ILUSTRE PROCURADOR DE JUSTIÇA DR. XXX, MEMBRO DA EGRÉGIA PRIMEIRA TURMA DO CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 ILUSTRE PROCURADOR DE JUSTIÇA DR. XXX, MEMBRO DA EGRÉGIA PRIMEIRA TURMA DO CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO ARTIGO 19; CONECTAS DIREITOS HUMANOS; NÚCLEO ESPECIALIZADO DE CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO; INSTITUTO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS CRIMINAIS (IBCCRIM); OUVIDORIA- GERAL DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO; e COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DO SINDICATO DOS ADVOGADOS DO ESTADO DE SÃO PAULO - CDH/SASP, já qualificadas nos autos de nº /16, vem, respeitosamente, à presença de Vs. Excelência, apresentar MEMORIAIS, reforçando as responsabilidades apontadas na Representação e posterior Recurso ora julgados. As entidades subscritoras apresentaram Representação ao Excelentíssimo Sr. Procurador Geral de Justiça sobre a efetividade do controle externo da polícia exercido pelo Ministério Público de São Paulo no contexto de manifestações populares, em 02 de Fevereiro de A exordial trouxe uma série de relatos que ilustram a atuação desproporcional da Polícia Militar de São Paulo, atuando sob supervisão direta do Secretário de Segurança Pública e do Governador do Estado. Foram descritas situações que contrariam as poucas normativas públicas sobre o uso da força, a ausência de normativas claras sobre os padrões considerados aceitáveis de atuação policial em protesto, a completa insuficiência e omissão

2 dos mecanismos de controle interno da corporação e a interferência direta do Poder Executivo a fim de garantir tratamento diferenciado para protestos que estão mais ou menos alinhados com o mesmo. Ao fim, trouxe pedidos relacionados à atuação do MP - enquanto instituição una - e pedidos de informação, assim resumidos: a) Que o Ministério Público aponte quais são seus integrantes que têm a função de exercer o controle externo da atividade policial para além da persecução penal; b) que o Ministério Público designe membros para estarem presentes na ocasião de novos protestos, sejam quais forem, a fim de averiguar eventuais excessos praticados pela PMESP de maneira independente, atuando no controle externo para além da persecução penal; c) que o Ministério Público, após a constatação in loco desses abusos, apresente de maneira clara e transparente à sociedade, quais as providências serão tomadas a respeito; d) que o Grupo de Controle Externo da Atividade Policial (GECEP) informe, de maneira clara, o conjunto de ações, passadas e futuras, direcionadas ao controle da atividade policial em ações de manifestação popular; e) Que o Ministério Público esclareça porque os integrantes do GECEP têm delegado o controle externo da atividade da Polícia Militar para o Sistema de Justiça Militar, deixando de colher relatos de violência e abuso da corporação em questão; que este ilustre órgão designe integrantes do Ministério Público para estarem presentes na ocasião de novos protestos, sejam quais forem, a fim de averiguar eventuais excessos praticados pela PMESP de maneira independente e para além da persecução penal; f) que o Ministério Público requeira à Polícia Militar que disponibilize os Procedimentos Operacionais Padrão em caso de manifestação popular; A Representação foi apresentada ao Procurador Geral de Justiça por dois motivos: a) Pelo disposto no Art. 104, 5º da Lei Orgânica do Ministério Público de São Paulo, que estabelece como competência do mesmo a atuação em casos que demandem notificações e requisições ao Governador do Estado e aos Secretários de Estado; b) Por entender que é de sua responsabilidade o cumprimento da disposição do Art. 103, 2º e 3º da Lei Orgânica, que estabelece que a Representação será distribuída ao órgão competente para atuar na mesma, pela matéria tratada à luz da organização interna do Ministério Público.

3 Não obstante os relatos de violação sistemática de direitos fundamentais, assim como o respaldo nos padrões internacionais de atuação policial em situação de protesto e nas orientações do Conselho Nacional do Ministério Público e do Conselho Nacional de Procuradores Gerais, foi emitida resposta negativa recebida em 26 de Abril. O ofício emitido pelo Chefe de Gabinete do Procurador Geral de Justiça (já sob a atual gestão) limitou-se a reproduzir resposta emitida pelo GECEP, de apenas uma lauda, que informava: que não foi instaurado no GECEP procedimento para apurar os fatos relacionados às manifestações públicas. Esclareço, contudo, que foi instaurado no âmbito da Promotoria de Direitos Humanos o Inquérito Civil nº , visando à promoção de mecanismos para redução de letalidade policial. Outrossim, informo que futura informações deverão ser direcionadas à Promotoria de Direitos Humanos. O mérito desta curta decisão contraria as orientações trazidas quanto ao significado de Controle Externo da Polícia pelo CNMP e CNPG; todos os parâmetros deste poder-dever que extrapolam a lógica da persecução penal individual (que é competência do Ministério Público como propositor da ação penal pública) são expressamente olvidados pelo órgão do MPSP que, por nome, exerce tal função. Ademais, o Inquérito Civil apontado trata de assunto que, embora relacionado, tem escopo diferente do trazido pela Representação. Por fim, a Promotoria de Direitos Humanos recém promoveu o arquivamento do feito apensado à presente Representação já em sede deste Egrégio Conselho Superior, por entender que a mesma teria esgotado sua atuação e que não possuía competência ou ferramentas para exercer o controle externo da atividade policial em situação de protestos. O objeto do presente Recurso é, contudo, a manifestação do Excelentíssimo Procurador Geral de Justiça. Se este optou por enviar a Representação ao GECEP, e este afirmou não ser competente para tal, caberia ao mesmo determina qual(is) órgão(s) deve(m) ser(em) acionado(s). Reforçando esta tese, o Art. 9º, 1º do Ato Normativo nº 484-CPJ de 2006 determina que o conflito de atribuições na defesa de direitos coletivos, individuais homogêneos e difusos deve ser suscitado pelos membros do Ministério Público e decidido pelo Procurador Geral de Justiça.

4 Ao mesmo tempo, deveria o Exc. Procurador Geral, fundamentadamente, avaliar a necessidade de sua atuação no feito, por denúncia de atos inidôneos possivelmente cometidos pelo Governador e pelo Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Pelo exposto, as entidades subscritoras apresentam os presentes Memoriais a fim de reforçar os argumentos trazidos no Recurso ora analisado, bem como auxiliar esta Egrégia Turma no deslinde dos complexos questionamentos trazidos na Representação. Por fim, reforça a necessidade de envio do feito ao Excelentíssimo Procurador Geral de Justiça, para que este se manifeste sobre suas atribuições no feito, bem como aponte os órgãos do Ministério Público aptos a exercer o controle externo da atividade policial em situação de protestos; ou mesmo fundamente, caso entenda, o descabimento da Representação apresentada. Termos em que Pede deferimento. São Paulo, 08 de Agosto de Camila Marques Artigo 19 Jéssica R. Carvalho Morris Rafael C. G. Custódio Andre Pires de Andrade Kehdi Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) Defensoria Pública do Estado de São Paulo Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos Alderon Costa Ouvidoria Geral da Defensoria Pública do Estado de São Paulo Thiago Barison de Oliveira Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo Henrique H. Apolinario de Souza

5