DECISÃO REPRESENTANTE: CLAUDIO DE SOUZA NETO DEPUTADO ESTADUAL REPRESENTADO: WHATSAPP INC, LUCIO BATERA, MATHEUS, MENDES

Transcrição

1 DECISÃO PROCESSO N CLASSE: REPRESENTAÇÃO (11541) REPRESENTANTE: CLAUDIO DE SOUZA NETO DEPUTADO ESTADUAL Advogados: OTONIEL QUEIROZ DE SOUZA NETO - AM8821 REPRESENTADO: WHATSAPP INC, LUCIO BATERA, MATHEUS, MENDES Advogados: CAMILA ROZZO MARUYAMA - SP307626, RICARDO CHABU DEL SOLE - SP309132, RAFAEL SONDA VIEIRA - SP315651, EDUARDO DAMIAO GONCALVES - SP132234, FERNANDO DANTAS MOTTA NEUSTEIN - SP Vistos, etc. Trata-se de Representação Eleitoral por propaganda irregular c/c pedido de liminar proposta por JOSUÉ CLÁUDIO DE SOUZA NETO em face de WHATSAPP INC., MATHEUS, MENDES e LÚCIO BATERA, sob o argumento de que o segundo e o terceiro representados, veicularam em grupos privados no aplicativo de mensagens Whatsapp, suposta conversa travada entre o representante e outros nomes da política amazonense, em um suposto grupo privado intitulado Campanã, na qual estariam falando acerca de estratégias políticas, bem como denegrindo a imagem de servidores públicos, conteúdo ofensivo e inverídico, a configurar propaganda negativa no claro intuito de prejudicar a candidatura do representante. Também alega ter havido larga divulgação do conteúdo pela plataforma digital do whatsapp (fl. 9 da petição), anexando como prova duas capturas de tela de aparelho celular, mostrando três postagens em dois grupos privados, sendo uma publicação realizada pelo segundo representado Matheus no grupo privado Portal Giro de Notícias, uma publicação realizada pelo terceiro representado Mendes no Num Pág. 1

2 grupo privado Portal Giro de Notícias e uma publicação realizada pelo quarto representado (Lúcio Batera) no grupo privado Debate Online. Referindo-se a liminar deferida nos autos da Rp n , que em caso análogo, antecipou os efeitos da tutela para determinar a exclusão de conteúdo negativo no whatsapp contra outro candidato e, colacionando jurisprudência pertinente ao combate a propaganda ofensiva na rede social Facebook e na rede mundial de computadores ( internet ), o peticionário pleiteia a concessão de tutela de urgência objetivando que o primeiro representado promova a exclusão das postagens publicadas, a fim de evitar sua propagação, na plataforma digital whatsapp, sob pena de multa diária, e no mérito, a identificação e a condenação dos demais representados ao pagamento de multa.vieram-me os autos conclusos. É o relatório. Decido. Analisando o conteúdo divulgado, verifico que foram 3 (três) postagens de supostas notícias falsas no aplicativo de mensagens Whatsapp, em dois grupos privados, Portal Giro de Notícias e Debate Online. Segundo o que dispõe a Resolução TSE /2017, o provedor de aplicação somente pode ser responsabilizado pela propaganda eleitoral irregular nas hipóteses de comprovado conhecimento prévio ou recusa no fornecimento de dados para identificação do usuário. Em exame do teor das postagens, verifico tratar-se de conteúdo falso, alcunhadas fake news, observe a suposta conversa travada entre o representante e outros nomes da política amazonense, em um suposto grupo privado intitulado Campanã, na qual estariam falando acerca de estratégias políticas, bem como denegrindo a imagem de servidores públicos, conteúdo ofensivo e inverídico, a configurar propaganda negativa no claro intuito de prejudicar a candidatura do representante. Destaco que, na atual era tecnológica, é fácil e acessível a qualquer pessoa simular conversas através de aplicativos que produzem conversas falsas, o que, indubitavelmente desborda qualquer nível aceitável de crítica ao representante, pessoa pública que, candidato nestas eleições, embora tenha mitigado o seu direito à privacidade em virtude do interesse público, como entendido pela justiça eleitoral, o debate típico de um estado democrático como o nacional, não deve ter atingido de forma negativa a sua honra objetiva e/ou subjetiva. Num Pág. 2

