A FORMAÇÃO DO MST, A PARTIR DOS PROCESSOS DE EXCLUSÃO SOCIAL EXPERIMENTADOS PELOS TRABALHADORES RURAIS DURANTE A DITADURA MILITAR ( ).
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- Luísa Balsemão Valgueiro
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1 A FORMAÇÃO DO MST, A PARTIR DOS PROCESSOS DE EXCLUSÃO SOCIAL EXPERIMENTADOS PELOS TRABALHADORES RURAIS DURANTE A DITADURA MILITAR ( ). ZEN L.F.G. Prof. Dr. João E. Fabrini. (Orientador). UNIOESTE Esta é uma pesquisa que busca investigar a formação do MST, levando em consideração a trajetória vivida e experimentada pelos trabalhadores rurais ao longo do século XX, com ênfase no período inicial da Ditadura Militar em 1964 e considerando os processos de exclusão social no campo em contraponto com a apropriação concentrada da terra nas mãos de uma minoria de latifundiários que se apossaram de gigantescas áreas de terra aumentando drasticamente o antagonismo entre os latifundiários e os trabalhadores. Para uma melhor compreensão dos fatos devemos considerar um breve histórico da concentração da terra no Brasil. Desde o início da colonização portuguesa a posse da terra sempre esteve ligada a uma pequena classe privilegiada, foi assim desde o início com as Capitanias Hereditárias, onde o território da então colônia portuguesa foi dividido em grandes faixas de terra e distribuídas entre alguns privilegiados da coroa portuguesa. Posteriormente, como reino independente de Portugal, a produção agrícola, principal base econômica do país, se apoiou exclusivamente no trabalho escravo para continuar se desenvolvendo. Em meados do século XIX, quando se agravava cada vez mais às condições de se manter o regime escravista Pedro II e sua lei de terras concede posse definitiva das terras a todos que tinham os títulos de sesmarias. Para o professor de Geografia da UNIOESTE João E. Fabrini é nessa lei que está a origem das desigualdades e da violência no campo. A concentração de terras é resultado de um modelo econômico e de uma política agrária voltadas para o atendimento dos interesses do capital e não do trabalho. É no cativeiro da terra instalado a partir da Lei de Terras de 1850 que está a origem das desigualdades sociais e conflitos que resultam nas variadas formas de violência contra os trabalhadores no campo. (Fabrini 2000) Com a concessão da propriedade privada abriu-se caminho para resolver também o problema da mão-de-obra, com isso o governo poderia promover a vinda de trabalhadores
2 de outros países já que a lei de terras previa que a única forma de aquisição das terras devolutas do Império era através da compra. A maioria dos imigrantes vindos da Europa eram pobres e, portanto, não tinham condições de comprar terras no Brasil, por outro lado, os escravos em caso de liberdade não poderiam reivindicar a posse da terra, já que essa só era cedida a título de compra. Nesse sentido o governo e os proprietários de terra poderiam financiar a vinda de trabalhadores Europeus e com isso resolver seu problema com a falta de mão-de-obra após a abolição da escravidão. Resolvido o problema dos latifundiários e com o aumento da densidade demográfica criou-se ás condições necessárias para expandir o território explorado. Com o fim da escravidão e posteriormente com o fim do Império deu-se início a colonização de novos territórios em áreas ainda não exploradas. Um exemplo disso foi à venda de uma grande área de terras para a companhia inglesa CTNP (Companhia de Terras do Norte do Paraná) que adquiriu do Governo Federal uma área de terras localizadas na região norte do Paraná, onde hoje se situa a cidade de Londrina. A CTNP pagou um valor irrisório por um vasto território e posteriormente dividiu-o em pequenos lotes que foram vendidos em seguida para trabalhadores oriundos de várias partes do mundo. Posteriormente a esse período, a colonização de novos territórios seguiu adiante com esse mesmo padrão. Isso só se diferencia durante a ditadura militar, onde a ocupação dos chamados vazios demográficos possibilitou que a propriedade fundiária se concentrasse nas mãos de uns poucos privilegiados, principalmente nas regiões norte e nordeste. Segundo Carlo Minc, que acusa o IBGE de não querer revelar esses dados, no final da ditadura militar verificava-se que: para termos uma idéia mais precisa, aqui estão os dados de 1983 que o INCRA se recusa a divulgar: neste ano estavam cadastrados 340 latifúndios, ocupando uma área de 47 milhões de ha., enquanto que 2,5 milhões de pequenos proprietários ocupavam 42 milhões de ha. (...) 340 famílias ou empresas possuíam terras que excediam em cinco milhões de há o conjunto de dois milões e meio de famílias. (Minc 1985). Em material de formação política do MST, cita-se que cerca de 1% dos proprietários detêm em torno de 46% de todas as terras. (...) reduzindo a uma sociedade permanentemente conflitiva entre uma minoria de proprietários e uma ampla camada da população que tem seu trabalho cada vez mais explorado. Essa preocupação se deve ao fato da consciência dos trabalhadores e dos integrantes do MST de que a concentração da
