ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores COIMBRA SCHMIDT (Presidente) e EDUARDO GOUVÊA.

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Vitória Lacerda
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1 fls. 6 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Votuporanga, em que é apelante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, são apelados CARLOS EDUARDO PIGNATARI e PREFEITURA MUNICIPAL DE VOTUPORANGA. ACORDAM, em 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores COIMBRA SCHMIDT (Presidente) e EDUARDO GOUVÊA. São Paulo, 18 de setembro de MAGALHÃES COELHO RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 7 Apelação nº Comarca de Votuporanga Apelante: Ministério Público do Estado de São Paulo Apelados: Carlos Eduardo Pignatari e Prefeitura Municipal de Votuporanga Voto nº AÇÃO CIVIL PÚBLICA Improbidade Administrativa Prefeito Municipal Omissão no tocante ao cumprimento de ordem judicial Conduta que acarretou a condenação da Municipalidade em demanda indenizatória, e, em consequência, causou prejuízo ao erário público - Configuração de improbidade administrativa, nos termos dos artigos 10 da Lei nº 8.429/92 Demonstrada a culpa do agente público Dever de ressarcimento integral do dano e aplicação de outras sanções previstas no artigo 12, II, da Lei de Improbidade Reformada a sentença de improcedência - Recurso provido. Vistos etc. I. Trata-se de Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo em face de Carlos Eduardo Pignatari, ex-prefeito Municipal, e Município de Votuporanga, em razão da prática de ato de improbidade, consistente no descumprimento de ordem judicial, que acarretou a responsabilização do ente público municipal em ação indenizatória. Segundo consta, em , durante o mandato de Carlos Eduardo Pignatari como Prefeito do Município de Votuporanga, foi concedida antecipação da Apelação nº Voto nº 2

3 fls. 8 tutela jurisdicional em ação cível proposta pelo idoso Sr. Antônio José de Aguiar perante a 1ª Vara da Comarca de Votuporanga, para que a Municipalidade lhe fornecesse medicamento destinado ao tratamento de deficiência coronária grave. Consta, ainda, que não houve cumprimento imediato da ordem judicial pelo ente público, de modo que, em , o idoso veio a falecer em decorrência de infarto agudo de miocárdio. Diante disso, foi proposta ação de indenização por danos morais pelos netos do falecido, na qual o Município foi condenado ao pagamento de R$50.000,00 fato este que, no entendimento do Ministério Público, configura ato de improbidade administrativa por prejuízo ao erário e por violação dos princípios da Administração Pública. II. Em sentença, a pretensão ministerial foi julgada improcedente sem condenação ao pagamento de custas e honorários. III. Interposto recurso de apelação pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, no qual pugna pela reforma da sentença monocrática. V. Foram apresentadas contrarrazões. Apelação nº Voto nº 3

4 fls. 9 VI. A Procuradoria de Justiça opinou pelo provimento do recurso. É o relatório. Trata-se, como se vê, de recurso de apelação interposto Ministério Público do Estado de São Paulo em ação civil pública, por meio do qual pretende a reforma da sentença monocrática, que não reconheceu o ato de improbidade imputado e julgou improcedente sua pretensão. Em suas razões de apelação, sustenta o Apelante, em síntese, que não há controvérsia acerca da omissão estatal e do descumprimento da ordem judicial; que há provas nos autos acerca da omissão dolosa; que Carlos Pignatari, na qualidade de Prefeito Municipal, era o responsável por dirigir, organizar e executar a máquina administrativa municipal, bem como por eventual falha de pessoa de sua confiança; que se mostra inegável a configuração do prejuízo ao erário, bem como a violação dos princípios que regem a Administração Pública. O recurso de apelação merece provimento. Apelação nº Voto nº 4

5 fls. 10 Com efeito, ao contrário do entendimento adotado em primeira instância, é possível vislumbrar, na hipótese, a configuração de ato de improbidade administrativa descrito no artigo 10 da Lei nº 8.429/92. Conforme se depreende dos autos, em durante o mandato do então Prefeito Municipal Carlos Eduardo Pignatari, ora Apelado, foi concedida antecipação da tutela jurisdicional em ação cível proposta pelo idoso Sr. Antônio José de Aguiar, com a finalidade de que a Municipalidade lhe fornecesse medicamento destinado ao tratamento de deficiência coronária grave. Segundo consta, porém, não foi dado o imediato cumprimento à ordem judicial pelo ente público, de modo que, em , o referido idoso veio a falecer em decorrência de infarto agudo de miocárdio fato este que ensejou a propositura de ação de indenização por danos morais pelos netos do falecido, na qual o Município foi condenado ao pagamento de R$50.000,00 (cinquenta mil reais). Dada a análise do caso concreto, denota- Apelação nº Voto nº 5

