Sumário. Buga...7 A carta Novas amizades...19 Sonhos...27 Realidade ou fantasia?...44

Transcrição

1 Sumário Buga A carta Novas amizades Sonhos Realidade ou fantasia?

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3 Buga Ao fim de uma tarde quente de verão, Velho Bruno pegou sua cadeira, colocou-a diante do portão da casa e sentou-se para olhar o sol, que sumia no horizonte. Estava ali pensativo diante do mar quando alguns meninos, filhos de pescadores daquela vila, se aproximaram e o maior disse: Boa tarde, Velho Bruno! Conte uma história para nós, por favor. Faz tempo que o senhor não conta nada. O caso é que Velho Bruno, como era conhecido, tinha sido grande pescador e, já aposentado, criara fama de contador de histórias. Todos naquela vila de pescadores procuravam-no para ouvi-las e pedir conselhos sobre a profissão. Com o olhar fixo no mar e um sorriso, respondeu: Está bem, sentem-se aí! Vou-lhes contar a bela história de um menino que levou o mar para o avô e... 7

4 Os meninos riram daquilo e o menor deles objetou: Mas, Velho Bruno, não é possível levar o mar a nenhum lugar, ele é muito grande... O velho, ainda sorrindo, olhou para os garotos que estavam ali atentos a esperar a história e começou: Bem, contavam que um tal de Buga, menino de sete anos, morava com o avô Anacleto e a mãe, Benedita, num casebre branco com um jardim colorido, repleto de rosas, girassóis e margaridas que ficava numa cidadezinha lá nas terras quentes do nosso sertão chamada Boa Esperança. O jardim era o xodó de seu avô, que, mesmo de bengala e com muita dificuldade para andar, cuidava dele com muito amor e vivia a protegê-lo de tudo. O inimigo número um era o amigo inseparável de Buga, o Canivete, um cachorrinho magricela que vivia a fuçar a terra para esconder ossos, fazendo seu Anacleto gritar todas as vezes em que via suas preciosas flores feridas: Suma daqui, Canivete! Bendita a hora em que fui dar um cachorro em vez de um carrinho para esse meu neto! Canivete acompanhava Buga todos os dias até a escola, mas, como não podia entrar, ficava no portão, esperando a saída do amigo, para irem embora juntos. O menino tinha enorme carinho pelo avô, que o acordava todas as manhãs de uma maneira muito especial: molhava um pedacinho de algodão, ia até a cama do neto e pingava-lhe na face três gotinhas de água. No começo, Buga ficava muito bravo, mas, com o passar do tempo, acostumou-se com aquela maneira estranha de ser acordado para ir à escola. 8

5 Numa bela manhã em que o sol despontava no horizonte, seu avô, como de costume, foi acordá-lo, enquanto Benedita preparava o café. Ao abrir os olhos, Buga, com as três gotas de água a deslizar pela face, cumprimentou o avô jovialmente: Bom dia, querido vovô! Melhor que galo cantando e relógio gritando nos ouvidos, só suas três gotinhas mágicas para me fazerem levantar desta cama. Depois de tomar banho, sentou-se à mesa para tomar café com sua família. Estavam ali conversando e assistindo às notícias da manhã por uma pequenina televisão em preto e branco quando começou a passar um programa sobre os pescadores que viviam a enfrentar os perigos do grande mar. Buga, curioso, perguntou a seu avô Anacleto: Vovô, qual é a cor do mar? É assim mesmo como vemos, preto e branco? Não, meu neto; dizem que é muito azul, um azul como o do céu limpo aqui do sertão, só que feito de muita água salgada. Benedita havia saído para o quintal a fim de dar milho às galinhas, e o menino fez nova interrogação: Vovô, o senhor já foi ao mar? Anacleto respondeu com um brilho no olhar: Não, meu neto, mas um dia quero ir e levar sua mãe e você comigo. Se ao menos eu tivesse a sorte de pedir alguma coisa para aquele gênio da lâmpada como o herói naquela história do nosso velho livro, pediria para ir ver o mar junto com vocês e... 9

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7 Buga interrompeu: E o Canivete, vovô? Ah, é, sem esquecer o Canivete, pois, se o deixasse, ele destruiria meu jardim! acrescentou Anacleto de um jeito divertido. Houve então um momento de silêncio. Logo, porém, Buga, com o olhar fixo na televisão, que ainda trazia como assunto o mar, voltou a indagar: Vovô, qual é o tamanho do mar? O avô pegou nas mãos do neto e disse-lhe, fitando-o nos olhos: O tamanho do mar? Bem, dizem que é imenso, mas pode ser do tamanho que você quiser. Pode caber dentro desta pequena televisão ou ainda dentro de sua bolsa, quem sabe aqui num cantinho do nosso jardim ou até mesmo na palma da mão. Agora vá para a escola, que o Canivete já o está esperando. Buga deu um beijo no avô e na mãe e foi para a escola acompanhado de seu cachorro. Enquanto caminhava, pôs-se a falar com Canivete, que o olhava de orelhas em pé, parecendo compreender tudo: Canivete, será que é muito longe esse tal de mar? Gostaria tanto de levar o vovô e a mamãe para conhecê-lo! O cão baixou a orelha como se ficasse triste e o garoto emendou: E você também, Canivete; o vovô disse que, se nós o deixássemos, você destruiria o jardim... 11

8 Logo chegaram à escola. Buga passou pelo portão, e Canivete já ia entrando também. Ao perceber o que acontecia, o menino virou- -se para seu companheiro e repreendeu-o, fingindo-se zangado: Canivete, você não aprende mesmo! Está querendo levar outro pontapé do inspetor. Fique aí, pois cachorro não estuda, só meninos e meninas. Fique aí quieto que, na hora do recreio, eu lhe trago um pouco do meu lanche. Tchau... Entrou e sentou-se na primeira cadeira da sala de aula para ouvir a professora Angélica, que, naquela manhã, começou a discorrer sobre a importância do estudo de História para a humanidade. Mantinha o olhar fixo na mestra, porém seus pensamentos estavam concentrados na última conversa que tivera com o avô. De repente a professora o inquiriu: Buga, e para você, o que é a história? O menino, perdido em devaneios, mas com os olhos abertos, respondeu: É um mar de história que vai e vem, é um mar muito grande de água salgada, professora... A resposta botou a sala abaixo. Todos riram, e Angélica retomou a palavra: Menino, onde você está com a cabeça? E Buga, ainda com o olhar fixo: No mar azul, professora, que vai e vem... A mestra já estava ficando irritada, mas não houve tempo de falar novamente, pois a sirene para o recreio havia soado, fazendo 12