3 propriedade da terra nas mãos de uma minoria é um dos fatores que levou a exclusão social de uma grande parte dos sem terra. Durante todo o século XX, várias migrações marcaram o desenvolvimento do Brasil. Em dado divulgado na revista Veja em 1994, entre 1940 as vésperas da industrialização no governo Vargas e 1990 com a recessão do governo Collor, aproximadamente 57 milhões de brasileiros migraram de suas regiões e cerca de 35 milhões de brasileiros deixaram o país. Segundo o demógrafo brasileiro George Martine do Instituto Sociedade População e Natureza, de Brasília, autor do relatório sobre políticas migratórias no Brasil para a Conferencia do Cairo, as pessoas só mudam quando acham que vão encontrar uma vida melhor em outra região(...)já temos um nível de população em zona urbana muito parecido com o da Europa, e isso é muito bom. A solução dos problemas sociais, econômicos, demográficos e ambientais está na cidade e no campo. (grifo meu) (Veja 1994) De acordo com os dados do IBGE publicados na revista Veja, as migrações que antes eram da região nordeste para as regiões central e principalmente para a região sul, na década de 1990, as cidades que recebiam a maior parte desses migrantes, pararam de crescer, e as migrações passaram a se dar dentro dos próprios estados causando um inchaço populacional nas capitais e grandes cidades das regiões em que as pessoas viviam. Esse fato acabou gerando um outro problema, a concentração de pessoas em favelas, Fortaleza que no início da década de 1980 tinha cerca de 353 mil pessoas vivendo em favelas em menos de quinze anos viu esse número passar para mais de 540 mil. Mais o que mais chama a atenção é que esse ciclo migratório tem uma intensificação justamente no início da industrialização, se intensificando durante o chamado milagre econômico brasileiro. Durante esse período, ocorreu um grande êxodo rural dos trabalhadores que buscaram os grandes centros industriais e urbanos. O êxodo rural é uma das grandes justificativas do movimento para explicar as concentrações de trabalhadores amontoados nos grandes centros: a migração das populações rurais para aglomerados urbanos é um processo natural e constante em todas as sociedades e ao longo das civilizações. No entanto, no caso brasileiro, é espantosa a velocidade e o volume de pessoas que tiveram que migrar de suas comunidades rurais de origem, sendo expulsas do campo e tendo que buscar as cidades como única possibilidade de sobrevivência. Segundo
4 estatísticas oficiais, no período de , cerca de 30 milhões de pessoas migraram para as cidades, sobretudo para as grandes cidades, formando-se novas metrópoles. E isso está trazendo enormes problemas sociais e econômicos para as pessoas que migraram e para as cidades que as receberam. (MST 1998) A proposta de milagre econômico prometia um crescimento de cinqüenta anos em cinco. Segundo matéria publicada na revista Veja em 1982, só na década de 1970, cerca de 24,3 milhões de pessoas migraram de suas regiões. O que se viu ao longo do século, foi que o PIB aumentou mais de 100 vezes, crescimento maior que de qualquer outro país do mundo nesse mesmo período. Por outro lado à concentração de renda também aumentou, os 5% dos ricos ficaram ainda mais ricos, em 1996 estima-se que cerca da metade das terras cultiváveis do país concentrava-se nas mãos de 2% dos proprietários, enquanto que as favelas se multiplicavam e todo o país. Segundo Fabrini, o Brasil conta com 8,5 milhões de Km², o que equivale a 850 milhões de hectares de terra. Se toda essa terra fosse dividida entre os cerca de 180 milhões de brasileiros, caberia a cada um 4,5 hectares de terra. (Região 2000) Com todos esses acontecimentos, os conflitos pela sobrevivência no campo tenderam as aumentar, no início da década de 1960 essa condição já ameaçava