Quem tramou Jean Moustache?

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Kléber Balsemão Vasques
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1 FICHA TÉCNICA Título original: Chi ha incastrato Jean Moustache? Autores do texto: Alessandro Gatti e Davide Morosinotto Ilustrações: Stefano Turconi Copyright 2014 Atlantyca Dreamfarm s.r.l., Italia Projeto editorial de Atlantyca Dreamfarm s.r.l., Italia Edição original publicada por Edizioni Piemme S. p. A. International Rights Atlantyca S.p.A., Via Leopardi, Milano, Italia foreignrights@atlantyca.it Tradução Brilho das Letras, Lisboa, 2015 Tradução: Francesco Mai Composição, impressão e acabamento: Multitipo Artes Gráficas, Lda. Depósito legal n.º /15 1.ª edição, Lisboa, março 2015 Jacarandá é uma chancela da Brilho das Letras Reservados todos os direitos para Portugal e países africanos de expressão portuguesa à Brilho das Letras Uma empresa Editorial Presença Estrada das Palmeiras, 59 Queluz de Baixo Barcarena Copyright Atlantyca Dreamfarm s.r.l. de nomes, personagens e símbolos, e licença exclusiva de Atlantyca S.p.A para a edição original. Traduções e adaptações são propriedade de Atlantyca S.p.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida sob qualquer forma ou meio, eletrónico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou armazenamento de informação sem o consentimento prévio, por escrito, do proprietário. Para mais informações contactar Atlantyca S.p.A., Via Leopardi, 8, Milano Italia. foreignrights@atlantyca.it.

2 Alessandro Gatti & Davide Morosinotto Quem tramou Jean Moustache? Ilustrações de Stefano Turconi Tradução: Francesco Mai

3 OS PROTAGONISTAS Mister Moonlight É o líder dos gatinhos detetives. Astuto e aventureiro, tem uma intuição fora do comum! Josephine Elegante e sofisticada, todos os gatos de Paris estão apaixonados por ela.

4 Ponpon O pequenote do grupo. É teimoso e desajeitado, mete se sempre em sarilhos! Dodò, o Marselhês Um gatinho de rua feioso mas sagaz. Conhece todos os segredos do submundo da cidade.

5 Olivier Bonnet Artista sonhador, é o «comidono» de Mister Moonlight. Não é esperto como o seu gato, mas é gentil e generoso com todos os felinos da cidade. Luc Ratin É um ratinho do campo, pequeno e gordalhufo. Sempre educado e prestável, é o ajudante oficial de Mister Moonlight. Tenardier Fugiu do jardim zoológico quando era ainda uma criança. É o rei dos esgotos da cidade e sabe sempre tudo de todos!

6 Inspetor Rampier Conhecido por toda a Paris, tem uns bigodes fininhos que se enrolam sempre que vê um gato. Constantemente mal humorado, tem um mau feitio considerável e nunca acerta nas soluções dos casos! Cauchemar O buldogue de Rampier. É grande e forte e, na verdade, um pouco pateta. Está disposto a tudo para capturar os gatinhos detetives. Gatomas O mais famoso gato ladrão de Paris. Espertíssimo, agilíssimo e rapidíssimo, consegue sempre que ninguém o apanhe!

8 Capítulo 1 A educação felina Ninguém conhece Paris melhor do que um gato. E en tre todos os felinos que povoavam a grande capital francesa, ninguém conhecia cada viela, telhado e varanda melhor que Dodò, o Marselhês, um gato de rua descuidado e magricela, mas, justamente por esta razão, ágil e rápido. Ainda era de madrugada quando Dodò deslizou silencioso como uma nuvem entre as casas do bairro de Montmartre. Saltando por varandas e janelas, o gato subiu até à basílica do Sagrado Coração, depois prosseguiu calmamente até alcançar uma viela sossegada e parou à frente da montra de um restaurante com um ar requintado.

9 Com umas elegantes letras douradas, o cartaz fora da porta anunciava: La Clef D or. Àquelas horas o restaurante ainda não estava aberto, mas isso não era suficiente para travar um gato esperto e ágil como Dodò. O gatinho passou para as traseiras do edifício e encostou o focinho à porta de serviço das cozinhas. Sabia que a fechadura estava avariada e, de facto, um instante mais tarde, a porta abriu-se com um pequeno clack e o gato enfiou-se no interior do local. De imediato, as suas sensíveis narinas felinas foram atraídas por um cheirinho delicioso a salsichas, que baloiçavam penduradas por cima de um fogão apagado, na companhia de dentes de alho e molhos de ervas aromáticas. O felino ajeitou-se sobre as pernas magrinhas, pronto para dar um grande salto para apanhar o seu pequeno almoço, quando ouviu um miar delicado atrás dele: Dodò! Que estás a fazer aqui? Um gatinho listrado coberto de pó das patas à cabeça apareceu detrás de um móvel. Depois esfregou 10

