SECAGEM DE MAÇÃS UTILIZANDO SECAGEM A AR ASSISTIDA POR ULTRA-SOM. RESUMO
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- Melissa de Carvalho di Azevedo
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1 SECAGEM DE MAÇÃS UTILIZANDO SECAGEM A AR ASSISTIDA POR ULTRA-SOM F.A.N FERNANDES 1, S. RODRIGUES, J.V.GARCIA-PEREZ 3 e J.A. CARCEL 3 1 Universidade Federal do Ceará, Departamento de Engenharia Química Universidade Federal do Ceará, Departamento de Tecnologia de Alimentos 3 Universitat Politécnica de Valencia, Departamento de Tecnologia de Alimentos fabiano@ufc.br RESUMO Este trabalho analisou a influência da secagem de maçãs assistida por ultra-som e sua influência na disponibilidade de vitaminas A, B1, B, B3, B5, B6, D e E no produto final. Este estudo permitiu estimar a difusividade efetiva da água nos processos de secagem com e sem aplicação de ultrassom. A difusividade efetiva da água aumentou em até 79% com a aplicação de ultrassom, causando a redução no tempo de secagem em até 35%. Um efeito negativo do processo de secagem foi observado na disponibilidade das vitaminas B5 e E. Porém a aplicação do ultrassom foi responsável pelo incremento na disponibilidade de vitaminas A, B1, B, B3, B6 e D, liberando a vitamina de sua ligação com a membrana celular, proteínas ou apoenzima. 1 INTRODUÇÃO As atuais tendências da sociedade, incluindo a redução dos níveis de atividade física e o aumento da disponibilidade de produtos alimentares baratos de baixa qualidade nutricional e alto teor calórico, contribuíram para preocupações com relação as dietas atuais nos países desenvolvidos. Os consumidores se tornaram mais conscientes das diferentes dietas e seu impacto sobre a saúde, e as empresas de alimentos e os comerciantes começaram a dedicar mais tempo e esforço para desenvolver produtos mais saudáveis e mais nutritivos. O processo de secagem reduz o teor de umidade do produto diminuindo o efeito de um dos principais fatores que determinam a taxa de deterioração de vitaminas por várias reações bioquímicas, a atividade de água (Ball, 006). No entanto, o processo de secagem pode aumentar a perda de vitamina, aumentando a exposição do alimento à alta temperatura durante um período de tempo. Embora a secagem de produtos vegetais é geralmente realizada em temperaturas amenas para evitar perda de nutrientes e degradação de cor, um longo tempo de exposição acaba deteriorando a qualidade nutricional do produto. Novos processos foram desenvolvidos para encurtar o tempo de secagem, tais como prétratamentos assistidos por ultra-som e por microondas (Garcia-Perez et al. 006; Carcel et al. 007; Delgado et al 009; Fernandes et al, 010). A secagem convencional é um processo simultâneo de transferência de calor e de massa, acompanhada de mudança de fase, sendo um processo de alto custo. Geralmente, um tipo de pré-tratamento é usado para reduzir o teor de água inicial ou modificar a estrutura do tecido de frutas para reduzir o total de tempo de processamento de secagem. Neste trabalho, a utilização de secagem a ar assistido por ultra-som foi investigado.
