UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL UNIDADE ACADÊMICA DE ENGENHARIA FLORESTAL CAMPUS DE PATOS
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL UNIDADE ACADÊMICA DE ENGENHARIA FLORESTAL CAMPUS DE PATOS WALLESKA PEREIRA MEDEIROS CICLAGEM DA SERRAPILHEIRA E FAUNA EDÁFICA EM ÁREAS DE CAATINGA COM DIFERENTES ESTÁGIOS SUCESSIONAIS PATOS PB 2015
2 2 WALLESKA PEREIRA MEDEIROS CICLAGEM DA SERRAPILHEIRA E FAUNA EDÁFICA EM ÁREAS DE CAATINGA COM DIFERENTES ESTÁGIOS SUCESSIONAIS Monografia apresentada à Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos/PB, para obtenção do Grau de Engenheira Florestal. Orientador: Prof. Dr. Jacob Silva Souto PATOS PB 2015
3 3 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO CSTR/UFCG M488c Medeiros, Walleska Pereira Ciclagem da serrapilheira e fauna edáfica em áreas de caatinga com diferentes estágios sucessionais / Walleska Pereira Medeiros. Patos, f.: il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Florestal) - Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural. Orientação: Prof. Dr. Jacob Silva Souto Referências. 1. Núcleo de Desertificação. 2. Macrofauna. 3. Mesofauna. 4. Índice de Shannon. I. Título. CDU 631.4
4 4 WALLESKA PEREIRA MEDEIROS CICLAGEM DA SERRAPILHEIRA E FAUNA EDÁFICA EM ÁREAS DE CAATINGA COM DIFERENTES ESTÁGIOS SUCESSIONAIS Monografia apresentada à Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos/PB, para a obtenção do Grau de Engenheira Florestal. APROVADA em: / / Prof. Dr. JACOB SILVA SOUTO/CSTR/UFCG Orientador Dr. FRANCISCO DE ASSIS PEREIRA LEONARDO/PNPD/CAPES 1º Examinador Profa. Dra. PATRICIA CARNEIRO SOUTO/CSTR/UFCG 2º Examinador
5 5 Dedico aos meus pais, minha avó e irmão, pelo incentivo, compreensão, apoio e por sempre estarem presentes em todas as dificuldades e conquistas da minha vida.
6 6 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus, que permitiu que tudo isso acontecesse e por me dar sabedoria e discernimento durante toda esta longa caminhada; À minha família, que sempre contribuiu para minha educação e caráter, especialmente a minha avó: Maria do Socorro Marinho Medeiros (in memoriam), aos meus amados pais, José Walter Marinho Medeiros e Aubelita Lopes Pereira e ao meu irmão Walter Torres Neto pelo apoio, incentivo e força que me proporcionaram, sendo eles para sempre meus verdadeiros amigos, e a quem dedico esta, bem como todas as minhas conquistas; Ao meu namorado, Pakuã Potyguara, que de forma especial me deu força e coragem, me apoiando nos momentos de dificuldades; Às minhas tias Anália Lopes, Josefa Lopes e meu tio Walber Marinho, por me darem apoio e me ajudarem nas horas que mais precisei; A todos os familiares que, embora não estivessem sempre próximos, mas incentivaram de maneira especial os meus pensamentos me levando a buscar meus objetivos; Ao professor Jacob Silva Souto, pela orientação, compreensão e amizade, sempre me incentivando ao longo desses anos; Aos membros da Banca Examinadora, Prof. Dra. Patrícia Carneiro Souto, Dr. Francisco de Assis P. Leonardo, pela disponibilidade de participação na banca examinadora e pelas valiosas contribuições; A todos os professores da Unidade Acadêmica de Engenharia Florestal, por contribuírem na minha formação durante a graduação, muito obrigada pelo aprendizado, incentivo e amizade; Aos meus amigos e colegas da turma Alciênia, Mileny, William, Amanda, Marcelo, Juliana, Jéssica, Álvaro e Felipe por estarmos juntos durante toda caminhada acadêmica. E aos meus amigos e colegas que se fizeram presentes nessa caminhada: Jokasta, César, Roberto, Lyanne, Ewerton e Oscar. Aos funcionários da UFCG, em especial Carlos Brilhante; E a todos que direta ou indiretamente contribuíram para minha formação, o meu muito obrigado.
7 7 Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível. (Charles Chaplin)
8 MEDEIROS, Walleska Pereira. Ciclagem da serrapilheira e fauna edáfica em áreas de caatinga com diferentes estágios sucessionais Monografia (Graduação) Curso de Engenharia Florestal. CSTR/UFCG, Patos - PB, f. 8 RESUMO A ciclagem de nutrientes via serrapilheira é fundamental para manutenção de florestas nativas. Quando essa floresta é a caatinga, pouco ainda se conhece sobre as taxas de deposição, decomposição, acúmulo e os agentes que decompõe esse material orgânico. Objetivou-se com o presente estudo avaliar a deposição e o acúmulo de serrapilheira, a macrofauna e a mesofauna edáfica, em diferentes estágios sucessionais na caatinga, em Várzea (PB). A pesquisa foi desenvolvida na Fazenda Cachoeira de São Porfírio, localizada no Núcleo de Desertificação do Seridó, em quatro áreas degradadas. Em cada área experimental com vegetação arbórea foram instalados 20 coletores de serrapilheira de 1,0 m x 1,0 m e utilizado molde de ferro vazado de 0,25 m² para estimar o acúmulo dessas serrapilheiras, mensalmente. Avaliaram-se, também, os atributos biológicos do solo através da meso e macrofauna. A produção total de serrapilheira estimada na área em estágio sucessional primário foi de 1281,32 kg ha -1. Para que ocorra decomposição de 95% da serrapilheira acumulada sobre o solo, foram estimados 7,89 anos na área em estágio inicial de regeneração natural, 7,69 anos na área em estágio médio de regeneração natural e 6,67 anos na área em estágio avançado de regeneração natural. O final do período chuvoso e início do período seco na área experimental proporcionou a maior produção de serrapilheira; Hymenoptera e Acarina são as principais ordens de organismos da macro e mesofauna do solo, indicando, dessa forma, a baixa diversidade de organismos nas áreas experimentais; a mineralização da matéria orgânica na área em estado avançado de regeneração natural, nas condições experimentais, foi superior as demais áreas tomando-se por base o coeficiente de decomposição calculado e, ocorreu uma relação decrescente entre o número de organismos da macro e mesofauna do solo na seguinte ordem: estágio avançado de regeneração natural > estágio médio de regeneração natural > estágio inicial de regeneração natural. Palavras-chaves: Núcleo de desertificação do Seridó, macrofauna, mesofauna, índice de Shannon.
