada por alguns estudiosos, tais como Lavandera (1984) e Romaine (1981), a respeito da extensão da aplicabilidade da teoria variacionista aos níveis morfológico, sintático e semântico, uma vez que, somente no âmbito fonológico, o fenômeno de variação propriamente dito ocorreria de modo inequívoco, obedecendo à exigência de que, para o estudo do evento variável, as supostas formas em análise teriam de ser, de fato, variantes em um mesmo contexto, com idêntico valor de verdade. Como conseqüência desses debates, figuraram com predominância na fase inicial do desenvolvimento da Sociolingüística Laboviana 11 Convém pontuar que, no excerto em destaque, o conceito de variável lingüística abrange o fenômeno em variação, isto é, a variável dependente constituída das formas variantes, cujos detalhes serão mais bem apreciados no capítulo referente à metodologia. Por ora, cumpre esclarecer que a mesma designação variável lingüística abarca, em determinados momentos, o conjunto de fatores internos à língua motivadores da regra em variância, ou seja, as variáveis independentes de caráter lingüístico também apresentadas em minúcias no capítulo de metodologia.

62 61 trabalhos variacionistas de natureza fonético-fonológica. Saliente-se que a restrição da análise de formas variantes a tal nível não se sustentou por muito tempo, visto que o avanço dos estudos permitiu que pesquisadores afeitos aos princípios teóricometodológicos da Teoria da Variação e Mudança estendessem a análise da regra variável aos domínios morfológico, sintático e semântico sem que o aporte sociolingüístico fosse tomado por mero instrumental técnico-metodológico, sob a prerrogativa de que os fenômenos examinados possuíssem ao menos o mesmo valor básico referencial dentre as formas variantes em um mesmo contexto de ocorrência. Desse modo, muitos estudos, ao ampliarem a noção de regra variável, passam a considerar, acima de tudo, a exigência de comparabilidade funcional entre as estruturas em variância. Em face da problematização supracitada, é oportuno pontuar que os preceitos sociolingüísticos referentes à regra variável não sofrem transgressões na análise presente; isso porque o evento da ordem pronominal aqui investigado, ao apresentar os clíticos em domínios de lexias verbais simples e complexas mediante as diversas posições que, por vezes, podem assumir, se constitui de variantes de mesmo valor referencial. A propósito dos contextos integrados pelos complexos verbais 12, a adoção do arcabouço teórico-metodológico da Sociolingüística Variacionista subsidiou de modo profícuo o desenvolvimento da análise efetuada, de modo que o julgamento do fenômeno como evento variável se revelou pertinente. Não se pode deixar de mencionar que, no que toca ao tratamento de dados lingüísticos, os estudos variacionistas consideram, com primazia, a modalidade oral pelo fato de a mesma permitir a reprodução autêntica da realidade vernacular de determinada comunidade de fala, constituindo-se, por assim dizer, um material confiável para o estudo da mudança. Cumpre ressaltar que Labov (1972), na seção introdutória de Sociolinguistic Patterns, concebe a língua vernacular objeto da investigação sociolingüística como a língua falada cotidianamente, ou seja, como o veículo de comunicação utilizado pelos membros de uma mesma comunidade de fala. Em face da predileção por dados da oralidade, Labov (1994) adverte para o indispensável cuidado que o analista da língua deve apresentar quando da utilização do 12 Para maiores detalhes das estruturas verbais complexas investigadas e das formas alternantes em questão, confira a seção referente à metodologia.

63 62 conceito de regra variável a outros fenômenos não-orais, mormente se esses corresponderem a dados de natureza histórica. Registre-se que, dos não poucos desafios metodológicos deflagrados por exigências particulares da Sociolingüística Histórica, se destaca a dificuldade de controlar dados de sincronias passadas com procedimentos paralelos aos adotados para corpora atuais (cf. BARBOSA, no prelo). De modo a ilustrar uma das incompatibilidades metodológicas para análise de amostras antigas, em comparação ao tratamento destinado ao exame de dados provenientes de corpus recente, saliente-se o árduo trabalho de colher testemunhos escritos que evidenciam a língua vernacular de uma dada comunidade de fala não-contemporânea à invenção de equipamentos de gravação de áudio. Mediante tal circunstância, cabe ao pesquisador tão somente o recurso da modalidade escrita para o estudo histórico que se pretende efetuar. Todavia, conforme acautela Labov (1994), dados de sincronias passadas não asseguram uma avaliação exata da realidade de uma língua; a adoção desses registros lingüísticos acaba, pois, sendo um mal necessário correspondendo àquilo que o estudioso (1994: 11) acredita ser a arte de fazer o melhor uso de dados precários. No intuito de amenizar os efeitos de imprecisão da realidade lingüística de tais momentos sincrônicos, aventa a Sociolingüística Variacionista, mediante o Princípio do Uniformitarismo (cf. LABOV, 1975), a prática do reconhecimento e da comparação dos fenômenos lingüísticos antigos mediante a observação dos processos presentes. A respeito de possíveis pressões sociais, o referido princípio encontra limitações para qualquer tipo de inferência acerca da organização social de comunidades de tempos passados, as quais se configuravam de modo bem distinto do das atuais. Compreenda-se, então, a importância do princípio supracitado à medida que ele se delineia como condição preliminar fundamental para a reconstrução histórica bem como para o uso do presente de modo a estabelecer uma possível explicação do passado (cf. LABOV, 1994: 24). Conforme a dinâmica do sistema lingüístico, há de se constatar que o fenômeno de mudança corresponde a uma conseqüência inevitável das línguas naturais verificada no presente de um processo de variação contínua que inicia sua implementação no passado. É lícito, assim, pontuar outra premissa matriz do arcabouço teóricometodológico variacionista, a qual preconiza que toda mudança pressupõe variação embora nem toda variação concorra, necessariamente, em mudança lingüística.

64 63 A respeito da variação estável e da mudança em progresso, cumpre salientar alguns aspectos que as distinguem e evidenciam. Concebe-se dado fenômeno como legítimo processo de variação estável quando a tendência de predomínio de uma variante lingüística sobre a(s) outra(s) não se encontra instaurada, permanecendo como tal por um longo período de tempo. Para o diagnóstico de mudança em progresso, convém observar em que medida o processo de variação avança para sua resolução em favor de uma das variantes envolvidas, a qual tende a se generalizar, assumindo o caráter categórico de uso na comunidade de fala, em face do possível desaparecimento da(s) outra(s) forma(s) concorrente(s). No que tange ao estudo da mudança lingüística, certifique-se de que tal análise pode ser empreendida de acordo com a perspectiva de tempo aparente segundo a qual as diferenças no comportamento lingüístico de gerações distintas de falantes em um determinado momento refletiriam diferentes estágios do desenvolvimento histórico da língua ou de tempo real. A possibilidade de fazer inferências acerca do desenvolvimento diacrônico da língua mediante análises sincrônicas adquire grande relevo com os estudos efetuados por Labov na década de 1960, a respeito do inglês da ilha de Martha s Vineyard, em 1963, bem como da cidade de Nova York, em Tal como sustentara o estudioso (LABOV, 1972), compreendendo o evento da variação lingüística como fenômeno sistemático e não aleatório, a barreira erigida por Hockett (1958), a propósito da concepção de que a mudança lingüística não poderia ser contemplada em seu processo de implementação, mas somente em seus estágios finais, poderia ser superada. Postulase, pois, que, fundamentalmente, a variação analisada sincronicamente em um dado ponto da estrutura da gramática de uma comunidade de fala pode denunciar um processo de mudança em curso na língua, no que respeita à diacronia. Busca-se, desse modo, apreender o tempo real em que se observa o desenvolvimento diacrônico da língua a partir do chamado tempo aparente, concebido como uma espécie de projeção. É pertinente registrar que, tal como ressaltam Chambers & Trudgill (1980: 165), a relação entre tempo aparente e tempo real pode parecer mais complexa do que a simples equiparação dessas duas instâncias. Isso porque a projeção do que se verifica no tempo aparente de modo a inferir aquilo que teria ocorrido no tempo real encontra amparo no pressuposto de uma possível estabilidade do sistema, sugerindo, por exemplo, que o padrão lingüístico fixado por um indivíduo na fase de sua adolescência se conserva de certo modo intacto ao longo de toda a sua vida.

65 64 Os preceitos variacionistas validam, ainda, que não há como assegurar que um indício de mudança, identificado pelo lingüista em um dado momento, não será revertido em um futuro próximo em decorrência de novos fatos que não se encontravam presentes nas circunstâncias em que o analista da língua fez seu diagnóstico. Por conta da contingência dos processos históricos, qualquer afirmação acerca da mudança em progresso é, de fato, uma inferência (cf. LABOV, 1981: 177). Por se inscrever legitimamente nas bases da Teoria da Variação e Mudança, o estudo descrito julga os cinco problemas ou questionamentos do aporte variacionista como diretrizes de inquestionável relevância para a análise dos dados que aqui se promove. Sob essas considerações, introduz-se, muito a propósito, mediante uma apresentação sintetizada de seus principais aspectos, o elenco das cinco problematizações acerca da mudança, a saber: (i) o problema dos fatores condicionantes (ou seja, das restrições), (ii) o problema da transição, (iii) o problema do encaixamento, (iv) o problema da avaliação, bem como (v) o problema da implementação. No que concerne aos fatores condicionantes, proposição central da primeira das questões consideradas, saliente-se que, para o tratamento de uma regra variável, se faz imprescindível o diagnóstico das pressões lingüísticas e sociais, também designadas como variáveis independentes, responsáveis por condicionar de modo direto ou indireto a manifestação de duas ou mais variantes constituintes de dada variável dependente. Nos domínios de tal questionamento, interroga-se sobre as possíveis condições que motivariam ou restringiriam as mudanças lingüísticas de modo a predizer o conjunto das possibilidades de sua ocorrência. Postula-se que a premissa essencial que assegura o estabelecimento da presente questão concebe a mudança como fenômeno orientado por princípios gerais, ou mesmo universais, conduzindo à simplificação e à generalização de regras da gramática (cf. LABOV, 1982: 26-27), sem que haja a desvinculação dos aspectos sociais. Aventa-se, desse modo, que o problema das restrições seja conjugado ao problema do encaixamento, a ser, ainda, elucidado. O segundo questionamento apresentado diz respeito ao problema da transição, por meio do qual se discute o fato de os processos de mudança constituírem estágios discretos ou a fixação de um continuum. Reitere-se que o aspecto dinâmico do sistema lingüístico não admite a concepção estruturalista da mudança tampouco compreende a

66 65 língua como um todo homogêneo e unitário caracterizado por períodos de instabilidade, conforme divulgava a perspectiva saussuriana. Consoante o proposto pela Sociolingüística Variacionista, considere-se a questão em destaque como uma sugestão de se estabelecer o percurso da mudança lingüística sem que, para isso, se deixe de levar em conta a estrutura social que exerce forte influência sobre a língua. Uma sucessão de estudos variacionistas tende a corroborar a evidência de que o fenômeno de mudança lingüística se opera de modo lento e gradual, percorrendo um continuum ininterrupto de variação e passando, em determinados momentos, por estágios intermediários, nos quais formas conservadoras e inovadoras alternantes coexistem. De modo a compreender o terceiro dos questionamentos para o estudo da mudança lingüística, cumpre atestar que o problema do encaixamento tem por fundamento a máxima do estruturalismo diacrônico o qual adverte que um possível fenômeno de mudança só poderá ser bem depreendido caso seja considerada sua inserção no sistema lingüístico que ele afeta. Em face dessas colocações, Weinreich, Labov & Herzog (2006: 122) ressaltam que Haverá pouca discordância entre os lingüistas de que as mudanças lingüísticas sob investigação devem ser vistas como encaixadas no sistema lingüístico como um todo. O problema de oferecer fundamentos empíricos sólidos para a teoria da mudança traz à tona diversas questões sobre a natureza e a extensão deste encaixamento. Não se deve perder de vista que o encaixamento deve estar em uma relação direta não só com os aspectos internos das línguas, mas também com o conjugado sistema e estrutura social de uma determinada comunidade de fala. A propósito da conjugação mencionada, desmembre-se tal problema em duas vertentes, quais sejam: (i) encaixamento na estrutura lingüística e (ii) encaixamento na estrutura social, tal como, na seqüência, se procede sob a inspiração do tratamento sociolingüístico. Mediante o encaixamento no âmbito da estrutura lingüística, a mudança é concebida como um processo que ocorre em conjunto, tendo a comunidade de fala como o domínio em que se desenvolve, não se limitando, portanto, ao nível individual, o do idioleto. Concebe-se que a língua revela variáveis intrínsecas a um sistema heterogeneamente estruturado associadas a fatores de natureza lingüística e extralingüística que orientam os possíveis processos de mudança, os quais consistem em um lento movimento de um conjunto limitado de variáveis inerentes a um dado sistema que, gradualmente, se altera de um extremo ao outro. Compreenda-se, pois, o fenômeno

67 66 de variação como evento inerente à competência lingüística de indivíduos de uma comunidade de fala, considerando-se o grupo em detrimento de um indivíduo isoladamente. Nesses termos, tomem-se, abaixo, as considerações acerca do encaixamento no âmbito social. É digno de reconhecimento o avanço instaurado pela proposta variacionista ao integrar à análise lingüística ponderações de caráter social, visto que um exame essencialmente lingüístico seria insuficiente para o tratamento do processo de mudança, bem como para uma apreciação adequada da constituição de uma língua quanto a seu aspecto histórico. Por meio dos pressupostos ora desenvolvidos, note-se que a interinfluência entre o processo de estruturação da língua e as relações sócio-históricas presentes em uma comunidade de fala caracteriza o problema do encaixamento como uma das áreas mais produtivas e desafiadoras das investigações em Sociolingüística. Não menos importante para a depreensão do fenômeno de mudança, perceba-se o problema da avaliação como o responsável por trazer luz ao debate entre o caráter ativo de avaliação subjetiva dos indivíduos, consoante o apregoado pela visão sociolingüística, e o posicionamento passivo dos falantes, defendido pelo estruturalismo de Saussure, mediante as mudanças do processo de estruturação da língua. Cabe pontuar que tal avaliação subjetiva dos indivíduos percorre uma escala intimamente relacionada aos estágios por que caminha a mudança. Assim dito, postulase que a primeira etapa de avaliação se posiciona abaixo do nível de consciência social, momento em que a descoberta da mudança pela comunidade de fala não se processa de modo simples e evidente. A respeito dos estágios intermediários, trata-se da fase em que alguns desvios de estilo aparecem de forma mais notória. Nos períodos finais da mudança, a não rara tendência à fixação de estereótipos se revela como resultado de uma ampla percepção social do fenômeno instaurado, criando-se pólos extremos entre a norma dita conservadora e os padrões julgados sob uma forte depreciação social. A problematização apresentada sugere, pois, que o grau de avaliação subjetiva dos indivíduos pode sensivelmente influenciar o processo de mudança lingüística. É escopo do último dos problemas da mudança contemplados pela Teoria da Variação e Mudança o problema da implementação a investigação das pressões de caráter lingüístico e social que motivam o processo global da mudança, a fim de que se possa desvendar o motivo por que o fenômeno de mudança não se implementou em um dado momento e lugar.

68 67 Na expectativa de aclarar um pouco a obscuridade de tal questão, Weinreich, Labov & Herzog (2006: 124) advertem que a dificuldade natural em se predizer hipóteses consistentes acerca de tal questionamento ocorre devido à circunstância de que a mudança lingüística representa, também, uma mudança no comportamento de uma sociedade. Por todas as considerações efetuadas, certifique-se de que a presente investigação, ao lançar mão do aporte teórico-metodológico da Sociolingüística Laboviana conjugado aos postulados do conceito de cliticização, pretende, à luz dos questionamentos há pouco apresentados, contribuir por examinar de forma especial o problema dos fatores condicionantes relativo à colocação pronominal. Pela observação do percurso diacrônico do fenômeno ao longo dos séculos XIX e XX, serão feitas, quando possível, considerações atinentes, em maior ou menor medida, aos problemas da transição, do encaixamento, da avaliação e da implementação.

69 68 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Elucidam-se, no capítulo que agora se inicia, as questões precípuas concernentes aos empreendimentos metodológicos que se fazem necessários para o desenvolvimento do exame da ordem aqui efetuado. Prestam-se, doravante, diversos esclarecimentos no que respeita às etapas estabelecidas para a execução deste trabalho; aos corpora investigados sobretudo às particularidades envolvidas em sua composição ; à delimitação do fenômeno de colocação à luz da variável dependente bem como dos grupos de fatores independentes de natureza lingüística e extralingüística; assim como ao tratamento variacionista, que contempla as atividades de coleta e tratamento de dados, análise-técnico computacional e sistematização interpretativa dos resultados alcançados. Sob essas colocações, acompanhem-se, pois, as seções subseqüentes. 4.1 As etapas percorridas para o desenvolvimento da análise variacionista Convém registrar que o exame aqui efetuado desempenha todos os estágios peculiares de uma investigação sociolingüística, quais sejam: (i) estabelecimento do fenômeno a ser averiguado por meio da determinação da variável dependente; (ii) composição de corpora criteriosamente constituídos de romances brasileiros e europeus publicados no decurso dos séculos XIX e XX; (iii) obtenção de dados concernentes às variantes esperadas no âmbito das lexias verbais simples e complexas por meio de atividade de coleta; (iv) estipulação das variáveis de cunho lingüístico e extralingüístico com seus respectivos fatores, os quais, possivelmente, podem motivar o evento em variância; (v) codificação dos registros colhidos nas amostras examinadas mediante os grupos de fatores internos e externos; (vi) tratamento técnico-computacional dos dados submetidos à codificação segundo o pacote de Programas Goldvarb X; (vii) interpretação analítica e sistematização dos resultados alcançados. 4.2 Descrição dos corpora De modo a conferir credibilidade e confiabilidade às constatações que aqui se promovem, faz-se imprescindível, para o exame empírico da ordem desenvolvido, a análise de números consideráveis de registros que permitam testemunhar os casos de colocação nas variedades brasileira e européia do Português dos séculos XIX e XX.

70 69 Nesta investigação, elegem-se textos literários inscritos, exclusivamente, nas características do gênero textual romance. No que respeita às particularidades desse gênero, cumpre esclarecer que, por não corresponder às especificidades e às intenções que aqui se pleiteiam estabelecer, não se realiza o debate acerca dos aspectos controversos que se travam em estudos de cunho literário de feição crítica e historiográfica a propósito da definição de romance. Isso considerado, ressalte-se que o trabalho dissertativo aqui efetuado, mediante o que se tem por consenso, concebe o romance literário como um gênero no qual impera a longa narração descritiva de ações e peripécias exercidas por personagens fictícios. Uma vez compreendido o romance segundo a definição mencionada, procedeu-se à eleição de obras com feições narrativas cuja autoria correspondesse a brasileiros e europeus. Para a constituição dos corpora, consideraram-se, primeiramente, os anseios que se pleiteavam atender, quais sejam: (i) estabelecimento exato do número de autores e autoras a fim de que o controle da variável gênero/sexo dos escritores contemplados pudesse ser tratado de modo comparável; (ii) os autores eleitos deveriam ser naturais das cidades do Rio de Janeiro (Português do Brasil) e de Lisboa (Português Europeu) e nelas residissem a maior parte de suas vidas; (iii) a publicação dos romances compostos pelos escritores considerados deveria corresponder às seguinte fases: (a) século XIX fase 1 ( ), fase 2 ( ), fase 3 ( ) ; (b) século XX fase 4 ( ), fase 5 ( ), fase 6 ( ) 13. Verifique-se, pois, que os parâmetros supracitados gênero/sexo, variedade, fase geram um total de 24 células sociolingüísticas (12 para a amostra brasileira e 12 para o corpus europeu) a serem preenchidas, como se desejava, com 4 escritores representativos das literaturas brasileira e portuguesa, totalizando, assim, o número de 96 escritores. Após longo investimento na tentativa de construção do corpus consoante os critérios inicialmente planejados, foi absolutamente necessário redimensionar os propósitos da investigação. O grande número de autores bem como as dificuldades em contemplar romancistas representativos de cada época revelaram-se um impasse para que a proposta inicial de composição das amostras se tornasse possível. 13 Cabe informar que a segmentação dos séculos nas fases discriminadas se baseou inicialmente nos critérios de constituição do banco de dados VARPORT (cf.

71 70 Ressalte-se que, no Brasil, a autoria de romances passa a ganhar vulto a partir do período correspondente à fase 2 apresentada, fato que impossibilitava a consideração do primeiro intervalo de tempo do século XIX. Ademais, a produção feminina de romances consagrados não é verificada com grande intensidade nas primeiras fases determinadas de ambas as literaturas (em Portugal, por exemplo, a publicação de obras de autoria feminina passa a revelar expressividade no século XX, principalmente após a ditadura salazarista, cujo término data de 1974 com a Revolução dos Cravos), motivo pelo qual não se pôde contemplar, em números precisos, a distribuição equiparada entre homens e mulheres. No que respeita às cidades concernentes ao nascimento dos literatos, não foi possível, também, devido ao número necessário para o preenchimento das células geradas, encontrar autores representativos exclusivamente do Rio de Janeiro e de Lisboa, especialmente em função do curto prazo de tempo para a pesquisa efetuada. Ademais, postulou-se que o propósito inicial não constituía condição essencial para o cumprimento do objetivo central da presente investigação, que implica constatar a colocação pronominal mediante a norma objetiva dos escritores citados na tradição gramatical e indicados nos meios escolares como modelo de norma culta idealizada, e não o de propor generalizações sobre a norma vernacular. Isso posto, justifica-se que o exame desenvolvido não controle sistematicamente, na amostra estratificada, a região de onde os autores são naturais (nem a respectiva data de seu nascimento). Desse modo, o procedimento metodológico adotado passa a desconsiderar a exclusividade de autores nascidos no Rio de Janeiro e em Lisboa 14. Em face desses esclarecimentos, dada a defasagem no número de autores que atendiam estritamente aos requisitos sociolingüísticos estipulados, a constituição final dos corpora pauta-se nas seguintes condições expostas: (i) autores (homens ou mulheres) representativos das literaturas brasileira e portuguesa, citados em sua maioria em manuais gramaticais utilizados como modelo de norma; (ii) romancistas que tenham por país de origem, respectivamente, Brasil e Portugal (nascidos em diferentes localidades/estados das federações consideradas); (iii) a época/fase de publicação das obras selecionadas deve datar entre os anos dos períodos redefinidos: (a) século XIX: 14 Reitere-se, uma vez mais, que, para a composição das amostras, não bastava o fato de os autores serem naturais do Rio de Janeiro ou de Lisboa, mas os mesmos deveriam passar toda a sua vida ou, então, grande parte dela em suas federações de origem.

72 71 fase 1 ( ), fase 2 ( ); (b) século XX fase 3 ( ), fase 4 ( ), fase 5 ( ) 15. Os parâmetros assim definidos têm por resultado 10 células (5 para o corpus brasileiro e 5 para o europeu) que, uma vez atendidas, estabelecem o número de 40 escritores (4 autores por célula), desse modo distribuídos com suas respectivas obras: Autores e obras contemplados em corpora brasileiro e europeu dos séculos XIX e XX 16 Fase 1 ( ) Português do Brasil Século XIX Joaquim Manuel de Macedo A moreninha José de Alencar Diva Manuel Antônio de Almeida Memórias de um sargento de milícias Bernardo Guimarães O ermitão de Muquém Século XIX Fase 2 ( ) Júlia Lopes A viúva Simões Raul Pompéia As jóias da coroa Aluísio Azevedo O cortiço Machado de Assis Quincas Borba Século XX Fase 3 ( ) Afonso Arinos O mestre de campo Rachel de Queiroz O quinze Lima Barreto O triste fim de Policarpo Quaresma Euclides da Cunha Os sertões Século XX Fase 4 ( ) Dinah Silveira de Queiroz A muralha José Lins do Rego Fogo morto Guimarães Rosa Grande Sertão: Veredas Graciliano Ramos Vidas Secas Fase 1 ( ) Português Europeu Século XIX Camilo Castelo Branco Coração, Cabeça e Estômago Arnaldo Gama Honra ou loucura Almeida Garrett O arco de Sant Ana Alexandre Herculano O Bobo Século XIX Fase 2 ( ) Júlio Dinis As pupilas do Senhor Reitor Fialho de Almeida O ninho de águia Eça de Queiroz O primo Basílio Trindade Coelho Sultão Século XX Fase 3 ( ) Aquilino Ribeiro A batalha sem fim Campos Monteiro Camilo alcoforado Raul Brandão Húmus Abel Botelho Os Lázaros Século XX Fase 4 ( ) Augustina Bessa Luís A Sibila Alves Redol Gaibéus Vitorino Nemésio Mau tempo no canal José Cardoso Pires O anjo Ancorado 15 Note-se que o estudo, por conta das justificativas prestadas, efetivamente contempla 5 fases em vez de 6, haja vista as dificuldades encontradas para a seleção de escritores no período de , primeira proposta de fase 1 do século XIX. Ateste-se, assim, a determinação de dois períodos temporais para tal século bem como de 3 fases para o século XX. Acrescente-se, ainda, a essas informações que a segmentação dos séculos respeita o número aproximado de 32 anos para cada intervalo temporal, intervalo que, consoante os preceitos sociolingüísticos, se mostra oportuno para se começar a vislumbrar um possível fenômeno de mudança. 16 As edições adotadas assim como a primeira data de publicação das obras encontram-se pormenorizadas no Anexo 1.

73 72 Fase 5 ( ) Século XX Fase 5 ( ) Século XX Nélida Piñon A doce canção de Caetana Lygia Fagundes Telles As meninas Érico Veríssimo O prisioneiro Jorge Amado Tenda dos milagres José Saramago O ano da morte de Ricardo Reis Augusto Abelaira O Bosque Harmonioso Fernando Namora O rio triste Vergílio Ferreira Para sempre Quadro 1: Apresentação dos autores com suas respectivas obras contempladas nos corpora brasileiro e europeu dos séculos XIX e XX Constate-se que todas as obras arroladas correspondem a romances literários (alguns publicados, primeiramente, em forma folhetinesca), conforme critério anteriormente informado, salvo os escritos de Fialho de Almeida ( O ninho de águia ) e de Trindade Coelho ( Sultão ), concebidos como contos. Todavia, julgou-se que a adoção de tais textos não comprometeria a homogeneidade dos corpora, visto que os contos comungam com o romance uma característica peculiar no que concerne a seu caráter narrativo. A propósito da aproximação entre esses gêneros textuais, verifica-se que, no Dicionário de Literatura: Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa, Literatura Galega, Estilística Literária (1987), dirigido por Jacinto do Prado Coelho, o romance, no conceito mais generalizado, se distingue do conto e novela apenas em extensão. Para a eleição dos escritores adotados, diversos manuais foram consultados, tais como: gramáticas, biobibliografias, artigos específicos de literatura, além das valiosas sugestões concedidas por professores conceituados na área de estudos literários 17. No propósito de averiguar a representatividade dos autores a serem contemplados, analisaram-se, especificamente, as gramáticas de Rocha Lima (2005 [1972]), Cunha & Cintra (2001 [1985]), bem como a de Bechara (2003 [1999]) a fim de observar quais literatos eram citados como modelo de escrita em tais compêndios gramaticais. Procedeu-se, na seqüência, à consulta de biobibliografias assim como de artigos especializados em literatura com o propósito de identificar a naturalidade de mais de cem autores 18 que poderiam, a princípio, figurar dentre os nomes dos escritores selecionados. Após a prática de todos esses procedimentos, definiram-se, então, os 17 O auxílio concedido pelos professores Antônio Carlos Secchin (UFRJ), Mônica Figueiredo (UFRJ) e Luci Ruas (UFRJ) foram fundamentais para a constituição dos corpora examinados. 18 O caráter cosmopolita de vários escritores tornou-se outro impedimento para a composição dos corpora. Alguns, apesar de nascerem no Brasil e em Portugal, foram residir em outros países ainda crianças. De outro lado, parte dos autores tidos como representativos da literatura do PB e do PE não nasceu nas unidades federativas destacadas; por esse motivo, não compõe as amostras concernentes às variedades brasileira e européia do Português.

74 73 autores arrolados acima juntamente com suas obras de grande expressão, os quais são, efetivamente, brasileiros e portugueses que passaram (alguns ainda passam) a maior parte de suas vidas em seu país de origem. Com a finalidade de tornar os corpora ainda mais comparáveis para a observação distribucional dos dados pelas variedades examinadas, estabeleceu-se que o evento da colocação seria atestado em um domínio aproximado de 2000 palavras 19 por romance, considerando-se 1000 palavras iniciais bem como 1000 palavras finais de cada obra. Note-se, pois, que esse controle resulta na investigação da ordem em contexto constituído de mais de vocábulos formais. No que concerne às edições utilizadas, faz-se saber que se buscou acessar as publicações princeps (ou seja, as primeiras edições das obras com aprovação dos autores), consultadas na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e no Real Gabinete Português de Leitura. Quando da impossibilidade de examinar as publicações primárias, adotaram-se edições críticas que se julgaram confiáveis. A título de esclarecimento, convém pontuar que, em alguns casos, a coleta dos dados foi realizada em publicações modernas 20. Resguarde-se, pois, o motivo de vários registros do século XIX, por exemplo, serem, ao longo deste trabalho, citados com o padrão ortográfico da Reforma de 1971 com vigência a partir de Entretanto, tais edições foram comparadas com suas respectivas edições primárias quando possível. No que toca, especificamente, à obtenção dos dados, colheram-se registros de clíticos pronominais em domínios de narrador personagem (1ª pessoa) romances com foco narrativo em primeira pessoa bem como de narrador observador obras narrativas em 3ª pessoa e em falas de personagens, não se considerando epístolas, cartas ou quaisquer outros contextos que interrompessem o fluxo da narração. Cada domínio, há pouco discriminado, mostra-se controlado por meio da variável vozes do romance, conforme se elucida na seção em que se arrolam as variáveis independentes extralingüísticas examinadas. 19 Certifique-se de que, aqui, se compreende palavra sob sua acepção sinonímica de vocábulo formal, considerando, assim, todo item que se delimita pelos espaços e/ou pontuações existentes nos domínios textuais observados. 20 Informa-se que alguns romances de domínio público (ou seja, obras que integram uma determinada herança cultural, cujos direitos econômicos não são mais de exclusividade de quaisquer indivíduos e entidades; fazem parte, também, desse rol, obras com publicação licenciada por parte dos titulares de seus direitos autorais) foram consultados via on-line, como, por exemplo, no endereço eletrônico do Governo Federal do Brasil: < (Acessado em 2008 / 2009), sendo posteriormente cotejados com suas edições primárias.

75 74 Por intermédio de todas as elucidações postas, contemple-se, no quadro a seguir, a realidade dos corpora investigados. A delimitação dos contextos apresentados na tabela e os valores indicados serão tratados nas próximas seções e no capítulo referente à análise dos resultados. Total de dados: 3478 casos de colocação pronominal Português do Brasil Português Europeu 1663 dados 1815 dados Lexias Verbais Simples Lexias Verbais Complexas Estruturas com verbos causativos e sensitivos 21 Lexias Verbais Simples Lexias Verbais Complexas Estruturas com verbos causativos e sensitivos 1427 dados 194 dados 42 dados 1538 dados 237 dados 40 dados Quadro 2: Distribuição geral do número de dados colhidos nas variedades brasileira e européia do Português dos séculos XIX e XX pelos contextos sob análise 4.3 Delimitação da variável dependente Consoante as ponderações realizadas na seção 3.2 a propósito do conceito de variável dependente, promove-se, agora, a elucidação de seus fatores constituintes, discriminando-se as variantes concernentes ao fenômeno da ordem em ambientes de uma só forma verbal lexias verbais simples bem como nos contextos de lexias verbais complexas mais de uma forma verbal Os fatores da variável dependente em contexto de Lexias Verbais Simples Em domínios integrados por uma única forma verbal, o evento da colocação pode ser desmembrado nas posições pré-verbal / proclítica (clítico precedente ao verbo), intraverbal / mesoclítica (clítico na intermitência da forma verbal) e pósverbal / enclítica (clítico posposto ao item verbal) consoante as possibilidades abaixo ilustradas: 21 As estruturas com verbos sensitivos e causativos foram coletadas em separado para uma futura análise específica, devido às particularidades da colocação em tais contextos. Em função dos limites de execução deste trabalho, tais construções não foram analisadas.

