CONTROLE SOCIAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS (Notas para debate)
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- Esther Graça Lage
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1 CONTROLE SOCIAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS (Notas para debate) Edval Bernardino Campos 1 Do ponto de vista teórico e político, o controle social pode ser abordado sob diferentes perspectivas. Nas sociedades modernas e contemporâneas este debate está presente sob duas perspectivas polares: uma, relacionada ao controle que o Estado exerce sobre os cidadãos; a outra, diz respeito ao controle que os cidadãos exercem sobre o Estado. Este debate integra o próprio processo de fundamentação do Estado moderno. Na perspectiva que discute o Estado como um instrumento de controle sobre a sociedade, é importante destacar dois pensadores: Thomas Hobbes ( ) John Locke ( ). Para Hobbes a natureza humana é marcada por três características que tornam os homens competidores e potencialmente predadores: a primeira é a competição, leva os homens a atacar os outros em vista do lucro; a segunda é a desconfiança. Por medida de segurança o homem precisa ver nos outros uma ameaça constante. A terceira característica é a glória, os homens, egoístas que são, buscam a reputação, o reconhecimento e a admiração dos outros (Leviatã cap. XIII). Neste caso, o Estado é a garantia para que os homens não se destruam. Para Hobbes, contudo, não basta um Estado produto de um pacto entre os homens, é preciso um Estado forte, pois para ele os pactos sem a espada não passam de palavras sem força para dar a menor segurança a ninguém (ibid.). O Estado é o Deus Mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus imortal, nossa paz e defesa (id. p. 144). Para John Locke, defensor do individualismo liberal, os homens renunciam às liberdades do poder pessoal presentes no estado de natureza, por viverem em 1 * Assistente Social da Secretaria Executiva do Trabalho e Promoção Social SETEPS / PA; Professor da Universidade da Amazônia UNAMA; Coordenador do CMAS Belém/PA e Presidente do Conselho Regional de Serviço Social CRESS-1ª Região.
2 2 circunstâncias ameaçadoras, inseguras e perigosas. O objetivo grande e principal, portanto, da união dos homens em comunidades, colocando-se eles sob governo, é a preservação da propriedade (2000, p.99). O governo é uma espécie de custódia estabelecida por indivíduos que se juntaram para formar uma sociedade, cujo sentido é garantir a ordem e proteger a propriedade (1996, p.241). Em J.LOCKE o governo não é absoluto ele deve ser submisso à lei. Nessa perspectiva podemos considerar uma possibilidade mesmo que mínima, de controle do cidadão-proprietário sobre o governo. Na perspectiva do Estado como instrumento de controle, podem ser identificadas duas formas principais de controle social: a área dos controles externos e a área dos controles internos. Bobbio (1999, p.284). A primeira forma de controle está relacionada aos mecanismos de repressão destinadas à manutenção da ordem. São exemplos, legislações restritivas, tribunais, polícias, etc. Trata-se de um controle que se exerce verticalmente, de cima para baixo, de forma centralizada e quase sempre autoritária. A Segunda forma de controle, é mais sutil, no entanto mais avassaladora. Este controle ocorre como produto de uma sociabilidade que naturaliza as desigualdades sociais e individuais, que justifica privilégios e que consente discriminações. São os valores e as crenças que conformam nossa sociabilidade através da educação, da cultura transmitida, da força da religião, da ideologia, etc. Como afirma Gramsci o Estado é o complexo de atividades práticas e teóricas com o qual a classe dominante não somente justifica e mantém sua dominação, como procura conquistar o consentimento ativo daqueles sobre os quais ele governa (apud Carnoy,1988 p. 99). A idéia de controle social até aqui discutida, para usar as palavras de Bobbio (1999, p.284) diz respeito a limitação do agir individual na sociedade. A minha intervenção neste fórum tem como objetivo central, refletir sobre as possibilidades do controle social no âmbito das políticas sociais em particular
