ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ MARCOS MARRONE (Presidente) e J. B. FRANCO DE GODOI.

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Ibiúna, em que são apelantes FRANCISCO TEOTONIO SIMÕES NETO e TAYNA NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS LTDA, é apelado SASLI SOCIEDADE AMIGOS SÍTIOS LAGOS DE IBIÚNA. ACORDAM, em 23ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ MARCOS MARRONE (Presidente) e J. B. FRANCO DE GODOI. São Paulo, 12 de fevereiro de Sérgio Shimura RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº 7918 Apelação n Comarca: IBIÚNA (1ª Vara Judicial) Apelante(s): FRANCISCO TEOTÔNIO SIMÕES NETO e OUTRO Apelado(s): SASLI SOCIEDADE AMIGOS SÍTIO LAGOS DE IBIÚNA AÇÃO POSSESSÓRIA MANUTENÇÃO DE POSSE Controvérsia sobre a comprovação da posse da autora Perícia que constatou que a autora exerce a posse dos imóveis desde Posse da autora e turbação praticada pelos réus que foram devidamente demonstrados Comprovados os requisitos do artigo 927 do CPC, imperiosa a proteção possessória Sentença mantida. RECURSO DESPROVIDO. Trata-se de ação possessória proposta por SASLI SOCIEDADE AMIGOS SÍTIOS LAGOS DE IBIÚNA contra TAYNA COMERCIAL LTDA. e FRANCISCO TEOTÔNIO SIMÕES NETO, objetivando a manutenção de posse de dois imóveis localizados em loteamento fechado. Sobreveio sentença de procedência da ação principal e improcedência do pedido contraposto, cujo relatório se adota, ficando a cargo dos réus o pagamento da verba honorária de 20% sobre o valor da causa, atribuído em R$ 1.000,00, sob o fundamento de que a autora comprovou que exerce a posse mansa e pacífica dos imóveis há mais de 20 anos, fazendo jus à proteção possessória (fls. 743/748). Apelação nº ª Câmara de Direito Privado TJSP 2

3 Inconformados, os réus vêm recorrer, sustentando, em resumo, que a autora não é um condomínio, mas mera associação de moradores que está com a documentação irregular; que a posse exercida é precária, pois os imóveis foram apenas emprestados a ela e que sempre exerceram atos de posse, devendo ser reintegrados na posse (fls. 767/783). respondido (fls. 824/837). É o relatório. Recurso devidamente processado e Cuida-se de ação possessória em que a autora pretende a manutenção de posse de dois imóveis localizados no condomínio Lagos de Ibiúna, utilizados como área para guarda de materiais e estacionamento de máquinas. Sustenta que passou a fazer uso destas áreas desde março de 1983, na condição de possuidora, sem nunca ter sido molestada. Contudo, a partir de 2004 passou a sofrer atos de turbação pelos réus. Da qualificação da autora. Inicialmente, cumpre afastar a alegação de que a autora está com sua documentação irregular e que não se trata de um condomínio, pois, como já decidido à fls. 322/323: Eventuais impropriedades na qualificação da autora (porque não se trata de condomínio e sim de loteamento) e de um dos requeridos (correto endereço residencial) não têm a mínima interferência no caso, sendo absolutamente desnecessária qualquer correção nesse sentido. Da posse e da turbação. A ação de manutenção de posse exige requisitos específicos a serem Apelação nº ª Câmara de Direito Privado TJSP 3

