PENSAMENTO LÓGICO E CRIATIVO: EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DA BAICA

Transcrição

1 PENSAMENTO LÓGICO E CRIATIVO: EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DA BAICA Raizza Judite de Oliveira Dias Faculdade de Psicologia Centro de Ciências da Vida raizza.jod@puccamp.edu.br Solange Muglia Wechsler Avaliação Psicológica do Potencial Humano Centro de Ciências da Vida wechsler@puc-campinas.edu.br Resumo: Este estudo visou investigar as evidências de validade da Bateria de Avaliação Intelectual e Criativa - forma adulto (BAICA), comparando os dois tipos de pensamento, divergente e convergente, esperando-se, portanto uma relação negativa entre pensamento criativo e pensamento lógico. A amostra composta por 47 sujeitos, sendo 25 do sexo feminino e 22 masculinos, entre 17 e 47 anos, estudantes de universidades particulares e públicas do estado de São Paulo. Foram aplicados os testes de Criatividade e de Pensamento Lógico da Bateria de Avaliação Intelectual e Criativa (BAICA). Constatou-se na análise dos resultados da pesquisa que não houve nenhuma correlação significativa entre as variáveis Criatividade Verbal, Criatividade Figural e Pensamento Lógico. Além disto, não houve diferenças significativas entre os gêneros nos teste de Pensamento Lógico e Criativo. Assim sendo, confirmou-se a hipótese da pesquisa que a criatividade e a inteligência não estão relacionadas. Portanto, existem evidências de validade da estrutura interna da BAICA podendo esta bateria dar uma contribuição importante para avaliação psicológica de jovens e adultos. Palavras-chave: Criatividade, Pensamento Lógico, BAICA. Área do Conhecimento: Fundamentos e Medida de Psicologia Psicologia Cognitiva CNPq. 1. INTRODUÇÃO A inteligência e a criatividade são fenômenos que têm sido bastante estudados ao decorrer dos anos. Entretanto, atualmente, ainda há divergências quanto às respectivas definições. A definição de inteligência e seu modo de ser avaliada têm passado por diversas mudanças, demonstrando sua complexidade. Assim como, a criatividade, que pode ser discutida sob diferentes perspectivas, podendo ser encontrada na literatura psicológica mais de 60 definições diferentes [4]. A área da Avaliação Psicológica é uma das mais antigas da Psicologia. Essa teve início nos Estados Unidos, em 1948, com o desenvolvimento dos testes psicológicos e da psicometria. A Avaliação Psicológica é classificada como uma área aplicada, técnica de produção de instrumentos para a Psicologia que fundamenta a interação entre ciência e profissão. Sendo responsável pela construção das teorias psicológicas em eventos observáveis, além da produção de ferramentas profissionais. Permite, dessa forma, que as teorias possam ser testadas com a integração da prática, por meio dos eventos psicológicos. Com tudo, pode se dizer que o avanço da área é dado pelo progresso nas teorias explicativas do funcionamento psicológico [8]. Os testes mentais foram citados primeiramente por Cattell, em 1890, quando o mesmo publicou um artigo baseado na aplicação de testes em estudantes universitários que tinha como objetivo a determinação do nível intelectual dos sujeitos. Após isso o autor reconheceu a importância de se padronizar e restringir a utilização dos testes psicológicos, apenas a profissionais especializados. Visto que, um teste padronizado e bem elaborado, oferece a assistência precisa para uma investigação ser válida [1][2]. Inicialmente, Torrance definiu o pensamento criativo como pensamento divergente, ou seja, aquele que busca encontrar várias soluções para um mesmo problema. Por sua vez, o pensamento lógico ou convergente, seria o oposto, aquele que busca encontrar uma única solução, considerada a mais certa, para um determinado problema [11]. Deve se considerar a criatividade como uma característica dos seres humanos que, atualmente ocupa papel de prestígio na sociedade. Entretanto, essa propriedade do ser humano, é vista como um termo que se refere a um fenômeno psicológico. Apesar de ser considerada uma característica psicológica positiva para um indivíduo, ainda não existe uma definição única e autoritária acerca deste conceito [9].