3 3 nas políticas de saúde, assistência social e educação, na perspectiva do controle social exercido pela sociedade civil sobre o Estado. Este debate não é novo, está presente nas obras de J.J. Rousseau (sec. XVIII). Para ele a Democracia é constituída de três aspectos: A Igualdade de participação; O político como espaço autônomo do agir Humano, por considerar o interesse público como valor máximo da sociedade; A participação direta no poder. Este é o ideal da democracia participativa que nos anima no difícil e complexo desafio do controle social. Em Rousseau o governo é um comissário do povo e, a fiscalização pelo povo sobre as ações do governo, é a forma segura para evitar a usurpação e predomínio do interesse privado sobre o interesse público. Tentarei, didaticamente, responder algumas questões que considero importante no encaminhamento da reflexão e no exercício do controle social conforme a Constituição Federal em vigor. 1- O que é Controle Social? são as ações desenvolvidas pela sociedade civil organizada que tem por objetivo: fiscalizar, monitorar e avaliar as condições em que a política de assistência social está sendo desenvolvida (fiscalizar e avaliar a qualidade das ações; a aplicação de recursos públicos e o resultado das ações na vida dos assistidos. Também é a influência que a sociedade civil exerce na formação da agenda governamental na definição das prioridades para o município. (CAMPOS: 2003) 2- Quais os objetivos do Controle Social? Possibilitar o envolvimento da sociedade nos assuntos do governo.(evitar o isolamento autoritário dos governos que não se incomodam em prestar conta a sociedade das suas ações...); Tornar o governo mais público e a sociedade civil mais atenta e cooperativa; Zelar pela utilização dos recursos públicos, considerando que são recursos da sociedade pagos direta ou indiretamente através das várias modalidades de
4 4 impostos e que, portanto, devem retornar à sociedade em forma de serviços de interesse público. Democratizar a gestão das políticas públicas, no caso específico, das políticas de assistência social, saúde e educação. 3- Qual a base legal que ampara o controle social como uma prerrogativa da sociedade civil? Art.194, inciso VII Seguridade Social gestão quadripartite; Art.198, inciso III Política de Saúde participação da comunidade; A Constituição Federal em seu Art.204, inciso II assegura a participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis ; C.F no capítulo IV que trata dos municípios prevê, em seu Art. 31, parágrafo 3 As contas do municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhe a legitimidade, nos termos da lei. Lei Complementar nº 101/ 2000 (lei de Responsabilidade Fiscal) que trata da gestão fiscal, estabelece em seu Art. 48, parágrafo único, A transparência será assegurada também mediante incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante o processo de elaboração e de discurssão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos. Lei 9394/96 LDB (art.9, Primeiro; art. 14 participação das comunidades escolar e local em Conselhos; Lei 8080/90 Política de Saúde (art.7, inciso VIII; art.26 CNS); Art. 33 e 37 - CNS / fiscalização; Lei 8142/90 Organização da Saúde (art.1 - Conselhos e Conferências); Art. 4 - (Conselhos / atribuições); LOAS Lei Orgânica da Assistência Social ( lei n 8.742/93). Art. 5, inciso II Participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis;
5 5 Art. 9 parágrafo 2 Cabe ao Conselho Municipal de Assistência Social do Distrito Federal a fiscalização das entidades referidas no caput, na forma prevista em lei ou regulamento. Art. 10 A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal podem celebrar convênios com entidades e organizações de assistência social, em conformidade com os Planos aprovados pelos respectivos Conselhos. Art. 15 inciso I destinar recursos financeiros para custeio do pagamento dos auxilios natalidade e funeral, mediante critérios estabelecidos pelos Conselhos Municipais de Assistência Social ; Art. 16 As instâncias deliberativas do sistema descentralizado e participativo de assist6encia social, de caráter permanente e composição paritária entre governo e sociedade civil, são: Art. 18 atribuições do CNAS; Norma Operacional Básica Assistência Social; Norma Operacional Básica da saúde, etc Conselho de Assistência Social. Alínea c Aprovar plano de aplicação dos fundos, avaliar balancetes e aprovar prestação de contas ao final do exercício ; Alínea d Controlar e fiscalizar os serviços prestados integrantes na área de educação, saúde e da assistência social cujo recursos são oriundos das imunidades e renúncias fiscais, conforme legislação em vigor. 