9 MEDEIROS, Walleska Pereira. LITTERFALL CYCLING AND EDAPHIC FAUNA IN CAATINGA AREAS WITH DIFFERENT STAGES SUCCESSIONALS Monograph (Graduation) Forest Engineering Course. CSTR/UFCG, Patos - PB, f. 9 ABSTRACT Nutrient cycling through litterfall is essential for maintenance of native forests. When this forest is the caatinga, poorly is known about the deposition rates, decomposition, accumulation and other agents that decompose this organic material. The aim of this study was to evaluate the deposition and accumulation of litterfall, macrofauna and soil mesofauna in different successional stages in the caatinga, in Várzea (PB). The research was conducted at the Cachoeira de São Porfírio farm located on from Seridó Desertification Center in four degraded areas. Were installed 20 litterfall collectors of 1.0 m x 1.0 m in each experimental area with woody veget an iron quadrat of 0.25 m 2 to estimate the accumulation of these litterfall monthly. It was also evaluated the biological soil attributes through the meso and macrofauna. The total production of estimated litterfall in the area in primary successional stage was kg ha -1. For the occurrence of decomposition of 95% of the accumulated litterfall on soil, were estimated 7.89 years in the area in the early stages of natural regeneration, 7.69 years in the area in the middle stage of natural regeneration and 6.67 years in the area in stage advanced natural regeneration. The end of the rainy season and begging dry season in the experimental area provided a greater production of litterfall; Hymenoptera and Acarina are the main orders of living organisms of macro and soil mesofauna, pointing thus, the low diversity of organisms in the experimental areas; the mineralization of organic matter in the area in an advanced state of natural regeneration, in the experimental conditions, was superior to the other areas based on the calculated coefficient of decomposition and, there was a decreasing relationship between the number of organisms of macro and mesofauna soil in the following order: advanced stage of natural regeneration > middle stage of natural regeneration > early stage of natural regeneration. Keywords: Seridó Desertification Center, macrofauna, mesofauna, Shannon index.
10 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Esquema da Análise de Variância para deposição de serrapilheira Tabela 2 Esquema da Análise de Variância para acúmulo de serrapilheira Tabela 3 Produção total (kg ha -1 ), percentual (%) das frações componentes da serrapilheira e precipitação pluvial (P) na área em estágio inicial de regeneração natural no período de setembro/2013 a junho/ Tabela 4 Produção total (kg ha -1 ), percentual (%) das frações componentes da serrapilheira e precipitação pluvial (P) na área em estágio médio de regeneração natural no período de setembro/2013 a junho/ Tabela 5 Produção total (kg ha -1 ), percentual (%) das frações componentes da serrapilheira e precipitação pluvial (P) na área em estágio avançado de regeneração natural no período de setembro/2013 a junho/ Tabela 6 Valores mensais em (kg ha -1 ) da serrapilheira acumulada nas áreas experimentais em estágio inicial, médio e avançado de regeneração natural Tabela 7 Coeficiente de decomposição (K), tempo médio de renovação (1/K) e tempos necessários para a decomposição de 50% (t 0,5 ) e 95% (t 0,05 ) da serrapilheira acumulada Tabela 8 Número de indivíduos (NI) e percentagem (%) das ordens da macrofauna coletadas nas diferentes áreas em Várzea - PB Tabela 9 Índice de Diversidade de Shannon (H) e índice de Pielou (e) obtidos nas diferentes áreas, nos meses de coleta da macrofauna Tabela 10 Número de indivíduos (NI) e percentagem (%) das ordens da mesofauna coletadas nas diferentes áreas em Várzea - PB Tabela 11 Índice de Diversidade de Shannon (H) e índice de Pielou (e) obtidos nas diferentes áreas, nos meses de coleta da mesofauna... 55
11 11 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Mapa do Estado da Paraíba com localização (seta) do município de Várzea, no Seridó Ocidental Figura 2 Imagem das áreas de estudo na Fazenda Cachoeira de São Porfírio, município de Várzea, Estado da Paraíba Figura 3 Coletor utilizado na deposição de serrapilheira nas três áreas experimentais Figura 4 Molde vazado utilizado para amostragem de serrapilheira acumulada Figura 5 Armadilha tipo PROVID para coleta da macrofauna utilizada na Fazenda Cachoeira de São Porfírio, Várzea-PB Figura 6 Aparado de Berlese-Tullgren utilizado para extração da mesofauna do solo Figura 7 Variação mensal da deposição da serrapilheira (kg ha -1 ) e da precipitação (mm) durante o período experimental na área em estágio inicial de regeneração natural Figura 8 Estimativa da produção de folhas e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio inicial de regeneração natural Figura 09 Estimativa da produção de galhos + cascas e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio inicial de regeneração natural 34 Figura 10 Estimativa da produção de material reprodutivo e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio inicial de regeneração natural Figura 11 Estimativa da produção de miscelânea e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio inicial de regeneração natural 36 Figura 12 Variação mensal da deposição da serrapilheira (kg ha -1 ) e da precipitação (mm) durante o período experimental na área em estágio secundário Figura 13 Estimativa da produção de folhas e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio médio de regeneração natural... 39
12 12 Figura 14 Estimativa da produção de galhos + cascas e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio médio de regeneração natural... Figura 15 Estimativa da produção de material reprodutivo e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio médio de regeneração natural... Figura 16 Estimativa da produção de miscelânea e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio médio de regeneração natural... Figura 17 Variação mensal da deposição da serrapilheira (kg ha -1 ) e da precipitação (mm) durante o período experimental na área em estágio avançado de regeneração natural... Figura 18 Estimativa da produção de folhas e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio avançado de regeneração natural... Figura 19 Estimativa da produção de galhos + cascas e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio avançado de regeneração natural... Figura 20 Estimativa da produção de material reprodutivo e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio avançado de regeneração natural... Figura 21 Estimativa da produção de miscelânea e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio avançado de regeneração natural
