SEGUNDA CÂMARA CÍVEL TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MARANHÃO. Sessão do dia 02 setembro de 2008

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MARANHÃO SEGUNDA CÂMARA CÍVEL Sessão do dia 02 setembro de 2008 APELAÇÃO CÍVEL N.º Igarapé Grande/MA Apelante: Unibanco Aig Seguros e Previdência S/A Advogados: Wildson Freitas Rodrigues e outros Apelados: Emylli Manuely Santos Costa, Emanoel Lucas Santos da Costa Representante: Willamita Nascimento Santos Advogado: Lauand Sampaio Rodrigues Relatora: Desa. Nelma Celeste Souza Silva Sarney Costa Acórdão nº /2008 EMENTA DIREITO CIVIL. APELAÇÃO. PRELIMINARES REJEITADAS. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. MORTE. SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT. DIREITO A INDENIZAÇÃO DO ART. 3º, ALÍNEA B, DA LEI 6.194/74. REDUÇÃO DO VALOR FIXADO NA SENTENÇA. VIGÊNCIA DA LEI /07. MANUTENÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. JUROS DE MORA. CÔMPUTO A PARTIR DA CITAÇÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA A PARTIR DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. INTELIGÊNCIA DA LEI NO 6.899/1981. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. ADEQUAÇÃO DE OFÍCIO. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. I Em obediência ao princípio do tempus regit actum, a Lei /07 - a qual estabelece o teto de R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais) para as indenizações decorrentes de seguro DPVAT se subsume ao caso em tela, pois a época do evento (14/06/2007) a referida Lei já se encontrava em pleno vigor. 1 / 8

2 II - Nos termos do art. 1º, 1º e 2º, da Lei no 6.899/1981, não versando a causa sobre execução de obrigação certa e líquida, a correção será calculada a contar do ajuizamento da ação. Os juros, in casu, contam-se a partir da data em que a seguradora foi constituída em mora para proceder ao pagamento da diferença pleiteada pela recorrente, ou seja, a partir de sua citação VIII Apelo conhecido e parcialmente provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que figuram os acima enunciados, os Senhores Desembargadores da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, unanimemente e de acordo com o parecer da Procuradoria Geral de Justiça, deram parcial provimento ao recurso, nos termos do voto da Desembargadora Relatora. Participaram do julgamento os Senhores Desembargadores: Nelma Celeste Souza Silva Sarney Costa, antonio guerreiro júnior, MARCELO CARVALHO SILVA. Funcionou pela Procuradoria Geral de Justiça o Drº. Suvamy Vivekananda Meireles. 2 / 8

3 São Luis, 02 de dezembro de 2008 Desa. NELMA CELESTE SOUZA SILVA SARNEY COSTA PRESIDENTE E RELATORA RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível interposta pelo Unibanco AIG Seguros e Previdência S/A, inconformado com a r. sentença proferida pelo Juiz de Direito da Vara única da Comarca de Igarapé Grande que, em sede de Ação de Cobrança de Seguros Obrigatórios DPVAT, promovida por Emylli Manuely Santos Costa e Emanoel Lucas Santos da Costa, ora Apelados, condenou a Apelante ao pagamento de 40(quarenta) salários mínimos, ou seja, ,00(quinze mil e duzentos reais), e honorários advocatícios á base de 20%(vinte por cento) sobre a condenação. Em suas razões recursais, preliminarmente a Apelante suscita a impossibilidade jurídica do pedido dos autores, vez que pleiteiam o valor da indenização com base em lei já revogada. Em continuação, argumenta que a representante legal renunciou o direito de receber sua cota parte de 50%(cinqüenta por cento) em favor dos filhos, ora Apelados, sendo, porém, intransferível o seguro obrigatório. A Seguradora aduz que o Sr.º Edivaldo Leandro Costa foi vítima fatal de acidente de trânsito 3 / 8