3.1 Sobre a gestão Municipal de Assistência Social estabelece que os programas e projetos de enfrentamento da pobreza são objetos de aprovação do Conselho Municipal de Assistência Social. 4- Quais os principais instrumentos de controle social nas políticas setoriais? São os conselhos, pois a eles compete: Convocar Conferências; Deliberar políticas - aprovação do plano de assistência social;
6 6 Fiscalizar o desenvolvimentos das ações e a utilização dos recursos, inclusive aprovar ou rejeitar a prestação de contas. Normatizar, através de resoluções, repasses de recursos; redistribuições de metas; critérios de inscrição de entidades, critérios de avaliação das atividades; reconhecimento quanto ao impacto social de Emendas Parlamentares, etc... Mobilizar a sociedade civil, por meio de reuniões ampliadas, encontros, seminários, fóruns, para discutir sobre a política de Assistência e sobre as demandas assistenciais presentes no município. 5- Quais as condições para se efetivar o controle social? Existência de um conselho, organizado, mobilizado e representativo; Existência de fundos, unidades orçamentárias e de capitação e gestão de recursos; Existência do Plano de Políticas Setoriais. (saúde, educação e assistência social). Ele é o instrumento que estabelece a política no âmbito de sua jurisdição. ( define programas, metas, recursos e prever resultados)... Existência de estrutura física e de pessoal qualificado ( técnicos habilitados para o assessoramento). Acesso as informações, sobretudo dos recursos. O conselho deve evitar deliberar sobre matérias que provocam reuniões urgentíssimas O processo de capacitação dos conselheiros deve ser sistemático e permanente. 6- Quais são nossos grandes desafios? Construir novas dinâmicas de gestão, nas quais o interesse público seja a motivação das ações governamentais. Tornar a prática do privilégio e do clientelismo como coisa do passado; Conferir à assistência social o verdadeiro status de uma política pública, concebida e organizada para assegurar direitos e propiciar novas condições de vida aos seus destinatários. Desta forma deve ser concebida como direito universal;
7 7 Envolver a sociedade civil nos assuntos de governo de forma a torná-la, cada vez mais, reivindicativa, propositiva e cooperativa. Construir um Estado de Direito, Governos Públicos e uma Sociedade Civil apta ao exercício da cidadania ativa. Bibliografia Consultada BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: Editora da UNB, BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, CAMPOS, Edval Bernardino. O Controle Social na Política de Assistência Social. IV Conferência Nacional de Assistência Social. Brasília-DF. Dezembro de CARNOOY, Martin. O Estado e Teoria Política. 2ª ed. Campinas SP: Papirus, DARTON, Robert e DUHAMEL, Olivier (orgs.) Democracia. Rio de Janeiro: Record, DUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, HOBBES, Thomas. Leviatã, in: Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, MELLO, Leonel I. ª John Lock e o Individualismo Liberal, in: WEFFORT, Francisco (org.) Os Clássicos da Política. São Paulo: Editora Ática, 2000, v.1. PERISSIONATO, Renato e FUKS, Mário (orgs.) Democracia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Relume Dumaré; Curitiba PR: Fundação Araucária, RIBEIRO, Renata J. Hobbes: o medo e a esperança, in: WEFFORT, Francisco (org.) Os Clássicos da Política. São Paulo: Editora Ática, 2000, v.1. ZANETI, Heimes (org.) Democracia: a grande revolução. Brasília: Editora da UNB, Muito obrigado! Belo Horizonte, 11 de junho 2004.
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