13 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO REFERENCIAL TEÓRICO O Bioma Caatinga Núcleos de desertificação Ciclagem de nutrientes via serrapilheira Fauna edáfica MATERIAL E MÉTODOS Localização da área de estudo Descrição das áreas experimentais Coleta de dados Deposição de serrapilheira Acúmulo de serrapilheira Estimativa do coeficiente de decomposição da serrapilheira Avaliação dos atributos biológicos do solo Macrofauna Mesofauna Análise estatística RESULTADOS E DISCUSSÃO Deposição de serrapilheira na área em estágio inicial de regeneração natural (EIRN) Produção total Deposição da fração folhas Deposição da fração galhos Deposição da fração material reprodutivo Deposição da fração miscelânea Deposição de serrapilheira na área em estágio médio de regeneração natural (EMRN) Produção total Deposição da fração folhas... 38
14 Deposição da fração galhos Deposição da fração material reprodutivo Deposição da fração miscelânea Deposição de serrapilheira na área em estágio avançado de regeneração natural (EARN) Produção total Deposição da fração galhos Deposição da fração material reprodutivo Deposição da fração miscelânea Estimativa do acúmulo de serrapilheira e o coeficiente de decomposição (K) Macrofauna Mesofauna CONCLUSÕES REFERÊNCIAS... 57
15 15 1 INTRODUÇÃO O bioma Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, no qual nos últimos anos têm-se observado um crescente interesse quanto às condições e funcionamento desse ecossistema, principalmente pelo avanço da degradação e o uso inadequado dos recursos florestais, que tem contribuído com o avanço do processo de desertificação. Neste contexto, fica evidente que do ponto de vista ecológico não só a produtividade é importante, mas também o equilíbrio a longo prazo, que depende, em grande parte, da ciclagem de nutrientes. A ciclagem de nutrientes via serrapilheira é fundamental para manutenção de florestas nativas ou plantios florestais e no funcionamento de ecossistemas florestais (VITAL et al., 2004). A serrapilheira compreende a camada mais superficial do solo em ambientes florestais, sendo formada por diferentes tipos de frações, que exercem inúmeras funções no equilíbrio e dinâmica desses ecossistemas. Sua produção possibilita parte do retorno de matéria orgânica e de nutrientes para o solo florestal, sendo considerada o meio mais importante de transferência dos elementos essenciais da vegetação para o solo (COSTA et al., 2010). Nas florestais nativas, existem poucas pesquisas que evidenciam a dinâmica e as taxas de deposição e acúmulo das espécies, principalmente em áreas de caatinga (SOUTO, 2006). A adaptabilidade das espécies com a perda das folhas no período seco caracteriza umas das principais adaptações fisiológicas nas plantas da caatinga para suportar a estiagem anual, pressupondo que na região semiárida a produção de serrapilheira tem como fator limitante a precipitação. Nas primeiras chuvas ocorridas nessas áreas, a serrapilheira que protege os solos nesse ecossistema, é degradada pela fauna do solo, não ocorrendo grande acúmulo de material orgânico na superfície. Hoffmann et al. (2009) afirmam que a população da fauna edáfica pode ser afetada pelo o tipo de vegetação e algumas práticas culturais. A fauna edáfica atua na regeneração do solo, trazendo benefícios para a vegetação, disponibilizando nutrientes e mantendo o equilíbrio entre as populações dos organismos presentes. Prática bastante utilizada no bioma caatinga, a queimada ocasiona o desaparecimento de alguns grupos de indivíduos, sendo uma das causas na modificação na diversidade da fauna.
16 16 Considerada como um dos indicadores de qualidade do solo, a fauna edáfica é de extrema importância na manutenção dos ecossistemas, participando da decomposição da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes e possibilitando parte do retorno dos nutrientes ao solo, e consequentemente para as plantas. O desmatamento e a substituição da vegetação são responsáveis pela erradicação de alguns indivíduos da fauna edáfica. Estudos sobre a fauna do solo são indispensáveis à diversidade de ecossistemas, já que algumas espécies são extintas, antes de serem identificadas. Objetivou-se com o presente estudo avaliar a deposição, acúmulo, estimativa da decomposição de serrapilheira e, fauna edáfica, em diferentes estágios sucessionais na caatinga, situada no município de Várzea, Paraíba.
17 17 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O Bioma Caatinga O semiárido brasileiro apresenta precipitação anual média máxima de 800 mm, temperaturas médias anuais que variam de 23 C a 27 C e tem como particularidade marcante a forte insolação, temperaturas relativamente altas e regime de chuvas marcado pela escassez, irregularidade no tempo e no espaço e concentração das precipitações em curto período (SILVA et al., 2010). Em razão das condições climáticas, a vegetação nativa da caatinga é diversificada e algumas espécies possuem folhas pequenas ou modificadas em espinhos, de modo a evitar a evapotranspiração, ocorrendo à perda de folhas na época seca (caducifolia). Esse fato ocorre, devido a região semiárida apresentar irregularidade do regime pluviométrico, apresentando apenas duas estações definidas sendo a estação seca e a estação chuvosa (SOUTO, 2006). O bioma Caatinga é caracterizado em geral por espécies, lenhosas, herbáceas, cactáceas e bromeliáceas, além de possuir adaptações morfológicas e/ou fisiológicas, em condições de aridez, como a redução de área foliar, a senescência (a perda de folhas), os mecanismos de fechamento dos estômatos e o controle osmótico sobrevivendo ao período de seca comum na região (SILVA et al., 2004; RAMALHO et al., 2009). A diversidade da cobertura vegetal da caatinga está, em grande parte, determinada pelos atributos climáticos, topografia e base geológica que, em suas inúmeras interações, ocorrem ambientes ecológicos amplamente variados (RODAL et al., 2008). Ferreira (2011) evidencia que os recursos naturais do bioma são utilizados de forma não sustentável, acarretando a diminuição da cobertura vegetal, restringindo sua distribuição à remanescentes que são considerados abrigos para a biodiversidade. À medida com que a vegetação da caatinga é explorada sem nenhum plano de manejo, coloca em risco a existência de varias espécies arbóreas de valor econômico e de valor ecológico, provocando sérios danos ambientais, desencadeadores muitas vezes de processos irreversíveis como a degradação e o empobrecimento desta vegetação, ainda pouco estudada e cujo potencial genético pouco se conhece (SOUTO, 2006).
