A Decisão-Quadro do Conselho relativa à Luta contra a Criminalidade Organizada: Como reforçar a legislação da UE neste domínio?

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3 PARLAMENTO EUROPEU DIRECÇÃO-GERAL DAS POLÍTICAS INTERNAS DA UNIÃO DEPARTAMENTO TEMÁTICO C: DIREITOS DOS CIDADÃOS E ASSUNTOS CONSTITUCIONAIS LIBERDADES CÍVICAS, JUSTIÇA E ASSUNTOS INTERNOS A Decisão-Quadro do Conselho relativa à Luta contra a Criminalidade Organizada: Como reforçar a legislação da UE neste domínio? SÍNTESE Conteúdo A Decisão-Quadro de 2008 relativa à luta contra a criminalidade organizada proporciona uma estrutura sofisticada de criminalização da participação em organizações criminosas, requerendo, no entanto, certas melhorias tanto no que respeita à segurança jurídica e ao âmbito de aplicação, como em termos do nível de harmonização que permite alcançar. A Decisão-Quadro está redigida em termos gerais e vagos, o que pode conduzir a uma criminalização excessiva. É necessário um maior grau de harmonização não só para assegurar a igualdade de condições entre os Estados-Membros, mas também para facilitar a aplicação de outros elementos do direito penal europeu. O Tratado de Lisboa inclui uma série de disposições que podem servir de base jurídica para o futuro desenvolvimento da legislação na matéria. As novas propostas devem basear-se numa avaliação exaustiva da aplicação da Decisão-Quadro de 2008 pelos Estados-Membros e da interpretação dos conceitos relevantes pelos tribunais nacionais. PE PT

4 Este documento foi elaborado por solicitação da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos (LIBE) do Parlamento Europeu AUTORES Prof. Valsamis Mitsilegas Professor de direito penal europeu Director, Centro de Justiça Penal Queen Mary, Universidade de Londres Sob a coordenação do Centro de Estudos sobre Conflitos (C&C) e da Secção de Justiça e Assuntos Internos do Centro de Estudos Políticos Europeus (CEPS) ADMINISTRADOR RESPONSÁVEL Andreas HARTMANN Departamento Temático C - Direitos dos Cidadãos e Assuntos Constitucionais Parlamento Europeu B Bruxelas Endereço de correio electrónico: andreas.hartmann@europarl.europa.eu VERSÕES LINGUÍSTICAS Original: EN Síntese: BG, CS, DA, DE, EL, ES, ET, FI, FR, HU, IT, LT, LV, MT, NL, PL, PT, RO, SK, SL, SV, GA, HR SOBRE O RESPONSÁVEL PELA EDIÇÃO Para contactar o Departamento Temático ou assinar o seu boletim informativo mensal queira escrever para: poldep-citizens@europarl.europa.eu Manuscrito concluído em Julho de 2011 Parlamento Europeu, Bruxelas, O presente documento encontra-se disponível na Internet em: DECLARAÇÃO DE EXONERAÇÃO DE RESPONSABILIDADE As opiniões expressas no presente documento são da responsabilidade exclusiva do autor e não reflectem necessariamente a posição oficial do Parlamento Europeu. São autorizadas a reprodução e tradução para fins não comerciais, mediante identificação da fonte, bem como notificação prévia e envio de uma cópia ao editor.

5 A Decisão-Quadro do Conselho relativa à Luta contra a Criminalidade Organizada: Como reforçar a legislação da UE neste domínio? SÍNTESE Contexto A União Europeia foi pioneira no desenvolvimento de um quadro abrangente de direito penal contra a criminalidade organizada. O último acto legislativo da UE neste domínio, a Decisão-Quadro de 2008 relativa à luta contra a criminalidade organizada, reflecte a sinergia entre a UE e instâncias internacionais como as Nações Unidas no desenvolvimento de normas de dimensão mundial na matéria. A Decisão-Quadro prevê uma estrutura sofisticada de criminalização da participação numa organização criminosa. No entanto, requer certas melhorias tanto em termos de segurança jurídica e de âmbito, como em termos do nível de harmonização que permite alcançar. Objectivo A presente nota tem por objectivo analisar e avaliar a Decisão-Quadro, que será examinada de uma perspectiva histórica e contextual, sendo as suas principais disposições analisadas e avaliadas de uma forma crítica. Analisar-se-á igualmente o impacto da criminalização da participação numa organização criminosa no que respeita à segurança jurídica, mas também em termos do nível de harmonização alcançada. Defender-se-á a necessidade de uma maior harmonização não só em termos das legislações nacionais em matéria de direito penal, mas também para facilitar a operação de outros aspectos do direito penal europeu, incluindo as sanções por outros delitos, a aplicação do princípio do reconhecimento mútuo em matéria penal e o trabalho da Europol e da Eurojust. Explorar-se-ão também as oportunidades oferecidas pelo Tratado de Lisboa para adoptar novas medidas em matéria de harmonização do direito penal no que respeita à criminalidade organizada. PRINCIPAIS CONCLUSÕES A União Europeia foi pioneira no desenvolvimento de um quadro abrangente de direito penal contra a criminalidade organizada. O último acto legislativo da UE neste domínio, a Decisão-Quadro de 2008 relativa à luta contra a criminalidade organizada, reflecte a sinergia entre a UE e instâncias internacionais como as Nações Unidas no desenvolvimento de normas de dimensão mundial na matéria. Embora proporcione uma estrutura sofisticada de criminalização da participação em organizações criminosas, a Decisão-Quadro requer certas melhorias tanto no que respeita à segurança jurídica e ao âmbito de aplicação, como em termos do nível de harmonização que permite alcançar A Decisão-Quadro tenta conciliar dois objectivos aparentemente opostos: a introdução de um delito específico de participação numa organização criminosa, distinto de outros delitos de associação/participação existentes nos sistemas nacionais de justiça penal, e, ao mesmo tempo, a elaboração de uma definição de criminalidade organizada que não seja demasiado rígida e restritiva, tendo em conta

