O comércio mundial em 2013
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- Fernanda Valverde Alencar
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1 MISSÃO PERMANENTE DA REPÚBLICA DE ANGOLA JUNTO Á ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS REPRESENTAÇÃO COMERCIAL GENEBRA - SUÍÇA O comércio mundial em Relatório da Organização Mundial do Comércio - Nota de trabalho G E NEBRA A 2 2 DE JULH O DE 2013
2 I. INTRODUÇÃO 1. A Organização Mundial do Comércio (OMC) publicou no dia 18 de Julho de 2013 o relatório anual sobre a evolução do comércio em 2012 e início de 2013, no qual são analisados os factores económicos fundamentais que afectam o comércio internacional, as suas tendências e as perspectivas para a cooperação comercial multilateral. 2. O Relatório sobre o comércio mundial, elaborado por um Grupo de peritos do Secretariado da OMC e de peritos externos, é uma publicação anual que permite uma melhor compreensão das tendências do comércio internacional, das questões de política comercial e do sistema comercial multilateral. 3. O documento com trezentas e quarenta e sete páginas está dividido em duas partes: a primeira parte descreve a situação do comércio em 2012 enquanto a segunda examina particularmente os factores que influenciarão o comércio internacional nos próximos anos. II. TENDÊNCIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL 4. O Relatório sobre o comércio mundial 2013 analisa as tendências prováveis do comércio e as maneiras como os factores económicos, sociais e políticos presentes e futuros poderiam influenciar estas tendências, tendo em conta que o comércio é ao mesmo tempo a causa e o efeito de algumas delas. Entre outras forças fundamentais que influenciam o futuro do comércio estão a demografia, o investimento, a tecnologia, a disposição e disponibilidade de energia e outros recursos naturais, os custos de transporte e as instituições. 5. Na história económica mundial distingue-se dois períodos essenciais do fenómeno da globalização durante os quais a tecnologia em particular os transportes e as comunicações foi o principal motor da integração económica nos últimos dois séculos. 1
3 O primeiro período que vai da metade do Séc. XIX até aos primeiros anos do Séc. XX foi caracterizado pelos primeiros passos da globalização, interrompida pelos choques das duas grandes guerras mundiais e da grande depressão. De 1914 até 1945 observou-se uma deglobalização durante a qual a economia mundial era fragmentada, com modelos económicos de âmbito nacional e dirigidos pelos Estados. O segundo período até hoje - começa após a devastação provocada pelas guerras e a grande depressão, caracterizado por uma reglobalização progressiva e a criação de instituições internacionais (ONU, FMI, Banco Mundial, GATT (mais tarde a OMC)). Estas instituições têm como objectivos a manutenção da paz e a redução do nacionalismo económico e das políticas de cada um por si, reforçando desta maneira a cooperação política internacional. 6. Nos últimos 30 anos, o comércio internacional teve um tremendo crescimento. O comércio de mercadorias e de serviços cresceu mais de 7% por ano em média entre 1980 e 2011, atingindo um pico de biliões e de biliões de dólares americanos respectivamente. Durante o mesmo período, as economias em desenvolvimento aumentaram a sua participação nas exportações mundiais de 34% em 1980 a 47% em 2011, e a participação das economias desenvolvidas caiu de 66% a 53% no mesmo período. A República Popular da China viu a sua participação passar de 1% em 1980 para 11% em 2011, tornando-se o primeiro exportador mundial, se os membros da União Europeia são considerados separadamente. O comércio sul-sul cresceu, passando de 8% em 1990 para 24% em 2011, enquanto comércio norte-sul conheceu de igual forma um crescimento de 33% em 1990 para 38% em 2011, notando-se no mesmo período uma queda no comércio norte-norte de 56% para 36%. Outra tendência observada é a regionalização do comércio desde 1990, destacando-se a Ásia cujo comércio intraregional passou de 42% em 1990 para 52% em Se a parte do comércio intraregional nas exportações norte-americanas era de 41% a 56% entre 1990 e 2000, esta participação caiu a 48% em