6 fls. 11 se que os fatos narrados na inicial mostraram-se incontroversos, bem como que há elementos suficientes para o reconhecimento da conduta ímproba praticada pelo Apelado, precisamente de sua omissão no tocante ao cumprimento da ordem judicial proferida pelo Juízo da 1ª Vara de Votuporanga, a qual acarretou a condenação da Municipalidade em demanda indenizatória, e, em consequência, causou prejuízo ao erário público. Como se sabe, o Chefe do Poder Executivo Municipal é responsável, em sua esfera, pela condução e administração da máquina pública, bem como por eventuais falhas e irregularidades ocorridas em sua gestão. Desse modo, uma vez intimado da ordem judicial emitida, não pode alegar o seu desconhecimento. Além disso, o fato de os ofícios endereçados ao Apelado haverem sido recebidos e subscritos por outrem não afasta a responsabilidade que lhe cabe já que beiraria o absurdo a exigência de que toda e qualquer correspondência ou intimação a ele Apelação nº Voto nº 6

7 fls. 12 destinada fosse-lhe entregue em mãos para chegar, de fato, ao seu conhecimento. Outrossim, não se pode olvidar que, nos moldes previstos na norma constitucional, também é de sua responsabilidade a nomeação de pessoas de sua confiança para a execução de tarefas relacionadas ao recebimento de suas comunicações, bem como a fiscalização do regular cumprimento das atividades desempenhadas em suas Secretarias circunstância esta que corrobora para o entendimento acerca da existência de conduta apta a ensejar a aplicação das sanções previstas na Lei nº 8.429/92. No tocante ao elemento subjetivo, por sua vez, tem-se que este pode ser demonstrado pela própria conduta do Apelado, além dos demais elementos constantes nos autos atentando-se ao fato de que as condutas descritas no artigo 10 da Lei nº 8.429/92 admitem a sua configuração na modalidade culposa, que, in casu, consistiu no atuar omissivo e, precisamente, no agir negligente do Apelado diante da ordem judicial que lhe fora emitida. Sobre essa temática, inclusive, enfatiza Apelação nº Voto nº 7

8 fls. 13 Marçal Justen Filho ao discorrer sobre o referido dispositivo legal: A esmagadora maioria das condutas descritas no art. 10 compreende o dolo genérico como elemento subjetivo. Admite-se, no entanto, a culpa em situações excepcionais, especialmente nas hipóteses em que a lesão aos cofres públicos se aperfeiçoa em virtude da omissão da adoção de providências indispensáveis à defesa dos interesses e bens colocados sob a guarda de um agente estatal. Logo, os casos referidos no art. 10 que envolvem, normalmente, atos omissivos são mais propícios à existência de um elemento subjetivo merecedor de elevada reprovação, ainda que não chegue configurar o dolo. A conduta omissiva desarrazoada, caracterizadora de negligência, é suficiente para merecer a reprovação pela configuração da improbidade. (JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014, p.1097) (destacamos). Apelação nº Voto nº 8

9 fls. 14 Não obstante a isso, importa observar que, ainda que não se admitisse a culpa, na hipótese dos autos, as próprias teses de defesa levantadas pelo Apelado já constituem indicativos de sua resistência no cumprimento da ordem prolatada. Ora, a despeito de a questão acerca da obrigatoriedade do fornecimento de medicamento ao idoso falecido já restar resolvida e consolidada em outra demanda, insiste o Apelado em sustentar que a Municipalidade não tinha condições financeiras para fornecer o medicamento imediatamente em razão do seu alto custo e que compete ao Estado (ou à União) a aquisição (e distribuição) para fornecimento dos equipamentos do chamado alto custo. Dadas essas circunstâncias, dúvidas não há acerca da configuração do ato de improbidade praticado pelo Apelado o qual melhor se amolda à tipificação do artigo 10, bem como da necessidade da aplicação dos efeitos legais decorrentes de sua negligência. Para eventual efeito, considera-se Apelação nº Voto nº 9

10 fls. 15 prequestionada toda a matéria infraconstitucional e constitucional deduzida no recurso. Daí o porquê, dá-se provimento ao recurso de apelação, para, nos termos do artigo 12, II, da Lei n /92, condenar Carlos Eduardo Pignatari: a) ao ressarcimento integral do dano acrescido de juros de 1% ao mês e de correção monetária, nos moldes da Tabela do TJSP, desde a data do desembolso; b) perda da função pública que eventualmente esteja exercendo; c) suspensão dos direitos políticos por cinco anos; d) pagamento de multa civil de duas vezes o valor do dano; e) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos; f) ao pagamento das custas e despesas processuais. MAGALHÃES COELHO Relator Apelação nº Voto nº 10

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