a ordem já que o aumento das desigualdades tanto no campo como na cidade gerava um aumento do antagonismo de classes. A situação internacional também causava preocupação para a burguesia. Com uma onda de revoluções que começou na Rússia em 1917 e posteriormente na China, Cuba e tantas outras que acabaram influenciando o mundo todo. Num contexto de guerra fria, não fica difícil perceber o interesse dos EUA em querer manter seu domínio em toda a América Latina com o aumento dos conflitos internos no país. No Brasil não poderia ser diferente, com as condições em que se encontrava a população de uma forma geral, crescia também a organizações de trabalhadores. Segundo o professor Nildo Viana, da Universidade Estadual de Goiás: as luta dos trabalhadores criavam um obstáculo ao processo de intensificação da exploração necessária, por um lado, à acumulação subordinada brasileira e, por outro, à acumulação norte americana. Assim sendo, os setores conservadores, ou seja, o capital norte americano e transnacional, a burguesia brasileira e suas classes auxiliares, etc., uniram-se para combater essa resistência.assim o fazendo, possibilitariam uma intensificação do processo de
5 exploração nacional, como efetivamente ocorreu, nos anos posteriores ao golpe de 1964 [grifo do autor] (Viana 2005). Em 1964 quando João Goulart anunciou as reformas de base, que previam entre outras coisas, a reforma agrária, embora essa proposta não tenha ficado tão clara para uma solução real do problema, já que em nenhum momento propunha o fim da propriedade privada ou mesmo a divisão das terras cultiváveis, a solução encontrada foi o golpe de estado que até hoje alguns insistem em chamar de revolução. Com o golpe estava dada a cartada final para manter a propriedade privada, o Estado cumpria seu dever de conter os antagonismos de classe no sentido mais amplo da palavra e manter seu compromisso com a burguesia. Castelo Branco, um dos principais líderes do golpe, reafirma seu compromisso com as classes dominantes, em uma aula inaugural da Escola Superior de Guerra, em 1967, afirmou em seu discurso que: o radicalismo ideológico simplifica barbaramente a realidade: se o problema é a luta de classes, escolhe-se uma classe eleita e eliminam-se as outras. (Castelo Branco 1967) Dessa forma fica claro qual era o compromisso dos militares. No início da ditadura militar, a indústria nacional ainda não representava a importância que tem na economia hoje, a principal base econômica do país era ainda a agricultura. Com o desenvolvimento da indústria essa passou a produzir vários tipos de maquinários que antes eram todos importados, entre outras coisas que começou a ser produzido, estavam incluídos os maquinários agrícolas que foram fundamentais para o desenvolvimento da agricultura. Com a produção de maquinas agrícolas, a necessidade de mão-de-obra no campo diminuiu drasticamente. A disponibilidade de um exército industrial de reserva concentrada nas favelas dos grandes centros e a falta da necessidade de trabalhadores no campo formou uma parceria para o desenvolvimento do capital em detrimento do povo. Ao longo desse período surgiram vários movimentos de luta pela terra, no final da década de 1970 na região Oeste do Paraná após a experiência de luta dos agricultores desapropriados para a construção da barragem de Itaipu, que contou com apoio principalmente do MJT (Movimento Justiça e Terra) e da Pastoral da Terra, essas experiências de luta colaboraram para a formação do MST. Com o agravamento das condições de sobrevivência no campo, movimentos semelhantes ao MJT surgiam por todas as partes do país, dessa forma a união de todos esses movimentos contribuiu para a projeção do MST a nível nacional.
6 Bibliografia: BRANCO, Mal. Humberto de Alencar. Segurança e Desenvolvimento, conceito de segurança nacional, São Paulo, SP, IBGE, Censo Demográfico de 1940 a 1991 e contagem da população. MINC, Carlo. A RECONQUISTA DA TERRA, Estatuto da terra, Lutas no Campo e Reforma Agrária. Rio de Janeiro, RJ. Ed. Zahar, 1985 MST, PROGRAMA DE REFORAMA AGRÁRIA. Caderno de formação nº23. São Paulo, SP. CONCRAB, VIANA, Nildo. Revista História e Luta de Classes. Rio de Janeiro, RJ. ADIA, 2005 FABRINI, João Edmilsom. Jornal da UNIOESTE. Abril de 2000 Veja, 25 de dezembro de 1996 Veja, 20 de janeiro de 1982 Veja, 14 de maio de 1980 Veja, 7 de setembro 1994 Veja, 13 de fevereiro de 1980
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