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Transcrição

1 fls. 317 SENTENÇA Processo Digital nº: Classe - Assunto Falência de Empresários, Sociedades Empresáriais, Microempresas e Empresas de Pequeno Porte - Recuperação judicial e Falência Requerente: BANCO SAFRA S/A Requerido: Phama Comercial LTDA. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Marcelo Barbosa Sacramone Vistos. BANCO SAFRA S.A. pediu a falência de PHAMA COMERCIAL LTDA., ante o não pagamento do crédito consubstanciado na CCB nº , no valor de R$ ,95, atualizado até 05/05/2013. O título foi protestado pela Requerente, com fins falimentares. Citada, a Requerida apresentou Contestação (fls. 68/86). Preliminarmente, arguiu a falta de representação processual, bem como a existência de questão prejudicial, eis que, ao receber o aviso de protesto, a Requerida propôs contra o Requerente ação de inexigibilidade de débito (processo nº , em trâmite perante a 23ª Vara Cível do Foro Central). No mérito, aduz que o Autor não disponibilizou o valor na conta corrente da Requerida, não demonstrando a origem do crédito. Alega que possuía com o banco intensa movimentação financeira baseada em contrato de descontos de títulos de crédito por ela emitidos contra seus clientes e não mútuo. Por meio desses contratos, a Requerida repassava ao Requerente vários títulos de crédito por mês, principalmente duplicatas, que eram levadas a desconto. Dessa forma, o banco tomava posse dos títulos, disponibilizava o valor à Requerida e, em seguida, emitia boletos de cobrança contra os devedores dos títulos. Pagos os boletos, o banco liquidava o título e dava baixa neles regularmente. Aduz que o valor da CCB objeto do pedido de falência não foi disponibilizado porque foi emitida como garantia de pagamento de duplicatas dadas em alienação fiduciária, de negociações anteriores, quitadas pelos sacados com atraso. Diz a Requerida que só realizou o negócio jurídico para coibir eventual existência de saldo devedor, mas que não existiu. Réplica às fls. 96/ lauda 1

2 fls. 318 As preliminares arguidas foram rejeitadas pelo despacho de fl No referido despacho, também foi determinado que o banco autor apresentasse extrato da conta corrente da ré, para comprovação do crédito da importância mutuada, eis que não basta a cédula de crédito para demonstrar o mútuo. Os extratos juntados pelo autor às fls. 148/176 não se referiam à conta corrente em que teria sido creditado o montante emprestado. Dessa forma, foi concedido novamente prazo para que o autor comprovasse o crédito na conta indicada na cédula (fl. 9). À fl. 190, o autor requereu a juntada de extratos (fls. 191/192), informando que o valor da operação de crédito, na qual emitido o título que embasa a inicial foi diretamente lançado na conta relativa ao contrato nº , também celebrado com a ré, de forma a possibilitar a quitação do saldo devedor lá encontrado. Não transitou pela conta corrente a pedido da própria requerida, que realizou a operação de crédito para liquidar o valor decorrente da outra, na qual o crédito foi lançado. Deferida a prova pericial contábil para verificar se os recursos da CCB foram utilizados para quitação do saldo devedor na conta Laudo pericial apresentado às fls. 230/246. É o relatório. Decido. Estão presentes os requisitos exigidos pela lei para o deferimento da pretensão, em face da matéria que foi articulada na inicial e do exame da documentação juntada. A parte ré confessa a contratação da cédula. Sustenta, entretanto, que não houve a disponibilização dos recursos. O laudo pericial, entretanto, fora contrário a isso. O laudo pericial atesta que houve a liberação do crédito no valor de R$ ,00, representado por uma liberação de R$ ,68 e outra de R$ ,32, ambas em 08 de outubro de 2012, em conta de empréstimo. Ainda, informa que o empréstimo continua em aberto. Verificou que o valor de R$ ,32 foi utilizado para pagamento de saldo devedor da conta Em seus esclarecimentos informou que, ante o extrato e as informações prestadas pela Assistente Técnica da Autora, o crédito de R$ ,32 foi disponibilizado na conta e R$ ,68 na conta lauda 2