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11 o pequeno nariz com as patinhas e soltou um poderoso espirro: Aaattchimmm! Santinho, Ponpon! miou Dodò, que era um gato de rua bastante educado. Depois, acrescen tou: Eu ehm, vinha fazer-te uma visita, lá está! O gatinho aninhou-se no chão com uma expressão desconfiada. A sério? Querias fazer-me uma visita? A mim ou às salsichas frescas do meu comidono? Sabes que não lhes podemos tocar! Senão o que é que vai servir ao embaixador de Inglaterra ao almoço? O dono de Ponpon, de facto, era o famoso chef do La Clef d Or, e a sua cozinha estava repleta de iguarias de todos os tipos. Ponpon aproximou-se do seu amigo e ergueu o focinho. E, depois, a julgar pelo cheiro, estás a chegar diretamente do mercado do peixe. Sei lá eu se já não comeste até rebentar, no mercado! Dodò tossiu, envergonhado. De facto, tinha mesmo ido ao mercado, mas Felouche, o Pitosga, e o 12

12 seu bando de malandros felinos tinham chegado mais cedo, roubando-lhe as melhores peças. Por isso o Marselhês tinha prosseguido até ao restaurante, esperando poder roubar umas iguarias sem que ninguém o incomodasse Não sejas parvo! resmungou. Eu vinha para bem para convidar-te para almoçar! Para almoçar? repetiu Ponpon. Mas eu vivo num restaurante, estás farto de saber! Aqui tenho toda a comida que eu quiser. Dodò sorriu cinicamente com uma daquelas típicas expressões de felino que já viu o mundo: Os gatos têm sete vidas e os restaurantes apenas uma, rapaz. Não te esqueças! Nem sempre terás um chefe de cozinha disposto a preparar-te um pratinho de comida, por isso chegou o momento de te ensinar um pouco de educação felina. Tens de aprender a safar-te sozinho! Ponpon encolheu os ombros. Se o dizes O gato de rua pôs as garras de fora, observando-as com menosprezo: Diz lá, não estarás com medo? 13

13 Pfffff! Achas? soprou Ponpon, confiante. Aliás, por onde começamos? Dodò anuiu com convicção. Anda comigo! Os dois felinos saíram da cozinha e, com um salto, desapareceram pelas vielas do bairro. Dodò estava feliz por ter arranjado companhia: caçar sozinho era tão aborrecido Só que agora tinha de arranjar um almoço para dois gatos (e Ponpon, apesar do tamanho, comia como um tigre da malásia). Onde podia ir? Ah-ah, já sei! miou de repente. Vamos para a prisão! E o que é uma prisão? perguntou Ponpon, avançando ao lado do amigo. É como um apanhagatos explicou Dodò. Só que, em vez de apanhar felinos, prendem hu manos. E porque é que uns humanos deveriam apanhar outros humanos e enfiá-los numa jaula? Dodò abanou os bigodes, perplexo. De facto, não tinha ideia. Assim, limitou-se a um encolher 14

14 de ombros, como para dizer «Entendo lá eu aqueles tontos!». O cozinheiro da prisão chamava-se André Barrigon e era um homem gordíssimo com dedos do tamanho de umas belas salsichas. Era, por outro lado, um senhor muito gentil e com um fraquinho por gatos, aos quais costumava oferecer umas tigelas cheias de deliciosas sobras da cozinha. A prisão da Santé encontrava-se no bairro de Mont parnasse, bastante longe para irem a pé. Dodò, contudo, viu o carrinho de um leiteiro que avançava justamente naquela direção e conseguiu saltar lá para dentro, seguido por Ponpon. Uma vez instalados, o espertalhaço do Marselhês levantou a tampa de um barril de leite e mergulhou a cabeça no seu interior. Quando reapareceu, tinha os bigodes todos brancos e molhados. Mmmh, que delícia! exclamou. E em breve vamos encher também a barriga! Aquele devia ser o dia de sorte de Dodò, porque, como o leiteiro tinha que fazer entregas mesmo em 15

15 Montparnasse, os gatos puderam descer confortavelmente numa esquina a poucos passos de distância da prisão. Dodò conduziu Ponpon por um complicado percurso que passava por cima de uma torre, ao lado de uma cancela e, finalmente, terminava sobre a parede altíssima que rodeava o estabelecimento prisional. Lá em cima, os dois gatos podiam observar a prisão, com os seus edifícios de tijolos vermelhos dispostos em forma de estrela. Havia torres de guarda em todas as esquinas, espessas barras de ferro nas janelas e polícias com uma expressão severa um pouco por todo lado. Que lugar mais feio! comentou Ponpon, abanando o rabo. E porque é que aqueles lá ao fundo estão todos vestidos da mesma maneira? No pátio por baixo deles, um grupinho de pessoas vestidas com fatos macaco às riscas pretas e brancas caminhava em círculo, sob o olhar atento de dois vigilantes. 16

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