4 no dia 14/06/2007, quando já vigorava a Lei nº /07, que evidencia, por seu turno, o valor de R$ ,00(treze mil e quinhentos reais), como sendo aquele cabível em caso de morte. Argumenta a necessidade de redução dos honorários arbitrados a título de sucumbência. Ao final, requer o conhecimento e provimento do Apelo para reformar integralmente o julgado de base. A Apelada ofertou contra-razões alegando que não há disposição de Lei que veio a revogar o art. 3º, alínea a, da Lei 6.194/74, devendo ser mantido o valor indenizatório fixado pelo magistrado a quo. Afirma que o pedido de redução de honorários advocatícios não merece ser acolhido. Por fim, pede que o Apelo seja improvido e a sentença mantida em todos os seus termos. A Douta Procuradoria Geral de Justiça, em parecer do Dr.º Reinaldo Campos Castro, manifestou-se pelo conhecimento e provimento parcial do Apelo, tão somente para adequar o valor da indenização, aos parâmetros preconizados pela Lei /07, vez que quando da interposição da ação de indenização essa já se encontrava em vigor. É o relatório. V O T O Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso e passo a análise da preliminar de ilegitimidade passiva ad causam. 4 / 8

5 I Das Preliminares de Impossibilidade Jurídica do Pedido e Ilegitimidade Ativa Ad Causam. Sem maiores delongas, a possibilidade jurídica do pedido deve ser entendida como a inexistência no ordenamento jurídico de vedação a que se preste a tutela jurisdicional deduzida em juízo. Sendo assim, entendo que a preliminar não merece ser acolhida, pois os Autores apenas apontaram equivocadamente o dispositivo de Lei que entendiam ser válido para o caso. Enfatiza-se que o que torna impossível o pedido não é a fundamentação errônea, mas sim a inviabilidade do que se pede. In casu, o pleito de DPVAT é plenamente possível, cabendo o magistrado realizar corretamente a subsunção do fato à norma que regula o direito material alegado. Em relação a preliminar de ilegitimidade ativa ad causam, esta se encontra desprovida de inconsistência jurídica, haja vista que se trata de praxe das Seguradoras em suas defesas, alegarem inconsistências jurídicas com o escopo de fugirem da responsabilidade pelo pagamento do DPVAT. Ora, os Apelados são filhos do Sr.º Edivaldo Leandro Costa, e, sendo menores de idade, a representante legal tem legitimidade extraordinária para ir a juízo pleitear o direito a indenização. Assim, rejeito as preliminares suscitadas e passo a analisar o mérito. O thema decidendum do meio de impugnação em apreço refere-se a duas questões, quais sejam: a) qual o valor a ser aplicado ao caso em espécie, já que a época do evento vigorava a Lei /07; b) redução dos honorários advocatícios. Enfim, esses são os temas devolvidos pela presente apelação. 5 / 8

6 Pois bem. No que se refere à temática mencionada na letra b, urge ressaltar que Lei nº 6.194/74 disciplinava que, nos casos de acidente automobilístico, de que decorra morte ou lesão permanente, a indenização devida, a título de seguro DPVAT, deveria ser fixada em patamar equivalente a até 40 (quarenta) salários mínimos. Sucede que a Lei nº 6.194/74 foi modificada em seu art. 3º, sendo atribuído novos valores as indenizações relativas ao seguro DPVAT. Assim, em obediência ao princípio do tempus regit actum, a MP n.º 340/2006, que posteriormente foi convertida na Lei n.º /2001, - a qual estabelece o teto de R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais) para as indenizações decorrentes de seguro DPVAT se subsume ao caso em tela, pois a época do evento (15/01/2007) a medida provisória já encontrava-se em pleno vigor (29/12/06). Deste modo, o capítulo da sentença que fixou o valor da indenização com base na lei antiga, merece reforma a fim de se adequar o montante do DPVAT à Lei /07. No que se refere à temática mencionada na letra b entendo que os honorários foram fixados de acordo com os critérios estabelecidos no art. 20, 3 e alíneas seguintes. Outrossim, ressalto que a sentença foi omissa quanto a aplicação de juros e correção monetária. Todavia, em se tratando de matéria de ordem pública passo a analisá-lo, verbis: Nesse sentido: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. PIS. CORREÇÃO MONETÁRIA. INCLUSÃO DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE. DECISÃO ULTRA PETITA. NÃO-OCORRÊNCIA. COMPENSAÇÃO. LEI N /91. JUROS DE MORA. APLICAÇÃO DA TAXA SELIC. 1. A correção monetária é matéria de ordem pública, podendo ser tratada pelo Tribunal sem necessidade de prévia provocação da parte. [...] 2. A teor do disposto no art. 66 da Lei n /91, apenas pode haver compensação entre tributos da mesma espécie que possuam a mesma destinação constitucional. Desse modo, afigura-se inviável a compensação do PIS com a Cofins, pois se trata de exações de natureza jurídica diversa, com destinações orçamentárias próprias. 3. A Lei n /95, em seu art. 39, 6 / 8