6 Departamento Temático C: Direitos dos Cidadãos e Assuntos Constitucionais o facto de as organizações criminosas nem sempre apresentarem uma estrutura hierárquica. O resultado deste esforço é uma definição de organização criminosa aparentemente contraditória que pode conduzir a uma criminalização excessiva, uma vez que os elementos da organização criminosa são definidos de forma muito geral e com critérios flexíveis e ambíguos. É necessário um maior grau de harmonização não só para assegurar a igualdade de condições entre os Estados-Membros, mas também para facilitar a aplicação de outros elementos do direito penal europeu, tais como a aplicação do princípio do reconhecimento mútuo em matéria penal e o trabalho de organismos como a Europol e a Eurojust. O Tratado de Lisboa inclui uma série de disposições que podem servir de base jurídica para o futuro desenvolvimento da legislação na matéria. As novas propostas devem basear-se numa avaliação exaustiva da aplicação da Decisão-Quadro de 2008 pelos Estados-Membros e da interpretação dos conceitos relevantes pelos tribunais nacionais. A alteração da Decisão-Quadro de 2008 deve garantir tanto um maior grau de harmonização como uma criminalização mais restrita da participação numa organização criminosa, o que irá proporcionar segurança jurídica e justificar a necessidade de criminalizar a participação numa organização criminosa enquanto delito independente e distinto de outros delitos conexos. RECOMENDAÇÕES Recomendação 1: O Parlamento Europeu deve solicitar à Comissão que proceda a uma avaliação detalhada da aplicação pelos Estados-Membros da Decisão-Quadro de 2008 relativa à criminalidade organizada. A avaliação deve abranger tanto a aplicação legislativa da Decisão-Quadro como a interpretação dos conceitos relevantes pelos tribunais nacionais. Recomendação 2: O Parlamento Europeu deve solicitar à Comissão que forneça informações detalhadas sobre a aplicação de outras medidas do direito penal material da UE que incluam a participação numa organização criminosa como circunstância agravante. Os dados facilitados devem abranger tanto a aplicação legislativa como a interpretação pelos tribunais nacionais da participação numa organização criminosa como circunstância agravante. Recomendação 3: O Parlamento Europeu deve solicitar à Comissão que forneça informações detalhadas sobre a aplicação pelos Estados-Membros da proibição de branqueamento de capitais provenientes da criminalidade organizada. Os dados facilitados devem abranger tanto a aplicação legislativa como a jurisprudência. 4

7 A Decisão-Quadro do Conselho relativa à Luta contra a Criminalidade Organizada: Como reforçar a legislação da UE neste domínio? Recomendação 4: O Parlamento Europeu deve solicitar à Europol que forneça uma explicação detalhada da forma como utiliza a definição jurídica de criminalidade organizada (em particular, a participação numa organização criminosa e a definição de grupo de criminalidade organizada) no seu trabalho operacional e, em particular, na elaboração das Avaliações da Ameaça da Criminalidade Organizada (AACO). Recomendação 5: O Parlamento Europeu deve solicitar à Eurojust que forneça uma explicação detalhada da forma como utiliza a definição jurídica de criminalidade organizada (em particular, a participação numa organização criminosa e a definição de grupo de criminalidade organizada) no seu trabalho operacional, e especifique se as diferenças existentes nas definições nacionais levantam obstáculos ao trabalho da Eurojust. Recomendação 6: À luz dos resultados da avaliação detalhada da aplicação da Decisão-Quadro de 2008 relativa à criminalidade organizada, o Parlamento Europeu deve considerar a hipótese de apoiar a alteração da Decisão-Quadro. Recomendação 7: Ao considerar as propostas de alteração da Decisão-Quadro de 2008, o Parlamento Europeu deve ter em conta a multiplicidade de objectivos e funções da criminalização da participação numa organização criminosa, conforme descrito acima, bem como o impacto de uma criminalização pouco crítica na segurança jurídica e nos direitos fundamentais. Recomendação 8: Ao considerar as propostas de alteração da Decisão-Quadro de 2008, o Parlamento Europeu deve esforçar-se por garantir um maior grau de harmonização e uma criminalização mais restrita da participação numa organização criminosa, o que irá proporcionar segurança jurídica e justificar a necessidade de criminalizar a participação numa organização criminosa enquanto delito independente e distinto de outros delitos conexos. 5

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