Jornais e Revistas Brasileiras dos Séculos XIX e XX: Modos Jornalísticos e Literários de Expressão1

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1 Jornais e Revistas Brasileiras dos Séculos XIX e XX: Modos Jornalísticos e Literários de Expressão1 Ana Roza da Silva2 Resumo Este estudo tem o objetivo de analisar a revista O Cruzeiro de longa vida editorial no Brasil, com uma tiragem excepcional, ainda não superada, em várias décadas. Seu sucesso era alcançado, basicamente, pela exploração de um núcleo jornalistico com reportagens sintéticas e entrevistas, um núcleo literário com crônicas, romances e contos, um núcleo de matérias ligadas a variedades e o núcleo de publicidade. O foco principal do comentário será a crônica jornalística, um dos gêneros de maior sucesso e duração na revista O Cruzeiro. A seção de crônicas da última página, escrita por Raquel de Queirós, será o centro da discussão. Identificaremos os temas das crônicas e a sua ligação com fatos de dimensão jornalística miúda ou de grande projeção. Palavras-chave A linguagem jornalística; as seções da revista O cruzeiro; as crônicas da revista O Cruzeiro; as crônicas de Raquel de Queirós em O Cruzeiro. Corpo do trabalho Núcleo Jornalístico: reportagens e entrevistas No século XX, a revista O Cruzeiro destacou-se como um periódico de grande penetração em todos os cantos do Brasil. De longa duração e de circulação nacional, a revista alcançou em várias décadas uma tiragem que variava de quinhentos e vinte e cinco a setecentos mil exemplares por edição, tiragem ainda não alcançada, atualmente, por revistas de grande circulação. Apesar da importância da revista O Cruzeiro, são raros os estudos sobre o seu formato e sobre a função dos textos literários no seu interior. No seu surgimento em 10 de novembro de 1928, o projeto da revista previa alcançar grande patamar de credibilidade, alicerçado no alto padrão de qualidade no tratamento da informação. Cada tiragem vinha geralmente com um número de páginas que oscilava entre cinqüenta a sessenta. A revista obteve êxito durante muito tempo por meio da exploração dos seus núcleos de textos variados: um núcleo jornalístico com reportagens sintéticas e entrevistas, um núcleo literário com romances e contos, um 1. Trabalho apresentado ao Núcleo de Eventos Especiais II Mesas Temáticas Mesa Temática 01: Jornais e Revistas Brasileiras dos Séculos XIX e XX: Modos Jornalísticos e Literários de Expressão do XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo. Especialista em Literatura Brasileira, professora do ensino superior, membro do Grupo de Pesquisa CNPQ-USP Literatura e Imprensa: Jornais e Revistas dos Séculos XIX e XX.. osvaldorib@uol.com.br 1

2 núcleo híbrido com crônicas, um núcleo de matérias ligadas a variedades e um núcleo de publicidade; a capa era, também, um fator importante para atrair os leitores. As seções eram geralmente as seguintes: artigos, reportagens, seções de variedades, humorismo, literatura, cinema, assuntos femininos. O formato geral da revista O Cruzeiro era de tamanho médio. Comentaremos, a seguir, os aspectos mais importantes do conjunto da revista. Capa As capas eram estruturadas de maneira a chamar e a atrair bastante a atenção e a curiosidade do leitor. Durante décadas, as capas exploravam a figura feminina de maneira constante. Geralmente eram fotos de personalidades nacionais ou internacionais ligadas ao cinema, alta sociedade, política, eventos esportivos, eventos cívicos e outros. Na parte interna da última página vinha o nome da personalidade e a referência [...] Kodakcrome exclusivo de...[...]. Nas suas capas apareceram Lana Turner, Janes Paiger, Evelyn Keiys, Rita Hayworth, Arline Dahl, Rhonda Fleming, Ana Maria Radler de Aquino, Tônia Carrero, Ann Sheridan, Mirna KeyesKristine Muller, Lucille BallAnn Blyth, Janis Carter, Suzan Hayward, Lucélia Santos, Suzana Vieira e muitas outras mulheres. As reportagens As reportagens eram feitas pelos jornalistas e pela equipe de O Cruzeiro. Fatos do pequeno e do grande mundo, comportamentos de inúmeras personalidades eram relatados de maneira sintética e ilustrados com fotos. A reportagem sobre o desastre do hidroavião Santos Dumont na Baía de Guanabara em dezembro de 1828, publicada em 8 de dezembro de 1828, é típica da revista O Cruzeiro. Um texto ocupando uma página relata o acontecimento, nas páginas seguintes aparecem as fotos documentando a tragédia. Nas fotos, chama a atenção, o registro direto dos acontecimento. Na página nove, uma foto dos destroços do avião Santos Dumont, apresenta no centro os pedaços dos corpos do deputado Amaury de Medeiros e de um dos mecânicos do avião. Embaixo, uma legenda comenta o seguinte No momento em que eram suspensos do fundo da Guanabara os destroços do Santos Dumont, vendo-se os corpos mutilados do deputado Amaury de Medeiros, e de um dos mecânicos (O CRUZEIRO, 8 dez. 1828, p. 9) 2