18 Núcleos de desertificação Devido a vários fatores que envolvem variações climáticas e atividades antrópicas como exemplo, o desmatamento, a desertificação se torna problema de dimensão local, regional e global (BRASIL, 2006). Costa et al. (2009) afirmam que após serem abandonadas, as áreas mais degradadas, observa-se processos de desertificação com grande dificuldade de regeneração. Perez-Marin et al. (2012) acrescentam ainda que tal fato torna os recursos naturais disponíveis ecologicamente frágeis. No bioma Caatinga o processo de desertificação já se mostra bastante acentuado, principalmente em áreas que apresentam precipitação inferior a 500 mm/ano, como exemplo a Microrregião do Seridó (MELO; RODRIGUEZ, 2004). Historicamente, a região sempre teve a pecuária extensiva como base de atividade econômica, principalmente ligada à agricultura de subsistência. Futuramente, o auge econômico da região vai ser atingido com o surgimento da cultura do algodão, levando a um grande adensamento populacional. Já entre as décadas de 1930 e 1940, a mineração, pontualmente, tornou-se outro fator de forte impacto ambiental (SALES, 2006). Atualmente, a atividade ceramista é considerada muito degradadora, visto que, além do desmatamento causado, é responsável pela retirada de argila, o que, para Sampaio et al. (2003), favorece desnivelamento do terreno e o surgimento de crateras desiguais, prejudicando as atividades agrícolas, sem objetivos de sustentabilidade a longo prazo na região. De acordo com Lima (2009), deve-se buscar uma adoção de práticas adequadas que promovam à sustentabilidade dos recursos presentes nas regiões susceptíveis a desertificação, preservando, conservando e promovendo o manejo sustentável dos recursos naturais sem, contudo, deixar de atender as necessidades da população. Para Perez-Marin et al. (2012), os Núcleos de Desertificação no Nordeste possuem essa nomenclatura, devido à ausência de práticas adequadas, nas quais resultam no empobrecimento da população local em consequência dos processos migratórios, como também no declínio da qualidade ambiental com perda de biodiversidade, diminuição de áreas produtivas, e finalmente, nos aspectos negativos referentes ao clima, com a elevação da temperatura.
19 Ciclagem de nutrientes via serrapilheira Segundo Toledo e Pereira (2004), a ciclagem de nutrientes por meio da serrapilheira é essencial, visto que, ao ser decomposta pela fauna do solo, parte significativa dos nutrientes retornam para a solução do solo e consequentemente serão reabsorvidos pelas plantas, sendo fundamental na manutenção e da sustentabilidade dos ecossistemas. Silva (2014) relata a importância da reunião das informações sobre os processos da dinâmica da serrapilheira, pois possibilita o entendimento do funcionamento dos ecossistemas buscando informações para o estabelecimento de práticas de manejo florestal para recuperação de áreas degradadas e manutenção da produtividade de ambientes degradados. Para Souto (2006), a produção, a decomposição da serrapilheira e a liberação dos nutrientes são informações importantes para se conhecer o processo de ciclagem de nutrientes em ecossistemas florestais, e essas informações em áreas de caatinga são bastante escassas ou não são disponibilizadas. A serrapilheira constitui-se de matéria orgânica de origem vegetal e animal que é depositada sobre o solo, sob diferentes estágios de decomposição, representando assim, uma forma de entrada e posterior incremento da matéria orgânica do solo (BARBOSA; FARIA 2006). Santana (2005) constatou que no período seco ocorre um acréscimo nas taxas de produção de serrapilheira em área de caatinga, com a imediata abscisão das folhas para reduzir as perdas de água por transpiração. Vários fatores bióticos e abióticos afetam a produção de serrapilheira, sendo influenciada por fatores tais como: altitude, latitude, tipo de vegetação, precipitação, temperatura, estágio sucessional, caducifolia, biota do solo e regime pluviométrico (PINTO et al., 2008). Caldeira et al. (2008) afirmam que independente do tipo florestal, a produção de serrapilheira é o estágio inicial de transferência de nutrientes e energia das plantas para o solo, visto que através da serrapilheira precipitada ocorre o retorno dos nutrientes para o solo e consequentemente para as plantas. Embasado nisso, o acúmulo de serrapilheira no solo possibilita o equilíbrio dos ecossistemas, e interfere nos processo de erosão e de infiltração, já que a serrapilheira protege o solo da intensidade dos raios solares e evita o impacto direto das gotas da chuva (SILVA, 2014).
20 Fauna edáfica O termo fauna edáfica é designado à comunidade de invertebrados que vivem permanentemente ou parte de um ou mais ciclos de vida no solo, que podem influenciar nos processos edáficos através de duas vias principais: direta, pela modificação física da serrapilheira e do ambiente do solo, e indireta, através de interações com a comunidade microbiana (GONZALEZ et al., 2001). Segundo Ribeiro (2013), a fauna edáfica possibilita o equilíbrio dos processos físico e químico do meio e refletem a qualidade ambiental. Com base em seu tamanho a fauna edáfica pode ser classificada em microfauna (<0,2 mm), mesofauna (0,2-2,0mm) que pode ser representada pelos ácaros, colêmbolos, proturos e dipluros, que se movimentam em fissuras, poros e na interface do solo e, macrofauna (>2,0mm) como exemplo as formigas, besouros, aranhas, minhocas, centopéias, entre outros (MELO et al., 2009). A fauna edáfica é utilizada como importante indicador biológico de qualidade do solo, podendo ser útil na avaliação de agrossistemas degradados (WINK et al., 2005). São responsáveis pela mineralização da matéria orgânica, convertendo diversos elementos da forma orgânica para inorgânica (MERLIM, 2005). A ciclagem de nutrientes depende diretamente da atividade dos microrganismos no solo, dos invertebrados que vivem na serrapilheira acumulada e nas camadas superiores do solo, com participação em cerca de 95% na decomposição, sendo estes responsáveis pelo rearranjo dos detritos e sua desintegração (SOUTO, 2006). Decaens et al. (2003) afirmam que os organismos do solo desempenham um papel chave no funcionamento dos ecossistemas, sendo responsáveis pelos processos de mineralização e humificação e, em consequência, exerce influência sobre ciclo de matéria orgânica e a disponibilidade de nutrientes assimiláveis pelas plantas, onde a macrofauna através de sua movimentação pelo perfil contribui diretamente na modificação da estrutura do solo. A ciclagem de nutrientes segundo Souto (2006), depende diretamente da atividade dos microrganismos no solo, dos invertebrados que vivem na serrapilheira acumulada e nas camadas superiores do solo, com participação em cerca de 95% na decomposição, sendo estes responsáveis pelo rearranjo dos detritos e sua desintegração.