3 Embora recentemente tenha decidido nos autos da Rp. n , pela improcedência da ação em se tratando de mensagens postadas em grupo privado do Whatsapp, caso não reste provado nos autos a propagação em massa, aqui a decisão não se aplica, mormente por ser de fácil propagação massiva o áudio e o comentário em tela, tanto que a divulgação da propaganda negativa e inverídica contra o representante constou recentemente como notícia veiculada em periódicos regionais na rede mundial de computadores, ato sujeito, inclusive, a tutela jurisdicional desde que provocado pelo interessado. É o que se vislumbra no presente caso, fato merecedor de sanção desta Especializada. Consta o compartilhamento pelo segundo, terceiro e quarto representados, de suposto comentário formulado pelo representante, denegrindo os servidores públicos e imagem de integrantes de partido político específico, ato propagado a atingir a honra objetiva do representante, tal que não deve passar desapercebido aos crivo jurisdicional, na primazia por eleições idônea através do combate a excessos, digo, críticas excessivas, por serem negativas e inverídicas. Mesmo em análise perfunctória, típica em exame de pedido liminar, compartilho da ótica no sentido de que os autores do compartilhamento do link através de suas linhas telefônicas, realizaram clara propaganda eleitoral negativa contra o representante. Assim dispõe a Resolução TSE n /2017, assim como o 3º do art. 57-D da Lei n /97: Res. TSE n /2017, Art. 25. É livre a manifestação do pensamento, vedado o anonimato durante a campanha eleitoral, por meio da internet, [...]. 1º A violação do disposto neste artigo sujeitará o responsável pela divulgação da propaganda e, quando comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ ,00 (trinta mil reais) (Lei nº 9.504/1997, art. 57-D, 2º). 2º Sem prejuízo das sanções civis e criminais aplicáveis ao responsável, a Justiça Eleitoral poderá determinar, por solicitação do ofendido, a retirada de publicações que contenham agressões ou ataques a candidatos em sítios da internet, inclusive redes sociais (Lei nº 9.504/1997, art. 57-D, 3º). grifos não originais Num Pág. 3

4 Lei n /97, Art. 57-D. É livre a manifestação do pensamento, vedado o anonimato durante a campanha eleitoral, por meio da rede mundial de computadores - internet, assegurado o direito de resposta, nos termos das alíneas a, b e c do inciso IV do 3o do art. 58 e do 58-A, e por outros meios de comunicação interpessoal mediante mensagem eletrônica. (Incluído pela Lei nº , de 2009) [...] 3º Sem prejuízo das sanções civis e criminais aplicáveis ao responsável, a Justiça Eleitoral poderá determinar, por solicitação do ofendido, a retirada de publicações que contenham agressões ou ataques a candidatos em sítios da internet, inclusive redes sociais. (Incluído pela Lei nº , de 2013) grifos não originais Também a mesma Resolução versa, em seu art. 33, 5º e 57-F da Lei n /97, a responsabilidade do provedor de aplicação pela propaganda eleitoral irregular nas hipóteses de comprovado conhecimento prévio ou recusa no fornecimento de dados para identificação do usuário. Art. 57-F. Aplicam-se ao provedor de conteúdo e de serviços multimídia que hospeda a divulgação da propaganda eleitoral de candidato, de partido ou de coligação as penalidades previstas nesta Lei, se, no prazo determinado pela Justiça Eleitoral, contado a partir da notificação de decisão sobre a existência de propaganda irregular, não tomar providências para a cessação dessa divulgação. (Incluído pela Lei nº , de 2009) Parágrafo único. O provedor de conteúdo ou de serviços multimídia só será considerado responsável pela divulgação da propaganda se a publicação do material for comprovadamente de seu prévio conhecimento. (Incluído pela Lei nº , de 2009) No caso em tela, observa-se, pelos números telefônicos dos quais foi originado o conteúdo impugnado, que os referidos pertencem a pessoas físicas, não havendo nestes autos, plausibilidade quanto à utilização de robôs para difundir propaganda eleitoral negativa em desfavor do representante. Mesmo assim, como já frisado, a mensagem impugnada tem o teor negativo capaz de convencer em massa o potencial eleitorado, em desfavor do ofendido, denegrindo sua imagem de maneira nítida. Num Pág. 4