76 75 (i) (ii) Ordem pré-verbal / próclise: Agora se elucidam as particularidades da ordem pronominal. Ordem intraverbal / mesóclise: Elucidar-se-ão as particularidades da ordem pronominal. (iii) Ordem pós-verbal / ênclise: Elucidam-se as particularidades da ordem pronominal. Ateste-se que as minúcias relativas às variantes destacadas se encontram contempladas no segmento em que se promove a análise dos resultados obtidos Os fatores da variável dependente em contexto de Lexias Verbais Complexas No que tange ao fenômeno variável no âmbito das estruturas com mais de uma forma verbal, é oportuno esclarecer, de antemão, que, para o exame da ordem, se procede à constituição de inventários nos quais se agrupam as construções complexas segundo a forma do verbo principal que apresentam. A análise da cliticização em conglomerados verbais considera, assim, o posicionamento dos clíticos em complexos integrados por verbo principal no gerúndio, no particípio, ou no infinitivo. Feitos tais esclarecimentos, verifique-se que as lexias verbais complexas gerundivas concedem ao clítico quatro principais 22 possibilidades de posicionamento, a saber: colocação pré-lvc (pronome proclítico a v1), intra-lvc com hífen (pronome enclítico a v1), intra-lvc sem hífen (pronome, potencialmente, proclítico a v2 23 ) bem como pós-lvc (pronome enclítico a v2), todas, a seguir, exemplificadas: 22 Diz-se quatro possibilidades principais, não exclusivas somente de complexos com gerúndio, mas também com infinitivo (e, em certa medida, com particípio, conforme se verá), visto que não se apresenta, por ora, a variante concernente à mesóclise morfologicamente marcada no verbo principal como em Estar-se-á exemplificando a colocação dos pronomes átonos. 23 Por razão da escassez de dados com elementos intervenientes entre os verbos do complexo, não se estabelece, na presente análise, a separação de casos do tipo Está agora se exemplificando a colocação do registro Está se exemplificando a colocação, casos esses representados em Martins (2009) como v1(x)clv2 e v1clv2, respectivamente. Interpretam-se, aqui, essas colocações como exemplos da variante intra-lvc sem hífen (v1 cl v2) e faz-se o controle de elementos intervenientes como variável independente. A propósito das várias possibilidades de colocação, pontue-se, segundo os preceitos da cliticização preconizadas por Klavans (1985) principalmente no que respeita ao Parâmetro 3 de cliticização fonológica que o clítico pode, fonologicamente, estar ligado não necessariamente ao seu hospedeiro verbal, fato que também pode ser examinado no âmbito das lexias verbais simples. Isso dito, compreendase, assim, que outras possibilidades de variantes podem ser elencadas: (i) (ii) Aqui se está exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao item aqui.) Está se agora exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao verbo está.) (iii) Está se agora exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao item agora.) (iv) Está agora se exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao item agora.) (v) Está agora se exemplificando a colocação. (Clítico ligado ao verbo exemplificando.) (vi) Está agora exemplificando-se a colocação. (Clítico ligado ao verbo exemplificando.)

77 76 (i) (ii) cl v1 v2: Aqui se está exemplificando a colocação dos pronomes átonos. v1-cl v2: Está-se exemplificando a colocação dos pronomes átonos. (iii) v1 cl v2: Está se exemplificando a colocação dos pronomes átonos. (iv) v1 v2-cl: Está exemplificando-se a colocação dos pronomes átonos 24. No domínio das estruturas verbais complexas com particípio, percebam-se três maneiras de o clítico se adjungir aos itens verbais, tendo em vista a não-ocorrência da variante v1 v2-cl: (i) (ii) cl v1 v2: Aqui se tem avaliado o evento da ordem. v1-cl v2: Tem-se avaliado o evento da ordem. (iii) v1 cl v2: Tem se avaliado o evento da ordem. Saliente-se, consoante o prescrito nos compêndios gramaticais, a não procedência da colocação enclítica ao verbo auxiliar no particípio. No que tange aos fatores da variável dependente em complexos constituídos de verbo principal no infinitivo, considerem-se as mesmas posições atestadas para as formas gerundivas: (i) (ii) cl v1 v2: Agora se podem atestar os pormenores da cliticização. v1-cl v2: Podem-se atestar os pormenores da cliticização. (iii) v1 cl v2: Podem se atestar os pormenores da cliticização. (iv) v1 v2-cl: Podem atestar-se os pormenores da cliticização. As particularidades relevantes acerca da ordem nas construções gerundivas, participiais e infinitivas encontram-se detalhadas na seção analítica da ordenação dos clíticos (capítulo 5). (vii) Está agora exemplificando-se a colocação. (Clítico ligado ao item a.) Dado que o exame presente se fundamenta no Parâmetro 2 postulado por Klavans (1985) acerca da natureza morfossintática da colocação, não se consideram aqui as possibilidades de ligação fonéticofonológica. 24 Apesar de determinadas variantes soarem possivelmente estranhas entre os brasileiros, sublinhe-se sua possibilidade em termos potenciais na Língua Portuguesa.

78 77 Considere-se, por ora, que, quando se trata do tratamento da regra variável em lexias verbais complexas, duas questões costumam ser trazidas ao debate: (i) o fato de determinadas variantes soarem estranhas em dada variedade do Português; e (ii) a hipótese de que nem sempre o valor referencial entre as formas controladas se mantenha. Quanto à primeira questão, acredita-se que ela não constitua impedimento para o tratamento do fenômeno como variável, tendo em vista que, levando em conta o conjunto de possibilidades de concretização na Língua Portuguesa, todas as formas alternantes devam ser examinadas e podem ser registradas com maior ou menor produtividade, em função não só da variedade lingüística, mas também do contexto. Se houver de fato impedimento de o clítico aparecer nas três posições, como o que ocorre nas construções causativas/sensitivas (mandei-o sair; o mandei sair, mas não mandei saí-lo, por exemplo), os dados não devem ser considerados na análise geral. No que se refere à manutenção do valor de verdade, admite-se que, em certas estruturas complexas, o sentido original da sentença pode ficar comprometido ao ser alterada a posição do clítico. A título de ilustração, cite-se o caso da interpretação indeterminadora em pode-se dirigir a (= é permitido/ é possível dirigir), que, embora não seja impossível, não parece ser a primeira leitura evocada em pode dirigir-se a. Esta estrutura parece candidata a receber, em primeiro lugar, ao menos no Português do Brasil, uma interpretação como a de um se reflexivo ou inerente (= alguém pode encaminhar-se a). Apesar de hipoteticamente haver as referidas tendências interpretativas, não se pode negar que as quatro posições são virtualmente possíveis em ambas as interpretações, razão pela qual se devem considerar tais estruturas na análise do fenômeno, buscando depreender o padrão de comportamento em cada variedade lingüística. Em face da apresentação dos fatores constituintes da variável dependente no âmbito de estruturas verbais complexas, tomem-se, a seguir, as particularidades e problematizações concernentes às construções que, aqui, se concebem como complexos verbais A concepção de Lexias Verbais Complexas pelo confronto entre algumas perspectivas Devido ao anseio de se discorrer acerca das categorias a que determinados verbos da Língua Portuguesa pertencem, a comunidade lingüística vem testemunhando

79 78 o desenvolvimento de trabalhos que contemplam, como proposta central de investigação, o tema referente ao conceito de complexo verbal 25, compreendido, neste trabalho dissertativo, como uma construção integrada por duas ou mais formas verbais que estabelecem entre si uma unidade sintagmática com algum grau de integração sintático-semântica. De modo a apresentar algumas das problematizações que a noção de lexias verbais complexas enseja, constatem-se as seguintes estruturas 26 : (i) Ana quer alimentar seu filho ; (ii) Ela tentou alimentar seu filho ; (iii) Ela pode alimentar seu filho ; (iv) Uma mãe tem de alimentar seu filho ; (v) A mulher há de alimentar seu filho ; (vi) Maria deve alimentar seu filho. Os enunciados supracitados possivelmente suscitam um confronto de posições no que respeita à consideração das sentenças ilustradas como um período simples ou como um período composto. Isso porque, caso se concebam as formas destacadas como verbo principal, admite-se que seu argumento interno é preenchido por um sintagma oracional com predicador 27 verbal no infinitivo. De outro lado, avaliando-se tais elementos como verbo auxiliar, reconhece-se que esses operam sobre um predicador verbal no infinitivo constituindo com ele uma unidade verbal complexa (Vauxiliar + Vauxiliado), ou seja, uma perífrase verbal. Nos termos de Perini (2001), um item verbal é tido como auxiliar 28 quando não apresenta traços próprios de transitividade. Assim, o caráter transitivo observado em um predicado simples é comparável àquele verificado em um predicado complexo no qual o auxiliar figura. A título de ilustração, o enunciado está escrevendo, em O jornalista está escrevendo os artigos, possibilita atestar (i) a transitividade do verbo escrever, que 25 Informa-se que, neste trabalho, as denominações complexo verbal, conglomerado verbal, construções/estruturas verbais complexas, lexias verbais complexas, locuções verbais ou, ainda, perífrases verbais são tomadas como sinonímicas não se considerando, por isso, as particularidades que cada termo, possivelmente, pode sugerir. 26 Os exemplos arrolados são inspirados em Machado Vieira (2004). 27 O termo predicador é, aqui, utilizado para expressar uma forma verbal capaz de projetar os argumentos necessários que completem sua predicação. A título de exemplificação, tome-se a seguinte sentença: Os avós entregaram presentes aos netos.. Perceba-se, por este enunciado, que os espaços sintáticos da oração são constituídos pelos itens projetados pelo verbo entregaram/entregar, responsável por predicar o argumento externo (sujeito) os avós e os argumentos internos presentes (objeto direto) e aos netos (objeto indireto). 28 Os compêndios tradicionais, como, por exemplo, o de Cunha & Cintra (2001: ), compreendem como auxiliares os verbos indicados nas estruturas agora arroladas: (i) construções observadas com maior freqüência: ter/ haver + particípio ou infinitivo, ser + particípio e estar + particípio, estar + gerúndio ou estar + ( para ou por ) + infinitivo; (ii) outros auxiliares: ir + gerúndio, ir + infinitivo, vir + gerúndio, vir + ( a ou de ) + infinitivo, andar (semelhante a estar) + gerúndio ou andar + (a) + infinitivo, ficar + particípio (estrutura de voz passiva), ficar + gerúndio, ficar + ( a ou por ) + infinitivo, acabar + de + infinitivo.

80 79 projeta os espaços sintáticos de sujeito (o jornalista) e de objeto direto (os artigos), bem como (ii) a natureza não-transitiva da forma está/estar, que confere à ação o caráter aspectual. As ponderações de Perini (2001) vão ao encontro, em certa medida, dos critérios estabelecidos por Barroso (1994) para a delimitação de um verbo quanto ao seu aspecto auxiliar, critérios esses, abaixo discriminados, no quadro adaptado de Vieira (2002: 243): Critérios de auxiliaridade Perda sêmica do auxiliar (critério semântico) Unidade significativa Sujeito do verbo Ordem dos termos na oração Características do verbo auxiliar O elemento modificador não possui significado léxico, mas apenas instrumental (Ex.: Voltei a ler O nome da Rosa, em que voltei/voltar perdeu o sema movimento no espaço ). A estrutura em auxiliação possui unidade significativa: o primeiro elemento desempenha a função gramatical e o segundo a função lexical (Ex.: Desatou a rir à gargalhada, em que desatou/desatar expressa a face inceptiva, e rir à gargalhada, a significação lexical ou objetiva). Os verbos da construção exibem o mesmo sujeito (Ex.: Começou a trabalhar, em que o infinitivo expressa a ação praticada pelo sujeito e o verbo que o precede representa a modalidade de aspecto da ação expressa pelo infinitivo). O verbo flexionado é seguido de uma forma no particípio, no infinitivo ou no gerúndio (Ex.: Estava estudando.) Restrição ao critério: Não é de rendimento funcional elevado: construções como fala dormindo se apresentam na mesma ordem e não contêm um auxiliar. O verbo auxiliar é defectivo. Restrição paradigmática Separabilidade na identificação dos auxiliares Restrição ao critério: Não afeta todas as classes de auxiliares. As formas que costumam faltar são o imperativo e o particípio passado. Este é próprio da conjugação central; o primeiro concretiza-se, por exemplo, em começa a estudar a lição. Um grupo verbal constituindo uma unidade semântica, tal como uma lexia, seria inseparável. Restrição ao critério: Nem sempre tal critério é aplicável, pois pode haver dissociação, como ocorre em estava eu a dormir, quando tocou o telefone ou o pai continua, todavia, a ralhar com o filho. Comportamento em bloco em face das transformações passiva e interrogativa A apassivação e a interrogação não afetam cada um dos verbos individualmente, mas os dois como se de um só se tratasse (Ex.: Estou a escrever este trabalho. ; O trabalho está a ser escrito por mim. ; O que estás a escrever? ). Restrição ao critério: Trata-se de um critério essencial, mas não absoluto.

81 80 Usualmente, o verbo auxiliar vem acompanhado de infinitivo, gerúndio ou particípio. Freqüência de ocorrência Restrição ao critério: Não se trata de um critério essencial na delimitação do auxiliar, uma vez que há verbos auxiliares que aparecem com freqüência e outros que só aparecem em certos tempos e modos. Quadro 3: Sistematização dos critérios de auxiliaridade propostas por Barroso (1994) apud Vieira (2002: 243) Dos critérios arrolados, Barroso avalia os três primeiros como primordiais para a caracterização do verbo auxiliar pertencente a uma perífrase verbal. Ainda no que toca à delimitação de uma possível forma auxiliar, Mateus et alii (2003) advogam que construções do tipo ter + particípio e ser + particípio possuem verbos tipicamente auxiliares (ter e haver). A respeito, especificamente, dos itens querer, ir, haver de e poder, propõem, por meio da discussão acerca da integração das formas verbais em um complexo ou da manutenção de unidades predicativas distintas, as propriedades subseqüentes: (i) Em uma construção verbal complexa, os elementos auxiliares não demonstram caráter de seleção semântica e temática, sendo o segundo item do complexo a forma responsável pela seleção dos argumentos, dentre eles o sujeito; (ii) Em orações simples integradas por um verbo auxiliar, dá-se, na maioria das vezes, a impossibilidade de substituição da segunda parte da cláusula pelo complementizador que (Ex.: O pesquisador tinha ido à conferência, donde *O pesquisador tinha que ia à conferência); (iii) Em estruturas constituídas por auxiliar, uma vez que se concebem tais estruturas como uma única oração, não se faz possível o emprego de dois advérbios de tempo de mesma circunstância (Ex.: *Ontem o pesquisador tinha ido à conferência hoje). Pontue-se que, a depender do caráter semântico do contexto, o referido procedimento pode ser aceitável em períodos que apresentem duas orações (Ex.: Ontem o pesquisador queria ir à conferência hoje. Dessa construção não se pode interpretar, precisamente, se o pesquisador tem, ainda, o desejo de ir à conferência); (iv) No domínio de uma única oração, postula-se que, à esquerda do primeiro verbo, só se admite um advérbio de negação frásica, o qual modifica toda a sentença

82 81 (Ex.: Os turistas não tinham visitado o museu. Essa ilustração adaptada em Os turistas tinham não visitado o museu torna-se agramatical, corroborando a existência de uma cláusula de predicação simples). Em períodos com duas orações, pode-se aferir a possibilidade de existência de advérbio de negação em ambas as cláusulas: Os turistas não quiseram não visitar o museu; (v) O segundo verbo de uma estrutura em auxiliação bem como seus complementos não permitem ser substituídos pelo pronome demonstrativo isso ou pelo clítico o (Ex.: *O pesquisador tinha ido à conferência, mas os turistas não o tinham). Em contrapartida, em estruturas de complementação, percebe-se a possibilidade de o segundo domínio da predicação ser substituído, por exemplo, pelo pronome o com valor demonstrativo ou por isso (Ex.: O pesquisador quis ir à conferência, mas os turistas não o quiseram (quiseram isso)); (vi) Em conglomerados verbais, a admissão de ocorrência de pronome átono na adjacência do primeiro verbo indicaria seu caráter de auxiliaridade. Estruturas bioracionais costumam apresentar a alocação de pronomes ao segundo verbo, embora os clíticos possam ocupar ora a adjacência de v1 ora a de v2 (Ex.: O pesquisador não tinha feito-os a agramaticalidade dessa sentença não se procede em: O pesquisador quis fazê-lo). Mateus et alii (2003), à luz das propriedades apresentadas, pontuam que algumas construções são de complementação verbal, ou seja, a categoria selecionada é de caráter frásico apesar do item verbal no infinitivo, assim como em sentenças constituídas pelo verbo querer. As estudiosas classificam verbos que ora atendem e ora não atendem às particularidades supracitadas como semi-auxiliares, tais como: os aspectuais estar, chegar, começar, acabar, continuar e as formas temporais ir / haver de + infinitivo. Quanto aos itens dever, poder e ter de/que, as autoras, pela razão de essas formas verbais apresentarem características que as aproximam de verbos principais e, ao mesmo tempo, revelarem certo grau de defectividade, consideram tais verbos como elementos de natureza híbrida.

83 82 Machado Vieira (2004), também em referência ao caráter de auxiliaridade verbal, postula que algumas unidades (como ter e haver + particípio em estrutura de tempo composto) são concebidas como membros prototípicos do inventário de auxiliares. Consoante a pesquisadora, os elementos verbais são tidos como auxiliares, uma vez que atendam os seguintes parâmetros listados: (i) As construções em que se verificam esses verbos são instâncias de períodos simples, ou interpretadas como tal; (ii) Quanto mais dependente do constituinte adjacente responsável pela projeção de espaços sintáticos, isto é, da predicação em um enunciado, tanto mais um verbo se afasta de seu caráter lexical e assume função gramatical; (iii) Quanto menos colabora para impor restrições de seleção semântica e/ou atribuir papel temático ao constituinte que tenha relação gramatical de Sujeito com o núcleo da predicação, maior o caráter auxiliar da forma verbal; (iv) Quanto maior a extensão de seu domínio de atuação ou seja, a possibilidade de se combinar com elementos auxiliados que apresentem qualquer configuração semântica 29 e/ou sintática, maior seu caráter instrumental; (v) Os constituintes verbais com certo grau de auxiliaridade passam a possuir distribuição lexical, em certa medida, limitada, visto que pertencem a um conjunto de itens de comportamento restrito. É, sob a observação desses critérios, que Machado Vieira (2004) propõe, além das estruturas com ter / haver + particípio, uma escala que contempla cinco subclasses de verbos (semi-)auxiliares, como se exibem no quadro que se segue: Graus de afastamento do pólo de auxiliaridade 1º grau de afastamento Ser seguido de particípio (em estruturas de voz passiva analítica). 29 Um verbo auxiliar prototípico não limitaria a seleção do elemento auxiliado a uma determinada classe semântica.

84 83 2º grau de afastamento Estar, vir, ir, ficar, andar em construções com Vpredicador no gerúndio. Ir, vir, haver (de) em construções com Vpredicador no infinitivo. 3º grau de afastamento Poder, dever modais em construções com Vpredicador no infinitivo. Estar, costumar, começar, chegar seguidos da preposição a em construções com Vpredicador no infinitivo. 4º grau de afastamento Ter (de/que) modal em construções com Vpredicador no infinitivo. Acabar (de/por) em construções com Vpredicador no infinitivo. 5º grau de afastamento Tentar, querer, conseguir, ousar, pretender seguidos de Vpredicador no infinitivo. Mandar, fazer, deixar causativos em construções com Vpredicador no infinitivo. Ver perceptivo/sensitivo em construções com Vpredicador no infinitivo. Quadro 4: Continuum de auxiliaridade proposto por Machado Vieira (2004) Com base nas propostas de tratamento da auxiliaridade verbal ora sintetizadas, esta pesquisa, uma vez considerada a pluralidade de estruturas que podem ser concebidas como complexos verbais, contempla qualquer construção constituída por mais de um item verbal com algum grau sintático-semântico de integração, na qual se observa a possibilidade de alternância dos clíticos em qualquer das posições discriminadas em Isso posto, certifique-se de que os dados desta investigação abarcam, além dos auxiliares prototípicos (como ter e haver + particípio), itens verbais considerados semi-auxiliares bem como verbos que atendem a restritas propriedades de auxiliaridade (como querer + infinitivo, construção mais próxima do eixo de lexicalidade). Conforme se salienta mais adiante (seção 4.4.2), controlam-se os vários tipos de complexos verbais mediante a variável tipo de lexia verbal complexa, contemplando-se, pormenorizadamente, cada construção averiguada nas amostras a partir de fatores distintos. Pela razão dos parcos números de dados das estruturas colhidas bem como pelas semelhanças que alguns complexos apresentam entre si, congregam-se, posteriormente ao exame individual de cada lexia, as construções nas mesmas categorias apresentadas por Vieira (2002), a saber: (i) tempos compostos (juntamente

85 84 com algumas construções aspectuais como estar / ir + gerúndio, lexias essas avaliadas em vários estudos de auxiliaridade como domínios de alta integração entre os verbos auxiliar e principal), (ii) complexos modais e aspectuais e (iii) complexos bi-oracionais (constituídos de verbos volitivos/optativos ou declarativos) com mesmo referente sujeito. Haja vista que esta análise se inscreve nos princípios preconizados pela Sociolingüística de orientação Laboviana, faz-se imprescindível à investigação de domínios verbais em que a posição dos pronomes esteja em variação segundo os fatores apresentados na seção relativa à variável dependente. Isso considerado, ateste-se que não se contabilizam, entre os casos de colocação em estruturas complexas, os registros de clíticos em sentenças constituídas de verbos causativos/sensitivos (como mandar / ver + infinitivo), visto que essas construções não admitem as quatro posições esperadas no âmbito das lexias verbais complexas como sinônimas mediante as várias combinações que realizam com os pronomes (Ex.: Mandei-o ler na sentença Mandei-o ler o livro não apresenta, por exemplo, uma relação de equivalência semântica com Mandei lê-lo). Feitas todas essas considerações, visa-se a corroborar o postulado de que a ordem dos pronomes átonos, especialmente em conglomerados verbais, se revela com comportamento diferenciado entre as variedades brasileira e européia do Português no decorrer das fases observadas. No que respeita especificamente às variantes complexas v1-cl v2 e v1 cl v2, advoga-se que esta última ocorra em maior número no Português do Brasil, sendo a ordem intra-lvc com hífen (v1-cl v2) a predominante no Português Europeu. À luz de tudo o que foi exposto, verifiquem-se, na seqüência, os grupos de fatores lingüísticos e extralingüísticos controlados no tratamento da ordem aqui promovido. 4.4 Descrição das variáveis independentes: as pressões sociais e estruturais motivadoras do fenômeno em variância No propósito de pormenorizar os grupos de fatores de cunho lingüístico e extralingüístico intimamente relacionáveis ao fenômeno variável da ordem no PB e no PE variedades cujos dados são examinados em separado por serem concebidas como normas de uso distintas, arrolam-se, na presente subseção, as variáveis independentes, aqui eleitas, para o estudo descritivo da colocação, tendo por amparo a concepção de

86 85 que uma investigação sociolingüística possui por um de seus escopos a aferição do grau de estabilidade da variação ou de sua evolução para mudança lingüística, por meio do diagnóstico dos possíveis fatores relevantes ou irrelevantes ao comportamento sistemático das variantes sob análise. De modo a avalizar a importância da conjugação das variáveis lingüísticas e extralingüísticas para o tratamento de um fenômeno em variabilidade ou em mudança, considerem-se os termos subscritos: A contribuição das forças estruturais, internas para a difusão efetiva da mudança lingüística, como formalizado por Martinet (1955), deve ser naturalmente a primeira preocupação para qualquer lingüista que esteja investigando esses processos de propagação e regularização. Contudo, uma explicação das pressões estruturais dificilmente pode contar toda a história. Nem todas as mudanças são altamente estruturadas, e nenhuma mudança acontece num vácuo social. Mesmo a mais sistemática mudança em cadeia ocorre com uma especificidade de tempo e lugar que demanda uma explicação. (LABOV, 1972 [1963]: 2). Em face do exposto acerca das variáveis independentes que subjazem a manifestação de usos lingüísticos alternativos, cumpre declarar que, para a constituição do rol dos grupos de fatores estruturais e sociais contemplados no estudo presente, se fez imprescindível um exame preliminar dos contextos constituídos de dados de clíticos pronominais considerando a natureza dos corpora utilizados. Apresentam-se, a seguir, as variáveis lingüísticas e extralingüísticas adotadas nesta investigação, reiterando a advertência de que, em conseqüência da especificidade da colocação em domínios de lexias verbais simples e de estruturas verbais complexas, não se procedeu, por vezes, à atribuição dos mesmos grupos de fatores estruturais para a observação da ordem nos dois ambientes referidos Grupos de fatores de natureza extralingüística Para o controle de possíveis interferências sociais no fenômeno analisado, propõem-se, como prováveis condicionadores da colocação, as variáveis extralingüísticas: Vozes do romance trata-se das instâncias concernentes ao aspecto narrativo das obras adotadas, conforme pontuado na seção 4.2, agora reiteradas: (a) narrador personagem (1ª pessoa) [Ex 1.: Ao retirar-me, o olhar da menina [...] acompanhou-me até que desapareci na porta. [JAl-PB-LVS-19] 30 ]; (b) narrador observador (3ª pessoa) [Ex 2.: Assim o 30 Os dados investigados, respeitados os parâmetros de constituição dos corpora, conforme o descrito na seção 4.2, identificam-se por meio de uma notação que discrimina, respectivamente, (i) a abreviatura onomástica do escritor que produziu tal registro elucidada no índice de abreviaturas contido na parte pré-textual do presente trabalho

87 86 entendera José das Dornas, que foi amestrando o seu primogênito e foi preparando-o [...][JD-PE-LVC-29]]; (c) personagem [Ex 3.: Foi ela que me recomendou aqueles dois quadrinhos, quando andávamos, os três, a ver coisas para comprar. [MA-PB-LVS-29]]. A análise da presente variável justifica-se pelo anseio de constatar, em que medida, os domínios narrativos podem interferir na ordem pronominal. Autores contemplados saliente-se que o rol de autores selecionados se expõe à seção 4.2, referente à descrição dos corpora. Pretende-se, por meio desse grupo de fatores, atestar se o caráter subjetivo da escrita individual, que implica o estilo próprio de cada escritor, opera de modo significativo no fenômeno variável. Gênero/sexo dos autores eleitos como se esclareceu à seção 4.2, apesar da não equivalência no número de escritores e escritoras, promove-se, em certa medida, o controle dessa variável pelos fatores (i) masculino e (ii) feminino, a fim de observar se homens e mulheres apresentam ou não diversidade na realização da ordem dos clíticos pronominais. Época/fase de publicação das obras adotadas considere-se, uma vez mais, a investigação da ordem por cinco fases, quais sejam: fase 1 ( ) e fase 2 ( ) para o século XIX assim como fase 3 ( ), fase 4 ( ) e fase 5 ( ) para o século XIX. Postula-se que o fenômeno da ordem, principalmente no que toca às lexias verbais complexas, se revelaria de modo distinto no PB e no PE ao longo das fases averiguadas, conforme se propõe em trabalhos diacrônicos sobre o fenômeno (cf. capítulo 2). Séculos investigados O exame diacrônico controla, ainda, as unidades temporais por século (i) XIX e (ii) XX, no propósito de compactar as fases discriminadas e observar com maior clareza a colocação nessas duas grandes instâncias. Aos grupos de fatores elencados, associem-se as variáveis lingüísticas abaixo discriminadas. [Ex.: MA = Machado de Assis / EQ = Eça de Queiroz], (ii) a variedade do português [Ex.: PB = Português do Brasil / PE = Português Europeu], (iii) o domínio em que a colocação se manifesta [Ex.: LVS = Lexia Verbal Simples / LVC = Lexia Verbal Complexa / C = Estrutura com verbo Causativo / S = Estrutura com verbo Sensitivo], (iv) a fase em que tal dado foi realizado [Ex.: 1, 2, 3, 4, 5 = Fases 1, 2, 3, 4, 5 respectivamente], (v) bem como o século correspondente à ocorrência exemplificada [Ex.: 9 = século XIX e 2 = século XX]. Registre-se, também, que as exemplificações dos casos de colocação obtidos nos corpora analisados são numeradas de acordo com cada capítulo, não sendo, assim, os exemplos indicados a partir de uma numeração corrida por todo o trabalho.

88 Grupos de fatores de natureza lingüística De forma a pontuar as variáveis estruturais comuns e restritas ao tratamento da colocação no âmbito das lexias verbais simples e dos complexos verbais, recorre-se, a seguir, a um esboço esquemático dos grupos de fatores abordados. Variáveis Lingüísticas Lexias Verbais Simples Lexias Verbais Complexas Tonicidade dos itens verbais Natureza da oração Presença/ausência de possível elemento proclisador Distância entre possível elemento proclisador e sequência constituída de clítico e verbo/complexo verbal Tempo e modo das formas verbais 31 Tipo de clítico pronominal Número de itens (semi-)auxiliares do complexo verbal Forma do verbo principal (nãoflexionado) 32 Presença / ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa Tipo de lexia verbal complexa À luz da representação estabelecida, relacionam-se os fatores constitutivos de cada variável lingüística observada com suas respectivas hipóteses e exemplificações. Natureza da oração A fim de que a manifestação da ordem fosse verificada mediante os contextos oracionais em que os clíticos se fizeram presentes, estabeleceu-se um paralelo entre os modelos tradicionais de oração 33, considerando-se sua qualidade de (i) independente Por meio desta variável, no que concerne ao domínio dos complexos verbais, tem-se por consideração o verbo auxiliar da estrutura complexa. 32 Saliente-se que os supostos grupos de fatores referentes ao número de formas verbais auxiliares e à forma do verbo principal foram contemplados inicialmente como variáveis independentes, norteadoras da codificação dos dados. Com o avanço da análise, verificou-se que tais variáveis seriam fundamentais para conhecer os tipos de complexos e seu comportamento. Desse modo, esses dois grupos de fatores serviram para, a partir da codificação inicial, isolar os poucos dados de complexos com mais de uma forma auxiliar e separar o banco de dados de LVC em três amostras, a dos complexos com particípio, com gerúndio e com infinitivo. 33 Nesta análise, agregam-se aos padrões tradicionais de oração as estruturas optativas por meio das quais se exprime um desejo (Ex.:Deus o proteja.) bem como as sentenças clivadas, que, segundo Braga (1991) apud Vieira (2002), admitem seis subtipos de clivagem, a depender dos critérios de distribuição dos constituintes, do padrão entonacional, da localização do acento primário e da função do elemento focalizado. Eis, então, os possíveis modelos de clivagem: (a) sentença clivada stricto sensu (Ex.: É isso

89 88 versus dependente; (ii) coordenada versus subordinada; (iii) desenvolvida versus reduzida, no intuito de corroborar a hipótese de que a colocação proclítica/pré-complexo verbal se daria mais freqüentemente em contextos de maior dependência sintática, principalmente naqueles em que os elementos subordinativos se fazem presentes, ao passo que a ordem enclítica/ pós-complexo verbal ocorreria em número superior nos domínios de maior independência sintática entre orações relacionadas sem elos formais. Quanto às formas gerúndio e infinitivo, notar-se-ia, de modo particular, nas sentenças reduzidas por elas integradas, uma motivação à ocorrência da ênclise e da variante póscomplexo verbal. Mediante os dados colhidos na amostra investigada, expõem-se, na seqüência, os fatores considerados para essa variável: Oração independente [Oração absoluta, coordenada assindética ou principal] Ex 4[LVS] : Ex 5[LVC] : Ricardo Reis levanta-se, põe a gravata, vai sair, mas ao passar a mão pela cara sente a barba crescida [...]. [JS-PE-LVS-52] Tenho fé em S. José que ainda chove! Tem-se visto inverno começar até em abril. [RQ-PB-LVC-32] Oração coordenada sindética Ex 6[LVS] : A bondade do major inspirava [...] muita confiança, e lembraram-se por isso de recorrer a ele de novo. [BG-PB-LVS-19] Ex 7[LVC] : Instantes depois Guida recuava um passo e ia sentar-se no chão, quebrada, numa grande fadiga. [JCP-PE-LVC-29] Oração subordinada desenvolvida que eu leio.); (b) construção é que (Ex.: O motorista é que conhece o caminho.); (c) sentença pseudoclivada (Ex.: Quem ordena é o dono.); (d) foco ser (Ex.: As crianças estão é contentes.); (e) Que foco (Ex.: Os mais velhos que decidem a educação dos filhos na família.); (f) duplo foco (Ex.: É a refeição é a que está saborosa.). 34 Atribui-se, aqui, a classificação de oração independente àquelas estruturas caracterizadas pela ausência de elementos formais que desencadeiam os processos de coordenação e de subordinação. Convém esclarecer que não se presume uma independência (sintática/semântica) efetiva entre orações. Nesses termos, compreenda-se que (in)dependência salienta, exclusivamente, a (não-)ocorrência explícita de conectores entre orações. Desse modo, explica-se a decisão de inserir, no fator das orações independentes, as tradicionais sentenças absolutas, coordenadas assindéticas e principais.