3 fls. 319 Logo, os recursos foram disponibilizados para o pagamento de débito existente em conta da parte autora. Quanto ao pagamento do débito por conta da transmissão dos títulos, não juntou o devedor nenhuma relação de títulos transmitidos ao autor. Quanto aos juros capitalizados, não há impedimento à sua cobrança. Não há ilegalidade no anatocismo. O chamado anatocismo, como se sabe, é a incorporação dos juros ao valor principal da dívida, sobre a qual incidem novos encargos. Na prática usual do mercado financeiro, os juros sobre o capital referentes a um determinado período (mensal, semestral, anual) são incorporados ao respectivo capital, compondo um montante que servirá de base para nova incidência da taxa de juros convencionada. O Código Comercial de 1850 permitia, em seu art. 253, a acumulação de juros vencidos aos saldos liquidados em conta corrente de ano a ano. A propósito confira o teor da disposição mencionada: É proibido contar juros de juros; esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos liquidados em conta corrente de ano a ano. Depois que em juízo se intenta a ação contra o devedor, não pode ter lugar a acumulação de capital e juros. O Código Civil de 1916, também previa, em seu art a capitalização de juros, aliás, sem qualquer limite de periodicidade, desde que expressamente convencionada. Tal disposição, contudo, foi parcialmente revogada pelo Decreto nº /33 (Lei de Usura), que, em seu art. 4º, admitiu a acumulação dos juros vencidos aos saldos líquidos, desde que em periodicidade anual. O mesmo se deu com o novo Código Civil (Lei /02) que também admitiu em seu art. 591 a capitalização apenas anual dos juros. Verifica-se, pois, que nosso sistema jurídico sempre previu a possibilidade de capitalização dos juros, com variação apenas em relação ao período de incorporação dos juros ao capital. No campo jurisprudencial, o Supremo Tribunal Federal interpretando o art. 4º da lauda 3

4 fls. 320 Lei de Usura, editou a Súmula nº 121, assentando o entendimento de que é proibida a capitalização de juros em período inferior ao anual, ainda que expressamente convencionada. No que tange a operações regidas por leis especiais em que haja expressa autorização legal, o Supremo Tribunal Federal, porém, sempre admitiu a capitalização dos juros de acordo com o pactuado. Em nosso ordenamento jurídico, vários diplomas legais prevêem a possibilidade da capitalização dos juros, a saber: o Decreto-lei nº 167, de 1967 (Cédula de Crédito Rural); Dec. Lei nº 413, de (Cédulas de Crédito Industrial); Lei nº 6.313, de (Crédito à Exportação); Lei nº 6.840, de (Cédula de Crédito Comercial e Produto Rural), e por último, a Medida Provisória nº 1.925, de (Cédula de Crédito Bancário). No mesmo sentido o entendimento do Superior Tribunal de Justiça consubstanciado na Súmula nº 93, in verbis: "A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o pacto de capitalização de juros". A Medida Provisória nº , de 30 de março de 2000 (atualmente reeditada sob o nº /2001), a exemplo das leis especiais já existentes, estabeleceu em seu art. 5º, a possibilidade de capitalização dos juros nos contratos bancários. Confira a redação da disposição mencionada: Nas operações realizadas pelas instituições financeiras integrantes do Sistema Financeiro Nacional é admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano. A disposição supra, ao contrário do que muitos pensam, se mostra, ao menos em tese, benéfica aos tomadores de empréstimos. A vedação à capitalização dos juros prejudica a necessária transparência que deve haver nos contratos de mútuo bancário e acaba forçando as instituições a embutir nas taxas nominais um percentual equivalente à capitalização, resultando em taxas de juros mais elevadas. A Medida Provisória em questão, segundo esse raciocínio, mostra-se benéfica, por reduzir essa incerteza, possibilitando aos bancos reduzir as taxas nominais de juros. Aliás, essa foi lauda 4

5 fls. 321 a intenção do governo como pode ser observado da Exposição de Motivos da Medida Provisória nº , subscrita pelo Ministro da Fazenda Pedro Malan. É de se ressaltar, ainda, que a Medida Provisória tem força de Lei (art. 62 da CF) e deve ser respeitada. Contudo, somente deve ser aplicada aos contratos bancários pactuados após sua entrada em vigor ( ), pois, antes, como dito, vigorava a proibição da capitalização dos juros em período inferior a um ano, salvo aqueles casos regidos por leis especiais (Cédula de Crédito Rural, Industrial, Comercial, etc.). Esse também o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, conforme pode ser observado da ementa abaixo transcrita: PROCESSO CIVIL - RECURSO ESPECIAL - AGRAVO REGIMENTAL CONTRATO BANCÁRIO DE ABERTURA DE CRÉDITO - CELEBRAÇÃO ANTERIOR À EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA / CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS - ART 4º DO DECRETO /33 - LEI 4.595/64 - SÚMULA 596/STF - INAPLICABILIDADE - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA E CORREÇÃO MONETÁRIA - CUMULAÇÃO - SÚMULA 30/STJ - IMPOSSIBILIDADE - SÚMULA 83/STJ - DESPROVIMENTO. 1 - Este Tribunal já proclamou o entendimento de que, nos contratos firmados por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, anteriormente à edição da MP /2000, de 31 de março de 2000 (atualmente reeditada sob o nº /2001), ainda que expressamente pactuada, é vedada a capitalização dos juros, somente admitida nos casos previstos em lei, quais sejam, nas cédulas de crédito rural, comercial e industrial, inocorrentes, na presente hipótese (art. 4º do Decreto n /33 e Súmula nº 121-STF). In casu, cuida-se de contrato de empréstimo/financiamento de bens e serviços firmado em agosto de 1998, sendo, portanto, inaplicável o disposto na citada medida provisória. Precedentes (REsp nºs /RS e /RS, AgRg REsp nºs /RS e /RS). 2 - Esta Corte já pacificou o entendimento no sentido de ser lícita a cobrança da comissão de permanência, desde que não cumulada com correção monetária, nem com juros remuneratórios, nos termos da Súmula 30/STJ. Precedentes (AgRg Ag /RS, AgRg REsp /RS e REsp /RS). 3 - Aplicável, portanto, à hipótese, o enunciado sumular de n.º 83/STJ lauda 5