4 Excluindo o comércio intra-união Europeia, a Europa viu de igual forma cair o comércio intraregional de 35% em 1980 para 29% em O comércio intraregional nas outras regiões geográficas da OMC (América do Sul, África, Médio Oriente e a Comunidade de Estados Independentes (Ex-Repúblicas Soviéticas) continua fraco, tendo em conta que estas regiões exportam mais produtos de base para as outras regiões acima denominadas. 7. As cadeias de valor internacionais jogam um papel central na economia mundial actual: as mercadorias e os serviços contêm bens intermediários que podem ter diferentes origens e as estatísticas comerciais tradicionais atribuem erradamente a totalidade do valor da transacção dos produtos comercializados ao último país que intervem no processo de produção. Estimativas preliminares das trocas comerciais calculadas em termos de valor agregado indicam que cerca de 30% do total do comércio concitem em reexportações de bens intermediários, o que testemunha uma crescente interdependência internacional através das cadeias de produção internacionais. Desde meados de 1990 esta percentagem aumentou de 10 pontos. III. FACTORES ECONÓMICOS FUNDAMENTAIS 8. A demografia, o investimento, a tecnologia, a energia e os outros recursos naturais, os custos de transporte e as instituições são os factores económicos fundamentais que moldam a natureza global do comércio e explicam por que os países têm relações comerciais. A demografia é um factor importante para o futuro. Alguns países estão bem avançados na transição demográfica 1, enquanto outros terão de enfrentar o 1 A transição demográfica difere de um país a outro e decorre geralmente em quatro fases : a primeira fase é caracterizada por uma fecundidade e uma mortalidade elevadas e por conseguinte a população é jovem e a relação de dependência de pessoas idosas é fraca. Na segunda fase, a mortalidade baixa mas a fecundidade continua elevada para baixar paulatinamente. Nesta fase a taxa da população activa aumenta consideralvemente. A terceira fase é caracterizada pelo envelhecimento da população e na última fase vê-se uma população mais idosa com uma relação de dependência de pessoas idosas muito elevada. 3
5 envelhecimento da população e a diminuição da força de trabalho. A migração, a urbanização e o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho são factores que irão influenciar. As diferenças internacionais na dinâmica das populações constituem um factor que determina a vantagem comparativa. Nos países em fase de envelhecimento populacional, as despesas são mais efectuadas nos serviços de comunicação, nos transportes e na saúde, enquanto nos países em primeiras fases de transição demográfica, nota-se um aumento do PIB per capita paralelamente à importância da classe média e do consumo de bens e serviços. De igual maneira a transição demográfica está associada às variações das taxas de participação à população activa. A participação das mulheres ao mercado de trabalho está intimamente ligada à diminuição da fecundidade, mas também determinada pelas normas culturais dos países e regiões. Segundo as previsões, a taxa de participação das mulheres à população activa vai aumentar na União Europeia, na América do Sul e Central e em África subsaariana, enquanto o Médio Oriente terá um ligeiro aumento. O investimento é um componente essencial das relações económicas internacionais. O desenvolvimento das cadeias de valor e de fornecimento tornou ainda mais evidente este facto, e não se pode considerar o investimento estrangeiro directo (IED) como uma alternativa ao comércio, porque o IED está relacionado com os fluxos comerciais que ligam as importações e as exportações nas cadeias de produção. Para além disso, o investimento é um mecanismo para a transferência de tecnologia, de conhecimento e de inovação. A tecnologia não só forneceu os meios que tornaram possível a globalização fisica e virtualmente. É também a fonte de ganhos de produtividade associados à inovação e ao crescimento. Segundo as previsões, as fontes de inovação tecnológica vão passar cada vez mais para as economias emergentes e as novas tecnologias serão o resultado mais directo do sector de serviços. A tecnologia também pode mudar em grande parte os modos de produção e do consumo. O progresso tecnológico é um factor importante para explicar as trocas comerciais, pois concede uma vantagem comparativa e contribui à redução dos custos 4