90 89 Ex 8[LVS] : Os terríveis pensamentos que o agitavam produziam nele uma desusada energia. [AH-PE-LVS-19] Ex 9[LVC] : Tiago havia dito que teria de levá-la novamente para a sujeira. [DSQ-PB-LVC-32] Oração subordinada reduzida de infinitivo Ex 10[LVS] : Aqueles livros uns cem, no máximo eram velhos companheiros que ela escolhia ao acaso, para lhes saborear um pedaço aqui, outro além, no decorrer da noite. [RQ- PB-LVS-32] Ex 11[LVC] : [...] creio ter-lhe dito um dia que a Lídia tinha um irmão [...]. [JS-PE-LVC-52] Oração subordinada reduzida de gerúndio Ex 12[LVS] : Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto [...]. [AAz-PB-LVS-29] Ex 13[LVC] : A senhora aprumou-se, sacudiu a cabeleira para trás estando se equilibrando na listra até chegar ao toca-discos. [LFT-PB-LVC-52] Estrutura optativa Ex 14[LVS] : O pai do Céu o acolhesse no misericordioso seio que por aquela corda de praias, de Nazaré a Matozinhos, estava para nascer [...]. [RP-PB-LVS-29] Ex 15[LVC] : [...] Antes a peste me tivesse levado. [JCP-PE-LVC-42] Sentença clivada Ex 16[LVS] : Chegara até a se arriscar em leituras socialistas, e justamente dessas leituras é que lhe saíam as piores das tais idéias, estranhas e absurdas à avó. [RQ-PB-LVS-32] Ex 17[LVC] : O cego é que venha buscá-la aqui, se for capaz!... desafiou o vendeiro de si para si. [AAz-PB-LVC-29] Presença/ausência de possível elemento proclisador Ancorada na hipótese da existência de determinados itens gramaticais que possivelmente desencadeiam o processo de colocação, esta investigação efetua o controle do contexto anterior imediato ou não à seqüência clítico/verbo ou clítico/complexo verbal por meio da presente variável, que congrega fatores concebidos como atratores tradicionais e não-tradicionais. A opção por se ponderar até mesmo a atuação de elementos não considerados pela tradição gramatical como atratores

91 90 como, por exemplo, conjunções coordenativas, preposições e SN sujeito deve-se à hipótese de que diversos itens, ainda que não-canônicos, possam motivar, em certa medida, com pesos distintos, a ocorrência das posições proclítica e pré-lvc. A fim de tornar criteriosa a codificação, algumas medidas se fizeram necessárias nos contextos em que havia mais de um elemento candidato a atuar como proclisador. Nos casos em que, dos possíveis elementos desencadeadores de próclise, um fosse tido como atrator tradicional, e outro não, considerou-se, na codificação, o elemento tradicional; nos casos em que figurassem dois elementos tradicionais ou dois elementos não-tradicionais, considerou-se o elemento mais próximo ao clítico. Sob essas palavras, verifiquem-se os seguintes fatores controlados: Verbo/complexo verbal não antecedido por possível elemento proclisador 35 Ex 18[LVS] : Causar-lhe-ia riso a façanha desse camponês da Suíça [...].[BG-PB-LVS-19] Ex 19[LVC] : Venho salvar-te, homem! replicou o bobo. [AH-PE-LVC-19] Verbo/complexo verbal antecedido por SN sujeito nominal 36 Ex 20[LVS] : O sol encontrava-o sempre de pé, e em pé o deixava ao esconder-se. [JD-PE-LVS-29] Ex 21[LVC] : As mulheres foram se levantando da mesa. [JLR-PB-LVC-42] Verbo/complexo verbal antecedido por sujeito do tipo pronome pessoal Ex 22[LVS] : Num domingo de junho de 1891 ela sentou-se na sua sala, muito fresca e perfumada [...].[JL-PB-LVS-29] Ex 23[LVC] : Parte-se carregado de coisas, elas vão-se perdendo pelo caminho. [VF-PE-LVC-52] Verbo/complexo verbal antecedido por sujeito do tipo pronome indefinido Controlam-se, a partir deste fator, os contextos integrados pelo verbo/complexo verbal em posição inicial absoluta de período ou de oração, ainda que esta esteja antecedida por outra oração. 36 Por conta do reduzido número de SNs sujeito nominal integrados por constituintes adjuntos na amostra analisada (Ex.: Os joelhos d Egas curvaram-se debaixo dele. [AH-PE-LVS-19]. Ex.: A cachorra Baleia foi enroscar-se junto dele. [GrR-PB-LVC-42]), decidiu-se agrupá-los juntamente com os SNs simples. 37 Embora os termos ninguém, nada e nenhum pertençam à classe dos pronomes indefinidos, optou-se por considerá-los no fator elementos de negação.

92 91 Ex 24[LVS] : Tudo me repele aqui! [DSQ-PB-LVS-42] Ex 25[LVC] : Mas isso fora há umas três noites, alguém lhe teria dito? [VF-PE-LVC-52] Verbo/complexo verbal antecedido por sujeito do tipo pronome demonstrativo Ex 26[LVS] : [...] este lhes serve para desdenhar os pobres países, até a chuva natural [...].[JS-PE- LVS-52] Ex 27[LVC] : Tropas do exército regular do Sul, ajudadas pelos seus aliados brancos de além-mar, tinham sido levadas em helicópteros para o lugar onde se presumia estivesse o inimigo, mas este se havia sumido por completo. [EV-PB-LVC-52] Verbo/complexo verbal antecedido por complemento preposicionado anteposto Ex 28[LVS] : Dos grandes pecadores fazem-se os grandes santos, como da imundícia e podridão brotam por vezes as mais lindas e viçosas plantas. [BG-PB-LVS-19] Ex 29[LVC] : Da rapidez dessa réplica poder-se-ia calcular o humor do director, ou antes, do "patrão". 38 [FN-PE-LVC-52] Verbo/complexo verbal antecedido por predicativo do sujeito Ex 30[LVS] : [...] um pouco trêmulo abriu-a defronte dos olhos e leu-a demoradamente. [AAz-PB- LVS-29] Ex 31[LVC] : Não houve dado em ambas as amostras. Verbo/complexo verbal antecedido por elemento de negação Ex 32[LVS] : Nunca mais cairia noutra. Que se o papá soubesse, não lhe daria mais brinquedos bonitos. [AlR-PE-LVS-42] Ex 33[LVC] : E prestes voltava a cara para a outra banda, para se rir à vontade... não fosse vê-lo [...] Sultão... [TC-PE-LVC-29] Verbo/complexo verbal antecedido por advérbio (um só vocábulo) canônico 39 Ex 34[LVS] : Já se sabe que houve nesse dia função [...].[MAA-PB-LVS-19] Ex 35[LVC] : Lá vou soltá-lo. [MA-PB-LVC-29] 38 Conforme se verá mais adiante, devido aos escassos números de dados, esta variante não se submete ao tratamento variacionista aqui desenvolvido. 39 Trata-se, neste caso, das formas adverbiais mais citadas nas listas tradicionais de atratores, conforme se apresentou na revisão da literatura acerca do tema da colocação.

93 92 Verbo/complexo verbal antecedido por advérbio (um só vocábulo) não-canônico Ex 36[LVS] : Depois sentiu-se uma grande chilreada, o frêmito de várias asas, e uma nuvenzinha de melros, precedida do par que guerreava, perdeu-se para os lados do pico. [VN-PE- LVS-42] Ex 37[LVC] : Agora Guida se podia levantar um pouco mais senhora de si. [JCP-PE-LVC-42] Verbo/complexo verbal antecedido por advérbio com sufixo mente Ex 38[LVS] : E aflitivamente admirava-se de que a multidão se não espantasse, ao ver aquela abominável ruína ambulante [...]. [AB-PE-LVS-32] Ex 39[LVC] : Encostou-se à porta, dobrando-se, aniquilado... mas ansiadamente teve que endireitar-se [...].[BG-PB-LVC-19] Verbo/complexo verbal antecedido por locução adverbial Ex 40[LVS] : Em seguida ajoelhou-se na pele de onça, estendida como um tapete aos pés da cama, pousou os cotovelos no chão, cruzou as mãos e sobre elas deitou as barbas. [RO-PB- LVS-29] Ex 41[LVC] : Os anjos [...] sorriam; e a cada oração do mancebo se iam atenuando e descontando, um a um, no livro da vida que diante do Eterno está aberto, os crimes enormes do velho pecador. [AG-PE-LVC-19] Verbo/complexo verbal antecedido por operadores de foco do tipo só, apenas, até, mesmo, ainda, também Ex 42[LVS] : A notoriedade, o reconhecimento público, o aplauso, a admiração dos eruditos, a glória, o sucesso - inclusive mundano, [...] Pedro Archanjo só os teve post-mortem.. [JAm-PB-LVS-52] Ex 43[LVC] : Jisé Simpilício e Aristides mesmo estão se engordando [...].[GR-PB-LVC-42] Verbo/complexo verbal antecedido por preposição para Ex 44[LVS] : E prestes voltava a cara para a outra banda, para se rir à vontade... [TC-PE-LVS-29] Ex 45[LVC] : Quando menos se contava, estacou por falta de largueza e Guida saiu com o perdigoto na mão para o ir deixar no meio dumas moitas. [JCP-PE-LVC-42] Verbo/complexo verbal antecedido por preposição a [ao] Ex 46[LVS] : Todo ele estremecia como se houvesse lavas a ferverem-lhe no íntimo. [RP-PB-LVS- 29] Ex 47[LVC] : Não houve dado em ambas as amostras.

94 93 Verbo/complexo verbal antecedido por preposição de Ex 48[LVS] : Conheço-te, fito-te ainda um pouco na hesitação de te ver aqui, estás só. [VF-PE- LVS-52] Ex 49[LVC] : É estranho, pensou Ricardo Reis, não me lembrava deste relógio, ou esqueci-me dele depois de o ter ouvido pela primeira vez. [JS-PE-LVC-52] Verbo/complexo verbal antecedido por preposição por Ex 50[LVS] : O universo ainda não parou por lhe faltarem alguns poemas mortos em flor na cabeça de um varão ilustre ou obscuro [...]. [MA-PB-LVS-29] Ex 51[LVC] : Não houve dado em ambas as amostras. Verbo/complexo verbal antecedido por preposição sem Ex 52[LVS] : Subiu as escadas, disposto a pôr de parte todas as cautelas, e a dar a novidade sem lhe importar as conseqüências. [JD-PE-LVS-29] Ex 53[LVC] : Não houve dado em ambas as amostras. Verbo/complexo verbal antecedido por preposição em Ex 54[LVS] : Foi aceita a idéia, ainda que houvesse dificuldade em se encontrarem pares. [MAA- PB-LVS-19] Ex 55[LVC] : Não houve dado em ambas as amostras. Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa aditiva Ex 56[LVS] : Calculou que estaria em casa das pupilas, e dirigiu-se para lá. [JD-PE-LVS-29] Ex 57[LVC] : Explicou-lhe, como pôde [...] e acabou perguntando-lhe [...].[MA-PB-LVC-29] Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa alternativa Ex 58[LVS] : Alguém transporta ao colo uma criança, que pelo silêncio portuguesa deve ser, não se lembrou de perguntar onde está, ou avisaram-na antes [...]. [JS-PB-LVS-52] Ex 59[LVC] : Podes conservá-la ou podes destruí-la [...]. [JAl-PB-LVC-19] Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa adversativa

95 94 Ex 60[LVS] : Uma das extravagâncias do dono foi dar-lhe o seu próprio nome; mas, explicava-o por dois motivos, um doutrinário, outro particular. [MA-PB-LVS-29] Ex 61[LVC] : Sua pobre cabeça não se comprazia em especulações sutis: homem de ação, raciocinava apenas para deliberar, e logo; hesitava um instante na escolha do caminho, mas acabava sempre por tomá-lo, e não retrocedia. [AAr-PB-LVC-32] Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa conclusiva Ex 62[LVS] : Não houve registro de dado em ambas as amostras. Ex 63[LVC] : Não houve registro de dado em ambas as amostras. Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção coordenativa explicativa 40 Ex 64[LVS] : Se a mulher tivesse concordado, Fabiano arrefeceria, pois lhe faltava convicção; como sinhá Vitória tinha dúvidas, Fabiano exaltava-se, procurava incuti-lhe coragem. [GrR-PB-LVS-42] Ex 65[LVC] : Demora-te, pois, João, demora, que me hás de acompanhar, e mais ao José das Dornas, em uma saúde aos noivos. [JD-PE-LVC-29] Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção subordinativa Ex 66[LVS] : A mãe encontrava-se à porta de casa, agachada à maneira dos mouros. Estava de guarda à única rua do casal por onde haviam de passar os dois viajantes quando se dirigissem para a estrada. [JCP-PE-LVS-42] Ex 67[LVC] : Quando acabaram de acender-se as luzes também o movimento cessou. Principiaram-se os serões. [RP-PB-LVC-29] Verbo/complexo verbal antecedido por que em locução conjuntiva Ex 68[LVS] : [...] o Tomé punha-se a fazer de interesseiro consigo mesmo, resmungando alto para que o ouvisse [...]. [TC-PE-LVS-29] Ex 69[LVC] : Antes que viessem surpreender-me corri a vestir-me, e resoluto, os olhos cheios de lágrimas e a corda à cintura, voltei a buscar depois a aguiazinha. [FA-PE-LVC-29] Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção integrante que 40 Convém registrar a tênue distinção entre as orações coordenadas explicativas e as orações subordinadas causais, uma vez que, segundo Vieira (2002), em ambas, se encontra presente a causa de um elemento em relação a outro. Enquanto nas explicativas a causa do dito é verificada, nas causais é observada a causa do fato em si.

96 95 Ex 70[LVS] : A princípio o Leonardo quis que a festa tivesse ares aristocráticos, e propôs que se dançasse o minueto da corte. [MAA-PB-LVS-19] Ex 71[LVC] : [...] conservaram-se encolhidos, temendo que a nuvem se tivesse desfeito, vencida pelo azul terrível, aquele azul que deslumbrava e endoidecia a gente. [GrR-PB-LVC- 42] Verbo/complexo verbal antecedido por conjunção integrante se Ex 72[LVS] : Digam lá vocês se no palácio mexe-se mais no negócio dos ladrões... [RP-PB-LVS- 29] Ex 73[LVC] : Não houve registro de dado em ambas as amostras. Verbo/complexo verbal antecedido por pronome relativo que Ex 74[LVS] : Enquanto ele sobe as escadas, direi ao leitor o motivo do desassossego, em que nos aparece o velho clínico. [JD-PE-LVS-29] Ex 75[LVC] : Baleia [...] vigiava, aguardando a parte que lhe iria tocar, provavelmente os ossos do bicho e talvez o couro. [GrR-PB-LVC-42] Verbo/complexo verbal antecedido por outros pronomes/advérbios relativos, tais como: cujo, o qual, onde, quem Ex 76[LVS] : O automóvel estacou à porta do hospital onde se via um grande movimento de veículos e soldados. [EV-PB-LVS-52] Ex 77[LVC] : Metia entre dentes um pedacito de queijo, logo uma côdea de pão, e fazendo umas grandes rugas na testa, de quem começa a zangar-se, voltava-se então muito sério [...].[TC-PE-LVC-29] Verbo/complexo verbal antecedido por que em sentenças clivadas Ex 78[LVS] : [...] só muito depois disso é que me contaram em segredo que as jóias tinham sido achadas no quintal [...]. [RP-PB-LVS-29] Ex 79[LVC] : Estou com pena do compadre José Amaro. Como é que vai ele se arrumar naquela casa abandonada. [JLR-PB-LVC-42] Verbo/complexo verbal antecedido por palavra QU- interrogativa do tipo pronominal, tais como: (o) que, quem, qual Ex 80[LVS] : Quem poderia rir, quem a acharia grotesca, ou quem encontraria motivo de escândalo? [ABL-PE-LVS-42] Ex 81[LVC] : E quem me poderá obrigar? [JMM-PB-LVC-19]

97 96 Verbo/complexo verbal antecedido por palavra QU- interrogativa do tipo adverbial, tais como: quando, como, onde, por que Ex 82[LVS] : Como se chama? [JMM-PB-LVS-19] Ex 83[LVC] : Como queres igualar-te ao imenso e imperscrutável? [VF-PE-LVC-52] Verbo/complexo verbal antecedido por outro pronome átono Ex 84[LVS] : Quando chegamos e me reconheceu, toda a boca se lhe contorceu num sorriso, fezme um sinal para eu me aproximar. [VF-PE-LVS-52] Ex 85[LVC] : Eram onze e meia quando saiu de casa.[...] Ela lho [lhe + o] tinha dito, Ah, sim senhor doutor, tenho um irmão que é marinheiro no Afonso de Albuquerque [...]. [JS- PE-LVC-52] Verbo/complexo verbal antecedido por elementos discursivos/fáticos 41 Ex 86[LVS] : A comida, essa sim, arranjava-lhe mediante quatrocentos réis por dia [...]. [AB-PE- LVS-32] Ex 87[LVC] : Bem, vai-te deitar, epilogou o conde, de manso, tomando à escada. [AH-PE-LVC- 19] Verbo/complexo verbal antecedido por hesitações [eh, ah, ora] e interjeições Ex 88[LVS] : Então é só isso? Ora valha-te Deus! É verdade. [JD-PE-LVS-29] Ex 89[LVC] : Ora... a tudo a gente se acostuma! Adeus, vá ver-me de vez em quando. [JL-PB- LVC-19] Contexto constituído de partícula eis Ex 90[LVS] : Não houve dado em ambas as amostras. Ex 91[LVC] : Não houve dado em ambas as amostras. Distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída por clítico e item/complexo verbal O controle do grupo de fatores agora descrito é motivado pela hipótese de que a influência dos operadores de próclise não se daria de modo idêntico nos contextos em que houvesse itens interpostos entre o proclisador e a seqüência constituída por clítico e determinado verbo/complexo verbal. 41 Cabe informar que, neste fator, foram consideradas as ocorrências de vocativo no contexto em que os clíticos se fizeram presentes.

98 97 Acredita-se que o comprometimento da atuação dos elementos proclisadores nesses contextos, quanto à distância, esteja intimamente ligado a razões de ordem cognitiva e/ou rítmica. No que respeita à circunstância cognitiva, aventa-se que, mediante Vieira (2002), quanto mais presente /próximo se encontrar o operador de próclise no momento em que se enuncia o clítico pronominal, maior atenção do usuário da língua é dada à atuação do proclisador. Em termos prosódicos, pressupondo-se que tais proclisadores podem possuir por função certa influência de natureza rítmica, esta estaria comprometida pela distância que dificultaria ou mesmo impediria a subida do clítico. Para que tal intervalo entre o operador de próclise e a cadeia segmental clítico e verbo/complexo verbal passe por uma mensuração, procede-se à contagem do número de sílabas canônicas (cf. CRYSTAL, 1988: 43) pertencentes a tal distância. É oportuno ressaltar que, embora o referido procedimento não seja o mais adequado para o controle exato da distância, uma vez que as estruturas silábicas mesmo idênticas podem ser produzidas com durações distintas, avalia-se que a opção pelo controle silábico ainda seja o modo preferível de aferição comparado a outras unidades 42. Pelo que anteriormente foi dito, estabelecem-se, abaixo, os fatores para a variável em destaque: Zero sílaba Ex 92[LVS] : Aquela relíquia, que se dizia milagrosa, era sua última esperança [...]. [JMM-PB-LVS- 19] Ex 93[LVC] : A de fora já está se dissipando e aqui começa outra [...]. [LFT-PB-LVC-52] Uma sílaba Ex 94[LVS] : O único problema que lhe apareceu claro e palpável era o que se lhe referia à própria posição naquele momento [...]. [AAr-PB-LVS-32] Ex 95[LVC] : Duma virtude não sujeita à tentação, nem Deus pode chamá-la virtude. [AAb-PE- LVC-19] Duas sílabas 42 A esse propósito, considera Naro & Scherre apud Vieira (2002: 115) que cada sílaba ocupa aproximadamente a mesma quantidade de tempo, enquanto outras unidades têm dimensões diversas e diferenciadas.

99 98 Ex 96[LVS] : Fez que não, com um gesto, ao frasco de bolso que ele lhe pôs à frente [...]. [JCP-PE- LVS-42] Ex 97[LVC] : [...] receei as interpretações que delas se poderiam tirar. [AAb-PE-LVC-52] Três sílabas Ex 98[LVS] : Gonçalo, se é lícito comparar uma frágil criatura humana com a divindade, estava então como o Cristo [...], em que no monte das Oliveiras junto à torrente do Cedron, [...] suou sangue e sentiu sua alma desfalecer e vacilar ao receber o cálice do martírio, que um anjo lhe apresentava. [BG-PB-LVS-19] Ex 99[LVC] : Cá meu amo tinha-me dito: << Vais ó Garnel e perguntas o sr. Roberto se quer que o ajudes a tirar a mala da loja [...]>>. [VN-PE-LVC-42] Quatro sílabas Ex 100[LVS] : No dia em que a Câmara se lembrasse de trazer eletricidade para ali, uma boa esplanada havia de chamar muitos banhistas a São Romão. [JCP-PE-LVS-42] Ex 101[LVC] : Nunca seu marido pudera acostumar-se à idéia da cegueira irremediável. [CM-PE- LVC-32] Cinco sílabas Ex 102[LVS] : Assim, em vez de disfarçar os soldados e espalhá-los para não chamarem a atenção do povo, ele, ao contrário, entendia que a tropa real se humilharia em querer encobrir essa qualidade [...]. [AAr-PB-LVS-32] Ex 103[LVC] : Dir-se-ia que a natureza acabava de cobrir-se de lutuosos merinós, se não fosse o cetim azulado do firmamento, e se não chovesse o riso das estrelas. [RP-PB-LVC-29] Seis sílabas Ex 104[LVS] : Já em algumas eiras se expunham ao sol, para a secagem [...]. [CM-PE-LVS-32] Ex 105[LVC] : Será que amanhã sua mãe podia me emprestar o carro? [LFT-PB-LVC-52] Sete a dez sílabas Ex 106[LVS] : Entretanto, parece que um renascimento de vida se operara nele. [AAr-PB-LVS-32] Ex 107[LVC] : [...] e súbito se inundava a rua de rapazes, rotos, descalços, alguns quase nus [...] gritando-lhe, acenando-lhe, espantando-o como se o mesmo vento de folia os houvesse varrido a todos, varrendo a própria rua... [TC-PE-LVC-29] Onze sílabas em diante

100 99 Ex 108[LVS] : A moça percebia confusamente que aquele trôpego ancião, talvez enfermo, de enxovalhado paletó, calças com remendo, buracos nos sapatos, roto coração, eralhe próximo, um parente quem sabe? [JAm-PB-LVS-52] Ex 109[LVC] : Era terrível quando, ao voltar uma esquina ou ao sair de manhã de sua casa, o cidadão esbarrava com uma daquelas solenes figuras, que, desdobrando junto dele uma folha de papel, começava a lê-la em tom confidencial! [RB-PE-LVC- 32] Tempo e modo das formas verbais/(semi-)auxiliares Julga-se relevante a observação da influência exercida pelos tempos e modos verbais para a manifestação da regra variável, tendo em vista o postulado de que, nos domínios integrados por verbos flexionados nos tempos do subjuntivo, a colocação proclítica/pré-complexo verbal seria mais produtiva, pela circunstância de esse modo figurar, muitas vezes, em sentenças subordinadas providas dos chamados fatores de próclise. No que concerne ao indicativo, seus tempos apresentariam uma neutra atuação no fenômeno da ordem. Por seu turno, as formas nominais do verbo bem como o modo imperativo constituiriam os contextos de maior proeminência de ênclise e da variante intra-complexo verbal com hífen. Sob essas declarações, eis a configuração da variável pelos fatores subscritos: Presente do indicativo Ex 110[LVS] : O tempo estava morno, impregnado dessa quietude de natureza exaurida que se encontra num baque ondulante de folha [...]. [ABL-PE-LVS-42] Ex 111[LVC] : Confesso que dou o cavaco por elas, mas as moças me têm posto velho. [JMM-PB- LVC-19] Pretérito imperfeito do indicativo Ex 112[LVS] : Os meirinhos desse belo tempo não, não se confundiam com ninguém [...]. [MAA- PB-LVS-19] Ex 113[LVC] : Não podia enganar-me na marcha. [FA-PE-LVC-29] Pretérito perfeito do indicativo Ex 114[LVS] : [...] o mosteiro edificou-se, e a povoação nasceu. [AH-PE-LVS-19] Ex 115[LVC] : Pôs-se a fazer movimentos para se aquecer. [JCP-PE-LVC-42]

101 100 Pretérito mais-que-perfeito do indicativo Ex 116[LVS] : Além disto recebeu o Leonardo ao mesmo tempo carta de seu pai, na qual o chamava para fazer-lhe entrega do que lhe deixara seu padrinho, que se achava religiosamente intacto. [MAA-PB-LVS-19] Ex 117[LVC] : E depois do almoço, como o céu abrisse e estendesse um grande lençol de luz sobre a varanda, viera sentar-se ali, a cabeça abrigada na sombra do alpendre e as pernas estendidas ao banho caricioso do sol. [RB-PE-LVC-32] Futuro do presente do indicativo Ex 118[LVS] : Realmente, nenhuma figura intelectual gozou de tamanha evidência [...] com as costumeiras e honrosas exceções das quais logo se dará notícia. [AAb-PB-LVS-52] Ex 119[LVC] : Gonçalo Mendes da Maia virá soltar-me... Sei certo que há de vir. [AH-PE-LVC- 19] Futuro do pretérito do indicativo Ex 120[LVS] : Dir-se-ia que, no fundo da sua memória, a lembrança adormecida daquele nome despertara subitamente... [TC-PE-LVS-29] Ex 121[LVC] : Um dia haveria de reencontrá-los, em algum lugar, de alguma maneira. [EV-PB- LVC-52] Presente do subjuntivo Ex 122[LVS] : São outras gentes; gozam a paz da fortuna e das famílias, bebem vinho tinto nos bares do Guincho ou de Cascais sem que alguém lhes leve a mal. [AB-PE-LVS-32] Ex 123[LVC] : [...] É bem capaz que eu a tenha de levar de novo para... a sujeira... [...].[DSQ-PB- LVC-42] Pretérito imperfeito do subjuntivo Ex 124[LVS] : Rubião quis que se agasalhasse, e trouxe-lhe um fraque, um colete, um chambre, um capote, à escolha. [MA-PB-LVS-29] Ex 125[LVC] : Isso é que seria bom se se pudesse dispensar... [AAz-PB-LVC-29] Futuro do subjuntivo Ex 126[LVS] : Ouvirei vossa confissão quando vos aprouver, meu irmão. [AH-PE-LVS-19] Ex 127[LVC] : Se não quiser me ouvir que se retire. [JLR-PB-LVC-42] Imperativo

102 101 Ex 128[LVS] : A cruz! lembro. Ponho na sua janela, no lado de fora, não se esqueça de pegar! [LFT-PB-LVS-52] Ex 129[LVC] : Vá-se deitar! [VN-PE-LVC-42] Infinitivo Ex 130[LVS] : Compreendia que estava num beco cego e falso e não seria o amigo quem lhe ia estender a mão para a tirar de lá. [JCP-PE-LVS-42] Ex 131[LVC] : Sentia não poder atendê-lo. [NP-PB-LVC-52] Gerúndio Ex 132[LVS] : O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade malapessoado [...]. [MAA-PB-LVS-19] Ex 133[LVC] : Um ano, fins de Outubro, havendo-se abalançado com tempo incerto até o extremo das cordas, foi caso que já ele, como arrais responsara o lanço [...]. [AqR-PE-LVC- 32] Tipo de clítico pronominal A opção pelo controle da variável agora descrita procede do intuito de verificar em que medida a ordem dos clíticos pronominais é motivada pela forma pronominal ou pela função sintática que os pronomes exercem frente aos elementos verbais com os quais se associam. Alega-se por hipótese que os clíticos de primeira e segunda pessoas, por motivo de focalização, apresentariam maior tendência a ocorrer em posição de destaque, uma vez que eles, no discurso, identificam as vozes do locutor bem como do interlocutor, função não exercida pelos demais pronomes. As formas pronominais o, a (s) também podem assumir comportamento particular na ordem dos pronomes, especialmente em virtude da debilidade fônica de sua constituição silábica (uma só vogal), que faz com que elas se constituam, em certos enunciados, como lo/la (s), por exemplo. No contexto de complexos verbais, presumese que tais formas tornariam inviáveis determinadas posições como, por exemplo, a ordem intra-complexo verbal. Desse modo, possivelmente, esses pronomes se aglutinariam a outros elementos sonoros da lexia verbal complexa, como postula Rocha Lima (2005 [1972]: 455]:

103 102 [A] construção [verbal complexa, integrada por clítico interposto,] não tem agasalho com o pronome o (a, os, as), em razão, decerto, do volume fonético dele, mais reduzido do que o das demais partículas pronominais. De fato, não se usa estou o esperando, etc. O pronome se, conforme atestam outros estudos sobre o fenômeno (cf. capítulo 2), parece ter seu padrão de ordem influenciado pela função que exerce. No que tange ao domínio dos complexos verbais, por exemplo, supõe-se que o clítico se de caráter reflexivo/inerente esteja mais propenso, no Português Brasileiro, a se cliticizar ao verbo principal por esse lhe conferir função sintático-semântica de objeto/tema verbal. O se indeterminador/apassivador tenderia a ficar na posição adjacente ao primeiro verbo da lexia verbal complexa. Me Após essas declarações, considerem-se as seguintes ocorrências: Ex 134[LVS] : Obrigado pela parte que me toca, respondeu-lhe o homem. [JCP-PE-LVS-42] Ex 135[LVC] : A Ana já veio me dizer que exige mais ordenado! [AlR-PE-LVC-42] Te Ex 136[LVS] : E acrescentava com força: É o que te digo: vou e vou, porque devo, porque quero, porque é do meu direito. [LB-PB-LVS-32] Ex 137[LVC] : Sim, vou deixar-te, vou esperar por ele. [AAb-PE-LVC-52] Se do tipo reflexivo/inerente Ex 138[LVS] : E parando à porta de casa, ainda a mulher se benzia do alto da escada, mexendo e remexendo o alguidar de barro [...]. [TC-PE-LVS-29] Ex 139[LVC] : O mestre José Amaro, arrastando a perna torta, foi se chegando para mesa posta, uma pobre mesa de pinho sem toalha. [JLR-PB-LVC-42] Se como índice de indeterminação do sujeito Ex 140[LVS] : Era raro e alarmante, em março, ainda se tratar de gado. [RQ-PB-LVS-32] Ex 141[LVC] : Voavam sempre, não se podia saber donde vinha tanto urubu. [GrR-PB-LVC-42] Se apassivador

104 103 Ex 142[LVS] : Ela move-se ritmicamente [...] naquela sala onde se recolhem em pilhas as maçãs [...]. [ABL-PE-LVS-42] Ex 143[LVC] : [...] e ele vai misturando, no alvoroçado pensamento, conquistas bélicas e amorosas [...] e mais que tudo, as histórias que sobre isso se hão de contar à noite no refeitório dos Grilos hoje, oh impiedade! [AG-PE-LVC-19] O(s)/a(s) Ex 144[LVS] : A terra sobranceia o oceano, dominante, do fastígio das escarpas; e quem a alcança, como quem vinga a rampa de um majestoso palco, justifica todos os exageros descritivos [...]. [EC-PB-LVS-32] Ex 145[LVC] : [...] no dia em que a houveres penetrado inteiramente, [...] terás o maior prazer da vida [...]. [MA-PB-LVC-29] Nos Ex 146[LVS] : E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história. [MAA-PB-LVS-19] Ex 147[LVC] : Tinham-nos avisado do asilo [...]. [VF-PE-LVC-52] Vos Ex 148[LVS] : Pelo contrário. É porque a vossa beleza me exalta que eu encontro nela a força de que antes carecia. E por isso vos peço ajuda nesta circunstância. [AAb-PE-LVS-52] Ex 149[LVC] : Como poderei ajudar-vos? [AAb-PE-LVC-53] Lhe(s) Ex 150[LVS] : Então lhe aparece em sonho a Virgem Mãe de Deus tal qual se achava esculpida na medalha, porém rodeada de todo o esplendor de sua celeste glória [...]. [BG-PB-LVS- 19] Ex 151[LVC] : Eu avancei para Emília; e meu passo hirto, e meu olhar abrasado deviam incutirlhe terror. [JAl-PB-LVC-19] Formas contraídas Ex 152[LVS] : Guida puxou-o pela mão. Apertou-lha [lhe + a] muito com uns dedos úmidos e nervosos. [JCP-PE-LVS-42] Ex 153[LVC] : Eram onze e meia quando saiu de casa.[...] Ela lho [lhe + o] tinha dito, Ah, sim senhor doutor, tenho um irmão que é marinheiro no Afonso de Albuquerque [...]. [JS-PE-LVC-52]

105 104 Tonicidade dos itens verbais (somente para as lexias verbais simples 43 ) De modo a corroborar a hipótese de que a colocação enclítica seria menos proeminente com elementos verbais paroxítonos e proparoxítonos dado o fato de a Língua Portuguesa evitar formações de palavras com acentuação tônica em segmentos silábicos anteriores à penúltima sílaba, isto é, vocábulos proparoxítonos / esdrúxulos, achou-se conveniente a constituição da variável cujos fatores abaixo se ilustram. Vocábulo proparoxítono Ex 154[LVS] : Tivemos a sorte duma alma boa nos socorrer. E onde menos o esperávamos! [AqR-PE-LVS-32] Vocábulo paroxítono Ex 155[LVS] : Qualquer das propriedades a acolheria com o fogão de lenha aceso e o feijão cozido. [NP-PB-LVS-52] Vocábulo oxítono Ex 156[LVS] : O professor disse que sim, conclamou o líder capaz de fazê-lo [...]. [JAm-PB-LVS- 52] Número de itens (semi-)auxiliares do complexo verbal Com o propósito de observar se a presença de mais de um verbo (semi-)auxiliar afetaria o número de posições em que o clítico, possivelmente, poderia ocupar no domínio das lexias verbais complexas, estipulou-se o presente grupo de fatores. Conforme já se observou, tendo em vista o número de formas (semi-)auxiliares, a ordem dos pronomes átonos assume mais possibilidades de posicionamento, o que fez isolar, na análise, as ocorrências de construções com mais de uma forma auxiliar. Isso declarado, expõem-se, na seqüência, os fatores inicialmente previstos: Presença de um verbo (semi-)auxiliar Ex 157[LVC] : Luciano tinha-se afastado do quarto e passeava no jardim, fugindo aos olhos de todos e à bulha atormentadora das vozes. [JL-PB-LVC-29] Presença de dois verbos (semi-)auxiliares 43 O controle dessa variável não foi aplicado ao contexto de complexos verbais, em virtude da dificuldade de delimitação dos possíveis vocábulos fonológicos que poderiam ser formados, a depender da ligação do clítico com as formas verbais ou com outros elementos do enunciado.