21 21 A diversidade de espécies da fauna do solo está associada a uma relação entre o número de espécies (riqueza de espécies) e a distribuição do número de indivíduos entre as espécies (equitabilidade). Podendo ser constatado nos índices de Shannon e de Pielou, que conjugam estas duas variáveis (WALKER, 1989) Segundo Moço et al. (2005), o índice de Uniformidade de Pielou é um índice que representa a uniformidade da distribuição dos indivíduos entre as espécies em cada área. Já o índice de diversidade de Shannon mostra-se extremamente apropriado para o uso em ecologia do solo, uma vez que atribuem maiores valores às espécies raras presentes na comunidade (TOLEDO, 2003).
22 22 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Localização da área de estudo A pesquisa foi desenvolvida em área de Caatinga, situada na Fazenda Cachoeira de São Porfírio, município de Várzea PB, localizada no Núcleo de Desertificação do Seridó Ocidental da Paraíba, Mesorregião do Sertão Paraibano (06º 48 32,1 S; 36º 57 17,4 W), com altitude média de 271 m (Figura 1). Figura 1 Mapa do Estado da Paraíba com localização (seta) do município de Várzea, no Seridó Ocidental. Fonte (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 2014). Segundo a classificação de Köppen (1996), o clima do Seridó Ocidental da Paraíba se enquadra no tipo BSh, semiárido, com médias térmicas anuais superiores a 25 C e pluviosidade média anual inferior a 800 mm ano -1, com chuvas irregulares. Os dados pluviométricos mensais foram obtidos da Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA). Os solos da área em estudo são de origem cristalina e apresentam-se pedregosos, rasos e com elevada suscetibilidade à erosão, prevalecendo à associação de Neossolos Litólicos, Luvissolos e afloramentos rochosos (EMBRAPA, 2013). Nas áreas experimentais a formação vegetal predominante é a caatinga hiperxerófila com diferentes graus de antropismo, apresentando árvores de porte
23 23 médio a baixo, não ultrapassando 7,0 metros de altura. A vegetação dessas áreas foi retirada para a utilização agrícola, especialmente para a cultura algodoeira. Após o abandono, essas áreas foram utilizadas para pastejo de bovinos e caprinos, regenerando parte da vegetação. 3.2 Descrição das áreas experimentais Para a realização do estudo na área experimental foram demarcadas quatro áreas correspondentes aos estágios sucessionais. Cada área apresenta dimensão de 100 m x 60 m, sendo uma sem vegetação arbórea com forte ação antrópica e predomínio capim panasco (Aristida setifolia) e três com vegetação arbustiva arbórea em diferentes estágios sucessionais (Figura 2). Figura 2 Imagem das áreas de estudo na Fazenda Cachoeira de São Porfírio, município de Várzea, Estado da Paraíba. Fonte Software Google Earth (2014) As áreas experimentais foram descritas por Ferreira et al. (2014), baseandose na resolução da CONAMA de nº 10 de 01 de outubro de 1993 da seguinte maneira: Área 1: Pasto Nativo (PN) apresenta vegetação herbácea, subarbustiva, desprovida de vegetação arbórea com forte ação antrópica e predomínio capim panasco (Aristida setifolia). Área 2: Estágio Inicial de Regeneração Natural (EIRN) possui uma vegetação arbustivo-arbórea, com indivíduos de pequeno porte de aproximadamente 10 anos de idade com clareiras ocupadas pelo estrato herbáceo.
24 24 Área 3: Estágio Médio de Regeneração Natural (EMRN) apresenta vegetação arbustivo-arbórea com cerca de 20 a 25 anos de idade, composta por indivíduos arbustivo-arbóreo de médio e pequeno porte, com clareiras ocupadas pelo estrato herbáceo. Área 4: Estágio Avançado de Regeneração Natural (EARN) apresenta vegetação de porte adulto (alto), com aproximadamente 50 anos sem interferência antrópica, com dossel relativamente uniforme com a maior parte das copas se tocando, sombreando o solo com consequente diminuição do estrato herbáceo. 3.3 Coleta de dados Deposição de serrapilheira Nas três áreas experimentais com vegetação arbórea foram instalados 20 coletores, totalizando 60 coletores. Os coletores eram constituídos por tela de náilon medindo 1,0 m x 1,0 m, fixada em arame galvanizado que se encontrava fixo na parte superior de quatro piquetes de ferro fincados ao solo, a 20,0 cm de altura (Figura 3). Figura 3 Coletor utilizado na deposição de serrapilheira nas três áreas experimentais. Fonte Medeiros (2014) As coletas da serrapilheira depositada foram realizadas mensalmente, no período de setembro de 2013 a julho de 2014, totalizando dez meses de coleta, abrangendo o período da estação seca e chuvosa na região. O material depositado nos coletores foi recolhido mensalmente em sacos plásticos, levado ao Laboratório de Nutrição Mineral de Plantas da Universidade
25 25 Federal de Campina Grande em Patos, separado em folhas, material reprodutivo (flores, frutos e sementes), galhos+cascas e, miscelânea (material de difícil identificação e fezes). Após a separação do material, as frações foram acondicionadas em sacos de papel e identificados, e posteriormente levados para secagem em estufa a 65 ºC, até atingir massa constante. O peso da matéria seca de cada fração foi determinado em balança de precisão (0,01g). O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado, com os tratamentos distribuídos em esquema fatorial 3 x 10, sendo três áreas e dez meses. Para evitar um alto coeficiente de variação, optou-se por juntar os valores de cada cinco coletores e tirar a média, resultando em quatro repetições. O esquema está representado na tabela 1. Tabela 1 Esquema da Análise de Variância para deposição de serrapilheira. Fonte de variação Graus de liberdade Áreas 2 Meses 9 Áreas x meses 18 Resíduo 90 Total 119 Fonte Medeiros (2014) Através da quantidade média de serrapilheira encontrada nos coletores foi estimada a biomassa devolvida mensal (kg ha -1 ) para o solo florestal Acúmulo de serrapilheira A serrapilheira acumulada na superfície do solo foi estimada através de coletadas mensais nas áreas com vegetação arbórea. Foram coletadas seis amostras em cada área, utilizando um molde de ferro vazado de 0,5 m x 0,5 m, lançado aleatoriamente na área (Figura 4).
