ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores JAMES SIANO (Presidente sem voto), ERICKSON GAVAZZA MARQUES E J.L. MÔNACO DA SILVA.

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Várzea Paulista, em que é apelante NICÉIA MARA DE OLIVEIRA CHAGAS, é apelado ISAC SANTOS CHAGAS (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores JAMES SIANO (Presidente sem voto), ERICKSON GAVAZZA MARQUES E J.L. MÔNACO DA SILVA. São Paulo, 28 de maio de Fábio Podestá relator Assinatura Eletrônica

2 APELAÇÃO nº APELANTE: NICÉIA MARA DE OLIVEIRA CHAGAS APELADO: ISAC SANTOS CHAGAS COMARCA: VÁRZEA PAULISTA VOTO Nº 8182 RESPONSABILIDADE CIVIL DANOS MORAIS Sentença de parcial procedência - APELO DA RÉ - Pretensão à inversão do julgado ou à minoração do quantum indenizatório Inadmissibilidade - Requisitos da responsabilidade civil subjetiva cabalmente demonstrados Danos que se reconhece in re ipsa, por inegável o abalo moral gerado ao autor, que foi ofendido em sua página na rede social Orkut Inteligência do art. 186, do CC Valor da indenização que não comporta diminuição, porquanto atende aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Alteração, de ofício, do termo inicial dos juros moratórios incidentes sobre o valor da indenização - Juros que se contam, na verdade, desde a data do evento danoso, a teor do art. 398, do CC, e da Súmula 54, do STJ. Sentença mantida RECURSO DESPROVIDO, com observação. ISAC SANTOS CHAGAS ajuizou ação de indenização por danos morais em face de NICÉIA MARA DE OLIVEIRA CHAGAS, tendo em vista que esta postou mensagens ofensivas, denegrindo sua imagem, em sua página na rede social Orkut. A r. sentença a fls. 85/87, cujo relatório é adotado, julgou parcialmente procedente o pedido, condenando a ré ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ ,00, carreando ônus sucumbenciais à requerida, com verba honorária fixada em 15% sobre o valor da condenação, ressalvada a gratuidade processual de que Apelação nº Voto 8182 PP 2

3 goza. Apela a requerida, a sustentar, em suma, que: a) o valor fixado a título de danos morais é exorbitante, porque a apelante nunca ofendeu o apelado e apenas se defendeu de suas provocações que ocorrem há muitos anos (fls. 93); b) não há falar-se em dano moral, pois se tratou efetivamente de uma discussão familiar (fls. 93); c) o valor da indenização deve ser minorado e sua condenação nas verbas sucumbenciais deve ser afastada por ser beneficiária da gratuidade de justiça (fls. 94). foi contra-arrazoado (fls. 100/110). O recurso é tempestivo, isento de preparo (fls. 77) e É o relatório. O recurso não comporta acolhimento. Cuida-se de demanda proposta pelo enteado em face da madrasta, que teria proferido ofensas em sua página na rede social Orkut, inclusive zombando de sua condição social e orientação sexual. É caso, portanto, de pretendia responsabilização civil extracontratual subjetiva, de modo que, para que o autor obtivesse provimento jurisdicional favorável, teria de demonstrar a existência dos seguintes elementos, segundo esclarece Sergio Cavalieri Filho: Há primeiramente um elemento formal, que é a violação de um dever jurídico mediante conduta voluntária; um elemento subjetivo que pode Apelação nº Voto 8182 PP 3

4 ser o dolo ou a culpa; e, ainda, um elemento causal-material, que é o dano e a respectiva relação de causalidade. Esses três elementos, apresentados pela doutrina francesa como pressupostos da reponsabilidade civil subjetiva, podem ser claramente identificados no art. 186 do Código Civil, mediante simples análise do seu texto, a saber: a) conduta culposa do agente, o que significa patente pela expressão 'aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imperícia' b) nexo causal, que vem expresso no verbo causar; e dano a outrem'. 1 c) dano, revelado nas expressões 'violar direito ou causar Logo, para a procedência do pedido inicial, o autor deveria demonstrar a existência concomitante dos três elementos: ato ilícito (conduta culposa ou dolosa) por parte da ré, o dano e o nexo de causalidade. E, no caso, restaram demonstrados esses três elementos, pois as ofensas perpetradas pela ré foram amplamente comprovadas (documentos de fls. 13/27, corroborados pelo boletim de ocorrência de fls. 28/29), assim como o abalo moral, que há de ser reconhecido in re ipsa, guardando inequívoco nexo de causalidade com a conduta da requerida. 1 In: Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, p. 33. Apelação nº Voto 8182 PP 4