106 105 Ex 158[LVC] : [...] ninguém estranhará que vá saber, interessar-se, Coitada da rapariga, o que lhe havia de ter acontecido, há pessoas que nascem sem sorte. [JS-PE-LVC-52] Presença de três ou mais verbos (semi-)auxiliares Ex 159[LVC] : Não houve dado em ambas as amostras. Forma do verbo principal (não-flexionado) Mediante tal variável, objetivou-se avaliar a existência de possíveis padrões de ordem motivados pela natureza da forma do verbo principal da lexia verbal complexa. Como já se salientou, por meio do tratamento dessa variável, foi possível analisar separadamente os complexos constituídos por gerúndio, por particípio e por infinitivo. A hipótese que sustenta a pertinência do controle do verbo principal sugere, para o Português como um todo, que determinadas formas nominais permitiriam maior opção de posicionamento dos clíticos do que outras. Aventa-se, por exemplo, que a forma de infinitivo se constituiria como contexto profícuo à ocorrência da variante pós-complexo verbal. No que respeita ao particípio, conforme preconizado pelos compêndios gramaticais e diversos estudos sobre a ordem, tal forma não favoreceria essa variante. Pagotto (1992), por meio da relevância dessa variável, sustenta que a mudança ocorrida no padrão cl-vv para a ordem Vcl-V, verificada no Português Brasileiro, na segunda metade do século XVIII, foi deflagrada, em primeira instância, pelos complexos verbais integrados por infinitivo seguidos por estruturas constituídas de verbo principal no particípio. Apontadas tais considerações, tomem-se os exemplos subseqüentes: Verbo principal no gerúndio Ex 160[LVC] : Mas a mão ia-se demorando, chegava a parar [...]. [JCP-PE-LVC-42] Verbo principal do particípio Ex 161[LVC] : As alpercatas dele estavam gastas nos saltos, e a embira tinha-lhe aberto entre os dedos rachaduras muito dolorosas. Os calcanhares, duros como cascos, gretavam-se e sangravam. [GrR-PB-LVC-42] Verbo principal do infinitivo Ex 162[LVC] : Quem examinasse vagarosamente aquela grande coleção de livros havia de espantar-se ao perceber o espírito que presidia a sua reunião. [LB-PB-LVC-32]

107 106 Presença / ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa (apenas para as lexias verbais complexas) Postula-se que a presença de elementos intervenientes no complexo verbal como sintagma, preposição e outros conectores, atuaria, em alguma medida, na manifestação de determinadas variantes da ordem pronominal, em comparação à ausência de qualquer elemento. Acredita-se que, tais como os possíveis elementos proclisadores, os itens em destaque, especialmente as preposições, uma vez na posição entre verbos, apresentariam certo potencial de atração do clítico, consoante pontua Perini (2001: 232) pelos termos abaixo: O clítico antes do [auxiliar] tem aceitabilidade mais ou menos reduzida quando o [auxiliar] vem acompanhado de preposição como em?? Ela se deixou de maquiar [/] * Ela se continuou a maquiar [/]?? Ela se tem de maquiar. Para exemplificação dos fatores desta variável, verifiquem-se os casos a seguir: Presença da preposição a Ex 163[LVC] : Quincas Borba procurou com os pés as chinelas; [...] calçou-as e pôs-se a andar para esticar as pernas. [MA-PB-LVC-29] Presença da preposição de Ex 164[LVC] : Selavisa não merece descrição; porém como o leitor o há-de achar algumas vezes n'esta minha história, direi, por cumprimento, que era de figura grossa, barriguda e baixa [...]. [ArG-PE-LVC-19] Presença da preposição para Ex 165[LVC] : [...] parecendo-lhe quase impossível que João Semana não soubesse já alguma coisa, deu-lhe para tomar o silêncio [...].[JD-PE-LVC-29] Presença do conector que Ex 166[LVC] : Havia que se prevenir, sobretudo quando faltavam escassas horas para o dia terminar. [NP-PB-LVC-52] Presença de sintagma Ex 167[LVC] : [...] sendo assim vai Ricardo Reis barbear-se [...]. [JS-PE-LVC-52]

108 107 Ausência de elementos intervenientes Ex 168[LVC] : Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar... [GR-PB-LVC-42] Tipo de lexia verbal complexa Justifique-se a relevância do grupo de fatores em destaque, tendo em vista que diversos estudos sobre o tema atribuem à composição do complexo verbal a qualidade de variável diretamente motivadora dos padrões de colocação nos domínios das lexias verbais complexas. Por esses termos, registre-se que Mateus et alii (2003), com base em dados do Português Europeu, postulam que, em construções de tempos compostos integradas pela forma verbal ter assim como em estruturas passivas com o verbo cópula ser, a ordem enclítica a tais auxiliares seria registrada com maior proeminência quando da ausência dos elementos proclisadores. Esses elementos, uma vez presentes nos contextos de ocorrência dos clíticos, motivariam a subida do pronome para a posição de próclise ao primeiro verbo. A respeito das estruturas constituídas de formas (semi-)auxiliares modais e aspectuais, propõem por hipótese que as partículas átonas se ligariam ora ao verbo auxiliar ora ao principal. No que concerne ao Português Brasileiro, Perini (2001) advoga que a ordem dos átonos pronominais se restringe aos limites da mesma oração, exceto nos domínios de duas construções, quais sejam: uma integrada pelo verbo saber e a outra constituída de auxiliar seguido de preposição, as quais admitiriam a colocação proclítica ao auxiliar na modalidade escrita da língua, embora as chances de manifestação de tal ordem sejam reduzidas. Presume-se que, no PB, a variante proclítica ao verbo principal (v1 cl v2) poderia ser mais facilmente aceita nos vários complexos, principalmente, na ausência dos operadores de próclise em comparação à variedade européia da língua. Quanto a certas lexias auxiliadas por formas modais, especialmente aquelas integradas pela expressão pode-se, a ênclise ao verbo auxiliar ocorreria em posição de ênclise a v1, constituindo uma estrutura que parece, por vezes, cristalizada para a expressão de indeterminação.

109 108 Em face das hipóteses acima sugeridas, investigam-se as construções, na seqüência, arroladas 44 : Tempos compostos (ter/haver + particípio) e estruturas aspectuais (ir/vir + infinitivo; estar + a + infinitivo; ir/vir/estar + gerúndio), cujo auxiliar se apresenta no segundo nível de afastamento da categoria de auxiliaridade. Ex 169[LVC] : O gosto moderno tem-se modificado, ao que parece, exigindo nos seus tipos de adoção o que quer que seja de franzino e delicado [...]. [JD-PE-LVC-29] Perífrases verbais modais e aspectuais de natureza diversa, cujo auxiliar revela certo grau de esvaziamento semântico e o verbo principal possui o mesmo referentesujeito (haver/ter + de/que + infinitivo; poder/dever/costumar + infinitivo; acabar + de/por + infinitivo; chegar/começar/voltar/pôr-se/tornar-se/continuar + a + infinitivo; acabar/ficar/continuar/andar + gerúndio). Ex 170[LVC] : Era também agilíssimo no jogo da faca; com os pés atados bem juntos e com uma faca em punho desafiava a qualquer, e com tal destreza se defendia que nem assim o podiam tocar. [BG-PB-LVC-19] Complexos bi-oracionais com mesmo referente-sujeito, cujo auxiliar se revela mais próximo do nível de lexicalidade 45 (estruturas com verbos volitivos/optativos ou declarativos, tais como: querer / desejar / tentar / procurar / conseguir / saber / evitar / prometer / resolver / decidir/ pretender / preferir + infinitivo). Ex 171[LVC] : Quando desço, Lião a enlaça como se fossem sair dançando as duas, o braço estendido para a frente procurando agarrar-lhe a mão. [LFT-PB-LVC-52] Arrolados os grupos de fatores com suas respectivas justificativas, ressaltem-se, na seção seguinte, os procedimentos adotados no tratamento técnico-computacional dos dados colhidos. 4.5 Medidas concernentes ao tratamento quantitativo efetuado 44 Não foram constatados dados de ordem pronominal em domínio de estrutura verbal complexa do tipo passiva de ser (ser + particípio) nos corpora examinados. Cabe informar, ainda, que, na codificação inicial, cada estrutura coletada recebeu um código especifico, sendo tratada em separado. 45 Embora as estruturas compiladas no presente fator ofereçam maior margem de dúvidas acerca do caráter variável da regra de colocação, decidiu-se contemplá-las nesta investigação, uma vez que, na amostra analisada concernente às variedades européia e brasileira dos séculos XIX e XX, tais construções se revelaram como ocorrências variáveis a respeito da ordem.

110 109 Realizada a atividade de coleta dos dados, procedeu-se, conforme já se pontuou na subseção referente às etapas da análise variacionista, à codificação dos registros de clíticos pronominais mediante cada fator constituinte das variáveis independentes de natureza lingüística e extralingüística determinadas. Os dados, uma vez codificados, foram submetidos ao tratamento técnicocomputacional auxiliado pelo Pacote de Programas Goldvarb X, instrumental que fornece, dentre outras informações: (a) o índice de aplicabilidade geral dos fatores constituintes da variável dependente; (b) as freqüências absolutas e percentuais, além de pesos relativos 46 para cada variante examinada; (c) os grupos de fatores lingüísticos e extralingüísticos relevantes e não-relevantes à manifestação do fenômeno em análise; bem como (d) o influxo, isto é, o cruzamento entre as variáveis examinadas. A análise estatística inicia-se, pois, por meio da constituição do arquivo de células, o qual concede os valores de freqüência percentual e absoluta das variantes em face dos fatores integrantes das variáveis independentes. É por meio dessa etapa inicial que se constatam em quais contextos o evento sob análise se revela variável ou categórico (ausência absoluta () ou manifestação exclusiva (10) de certa variante em determinado contexto; índice identificado como knockout). De modo a obter valores capazes de informar a real influência dos fatores controlados em conjunto, promove-se o tratamento dos dados segundo os pesos relativos. Para que tais pesos possam ser gerados, torna-se imprescindível nova constituição do arquivo de células sem os contextos categóricos. Assim, realiza-se a recodificação dos fatores da variável independente para a eliminação dos domínios de Knockouts, segundo alguns procedimentos, tais como: desconsideração dos fatores categóricos na leitura da próxima rodada ( não se aplica ), exclusão dos dados categóricos do arquivo de dados ( exclude ), ou amalgamação de fatores, de modo a eliminar os knockouts. A respeito do processo de amalgamação, salienta-se que tal recurso pode ser efetuado não só para dar fim aos dados categóricos como já se afirmou, mas também para compactar fatores que apresentam características semelhantes por meio de combinações entre si. Essa medida colabora para que as percentagens do novo arquivo de células se tornem mais consistentes para a obtenção dos pesos relativos. 46 O peso relativo constitui o valor de aplicação da variante analisada em relação a determinado fator em função da ponderação conjunta de todos os fatores sob análise. Em outras palavras, projeta-se a probabilidade de ocorrência da variante em um dado contexto, no confronto com todos os demais.

111 110 Guy & Zilles (2007), a propósito dos princípios que fundamentam a junção de elementos, ressaltam que a decisão de amalgamar itens deve estar diretamente embasada em justificativas de cunho teórico e quantitativo. No que tange ao caráter teórico, os autores salientam que os fatores a serem amalgamados devem apresentar, entre si, equivalências lingüísticas ou sociais. A propósito da justificativa quantitativa, os itens amalgamados precisam revelar semelhanças quanto à quantidade percentual, considerando, para tanto, a distribuição dos dados e as diferenças percentuais, por exemplo. Como forma de ilustrar o que os referidos autores pontuam, verifique-se que a presente análise, preliminarmente, observa a freqüência percentual e absoluta de todos os fatores das variáveis independentes, como, por exemplo, o grupo possível elemento proclisador, que apresenta, dentre vários outros constituintes, as conjunções coordenativas. Atestadas as semelhanças morfossintáticas de tais conjunções, o processo de amalgamação entre elas torna-se justificado. Ademais, no que toca à amalgamação de caráter quantitativo, promove-se, por vezes, a combinação entre os fatores da variável distância entre um elemento proclisador e seqüência clítico verbo/complexo verbal, que exibem raras ocorrências em alguns fatores inicialmente planejados. Tomadas as devidas decisões quanto ao procedimento de eliminação ou amalgamação de dados, gera-se, então, o arquivo de células a partir do qual se possibilita a análise multivariacional, ou seja, etapa na qual se obtêm os valores referentes aos pesos relativos por meio da ponderação de todas as possíveis influências sobre a variável dependente. Nesse momento, o programa computacional utilizado promove a seleção dos grupos de fatores relevantes estatisticamente, com conseqüente eliminação das variáveis não-significativas. É oportuno salientar que, para a realização das rodadas multivariacionais, os pesos relativos obtidos e apresentados na seção concernente aos resultados da análise possuem como valor de aplicação a variante proclítica versus a posição enclítica, no que respeita à ordem no âmbito das lexias verbais simples. No domínio das estruturas verbais complexas, em razão dos exíguos números de dados de colocação em complexos verbais com gerúndio e particípio conforme se verá na apresentação dos resultados, não se efetua a análise multivariacional para a obtenção dos pesos relativos. No caso das construções com infinitivo, embora haja um número mais expressivo de dados, a opção de segmentar o conjunto de dados em

112 111 subamostras (início absoluto de oração; contextos com proclisadores canônicos e nãocanônicos, em conjunto ou separadamente) também gerou números de dados baixos por fator controlado. Aliada ao fato de se tratar de uma variável dependente do tipo eneária, que teria de ser transformada em binária (pré-lvc versus outras variantes), essa distribuição rarefeita dos dados fez com que também se tomasse por opção metodológica a análise exclusiva dos valores percentuais no caso das construções com infinitivo. A relevância das medidas adotadas justifica-se uma vez que se pretende, aqui, averiguar as possíveis formas de seleção dos grupos de fatores proeminentes ao fenômeno da ordem no PB e no PE dos séculos XIX e XX sem que se dê maior privilégio a uma determinada variante em prejuízo das demais. Diversos padrões de rodadas foram empreendidos durante a etapa referente ao tratamento estatístico dos dados. A fim de fazer conhecer algumas dessas rodadas, expõem-se, em anexo (Anexo 2), quadros que contemplam aquelas que se apresentaram como as mais significativas para a compreensão da ordem em lexias verbais simples nas duas variedades do Português dos séculos XIX e XX. Convém registrar que, nas primeiras análises experimentadas, se procedeu à investigação dos dados do PB e do PE, separando-se as amostras por séculos tanto em contextos de lexias verbais simples quanto em domínio de complexos verbais, tal como se esquematiza: (i) PB século XIX; (ii) PB século XX; PE século XIX; PE século XX. Devido à semelhança do evento da colocação em ambos os séculos de cada variedade bem como a evidências observadas em estudo recente (Nunes, 2009), advogase que o tratamento conjunto dos dois séculos se revela mais produtivo do que o tratamento em separado. Assim, as análises procedentes daquelas preliminares configuram-se do seguinte modo: (i) PB séculos XIX e XX; (ii) PE séculos XIX e XX. Julgou-se necessário, ainda, quanto aos contextos estruturais em que figura o pronome átono, o tratamento, em separado, de dados de início absoluto 47 e de registros de proclisadores canônicos e/ou não-canônicos (nomeados, aqui, como demais contextos) em lexias verbais simples e complexas. A constituição de subamostras ao 47 No que concerne aos contextos de início absoluto, constate-se que se considera, nesses domínios, a posição do verbo em início absoluto de período (Ex.: Analisa-se o fenômeno variável.) assim como em início de oração não coincidindo, necessariamente, com o locus inicial do período (Ex.: Ao promover o estudo da ordem, espera-se contribuir com novas informações sobre o tema.)

113 112 longo do tratamento dos dados permitiu aferir o caráter categórico/semi-categórico de alguns contextos e observar com mais precisão os efeitos dos fatores controlados. No que toca especificamente ao tratamento da colocação em dados de estruturas verbais complexas, destaque-se que a análise das perífrases considera a forma do verbo principal como critério para o exame da ordem em três etapas, quais sejam: (i) cliticização em lexias verbais complexas com gerúndio; (ii) cliticização em lexias verbais complexas com particípio; (iii) cliticização em lexias verbais complexas com infinitivo. Mediante todas as rodadas realizadas, discriminam-se, na seqüência, as variáveis cujos fatores, por vezes, foram amalgamados do modo que se avaliou como o mais produtivo para o tratamento comparativo dos resultados alcançados: Âmbito das Lexias Verbais Simples e Complexas Grupo de fatores extralingüístico: (a) Vozes do romance: por vezes se amalgamam dados de narradores de 1ª e 3ª pessoas em face dos personagens. Grupos de fatores lingüísticos: (b) Natureza da oração: combinam-se orações subordinadas desenvolvidas e estruturas clivadas, permanecendo as demais cláusulas sem amalgamação. (c) Possível elemento proclisador do clítico: congregam-se (i) todos os domínios de SN sujeito (nominal, pronome pessoal, pronome indefinido e pronome demonstrativo em certas situações, separam-se os nominais dos pronominais); (ii) os advérbios canônicos; (iii) os advérbios não-canônicos e com sufixo mente; (iv) as preposições (a, em, de, para, por, sem por vezes, cria-se um grupo com os itens a, de, para; e outro com em, por, sem); (v) as conjunções coordenativas (aditiva, alternativa, adversativa, conclusiva, explicativa); (vi) os elementos subordinativos (conjunções subordinativas, pronome relativo que, outros pronomes/advérbios relativos; conjunções integrantes que e se, que em locução conjuntiva e em estruturas clivadas, palavra QU- interrogativa do tipo pronominal e adverbial). (d) Distância entre proclisador e seqüência clítico verbo/complexo verbal: reúnem-se as distâncias (i) de zero a três sílabas; (ii) de quatro a dez sílabas; (iii) de oito sílabas em diante.

114 113 (e) Tempo e modo das formas verbais/(semi-)verbais: agregam-se (i) os tempos de presente e pretéritos (perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) do indicativo; (ii) os futuros (do presente e do pretérito) do indicativo; (iii) todos os tempos do subjuntivo. (f) Tipo de clítico pronominal: amalgamam-se (i) os pronomes referentes às primeiras e segundas pessoas do singular e do plural (me, te, nos, vos); (ii) o pronome se do tipo apassivador e indeterminador. (g) Tonicidade das formas verbais (no âmbito das lexias verbais simples): procede-se à junção quando se verificam dados de vocábulos proparoxítonos das formas verbais paroxítonas e proparoxítonas. (h) Presença / ausência de elementos intervenientes na estrutura verbal complexa (no âmbito das lexias verbais complexas): reúnem-se, por vezes, os conectores de e que. (i) Tipo de lexia verbal complexa (no âmbito das lexias verbais complexas): congregam-se, em certos momentos, (i) locuções concebidas como temporaisaspectuais, (ii) perífrases modais; (iii) estruturas com verbos de controle (volitivos ou declarativos) de mesmo referente-sujeito. Com o amparo de todos os esclarecimentos, aqui concedidos, contemplem-se os resultados expostos na seqüência concernentes à análise dos dados da observação das freqüências absolutas e percentuais para cada fator constituinte das variáveis controladas até as rodadas multivariacionais (pesos relativos para as lexias verbais simples) empreendidas.

115 EXPOSIÇÃO ANALÍTICA DOS DADOS: OS RESULTADOS ALCANÇADOS MEDIANTE EXAME DOS CORPORA Por intermédio de todas as ponderações, até o momento, efetuadas, apresentamse, doravante, os efeitos da colocação pronominal no PB e no PE dos séculos XIX e XX segundo os moldes da investigação sociolingüística. É oportuno registrar que, neste capítulo, se promove, preliminarmente, a apresentação da realidade dos corpora, discriminando-se o número total de casos de ordenação dos clíticos em domínios de lexias verbais simples e complexas, a fim de informar quais dos dados, efetivamente, são submetidos ao tratamento variacionista. Em busca do conjugado adequação descritiva e explicativa, empreende-se a apresentação dos resultados pela exibição, primeiramente, dos pormenores da ordem no âmbito de sentenças integradas por uma única forma verbal, tecendo-se, subseqüentemente, as particularidades da colocação no domínio de estruturas verbais complexas. Reitere-se que o estudo do posicionamento dos átonos pronominais em ambientes de lexias verbais complexas se instaura haja vista a consideração da forma do verbo principal em três instâncias analíticas, quais sejam: posicionamento do pronome em ambientes de complexos (i) gerundivos, (ii) participiais e (iii) com verbo principal no infinitivo. Conforme já salientado ao capítulo 4, buscando observar se PB e PE apresentam padrões de normas distintas, opta-se pelo exame, em separado, dos dados provenientes das variedades brasileira e européia, comparando-os sempre quando possível. No que concerne ao tratamento diacrônico da ordem, consideram-se os valores absolutos, percentuais e relativos das variantes atestadas nos séculos XIX e XX a um só tempo, visto que, tal como o pontuado na seção 4.5, a análise, ao contemplar ambos os séculos em conjunto, se revela mais produtiva. Ademais, para maiores detalhes acerca da influência do percurso temporal, controlam-se os grupos de fatores época/fase de publicação dos romances eleitos e séculos investigados. Além da análise interpretativa dos valores obtidos para o evento examinado nos domínios de lexias verbais simples e complexas mediante as variáveis lingüísticas e extralingüísticas, estabelecem-se, ainda, considerações sobre os casos de interpolação constatados. 5.1 A ordem em ambientes de lexias verbais simples: a realidade dos corpora

116 115 No conjunto de 3478 dados de colocação pronominal distribuídos pelos domínios em exame (cf. quadro 2 da seção 4.2), 2965 casos (1427 para PB e 1538 para PE) correspondem à ordenação de clíticos em ambientes nos quais os clíticos se apresentam na adjacência de um único hospedeiro verbal, conforme o esquematizado: Número total de dados: 3478 Número total de LVS: 2965 Total 48 de LVS no PB: 1427 dados [Século XIX: 587 Século XX: 840] Total de LVS no PE: 1538 dados [Século XIX: 559 Século XX: 979] Dados em Início Absoluto: 335; Dados nos demais contextos (somente com proclisadores canônicos e não-canônicos sem os chamados inícios absolutos de período e oração): 1092: em domínio de proclisadores canônicos: 514; em domínio de proclisadores nãocanônicos: 578. Dados em Início Absoluto: 424; Dados nos demais contextos (somente com proclisadores canônicos e não-canônicos sem os chamados inícios absolutos de período e oração): 1114: em domínio de proclisadores canônicos: 576; em domínio de proclisadores nãocanônicos: 538. Contemple-se, a seguir, a distribuição dos dados pelos fatores da variável dependente no domínio de lexias verbais simples. Tome-se, primeiramente, a exposição das freqüências absolutas e percentuais das variantes observadas na amostra do Português do Brasil: 48 A totalidade dos dados de LVS contabilizados tanto no PB quanto no PE representa o número de registros de colocação em todos os contextos, isto é, em domínios nos quais se considera a ordem pronominal em ambientes de início absoluto de oração/período bem como de proclisadores canônicos e não-canônicos. Contabilizam-se, no cômputo dos valores dessa esquematização, os casos de mesóclise, variante essa que, conforme se esclarecerá, não se contempla no tratamento quantitativo.

117 116 Todos os contextos [Início Absoluto / Proclisadores canônicos / Proclisadores não-canônicos] 1427 dados Próclise Mesóclise Ênclise 704 dados 8 dados 715 dados 49% 1% 5 Tabela 1: Distribuição geral das variantes no PB dos séculos XIX e XX em todos os contextos de LVS Distribuição detalhada dos 1427 dados do PB pelos contextos investigados Início Absoluto Demais contextos [Proclisadores Canônicos / Proclisadores Nãocanônicos] 335 dados 1092 dados Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise 6% 21 dados 3% 8 dados 91% 306 dados 63% 683 dados 0 dado 37% 409 dados Tabela 2: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX Proclisadores Canônicos Demais contextos Proclisadores Não-canônicos 514 dados 578 dados Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise 485 dados 0 dado 29 dados 198 dados 0 dado 380 dados 94% 6% 34% Tabela 3: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e não-canônicos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX 66% Cumpre esclarecer que os índices expostos na seqüência de tabelas apresentadas serão pormenorizados na seção em que, efetivamente, se analisam os resultados da ordem em lexias verbais simples. Por ora, pontue-se que, pelos escassos números de casos da mesóclise no PB dos séculos XIX e XX, tal variante não é contemplada na análise quantitativa multivariacional. Entretanto, exibem-se suas particularidades na próxima subseção. No que concerne à realidade distribucional das variantes no âmbito do Português Europeu, acompanhem-se os quadros:

118 117 Todos os contextos [Início Absoluto / Proclisadores canônicos / Proclisadores não-canônicos] 1538 dados Próclise Mesóclise Ênclise 723 dados 7 dados 808 dados 47% 1% 52% Tabela 4: Distribuição geral das variantes no PE dos séculos XIX e XX em todos os contextos de LVS Distribuição detalhada dos 1538 dados do PE pelos contextos investigados Início Absoluto Demais contextos [Proclisadores Canônicos / Proclisadores Nãocanônicos] 424 dados 1114 dados Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise 1 dado 417 dados 721 dados 1dado 392 dados 6 dados 0,5% 49 1,5% 98% 64,9% 0,1% 35% Tabela 5: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX Proclisadores Canônicos Demais contextos Proclisadores Não-canônicos 576 dados 538 dados Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise 572 dados 0 dado 4 dados 149 dados 1 dado 388 dados 99% 1% 27,8% 0,2% 72% Tabela 6: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e nãocanônicos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX Tal como se procede com os dados do PB, elucidam-se os valores concernentes ao PE na próxima seção, salientando-se, igualmente, que os ínfimos registros da variante mesoclítica não são submetidos ao tratamento quantitativo A colocação pronominal em domínio de Lexias Verbais Simples 49 As percentagens que, por vezes, se apresentarem com casas decimais representam uma necessidade de expor valores que, quando somados, resultem na totalidade de 100 pontos percentuais.