26 26 Figura 4 Molde vazado utilizado para amostragem de serrapilheira acumulada. Fonte Medeiros (2014) Toda a serrapilheira circunscrita na moldura foi recolhida e acondicionada em sacos devidamente etiquetados e colocadas para secagem em estufa a 65 ºC, até peso constante e pesado em balança de precisão. O delineamento foi o inteiramente casualizado, com os tratamentos distribuídos em esquema fatorial 3 x 10, sendo três áreas e dez meses, em seis repetições. O esquema está representado na (Tabela 2). Tabela 2 Esquema da Análise de Variância para acúmulo de serrapilheira. Fonte de variação Graus de liberdade Áreas 2 Meses 9 Áreas x Meses 18 Resíduo 150 Total 179 Fonte Medeiros (2014) Estimativa do coeficiente de decomposição da serrapilheira O coeficiente de decomposição da serrapilheira foi estimado através da equação 1, proposta por Olson (1963) e empregada em estudos semelhantes (SANTANA, 2005; SOUTO, 2006). K = L/Xss (1)
27 27 Onde: K = constante de decomposição L = produção mensal de serrapilheira (g m -2 ) Xss = média mensal da serrapilheira acumulada sobre o solo (g m -2 ). A partir do valor de K, foi calculado, também, o tempo médio de renovação estimado por 1/K e os tempos necessários para que ocorra decomposição de 50% (t 0,5) e 95% (t 0,05 ) da serrapilheira, estimados pela equações 2 e 3 de Shanks e Olson, citados por Lopes et al. (2009). t 0,5 = ln 2/K = 0,693/K (2) t 0,05 = 3/K (3) Como os dados de deposição e acúmulo apresentaram baixos valores, foram transformados de g m -2 para kg ha Avaliação dos atributos biológicos do solo Para os atributos biológicos do solo foram avaliados a mesofauna e macrofauna do solo Macrofauna Na coleta da macrofauna do solo foram utilizadas armadilhas do tipo Provid modificadas (ANTONIOLLI et al., 2006) que consiste de uma garrafa de plástico tipo PET (Polietileno Tereftalato), com capacidade de 2L, contendo quatro aberturas de 2,0 cm na parte superior da garrafa, constituindo porta de entrada para os indivíduos da macrofauna. As armadilhas foram enterradas no solo de modo que as bordas inferiores das aberturas feitas na garrafa PET ficassem ao nível da superfície do solo, permanecendo no campo quatro dias (96 h), contendo em seu interior 200 ml de detergente neutro dissolvido a 15%, mais 3-5 gotas de formol a 2% para a conservação dos organismos (Figura 5).
28 Figura 5 Armadilha tipo PROVID para coleta da macrofauna utilizada na Fazenda Cachoeira de São Porfírio, Várzea PB. 28 Fonte Medeiros (2014) As coletas foram realizadas mensalmente, sendo distribuídas aleatoriamente oito armadilhas nas quatro áreas, totalizando 32 armadilhas. Após o período de quatro dias, as armadilhas foram desinstaladas e levadas ao Laboratório de Nutrição Mineral de Plantas da Universidade Federal de Campina Grande/CSTR, sendo o conteúdo de cada armadilha colocada em peneira e lavado em água corrente para retirada de partículas de solo, em seguida foi realizada a contagem e identificação dos organismos através de literatura especifica (TRIPLEHORN; JOHNSON, 2005) em nível de ordem Mesofauna A coleta de solo + serrapilheira para a extração da mesofauna foi feita com o emprego de anéis metálicos (diâmetro = 5,0 cm e altura = 5,3 cm), sendo os anéis introduzidos no solo com sucessivos golpes de martelo em uma tábua resistente sobreposta ao anel, até que o mesmo ficasse totalmente preenchido. Para retirar o anel com a amostra do solo no período seco foi necessário colocar água evitando, assim, que a amostra se desprendesse. As coletas foram realizadas mensalmente, coletando aleatoriamente oito amostras de solo+serrapilheira nas quatro áreas, totalizando mensalmente 32 amostras. Após a coleta, as amostras foram acondicionadas em caixa de isopor visando minimizar as perdas de umidade e de solo+serrapilheira. Em seguida, foram
29 29 transportadas até as dependências do Laboratório de Nutrição Mineral de Plantas, da Unidade Acadêmica de Engenharia Florestal em Patos-PB. Os constituintes da mesofauna foram extraídos utilizando o aparato de Berlese-Tullgren modificado (OLIVEIRA, 1999). Observa-se na figura 6 que no compartimento superior foram dispostos os anéis com as amostras e as lâmpadas, enquanto no compartimento inferior os funis com a finalidade de direcionar a queda dos indivíduos presentes na amostra para a solução e os frascos de vidro com a solução de álcool etílico a 70% para o recolhimento dos organismos. As amostras foram mantidas no extrator por 96 horas expostas à luz e calor, com a temperatura na parte superior do anel atingindo ± 42 C, provocando a fuga dos organismos para a parte inferior das amostras, caindo, consequentemente, nos frascos com a solução conservante. Figura 6 Aparato de Berlese-Tullgren utilizado para extração da mesofauna do solo. Fonte Medeiros (2014) Após o período de quatro dias, as amostras dos frascos, foram devidamente identificadas, sendo cada amostra dispostas individualmente para placas de Petri, para visualização em microscópio estereoscópico, onde foi feita a contagem dos organismos da mesofauna e identificação feita através de literatura especifica (TRIPLEHORN; JOHNSON, 2005) em nível de ordem. A partir dos resultados obtidos, foi calculada a percentagem (%) do número de indivíduos das ordens da macrofauna e mesofauna e para cada mês foram calculados o índice de Shannon (H) e de equabilidade de Pielou (e). O índice de Shannon pode variar entre 0 a 5, sendo que à medida que os valores diminuem ocorre uma dominância de grupos em detrimento de outros grupos (BEGON et al.,1996), sendo definido por:
30 30 H n pi(ln pi) (4) i 0 Onde: H= índice de Shannon; pi= proporção da espécie i; ln= logaritmo neperiano. ni pi (5) N ni = número total de indivíduos para cada espécie; N = número total de indivíduos de todas as espécies. O Índice de equabilidade de Pielou representa a uniformidade da distribuição dos indivíduos entre as populações. Tais valores variam de 0 a 1, onde o valor 1 representa máxima equabilidade (BEGON et al.,1996), sendo definido por: H e (6) ln S onde: e= indice de Pielou; H= Índice de Shannon; S = Número de espécies ou grupos; ln= logaritmo neperiano. 3.4 Análise estatística Os dados foram submetidos à análise de variância e a comparação de médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o programa computacional Sisvar 5.3. Na avaliação do comportamento da mesofauna e macrofauna, foram aplicados os índices de Shannon e de Pielou.