2 Ondas ultra-sônicas podem causar uma série rápida de compressões e expansões, de forma semelhante a uma esponja quando é espremida repetidamente (efeito de esponja). Além disso, o ultra-som produz cavitações que podem ser benéficas para a remoção de umidade fortemente ligada ao sólido. A biodisponibilidade de vitaminas varia de acordo com a forma química e estado físico no qual a vitamina existe dentro da matriz alimentar. Em alimentos derivados de plantas, as vitaminas do grupo B ocorrem ligadas a coenzimas, geralmente associados com uma apoenzima de proteína ou em sua forma livre. Vitaminas que existem como complexos e estão ligadas com algum outro material na matriz alimentar tem maior dificultade de digestão e menor absorção pelo intestino em comparação com a forma livre da vitamina (Ball, 006). Novas tecnologias para a produção de produtos alimentares devem visar não somente a conservação de alimentos, mas também devem melhorar o conteúdo nutricional do alimento. O processamento de alimentos tem de aumentar o valor nutricional do produto final e no caso de vitaminas devem converter a vitamina em sua forma livre, aumentando sua biodisponibilidade total. As maçãs são uma das principais frutas consumidas em todo o mundo e fazem também parte em muitos produtos alimentares. As maçãs são boa fonte de vitaminas B, B3, B5, B6 e também contêm vitaminas A, B1, D e E em quantidades menores. A secagem de maçãs foi estudada através do processo de secagem assistida por ultra-som. A influência da secagem assistida por ultra-som foi avaliada sobre a difusividade efetiva da água e o teor de vitaminas A, B1, B, B3, B5, B6, D e E. O aumento da disponibilidade ou a perda de vitaminas no produto desidratado foram discutidos. MATERIAIS E MÉTODOS.1 Preparação de amostras Maçãs (Malus domestica L. var. Royal Gala) foram compradas no mercado local (Valencia, Espanha). Foram utilizados apenas os frutos com a mesma fase de maturidade. As maçãs foram cortadas em cubos com espessura média de 8,5 mm. O teor de umidade dos frutos foi determinado por secagem a 60 o C sob vácuo (50 mmhg) até peso constante (4 horas).. Secagem A secagem das maçãs foi realizada em um secador convectivo assistido por ultra-som (Ortuño et al., 010). Nesta configuração, um dispositivo ultra-sônico em ar constitui a câmara de secagem, que é composta por um cilindro de alumínio acoplado a um transdutor piezoelétrico (1,7 khz). Foram realizados experimentos secando amostras de maçã em quatro velocidades de ar diferentes (1,, 3 e 5 m/s) e duas temperaturas (45 e 60 C) com (75 W; 1 khz) e sem aplicação de ultra-som. Os experimentos de secagem foram concluídos quando as amostras perderam 80% do seu peso inicial. A cinética de secagem da maçã foi modelada assumindo a transferência de massa controlada por difusão com o fluxo de líquido dentro da fruta em conformidade com a segunda lei de Fick. O modelo utilizado considera a solução da segunda lei de Fick para amostras em forma cúbicas. W W W crit (1) eq W eq n0 8 n 1 exp n 1 4a Dt
3 Dados experimentais foram utilizados para estimar o coeficiente de difusão efetivo do processo de secagem. O parâmetro foi ajustado com um processo de estimativa de parâmetros baseado na minimização da soma dos quadrados dos erros..3 Determinação de vitaminas A concentração de vitaminas A, D e E em maçãs foi determinada espectrofotometricamente. A análise foi baseada em métodos revisados por Jedlicka e Klimes (005) e Rizzolo e Polesello (199). Uma amostra de 1 g de fruta foi homogeneizada com 6 ml de água destilada por min usando um homogeneizador de célula (modelo Ultraturrax IKA T5). Hidróxido de sódio 0,5 M (1 ml) foi adicionado à amostra, que foi transferida 30 min para um banho de água a 70 o C e deixado por 30 min. Após resfriamento à temperatura ambiente em um banho de gelo, hexano (5 ml) foi adicionado e a mistura foi agitada vigorosamente durante 1 min. O sobrenadante que contém as vitaminas liposolúveis foi recolhido e analisado por espectrometria a 15, 35 e 54 nm. Os resultados foram expressos como a ganho/perda de vitamina usando a fruta fresca como referência (base seca). A concentração de vitaminas do complexo B também foi determinada por espectrometria com base em métodos revisados por Jedlicka e Klimes (005) e Rizzolo e Polesello (199). Neste caso, 1 g de fruta foi homogeneizada com 6 ml de água destilada por min usando um homogeneizador de células (modelo Ultraturrax IKA T5). Ácido sulfúrico 0,5 M (1 ml) foi adicionado à amostra, que foi transferida para um banho de água a 70 o C e mantido por 30 min nestas condições. Após o resfriamento da amostra à temperatura ambiente em um banho de gelo, o ph da mistura foi ajustado a ph 4.5 usando uma solução de hidróxido de sódio 0,5 M. A amostra foi centrifugada a rpm (8400 g) por 10 min. O sobrenadante que contém as vitaminas hidrosolúveis foi recolhido e analisado por espectrometria a 15, 54, 65 e 716 nm. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Experimentos de secagem A maçã apresentou um teor de umidade inicial de 83.9 ± 0,5 g/100 g de fruta fresca (base úmida). Em termos gerais, aplicação de ultra-som reduziu o tempo necessário para a secagem das maçãs. A vantagem na aplicação do ultra-som aumentou a baixas velocidade de ar e quando temperaturas mais baixas foram utilizadas, como observado comparando a difusividade efetiva de água para cada condição (Tabela 1). A 45 o C e 1 m/s de velocidade do ar, a difusividade efetiva de água para o processo de secagem assistido por ultra-som foi 54% maior do que o processo convencional e a redução de tempo foi de 35%, A 60 ºC e 5 m/s ambos os parâmetros foram semelhantes para o processo com aplicação de ultra-som e sem aplicação de ultra-som. A redução no tempo de secagem observada para maçãs esta dentro do intervalo observado para outras frutas e legumes, como relatado por Carcel et al (007), García-Pérez et al. (009), Ozuna et al (011) e Puig et al (01).