119 118 Empreende-se, nesta seção, a exposição dos resultados obtidos a partir da análise variacionista de 2965 dados (1427 casos para o PB e 1538 ocorrências para o PE) de colocação pronominal no âmbito das Lexias Verbais Simples. Com base em outros estudos do fenômeno, propõe-se que o tratamento destinado à ordem dos pronomes átonos em domínio de um único item verbal deva ser realizado mediante a observação dos seguintes contextos: (i) início absoluto de oração; (ii) ambientes constituídos de operadores de próclise denominados, aqui, de proclisadores concebidos pela tradição gramatical como fatores inequívocos de atração do clítico; e (iii) ambientes constituídos de proclisadores não-canônicos, aqueles que não se arrolam usualmente entre os índices de próclise considerados nos compêndios normativos. Julga-se que a análise em separado dos ambientes citados lance luz às constatações que se pretendem apresentar, especialmente quanto ao estabelecimento das normas de uso literárias em comparação às normas idealizadas como padrão culto na tradição gramatical. Com a finalidade de garantir maiores esclarecimentos quanto à distribuição dos dados pelos contextos investigados, leia-se a tabela que se segue: Todos os contextos [Início Absoluto / Proclisadores canônicos / Proclisadores não-canônicos] Português do Brasil Português Europeu 1427 dados 1538 dados Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise 49% 704 dados 1% 8 dados dados 47% 723 dados Tabela 7: Distribuição do número total de dados no âmbito das LVS, no PB e no PE dos séculos XIX e XX, em todos os contextos Conforme se verifica pela disposição dos fatores da variável dependente os quais, anteriormente, foram discriminados na seção (próclise: aqui se investiga a ordem pronominal; mesóclise: Investigar-se-á a ordem pronominal; e ênclise: Investiga-se a ordem pronominal), os casos de colocação observados em todos os contextos revelam uma distribuição similar no que respeita a ambas as variedades, nas quais se aponta um registro levemente superior para a ordem enclítica (5 e 52%, respectivamente para PB e PE) seguida da proclítica (49% e 47%, de modo respectivo). A propósito da colocação intraverbal, ateste-se a não expressividade de sua manifestação em 8 casos no PB e em 7 dados no PE, todos a seguir apresentados: 1% 7 dados 52% 808 dados

120 119 Dados de mesóclise verificados no PB dos séculos XIX e XX Ex 1.: - Atirar-me-ia a seus pés, abraçar-me-ia com eles e lhe diria: "Perdoai-me, perdoai-me, senhora, eu já não posso ser vosso esposo! Tomai a prenda que me deste..." [JMM-PB- LVS-19] Ex 2.: - Atirar-me-ia a seus pés, abraçar-me-ia com eles e lhe diria: "Perdoai-me, perdoai-me, senhora, eu já não posso ser vosso esposo! Tomai a prenda que me deste..." [JMM-PB- LVS-19] Ex 3.: Causar-lhe-ia riso a façanha desse camponês da Suíça, do qual se conta que por ordem de um tirano teve de atravessar com uma flecha uma maçã colocada sobre a cabeça de seu filho; Gonçalo teria atravessado um anel. [BG-PB-LVS-19] Ex 4.: - Se é este o seu receio, eu o tranqüilizo... Assino, se você quiser, um papel de dívida, comprometendo-me a dar a mesma recompensa, seja qual for o resultado no negócio... Ora, imagine que nos venha daí um bolo de 600 contos... Dar-lhe-ia boa porção. [RP-PB- LVS-29] Ex 5.: Dir-se-ia que a natureza acabava de cobrir-se de lutuosos merinós, se não fosse o cetim azulado do firmamento, e se não chovesse o riso das estrelas. [RP-PB-LVS-29] Ex 6.: Fixar-se-iam muito longe, adotariam costumes diferentes. [GrR-PB-LVS-42] Ex 7.: Acomodar-se-iam num sítio pequeno, o que parecia difícil a Fabiano, criado solto no mato. [GrR-PB-LVS-42] Ex 8.: Mudar-se-iam depois para uma cidade, e os meninos freqüentariam escolas, seriam diferentes deles. [GrR-PB-LVS-42] Dados de mesóclise verificados no PE dos séculos XIX e XX Ex 9.: - Não digas mais! Tens razão, o vingar-se é o prazer supremo de um réprobo! Não aceitei dela a liberdade: aceitá-la-ei de ti... Depois... depois, Deus se compadeça de mim. [AH-PE-LVS-19] Ex 10.: Pensas tu que, se a cabeça me corresse algum risco, eu a exporia por te salvar? Oh que não! Também tenho a minha vingança, e quero folgar depois de a ver satisfeita. Deixarme-ão aqui; porque o Conde de Trava não voltará esta noite; e amanhã... oh, amanhã... Gonçalo Mendes da Maia virá soltar-me... Sei certo que há de vir. [AH-PE-LVS-19] Ex 11.: Dir-se-ia que, no fundo da sua memória, a lembrança adormecida daquele nome despertara subitamente... [TC-PE-LVS-29] Ex 12.: - Dominá-los-emos pela ignorância. [RB-PE-LVS-32] Ex 13.: O povo julgava-os noivos, porque a espécie de esotérico entendimento que havia entre ambos parecer-lhe-ia, de outro modo, uma pantomina. [ABL-PE-LVS-42] Ex 14.: [...] se ela jamais tivesse pretendido explorar o paralelo entre a sua força estuante e poderosa e a incapacidade, ou aquém, de todos os outros, ter-se-ia verdadeiramente ultrapassagem, seria como um meteoro que, liberto das leis que o encadeiam numa

121 120 restrição de espaço e de tempo, se lança na aventura eterna do infinito. [ABL-PE-LVS-42] Ex 15.: Penso: comigo já morto, já desaparecido, reconquistado o teu amor, morto também o rival, estas estrelas e esta flor obrigar-te-ão a pensar em mim? [AAb-PE-LVS-52] Consoante os exemplos arrolados, certifique-se de que, dos contextos em que a mesóclise é constatada, 11 casos 50 ocorrem com itens verbais no futuro do pretérito do indicativo, enquanto 4 ocorrências, todas verificadas no PE, se encontram em verbos flexionados no futuro do presente do indicativo, tempos verbais aos quais a manifestação da variante mesoclítica se restringe. Considere-se, ainda, que a maioria dos registros de mesóclise, salvo os exemplos 2, do PB no qual o verbo inicia uma oração antecedida de outra em período composto por coordenação, 13 e 15, do PE nos quais os verbos se encontram precedidos de SN Sujeito, se apresenta em início absoluto de oração (embora não necessariamente em início absoluto de período, como em Ex 14 ). No que respeita ao padrão normativo-gramatical, cumpre sinalizar que os escritores responsáveis por tais realizações não possuíam outra opção de ordem, haja vista que o uso da ênclise infringiria as limitações morfológicas referentes ao tempo verbal e a realização de próclise não corresponderia às prescrições quanto à manifestação dessa variante em face de um proclisador não-canônico. No caso do PB, é oportuno observar que praticamente todos os registros se exibem em início absoluto de período, ambiente concebido como inibidor potencial da ordem proclítica. No que concerne ao PE, verifica-se, em 3 dos 7 casos, que ocorre a mesóclise tanto em contexto inicial de período quanto em posição inicial de oração, além do contexto antecedido de sujeito. Embora os parcos casos da variante intraverbal não permitam generalizações, a diferença detectada entre PB e PE sugere que a variante mesoclítica apareça em maior variedade de contextos no PE, sendo uma opção mais natural na escrita literária européia do que na brasileira. No Brasil, tem-se por hipótese que a manifestação do pronome interposto à forma verbal iniciando períodos se procede em virtude de um suposto cumprimento a uma tradição discursiva ou de um atendimento aos postulados preconizados pela Lei de Tobler-Mussafia, conforme o salientado na seção referente à Fundamentação Teórica. 50 Tomem-se, dentre os escritores em cujas obras se atestam dados de colocação intraverbal, os autores brasileiros Joaquim Manuel de Macedo (fase 1 2 dados), Bernardo Guimarães (fase 1 1 dado), Raul Pompéia (fase 2 2 dados), Graciliano Ramos (fase 4 3 dados), bem como os europeus Alexandre Herculano(fase 1 2 dados), Trindade Coelho (fase 2 1 dado), Raul Brandão (fase 3 1 dado), Augustina Bessa Luís (fase 4 2 dados) e Augusto Abelaira (fase 5 1 dado).

122 121 Ainda em relação à mesóclise, costuma-se postular que a escassez dessa variante estaria relacionada à baixa produtividade de contextos com as formas do futuro simples, dada a suposta preferência pelas construções de futuro perifrástico do tipo ir + infinitivo. Tendo sido levantados os dados de futuro simples do indicativo nos corpora investigados, contabilizam-se, no PB, 21 ocorrências que apresentam contexto indicado para a colocação intraverbal domínio de futuros do indicativo em que não se observam proclisadores canônicos ; desses 21 casos, a próclise se registra em 16 ocorrências, traduzidas em 76 pontos percentuais. A fim de exemplificar um registro de próclise em ambiente que, possivelmente, potencializaria a ordem intraverbal, examine-se o seguinte contexto de início de oração: Ex 16.: Se eu fosse pedir o que pagam na cidade, me chamariam de ladrão. [JLR-PB-LVS-42] No que concerne ao PE, dos 10 contextos potenciais para a manifestação da variante mesoclítica, 7 acusam a realização de mesóclise, o que corresponde a 7. Como ilustração de um dos contextos propícios tradicionalmente à mesóclise (presença de proclisador não-canônico), mas em que, no entanto, se opta pela próclise, eis o dado: Ex 17.: - Maria, adeus disse ele em voz abafada e surda Em breve nos veremos na eternidade; lá saberei a verdade. [ArG-PE-LVS-19] Considerados exclusivamente os contextos restritos à manifestação da posição intraverbal, verifica-se que a colocação mesoclítica ainda se constitui como primeira opção de ordem pronominal na escrita literária européia do período investigado. Embora os dados sejam exíguos, cabe observar que se registrou um número maior de casos no PB do século XIX (5/8 registros) e no PE do século XX (4/7 ocorrências). Cumpre esclarecer que somente uma investigação específica acerca da variante mesoclítica em corpora diversificados conjugando, possivelmente, preceitos teóricos que abarquem as noções de gênero textual bem como de tradição discursiva e procedendo ao levantamento de toda a expressão temporal do futuro permitirá atestar a produtividade de tal colocação em ambas as variedades do Português no decurso do tempo. Estabelecidas as considerações acerca da variante intraverbal, prossegue-se ao detalhamento da distribuição total dos dados pelos demais contextos examinados, a começar pelo PB:

123 122 Distribuição detalhada dos 1427 dados do PB pelos contextos investigados Tabela 8: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX Note-se, pela tabela indicada, que os domínios integrados por proclisadores canônicos e não-canônicos demais contextos excedem, em número considerável, os ambientes de início absoluto, no PB. Verifique-se que, em posição inicial de período/oração, a variante enclítica se revela de modo expressivo (91%), conforme o recomendado pelas prescrições da tradição gramatical de não se encetar cláusula com pronome oblíquo átono. O que denota curiosidade, a fortiori, são as ocorrências de próclise em tais contextos (6%), que se exemplificam a seguir: Início Absoluto Demais contextos [Proclisadores canônicos / Proclisadores nãocanônicos] 335 dados 1092 dados Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise 6% 21 dados 3% 8 dados 91% 306 dados 63% 683 dados Ex 18.: - Me disseram; eu não quis avistar. [GR-PB-LVS-42] Ex 19.: - Me concebo. O senhor não é como eu? [GR-PB-LVS-42] Ex 20.: - Ouço um motor pesado passando próximo. Se afasta. [LFT-PB-LVS-52] Ex 21.: E se uma voz meio velada me chamar no telefone, voz de homem que prefere não deixar o nome. Me vejo de perfil no espelho esfumaçado. [LFT-PB-LVS-52] Ex 22.: - Se escondeu atrás da igreja, olhe! [RQ-PB-LVS-32] 0 dado Ex 23.: - Me declare tudo, franco é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso por estúrdio que me vejam é de minha certa importância. [GR-PB-LVS-42] Ex 24.: - Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. [GR-PB-LVS-42] 37% 409 dados Ex 25.: - Nunca se sabe quem bate à nossa porta. Quando se é o homem mais rico das redondezas, mais vale se prevenir. [NP-PB-LVS-52] 51 É oportuno salientar que os autores brasileiros realizadores da variante proclítica em contexto de início de período/oração são os seguintes: Rachel de Queiroz (fase 3 1 dado), Dinah Silveira de Queiroz (fase 4 2 dados), José Lins do Rego (fase Este exemplo destoa dos demais em função da não-coincidência entre início de oração e início de período.

124 123 dados), Guimarães Rosa (fase 4 10 dados), Nélida Piñon (fase 5 1 dado) e Lygia Fagundes Telles (Fase 5 4 dados). A lista desses autores permite constatar que tais dados ocorrem em textos de escritores do século XX, especialmente na obra de Guimarães Rosa, em que imperam falas de personagem. A propósito dos registros de próclise em posição inicial absoluta, leiam-se as seguintes palavras de Martins (2009: 168), em sua tese de doutoramento: Um aspecto interessante da variação Vcl/clV [...], revelador da gramática do PB, como já evidenciado em muitos estudos (cf. PAGOTTO, 1992; LOBO, 1992; ABAURRE; GALVES, 1996; GALVES, 2001; CARNEIRO, 2005), é a próclise em orações com o verbo em primeira posição absoluta (contextos V1). O autor, ao determinar o caráter de ocorrência categórica de ênclise na história do Português em contexto de primeira posição absoluta, julga que a variante proclítica em tal ambiente fortemente indicia uma característica particular do PB. A respeito da colocação clv em tais contextos, lança mão de alguns estudos, tais como o de Galves, Brito, Paixão de Sousa (2005) [GBPS, em Martins (2009)] bem como o de Carneiro (2005) 52, no propósito de examinar a evolução dos índices de freqüência de próclise em orações integradas por formas verbais em primeira posição no decurso dos séculos XVI a XX. A fim de se promover um cotejo entre os números obtidos por GBPS (2005), Carneiro (2005), Martins (2009) e os valores da presente investigação a respeito da ordem proclítica em ambiente de início absoluto, observem-se as representações gráficas que se seguem: 52 É oportuno pontuar que as investigações de GBPS (2005), Carneiro (2005) e Martins (2009) promoveram, respectivamente, a observação de (i) textos escritos por portugueses nascidos entre 1542 e 1836, disponibilizados no banco de dados Tycho Brahe Parsed Corpus of Historical Portuguese; (ii) Cartas Brasileiras mediante textos do século XIX, bem como (iii) peças teatrais compostas por autores catarinenses e lisboetas nascidos entre os séculos XIX e XX. Faz-se saber que Martins (2009), para a construção do gráfico que se expõe, contabilizou, somente, a realização de clv em textos da variedade brasileira do Português. Convém informar que os percentuais de próclise na figura extraída de Martins (2009) se distribuem pelos anos de nascimento dos autores analisados. No presente estudo, a variável extralingüística responsável pelo controle do período temporal ancora-se na época de publicação das obras contempladas.

125 124 Figura 1: A variante proclítica mediante verbos em posição inicial, com base no gráfico extraído de Martins (2009: 181) O gráfico exposto, averiguado em Martins (2009: 181), permite ao autor esclarecer que, no decorrer dos séculos analisados, a variante proclítica, em face de verbos em posição inicial, não se constitui como um fenômeno constante nos textos observados pelos estudiosos destacados na esquematização, manifestando-se, a partir do século XIX, em algumas ocorrências, e alcançando maior expressividade apenas no século XX. Com base nos valores indicados, comparem-se, a seguir, os números de próclise constatados em início absoluto de oração na análise aqui desenvolvida: Figura 2: Distribuição dos índices de próclise em contexto de início absoluto de oração no PB dos séculos XIX e XX A linha gráfica representada testemunha índices nulos de próclise em início de período/oração no decurso das fases do século XIX, tal como na análise de GBPS

126 125 (2005). Verifique-se, pois, que as primeiras ocorrências da variante pré-verbal ocorrem a partir da fase 3, isto é, início do século XX, atingindo 19% de manifestação no ínterim de 1934 e 1966, com um decréscimo na fase 5, em que se registram 7% de tal colocação. O cotejo de todos os valores de próclise em contexto de verbo inicial observados nos estudos confrontados permite postular que, até o século XIX, a variante proclítica em início absoluto se faz ausente, assumindo, mesmo que sutilmente, alguns índices de realização a partir do século XX. Estabelecidas as considerações acerca da distribuição de próclise, mesóclise e ênclise em ambiente de início absoluto de período/oração, retome-se a tabela 8, de modo a reiterar as freqüências percentuais e absolutas das variantes em domínio dos demais contextos no âmbito do PB. Perceba-se que a colocação pronominal em face dos proclisadores canônicos e não-canônicos apresenta maiores índices de produtividade para a ordem pré-verbal (63%) comparados à ausência categórica () do fator mesoclítico bem com aos baixos percentuais de ênclise (37%). Os números permitem constatar que, de fato, os proclisadores exercem, nos dados de lexias verbais simples do PB, potencialidade de atração. De modo a observar a manifestação dos fatores da variável dependente discriminando-se, separadamente, os casos integrados por operadores de próclise tradicionais dos registros que apresentam fatores de próclise não tradicionais, acompanhe-se o quadro a seguir: Proclisadores Canônicos Demais contextos Proclisadores Não-canônicos 514 dados 578 dados Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise 485 dados 0 dado 29 dados 198 dados 0 dado 380 dados 94% 6% 34% Tabela 9: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e nãocanônicos a partir de dados do PB dos séculos XIX e XX Os números exibidos permitem constatar que, consideravelmente, os proclisadores concebidos pela prescrição gramatical como tradicionais motivam a ocorrência do clítico à esquerda de seu hospedeiro verbal em 94% contra a marca de 34% da mesma variante em contexto de proclisadores não-canônicos. Torna-se, assim, 66%

127 126 oportuno salientar a influência decisiva que os proclisadores tradicionais exercem na manifestação da ordem pré-verbal. Todavia, cumpre registrar que, mesmo em face dos fatores de próclise canônicos, a ordem enclítica se procede em 6% (29/514 dados) dos casos, como no contexto que, abaixo, se ilustra: Ex 26.: Sua tia, D. Leocádia, que fazia-lhe agora as vezes de mãe, estava sentada à cabeceira. [RP-PB-LVS-29] Observe-se, também, que a próclise, mesmo diante de operadores nãotradicionais, se revela em 34% (198/578 dados), tal como na exemplificação: Ex 27.: Ao ouvir isto, o sorriso se transformou em desassombrada gargalhada. [DSQ-PB-LVS-42] No que toca ao Português Europeu, compreenda-se a distribuição de 1538 dados de ordem averiguados em todos os contextos (conforme se indica na tabela 7) pelos domínios exibidos na seqüência: Distribuição detalhada dos 1538 dados do PE pelos seguintes contextos investigados Tabela 10: Freqüência percentual e absoluta das variantes em início absoluto e nos demais contextos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX Examinando, primeiramente, o caráter distribucional das variantes mediante os inícios absolutos de período/oração, saliente-se o índice quase categórico de 98% de ordem enclítica tal como o recomendado pela tradição gramatical. No entanto, convém mencionar o único suposto caso de manifestação da próclise em posição inicial, agora apresentado: Início Absoluto Demais contextos [Proclisadores canônicos / Proclisadores nãocanônicos] 424 dados 1114 dados Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise 1 dado 6 dados 417 dados 721 dados 1dado 392 dados 0,5% 1,5% 98% 64,9% 0,1% 35% Ex 28.: Se sabe o que aconteceu [...] creio ter-lhe dito um dia que a Lídia tinha um irmão na Marinha, Morreu, Morreu. [JS-PE-LVS-52] Primeiramente, ressalte-se o caráter excepcional da próclise no dado acima. Quanto a essa ocorrência, resguarde-se o caráter dúbio do elemento se, uma vez que não se tem total certeza quanto a sua classificação morfológica como possível conjunção

128 127 condicional ou pronome átono. Na interpretação como pronome átono, compreende-se tal item como partícula apassivadora pela razão de se considerar a oração Se sabe o que aconteceu como coordenada assindética (seguida de uma sentença coordenada explicativa sem a concretização da conjunção pois ou porque, por exemplo) em construção passiva sintética equivalente à estrutura analítica algo é sabido por alguém. Por esse motivo, a presente análise aponta a possibilidade de o Ex 28 ser considerado como um caso em que se testemunha a presença de um clítico pronominal em início de período. Deve-se considerar, ainda, que a presença desse dado, o qual, além de único, é duvidoso, não descaracteriza a proposta de que a manifestação da próclise em posição inicial não é compatível com a variedade européia do Português. Vieira (2002), por exemplo, não constata, também, casos da ordem proclítica em início de oração/período em dados de domínio jornalístico. A título de descrição, a ocorrência ora observada (Ex 28 ) corresponde à realização proclítica em instância de fala de personagem tal como o verificado nos dados do PB no que respeita aos registros colhidos do romance de Guimarães Rosa averiguada nos escritos de José Saramago (fase 5). Compare-se a figura abaixo com o padrão gráfico 2, referente à distribuição de próclise no PB em posição inicial absoluta: Figura 3: Distribuição dos índices de próclise em contexto de início absoluto de oração no PE dos séculos XIX e XX A visualização gráfica deixa evidente que os valores encontrados na amostra brasileira, ainda que parcos (21 dados), são relevantes se comparados à única e duvidosa ocorrência de clítico em início absoluto no PE. A respeito da produtividade das variantes da ordem em lexias verbais simples do PE pelos demais contextos, cujos valores se indicam na tabela 10, ateste-se que, assim

129 128 como no PB, a variedade européia permite verificar a atuação dos proclisadores canônicos e não-canônicos, tomados em conjunto, de modo efetivo para a produtividade da ordem pré-verbal (64,9%) em comparação aos números de ênclise (35%). A fim de ponderar a potencialidade de atração em dados exclusivos de proclisadores tradicionais bem como em casos de proclisadores não-tradicionais, observem-se as freqüências: Proclisadores Canônicos Tabela 11: Freqüência percentual e absoluta das variantes em domínio de proclisadores canônicos e nãocanônicos a partir de dados do PE dos séculos XIX e XX O Português Europeu demonstra a produtividade quase categórica de próclise (99%) em contexto de operadores canônicos, tal como as prescrições gramaticais recomendam. Em contrapartida, os índices de ênclise fazem-se majoritários mediante os proclisadores não-canônicos. As constatações estabelecidas para o PE vão ao encontro do que se observa para o PB nos mesmos domínios destacados: freqüência considerável da ordenação pré-verbal em face de proclisadores tradicionais e maiores valores de ênclise à vista dos não-tradicionais. A diferença entre as variedades reside na intensidade da tendência verificada: no PE, o efeito proclisador de elementos canônicos chega a quase 10 dos casos e o efeito dos elementos não canônicos é menor (27,8%) do que no PB (34%). Demais contextos Proclisadores Não-canônicos 576 dados 538 dados Próclise Mesóclise Ênclise Próclise Mesóclise Ênclise 572 dados 0 dado 4 dados 149 dados 1 dado 388 dados 99% 1% 27,8% Os dois exemplos destacados abaixo ilustram, todavia, a marca de 4 dados de ênclise, mesmo em ambientes nos quais se espera a próclise, assim como o valor absoluto de 149 dados de próclise em domínio de proclisadores não apontados pelos padrões normativos como atratores, de modo respectivo: 0,2% 72% Ex 29.: Porque o certo era que [...] o conde reconhecia-se um espectro... [AB-PE-LVS-32] Ex 30.: Quase perdeu o equilíbrio ao saltar para o passeio, junto da paragem uma velhota refilou de o ver esbaforido e desastrado. [FN-PE-LVS-52] Observe-se que, no primeiro caso (Ex 29 ), é provável que o efeito da distância entre o elemento que e a estrutura clítico mais verbo tenha agido no sentido de atenuar o efeito proclisador.

130 129 No que respeita à próclise em contexto de elemento não-canônico, observe-se que se trata de uma preposição, que, como se verá adiante, exerce efeito proclisador na variedade européia. No que tange ao caráter distribucional das variantes pela diacronia das fases examinadas, contemplem-se, abaixo, as linhas gráficas que denotam a freqüência de próclise, mesóclise e ênclise em todos os contextos, em domínio de início absoluto, assim como em ambientes exclusivos de proclisadores canônicos e de proclisadores não-canônicos, além dos demais contextos (proclisadores tradicionais e não-tradicionais sem início absoluto). Todos os contextos no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX Figura 4: Concretização das variantes em todos os contextos no âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Perceba-se a nítida variação entre próclise e ênclise por todas as fases contempladas, salientando-se a instabilidade de freqüência dessas variantes, uma vez que as ordens pré-verbal e pós-verbal se alternam, quanto à produtividade de manifestação, em cada fase controlada. No que respeita ao PE, contemple-se o padrão gráfico:

131 130 Figura 5: Concretização das variantes em todos os contextos no âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX De modo parecido ao PB, registre-se a evidente competição entre as variantes proclítica e enclítica, atentando-se para o fato de que, no PE, os índices não são tão instáveis como o observado no PB, uma vez que nas fases 2, 3 e 4 os valores de próclise e ênclise apresentam certa constância. Verifique-se que, somente no início do século XIX (fase 1) e no fim do século XX (fase 5), os percentuais de próclise assumem valores levemente superiores aos da ordem pós-verbal. Acredita-se que os registros verificados no domínio de todos os dados tomados em conjunto não podem ser seguramente avaliados, tendo em vista as possíveis influências das estruturas constantes de cada fase, podendo tais construções possuir ou não um elemento proclisador. Por essa razão, passa-se a observar a evolução do comportamento da ordem em função das subamostras delimitadas segundo os contextos estruturais. Início absoluto no que concerne ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX Figura 6: Concretização das variantes em início absoluto no âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Contabilizem-se, em contexto de início absoluto, os índices consideráveis de ênclise em todas as fases do PB, os quais alcançam quase a marca de 10,

132 131 salientando-se que, na fase 4, os valores da ordem enclítica sofrem decréscimo assumindo a freqüência de 80 pontos percentuais, à proporção em que se dá a elevação da variante pré-verbal (2), improdutiva em todos as outras fases. A mesóclise mantém-se com baixíssimos índices em todo o período investigado. Pelas observações estabelecidas, observe-se que o Português literário brasileiro em contexto de verbo inicial atende, via de regra, às prescrições gramaticais. A respeito do PE, contemple-se o padrão gráfico exposto: Figura 7: Concretização das variantes em início absoluto no âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX Tal como o Português do Brasil, ressaltem-se os elevados registros de ênclise, considerando que, no PE, tal variante se dá de modo extremamente produtivo em todas as fases, enquanto a próclise demonstra ausência quase categórica, abaixo dos registros de mesóclise. Proclisadores canônicos Figura 8: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos no âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX A variedade brasileira do Português apresenta altas freqüências de próclise acima de 8, sendo os valores quase categóricos nas fases 3 e 4. Na presença de

133 132 proclisadores canônicos, os discretos números de ênclise destacam-se um pouco mais no intervalo de tempo entre 1867 e 1900 (fase 2). No que se refere ao Português Europeu, acompanhe-se a evolução das linhas gráficas: Figura 9: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos no âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX O presente gráfico da variedade européia reflete a evolução da próclise e da ênclise de modo inversamente proporcional ao verificado nas linhas gráficas que representavam o contexto de início absoluto de período/oração. Ressalte-se que, em contextos de proclisadores canônicos, são os índices de próclise que ocorrem com quase exclusividade (ora 99%, ora 10), em vez dos registros quase categóricos da ordem enclítica em contexto de início absoluto do PE. Proclisadores não-canônicos Figura 10: Concretização das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos no âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX No domínio agora considerado, no âmbito da variedade brasileira, a variante enclítica, com maior freqüência de manifestação, sobrepuja os valores das demais

134 133 colocações, ocorrendo de forma mais intensa na fase 2 (fim do século XIX). No entanto, na segunda metade da fase 4, os índices de próclise são, levemente, superiores aos registros da ordem pós-verbal. No que tange ao PE, eis a ilustração: Figura 11: Concretização das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX Os índices de próclise e ênclise permanecem distantes ao longo das fases examinadas, aproximando-se um pouco mais no início do século XIX (fase 1) e no fins do século XX (fase 5). Contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos Figura 12: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances brasileiros dos séculos XIX e XX Considerando-se os dados de colocação em contextos de proclisadores canônicos e não-canônicos do PB em conjunto, constata-se que a variante proclítica se faz, também, em maiores números do que as demais posições. Entretanto, tal colocação sofre um declínio na segunda metade da fase 2, sendo levemente sobrepujada pela ordem enclítica.

135 134 De modo a considerar a distribuição dos fatores da variável dependente na amostra européia em ambiente dos possíveis operadores de próclise, tome-se, preliminarmente, a esquematização que se segue: Figura 13: Concretização das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, no âmbito das lexias verbais simples pelas fases estipuladas a partir da publicação dos romances europeus dos séculos XIX e XX A ordenação proclítica, em todas as fases, mantém-se, em termos de freqüência, mais produtiva do que as outras variantes, assumindo índices ainda maiores no início do século XIX (fase 1) assim como no fim do século XX (fase 5). Tomando-se por base todos os padrões gráficos acima representados segundo os contextos em destaque, pontuem-se as seguintes constatações: (i) Em grande parte dos domínios analisados, a variante mesoclítica permanece, efetivamente, na marca categórica de. Nos poucos momentos em que tal colocação se deixa contabilizar, observe-se que sua manifestação não ultrapassa as marcas de 5% e 3% no PB e no PE, respectivamente, em ambiente de início absoluto, contexto em que atinge seus maiores números de realização. (ii) No que tange aos domínios de possíveis proclisadores, ressalte-se que a ordem proclítica se manifesta quase exclusivamente, em ambas as variedades contempladas no decurso dos séculos XIX e XX, diante de operadores de próclise concebidos como tais pelo padrão gramatical. Esse fato sinaliza que os contextos de proclisadores tradicionais atuam como inibidores do fenômeno variável dada a quase categoricidade de registro da colocação pré-verbal, especialmente no PE. (iii) Os contextos de início absoluto também se constituem como ambiente em que não se pode vislumbrar o fenômeno variável, haja vista que a ordem enclítica sobrepuja os índices das demais variantes, que permanecem próximas de zero ponto percentual no

136 135 PB e no PE dos séculos XIX e XX. Exceção a essa tendência se observa na fase 4 do PB, em que a realização da próclise demonstra um certo aumento. (iv) No que respeita aos domínios de todos os contextos, considerem-nos como ambientes mais expressivos de manifestação da regra variável em todo o período considerado. (v) O condicionamento do evento de colocação em termos diacrônicos pode ser sugerido pelo comportamento diferenciado do fenômeno em algumas fases controladas. O debate acerca desse possível condicionamento é enriquecido pelo fato de a variável época/fase de publicação das obras adotadas ter sido selecionada em ambas as variedades, como se verá na próxima seção. Uma vez estabelecidas as tendências brasileiras e européias gerais acerca da ordem em lexias verbais simples nos diversos contextos, procede-se, na seqüência, à apresentação dos efeitos dos grupos de fatores apontados pelo tratamento estatístico dos dados como relevantes, considerando-se, somente, registros da ordem em ambientes em que se contempla a interferência dos operadores canônicos e não-canônicos. Excetuamse, pois, os dados de início absoluto de período e/ou oração. Pontue-se, ainda, que, conforme o constatado, a variante mesoclítica, pela razão dos escassos números de dados e pelo fato de não ser concebida como fator que efetivamente compete com as demais posições de modo variável, não se encontra contabilizada nos valores que, na seção , se apresentam Grupos de fatores relevantes no condicionamento da próclise em LVS, no âmbito do PB e do PE dos séculos XIX e XX Descrita a distribuição geral das variantes pelos contextos discriminados, bem como pela diacronia das fases estipuladas nos séculos XIX e XX, pormenorizam-se, na seqüência, os grupos de fatores apontados pela seleção do tratamento técnicocomputacional como variáveis relevantes à compreensão do fenômeno que, nesta investigação, se pondera. Por intermédio do quadro exposto, apresentam-se os grupos salientes à ocorrência do evento variável em ordem de seleção para o condicionamento da próclise.

137 136 Variáveis relevantes no âmbito do PB e do PE dos séculos XIX e XX 53 Português do Brasil Português Europeu Séculos XIX e XX Próclise como valor de aplicação Significância: 0.01 Input: Séculos XIX e XX Próclise como valor de aplicação Significância: 0.03 Input: º - Possível elemento proclisador 1º - Possível elemento proclisador 2º - Época/fase de publicação das obras adotadas 2º - Época/fase de publicação das obras adotadas 3º - Tipo de clítico pronominal 3º - Natureza da oração 4º - Tempo e modo das formas verbais 4º - Tipo de clítico pronominal 5º - Tonicidade dos itens verbais 5º - Tempo e modo das formas verbais Quadro 5: Variáveis selecionadas quanto ao evento da ordem em LVS no PB e no PE dos séculos XIX e XX O quadro acima permite observar que PB e PE demonstram, quase sempre, as mesmas variáveis relevantes (apresentadas, por vezes, na mesma ordem de seleção ou em posição distinta), salvo os grupos tonicidade das formas verbais (para o Português do Brasil) e natureza da oração (para o Português Europeu). Foram descartadas, nas duas variedades lingüísticas, as seguintes variáveis: de caráter extralingüístico, vozes do romance, autores contemplados, gênero/sexo dos autores, séculos investigados; e no âmbito lingüístico, distância entre possível elemento proclisador e seqüência constituída de clítico e verbo. 54 Feitos tais esclarecimentos, acompanhem-se, na seqüência, os efeitos das variáveis no condicionamento da próclise verificados Variável de cunho extralingüístico Reitere-se que ambas as variedades do Português sinalizam, em segundo lugar na ordem de seleção, o grupo época/fase de publicação das obras adotadas como variável independente de natureza extralingüística decisiva à instauração da regra variável. Haja vista que as devidas considerações acerca do caráter diacrônico da distribuição percentual das variantes foram anteriormente estabelecidas em face dos contextos discriminados, compreendam-se, a seguir, os percentuais associados aos pesos 53 A listagem das variáveis relevantes ora apresentada foi construída a partir da sistematização das diversas rodadas executadas. Para observação da seleção das variáveis em cada análise multivariacional, reitere-se que se expõe, no Anexo 2, o quadro relativo à seleção de grupos de fatores nas rodadas mais importantes do PB e do PE dos séculos XIX e XX. 54 Para o conhecimento da distribuição de dados da variável dependente pelos fatores dos grupos descartados, consultar o Anexo 3.

