Autos nº:

Transcrição

1 Autos nº: Vistos, etc. Tem-se Ação Cautelar de Sequestro aforada por Adelvo Carelli, qualificado, em desfavor de Adelio Carelli, igualmente qualificado. Narra a inicial, em resumo, que o requerente era sócio do requerido em empreendimento rural, através do qual conseguiram obter financiamento como produtores. Afirmou que com a soma amealhada efetuaram a compra de vários semoventes e insumos para criação de gado leiteiro. Sustentou que o crédito rural foi feito em parceria entre ambos e, dessa sorte, pertence ao requerente metade dos animais adquiridos com a quantia. Relatou que a relação com o sócio foi rompida, por razões de desavença patrimonial, e que este mostra-se resistente a fazer a entrega da parcela do gado pertencente ao autor, proferindo contra ele, inclusive, ameaças de morte. Apontou que o requerido encontra-se em situação financeira de premência, mormente porque sua produção rural não se mostra lucrativa, ensejando constante cobrança por parte de seus credores, salientando o justo receio de perda ou dissipação dos animais em comento. Concluiu pela pertinência de deferimento da medida cautelar de sequestro, uma vez que há rixa entre as partes, que não mais se frequentam e não vislumbram possibilidade de composição amigável. Requereu o deferimento do sequestro, inaudita altera pars, perseguindo-se a quantidade de metade dos semoventes que se encontram na posse do requerido. 1

2 Deu-se à causa o valor de R$82.500,00 (oitenta e dois mil e quinhentos reais). Com a inicial, os documentos de f.08/09. Em emenda à inicial, o requerente, cumprindo os ditames do art.801, III, do CPC, apontou que pretende ajuizar Ação Reivindicatória, no prazo legal. É o relato, no necessário. Decido. Cuida-se de Ação de Sequestro, aforada pelo requerente contra o requerido, ambos qualificados. É cediço que o sequestro, tratado pelos artigos 822 e seguintes do Código de Processo Civil, é medida preparatória ou incidental de feição nitidamente cautelar, já que tem como finalidade precípua a preservação objetiva de posse ou propriedade que serão controvertidas em processo de conhecimento. Logo, a intenção do requerente ao manejar a mencionada pretensão, outra não é que preservar a frutuosidade de provimento principal a ser obtido em demanda adequada. No caso específico do sequestro, deve-se atentar que privilegia futura execução para entrega de coisa certa, como deixam claras as hipóteses legais de ocorrência, in verbis: Condensa a doutrina: Art O juiz, a requerimento da parte, pode decretar o sequestro: I - de bens móveis, semoventes ou imóveis, quando lhes for disputada a propriedade ou a posse, havendo fundado receio de rixas ou danificações; II - dos frutos e rendimentos do imóvel reivindicando, se o réu, depois de condenado por sentença ainda sujeita a recurso, os dissipar; III- dos bens do casal, nas ações de separação judicial e de anulação de casamento, se o cônjuge os estiver dilapidando; IV - nos demais casos expressos em lei. 2

3 Sequestro é a medida cautelar que assegura futura execução para entrega de coisa, e que consiste em apreensão de bem determinado, objeto do litígio, para lhe assegurar a entrega, de bom estado, ao que vencer a causa. Atua o sequestro, praticamente, através do desapossamento, com o escopo de conservar a integridade de uma coisa sobre que versa a disputa judicial, preservando-a de danos, de depreciação ou deterioração. (...) O sequestro supõe dúvida sobre o direito material da parte e perigo de desaparecimento da coisa, mas não exige que a lide já esteja sub judice, pois existe sequestro preparatório e sequestro incidente. (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo Cautelar.-25 ed. rev. e atual.-são Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, p.265 e 271). Como é curial, os requisitos para alcançar providência de natureza cautelar são basicamente dois, quais sejam, o fumus boni iuris, isto é, a plausibilidade do direito substancial invocado por quem pretenda segurança e o periculum in mora, ou seja, um dano potencial, um risco que corre o processo principal de não ser útil ao interesse demonstrado pela parte. O deferimento da cautela antes da oitiva da parte contrária, como postulado, é, também, hipótese tratada legalmente e tem lugar quando há risco de a parte contrária, ciente, prejudique a eficácia da medida. Na dicção da norma processual: Art.804. É lícito ao juiz conceder liminarmente ou após justificação prévia a medida cautelar, sem ouvir o réu, quando verificar que este, sendo citado, poderá torná-la ineficaz; caso em que poderá determinar que o requerente preste caução real ou fidejussória de ressarcir os danos que o requerido possa vir a sofrer. (...) Todavia, compulsando a prova encartada aos autos, não encontro preenchidos os requisitos para deferimento da 3

4 cautelar pretendida. Isso porque, como dito, o sequestro tem finalidade preservativa e constritiva de coisa certa, ou seja, de objetos que possuem exata delimitação em gênero, número e quantidade, os quais assim serão entregues em eventual procedência do pedido principal. O requerente traz como prova, tão somente, o documento de f.09, consistente em ficha sanitária animal, o qual descreve não dois, mas três proprietários dos semoventes ali relacionados, totalizando noventa e dois bubalinos, deixando dúvida se a ele pertence a metade, como dito na inicial, a terça parte deles ou apenas trinta e três animais, como pretendido na emenda à f.10/11. Ao sentir do juízo, no mesmo prisma, os bens que se pretende sequestrar são infungíveis e demandam descrição exata para que seja cumprida a ordem, até mesmo porque os semoventes, em tese pertencentes ao autor, serão retirados de um grupo maior, carecendo de precisa identificação para serem desapossados de quem os detém atualmente. Consigno, contudo, que sobre as cautelares incide regra de fungibilidade, podendo ser substituída por outra medida de urgência que se revele mais adequada ao caso, desde que presentes os requisitos autorizativos. No caso em espécie, vejo que o requerente ampara-se no fundado temor de perda dos semoventes dos quais é coproprietário, mormente pela situação de conflitos familiares instaurada entre ele e o requerido. Constatando que o objetivo precípuo do autor é conservativo, medida que se mostra aplicável ao caso é a de arrolamento que, sabidamente, tem o condão de conservar os bens sobre os quais se teme a dissipação. Em definição doutrinária: "Procede-se ao arrolamento sempre que há fundado receio de extravio ou dissipação de bens. E pode requerê-lo todo aquele que tem interesse na conservação 4

5 dos bens(theodoro JÚNIOR, op.cit., p.362). Indubitavelmente, o autor figura como um dos proprietários dos animais e tem, por óbvio, interesse em sua conservação, configurando-se a plausibilidade de seu direito. Os semoventes são bens de fácil dissipação e perda, havendo fundado receio de que a citação da parte açambarque a futura arrecadação do gado, sobrelevando que, mesmo existindo dúvida sobre o perigo, deve-se deferir a cautelar, já que ela tem fundamento meramente asseguratório e não concede ou retira direitos. À luz de tais razões, pelo princípio da fungibilidade, defiro a cautelar de arrolamento, determinando a expedição de mandado para efetivação da liminar, quando os Oficiais de Justiça comparecerão ao local para efetuar a descrição dos semoventes ali encontrados, nomeando a pessoa do requerido como depositário dos animais controvertidos nos autos, já que se encontram em sua posse e administração, deles não podendo dispor sem autorização judicial, sob pena de desobediência. Cite-se o requerido, na forma do art.802 do CPC. Cumpra-se. Lima Duarte, 26 de novembro de 2014 Elias Aparecido de Oliveira Juiz de Direito 5