5 Segundo boa doutrina, correto, portanto, o entendimento consagrado pela doutrina e a jurisprudência quanto à prova do dano moral. Se a ofensa é grave e de repercussão, por si só justifica a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado. Em outras palavras, o dano moral existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis ou facti, que decorre das regras da experiência comum 2. No caso, inegável o abalo moral sofrido pelo autor que, diante de parentes e amigos que acessavam sua página na rede social, foi objeto de exposição vexatória pela ré. E em que pese a insurgência da requerida no tocante ao quantum indenizatório, verifica-se que foi arbitrado com razoabilidade e proporcionalidade, asseverando-se, inclusive, que à míngua de critérios objetivos seguros para a fixação da indenização, têm-se a doutrina e jurisprudência da equação compensação-repreensão, ou seja, o valor arbitrado deve ser suficiente tanto para compensar o sofrimento da vítima (sem representar um enriquecimento sem causa em favor dela), quando para atuar, em relação ao responsável, como fator de inibição de conduta culposa futura (Apelação Cível nº São Paulo, 6ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, v. un., Rel. Des. Antônio Carlos Marcato, em 11/2/99). Na hipótese, o valor fixado de R$ ,00 é 2 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 11ed. São Paulo: Atlas, p Apelação nº Voto 8182 PP 5

6 adequado ao caso, pois se presta a reparar, de alguma forma, o sofrimento experimentado pelo autor, e a desestimular a reiteração do comportamento lesivo da requerida, ressaltando-se que a quantia está dentro dos patamares mínimos fixados por esta Corte em casos relativamente semelhantes: RESPONSABILIDADE CIVIL - DANOS MORAIS Internet Orkut Utilização de perfil falso em fórum de comunidade de debates em rede social para envio de mensagem ofensiva à autora - IP do computador originário da mensagem identificado Corré que confessou a autoria do conteúdo ofensivo Afastamento da responsabilidade do titular da conta existente junto ao provedor de serviços, ante a identificação do autor da mensagem Danos morais configurados - Indenização reduzida para R$ 5.000,00, quantia adequada para compensar a autora do constrangimento imposto e evitar enriquecimento ilícito Observância aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade Recurso da autora desprovido Parcial provimento ao recurso da ré. (Apel , 5ª Câm. Direito Privado, rel. Des. Moreira Viegas, j ; destacamos) Indenização por dano moral inclusão do nome e foto da autora na página criada pela empresa corré 'mural das caloteiras' DENÚNCIA EFETUADA JUNTO À administradora do site de relacionamento 'ORKUT' QUE PERMANECEU INDIFERENTE, APESAR DO AVISO DO ABUSO E DA SOLICITAÇÃO DE RETIRADA DAS OFENSAS, O QUE SÓ OCORREU após a concessão da liminar - PERÍODO EM QUE INÚMERAS Apelação nº Voto 8182 PP 6

7 PESSOAS TIVERAM ACESSO ÀS INFORMAÇÕES OFENSIVAS OMISSÃO QUE CAUSOU INTENSA DOR MORAL INDENIZAÇÃO ARBITRADA COM CRITÉRIO EM R$ ,00 PREQUESTIONAMENTO - DESNECESSIDADE DE CITAR EXPRESSAMENTE OS DISPOSITIVOS LEGAIS E CONSTITUCIONAIS PARA FINS DE PREQUESTIONAMENTO - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. (Apel , 8ª Câm. Direito Privado, rel. Des. Theodureto Camargo, j ; destacamos) Não prosperam, portanto, as razões de apelação. Um pequeno reparo, todavia, deve ser feito ao decisum, o que se faz ofício, por se tratar do chamado consectário legal, sem que importe reformatio in pejus 3. Isso porque, os juros moratórios correm, na hipótese, desde a data do evento danoso, por ser caso de responsabilidade civil extracontratual. É o que prescrevem o art. 398, do CC, e a Súmula 54, do Superior Tribunal de Justiça 4. Nesta senda, excetuado o pequeno reparo referente ao termo inicial dos juros moratórios, não comporta modificação a r. sentença de lavra da Ilustre Juíza Érica Midori Sanada. 3 [...] Aos juros de mora e correção monetária, por serem consectários legais da condenação e matéria de ordem pública, não se aplica o princípio da proibição da reformatio in pejus, bastando que o recurso preencha os requisitos de admissibilidade. 8. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AgRg no REsp /SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/10/2014, DJe 10/10/2014) 4 Súmula 54 do Superior Tribunal de Justiça Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual. Apelação nº Voto 8182 PP 7

8 Anota-se, a propósito, que não é necessário que o julgador se pronuncie expressamente sobre todos os dispositivos legais invocados pelos apelantes para que tenham acesso aos Tribunais Superiores, pois o prequestionamento consiste na apreciação e na solução, pelo tribunal de origem, das questões jurídicas que envolvam a norma positiva tida por violada, inexistindo a exigência de sua expressa referência no acórdão impugnado 5 e que o órgão julgador não é obrigado a se pronunciar acerca de todas as questões ventiladas pelas partes, mas, apenas sobre as quais entende relevantes para o deslinde da controvérsia posta em juízo. com observação. Ante ao exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso, FÁBIO HENRIQUE PODESTÁ Relator 5 EDCL nº , 7ª Câm. Direito Privado, rel. Des. Coimbra Schimidt, j Apelação nº Voto 8182 PP 8