138 137 relativos observados para cada variedade examinada em domínio de proclisadores canônicos e não-canônicos. Constatem-se, na tabela abaixo, os valores que se seguem: Época/fase de publicação das obras adotadas em dados de Lexias Verbais Simples Variedades Variantes Fatores Fase 1 [ ] Português do Brasil Português Europeu Séculos XIX e XX Séculos XIX e XX Próclise Ênclise Próclise Ênclise 7 171/ /245 73% 163/222 27% 59/222 Fase 2 [ ] 47% 104/222 53% 118/222 54% % 86/186 Fase 3 [ ] 6 126/ / / /186 Fase 4 [ ] 77% 161/210 23% 49/210 58% 134/233 42% 99/233 Fase 5 [ ] 59% 121/206 41% 85/206 75% 213/286 25% 73/286 Tabela 12: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, segundo o grupo de fatores época/fase de publicação das obras adotadas, em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Os números discriminados permitem observar que, em ambas as variedades, os índices de próclise se manifestam com expressividade em comparação às freqüências percentuais e absolutas da variante enclítica. No que concerne, particularmente, ao PB, a ocorrência da ordem pré-verbal realiza-se majoritariamente a partir de 59%, em todas as fases investigadas, salvo no segundo intervalo de tempo referente ao século XIX, cujos valores de próclise (47%) se exibem em números inferiores à colocação enclítica (53%). A propósito da fase 4, contabilize-se a maior produtividade da ordem pré-verbal com a marca de 77 pontos percentuais. No que tange à variedade européia do idioma, assim como no PB, as percentagens de ocorrência do pronome à esquerda de seu hospedeiro verbal sobrepujam os registros de ênclise. Note-se que a próclise se constitui como primeira opção de ordem em todos os períodos destacados a partir de 54%, alcançando sua maior produtividade (75%) no fim do século XX (fase 5).

139 138 A fim de se estabelecer um cotejo contemplando a freqüência da variante proclítica por cada época examinada, em ambas as variedades, pontue-se que o Português Europeu denota ser o padrão em que os registros de próclise se manifestam com mais freqüência na presença de possíveis proclisadores em comparação ao Português do Brasil. Em todas as fases observadas, os valores absolutos e percentuais dessa variante no corpus europeu se dão em maiores números do que na amostra brasileira, com exceção da fase 4, a qual, conforme já se pontuou, registra maior realização de próclise (77%) no PB. Saliente-se, também, que PB (6) e PE (6) se equiparam em termos de realização da variante pré-verbal no decurso dos primeiros anos do século XX (fase a 1933). À vista de tais ponderações estabelecidas mediante as porcentagens, contemplem-se os valores relativos advindos do exame multivariacional, observando-se, primeiramente, o padrão gráfico concernente ao PB e, posteriormente, a representação referente ao PE. Figura 14: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável época/fase de publicação das obras adotadas: PB dos séculos XIX e XX Confirmando a diferença de comportamento já verificada com os índices percentuais, certifique-se de que a fase 4, efetivamente, representa o intervalo de tempo que favorece a ordem proclítica (.76), ao contrário do que ocorre na fase 2, que a desfavorece (.18). A propósito das demais fases especialmente a 1, verifica-se comportamento próximo ao da neutralidade no condicionamento da próclise segundo os

140 139 valores relativos. As fases 3 e 5 assumem, igualmente (.55), leve favorecimento à variante tida como valor de aplicação. No que tange ao PE, acompanhe-se a esquematização: Figura 15: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável época/fase de publicação das obras adotadas: PE dos séculos XIX e XX O gráfico exposto acima permite constatar que a fase 1, em primeira instância, e a fase 5, em segunda, constituem contextos de favorecimento da próclise, assim como os percentuais obtidos sugerem. No que respeita aos demais períodos, a ponderação estatística sinaliza que as fases 2, 3 e 4 não favorecem a ordem pré-verbal, tendo registrado índices relativos abaixo da marca de.50. Pelas constatações pontuadas, ateste-se que a variedade brasileira do Português denota uma tendência considerável de próclise na fase 4, em primeira ordem, e de ênclise na fase 2. Acerca do PE, os intervalos de tempo representados pelas fases 1 (.59) e 5 (.58) corroboram o favorecimento desses períodos à ocorrência da variante proclítica Variáveis de cunho lingüístico Discriminam-se, doravante, os grupos de fatores de natureza interna concebidos como relevantes no condicionamento da próclise. a) Grupos de fatores relevantes para as amostras brasileira e européia: (i) Possível elemento proclisador

141 140 De modo a tecer as devidas observações a propósito da atuação dos proclisadores de caráter canônico e não-canônico, considere-se a tabela subseqüente, em que se apresentam os elementos amalgamados consoante as decisões informadas no capítulo referente à metodologia 55.: Variantes Presença de possível elemento proclisador em dados de Lexias Verbais Simples Variedades fatores SN sujeito nominal 39% 110/281 Conjunções coordenativas 3 Adv canônicos [aqui, cá, já, lá] e Operadores de foco [Ex.: apenas, só, também (inclusão), até, mesmo, ainda] Adv não-canônicos [sempre, depois, talvez, agora] e Adv em -mente (fatores amalgamados) Português do Brasil Português Europeu Séculos XIX e XX Séculos XIX e XX Próclise Ênclise Próclise Ênclise 34/115 93% 64/69 4 8/20 Loc. adverbiais 3 14/47 Preposições 25% 25/101 Vocábulos de negação 97% 91/94 Elementos subordinativos 94% 330/351 61% 171/ /115 7% 5/ / /47 75% 76/101 3% 3/94 6% 21/351 17% 37/219 13% 13/ /96 3 9/30 29% 15/52 58% 68/ /105 99% 371/375 83% 182/219 87% 903 0/ /30 71% 37/52 42% 49/ /105 1% 4/375 Tabela 13: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, segundo os fatores amalgamados da variável presença de um possível elemento proclisador: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Contemplando-se a atuação dos elementos proclisadores de cunho canônico e não-canônico, registre-se que aqueles (como, por exemplo, os vocábulos de negação, os elementos subordinativos e os advérbios canônicos / operadores de foco), de fato, se revelam decisivos ao favorecimento da posição pré-verbal nas variedades brasileira e européia do Português. Registre-se que, no âmbito do PE, as preposições, uma vez consideradas em conjunto, parecem ser, em certa medida, motivadoras da variante proclítica. 55 No Anexo 4, exibem-se as tabelas com a distribuição percentual e absoluta das variantes por cada fator constituinte das variáveis em destaque no presente capítulo, antes da amalgamação de fatores.

142 141 No que se refere ao PB, os números exibidos permitem constatar que, efetivamente, os vocábulos de negação (97%), os elementos subordinativos (94%) e os advérbios canônicos / operadores de foco (93%) integram as três primeiras instâncias de atração do clítico tal como o prescrito pela tradição gramatical. Perceba-se, pois, que os demais fatores analisados corroboram seu status de operadores de próclise nãocanônicos pelo motivo de não serem decisivos no deslocamento do clítico para a esquerda do item verbal. Os pesos relativos, que se apresentam a seguir, legitimam as tendências apontadas: Figura 16: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável presença de um possível elemento proclisador: PB dos séculos XIX e XX Os elementos, há pouco considerados como fatores de maior potencialidade na atração do clítico pronominal, apresentam-se como favorecedores inquestionáveis da posição proclítica. Destaque-se, também, que os índices de próclise atribuídos aos SN sujeitos do tipo pronome pessoal, indefinido e demonstrativo ao contrário dos sujeitos nominais revelam, ainda que de modo discreto (.56) em cotejo com os fatores mais potenciais, certa participação no favorecimento à variante pré-verbal. Os demais elementos dentre os quais as preposições a, de, para alcançam índice aproximado ao ponto neutro desfavorecem a próclise. No que respeita ao PE, pontue-se que, assim como o observado no Português do Brasil, todavia com índices mais altos, os vocábulos de negação (10), os advérbios canônicos/operadores de foco (10) e os elementos subordinativos (99%),

143 142 inquestionavelmente, se constituem como contexto de freqüência (quase) categórica da colocação proclítica, consoante se atesta uma vez mais 56 : Figura 17: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável presença de um possível elemento proclisador: PE dos séculos XIX e XX Cumpre ressaltar a expressividade das preposições que, concebidas pela prescrição como fatores que não exercem potencialidade de atração do clítico pronominal, se dão a perceber como elementos proeminentes (.70) à manifestação da ordem pré-verbal. A propósito dos itens prepositivos, contemplem-se as palavras de Mateus et alii (2003: 854) transcritas: Os complementadores simples e complexos, i.e., seleccionados por uma preposição ou um advérbio ou que resultam de reanálise, são igualmente palavras funcionais indutoras de próclise, como se pode ver através do contraste (24) e (25): (24) [...] O Pedro pediu à Maria para lhe telefonar logo. (25) [...] *O Pedro pediu à Maria para telefonar-lhe logo. De modo geral, fica estabelecido o claro condicionamento da variável presença de possível elemento proclisador em relação à próclise. Via de regra, esse condicionamento é mais efetivo na variedade européia do que na brasileira. Consoante o exame da influência dos vários proclisadores canônicos e não-canônicos sobre o evento da ordenação pronominal, verifica-se que a escrita literária tende a concretizar a variante pré-verbal mais especificamente nos contextos com proclisadores canônicos. 56 Esclarece-se que a presente representação gráfica discrimina valores referentes aos pesos obtidos na análise multivariacional. Para efeito de melhor comparação, acrescentam-se as barras gráficas concernentes aos índices percentuais categóricos (10).

144 143 As preposições, ao que parece, atuam, em boa parte das ocorrências, como elemento proclisador típico da norma de uso literária. (ii) Tipo de clítico pronominal Para exame do efeito da presente variável, torna-se imprescindível a análise das freqüências expostas: Variantes Variedades Tipo de clítico em dados de Lexias Verbais Simples fatores Me, te, nos, vos 89% 146/164 Se reflexivo / inerente 54% 206/380 Se indeterminador / apassivador (fatores amalgamados) Português do Brasil Português Europeu Séculos XIX e XX Séculos XIX e XX Próclise Ênclise Próclise Ênclise 7 67/96 O, a, os, as 6 136/227 Lhe, lhes 58% 126/219 11% 18/164 46% 174/ / /227 42% 93/219 79% 153/194 55% 213/389 79% 83/105 62% 150/242 67% 116/173 21% 41/194 45% 176/389 21% 22/105 38% 92/242 33% 57/173 Tabela 14: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, segundo os fatores amalgamados da variável tipo de clítico pronominal: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples No que respeita aos clíticos pronominais, perceba-se que todos os pronomes considerados se apresentam com maior freqüência de próclise em ambas as variedades (salvo as formas contraídas no PB, que registraram mais ênclise e foram excluídas da tabela acima, por apresentarem número incipiente de dados). Todavia, é oportuno constatar que os índices de produtividade da próclise em referência a cada pronome não ocorrem de modo semelhante. Observe-se que os clíticos concernentes às primeiras e segundas pessoas discursivas bem como o se do tipo apassivador e indeterminador se constituem como os fatores de maior realização de próclise em ambas as variedades. Comparem-se, pois, as percentagens acima e os pesos relativos que, na seqüência, se indicam para o PB:

145 144 Figura 18: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável tipo de clítico pronominal: PB dos séculos XIX e XX Note-se que os valores percentuais obtidos para os clíticos de primeira e segunda pessoas discursivas do singular e do plural se confirmam mediante os pesos relativos observados no PB, fato que corrobora a hipótese de que, por motivo de focalização, tais pronomes tendem a favorecer o posicionamento proclítico por identificarem as vozes do locutor bem como do interlocutor quando em situação dialogal. Verifique-se que as marcas probabilísticas revelam que os acusativos assumem a segunda posição de maior favorecimento da variante proclítica nos contextos com elementos proclisadores. Os demais átonos comportam-se com valores abaixo de.50, não se constituindo, por isso, como relevantes no condicionamento da ordem pré-verbal. No que tange ao PE, eis as marcas: Figura 19: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável tipo de clítico pronominal: PE dos séculos XIX e XX

146 145 Assim como se atesta no PB, os pronomes me, te, nos, vos, igualmente, constituem, no PE, contexto de maior favorecimento de próclise seguidos de se apassivador/indeterminador. Os outros clíticos pronominais revelam-se desfavorecedores da variante pré-verbal. (iii) Tempo e modo das formas verbais Apreciem-se, preliminarmente, as freqüências da ordem em face da variável tempo e modo das formas verbais segundo os seguintes fatores amalgamados: Variantes Tempo e modo das formas verbais em dados de Lexias Verbais Simples (fatores amalgamados) Variedades fatores Presente e pretéritos do indicativo Português do Brasil Português Europeu Séculos XIX e XX Séculos XIX e XX Próclise Ênclise Próclise Ênclise 65% 562/870 Futuros do indicativo 10 18/18 Tempos do subjuntivo 98% 55/56 Imperativo 65% 13/20 Infinitivo 26% 29/111 Gerúndio 35% 6/17 35% 308/ % 1/56 35% 7/20 74% 82/111 65% 11/17 63% 527/ /28 99% 78/79 55% 6/11 56% 77/138 31% 5/16 37% 314/841 0/28 1% 1/79 45% 5/11 44% 61/138 69% 11/16 Tabela 15: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, segundo fatores amalgamados da variável tempo e modo das formas verbais: PB e PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples A interpretação da presente variável esclarece que, em ambas as variedades, os futuros do indicativo bem como os tempos do subjuntivo correspondem aos contextos de maior concretização da variante pré-verbal. Note-se, ainda, que, de modo geral, os demais tempos do indicativo tanto no PB quanto no PE também se revelam como contextos preferenciais para a realização da variante proclítica. No que respeita ao PB, as formas de imperativo (65%) apresentam taxas percentuais consideráveis de ocorrência da próclise. As formas nominais do verbo registram baixos índices da variante pré-verbal: gerúndio (35%) e infinitivo (26%). A propósito do Português Europeu, verbos flexionados no infinitivo (56%) bem como no imperativo (55%) atuam,

147 146 de modo similar, como hospedeiros do clítico em posição de próclise. As formas de gerúndio (31%), tal como no PB, mostram-se como domínios de baixos registros da colocação proclítica. Uma vez conhecidas as freqüências percentuais da ordem em face dos tempos e modos das formas verbais, considerem-se, no que respeita ao PB, os pesos relativos obtidos 57 : Figura 20: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável tempo e modo das formas verbais: PB dos séculos XIX e XX Além dos índices percentuais dos futuros do indicativo registrados acima, as tendências probabilísticas corroboram com expressividade os tempos do subjuntivo como domínios de maior favorecimento à próclise. Os tempos do presente e pretéritos do indicativo apresentam discreto favorecimento à variante pré-verbal, estando poucos pontos acima da linha de neutralidade (.50). Postula-se que a manifestação categórica da variante pré-verbal em domínio dos futuros do indicativo ocorra como forma de se evitar a variante mesoclítica. No que respeita aos tempos do subjuntivo, ressalte-se que tais formas verbais, por estarem diretamente correlacionadas com elementos subordinativos, concebidos como proclisadores canônicos, tendem a se constituir como ambientes profícuos de ocorrência da ordem proclítica. Note-se que, abaixo da marca de 57 Esclarece-se que, para efeito de melhor comparação, exibem-se as barras gráficas concernentes aos índices percentuais categóricos (10) da ordem em domínio de futuro do presente bem como do pretérito do indicativo.

148 147.30, se percebe o desfavorecimento da próclise por parte das formas de gerúndio e infinitivo, tendência que não fica evidente para a forma imperativa consoante a mera observação dos percentuais. No tocante ao PE, eis os valores relativos alcançados: Figura 21: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável tempo e modo das formas verbais: PE dos séculos XIX e XX Tal como a variedade brasileira do Português, o PE denota, de fato, que os futuros do indicativo e os tempos do subjuntivo favorecem de forma incontestável a variante proclítica. As demais formas verbais, assim como o presente e pretéritos do indicativo, não se evidenciam com considerável proeminência como elementos favorecedores do deslocamento do clítico para a esquerda de seu hospedeiro verbal. b) Grupo de fatores relevante apenas para a amostra brasileira Observe-se, nesta seção, a atuação da variável tonicidade das formas verbais, selecionada (em 5ª posição) exclusivamente para a compreensão da ordem em lexias verbais simples no âmbito do Português do Brasil. Para o estabelecimento das considerações acerca deste grupo de fatores, julga-se oportuna a análise das freqüências a seguir expostas:

149 148 Tonicidade dos itens verbais em dados de Lexias Verbais Simples Variedades Português do Brasil Séculos XIX e XX Variantes Próclise Ênclise Fatores Oxítona 44% 56% 182/ /416 Paroxítona 74% 26% 501/ /676 Proparoxítona - - Tabela 16: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, segundo o grupo de fatores tonicidade dos itens verbais: PB dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Registre-se que os vocábulos paroxítonos integram contextos de maior ocorrência da variante proclítica em comparação com as formas oxítonas. Uma vez observada a seleção de tal grupo de fatores para PB pelo programa computacional utilizado, ressaltem-se os pesos relativos indicados: Figura 22: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, mediante a variável tonicidade dos itens verbais: PB dos séculos XIX e XX As formas verbais com acentuação paroxítona revelam-se, como já se pontuou, como domínio em que a freqüência de próclise efetivamente encontra favorecimento. Os resultados vão ao encontra da hipótese de que a pauta acentual das paroxítonas motive a realização de próclise em detrimento da ênclise de modo a evitar a configuração de um vocábulo fonológico proparoxítono, os quais não são freqüentes no Português. As formas oxítonas, por sua vez, não atuam no favorecimento à próclise; a

150 149 ênclise a um vocábulo oxítono (perdeu-se, por exemplo) mantém a aludida pauta paroxitonizante do Português. Com o fim de exemplificar o que há pouco se justificou, acompanhem-se as ilustrações: (i) Aqui se acarreta a próclise. Donde: se. a.car.re.ta, com pauta acentual na 4ª silaba (ii) Acarreta-se a ênclise. Donde: a. car. re. ta. se, com pauta acentual na 3ª silaba (iii) Lá nos levantávamos cedo. Donde: nos. le. van. tá. va. mos, com pauta acentual na 4ª silaba (iv) Levantávamo-nos cedo. Donde: le. van. tá. va. mo. nos, com pauta acentual na 3ª silaba Certifique-se de que em (i) o item vocabular paroxítono revela a realização do vocábulo fonológico com pauta acentual na 2ª sílaba, permanecendo com a mesma acentuação ao contrário de (ii), contexto em que se verifica a configuração de uma forma proparoxítona. Os ínfimos registros de freqüência absoluta de itens proparoxítonos permitem atestar a improdutividade desses vocábulos na Língua Portuguesa. Nos dois casos de proparoxítonas no PE (ausentes no PB), a colocação proclítica foi estabelecida como forma de manutenção da mesma pauta acentual (como em (iii)) para que não se demandasse a constituição de uma forma bi-esdrúxula (apresentada em (iv)). c) Grupo de fatores relevante apenas para a amostra européia Sublinhe-se que a variável natureza da oração se exibe como o terceiro grupo de fatores responsável pelo condicionamento da ordem no Português Europeu, conforme apontado pelo tratamento multivariacional dos dados. No que respeita à atuação da variável natureza da oração, tomem-se, de antemão, os números distribucionais das variantes pelos fatores amalgamados conforme o exposto:

151 150 Fatores amalgamados do grupo natureza da oração em dados de Lexias Verbais Simples Variedades Variantes fatores Or. absoluta / principal / Coord. assindética Próclise 44% 151/344 Português Europeu Séculos XIX e XX Ênclise 56% 193/144 Or. coord. sindética 38% 76/201 62% 125/201 Or. sub. desenvolvida / Estruturas clivadas Or. sub. red. de infinitivo Or. sub. red. de gerúndio 99% 405/408 56% 77/138 33% 5/15 1% 3/408 44% 61/138 67% 15 Tabela 17: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de proclisadores canônicos e não-canônicos, segundo fatores amalgamados da variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais simples Perceba-se que, no PE, as orações absolutas / principais / coordenadas assindéticas assim como as sindéticas e as subordinadas reduzidas de gerúndio se evidenciam como ambiente de baixos índices de próclise, confirmando as recomendações gramaticais. Saliente-se, ainda, que a variedade européia revela índices de 56% de freqüência da ordem proclítica no contexto de subordinadas reduzidas de infinitivo, variante essa que assume índices quase categóricos em contexto de cláusulas subordinadas desenvolvidas / clivadas (99%). Associem-se, pois, às percentagens obtidas para PE, no que respeita à variável presente, os pesos relativos alcançados segundo a seleção realizada pelo programa computacional utilizado:

152 151 Figura 23: Aplicação da próclise (pesos relativos) em contexto de proclisadores canônicos e nãocanônicos, mediante a variável natureza da oração: PE dos séculos XIX e XX Corrobore-se que, quanto ao favorecimento da variante proclítica, as orações desenvolvidas / clivadas, indubitavelmente, assumem o forte caráter de motivação de próclise. As demais orações examinadas até mesmo as cláusulas subordinadas reduzidas de infinitivo, com pesos abaixo de.50, não se apresentam atuantes para a ocorrência de tal ordenação. 5.2 A ordem em ambientes de Lexias Verbais Complexas: a realidade dos corpora Para a análise do fenômeno de ordenação pronominal no âmbito das construções verbais complexas, dispõe-se de 431 dados de clíticos, dos quais 194 concernem à colocação constatada na amostra brasileira e 237 correspondem aos registros colhidos no corpus europeu. Acompanhem-se os números citados por meio da seguinte representação esquemática: Número total de dados: 3478 Número total de LVC: 431 Total de LVC no PB: 194 dados [Século XIX: 81 Século XX: 113] Total de LVC no PE: 237 dados [Século XIX: 80 Século XX: 157]

153 152 Faz-se conveniente esclarecer que a totalidade de 194 casos de ordem no PB engloba, dentre as variantes apresentadas na subseção 4.3.2, uma ocorrência de mesóclise morfologicamente marcada no verbo auxiliar, a qual, agora, se apresenta: Ex 1.: O subsecretário não mostrava os livros a ninguém, mas acontecia que, quando se abriam as janelas da sala de sua livraria, da rua poder-se-iam ver as estantes pejadas de cima a baixo. [LB-PB-LVC-32] Note-se que a manifestação da variante mesoclítica se procede mesmo diante de um proclisador canônico, isto é, da conjunção integrante que. Acredita-se que a interferência da variável distância entre proclisador e segmento constituído de clítico e complexo verbal motive a realização de tal registro. Por se tratar de um único dado particular, opta-se, em termos metodológicos, por não contemplá-lo na análise variacionista. Ressalte-se que a maior parte dos registros de lexias verbais complexas colhidas tanto na amostra brasileira quanto na européia correspondem a casos de conglomerados integrados por dois elementos verbais, quais sejam: (i) v1 como auxiliar e (ii) v2 como principal. Entretanto, verificam-se, no PB, 2 complexos constituídos de duas formas auxiliares, agora exibidos: Ex 2.: O que pensei encontrar: alguma velha, ou um velho, que da história soubesse dela lembrados quando tinha sido menina e então a razão [...] de muitas coisas haviam de poder me expor muitos mundos. [GR-PB-LVC-42] Ex 3.: Um ancião, envolto em sua toga cerimonial de seda preta e acompanhado de seu primogênito, saiu do grande templo aonde tinha ido [...] prosternar-se diante do altar de seus ancestrais. [EV-PB-LVC-52] Os parcos dados de estruturas verbais complexas com dois auxiliares nas quais se observa a realização das variantes intra-lvc sem hífen (entre o segundo auxiliar e o verbo principal) e pós-lvc surtem como uma razão consistente para que tais registros não sejam considerados na análise quantitativa dos resultados. Mediante a exclusão das 3 ocorrências supracitadas (1 caso de mesóclise morfologicamente marcada bem como 2 manifestações de complexos com dois verbos auxiliares), submetem-se ao tratamento técnico-computacional 191 dados de colocação em lexias verbais complexas advindos do corpus do PB dos séculos XIX e XX. No que toca ao Português Europeu, tal como o constatado no PB, leia-se o dado no qual a mesóclise se realiza no verbo auxiliar:

154 153 Ex 4.: Da rapidez dessa réplica poder-se-ia calcular o humor do director, ou antes, do "patrão". [FN-PE-LVC-52] A propósito das lexias verbais complexas integradas por 2 auxiliares, destaquem-se as 5 ocorrências subseqüentes: Ex 5.: [...] ninguém estranhará que vá saber, interessar-se, Coitada da rapariga, o que lhe havia de ter acontecido, há pessoas que nascem sem sorte. [JS-PE-LVC-52] Ex 6.: Ao cimo da escada aparece o Pimenta, vai para descer julgando que é um cliente com bagagem, então ficou à espera, ainda não reconheceu quem sobe, pode-se ter esquecido, são tantas as caras que entram e saem da vida de um mandarete de hotel [...].[JS-PE-LVC- 52] Ex 7.: O do 2º direito bem poderia tê-lo levado no Alfa Romeo, pelo menos ao Chile. [FN-PE- LVC-52] Ex 8.: Deus, na sua infinita misericórdia, há-de ter-lhe perdoado, porque muito amou e muito sofreu! [CM-PE-LVC-32] Ex 9.: Apesar do tempo que tive, não cheguei a acabar de lê-lo [...]. [JS-PE-LVC-52] Note-se, das escassas ocorrências de conglomerados verbais com 2 auxiliares, a realização de 1 dado da variante pré-lvc (Ex 5 ) assim como de 3 registros de intra-lvc com hífen (em Ex 6, o clítico se coloca em ênclise a v1 enquanto, em Ex 7 e Ex 8, o pronome se revela enclítico ao segundo auxiliar) além de 1 manifestação da ordem pós- LVC (Ex 9 ). De todos os autores analisados, José Saramago apresenta-se como o escritor que mais produziu dados de complexos com duplo auxiliar (3 casos). Pelos mesmos motivos expostos para o PB, procede-se à eliminação do caso de mesóclise morfologicamente marcada bem como dos dados de complexos com 2 auxiliares no conjunto de registros de colocação no PE dos séculos XIX e XX, que passa a contar, para o exame variacionista, com 231 ocorrências. Sumarizem-se todas as informações aqui prestadas pelo novo esquema em que se discrimina o número de dados quantitativamente investigados no âmbito das estruturas verbais complexas do PB e do PE dos séculos XIX e XX:

155 154 Número inicial de LVC: 431 Número total de LVC após as decisões metodológicas: 422 Total de LVC no PB (todos os contextos): 191 dados Total de LVC no PE (todos os contextos): 231 dados Dados em LVC com gerúndio: 23; Dados em LVC com particípio: 29; Dados em LVC com infinitivo: 139. Dados em LVC com gerúndio: 15; Dados em LVC com particípio: 39; Dados em LVC com infinitivo: 177. Os pormenores da ordem em complexos verbais encontram-se registrados nas respectivas seções em que se analisam, em três momentos, os casos de colocação em lexias verbais complexas com gerúndio, particípio de infinitivo A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal no gerúndio Por intermédio dos dados concernentes às variedades brasileira e européia do Português dos séculos XIX e XX, almeja-se, na seção que ora se inicia, discorrer acerca do fenômeno da ordem em estruturas verbais complexas em que v1 (semi-)auxilia verbos na forma de gerúndio. De modo a efetuar as considerações pretendidas, examinam-se 23 ocorrências de tais construções com pronome clítico na amostra brasileira, bem como 15 registros de colocação nos mesmos ambientes verificados no corpus europeu. Certifique-se de que, conforme salientado na subseção 4.3.2, em contexto de auxiliar + gerúndio, se admitem quatro possíveis variantes: (i) cl v1 v2: Aqui se está analisando a ordem pronominal. (ii) v1-cl v2: Está-se analisando a ordem pronominal. (iii) v1 cl v2: Está se analisando a ordem pronominal.

156 155 (iv) v1 v2-cl: Está analisando-se a ordem pronominal 58. No que concerne à variável dependente examinada nas estruturas de complexos integrados por verbos na forma de gerúndio, apreciem-se os números atribuídos a cada fator em particular: Variantes em domínio de LVC com gerúndio a partir de todos os contextos Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl 17% 4/23 17% 4/23 44% 10/23 22% 5/23 4 6/15 53% 8/15 5 7% 1/15 Tabela 18: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com gerúndio, referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX A distribuição dos valores da tabela 18 permite verificar que a colocação v1 cl v2 (44%), no PB, bem como a ordem v1-cl v2 (53%), no Português Europeu, se revelam em números superiores em cotejo com as demais registradas, assim como pontua Schei (2003) em sua análise da ordem em romances brasileiros. No que tange ao PB, como segunda opção de colocação pronominal em estruturas com gerúndio, apresenta-se a variante pós-lvc (22%) seguida das posições cl v1 v2 (17%) e v1-cl v2 (17%). Constate-se que o inverso se observa no PE, uma vez que a variante pré-lvc (4) cujos índices superam os valores da ordem pós-lvc (7%) se manifesta em segunda instância, pelo possível fato de os elementos proclisadores, conforme se verificará na análise dos grupos de fatores linguísticos, serem mais atuantes nessa variedade, tal como o atestado por Schei (2003). Os índices, há pouco expostos, sugerem a preferência pela colocação intra-lvc sem hífen na variedade brasileira do idioma, enquanto o padrão europeu opta, na maioria das vezes, pela ordenação dos clíticos em posição intra-lvc com hífen. A respeito da colocação intra-lvc sem hífen, isto é, v1 cl v2, ressalte-se que, no corpus brasileiro em discrepância à amostra européia, na qual não se constatam ocorrências dessa ordem, sua manifestação foi verificada em 10 registros de um total de 23 dados, sobrepujando a freqüência da colocação intra-lvc com hífen (4/23 58 Constate-se que, embora tal construção possa vir a causar algum tipo de estranhamento no que se refere ao Português do Brasil devido à presença de se do tipo indeterminador/apassivador, a tradição gramatical prevê tal estrutura em termos teórico-virtuais da língua.

157 156 dados). De modo a ilustrar alguns dos casos de v1-cl v2 e v1 cl v2 no PB, observem-se, respectivamente, os itens subscritos: Ex 1.: Pouco a pouco uma série de interrogações foram-se erguendo no seu espírito. [AAr-PB- LVC-32] Ex 2.: Sei lá, doutor! Os antigos diziam tolices, como todo o mundo... Mas, até logo; Mãe Nácia está-me chamando lá da casa da Lourdinha [...]. [RQ-PB-LVC-32] Ex 3.: As mulheres foram se levantando da mesa. [JLR-PB-LVC-42] Ex 4.: Eu fiquei me rindo quando o portador do Oiteiro me chegou com a sela. [JLR-PB-LVC- 42] Faz-se oportuno esclarecer, ainda, que, por motivo do baixo número de dados em complexos formados por auxiliar + gerúndio, não se estabelece, aqui, a exposição pormenorizada das freqüências percentuais das variantes em contexto de início absoluto de oração em face dos demais constituídos de proclisadores. Apresentam-se, assim, os valores contabilizados a partir de todos os dados em início de oração bem como em ambientes integrados por proclisadores canônicos e não-canônicos em conjunto, contemplando-se, dessa forma, todos os contextos. Saliente-se que, no PB, somente quatro dados (1 de ordem v1-cl v2, 1 de v1 cl v2 e 2 de v1 v2-cl) revelam o fenômeno em início de período/oração e, no PE, apenas 1 registro (de colocação v1-cl v2). Para exemplificação dessas ocorrências, considerem-se os casos subseqüentes: Ex 5.: Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um preá. [GrR-PB-LVC-42] Ex 6.: [...] Depois saímos, eu de um lado, você do outro; está me compreendendo, Lião. [LFT-PB-LVC-52] Ex 7.: Caindo por ali há séculos as fortes enxurradas, derivando a princípio em linhas divagantes de drenagem, foram talhando-as em quebradas que se fizeram canyons[...]. [EC-PB-LVC-32] Ex 8.: Vou-me deixando para trás [...]. [FN-PE-LVC-52] A partir dos exemplos, verifique-se que, nos dados em que os inícios absolutos de oração e de período 59 coincidem (Ex 5 e Ex 8 [este último advindo do PE]), ocorrências de v1-cl v2 são observadas. Nos registros em que não se dá tal coincidência, todos da amostra brasileira, perceba-se que apesar dos escassos números de dados colhidos se opta ora pela variante v1 cl v2 (Ex 6 ) ora pela colocação v1 v2-cl (Ex 7 ). 59 Considerou-se o conceito tradicional de período para a modalidade escrita todo enunciado compreendido entre letra maiúscula e ponto final.