3 Núcleo de Variedades Os temas da seção variedades eram muitos: ídolos do futebol, filatelia, teatro, opiniões do leitor, música, vida de filósofos, cientistas e outros. Típico do texto de variedades é o referente à vida de Rasputin em dezembro de Há um registro minucioso dos fatos reais ligados à vida de Rasputin na infância, na juventude, na vida clerical e na corte russa. Nota-se no relato, uma mistura de fatos reais com ficção. Tudo vem ilustrado com fotos de Rasputin, sua filha e o assassino de Rasputin, o Príncipe Yupussoff. Núcleo Híbrido: Crônicas A seção de crônicas teve longa duração e as crônicas ocupavam várias páginas na revista. Raquel de Queirós, Rubem Braga, Fernando Sabino e vários outros cronistas escreveram para O Cruzeiro. Raquel de Queirós foi uma das cronistas de mais longa atuação na revista O Cruzeiro, quase atingindo o período de quarenta anos. Nas suas crônicas, a autora explorava temas extremamente variados. Cite-se, aqui, os seguintes: vocabulário e ortografia da Língua Portuguesa do Brasil, acontecimentos miúdos da cidade do Rio de Janeiro, aspectos inerentes à condição humana, o individualismo do homem moderno na grande cidade, questionamentos sobre estética corporal, questionamentos sobre a moda, fatos da intimidade da vida de personagens históricos, escritores, questionamentos sobre os serviços públicos, a fugacidade do tempo, amor, fé, arte, cinema, relacionamento humano, o processo de criação literária, religião, cidades históricas, a influência da temperatura no trabalho humano, os meios de comunicação, o efeito das paisagens naturais, o efeito da educação no homem, recenseamento. As técnicas literárias de Raquel de Queirós eram bastante típicas e reempregadas em inúmeras crônicas. O tema era desenvolvido geralmente num enfoque que primava pela multiplicidade de perspectivas. Os fatos reais sofriam um certo tratamento ficcional. O tom empregado aproximava-se do emocional, mas permeado de agudas reflexões. É o caso, por exemplo, da crônica O Paços de Domitília, publicada em 8 de setembro de Nessa crônica, a autora explora um fato noticiado pelos jornais daquele mês, a reforma da Casa da Marquesa no Rio de Janeiro que virou repartição pública no século XX. O cenário da casa é explorado para haver uma remissão ao passado, uma ficcionalização dos episódios dos amores da Marquesa de Santos e D. 3

4 Pedro I e um comentário miúdo da vida íntima destas personagens e dos seus criados. A questão do adultério é abordada num tom emocional e romântico. É o caso, também, da crônica SOS do pica-pau amarelo, publicada em 5 de agosto de A autora tira partido do noticiário sobre a falta de recursos do Sítio do Pica-pau Amarelo de Monteiro Lobato, que havia morrido e a família estava sem dinheiro para manter a propriedade, que oferecia entretenimento para vários estudantes na região de Tremembé. Coluna Social: Uma coluna social ocupava sempre as páginas de O Cruzeiro. Uma das mais conhecidas nas décadas de vinte e trinta foi a coluna intitulada Dona, que noticiava fatos da alta sociedade, da moda do Rio de Janeiro, São Paulo e Paris. Literatura As seções literárias publicavam romances, contos e novelas. Destaque-se como romancista Dinah Silviera de Queirós, Eni Bulhões Carvalho da fonseca, João Condé, Geraldo de Freitas. Núcleo de Publicidade: Anúncios A seção de publicidade ocupava várias páginas que ofereciam produtos com desenhos bem coloridos e com frases chamativas que destacavam as qualidades do produto, qualidades que favoreciam a saúde, a higiene da família. 4

5 Referências bibliográficas O CRUZEIR0. Rio de Janeiro: Tipografia de O Cruzeiro,