4 Tabela 1. Difusividade efetiva de água para cubos de maçã em diferentes temperaturas e velocidades do ar. Temp. Velocidade do ar ( ó C) (m/s) Difusividade com ultra-som ( 10 9 m s -1 ) 0,89 ± 0, ± 0, ± 0,09 1,4 ± 0,08 1,3 ± 0,05 1,61 ± 0,06 1,73 ± ,89 ± 0,10 Difusividade sem ultra-som ( 10 9 m s -1 ) 0,58 ± 0,0 0,73 ± 0,03 0,81 ± 0, ± 0,10 0,91 ± 0, ± 0,03 1,55 ± 0,08 1,89 ± 0,05 3. Disponibilidade de vitaminas em maças desidratadas A quantidade relativa de vitaminas nas maçãs submetidas a secagem assistida por ultra-som (em base seca) é apresentada nas Figuras 1 e, respectivamente para vitaminas solúveis em água (B1 + B, B3, B5 e B6) e vitaminas lipossolúveis (A, D e E). A quantidade relativa foi calculada considerando a quantidade de vitamina na maçã in natura como 100%. A quantidade de vitaminas B1 + B aumentou durante a secagem para experimentos com e sem aplicação de ultrasom. Parte da vitamina B (riboflavina) é ligada firmemente a uma apoenzima, enquanto a vitamina B1 (tiamina) é normalmente encontrada na forma livre ou fosforilada (Ball, 006). Os resultados sugerem que a aplicação de ultra-som durante a secagem e o tratamento térmico foram capazes de quebrar a ligação entre a vitamina e a apoenzima, alterando-a para sua forma livre e biodisponível. O efeito do ultra-som parece ser positivos em baixa temperatura e observou-se uma tendência de aumentar a disponibilidade da vitamina. Em alguns casos, a quantidade de vitaminas B1 + B nas amostras secas com aplicação de ultra-som foi ligeiramente maior do que para a secagem convencional indicando que o ultra-som pode induzir um maior desprendimento de vitaminas de sua ligação com a apoenzima. A quantidade de vitamina B3 aumentou após a secagem sem aplicação de ultra-som. A degradação da vitamina B3 foi observada em apenas duas condições operacionais onde foi aplicado ultra-som. A vitamina B3 é quimicamente ligada a nucleotídeos e até 70% de niacina pode ser biologicamente indisponível em alimentos crus (Ghosh et al., 1963; Wall e Carpenter, 1988). Os resultados indicaram que a temperatura e a aplicação de ultra-som durante a secagem podem afetar a vitamina. A quantidade de vitamina B3 foi superior a 45 C. A aplicação de ultra-som durante a secagem teve um efeito significativo nas experiências efetuadas a 60 C e as velocidades de ar mais elevadas (3 e 5 m/s) proporcionando uma maior disponibilidade de vitamina B3. O processo de secagem levou a uma redução na quantidade de vitamina B5 (ácido pantotenóico). Apenas a condição de secagem mais rápida com aplicação de ultra-som foi capaz de apresentar um aumento líquido em vitamina B5. Nenhuma tendência óbvia foi observada para o processo convencional. A aplicação de ultra-som durante a secagem a
5 60 o C mostrou um efeito negativo na vitamina B5 em função do tempo de processamento (menor velocidade do ar), com o aumento na perda de vitamina. A secagem convencional e assistida por ultra-som aumentou a quantidade de vitamina B6 livre, que aumentou para tempos mais longos de processamento. O ultra-som apresentou um efeito positivo e a quantidade de vitamina B6 foi maior nas amostras secas com aplicação de ultra-som. Baixas temperaturas de processamento resultaram em uma maior quantidade de vitamina B6 na maçã seca. Figura 1. Influência da temperatura, velocidade do ar e aplicação do ultra-som na quantidade de vitaminas B em maçãs. (a) vitaminas B1 + B; (b) vitamina B3; (c) vitamina B5; e (d) vitamina B6. As vitaminas lipossolúveis apresentaram tendências similares dentro deste grupo de vitaminas (A, D e E). O ultrasom teve um efeito positivo no processo de secagem mais curto, mas um efeito negativo significativo como o aumento no tempo de processamento, levando a perda de vitaminas. As vitaminas A e D são encontradas geralmente associadas a membrana celular e lipoproteínas. O processamento com ultrasom mostrou boa e rápida resposta para