158 157 Uma vez destacado o uso das variantes v1-cl v2 e v1 cl v2, tomem-se os padrões gráficos, a seguir apresentados, os quais concedem melhor visualização dos números, anteriormente, discriminados na tabela 18: Figura 24: Distribuição das variantes em domínio de LVC integrada por gerúndio, no PB dos séculos XIX e XX Figura 25: Distribuição das variantes em domínio de LVC integrada por gerúndio, no PE dos séculos XIX e XX Em face dos índices percentuais concernentes aos fatores constituintes da variável dependente, observem-se, agora, os valores absolutos e percentuais referentes à manifestação de cada variante pelos tipos de lexias verbais complexas integradas por verbo com flexão de gerúndio encontrados no material analisado: Variantes em face de estrutura complexa (semi-)auxiliar + gerúndio Variantes Variedades Estruturas Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Séculos XIX e XX Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Séculos XIX e XX Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Acabar + gerúndio 0/2 0/2 0/2 10 2/2 Ficar + gerúndio 0/3 0/3 10 3/3 0/3 10 1/1 Estar + gerúndio 2 1/5 2 1/5 6 3/5 0/5 10 2/2 0/2 0/2 0/2 Ir + gerúndio 23% 3/13 23% 3/13 31% 4/13 23% 3/13 33% 4/12 59% 7/12 7/12 8% 1/12 Total de dados 23 dados 2 de acabar + gerúndio, 3 de ficar + gerúndio, 5 de estar + gerúndio e 13 de ir + gerúndio. 15 dados 1 de ficar + gerúndio, 2 de estar + gerúndio e 12 de ir + gerúndio. Tabela 19: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de estrutura (semi-) auxiliar + gerúndio no PB e no PE dos séculos XIX e XX

159 158 Identifique-se, à primeira vista, considerando o total de dados e as estruturas recorrentes nas amostras de ambas as variedades do Português, a realização do complexo ir + gerúndio em índices absolutos mais elevados comparados com a freqüência apresentada pelos demais. Para efeitos de melhor percepção visual da constituição dos corpora quanto aos números de lexias verbais complexas com verbo principal no gerúndio, expõe-se o seguinte gráfico: Figura 26 Freqüência percentual das estruturas (semi-)auxiliar + gerúndio no PB e no PE dos séculos XIX e XX Note-se, pela apresentação crescente das barras gráficas, uma distribuição similar dos tipos de complexos constatados em ambos os corpora, com especial atenção à estrutura acabar + gerúndio, que apresenta baixo número de ocorrências no conjunto de dados do PB e não se apresenta no corpus do Português Europeu. Com o amparo dos valores concedidos na tabela 19, pode-se diagnosticar que, nos domínios de todas as construções complexas atestadas no âmbito do PB, a variante v1 cl v2 excede os números de realização das outras colocações, salvo em contexto de acabar + gerúndio, no qual a ordem pós-lvc se faz categórica nos dois únicos casos de registro desse complexo. No que toca à ordem v1-cl v2, note-se que, no conjunto de dados europeus em que se registram as lexias complexas consideradas, seus valores absolutos e percentuais ocorrem em proporções maiores comparadas aos outros fatores da mesma variável dependente. A construção estar + gerúndio tipicamente brasileira (ilustrada, mais adiante, em Ex 20 e Ex 21, em vez de estar + a + infinitivo) assume a particularidade de, entre as estruturas observadas no PE, apresentar 2 ocorrências da variante pré-lvc.

160 A ordem pronominal em LVC com gerúndio a partir de variáveis extralingüísticas Efetuada a descrição do caráter distribucional das variantes assim como da realidade das amostras investigadas, pormenorizam-se, na presente seção, as peculiaridades do fenômeno da ordem em construções complexas integradas por gerúndio quanto às variáveis extralingüísticas consideradas. No que respeita à variável vozes do romance, a observação do comportamento das variantes no PB admite constatar que a colocação v1 v2-cl consiste na opção majoritária de ordem em domínio narrativo de 3ª pessoa. Cumpre, ainda, informar que v1 cl v2, nos dados da variedade brasileira do Português, atinge índices categóricos de manifestação nos contextos instanciados pelos personagens (4/4 dados) e narradores personagens [1ª pessoa] (3/3 dados). Das vozes verificadas no PE, isto é, narrador personagem [1ª pessoa] bem como narrador de 3ª pessoa, em construções complexas com gerúndio, a variante v1-cl v2 alcança maiores índices nos domínios destes (6/8 dados) enquanto a ordem pré-lvc revela maior ocorrência nos contextos de narrador personagem (5/7 dados). A propósito da posição pós-lvc, seus 5 registros no corpus brasileiro bem como sua única ocorrência dentre os dados de lexias verbais complexas com gerúndio na amostra européia encontram-se em instância narrativa de 3ª pessoa. Saliente-se que, devido aos parcos números de construções complexas com verbo principal no gerúndio em ambos os corpora, nem todas as obras permitiram uma apreciação dessas estruturas em seus domínios. Dos escritores responsáveis pelas poucas lexias com gerúndio, citam-se, como aqueles que em maior número realizaram a variante mais produtiva do PB, ou seja, a intra-lvc sem hífen, José Lins do Rego (Fase 4 3/4 dados), Guimarães Rosa (Fase 4 1/1 dado) e Lygia Fagundes Telles (Fase 5 5/5 dados). Certifique-se de que os autores Bernardo Guimarães (Fase 1 1/1 dado) e Afonso Arinos (Fase 3 1/1 dado), em seus únicos dados de ordem com complexos integrados por gerúndio, revelam opção pela ordem intra-lvc com hífen. No que concerne à distribuição equilibrada das variantes, Rachel de Queiroz (Fase 3) assume, nos dois dados que produz, ora a colocação v1-cl v2 ora a ordem v1 cl v2, enquanto o autor Graciliano Ramos (Fase 4) revela igual distribuição entre as variantes pré-lvc e intra-lvc com hífen. No âmbito do PE, resguardada a mesma particularidade dos baixos registros de lexias complexas com gerúndio, tal como o registrado para PB, obras houve em que tais estruturas não foram testemunhadas. Ressalte-se que a variante v1-cl v2, de maior freqüência no

161 160 corpus europeu, alcança ocorrência categórica nas obras de Eça de Queiroz (Fase 2 1 dado), José Cardoso Pires (Fase 4 3 dados), José Saramago (Fase 5 1 dado), Fernando Namora (Fase 5 1 dado), Vergílio Ferreira (Fase 5 1 dado) e Alves Redol (Fase 4 1 dado). A colocação pré-lvc, do mesmo modo, é diagnosticada categoricamente nos escritos de Camilo Castelo Branco (Fase 1 2 dados), Almeida Garrett (Fase 1 2 dados), Alexandre Herculano (Fase 1 1 dado) e Raul Brandão (Fase 3 1 dado). Pontue-se que o único registro da variante pós-lvc é atestado no romance de Júlio Dinis (Fase 2). A atuação do evento da ordem em face da variável gênero/sexo dos escritores contemplados 60 demonstra, no PB, que escritores assumem a posição pós-lvc com a marca de 31% (5/16 dados) enquanto, em romances de autoria feminina, a variante v1 cl v2 revela índices quase categóricos (6/7 dados). No âmbito do PE, não se registram dados de colocação em estruturas complexas com gerúndio no texto de Augustina Bessa Luís, única obra feminina do corpus europeu. O exame da ordem pelas fases estipuladas a partir da época de publicação dos romances não permite tecer generalizações quanto à colocação no PB, uma vez que cada período de tempo apresenta preferências distintas quanto à realização das variantes. Entretanto, pode-se sinalizar que o século XIX, dos 5 dados que fornece, aponta distribuição equilibrada das posições pré-lvc e pós-lvc, ao passo que o século XX, apresentando 18 registros de ordenação de clíticos, indicia, majoritariamente (18 dados), a ordem v1 cl v2. As considerações descritas para PE demonstram que cl v1 v2, nas fases 1 e 3, e v1-cl v2, nas fases 4 e 5, tomam para si registros categóricos. De modo particular, a fase 2 distribui, igualmente, nos 2 dados de complexos com gerúndio que apresenta, as variantes cl-v1 v2 e v1 v2-cl. O decurso dos anos concede observar que o século XIX põe à vista maiores índices da ordem pré-lvc (5/7 dados), enquanto as ocorrências de v1-cl v2 assumem números mais elevados (7/8 dados) no século XX A ordem pronominal em LVC com gerúndio a partir de variáveis lingüísticas 60 Considere-se, uma vez mais, a discrepância já justificada no capítulo 4, referente à constituição das amostras entre o número de escritores e escritoras cujas obras foram eleitas para a composição dos corpora brasileiro e europeu.

162 161 No propósito de descrever o evento da colocação em estruturas complexas com forma de gerúndio a partir dos grupos de fatores de cunho lingüístico, contemplem-se os exemplos selecionados: Dados de clíticos com (semi-)auxiliar + gerúndio no PB dos séculos XIX e XX Ex 9.: Explicou-lhe, como pôde, essas dúvidas, e acabou perguntando-lhe [...]. [MA-PB-LVC- 29] Ex 10.: Vamos, Lena, entra depressa. Você vai na frente. Mas não fique aí 61 me olhando, está quase amanhecendo. [LFT-PB-LVC-52] Ex 11.: Nas pausas das lições ficava me olhando, tão mais consciente do que eu na minha inconsciência, como é que eu podia saber? [LFT-PB-LVC-52] Ex 12.: A cena se estava tornando patética; ambos choravam e só passados alguns instantes a inexplicável Moreninha pôde falar e responder ao triste estudante. [JMM-PB-LVC-19] Ex 13.: A de fora já está se dissipando e aqui começa outra, ah, não esquecer de avisar à menina de Santarém que se aparecer um gatinho malhado atendendo pelo nome de Astronauta. Gatinho? Mas ele não cresceu? Enfim, um gato malhado. Me avise e será fartamente recompensada. [LFT-PB-LVC-52] Ex 14.: Jisé Simpilício e Aristides, mesmo estão se engordando, de assim não-ouvir ou ouvir. [GR-PB-LVC-42] Ex 15.: Pouco a pouco uma vida nova [...] se foi esboçando. [GrR-PB-LVC-42] Ex 16.: Pouco a pouco uma série de interrogações foram-se erguendo no seu espírito. [AAr-PB- LVC-32] Ex 17.: O mestre José Amaro, arrastando a perna torta, foi se chegando para mesa posta, uma pobre mesa de pinho sem toalha. [JLR-PB-LVC-42] Ex 18.: Pegou no pedaço de sola e foi dobrando-a, com os dedos grossos. [JLR-PB-LVC-42] Dados de clíticos com (semi-)auxiliar + gerúndio no PE dos séculos XIX e XX Ex 19.: Outros ficaram-se movendo as cabeças e olhando à volta, estranhos à imensidão da lezíria, a desdobrar-se até ao infinito, numa chã retalhada de oiro e verde, verde e castanho [...] [AlR-PE-LVC-42] 61 Acredita-se que este dado testemunhe o percurso do processo de gramaticalização do item verbal ficar pela ambigüidade de função que tal forma assume na fronteira entre verbo predicador [instanciando o SAdv ai] e verbo (semi-)auxiliar [demonstrando um matiz aspectual, o qual pode ser percebido claramente no exemplo seguinte] por conta da perda de parte de seus semas prototípicos. Compreenda-se, assim, que o caráter dúbio da classificação inequívoca de ficar como verbo predicador ou gramatical enseja contemplá-lo, aqui, como um item (semi-)auxiliar integrante de uma estrutura complexa. Para maiores detalhes acerca dos padrões de auxiliaridade em perífrases verbais, consultar, por exemplo, os estudos de Machado Vieira (2001, 2003 e 2004).

163 162 Ex 20.: Eu cismava estas e outras coisas quando me estava preparando para entregar a minha vida às quietas delícias dum casamento que faria rir de piedade os meus amigos. [CCB- PE-LVC-19] Ex 21.: O bispo soluçava e gemia como se lhe estivessem dando os mais excruciantes tratos de tortura [...]. [AG-PE-LVC-19] Ex 22.: Isto disse o monge com tom solene e em voz alta, de modo que fosse ouvido dos dous homens d'armas que se iam retirando. [AH-PE-LVC-19] Ex 23.: Cabem aqui dentro as velhas cismáticas, atrás de interesses, de paixões ou de simples ninharias [...]; os homens a quem se foram apegando pela vida [...] e o Gabiru e o seu sonho. [RB-PE-LVC-32] Ex 24.: Da porta da casa, a mãe da rendeira vigiava o genro e ia-se voltando para dentro [...].[JCP-PE-LVC-42] Ex 25.: Parte-se carregado de coisas, elas vão-se perdendo pelo caminho. [VF-PE-LVC-52] Ex 26.: Assim o entendera José das Dornas, que foi preparando-o para um dia abdicar nele a enxada, a foice, a vara, a rabiça, e confiar-lhe a chave do cabanal, tão repleto em ocasiões de colheita. [JD-PE-LVC-29] As ilustrações de ambas as variedades demonstram que os casos de complexos com gerúndio, quase em sua totalidade, não apresentam a inserção de elementos entre os verbos integrantes de tais construções. Apenas 2 dados, no PB, indicam a presença de material interveniente (como no Ex. 10 ), não sendo registrados itens interpostos nos complexos do PE. De modo a verificar a ordem segundo o tipo de clítico pronominal, tome-se o quadro que se segue: Variável tipo de clítico pronominal em domínio de LVC com verbo no gerúndio Variantes Variedades Fatores Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Séculos XIX e XX Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Séculos XIX e XX Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Me 0/5 Se reflexivo / 27% inerente 3/11 Se apassivador O, a, os, as 25% 1/4 Lhe, lhes 0/2 2 1/5 18% 2/ /1 0/4 0/2 8 4/5 55% 6/11 0/4 0/2 0/5 1 75% 3/4 10 2/2 5 1/2 33% 3/9 10 1/1 5 1/2 5 1/2 67% 6/9 5 1/2 0/2 0/9 0/2 0/2 0/9 10 1/1 0/2

164 163 Tabela 20: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com gerúndio A realidade da amostra brasileira evidencia que a variante v1 cl v2 a mais produtiva, conforme já se pontuou encontra contexto de maior freqüência com os pronomes me (4/5 dados v.g. Ex 11 ) e se reflexivo/inerente (6/11 dados v.g. Ex 14 ). Perceba-se, também, o registro de v1-cl v2 com o clítico se apassivador (1/1 dado v.g. Ex 16 ). Os clíticos acusativo (3/4 dados v.g. Ex 18 ) e dativo (2/2 dados v.g. Ex 9 ) manifestam-se, (quase) exclusivamente, em posição pós-lvc. No âmbito do PE, o se reflexivo/inerente faz-se freqüente em colocação v1-cl v2 (6/9 dados v.g. Ex 24 ), enquanto os pronomes me e lhe(s) exibem opção equilibrada por cl v1 v2 e v1-cl v2. Na amostra européia, o único registro de colocação pós-lvc deu-se com pronome acusativo (Ex 26 ). A propósito da variável natureza da oração, eis os fatores recorrentes em ambos os corpora: Variável natureza da oração em domínio de LVC com verbo no gerúndio Variantes Variedades Fatores Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Séculos XIX e XX Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Séculos XIX e XX Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Or. absoluta / principal 14% / coord. assindética 2/14 Or. coord. sindética 12% 1/8 Or. sub. desenvolvida 10 1/1 22% 3/14 12% 1/8 5 7/14 38% 3/8 14% 2/14 38% 3/8 0/4 2 1/5 10 Tabela 21: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com gerúndio 83% 5/6 4/4 8 4/5 0/6 0/4 0/5 0/6 0/4 0/5 17% 1/6 No âmbito da variedade brasileira do Português, ateste-se que as orações indicadas em primeira posição na tabela 21 integram contexto de considerável ocorrência da variante v1 cl v2 (7/14 v.g. Ex 17 ). O dado único de cláusula subordinada desenvolvida expõe a ordem pré-lvc [[Rubião] [...] esperava que o fosse animando. [MA-PB- LVC-29]]. Verifique-se, ainda, que as coordenadas sindéticas apresentaram a ordem v1 cl v2 [Ex.: E, deitada, à luz vermelha do farol [...] Conceição ia se embebendo nas descrições de ritos [...]. [RQ-PB-LVC-32]] e a posição v1 v2-cl (Ex 18 ), em 3 dos 8 registros observados para cada

165 164 variante. Na variedade européia, como no único dado do PB, as subordinadas desenvolvidas favorecem com expressividade a variante pré-lvc (5/6 dados v.g. Ex 22 ). Quanto às demais orações constatadas, considere-as como contexto de maior registro de v1-cl v2. No intuito de pormenorizar o comportamento da ordenação dos clíticos segundo os possíveis elementos proclisadores, discriminem-se, previamente, os fatores observados: Variável presença/ausência de possível elemento proclisador em domínio de LVC com verbo no gerúndio Variantes Variedades Fatores Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Séculos XIX e XX Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Séculos XIX e XX Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Início absoluto / ausência de proclisador 0/4 SN sujeito nominal 33.3% SN suj. pron. pessoal 3/9 SN suj. pron. indef. [exceto elemento de negação] Conj. coord. aditiva 25% 1/4 33.3% 3/9 25% 1/4 33.3% 3/ /4 0/9 0/3 1/1 0/4 SAdv. [um só vocábulo] SAdv Loc. adverbiais Operador de foco Vocábulo de negação Elementos 10 subordinativos 62 1/1 0/4 25% 1/4 10 1/1 10 1/1 10 1/1 10 1/1 75% 3/4 10 1/1 10 3/3 10 1/1 10 1/1 10 0/3 0/3 0/2 2/2 0/2 0/2 10 1/1 Tabela 22: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença/ausência de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com gerúndio 84% 5/6 0/6 0/6 16% 1/6 Dá-se a perceber que, no PB, com exceção do elemento subordinativo, os itens: (i) advérbio (v.g. Ex 13 ), (ii) operador de foco (Ex 14 ) e (iii) vocábulo de negação (Ex 10 ), 62 Do rol dos elementos subordinativos verificados no PB em dados de clíticos no âmbito de LVC com gerúndio, averiguou-se somente a presença da conjunção integrante que. No que concerne ao PE, observam-se os seguintes fatores: (i) pronome relativo que (domínio no qual cl v1 v2 ocorre em 3 dos 4 casos colhidos), (ii) outros pronomes/advérbios relativos e (iii) conjunção subordinativa.

166 165 todos apresentados pela tradição normativa como proclisadores canônicos, não evidenciam um comportamento decisivo para a manifestação da variante pré-lvc esperada, salvo o único domínio integrado por conector que [[Rubião] [...] esperava que o fosse animando. [MA-PB-LVC-29]]. Em tais contextos, registre-se a predominância da variante inovadora v1 cl v2. Convém, entretanto, sinalizar que, embora a ordem pré-lvc não se manifeste com expressividade mediante operadores de próclise tradicionais, sua ocorrência pode ser percebida em contextos não prescritos pelos compêndios gramaticais (Ex 12 e Ex 15 ). De todos os possíveis proclisadores recorrentes nos dados de complexo com gerúndio do PB, a conjunção coordenativa aditiva (3/4 dados) se constituiu como contexto de maior registro da variante pós-lvc (v.g. Ex 9 ). A propósito da variedade européia do Português, perceba-se que esta revela, pelos casos analisados, que os elementos subordinativos motivam, altamente, o fenômeno de subida de clítico (como nos dados indicados em Ex 20, Ex 21, Ex 22, Ex 23, evento não verificado em Ex 26 ). Dentre os proclisadores não-canônicos constatados, apenas o domínio de locução adverbial apresentou dado de ordem pré-lvc [Os anjos [...] a cada oração do mancebo se iam atenuando [...] os crimes enormes do velho pecador. [AG-PE-LVC-19]]. Para apreciação da influência da variável tempo e modo das formas (semi-) auxiliares, considerem-se os fatores registrados: Variável tempo e modo dos verbos (semi-)auxiliares em domínio de LVC com verbo no gerúndio Variantes Variedades Fatores Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Séculos XIX e XX Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Séculos XIX e XX Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Presente do indicativo 2 1/5 Pret. imperfeito do indicativo 25% 1/4 Pret. perfeito do 8% indicativo 1/12 Pret. imperfeito do 10 subjuntivo 1/1 Imperativo 2 1/5 25% 1/4 17% 2/12 6 3/5 5 2/4 33% 4/ /1 0/5 0/4 42% 5/2 0/2 57% 4/7 21% 1/ /2 43% 3/7 6 3/5 0/2 0/7 0/5 0/2 0/7 2 1/5 1/1 Tabela 23: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo dos verbos (semi-)auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com gerúndio

167 166 É oportuno salientar que, no PB, a variante v1 cl v2 se faz freqüente em contextos constituídos por verbo (semi-)auxiliar nos tempos do indicativo observados (v.g. Ex 13 e Ex 17 ), ocorrendo, também, no único dado de imperativo (Ex 10 ). O pretérito imperfeito do subjuntivo (1 registro) antecipado por operador de próclise testemunha a colocação pré-lvc [[Rubião] [...] esperava que o fosse animando. [MA-PB-LVC-29]]. No que concerne à variedade européia, tal como no PB, a variante pré-lvc ocorre no dado exclusivo de verbo flexionado no pretérito imperfeito do subjuntivo (Ex 21 ). O presente e o pretérito perfeito do indicativo indiciam freqüências maiores de colocação v1-cl v2 (v.g. Ex 25 e Ex 19 ). A propósito do pretérito imperfeito do mesmo modo, contabilizem-se 4 ocorrências da ordem pré-lvc dos 7 casos registrados na amostra examinada (v.g. Ex 22 ). Acrescentem-se às ponderações, aqui estabelecidas, as considerações efetuadas na próxima seção concernente à interpretação dos resultados da ordem no âmbito das lexias verbais complexas integradas por particípio A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal no particípio A seção presente visa a descrever, quanto ao evento da ordem nas variedades brasileira e européia do Português nos séculos XIX e XX, as particularidades encerradas no âmbito das LVC que apresentam verbo principal na forma de particípio. As ponderações, aqui estabelecidas, ancoram-se no exame de 29 dados verificados no corpus brasileiro e de 39 ocorrências registradas na amostra européia. A propósito das possibilidades de colocação pronominal nas estruturas verbais complexas com particípio, conforme o apresentado na seção 4.3.2, examinem-se os exemplos que se seguem 63 : (i) cl v1 v2: Aqui se tem analisado a ordem pronominal. (ii) v1-cl v2: Tem-se analisado a ordem pronominal. 63 Convém registrar que, embora não se tenha por expectativa a manifestação da ordem pós-lvc no conjunto de dados de complexos verbais com particípio variante essa não prevista pela tradição gramatical (Ex.: Tem analisado-se), não se pode desconsiderar o fato de que ela, mesmo que hipoteticamente, pode ocorrer em tais domínios. Verifique-se, entretanto, que os resultados desta investigação, assim como de vários outros estudos (cf. Schei, 2003, por ex.), corroboram a nãomanifestação de pronome átono posposto ao complexo verbal.

168 167 (iii) v1 cl v2: Tem se analisado a ordem pronominal. A propósito dessa última variante em contexto de particípio ausente no PE, certifique-se de que, no corpus brasileiro, seu registro foi testemunhado em apenas uma ocorrência, a qual, abaixo, se ilustra: Ex 1.: [...] Porque eu, em tanto viver de tempo, tinha negado em mim aquele amor, e a amizade desde agora estava [...] falseada; e o amor, e a pessoa dela, mesma, ela tinha me negado. [GR-PB-LVC-42] É oportuno esclarecer que, tal como na análise da ordem em lexias verbais complexas com gerúndio, em razão dos escassos números de dados, não se procede, aqui, à apresentação detalhada dos percentuais em contexto de início absoluto de oração em face dos demais constituídos por proclisadores. Opta-se, assim, por indicar os números contabilizados a partir de dados em início de oração e em ambientes em que os fatores de próclise (canônicos e não-canônicos) se fazem presentes, isto é, contemplando-se os valores mediante todos os contextos. Constate-se que, no PB, somente 3 casos foram verificados em início de período e, no PE, 9 registros, todos com realização de v1-cl v2 nas duas variedades. Eis, respectivamente, dois exemplos: Ex 2.: Tem-se visto inverno começar até em abril. [RQ-PB-LVC-32] Ex 3.: Tinham-me dito vais pela vereda, chegas ao cotovelo da rocha, à esquerda, sobes a encosta. [FA-PE-LVC-29] Em face dessas considerações preliminares, acompanhem-se os números exibidos na tabela subseqüente para maior clareza quanto à distribuição das variantes: Variantes em domínio de LVC com particípio a partir de todos os contextos Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl 69% 20/29 28% 8/29 3% 1/29 0/29 62% 24/39 38% 15/39 0/39 Tabela 24: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com particípio, referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX 0/39

169 168 Pelos números expostos, é possível constatar que, tal como o prescrito nos compêndios gramaticais no que concerne à recomendação de não se pospor clítico ao verbo principal no particípio (cf. CUNHA & CINTRA, 2001: 316), a ordem pós-lvc não ocorre nas obras pertencentes aos corpora investigados. Constatem-se, como variantes registradas em contexto de LVC participial, as colocações cl v1 v2 com maior produtividade, v1-cl v2 e v1 cl v2 sendo esta última encontrada somente no PB, tal como o ilustrado na figura a seguir para efeito de melhor visualização: Figura 27: Distribuição das variantes em domínio de LVC participial, no PB dos séculos XIX e XX Figura 28: Distribuição das variantes em domínio de LVC participial, no PE dos séculos XIX e XX Note-se que ambas as variedades revelam similaridade de distribuição no que se refere à freqüência da variante cl v1 v2: a ordem pré-lvc revela-se com percentagens de 69% no PB e 62% no PE. Acredita-se que os altos índices de próclise a v1 se sucedem pela forte potencialidade de atração exercida pelos proclisadores canônicos nos complexos com particípio, fato não verificado nos dados de LVC com gerúndio. Ressalte-se, também, que alguns operadores de próclise não-tradicionais como os itens prepositivos e as locuções adverbiais observados no PE (discriminados na tabela concernente à atuação de possíveis proclisadores, exposta mais adiante) contribuem para a motivação de próclise a v1. De modo a ilustrar alguns dos casos de manifestação de cl v1 v2, leiam-se os exemplos:

170 169 Ex 4.: Mas em expiação de tuas culpas, e para que volte a paz à tua consciência, é mister que leves a efeito uma obra piedosa e santa, que compense largamente em benefícios à humanidade os danos e males que lhe tens causado. [BG-PB-LVC-19] Ex 5.: Confesso que dou o cavaco por elas, mas as moças me têm posto velho. [JMM-PB-LVC- 19] Ex 6.: Estava desnorteado ou se calhar meio louco com aquele momento de sorte que lhe tinha caído do céu. [JCP-PE-LVC-42] Ex 7.: [...] É estranho, pensou Ricardo Reis, não me lembrava deste relógio, ou esqueci-me dele depois de o ter ouvido pela primeira vez. [JS-PE-LVC-52] As variantes v1-cl v2 (28%) e v1 cl v2 (3%), no PB, e v1-cl v2 (38%), no PE, são contabilizadas com percentuais inferiores à ordem pré-lvc. Estudos recentes, como o de Schei (2003) e o de Nunes (2009), apontam a predominância da ordem pré-lvc sobre v1(-)cl v2 64 em ambiente de complexos verbais com a forma de particípio. Registre-se que, embora o PB apresente apenas 1 dado de colocação v1 cl v2 concebida como tipicamente brasileira, tal caso representa, de certo modo, uma diferença entre as variedades do Português examinadas, uma vez que o PE não demonstra registros dessa mesma variante em complexos com particípio, assim como atestado em ambientes de lexias com gerúndio. Antecipe-se, entretanto, que, no que toca especificamente ao PE, em ambiente de conglomerados verbais com infinitivo, tal variedade permite vislumbrar, ainda que em números reduzidos, casos de intra-lvc sem hífen em construções complexas com elementos intervenientes entre os verbos que as integram. No propósito de aduzir a produtividade das variantes pelas estruturas verbais haver + particípio e ter + particípio verificadas nos corpora, considerem-se os valores abaixo: Variantes em face das estruturas complexas haver + particípio e ter + particípio Variantes Variedades Estruturas Português do Brasil Pré-LVC cl v1 v2 Séculos XIX e XX Intra-LVC v1-cl v2 Intra-LVC v1 cl v2 Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Séculos XIX e XX Intra-LVC v1-cl v2 Intra-LVC v1 cl v2 Haver + particípio 75% 6/8 25% 2/8 0/8 6 3/5 4 2/5 0/5 64 A indicação de parênteses entre o hífen sinaliza que, em alguns trabalhos, como o de Nunes (2009), se contabilizam juntamente as posições v1-cl v2 e v1 cl v2 por motivo dos escassos números da variante intra-lvc sem hífen.

171 170 Ter + particípio 67% 14/21 Total de dados 29% 7/21 4% 1/21 29 dados 8 de haver + particípio e 21 de ter + particípio 62% 21/34 38% 13/34 0/34 39 dados 5 de haver + particípio e 34 de ter + particípio Tabela 25: Produtividade percentual e absoluta das variantes em contexto de haver + particípio e ter + particípio no PB e no PE dos séculos XIX e XX Primeiramente, pode-se perceber que, das lexias verbais complexas registradas, a construção ter + particípio ocorre em maior número nas amostras das duas variedades contempladas. Assim, visualize-se graficamente a produtividade dos complexos, considerando-se a totalidade das ocorrências 29 dados do PB e 39 do PE: Figura 29: Freqüência percentual das estruturas ter + particípio e haver + particípio no PB e no PE dos séculos XIX e XX Quanto à ordem, no PB, a variante proclítica a v1 faz-se um pouco mais freqüente com o auxiliar haver (75%) em comparação a ter (67%). No que tange ao Português Europeu, os índices são muito próximos, sendo o registro de cl v1 v2 em construções verbais complexas com auxiliar ter (62%) levemente superior aos percentuais observados em domínio de verbo principal auxiliado por haver (6). Expostos os valores de ocorrência das lexias verbais complexas destacadas, apresenta-se, a seguir, a descrição dos dados relativos à ordem em face dos grupos de fatores controlados.

