Produtividade de alface (Lactuca sativa L.) submetida a diferentes doses de pó de rocha em sistema de cultivo orgânico.

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1 FRAZÃO JJ; MASCARENHAS JB; RESENDE TN; LEANDRO WM; RATKE RF. Produtividade de alface (Lactuca sativa L.) submetida a diferentes doses Horticultura Brasileira 28: S3722-S3726. de pó de rocha em sistema de cultivo orgânico. Joaquim José Frazão 1 ; Juliana Braga Mascarenhas 1 ; Tuanna Nogueira de Resende 1 ; Wilson Mozena Leandro 1,2 ; Rafael Felippe Ratke 1 1 UFG Universidade Federal de Goiás. Campus Samambaia, Rodovia Goiânia/Nova Veneza, Km 0, , Goiânia GO, joaquimfrazao2@hotmail.com, ju.li.ana.bm@hotmail.com, tnresende@hotmail.com; wilsonufg@bol.com.br, rfratke@gmail.com; 2 Pesquisador do CNPq. RESUMO A alface é uma das olerícolas mais cultivadas em todo o Brasil, sendo um dos componentes principais em pratos de saladas. Hoje o sistema de cultivo orgânico tem crescido bastante em todo o país, sinal que o mercado está exigindo uma maior qualidade de produto. No sistema orgânico não é permitido utilizar adubos químicos sintéticos, tendo-se então que utilizar outras fontes de adubação, como o pó de rocha, rico em macro e micronutrientes, porém com liberação gradativa no solo. O objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito da aplicação de diferentes doses de pó de rocha, na produtividade da alface, em um sistema de cultivo orgânico, na região central do estado de Goiás. O experimento foi montado em delineamento em blocos ao acaso com 4 tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos consistiram em diferentes doses de pó de rocha: 1) testemunha, sem pó de rocha; 2) 2 ton/ha; 3) 4 ton/ha; 4) 8 ton/ha. Aproximadamente 65 dias após o plantio, a alface foi colhida, momento esse em que a cultura se encontrava no seu máximo desenvolvimento e posteriormente foi feito o cálculo de produtividade. A aplicação de diferentes doses de pó de rocha influenciou a produtividade da alface. A produção de alface foi melhor quando se aplicou a dose 3,69 t.ha -1, onde as plantas cresceram mais e obteve-se um produto com maior qualidade. Palavras-chave: Lactuca sativa L., pó de rocha, sistema orgânico. ABSTRACT Yield of lettuce (Lactuca sativa L.) exposed to different concentrations of powdered rock in organic cropping system. Lettuce is one of the most cultivated vegetable crops in Brazil, one of the main components for dishes of salads. Today the system of organic farming has grown considerably throughout the country, a sign that the market is demanding a higher quality product. In the organic system is not permitted to use synthetic chemical fertilizers, and it was then that use other nutrient sources, such as rock powder, rich in macro and micronutrients, but with slow release in soil. The aim of this study was to evaluate the effect of different doses of rock, on lettuce, in a system of organic farming in the central state of Goiás. The experiment was arranged in randomized blocks design with four treatments and four replications. The treatments consisted of different doses of rock: 1) control, without rock powder; 2) 2 ton/ ha; 3) 4 ton/ha; 4) 8 ton/ha. Approximately 65 days after planting, the lettuce was harvested, at which point the culture was at its maximum development and later was made the calculation of productivity. The application of different doses of rock influence the productivity of lettuce. Lettuce yield was better when it applied the amount of 3.69 t.ha -1, where the plants grew larger and obtained a product with higher quality. Keywords: Lactuca sativa L., rock powder, organic system. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S3722