2 Dessa forma, Torrance, em 1999, afirmou que a criatividade pode ser discutida em diferentes perspectivas [11]. Esse fenômeno é integrado por múltiplos aspectos, sendo eles, elementos cognitivos, características de personalidade, como também as variáveis do ambiente em que o sujeito avaliado está inserido, como familiar, escolar e social [12]. Para Guilford, uma maneira importante, criada para se avaliar as habilidades criativas é medindo a fluência, flexibilidade, elaboração e originalidade dos testes de criatividade. Para ele a fluência é o número de respostas lógicas dadas pelo participante. A flexibilidade revela o pensamento verbal e, assim como a elaboração é o número e tipo de detalhes que enriquecem as respostas, respectivamente. Já a originalidade, vista por Guilford é uma característica fundamental do pensamento criativo, consistindo na raridade estatística das respostas, ou seja, produção de algo novo, novas soluções, formas e expressões, que jamais outra pessoa pensaria [6]. Logo, a criatividade é considerada como pensamento divergente, em que seria a capacidade do indivíduo de pensar, explorando e descobrindo mentalmente diversas ideias, por meio de um único estimulo e soluções inovadoras [5]. Essa exploração cognitiva do pensamento, para Guilford, predomina-se a intuição sobre as operações mentais e os testes de pensamento divergente, oferecem de modo geral, situações de respostas abertas e que recorrem ao critério de avaliação criado pelo estudioso [6]. Com esse modelo do autor, foram criados outros testes, a fim de avaliar a criatividade verbal e figural, Torrance, em 1966, foi o primeiro a desenvolver [7]. É preciso considerar inicialmente que a Psicologia tem buscado responder questões levantadas sobre a natureza da Inteligência, tema recorrente em discussões e pesquisas na área da Avaliação Psicológica. David Wechsler, em 1939, deu início às discussões sobre os componentes da inteligência, definindo, assim, dois tipos: verbal e não verbal [3]. Cattel (1971) se tornou adepto do modelo bidimensional da inteligência. Segundo o estudioso, existiriam dois tipos básicos de inteligência: a fluida (Gf), que envolve capacidades mentais relacionadas com processos lógicos, exemplos disso são a indução, dedução e raciocínio não-verbal; e a cristalizada (Gc), que abrange conhecimentos, habilidade e conteúdo de experiências educacional e cultural. Outras teorias sobre a inteligência foram criadas, e com o intuito de questionar a de Cattel, Carroll (1997), formulou o modelo das três camadas, a fim de explicar a estrutura do funcionamento intelectual [11]. Um ponto importante a ser destacado é como o papel do pensamento convergente ou lógico, pode exercer na produção do indivíduo. Dessa forma, em estudos realizados, constatou-se que o papel do estilo lógico de pensamento está presente na etapa final da elaboração de um produto. É preciso que exista o pensamento convergente, que se avalia e critique as ideias obtidas, para que isso se torne prática e fácil para ser adotada. Mesmo que em previamente se necessite do pensamento divergente, da busca por ideias diferentes [10]. 2. OBJETIVOS Geral - Investigar se as dimensões de Pensamento Criativo e Pensamento Lógico da Bateria de Avaliação Intelectual e Criativa (BAICA) são antagônicos. Específico - Estudar a evidência dos diferentes subtestes da BAICA; - Comparar os resultados obtidos por sexo masculino e feminino; - Utilizar da Correlação de Pearson para análise dos resultados e pontuação dos testes. 3. MÉTODO 3.1 Participantes A amostra final foi composta por 47 estudantes universitários, de ambos os sexos, com idade entre 17 e 47 anos, que estão regularmente matriculados em instituições de Ensino Superior, particulares e públicas, do Estado de São Paulo. 