172 A ordem pronominal em LVC com particípio a partir de variáveis extralingüísticas Procede-se, nesta seção, à apresentação das particularidades da ordem no total de dados obtidos, embora os registros não sejam suficientemente numerosos para que se proponham generalizações. No que se refere ao controle da variável vozes do romance, faz-se saber que a variante cl v1 v2, a mais freqüente nos corpora brasileiro e europeu, se revela como a opção mais realizada em todas as vozes do romance, isto é, em falas de personagens, narradores observadores (3ª pessoa) e narradores personagens (1ª pessoa), nos dados do PB. A propósito do PE, percebe-se comportamento semelhante ao Português do Brasil, salvo em contexto de narrador personagem (1ª pessoa), em que a variante v1-cl v2 se manifesta em 5 dos 7 dados colhidos. No que respeita aos escritores contemplados na amostra brasileira, registrem-se índices categóricos da variante proclítica a v1 em grande parte das obras observadas. Os escritos concernentes à autoria de Júlia Lopes (Fase 2 1/1 dado), Rachel de Queiroz (Fase 3 2/2 dados), Euclides da Cunha (Fase 3 1/1 dado) e Nélida Piñon (Fase 5 1/1 dado) exibem exclusivamente a posição v1-cl v2. O único dado da ordem intra-lvc sem hífen já apresentado no início desta seção encontra-se registrado na obra de Guimarães Rosa. Considere-se, ainda, que os escritores Lima Barreto (Fase 3) e Graciliano Ramos (Fase 4), responsáveis por 4 dos dados colhidos, apresentam igual opção pelas variantes pré-lvc e intra-lvc com hífen (2 dados de cl v1 v2 e 2 dados de v1-cl v2). A propósito do PE, o número de escritores, quanto à realização categórica de cl v1 v2 ou v1-cl v2, encontra-se equilibrado. Daqueles cuja escrita permite vislumbrar um possível caso de variação (tendendo para próclise a v1) ainda que de modo tênue, visto que uma das variantes não se estabelece de modo categórico ou em igual número de realização como a sua concorrente, citam-se Vitorino Nemésio (Fase 4 3/5 dados), José Cardoso Pires (Fase 4 5/7 dados) e José Saramago (Fase 5 4/7 dados). No que tange à distribuição equivalente de cl v1 v2 e v1-cl v2, destacam-se as obras de Júlio Dinis (Fase 2) e Vergílio Ferreira (Fase 5) como ambientes de ocorrência de 2 dos dados de pré-lvc e 2 dos casos de inta-lvc com hífen observados em contexto de auxiliar + particípio. A análise do evento da colocação pelas fases controladas, em ambas as variedades, aponta índices superiores da variante pré-lvc, com exceção da fase 3 no

173 172 PB e da fase 5 no PE, em que a ordem intra-lvc com hífen ocorreu em maior número: 4 de 5 dados no PB e 6 de 11 casos no PE. Em ambas as variedades, o século XIX consiste no período de tempo em que se dá a colocação pré-lvc em primeira instância, no que respeita às construções de auxiliar + particípio. Todavia, no Português Europeu, embora cl v1 v2 se apresente em maiores números do que v1-cl v2 nos períodos contemplados, as diferenças percentuais dessa colocação entre os séculos XIX (68%) e XX (6) não são consideravelmente díspares A ordem pronominal em LVC com particípio a partir de variáveis lingüísticas No intuito de pormenorizar o evento da ordenação dos clíticos pronominais em domínios de construções verbais complexas com verbo principal no particípio mediante variáveis de cunho lingüístico, leiam-se, preliminarmente, os exemplos arrolados: Dados de auxiliar + particípio no PB dos séculos XIX e XX Ex 8.: Sentia que não deveria, por coisa alguma, contrariar aquela valente mulherzinha que as águas do mar lhe haviam trazido do reino [...]. [DSQ-PB-LVC-42] Ex 9.: O senhor de Bertoleza não teve sequer conhecimento do fato; o que lhe constou, sim, foi que a sua escrava lhe havia fugido para a Bahia depois da morte do amigo. [AAz-PB- LVC-29] Ex 10.: Tropas do exército regular do Sul, ajudadas pelos seus aliados brancos de além-mar, tinham sido levadas em helicópteros para o lugar onde se presumia estivesse o inimigo, mas este se havia sumido por completo. [EV-PB-LVC-52] Ex 11.: Apesar de haver-lhe freqüentado o leito e, desavisado, batido à porta do ventre, tudo que queria era livrar-se daquele afeto. [NP-PB-LVC-52] Ex 12.: Haviam-se esquadrinhado todas as anfractuosidades, e todos os dédalos rasgados entre as pedras [...]. [EC-PB-LVC-32] Ex 13.: Ora! bastava já, e não era pouco, o que lhe tinham sugado durante tanto tempo! [AAz- PB-LVC-29] Ex 14.: Foram ter com Maria-Regalada, que mesmo na véspera lhes tinha mandado dar parte que se mudara da Prainha, e oferecia-lhes sua nova morada. [MAA-PB-LVC-19] Ex 15.: [...] creio que a não ser a falta de louças, já teu senhor me teria oferecido. [JMM-PB- LVC-19] Ex 16.: A velhice tinha-o tornado moleirão e pachorrento; com sua vagareza atrasava o negócio das partes [...]. [MAA-PB-LVC-19]

174 173 Ex 17.: Luciano tinha-se afastado do quarto e passeava no jardim, fugindo aos olhos de todos e à bulha atormentadora das vozes. [JL-PB-LVC-29] Dados de auxiliar + particípio no PE dos séculos XIX e XX Ex 18.: De todos os maus sentimentos que outrora lhe haviam corroído a alma, só um persistira, mas orientado de maneira a tornar-se prestável à comunidade: a emulação. [CM-PE-LVC- 32] Ex 19.: [...] é como se a sua pavorosa desordem interior se houvesse, por qualquer reflexo fenômeno, exteriorizado, extravasando numa forma visível sobre todo o seu ser [...]. [AB-PE-LVC-32] Ex 20.: Milagre fora o Algodres vir no barco que senão, havendo-lhes faltado a corda que [...] é mais que a muleta para um coxo, os peixes tinham festim. [AqR-PE-LVC-32] Ex 21.: Um ano, fins de outubro, havendo-se abalançado com tempo incerto até o extremo das cordas, foi caso que já ele, como arrais responsara o lanço [...]. [AqR-PE-LVC-32] Ex 22.: O trato e freqüência da corte enriqueceu os burgueses: muitos francos, vindos em companhia do Conde, aí se tinham estabelecido, e os homens de rua, ou moradores do burgo, constituíram-se em sociedade civil. [AH-PE-LVC-19] Ex 23.: Raras vezes se terá visto quadro tão estranho: uma rapariga a sacudir a cabeça, desesperada, e um homem sorrindo tristemente para a paisagem, certo de que a tempestade iria passar. [JCP-PE-LVC-42] Ex 24.: [...] Antes a peste me tivesse levado! [VN-PE-LVC-42] Ex 25.: É estranho, pensou Ricardo Reis, não me lembrava deste relógio, ou esqueci-me dele depois de o ter ouvido pela primeira vez. [JS-PE-LVC-52] Ex 26.: Mas isso fora há umas três noites, alguém lhe teria dito? [VF-PE-LVC-52] Ex 27.: A companheira tinha-se chegado. Fumava e olhava. [JCP-PE-LVC-42] Ex 28.: Tinham-nos avisado no asilo [...]. [VF-PE-LVC-52] Ex 29.: Consoante vão pondo pé em terra, [...] os estrangeiros murmuram contra o temporal, como se fôssemos nós os culpados deste mau tempo, parece terem-se esquecido de que nas franças e inglaterras deles costuma ser bem pior [...]. [JS-PE-LVC-52] No que concerne à ausência ou presença de elemento interveniente nas lexias verbais complexas com forma de particípio, os exemplos permitem observar que não existem registros de complexos com material interveniente no PB. Dos 39 dados de auxiliar + particípio no corpus europeu, somente 1 apresenta sintagma entre os verbos da construção complexa (Ex 19 ).

175 174 Para a apresentação da ordem frente à variável tipo de clítico pronominal, expõem-se, na tabela abaixo, os seguintes resultados da colocação em face de construções auxiliar + particípio, no PB e no PE dos séculos XIX e XX: Variável tipo de clítico pronominal em domínio de LVC com verbo no particípio Variantes Variedades Fatores Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Séculos XIX e XX Intra-LVC v1-cl v2 Intra-LVC v1 cl v2 Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Séculos XIX e XX Intra-LVC v1-cl v2 Intra-LVC v1 cl v2 Me 75% 3/4 Se reflexivo / inerente 67% 4/6 Se apassivador 0/2 O, a, os, as 67% 4/6 Lhe, lhes 82% 9/11 0/4 33% 2/6 10 2/2 33% 2/6 18% 2/11 25% 1/4 0/6 0/2 0/ /5 47% 7/ /1 83% 5/6 78% 7/9 Nos _ Formas contraídas _ 10 2/2 6 3/5 53% 8/15 17% 1/6 22% 2/9 10 1/1 0/2 0/5 5 Tabela 26: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tipo de clítico pronominal em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com particípio 0/6 0/9 0/2 Dos pronomes observados no PB, apenas o clítico se apassivador (Ex 2 ) diverge dos demais quanto à colocação em contexto de particípio: enquanto os outros são mais freqüentes na posição proclítica a v1, o apassivador mostra-se, nos dois casos de ocorrência, em posição intra-lvc com hífen. No que toca ao PE, o apassivador se (1/1 dado Ex 23 ) bem como os acusativos o(s), a(s) (5/6 dados v.g. Ex 25 ) e o dativo lhe(s) (7/9 dados v.g. Ex 18 ) correspondem às formas pronominais 65 que figuram, na maioria dos casos, em posição pré-lvc. Ateste-se, ainda, que os clíticos se reflexivo/inerente (8/15 dados v.g. Ex 27 ) assim como os pronomes me (3/5 dados v.g. Ex 3 ) e nos (1/1 dado v.g. Ex 28 ) se revelam um pouco mais freqüentes em colocação intra-lvc com hífen. 65 Perceba-se que, em contexto de formas contraídas observadas no PE, a posição pré-lvc se faz categórica (Ex.: [...] ela lho [lhe + o] tinha dito [...] [JS-PE-LVC-52]).

176 175 A respeito da ordem em face da variável natureza da oração, considerem-se os contextos subseqüentes: Variável natureza da oração em domínio de LVC com verbo no particípio Variantes Variedades Fatores Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Séculos XIX e XX Intra-LVC v1-cl v2 Intra-LVC v1 cl v2 Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Séculos XIX e XX Intra-LVC v1-cl v2 Intra-LVC v1 cl v2 Or. absoluta / principal / 33% coord. assindética 3/9 Or. coord. sindética 67% 2/3 Or. sub. desenvolvida 10 15/15 Or. sub. red. de infinitivo 56% 5/9 33% 1/ % 1/9 0/3 5 44% 56% 8/ _ 10 13/13 0/2 2/2 0/2 2/4 Or. sub. red. de gerúndio _ 0/3 Or. optativa _ 10 1/ /4 10 Tabela 27: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores natureza da oração em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das Lexias Verbais Complexas com particípio Em ambas as variedades, a posição pré-lvc manifesta-se de modo categórico em contexto de orações subordinadas desenvolvidas v.g. Ex 13 e Ex 18, respectivamente (bem como em cláusula optativa em 1 registro do PE), as quais se constituem dos elementos proclisadores. No que tange ao PB, verifique-se que a variante cl v1 v2, em domínio de coordenadas sindéticas (v.g. Ex 5 ), ocorre em dois dos três registros colhidos. A propósito da colocação v1-cl v2, pontua-se sua manifestação em 5 dos 9 casos de oração absoluta/principal/coordenada assindética (v.g. Ex 12 ) assim como nos 2 únicos registros de oração subordinada reduzida de infinitivo (v.g. Ex 11 ). No âmbito do PE, a ordem v1-cl v2 apresenta-se, no maior número de vezes, em contexto de oração principal/absoluta e/ou coordenada assindética (18 dados v.g. Ex 27 ) bem como de cláusulas subordinadas reduzidas de gerúndio (3/3 dados v.g. Ex 21 ). Quanto às reduzidas de infinitivo, as variantes cl v1 v2 e v1-cl v2 distribuem-se igualmente em número de ocorrências. O evento da colocação em estruturas de auxiliar + particípio, mediante o grupo de fatores presença/ausência de possível elemento proclisador, assume os seguintes índices com base nos contextos analisados: 3/3 3 0/4 0/3

177 176 Variável presença/ausência de possível elemento proclisador em domínio de LVC com verbo no particípio Variantes Variedades Fatores Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Séculos XIX e XX Intra-LVC v1-cl v2 Intra-LVC v1 cl v2 Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Séculos XIX e XX Intra-LVC v1-cl v2 Intra-LVC v1 cl v2 Início absoluto / ausência de proclisador 0/3 10 3/3 0/3 0/9 10 9/9 0/9 SN sujeito nominal 43% 3/7 57% 4/7 0/7 2 1/5 8 4/5 0/5 SN suj. pron. pessoal 10 1/1 67% 2/3 33% 1/3 0/3 SN suj. pron. indef. [exceto elemento de negação] 1/1 _ _ SN suj. pron. 1/1 demonstrativo SAdv. [um só vocábulo] 10 3/3 0/3 0/3 8 4/5 2 1/5 0/5 SAdv Loc. adverbiais _ 10 2/2 0/2 0/2 Preposição de 10 1/1 10 1/1 Vocábulo de negação 10 _ 1/1 Elementos subordinativos / / Pronome átono _ 10 1/1 Tabela 28: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores presença/ausência de um possível elemento proclisador em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com particípio Consoante o prescrito pela tradição gramatical, pode-se, também, constatar, nas estruturas complexas integradas por particípio, que, em ambas as variedades, os elementos subordinativos, os vocábulos de negação observados somente no PB assim como os advérbios 67 integram contextos com maiores índices de freqüência da variante pré-lvc. O único registro de SN sujeito pronome demonstrativo no PB tal como o de SN sujeito pronome indefinido e de preposição de na variedade européia apresentam, também, a ocorrência da ordem pré-lvc. Saliente-se, ainda, que tanto PB 66 Do inventário dos elementos reunidos sob o rótulo elementos subordinativos averiguados no PB, citam-se: (i) conjunção integrante que, (ii) pronome relativo que e (iii) palavra QU- interrogativa do tipo pronominal. No que tange ao PE, eis os fatores: (i) conjunção integrante que, (ii) pronome relativo que, (iii) outros pronomes/advérbios relativos, (iv) conjunção subordinativa, partícula que em locução conjuntiva e (v) palavra QU- interrogativa do tipo adverbial. 67 Ilustra-se o dado: Cá meu amo tinha-me dito: <<Vai [...] e perguntas o sr. Roberto se quer que o ajudes a tirar a mala da loja [...].>> [VN-PE-LVC-42]. A distância entre o advérbio e o clítico pode ter motivado o fato de essa ocorrência corresponder ao único caso do PE de contexto adverbial em que a variante v1-cl v2 ocorre em vez da ordem esperada pré-lvc.

178 177 quanto PE em conformidade com a prescrição gramatical não demonstram registros de cl v1 v1 em contexto de início absoluto, ambientes nos quais a ordem v1-cl v2 é categórica em ambas as variedades. No que respeita à atuação do grupo tempo e modo das formas auxiliares, considerem-se os fatores discriminados: Variável tempo e modo das formas auxiliares em domínio de LVC com verbo no particípio Variantes Variedades Fatores Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Séculos XIX e XX Intra-LVC v1-cl v2 Intra-LVC v1 cl v2 Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Séculos XIX e XX Intra-LVC v1-cl v2 Intra-LVC v1 cl v2 Presente do indicativo 67% 2/3 Pret. imperfeito do indicativo 67% 12/18 Futuro do pres. do indicativo Futuro do pret. do 10 indicativo 3/3 Pret. imperfeito do 10 subjuntivo 2/2 Futuro do subjuntivo 10 33% 1/3 28% 0/3 5% 63% 5/18 1/18 15/24 _ 10 1/1 1/1 Infinitivo 0/3 0/2 10 0/3 0/2 10 2/2 10 0/2 2/2 0/2 2/4 Gerúndio _ 0/3 10 1/1 37% 9/24 0/2 0/24 0/2 4/4 0/4 0/4 _ 5 5 2/4 10 Tabela 29: Produtividade percentual e absoluta das variantes em face do grupo de fatores tempo e modo das formas auxiliares em referência ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX, no âmbito das lexias verbais complexas com particípio 3/3 0/4 0/3 Ressalte-se que os futuros do indicativo dos quais o do pretérito se constata no PB bem como o pretérito imperfeito e o futuro do subjuntivo sendo esse último verificado somente no PB se particularizam como contextos categóricos de realização da variante pré-lvc. A respeito da variante v1-cl v2, perceba-se seu registro categórico em ambiente de infinitivo, no PB, bem como em domínio de presente do indicativo e de gerúndio no PE. À luz das constatações, aqui efetuadas, acerca do evento da ordem no conjunto de dados de complexos verbais com particípio do PB e do PE, contemplem-se as considerações que se tecem, na seção subseqüente, a propósito da colocação em construções verbais complexas com infinitivo.

179 A colocação pronominal em domínio de LVC constituída de verbo principal no infinitivo Em seqüência à análise da ordem em lexias verbais complexas gerundivas e participiais, leva-se a efeito, nesta seção, o exame de estruturas perifrásticas constituídas de infinitivo com o propósito de se delinear, nas variedades brasileira e européia do Português dos séculos XIX e XX, a ordenação dos clíticos no domínio de tais construções. De modo a apresentar as primeiras noções acerca da cliticização pronominal em complexos com infinitivo, reiterem-se as seguintes possibilidades de colocação, tal como o pontuado na seção 4.3.2: (i) cl v1 v2: Aqui se pode examinar a ordem pronominal. (ii) v1-cl v2: Pode-se examinar a ordem pronominal. (iii) v1 cl v2: Pode se examinar a ordem pronominal. (iv) v1 v2-cl: Pode examinar-se a ordem pronominal. Uma vez apreciados os fatores da variável dependente no âmbito das lexias verbais complexas com infinitivo, contemplem-se as freqüências percentuais e absolutas de cada variante atestada nos corpora investigados: Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir de todos os contextos Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl 11% 15/139 7% % 25/139 64% 89/ /177 17% 377 4% 7/177 Tabela 30: Distribuição geral das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX 58% 103/177 Os valores evidenciam que o fenômeno da colocação pronominal assume, em ambas as variedades, índices maiores de freqüência em posição pós-lvc (64% e 58%, respectivamente no PB e no PE), sinalizando que, supostamente, os domínios de conglomerados com verbo no infinitivo se constituem como ambientes profícuos à realização v1 v2-cl, situação não observada nos contextos de gerúndio e de particípio.

180 179 Segundo constatações dos estudos sobre o fenômeno, o registro obtido para a variante pós-lvc vai ao encontro do padrão esperado de colocação em construções integradas por verbo principal no infinitivo. Certifique-se, entretanto, de que Vieira (2002), a propósito da variedade brasileira, registra, nos poucos dados por ela obtidos, maior freqüência de realização intra(-)lvc 68, atestando no PE percentuais levemente superiores de v1 v2-cl em comparação aos obtidos para a variante pré-lvc. Schei (2003), de outro lado, registra no conjunto de dados brasileiros ora a colocação pré-lvc ora a pós-lvc. No que respeita ao PE, a pesquisadora contabiliza maiores números de v1 v2-cl. A propósito dos resultados de Nunes (2009), tanto o PB quanto o PE do século XIX demonstram certa preferência pela colocação pré-lvc, cujos índices sofrem decréscimos no século posterior em favor da variante pós-lvc. No presente estudo, no que respeita à ordem pré-lvc, PB e PE revelam, também, distribuição similar de dados, tendo o Português Europeu registrado um número maior de ocorrências (11% e 2, de modo respectivo). Verifique-se, pois, que a disparidade existente entre as variedades do Português quanto à colocação em domínios de estruturas verbais complexas se estabelece na produtividade das variantes v1 cl v2 e v1-cl v2, característica essa mais bem representada nas construções gráficas que se sucedem: Figura 30: Distribuição das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX Figura 31: Distribuição das variantes em todos os contextos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX 68 Uma vez mais, constate-se a utilização dos parênteses para indicar que alguns estudos, como o de Vieira (2002) e o de Nunes (2009), devido aos parcos números de v1-cl v2 e v1 cl v2, contabilizam, juntamente, ambas as variantes.

181 180 No que respeita à variante v1 cl v2 concebida em diversas investigações como inovação da variedade brasileira, uma vez que registros dessa colocação não são acusados na história do Português (v.g. MARTINS, 2009; PAGOTTO, 1992; GALVES, 2001), contabilizem-se, do total de 139 dados da amostra brasileira, 25 casos (contra 10 ocorrências de ordem v1-cl v2), dentre os quais se arrolam: Ex 1.: A Ana já veio me dizer que exige mais ordenado!... [JL-PB-LVC-29] Ex 2.: Eu não digo besteira, mulher. Se não quiser me ouvir que se retire. Estou falando a verdade. [JLR-PB-LVC-42] Ex 3.: Um homem que se preza não deve se entregar. [JLR-PB-LVC-42] Ex 4.: Não quis se levantar, mas acertou bem os ouvidos. [JLR-PB-LVC-42] Ex 5.: Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar... [GR-PB-LVC-42] Ex 6.: Mas ninguém não pode me impedir de rezar; pode algum? O existir da alma é a reza... [GR-PB-LVC-42] Ex 7.: E quem vai nos visitar a esta hora, Dodô? [NP-PB-LVC-52] Ex 8.: Quero me lembrar de um verso de Garcia Lorca e que não me lembro mas cito ao acaso, precisamos ir falando, falando em voz baixa mas falando como duas delirantes amparando uma terceira, a mais trôpega e a mais bonita, onde foi a festa? [LFT-PB-LVC- 52] Ex 9.: Sua missão acabava de lhe ser revelada pelo céu por um modo solene e miraculoso; ali mesmo pois prostrado aos pés da imagem prometeu erigir-lhe uma capela naquele mesmo sítio e junto àquele mesmo córrego onde fora visitado pela beatífica visão. [BG- PB-LVC-19] Ex 10.: Estou com pena do compadre José Amaro. Como é que vai ele se arrumar naquela casa abandonada. [JLR-PB-LVC-42] Ex 11.: Numa manhã assim tenho que me segurar senão saio voando, olha as margaridinhas, abriram todas! [LFT-PB-LVC-52] Ex 12.: E por que iria o pai se vingar? A senhora lhe deu cinco filhas saudáveis e terras como dote. [NP-PB-LVC-52] Mediante os exemplos supracitados, pode-se verificar que a manifestação da ordem v1 cl v2 ora ocorre em estruturas que não demonstram a presença de elementos intervenientes entre os verbos do complexo (exemplos 1 a 8), ora em construções com material interposto (exemplos 9 a 12). Saliente-se que, dos 25 casos da colocação intra- LVC sem hífen encontrados no PB, essa variante é registrada em maior número em domínios desprovidos de elementos intervenientes (16/25 dados).

182 181 Compare-se aos 25 registros de v1 cl v2 do PB a marca de apenas 7 manifestações dessa mesma variante no corpus europeu que privilegia a estrutura com hífen (v1-cl v2), atestada em 30 dados. É oportuno salientar que os testemunhos da posição intra-lvc sem hífen no PE ocorrem apenas em complexos com elemento interveniente em sua maioria a preposição de, o que sugere um efeito proclisador interno ao complexo verbal: Ex 13.: Na capoeira, a galinha raivosa, reconhecendo o outro enjeitado à luz da manhã, acabava de o matar à bicada, lançando-o fora do cesto. [FA-PE-LVC-29] Ex 14.: Há de lhe isso servir de muito! - rosnou o Paula, afastando-se. [EQ-PE-LVC-29] Ex 15.: Mas se ele nem força tinha de se arrastar até lá! Ao que ele chegara!... Clamaria por socorro... [AB-PE-LVC-32] Ex 16.: Não esperou pela resposta; ou pelo menos não precisou de a saber. [JCP-PE-LVC-42] Ex 17.: Nem tempo tiveram de lhe gritar. Conforme apareceu sumiu-se. [JCP-PE-LVC-42] Ex 18.: Pareceu-lhe ver nos criados um ar de susto e de perturbação, que acabou de lhe fazer [...] medo. [JD-PE-LVC-29] Ex 19.: Rodrigo não tinha que se surpreender. [FN-PE-LVC-52] No que toca aos poucos registros da colocação v1-cl v2 (10 dados) na variedade brasileira do Português, contemplem-se alguns dos casos a seguir: Ex 20.: Em todos os maus lugares, onde quer que houvesse uma orgia, um batuque, uma algazarra qualquer, podia-se jurar que lá se achava Gonçalo [...]. [BG-PB-LVC-19] Ex 21.: Num domingo de junho de 1891, ela sentou-se na sua sala, muito fresca e perfumada; e, estendida numa cadeira de balanço, perto da janela, pôs-se muito sossegadamente a ler um jornal do dia. [JL-PB-LVC-29] Ex 22.: Voltada para o sonho, ela continuou imóvel, com os membros lassos estendidos sob as roupagens longas e negras do seu ainda rigoroso luto de viuvez, e pôs-se a seguir com o olhar, que o pensamento erradio tornava ora abstrato, ora pensativo, uma barquinha de velas pandas que deslizava lá embaixo, isolada e pequenina, na solidão das águas. [JL- PB-LVC-29] Ex 23.: A língua do boato murmurava que, no dia seguinte ao da descoberta do crime, o duque se levantara acabrunhado como um doente; que recebera a visita do Dr. Louro Trigueiro; que começara-se a dizer então que as jóias tinham sido encontradas. [RP-PB- LVC-29] Ex 24.: A moça ultimou a trança, levantou-se e pôs-se a cear, calada, abstraída. [RQ-PB-LVC- 32]

183 182 Ex 25.: Quincas Borba procurou com os pés as chinelas; Rubião chegou-lhas; ele calçou-as e pôs-se a andar para esticar as pernas. [MA-PB-LVC-29] Ex 26.: O sol apontava por trás das montanhas quando o velho que, ao entardecer do dia anterior, havia apanhado uma pomba-rola com sua armadilha de bambu, saiu de sua choça e pôs-se a acender um fogo de gravetos para esquentar a água do chá matinal. [EV-PB-LVC-52] Os complexos verbais expostos, em sua maioria, encontram-se antecedidos por conjunção coordenativa, locução adverbial, assim como SN sujeito nominal e pronominal. Atente-se, entretanto, para o Ex 23, em que, mesmo mediante a presença de operador de próclise canônico, o pronome clítico não se posiciona de modo anteposto a v1. É oportuno salientar que grande parte dos casos de v1-cl v2 se manifesta em domínio da construção complexa do tipo pôr-se + infinitivo, fato que sugere ser a lexia destacada uma possível motivação para a ocorrência da variante intra-lvc com hífen. seguinte: A propósito da colocação em contexto de início absoluto, aprecie-se a tabela Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir do contexto de início absoluto Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl 0/33 0/33 15% 5/33 85% 28/33 0/49 22% 11/49 2% 1/49 Tabela 31: Distribuição geral das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX 76% 37/49 Em oposição às lexias verbais simples, tanto PB quanto PE não exibem dados de pronomes átonos em primeira posição inicial absoluta, conforme se constata pelos índices nulos da variante cl v1 v2. Em tais contextos, a predileção pela ordem pós-lvc torna-se mais nítida em ambas as variedades contempladas. Eis a aplicação dos valores expostos na tabela 31 nos gráficos abaixo:

184 183 Figura 32: Distribuição das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX Figura 33: Distribuição das variantes em início absoluto, no âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX Os padrões gráficos permitem observar que, na variedade brasileira do Português, além da colocação pós-lvc, somente a variante intra-lvc sem hífen se concretiza. Em contrapartida, note-se que, no PE, a variante intra-lvc com hífen se apresenta como segunda opção de ordem em início absoluto, seguida pela variante v1 cl v2, cujo percentual (2%) é ainda menor se comparado ao obtido para os demais contextos. De modo a observar o comportamento das variantes sob a intervenção dos proclisadores canônicos, analisem-se as freqüências percentuais e absolutas expostas na seqüência: Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir do contexto de proclisadores canônicos Pré-LVC cl v1 v2 Português do Brasil Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Pré-LVC cl v1 v2 Português Europeu Intra-LVC Intra-LVC v1-cl v2 v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl 21% 15/70 3% 2/70 21% 15/70 55% 38/70 42% 29/69 3% 2/69 7% 5/69 Tabela 32: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX 48% 33/69 Os números permitem atestar que, em contexto de proclisadores canônicos, ambas as variedades optam, em primeira instância, pela realização pós-lvc nos domínios em que, segundo a prescrição gramatical, se recomenda a colocação pré-lvc. A título de ilustração, leiam-se os dados subseqüentes:

185 184 Casos de v1 v2-cl em dados do PB dos séculos XIX e XX Ex 27.: Junto ao leito de um moribundo jurou que havia de amá-la para sempre. [JMM-PB- LVC-19] Ex 28.: Era terrível quando, ao voltar uma esquina ou ao sair de manhã de sua casa, o cidadão esbarrava com uma daquelas solenes figuras, que, desdobrando junto dele uma folha de papel, começava a lê-la em tom confidencial! [MAA-PB-LVC-19] Ex 29.: Do hábito que tinha de queixar-se a todo o instante de que só pagassem por sua citação a módica quantia de 320 réis, lhe viera o apelido que juntavam ao seu nome. [MAA-PB- LVC-19] Ex 30.: Iaiá não quer vê-lo e pede-lhe para não voltar a esta casa. [JL-PB-LVC-29] Ex 31.: Sentia não poder atendê-lo. [NP-PB-LVC-52] Casos de v1 v2-cl em dados do PE dos séculos XIX e XX Ex 32.: Não podia enganar-me na marcha. [FA-PE-LVC-29] Ex 33.: Sempre o desejo de apoiar as almas necessitadas conduziu os meus actos, porque penso não se conquistar a salvação cumprindo somente os sacramentos, mas pelas obras que devem conformar-se com a vontade divina. Como poderei ajudar-vos? [AAb-PE- LVC-52] Ex 34.: Para melhor merecer o apreço de Deus, não deveríamos então pô-la à prova? [AAb- PE-LVC-52] Ex 35.: Mas eu sacrifico-me, a Igreja entende que deve sacrificar-se pela Igreja e pelos pobres. [RB-PE-LVC-32] Conforme se pontuará mais adiante, as ocorrências expostas denotam que os operadores de próclise parecem não atuar de modo tão significativo para a manifestação da ordem proclítica a v1 como o fazem no domínio das lexias verbais simples. A respeito da atuação dos proclisadores em contexto de lexias verbais complexas, reproduzem-se as seguintes considerações de Vieira (2002: 315): [Em lexias verbais complexas,] Não se pode assegurar, entretanto, a efetiva atuação dos operadores de próclise, uma vez que, independentemente da presença de tais elementos, a variante intra-complexo verbal (e até a pós-cv) se concretiza. Embora, mormente no PB, os elementos proclisadores não interfiram significativamente na manifestação de próclise a v1 como é de expectativa,

186 185 considere-se que os índices de cl v1 v2 exibem, em sua freqüência, acréscimos de alguns pontos percentuais em ambientes integrados por tais formas, em comparação aos obtidos no conjunto de todos os contextos e nos domínios de início absoluto. A fim de visualizar a distribuição das variantes em ambientes de proclisadores tradicionais, contemplem-se as figuras: Figura 34: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PB dos séculos XIX e XX Figura 35: Distribuição das variantes em domínio de proclisadores canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo, no PE dos séculos XIX e XX Ressalte-se que, apesar de os elementos proclisadores não promoverem a realização categórica ou quase categórica da realização de cl v1 v2 em ambas as variedades, a interferência desses itens se faz de modo mais efetivo no PE (42%) em comparação ao PB (21%). No que tange aos contextos constituídos de proclisadores não-canônicos, analisem-se os números expostos: Variantes em domínio de LVC com infinitivo a partir de contexto de proclisadores nãocanônicos Português do Brasil Português Europeu Pré-LVC cl v1 v2 Intra-LVC v1-cl v2 Intra-LVC v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl Pré-LVC cl v1 v2 Intra-LVC v1-cl v2 Intra-LVC v1 cl v2 Pós-LVC v1 v2-cl 0/36 22% 8/36 14% 5/36 64% 23/36 14% 8/59 29% 17/59 1% 1/59 Tabela 33: Distribuição geral das variantes em contexto de proclisadores não-canônicos, no âmbito das LVC com infinitivo referente ao PB e ao PE dos séculos XIX e XX Uma vez mais, perceba-se que a variante pós-lvc se constitui como a primeira opção de ordem nas duas variedades do Português. No que concerne ao PB, faz-se 56% 33/59

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