2 A alface (Lactuca sativa L.) pertence à família das Compostas (atual, Asteráceas), é planta anual, cultivada desde a antiguidade. As suas folhas foram modificadas e aumentadas progressivamente, através dos séculos, constituindo hoje, a hortaliça mais popular para consumo como salada (Murayama, 1976). A alface é excelente fonte de vitamina A, possuindo quantidade considerável das vitaminas B1 e B2, e ainda, certa porção de vitamina C, além dos elementos Ca e Fe. Pelo fato de ser consumida crua, conserva todas as suas propriedades nutritivas. De agradável paladar, é aconselhada nas dietas de baixas calorias, devido ao seu pequeno valor energético (Filgueira, 2000). A alface é uma hortaliça típica de inverno, existindo, porém, materiais genéticos com boa tolerância ao cultivo de verão, de forma que, em regiões de altitude é possível cultivá-la o ano todo. De maneira geral existem três grupos diferentes: Manteiga (folhas lisas e formam cabeças); Folhas crespas (folhas crespas e não formam cabeças) e grupo de folhas crocantes ou Americana (folhas grossas e que formam cabeças) (Souza, 2006). A agricultura orgânica é freqüentemente entendida como a agricultura que não faz uso de produtos químicos. Também há uma falsa crença de que ela representa um retrocesso a práticas antieconômicas de décadas passadas e à produção de subsistência de pequena escala, usando métodos agronômicos já superados. A realidade, porém é outra. Embora os agricultores orgânicos não usem agrotóxicos sintéticos, fertilizantes solúveis, hormônios, sulfas, aditivos, e outros produtos químicos, e utilizem várias práticas que foram muito eficientes no passado, o conceito é bem mais amplo do que isso. Os métodos alternativos de agricultura são métodos modernos desenvolvidos em sofisticados e complexos sistemas de técnicas agronômicas, cujo objetivo principal não é a exploração econômica imediatista e inconseqüente, mas sim, a exploração econômica por longo prazo, mantendo o agroecossistema estável e auto-sustentável. Leis e princípios ecológicos de conservação de recursos naturais são prioritários, procurando-se preservar métodos agrícolas tradicionais apropriados, ou aperfeiçoá-los (Souza, 2006). Dentre os inúmeros métodos de cultivo, se encontra a mandala, que consiste em canteiros em formato circular onde se cultivam inúmeros tipos de plantas, caracterizando um policultivo. Ela tem uma participação importante dentro da agricultura orgânica e familiar, pois fornece ao produtor um melhor aproveitamento da área de cultivo. A palavra mandala tem a sua origem no sânscrito, significando círculo. O formato redondo é encontrado na natureza e desperta uma idéia de infinito, de prolongamento. O idealizador da mandala, W. Pessoa, faz menção à disposição dos planetas no sistema solar. Em sistema de cultivo orgânico, não se permite a utilização de produtos químicos sintéticos, tais como, adubo formulado, defensivos agrícolas e mesmo plantas geneticamente modificadas, tendo então que se utilizar outros produtos para suprir a demanda pelas culturas. Para suprir as necessidades nutricionais das plantas cultivadas em sistema orgânico, se utiliza algumas técnicas e/ou produtos como a compostagem, estercos animais, cobertura morta, adubação verde, pó de rocha, entre outros. Dentre as várias técnicas de adubação no sistema orgânico, a rochagem ou aplicação de pó de rocha, tem sido muito utilizado devido a liberação de macro e micronutrientes e também pelo baixo custo de aquisição. Vale lembrar que o pó de rocha constitui em fonte de nutrientes para as plantas cultivadas durante longos períodos, devido a sua gradativa Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S3723

3 liberação, além de promover o aumento da capacidade de troca de cátions (CTC) dos solos, devido à formação de novos minerais de argila durante o processo de alteração do fertilizante. O emprego do modelo de remineralização do solo, através do uso de pó de rocha, constitui-se também numa alternativa viável em termos econômicos e ecológicos devido ao baixo custo do processo de beneficiamento, que envolve apenas moagem das rochas usadas na composição do produto, e devido à liberação gradual de nutrientes que diminui as perdas por lixiviação e favorece uma ação de longo prazo do insumo aplicado. Além disso, a elevada demanda da agricultura brasileira por fertilizantes, a qual não consegue ser atendida pela indústria nacional, poderá ser atendida pelo uso de um produto obtido a partir do beneficiamento simples de matérias-primas de ampla distribuição geográfica, diminuindo-se os gastos com importação de adubos químicos, os desequilíbrios da balança comercial brasileira e ampliando as alternativas para o mercado consumidor (Melaned, 2005). Esse trabalho teve o objetivo de avaliar o efeito da aplicação de diferentes doses de pó de rocha na produtividade da alface, em um sistema de cultivo orgânico, conhecido por mandala, na região central do estado de Goiás. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia-Goiás. O experimento foi montado em delineamento em blocos ao acaso com 4 tratamentos e 4 repetições. Foi feito a análise de variância e o teste de Ducan a 10 %. Os tratamentos consistiram em diferentes doses de pó de rocha: 1) testemunha, sem pó de rocha; 2) 2 ton/ha; 3) 4 ton/ha; 4) 8 ton/ha. A mandala foi separada em quatro quadrantes e em cada quadrante distribuiu-se aleatoriamente os tratamentos em formato de pizza, conforme ilustrado na Figura 2. A região escolhida para a montagem da mandala era uma área de pastagem com algumas espécies arbóreas. Iniciou-se a preparação dos canteiros no mês de dezembro de Optou-se para não construção de um galinheiro normalmente usado nesse sistema. Os canteiros foram preparados com calcário dolomítico (2 ton.ha -1 ), seguindo recomendação baseada na análise de solo, yoorin (2 ton.ha -1 ) e esterco bovino (6 kg.m - ²). No total foram sete canteiros circulares, constando, cada um deles, 16 parcelas. Em cada quadrante aplicou-se as diferentes doses de pó de rocha, distribuídas aleatoriamente. A alface utilizada foi do grupo Americana, sendo transplantada no 4º canteiro, quando essas possuíam 5 folhas, no espaçamento de 30x30 cm, em que cada canteiro (repetição) tinha uma área de 2,5 m². Foi instalado um sistema de irrigação por gotejamento que era acionado regularmente de acordo com a necessidade da cultura. O controle de insetos-pragas tais como formigas, foi feito pulverizando caldo de mandioca. Para preparar o caldo de mandioca, removeu-se a casca de mandioca e em seguida a triturou utilizando um liquidificador. Posteriormente dilui-se com água (proporção de uma camada de mandioca para três de água). Em seguida o conteúdo foi filtrado com um pano ou uma peneira de 2 mm, de modo a ter uma solução homogênea. O produto foi aplicado após cinco dias a fim de obter uma solução mais ácida. Aproximadamente 65 dias após o plantio, a alface foi colhida, momento esse que a cultura se encontrava no seu máximo desenvolvimento, porém apresentando as folhas ainda tenras e com excelente qualidade. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S3724