4 observados, previstos no art. 927, do CPC, quais sejam: a prova da posse (inciso I), da turbação (inciso II), a data da turbação (inciso III) e continuação da posse (inciso IV). A questão envolve duas áreas situadas dentro do condomínio Sítio dos Lagos de Ibiúna, na direção da Rua São Paulo, a primeira com 2.437,00 m2, utilizada pela autora para guarda de materiais e estacionamento de veículos e maquinários, e a segunda, com 2.325,00 m2, mantida como área paisagística. Extrai-se dos autos que tais requisitos foram efetivamente demonstrados. Cabe transcrever a brilhante sentença da lavra do MM. Magistrado Dr. DANILO FADEL DE CASTRO: De acordo, ainda, com as conclusões da perícia, a qual, ressalte-se, considerou os documentos encartados aos autos e as informações das partes, o Sr. Perito, ao responder o quesito do juízo concernente à eventuais indícios de ocupação antiga, afirmou, em suma que as áreas sempre foram ocupadas pela autora. E, diversamente, ao ser indagado, acerca de eventual ocupação recente apontou a demarcação de calçada, execução de muro e cavalete da SABESP, introduzidos pelo requerido FRANCISCO TEOTONIO SIMÕES NETO (fls. 444 e v. quesitos do juízo n. 05 e 06). Posteriormente, novamente indagado, desta vez pelos quesitos da autora, o perito reiterou a mesma conclusão (quesito n. 02 fls. 448/449). (...) De fato, a prova pericial é bastante clara ao reconhecer o exercício de posse, mansa e pacífica, da autora, nas áreas em questão, desde o ano de 1983, até o cometimento de turbação pelo requerido FRANCISCO TEOTONIO SIMÕES NETO, entre julho e agosto de E, diga- Apelação nº ª Câmara de Direito Privado TJSP 4

5 se, sob outro aspecto, a prova oral produzida em juízo não teve o condão de afastar a conclusão da prova técnica, servindo, diversamente, como complementação favorável à tese da autora. Deste modo, as testemunhas da autora, Martin Gert Luchmann (fls. 368); Laercio de Oliveira (fls. 369); José Merli (fls. 370); Décio Roveda (fls. 371); Marcos Antônio de Araújo (fls. 372) e Dário Neto Siqueira (fls. 373) confirmaram, em juízo, que os terrenos em questão sempre foram utilizados pela autora, desde 1983, e que nunca houve qualquer objeção da requerida TAYNA. Destacase que as testemunhas Martin; Laércio; José e Décio asseveraram, em seus depoimentos, que a autora utiliza os terrenos, respectivamente, para depósito de material de construção e um ou outro veículo, tal como trator, e jardim. A testemunha Láercio de Oliveira também ressaltou que foi presidente da associação autora entre 1981 e 1984 e disse recordar de uma reunião em que moradores concordaram em alterar o antigo lugar da portaria. Sérgio Milani, representante da requerida TAYNA (fls. 366) estava presente nesta reunião e não fez nenhum questionamento. De outra parte, as testemunhas dos requeridos não lograram êxito em demonstrar o exercício, por eles, da posse ou de atos de conservação incompatíveis com o abandono. Assim, as testemunhas Nilza Maria Mirshawaka (fls. 374); Ruy de Paula (fls. 377) e Benedito Domingues de Oliveira (fls. 378) mencionaram que a pessoa de Geraldo Alves Pinto (fls. 376) cuidava das áreas em questão para Sérgio Milani, representante da requerida TAYNA. Todavia, Nilza afirmou nunca ter visto Geraldo especificamente nos terrenos em discussão (fls. 374 e v.). Ruy e Benedito, por seu turno, afirmaram, respectivamente, que Geraldo colocara um gramado, no terreno em que anteriormente haviam árvores e que ele cuidava dos Apelação nº ª Câmara de Direito Privado TJSP 5

6 pinheiros que existiam no aludido terreno (fls. 377 e 378). Geraldo, no entanto, foi ouvido somente como informante do juízo (fls. 376). Frágil, portanto, a prova oral produzida pelos requeridos, pois não possibilita concluir com segurança que a pessoa de Geraldo, cuidou e zelou pelos terrenos dos requeridos, durante todo o período em que estavam na posse da autora. Ora, se os requeridos não exerciam a posse, era preciso que alguém, em nome e por ordem destes o fizesse, ao menos como detentor, defendendo-a, eventualmente, e incontinenti, de qualquer ameaça ou agressão. Repiso que a questão ora travada, é possessória e não dominial (fl. 745 e ss.). Destarte, não tendo os recorrentes trazido aos autos qualquer elemento capaz de infirmar o conteúdo do laudo pericial, de rigor a manutenção da r. sentença de procedência da ação possessória. provimento ao recurso. Do exposto, pelo meu voto, nego SÉRGIO SHIMURA Desembargador Relator Apelação nº ª Câmara de Direito Privado TJSP 6