6 produzir a forma livre de vitaminas A e D. A retenção da vitamina E foi muito baixa, com média de 51% de retenção. A perda da vitamina E foi maior no processo com aplicação de ultra-som do que no processo convencional. O comportamento de eliminação radical da vitamina E pode desempenhar um papel em seu consumo durante a secagem, uma vez que a aplicação do ultra-som induz a produção de pequena quantidade de radicais livres, na matriz de frutas, que será atacado pela vitamina E. Figura. Influência da temperatura, velocidade do ar e aplicação de ultra-som na quantidade de vitaminas A (a), D (b) e E (c) em maçãs. 4 CONCLUSÃO A aplicação de ultra-som aumenta a difusividade efetiva de água em maçãs e reduziu o tempo de secagem. A influência foi mais intensa em baixas velocidades do ar e temperaturas de secagem. A aplicação do ultra-som foi capaz de ajudar a aumentar a disponibilidade da forma livre de vitaminas A, B1, B, B3, B6 e D. A degradação da vitamina B5 e E ocorreu em um grau mais elevado. A aplicação do ultra-som permite o uso de temperaturas de secagem mais altas sem comprometer a qualidade nutricional de maçãs secas quanto ao teor de vitamina
7 AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o apoio financeiro do CNPq e do Ministerio de Economía y competitividade da Espanha. NOMENCLATURA a aresta do cubo (m) D difusividade efetiva (m/s ) t tempo (s) W umidade em base seca (g/g) Weq umidade de equilíbrio (g/g) Wcrit umidade crítica (g/g) REFERÊNCIAS BALL, G.F.M. Vitamins in Foods: Analysis, Bioavailability, and Stability. Boca Raton, USA: CRC Press, 006. CÁRCEL, J.A.; BENEDITO, J.; ROSSELLÓ, C.; MULET, A. Influence of Ultrasound Intensity on Mass Transfer in Apple Immersed in a Sucrose Solution. Journal of Food Engineering 78, , 007. CÁRCEL, J.A.; GARCÍA-PÉREZ, J.V.; RIERA, E.; MULET, A. Influence of High Intensity Ultrasound on Drying Kinetics of Persimmon. Drying Technology 5: , 007. DELGADO, A.E.; ZHENG, L.; SUN, D.W. Influence of Ultrasound on Freezing Rate of Immersion-Frozen Apples. Food and Bioprocess Technology : 63 70, 009. FERNANDES, F.A.N., RODRIGUES, S; LAW, C.L.; MUJUMDAR, A.S. Drying of Exotic Tropical Fruits: A Comprehensive Review. Food and Bioprocess Technology 4, , 010. GARCÍA-PÉREZ, J.V.; CÁRCEL, J.A.; RIERA, E.; MULET, A. Influence of the Applied Acoustic Energy on the Drying of Carrots and Lemon Peel. Drying Technology 7: 81 87, 009. GARCIA-PEREZ, J.V.; CÁRCEL, J.A.; FUENTE-BLANCO, S.; RIERA-FRANCO DE SARABIA, E. Ultrasonic Drying of Foodstuff in a Fluidized Bed: Parametric Study. Ultrasonics 44 Suppl 1: e539 e543, 006. GHOSH, H.P.; SARKAR, P.K.; GUHA, B.C. Distribution of the Bound Form of Nicotinic Acid in Natural Materials. The Journal of Nutrition 79: , JEDLICKA, A.; KLIMES, J. Determination of Water- and Fat-Soluble Vitamins in Different Matrices Using High-Performance Liquid Chromatography. Chem. Pap. 59: 0, 005. ORTUÑO, C.; PEREZ-MUNUERA, I.; PUIG, A.; RIERA, E.; GARCÍA-PÉREZ, J.V. Influence of Power Ultrasound Application on Mass Transport and Microestructure of Orange Peel during Hot Air Drying. Physics Procedia 3: , 010. OZUNA, C.; CÁRCEL, J.A.; GARCIA- PEREZ, J.V.; MULET, A. Improvement of Water Transport Mechanisms during Potato Drying by Applying Ultrasound. Journal of the Science of Food and Agriculture 91: , 011. PUIG, A.; PEREZ-MUNUERA, I.; CÁRCEL, J.A.; HERNANDO, I.; GARCIA-PEREZ, J.V. Moisture Loss Kinetics and Microstructural Changes in Eggplant (Solanum Melongena L.) during Conventional and Ultrasonically Assisted Convective Drying. Food and Bioproducts Processing 90: 64 63, 01. RIZZOLO, A.; POLESELLO, S. Chromatographic Determination of Vitamins
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