4 Após a colheita, foi feita a pesagem das plantas e o cálculo de produtividade, em toneladas por hectare. RESULTADOS E DISCUSSÃO A aplicação de diferentes doses de pó de rocha influenciou a produtividade da alface. A produção de alface foi melhor quando se aplicou a dose 3,69 t.ha -1 (Figura 1). A análise de regressão foi significativa e o r2 foi próximo da unidade. Apesar do pó de rocha possuir liberação lenta dos nutrientes, houve resposta no primeiro ano de cultivo. Doses acima de 4 t/ha já apresentaram decréscimo na produtividade (aproximadamente 20%). Tais resultados contrastam com os obtidos por Resende et al (2010) que relatam que a rochagem não apresentou efeito significativo no desempenho alface no primeiro ano de cultivo. As principais pragas e doenças da alface foram bem controladas com a utilização do caldo de mandioca. Isso ocorreu devido principalmente à presença de ácido cianídrico e outros componentes aromáticos que geram uma grande repelência contra formigas, pulgões e outros insetos-praga. Segundo Silveira e Lima (2007) o crescimento de milho, submetido a adubações comparativas de pó de rocha, esterco e adubação mineral (NPK) há variação no crescimento, sendo que os tratamentos onde se utilizaram pó de rocha houve um maior rendimento tanto na altura quanto no diâmetro das plantas, em função do tempo de cultivo, quando se comparado ao uso de fertilizante solúvel convencional (formulado NPK). REFERÊNCIAS FILGUEIRA FAR. Novo Manual de Olericultura: Agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. Viçosa: UFV. 402p. MELAMED R; GASPAR JC Eficiência de pó de rocha na bio-disponibilidade de potássio em sistemas de produção agrícola sustentáveis. In: ENCONTRO NACIONAL DE TRATAMENTO DE MINÉRIOS E METALURGIA EXTRATIVA, 12. Anais... Natal: p MURAYAMA S Horticultura. 2 ed. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 146p. RESENDE TN; MASCARENHAS JB; LAJILI R; LEANDRO WM; HERRADA MH Doses de rochagem na produção de alface em sistema agroecológico com plantas medicinais. In: ENCUENTRO DE AGRICULTURA ORGANICA Y SOSTENIBLE, 8. Resumos... Havana, Cuba: SOB (CD-ROM). SILVEIRA ML; LIMA FMRS O uso de pó de rocha fosfática para o desenvolvimento da agricultura familiar no semi-árido brasileiro. In: JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 15. Anais... Rio de Janeiro: CETEM. SOUZA JL; RESENDE P Manual de Horticultura Orgânica. 2 ed. Viçosa: Aprenda Fácil Editora UFV, 843p. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S3725

5 Produtividade alface (kg/ha) y = -0,4637x 2 + 3,4179x + 37,882 R 2 = 0, Dose de rochagem (t/ha) Figura 1. Produtividade de alface com a aplicação de diferentes doses de pó de rocha. (Yield of lettuce with the application of different doses of rock). UFG, Goiânia, Figura 2. Representação da aplicação dos tratamentos de pó de rocha no formato de pizza. (Representation of the treatments of rock shaped like pizza). UFG, Goiânia, Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S3726