31 31 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Deposição de serrapilheira na área em estágio inicial de regeneração natural (EIRN) Produção total Após dez meses de estudo, verificou-se que a produção total de serrapilheira estimada na área em estágio inicial de regeneração natural foi de 1281,32 kg ha -1. Observa-se na tabela 3 os valores mensais da deposição de cada fração da serrapilheira expressos em kg ha -1 e verificou-se que ocorreu diferença entre os meses na fração folhas e material reprodutivo. Tabela 3 Produção total (kg ha -1 ), percentual (%) das frações componentes da serrapilheira e precipitação pluvial (P) na área em estágio inicial de regeneração natural no período de setembro/2013 a junho/2014. P Folhas Galhos Mat. Reprodutivo Miscelânea Serrapilheira Mês (mm) kg ha -1 % kg ha -1 % kg ha -1 % kg ha -1 % kg ha -1 set/13 0,0 111,93 ab 88,23 7,09 5,59 6,42 bc 5,06 1,42 1,12 126,86 out/13 0,0 103,25 b 96,02 3,12 2,90 0,46 c 0,43 0,7 0,65 107,53 nov/13 54,7 91,97 b 84,50 10,23 9,40 5,74 bc 5,27 0,9 0,83 108,84 dez/13 53,5 75,83 b 82,56 9,13 9,94 6,89 bc 7,50 0,0 0,00 91,85 jan/14 0,0 79,23 b 81,93 8,34 8,62 7,27 bc 7,52 1,87 1,93 96,71 fev/14 44,9 78,45 b 79,46 7,31 7,40 11,75 bc 11,90 1,22 1,24 98,73 mar/14 198,6 116,72 ab 72,89 12,23 7,64 29,83 ab 18,63 1,35 0,84 160,13 abr/14 71,4 64,65 b 58,62 13,40 12,15 32,20 ab 29,20 0,04 0,04 110,29 mai/14 44,0 118,13 ab 65,18 8,25 4,55 54,28 a 29,95 0,59 0,33 181,25 jun/14 10,0 176,34 a* 88,56 10,36 5,20 11,63 bc 5,84 0,8 0,40 199,13 DMS 66,87 19,85 28,55 4,47 TOTAL 47, ,50 79,33 89,46 6,98 166,47 13,00 8,89 0, ,32 *Valores seguidos da mesma letra na mesma coluna não diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade (p<0,05). Fonte Medeiros (2014) As maiores deposições durante o período experimental foi de 199,13 kg ha -1 no mês de junho/14, seguido por 181,25 kg ha -1 no mês de maio/2014 e a menor produção ocorreu no mês de dezembro/2013 com 91,85 kg ha -1 (Figura 4). O valor estimado de serrapilheira total depositada é inferior ao obtido por Sousa (2011) e Silva (2013) na mesma área durante o período de 12 meses de estudo, com 1.799,86 kg ha -1 e 1.874,71 kg ha -1, respectivamente.
32 Serrapilheira (kg ha -1 ) Precipitação (mm) 32 Verifica-se na figura 7 que, as maiores deposições ocorreram no final do período chuvoso e inicio do período seco, evidenciando a importância da disponibilidade de água nos processos fisiológicos das plantas. Vale ressaltar que, nos meses que antecedeu a instalação do experimento (maio, junho, julho e agosto/2013, respectivamente) a precipitação foi de 12,6, 52,3, 2,6 e 8,8 mm. Figura 7 Variação mensal da deposição da serrapilheira (kg ha -1 ) e da precipitação (mm) durante o período experimental na área em estágio inicial de regeneração natural. Serrapilheira Precipitação Meses/Ano Fonte Medeiros (2014) Constatou-se uma diminuição da produção de serrapilheira no decorrer dos meses de período seco e no mês de maior precipitação ocorreu um aumento na produção de serrapilheira havendo uma produção elevada no final do período chuvoso. Lopes et al. (2009), estudando a deposição de serrapilheira no bioma caatinga, relataram que a intensa deposição da serrapilheira ocorre entre o final da estação chuvosa e início da estação seca, estando relacionada com a resposta da vegetação pela redução do conteúdo de água do solo. Alves et al. (2006), afirmam que esse comportamento é uma medida preventiva a perda de água das plantas por transpiração.