7 4o, estatuiu que, a partir de 1o/1/96, a compensação ou restituição de tributos federais será acrescida de juros equivalentes à taxa Selic acumulada mensalmente, calculados a partir da data do pagamento indevido. 4. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (REsp /CE, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em , DJ p. 304). A Corte Superior de Justiça firmou entendimento no sentido de que, não sendo a seguradora causadora do ilícito de onde nasceu o direito à indenização, inaplicável o Enunciado n. 54, que fixa a data do evento danoso como termo a quo para o cômputo dos juros. Sobeja, então, evidente que esse consectário deve incidir a partir da citação, momento em que a seguradora foi constituída em mora, nos termos do art. 405 do CC/2002. O aresto a seguir colacionado é esclarecedor, in verbis: CIVIL - COBRANÇA DE DIFERENÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO - DPVAT - JUROS MORATÓRIOS - TERMO INICIAL - INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 54/STJ - DISSÍDIO NÃO COMPROVADO. 1. Os juros, in casu, contam-se a partir da data em que a seguradora foi constituída em mora para proceder ao pagamento da diferença pleiteada pela recorrente, ou seja, a partir de sua citação. 2. A obrigação de indenizar decorrente do evento danoso, imputada a quem deu causa ao mesmo, não se confunde com a obrigação de pagar a importância segurada devida em razão do acidente, lastreada em contrato de seguro DPVAT. 3. Não sendo a seguradora a causadora dos danos que ensejaram o pagamento do seguro, não há que se cogitar na aplicação de juros de mora contados desde a data do evento danoso, prevista no enunciado da Súmula nº 54/STJ. 4. Dissídio não comprovado na forma legal e regimental. 5. Recurso especial não conhecido. (REsp /MG, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em , DJ , p. 334) Conforme já decido por esta Colenda Segunda Câmara Cível, quanto a incidência da correção monetária, entendo que é aplicável o dispositivo contido no 2º do art. 1º da Lei nº 6.899/1981, que determina a aplicação da correção nos débitos oriundos de decisão judicial, nos seguintes termos: 7 / 8

8 Art 1º - A correção monetária incide sobre qualquer débito resultante de decisão judicial, inclusive sobre custas e honorários advocatícios. 2º - Nos demais casos, o cálculo far-se-á a partir do ajuizamento da ação. Pelo exposto, e de acordo com o parecer da Procuradoria de Justiça, conheço do recurso, dou parcial provimento ao Apelo para adequar o valor da indenização arbitrada no julgado singular, aos parâmetros preconizados pela Lei /07, reduzindo-a para R$ ,00 (treze mil e quinhentos reais), conforme o art. 3º, I, da Lei 6.194/74, e, de ofício, por se tratar de matéria de ordem pública, determino que a correção monetária incida a partir do ajuizamento e os juros da citação, mantendo a sentença nos demais termos. É como voto. Sala das Sessões da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, em São Luís, 02 de setembro de Desa. NELMA CELESTE SOUZA SILVA SARNEY COSTA RELATORA 8 / 8