6 comerciais, existindo entre a tecnologia e o comércio uma relação recíproca. O comércio incita à inovação e à transferência de tecnologia. A possibilidade de dispor de recursos energéticos e outros recursos naturais tem um efeito decisivo sobre o volume, a estrutura e o crescimento do comércio internacional, sobretudo num mundo onde estes recursos são repartidos de forma desigual. Tendo em conta a repartição internacional desigual destes recursos, um país poderá ser tentado de explorar este poder no mercado e impor restrições à exportação, provocando uma subida de preço mundial do recurso em causa. A subida de preço e a volatilidade de preços dos recursos naturais como o petróleo podem ter efeitos negativos importantes sobre a actividade económica e o comércio internacional, ao mesmo tempo a sua extracção e consumo podem também ter efeitos negativos sobre o ambiente. Devido ao aumento da procura nas economias emergentes, as demandas energéticas vão aumentar de mais de um terço até 2035, sendo provável a subida de preço tão como a água poderá ser um factor de instabilidade em algumas regiões do mundo. Os custos de transporte influem sobre o volume, a repartição geográfica e a composição das trocas comerciais internacionais, e criam um fosso entre o preço original e o preço ao destino, reduzindo assim o volume do comércio. Sendo o sector de transporte uma indústria de serviços, a sua eficácia depende em parte do nível de concorrência autorizada pelas políticas públicas. A inovação tecnológica contribui de maneira importante na redução dos custos de transporte. O motor a jato permitiu reduzir nitidamente os custos de transporte aéreo enquanto a contentorização no transporte marítimo possibilitou o sistema de manutenção automatizada de mercadorias e facilitou o transporte multimodal. Mas os procedimentos e os controlos aduaneiros, e as outras formalidades na fronteira podem criar atrasos e aumentar assim os custos comerciais. A facilitação do comércio uma das áreas de negociação na OMC poderá contribuir à redução dos custos. 5
7 As instituições jogam um papel importante para o comércio, na medida em que elas podem constituir o fundamento de vantagens comparativas em alguns sectores de produção bem como criar outros custos de transacção. As instituições económicas fortes favorecem a integração internacional, já que elas garantem o valor dos contratos, protegem os direitos de propriedade, defendem uma regulamentação eficaz e asseguram o cumprimento da lei, criando deste modo incentivos para o comércio e reduzindo os custos de transação e os custos associados à incerteza. IV. COMÉRCIO E CONTEXTO SOCIO-ECONÓMICO 9. O comércio realiza-se num contexto económico, social e político mais amplo, que é importante para as decisões sobre a política comercial. Estas decisões foram muitas vezes influenciadas por preocupações sociais e macroeconómicas. Outro tema que ganhou rapidamente importância nos debates políticos nacionais, regionais e globais é o da sustentabilidade ambiental. Preocupações sociais: Se é verdade que o comércio contribui à criação de empregos, particularmente nas empresas que conseguiram a sua inserção aos mercados mundiais, ele pode de igual maneira provocar a disparição de empregos nas empresas não competitivas. A distribuição de renda é importante para o comércio, porque tem um impacto sobre a vantagem comparativa e os padrões de consumo. As desigualdades podem impedir o ajustamento da economia, especialmente nas economias em que os mercados financeiros não estão devidamente estruturados. Preocupações ambientais: O comércio e a protecção ambiental são dois elementos-chave de desenvolvimento sustentável e as políticas nestas duas áreas deveriam contribuir para uma melhor utilização dos recursos. O comércio pode ter efeitos positivos ou negativos sobre o meio ambiente, na medida em que pode induzir mudanças nos métodos de produção de bens e 6
8 serviços que podem reduzir a intensidade de poluição e a intensidade energética da produção. V. DESAFIOS DO SISTEMA COMERCIAL MULTILATERAL 10. O Relatório de 2013 identificou un número de tendências que constituem desafios para o sistema comercial multilateral, dentre as quais as cadeias de valor mundiais, as novas formas de regionalismo, o crescimento do comércio de serviços e o reforço da relação entre o comércio de mercadorias e o comércio de serviços, a volatilidade de preços dos produtos de base e os efeitos sociais e ambientais do comércio. Outro desafio não menos importante para o sistema comercial multilateral é a proliferação dos acordos comerciais preferenciais (ACPr). O desafio para a OMC consiste em multilateralizar os ganhos dos ACPr para todos os membros. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL DA MISSÃO PERMANENTE DA REPÚBLICA DE ANGOLA JUNTO À ONU E OUTRAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS, em Genebra, a 22 de Julho de 2013 O Representante Comercial Dr. Lukonde LUANSI (PhD) 7
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