33 Folhas (kg ha -1 ) Precipitação (mm) Deposição da fração folhas Nota-se na figura 8 que o mês de junho/2014 ocorreu maior deposição da fração folhas (176,34 kg ha -1 ), isto representa 17,35% do total da produção de folhas. Essa maior deposição no mês de junho/2014 está relacionada com o início do período seco da região semiárida, favorecendo sobremaneira o fenômeno da caducifolia. Figura 8 Estimativa da produção de folhas e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio inicial de regeneração natural. Folhas Precipitação Meses/Ano Fonte Medeiros (2014) A produção de folhas durante o período de estudo na área em estágio inicial de regeneração natural proporcionou a maior contribuição do material depositado com 1.016,50 kg ha -1, ou seja, 79,33% (Tabela 3). Constata-se que em outros estudos realizados no bioma Caatinga a fração folhas é a que contribui mais na produção de biomassa vegetal depositada (SOUTO, 2006; ANDRADE, 2008; FERREIRA, 2011; HENRIQUES, 2012; SILVA, 2013; SILVA, 2014) Deposição da fração galhos A deposição da fração galhos que compreende o material lenhoso de todas as dimensões mais cascas, foi a terceira maior contribuição na formação do material
34 Galhos + Cascas (kg ha -1 ) Precipitação (mm) 34 decíduo, com 89,46 kg ha -1, ou seja, 6,98% do valor depositado. Observa-se na figura 9 que os maiores valores (kg ha -1 ) encontrados para deposição foram atingidos nos meses de novembro/2013, março e abril/2014. Figura 9 Estimativa da produção de galhos + cascas e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio inicial de regeneração natural. Galhos Precipitação Meses/Ano Fonte Medeiros (2014) Silva (2013), em 12 meses de estudo (setembro/2010 a agosto/2011), em estudo realizado na mesma área da pesquisa, obteve valores superiores da fração galhos com uma produção de 170,11 kg ha -1, contribuindo com 9,07% da serrapilheira total depositada. A deposição da fração galhos + cascas se mostrou contínua durante o período experimental na área em estágio inicial de regeneração natural, observandose um aumento da produção dessa fração com o inicio do período chuvoso. Segundo Souza (2009), a maior deposição dessa fração no período chuvoso pode estar relacionada ao efeito mecânico da chuva e do vento Deposição da fração material reprodutivo A fração material reprodutivo incluiu flores, frutos e sementes, foi estimado em 166,47 kg ha -1, constituindo 13% do total da serrapilheira (Tabela 3). Observa-se na figura 10, que os meses de maior contribuição da fração material reprodutivo
35 Mat. Reprodutivo (kg ha -1 ) Precipitação (mm) foram março, abril e maio/2014. Porém, o pico de maior deposição ocorreu em maio/ Figura 10 Estimativa da produção de material reprodutivo e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio inicial de regeneração natural. Mat. Reprodutivo Precipitação Meses/Ano Fonte Medeiros (2014) Silva (2013) e Sousa (2011) em estudo realizado em mesma área de estudo encontraram maior pico de produção em março/2011 e abril/2009, respectivamente. Santana (2005) afirma que, para a maior parte das espécies da caatinga o período de floração ocorre no período chuvoso. A contribuição da fração material reprodutivo possibilita o incremento do banco de sementes, ressaltando a importância da produção dessa fração para equilíbrio desse ambiente. Valores superiores da fração material reprodutivo foram encontrados na mesma área de estudo por Silva (2013) em doze meses de estudo, com 11,09% da produção total de serrapilheira, o que corresponde a 207,91 kg ha Deposição da fração miscelânea A fração miscelânea, composta de fragmentos menores, de difícil identificação e com presença de fezes de pássaros e carapaças de insetos ou partes destes, foi estimada em 8,89 kg ha -1 que corresponde 0,69% do total da produção da serrapilheira.
36 Miscelânea (kg ha -1 ) Precipitação (mm) 36 A distribuição da deposição da fração miscelânea é mostrada na figura 11, onde as maiores produções dessa fração ocorreram nos meses de setembro/2013 e janeiro/2014, representando uma produção de 1,42 kg ha -1 e 1,87 kg ha -1, respectivamente, as maiores deposições ocorreram na estação seca. Figura 11 Estimativa da produção de miscelânea e precipitação pluvial ocorrida no período de estudo na área em estágio inicial de regeneração natural. Miscelânea Precipitação 2 1,5 1 0, Meses/Ano Fonte Medeiros (2014) Silva (2013), em 12 meses de estudo (setembro/2010 a agosto/2011), realizados nesta mesma área, observou que a fração miscelânea contribuiu com 1,09% da serrapilheira total depositada, com uma produção de 20,36 kg ha -1, tendo as maiores deposições ocorrido na estação seca. 4.2 Deposição de serrapilheira na área em estágio médio de regeneração natural (EMRN) Produção total Para a área em estágio médio de regeneração natural a produção total de serrapilheira foi estimada em 1452,44 kg ha -1, sendo os meses de dezembro/13 e janeiro/14 que menos contribuíram para o valor total estimulado (Tabela 4).
37 Tabela 4 Produção total (kg ha -1 ), percentual (%) das frações componentes da serrapilheira e precipitação pluvial (P) na área em estágio médio de regeneração natural no período de setembro/2013 a junho/2014. P Folhas Galhos Mat. Reprodutivo Miscelânea Serrapilheira Mês (mm) kg ha -1 % kg ha -1 % kg ha -1 % kg ha -1 % kg ha -1 set/13 0,0 121,27 abc 97,66 1,80 c 1,45 0,90 c 0,72 0,20 0,16 124,17 out/13 0,0 109,10 bc 88,45 7,90 bc 6,40 6,35 bc 5,15 0,00 0,00 123,35 nov/13 54,7 93,27 bc 86,29 7,8 bc 7,22 4,81 bc 4,45 2,21 2,04 108,09 dez/13 53,5 76,53 c 81,55 6,22 bc 6,63 9,80 bc 10,44 1,29 1,37 93,84 jan/14 0,0 78,19 c 84,04 2,24 c 2,41 11,87 bc 12,76 0,74 0,80 93,04 fev/14 44,9 94,73 bc 75,80 4,12 c 3,30 25,70 abc 20,56 0,43 0,34 124,98 mar/14 198,6 138,29 abc 74,81 6,40 bc 3,46 38,76 ab 20,97 1,40 0,76 184,85 abr/14 71,4 74,26 c 46,97 25,93 ab 16,40 56,58 a 35,79 1,34 0,85 158,11 mai/14 44,0 157,80 ab 69,14 32,16 a 14,09 37,80 ab 16,56 0,47 0,21 228,23 jun/14 10,0 184,60 a* 86,35 6,25 bc 2,92 22,69 abc 10,61 0,24 0,11 213,78 DMS 68,07 20,69 7,14 2,96 TOTAL 47, ,04 77,67 100,82 6,94 215,26 14,82 8,32 0, ,44 *Valores seguidos da mesma letra na mesma coluna não diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade (p<0,05). Fonte Medeiros (2014) 37 De acordo com os resultados obtidos na tabela acima, constata-se que ocorreu diferença significativa entre as frações folhas, galhos e material reprodutivo na produção mensal de serrapilheira. Observa-se na figura 12, que após o início do período chuvoso ocorreu um aumento na produção de serrapilheira devido a maior participação da fração material reprodutivo, já que nesse período há o início da floração de algumas espécies e, da fração galhos que tem sua queda facilitada pela ação do vento e da chuva. Com a redução da precipitação, a produção total de serrapilheira é aumentada. Costa et al. (2007) afirmam que a deposição da serrapilheira é diretamente influenciada pelas mudanças climáticas ocorridas no bioma caatinga e os períodos de maiores deposições de serrapilheira ocorre logo após o final do período chuvoso e início da estiagem.
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