3.2 Instrumentos Teste de Pensamento Criativo (BAICA), composto por três atividades, sendo uma Figural e duas Verbais. Neste teste apresentaram-se estímulos correspondentes a oito pares de linhas retas, em que os participantes tiveram como objetivo completa-las a fim de expressar em desenhos sua criatividade. As atividades 2 e 3, verbais, tem como proposito, respectivamente, elaborar questionamentos (perguntas) sobre a situação apresentada no estimulo, e imaginar consequências para uma situação levantada no teste. Teste de Pensamento Lógico (BAICA), também composta por estímulos, sendo 32 abstratos. O participante deve seleciona-los de acordo com os critérios de tamanho, posição, forma e quantidade. Colocando suas respostas na folha de correção. 3.3 Procedimentos Realizou-se contato com diretores e professores de instituições de Ensino Superior da cidade Campinas, com a finalidade de solicitar a permissão para a aplicação da Bateria de Avaliação Intelectual e Criativa (BAICA). O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi entregue aos alunos que aceitaram partici-

3 par da pesquisa, nesta mesma data e também escolhido dia e horário para a aplicação. Ambos os testes da pesquisa foram aplicados em grupo, com no máximo 20 participantes, ou individual, em uma sala previamente reservada para tal finalidade. A correção dos testes se deu por meio de crivos, que continham as respostas corretas. O Teste de Pensamento Criativo (BAICA) foi corrigido de forma completa, considerando: fluência, originalidade e elaboração das ideias. Já o segundo subteste da BAICA Pensamento Lógico aplicado foi corrigido, pontuando com 1 ponto cada resposta certa. Após a tabulação, os participantes receberam seus resultados de ambos os testes em forma de gráfico, enviados via endereço eletrônico. Primeiramente, foi feita uma analise do percentual da dificuldade do item, considerando que a amostra é ainda pequena. A correlação de Pearson será utilizada ao final da pesquisa para comparar os resultados e pontuação dos testes utilizados na pesquisa Pensamento Criativo e Pensamento Lógico (BAICA). 4. RESULTADOS Serão apresentadas a seguir, as comparações das médias entre os grupos, por sexo, das pontuações dos testes de Criatividade e Pensamento Lógico da BAICA. Gráfico 1: Média total dos testes avaliados na Bateria de Avaliação Intelectual e Criativa por sexo Como demonstrado no Gráfico 1, sobre as médias dos subtestes da BAICA, Criatividade e Pensamento Lógico. Observa-se que os sujeitos do sexo masculino obtiveram melhores resultados nos testes de pensamento criativo, com maior diferença do sexo oposto na atividade 3 (At3) e a menor diferença encontrada na atividade 2 (At2), visto que ambas são verbais. É preciso ressaltar que a atividade 1 (At1) é referente a criatividade figural. Os participantes do sexo feminino como visto no gráfico, tiveram melhor desempenho no teste de Pensamento Lógico. Gráfico 4: Média do total de pontos do teste de Pensamento Lógico por sexo É possível se observar que o desempenho dos sujeitos do sexo feminino é maior que o desempenho do sexo masculino. Entretanto, é valido ressaltar que o número de sujeitos masculinos é menor que os sujeitos femininos, além de que esse é o valor da pontuação total do Teste de Pensamento Lógico (BAICA). Tabela 1: Estatística de Grupo Sexo Média Desvio padrão 1,8000 2,59808 ElabVerbal Masculino 1,9545 2,39995 FluVerbal 17,9200 8,40595 Masculino 20, ,7099 OrigVerbal 10,3200 6,25646 Masculino 12,5455 7,21590 FlFig 5,320 2,5775 Masculino 5,818 1,9673 OrFig 4,280 2,3544 Masculino 4,727 1,9562 ElFig 11,760 8,2223 Masculino 12,182 9,3841 TiFig 1,9200 2,27156 Logico Masculino 3,0909 3, ,960 4,4952 Masculino 18,773 3,9392 A Tabela 5 representa a estatística de médias e desvio padrão dos testes de Criatividade e Pensamento Lógico, por meio da comparação entre os totais de ponto por cada faceta analisada, sendo elas: elaboração, fluência e originalidade para todas as atividades, sendo figural e verbal do primeiro teste de Criatividade da BAICA, assim como também o título expressivo da