6 fls Agravo Regimental conhecido, porém, desprovido. (STJ AgRg no REsp nº /RS - 4ª Turma Rel. Min. Jorge Scartezzini DJ , pág. 556). No caso sub judice observa-se que o contrato juntado aos autos foi firmado entre as partes após a vigência da primeira edição da Medida Provisória nº ( ), em que é permitida a capitalização dos juros, não se verificando, pois, qualquer irregularidade quanto a este aspecto. Diante do inadimplemento injustificado, decreto a falência de PHAMA COMERCIAL LTDA., CNPJ nº / , com endereço à Av. do Estado, nº 1.705, Ponte Pequena, São Paulo/SP, CEP: , fixando o termo legal em 90 dias contados do requerimento inicial ou do protesto mais antigo, prevalecendo a data mais antiga. Determino, ainda, o seguinte: 1) Nomeação, como administradora judicial, da sociedade Trust Serviços Administrativos EIRELI, representada por Kleber de Nicola Bissolatti - OAB/SP , com endereço na Praça Dom José Gaspar, nº º andar, cj. 142, República, São Paulo-CEP: e endereço eletrônico phamacomercial2vfrj@gmail.com, que deverá prestar compromisso em 48 horas e promover pessoalmente, com sua equipe, a arrecadação de bens, documentos e livros, bem como a avaliação dos bens, separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem, sem necessidade de mandado, bem como autorizado o acompanhamento da diligência pelos órgãos competentes para o uso de força em caso de resistência, servindo cópia dessa sentença, assinada digitalmente, como ofício. 2) Expedição de edital, na forma do parágrafo único do artigo 99 da Lei /2005, após o cumprimento do item 7, em que constem as seguintes advertências: a) no prazo de 15 dias as habilitações ou divergências deverão ser apresentadas diretamente ao administrador judicial, no seu endereço acima mencionado, ou por meio do endereço eletrônico phamacomercial2vfrj@gmail.com, e de que as habilitações apresentadas nos autos digitais não serão consideradas. b) Procurações e substabelecimentos deverão ser juntados no incidente especificamente criado para este fim - incidente nº lauda 6

7 fls. 323 c) na ocasião da apresentação das habilitações e divergências, os credores deverão indicar dados completos de conta bancária (nome do titular da conta, número do CPF/CNPJ do titular da conta, número da agência e da conta bancária) para que, conforme previsão do artigo 1.113, 3º, 4º e 5º das NSCGJ/TJSP (PROVIMENTOS nº 50/1989 e 30/2013), possam receber eventuais valores através da prévia expedição de ofício ao banco. d) ficam dispensados de habilitação os créditos que constarem corretamente do rol eventualmente apresentado pelo falido. das comunicações de praxe. 3) Suspensão de ações e execuções contra a falida, com as ressalvas legais. 4) Proibição de atos de disposição ou oneração de bens da falida, com expedição 5) Anotação junto à JUCESP, para que conste a expressão falida nos registros e a inabilitação para atividade empresarial, formando-se um incidente específico para ofícios e informações sobre a existência de bens, direitos e protestos. 6) Intimação do Ministério Público e publicação do edital, na forma do parágrafo único do artigo 99 da Lei / ) Determino a expedição de ofícios (art. 99, X e XIII) aos órgãos e repartições públicas (União, Estado e Município; Banco Central, DETRAN, Receita Federal, etc.), autorizada a comunicação on-line, imediatamente, bem como à JUCESP para fins dos arts. 99, VIII, e ) Intimação dos representantes da falida, pessoalmente, para: a) no prazo de 05 dias apresentar a relação nominal dos credores, observado o disposto no artigo 99, III, da Lei /2005, em arquivo eletrônico, diretamente ao administrador judicial, sob pena de desobediência; b) no prazo de 15 dias, apresentar declarações por escrito, nos autos do processo principal, com as informações previstas no art. 104, da Lei /2005, e entregar os livros contábeis obrigatórios em cartório, para encerramento, sob pena de desobediência. P.R.I. São Paulo, 12 de abril de DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI /2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA lauda 7