5 Portanto, pode-se concluir, em sede de cognição provisória, que os autores das mensagens excederam os limites da garantia constitucional da liberdade de expressão, transformando o grupo de Whatsapp em instrumento para veiculação de propaganda negativa e caluniosa em desfavor do representante, o que justifica a concessão da tutela de urgência pleiteada. Ainda, embora não haja nos autos informação em relação à amplitude de divulgação da fake news", é de se ressaltar que a possibilidade de propagação em massa da notícia falsa já é latente, e dita prática deve ser rechaçada por esta Justiça Eleitoral, isso porque, no presente caso, os falsos prints já tem sido noticiados pela imprensa jornalística local, em portal de notícias na internet. Pela visibilidade inegável da propagação, deparo-me, como julgador, com conteúdo inverídico e, no mínimo, difamatório, o que é refutado na legislação que remete ao saudável debate eleitoral. Ou seja, a disseminação da propaganda proibida já é notória! Embora tenha sido inicialmente compartilhada em grupo privado, já foi disseminada indiscriminadamente em diversos outros meios de comunicação. Imperioso, no mais, frisar que, inobstante a inexistência de identificação eletrônica do conteúdo impugnado, hash apresentado pelo representante, deve ser aberta oportunidade aos representados para manifestação, consoante inteligência do art. 57-D e 3º. Pelo exposto, presentes os requisitos legais, e diante do perigo na demora em cessar o compartilhamento da mensagem impugnada, DEFIRO o pedido de tutela de urgência para DETERMINAR: 1- ao Whatsapp Inc. que REMOVA o compartilhamento do arquivo mencionado no prazo de 1 (um) dia, obstando a propagação da mensagem com imagens de prints enviada por Matheus, Mendes e Lúcio Batera, do terminal telefônico , e respectivamente, onde constam propaganda negativa em desfavor do representado, ou informe a impossibilidade de cumprimento da medida indicada; 2- ao Whatsapp Inc. que INFORME no prazo de 1 (um) dia a identificação dos usuários responsáveis pela postagem por meio das linhas (Matheus), (Mendes) e (Lúcio Batera), haja vista que o perfil tem os seguintes dados cadastrados: dados do perfil (foto e nome), Num Pág. 5

6 endereço de (se disponível), nos termos do art. 10, 1º e 2º, da Lei n /2014 (Marco Civil da Internet); 3- Independentemente da medida acima determinada, OFICIE-SE, ainda, às operadoras de telefonia de nossa região, no intuito de ser informado, no prazo de 1 (um) dia, todos os dados relativos à titularidade das linhas (Matheus), (Mendes) e (Lúcio Batera), sob pena de multa diária de R$10.000,00 (dez mil reais). 4- Cite-se, ainda, o representado Whatsapp Inc., para, querendo, apresentar resposta no prazo de 2 (dois) dias, a teor do disposto no art. 8º, da Resolução TSE nº /2017. Cumpra-se, com urgência. P.R.I. Manaus, 17 de setembro de 2018 RICARDO AUGUSTO DE SALES Juiz Auxiliar do TRE/AM nas Eleições Gerais de 2018 Num Pág. 6