4 Tabela 2: Correlações de Pearson entre Criatividade Verbal, Figural e Pensamento Lógico Elab Verbal Flu Orig atividade 1. A tabela de estatística ressalta o melhor desempenho do grupo do Masculino nos testes de Criatividade. O grupo demonstrou melhores habilidades em Pensamento Lógico. A análise dos resultados da pesquisa não trouxe evidência de correlação significativa entre as variáveis: Criatividade Verbal, Criatividade Figural e Pensamento Lógico. Nos cálculos feitos por meio da correlação de Pearson, observou-se forte correlação entre o total de pontos das facetas de Fluência Verbal com o total de Originalidade Verbal, sendo equivalente a 0,929. Assim como, comparado com a faceta (Título Expressivo) da atividade figural do teste que consiste em um resultado igual a 0,391. Quando comparado o total de pontos da Elaboração Verbal, observou-se forte correlação com o total de Originalidade Verbal, de 0,477 e de Fluência Verbal, de 0,345. Ainda sobre a Atividade 1 de Criatividade Figural, houve correlação significativa entre Fluência e Originalidade, de 0,865 e Fluência e Elaboração, de 0,315. A Originalidade também obteve forte correlação com Título Expressivo, de 0,316. Desta forma, não houve diferenças significativas entre os gêneros nos teste de Pensamento Lógico e Criativo. 5. DISCUSSÃO Os resultados desta pesquisa confirmou a hipótese que a criatividade e a inteligência não estão relacionadas. Portanto, existem evidências de validade da estrutura interna da BAICA. Como definido por Torrance sobre a diferença entre pensamento divergente e convergente. Visto que o pensamento criativo ou divergente é aquele que busca encontrar novas soluções para um mesmo problema. E o pensamento lógico ou convergente, aquele que busca encontrar apenas Verbal Fl1 Or1 El1 Ti1 Lógico Verbal ElabVerbal,345 *,477 **,001 -,004,141,093 -,102 FluVerbal,929 **,026,042,286,391 **,058 OrigVerbal -,064 -,045,221,295 * -,017 Fl1,865 **,315 *,188 -,027 Or1,146,316 *,091 El1,181,048 Ti1,030 Lógico uma solução, considerando-a como a mais correta para o determinado problema. Logo, de acordo com os resultados da pesquisa, é possível constatar a diferença entre os dois tipos de pensamento, criativo e lógico. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS É preciso considerar que existem evidências de validade da estrutura interna da BAICA podendo esta bateria dar uma contribuição importante para avaliação psicológica de jovens e adultos. REFERÊNCIAS [1] Anastasi, A & Urbina, S. 7 a edição. Porto Alegre: Artes Médicas, páginas. ISBN [2] Avoglia, H. R. C. (2012) O sentido da avaliação psicológica no contexto e para o contexto: uma questão de direito. Psicólogo informação. Ano 16, n. 16. São Paulo - SP [3] Chiodi, M. G. & WECHSLER, S. M. (2009). Escala de Intelligência WISC-III e Bateria de Habilidades Cognitivas Woodcock Jonhson-III: comparação de instrumentos. Avaliação Psicológica. v. 8, n. 3. Porto Alegre RS [4] Furnham, A., Batey, M., Anand, K., & Mansfield, J.M. (2008). Personality, hypomania, intelligence and creativity. Personality and Individual Differences, 44, [5] Milian, Q. G., & Wechsler, S. M. (2014). Evidências de Validade da Bateria da Avaliação Intelectual e Criativa BAICA (submetido). [6] Morais, M. F. & Azevedo, I. (2009) Avaliação da criatividade como um contexto delicado: revisão de metodologias e problemática. Avaliação Psicológica. v. 8, n. 1. Porto Alegre RS [7] Nakano, T. C. & Wechsler, S. M. (2006) Teste

5 brasileiro de criatividade figural: proposta de normas. Avaliação Psicológica. v. 5, n. 2. Porto Alegre RS [8] Primi, R. (2003) Inteligência: Avanços nos Métodos Teóricos e nos Instrumentos de Medida. Avaliação Psicológica. p Itatiba SP [9] Seabra, J. M. (2007) Criatividade. [10] Wechsler, S. M. (2006). Estilos de pensar e criar. Campinas: IDB/LAMP-PUCCampinas. [11] Wechsler, S. M.; Nunes, M. F. O.; Schelini, P. W.; Ferreira, A. A. & Pereira, D. A. P. (2010) Criatividade e Inteligência: analisando semelhanças e discrepâncias no desenvolvimento. Estudos de Psicologia. v. 15, n. 3. Natal - RN [12] Wechsler, S. M. & Nakano, T. C. (2011). Criatividade no ensino superior: uma perspectiva internacional. São Paulo: Editora Vetor