PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TERCEIRA CÂMARA CÍVEL

Transcrição

1 Agravo Interno na Apelação Cível nº Agravante: GLOBO COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S/A MARIANA KNEIPP LUCAS Agravado: GUTEMBERG DE PAULA FONSECA Relator: DESEMBARGADOR PETERSON BARROSO SIMÃO ACÓRDÃO AGRAVO INTERNO. APELAÇÃO CÍVEL. Ação Indenizatória. Matéria jornalística não reproduz com fidelidade fato relatado pelo entrevistado. Árbitro de futebol afirma que ouviu, em campo, conversa comum entre os jogadores sobre resultado da partida. Repórter esportiva redige matéria sugerindo que o árbitro presenciou diálogo entre os jogadores, sobre combinação para manipular o resultado final do jogo. No exercício do direito de informar, deve a imprensa reproduzir com fidelidade as informações obtidas. A repórter ré, com intuito de polemizar a situação, distorceu as informações prestadas pelo autor, com intuito de dar credibilidade à matéria jornalística de sua autoria. Dever de indenizar. Dano moral configurado. O valor arbitrado em primeira instância deve ser revisto tão somente nas hipóteses em que a condenação revelar-se irrisória ou exorbitante. Sentença mantida. Manutenção da decisão monocrática por seus próprios fundamentos. AGRAVO INTERNO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. A C O R D A M os Desembargadores da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, nos termos do voto do Relator.

2 RELATÓRIO Trata-se de recurso de Agravo Interno interposto contra Decisão Monocrática prolatada pelo Desembargador Relator. Requer, na hipótese de não ocorrer a retratação, seja o recurso submetido ao colegiado da Câmara. É o relatório. VOTO A decisão recorrida foi publicada antes do início da vigência do Novo Código de Processo Civil. Como a contagem do prazo recursal começou na vigência do CPC/73, o recurso interposto com base na lei anterior deverá também com fundamento nela ser decidido (Enunciado Jurídico n.º 267, do Fórum Permanente de Processualistas Civis: Os prazos processuais iniciados antes da vigência do CPC serão integralmente regulados pelo regime revogado ). Assim se justifica, em razão da necessária harmonização entre o recurso interposto e seu respectivo julgamento. A pretensão veiculada no recurso de Agravo Interno é rediscutir questões que já foram integralmente apreciadas e consideradas pela decisão recorrida. Trata-se de recurso de agravo interno em apelação interposta pelos réus, empresa jornalística e repórter, contra sentença que os condenou, solidariamente, a pagar indenização por danos morais no valor de R$20.000,00, em favor de árbitro de futebol que se sentiu ofendido com matérias jornalísticas de autoria da segunda ré, que foram veiculadas pelo primeiro réu. Alega o autor que concedeu entrevista à repórter ré, mas a matéria jornalística por ela redigida diverge daquilo que teria dito. íntegra. Por meio de decisão monocrática, a sentença foi mantida na A relação jurídica objeto da presente demanda é de natureza pessoal, razão pela qual incide as normas do Código Civil Brasileiro. O autor, árbitro de futebol, alega que foi procurado pela segunda ré, repórter do site Globo Esporte, para conceder entrevista sobre sua atuação no jogo da Série C do Campeonato Brasileiro, ocorrido em 17/09/2011, entre Fortaleza e CRB.

3 Relata que informou à repórter que, de acordo com normas da CBF e da Comissão de Arbitragem, não poderia conceder entrevista sobre jogo em que atuou. Por conta disso, apenas prestou esclarecimentos sobre a súmula do jogo, que ele redigiu e que ainda não tinha sido postada no site da CBF. No entanto, afirma que a matéria jornalística, redigida pela segunda ré e publicada pelo primeiro réu, alterou a versão dos fatos por ele relatados e, inclusive, adicionou informações que não prestou. Alega ser inverídica a informação publicada de que teria ciência de diálogo entre jogadores a respeito da manipulação do resultado do jogo entre Fortaleza e CRB. O ponto central da presente demanda consiste em saber se a matéria jornalística reproduziu, ou não, de forma fidedigna, as informações repassadas pelo autor à repórter ré. Em entrevista concedida a outro canal de comunicação, o autor relata de forma detalhada como teria sido a conversa com a repórter ré (ind.26/27). Na versão do autor, ele teria dito à repórter que ouviu os jogadores conversar entre si sobre o resultado do jogo, pois é impossível ficar mudo em uma partida de futebol, mas em momento algum teria dito sobre manipulação de resultado, conforme sugeriu a matéria jornalística (ind.17/18; 20/21; 23/24). Na hipótese, consoante dispõe o art.333, inciso II, do CPC/73, competia aos réus produzir prova de que a matéria jornalística veiculada reflete exatamente as informações prestadas pelo autor. Até porque, não é lícito impor ao autor o ônus de provar fato negativo, ou seja, que não disse aquilo que constou na reportagem. O autor confirma que ouviu diálogo comum entre os jogadores sobre o resultado da partida. No entanto, a matéria jornalística, com o título Mais polêmica: árbitro relata diálogos entre jogadores de Fortaleza e CRB, sugere que o referido diálogo teria sido sobre a manipulação do resultado da partida, mas não foi essa a informação repassada para repórter. No exercício do direito de informar (art. 5º, incisos IX e XIV, da CRFB/88), deve a imprensa reproduzir com fidelidade as informações obtidas, o que não ocorreu no presente caso concreto.

4 De acordo com o art.186, do Código Civil, comete ato ilícito aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, viola direito e causa dano a outrem. Por sua vez, o art.927, do Código Civil, atribui àquele que comete ato ilícito o dever de reparar os prejuízos causados. Concluiu-se que a repórter ré, com intuito de polemizar a situação, distorceu as informações prestadas pelo autor, com intuito de dar credibilidade à matéria jornalística de sua autoria, que tratava da suposta manipulação do resultado da partida de futebol entre Fortaleza e CRB. Em consequência, surge o dever de indenizar. A condenação solidária se justifica, pois, nos termos do art.932, inciso III, do Código Civil, a empresa jornalística responde em conjunto com o profissional que, no exercício do trabalho, comete ato ilícito. Há dano moral a ser compensado, que decorre in re ipsa, pela mera ocorrência do fato danoso, que acarretou ofensa à imagem profissional do autor. O valor estabelecido em primeira instância a título de reparação por danos morais deve ser revisto tão somente nas hipóteses em que a condenação revelar-se irrisória ou exorbitante, distanciando-se dos padrões de razoabilidade. Neste sentido, Enunciado Jurídico n.º 116, do Aviso n.º 55/2012, do TJRJ: A verba indenizatória do dano moral somente será modificada se não atendidos pela sentença os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do valor da condenação. A indenização fixada pelo juízo singular não destoa dos parâmetros adotados por este Tribunal de Justiça em casos análogos, não havendo, portanto, necessidade de qualquer reparo. Diante da sucumbência mínima, deverá a parte ré arcar com o pagamento das despesas processuais, tendo a sentença corretamente fixado os honorários de sucumbência em percentual adequado à natureza da demanda e ao tempo despendido pelo profissional neste processo. Verifica-se que a sentença, de forma justa e adequada, resolveu com correção o conflito de interesses existente entre as partes litigantes, não havendo motivos para reforma. Todos os argumentos trazidos no Agravo Interno já foram enfrentados na Decisão Monocrática, que merece ser mantida.

5 Ante o exposto, o voto é no sentido de NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DE AGRAVO INTERNO e, em consequência, manter a Decisão Monocrática. Rio de Janeiro, 04 de maio de PETERSON BARROSO SIMÃO Desembargador