AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE LIMINAR
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- Leandro Clementino Palha
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1 EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAZENDA PÚBLICA A COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, vem pela presente, por seus procuradores que esta subscrevem (M.I.), de acordo com o artigo 5º, inciso II, da Lei 7.347/85, c/c os artigos 82, inciso III e, 83 ambos do CDC, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE LIMINAR Em face do Conselho-Diretor da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos do Estado do Rio de Janeiro ASEP RJ situada à Rua São Bento, nº 08, 13º e 18º andares, Centro, Cep: , pelas razões fáticas e jurídicas que expõe a seguir: DA LEGITIMIDADE DO PÓLO ATIVO: Prevê o artigo 63 da Constituição Estadual: O Consumidor tem o direito à proteção do Estado., por sua vez este mesmo artigo, em seu Parágrafo Único, dispõe que : A proteção far-se-á entre outras medidas criadas em lei, através de : I Criação de Organismos de defesa do Consumidor, VIII Assistência Jurídica integral e gratuita ao consumidor, curadorias de proteção no âmbito do Ministério Público e Juizados Especiais Cíveis, obrigatórios nas cidades com mais de duzentos mil habitantes. Por sua vez, o art. 82, inciso III, da lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) concede legitimidade aos órgãos da administração pública, ainda que sem personalidade jurídica, mas que se destinem, especificamente, aos interesses e direitos por ela protegidos, para a representação em juízo na defesa de tais interesses. A autora é um órgão técnico vinculado ao Poder Legislativo do Estado do Rio de Janeiro, com competência definida no respectivo regimento interno, para atuar e se manifestar sobre os assuntos
2 relacionados ao consumo, suas relações e a defesa do consumidor, entre outros, e integra o Sistema Nacional da Defesa do Consumidor, nos termos do disposto no decreto federal nº2.181, de 20 de março de DA LEGITIMIDADE DO PÓLO PASSIVO: O Conselhor-Diretor da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos do Estado do Rio de Janeiro ASEP RJ, Pessoa Jurídica de Direito Público, situada à Rua São Bento nº 08, 13º e 18º andares, Centro, Rio de Janeiro, cep , integra o Pólo Passivo da presente demanda, uma vez que não vem cumprindo com algumas das atribuições para as quais fora criada, como fiscalizar as concessionárias privadas que administram os serviços públicos (metrô, trem, barcas, gás e abastecimento de água) e servir como mediadora nas divergências entre empresas e usuários. Tal omissão resultava da falta de quorum necessário para proferir suas deliberações. Entretanto, apesar de já haver sido nomeado número mínimo de conselheiros para que o Conselho Diretor do órgão possa tomar suas decisões, este continua impossibilitado de se manifestar pelas razões que se seguem. DOS FATOS: A Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos do Estado do Rio de Janeiro ASEP RJ-, foi criada pela Lei Estadual 2686/97, de 13 de fevereiro de 1997 (em anexo), com a atribuição de exercer o Poder Regulador; acompanhando, controlando e fiscalizando as concessões e permissões públicas nas quais o Estado do Rio de Janeiro figure, por disposição legal ou pactual, como Poder Permitente. Compete também a esta agência reguladora (como a qualquer outra), zelar pela eficiência e qualidade dos serviços prestados pelas concessionárias e permissionárias que se encontrem em seu âmbito de atuação, e, conseqüentemente, beneficiar a população com a melhoria da qualidade de vida em nosso Estado. Dentre as importantes funções confiadas à ASEP- RJ está a de decidir como instância administrativa definitiva, os pedidos de revisão de tarifas de serviços públicos concedidos ou permitidos, fiscalizando seus aspectos técnicos, econômicos, contábeis e financeiros. As deliberações da ASEP RJ são tomadas através de seu Conselho Diretor, formado por 05 (cinco) Conselheiros, indicados pelo Governador do Estado e por este nomeados, uma vez aprovados, após audiência pública, pela Assembléia Legislativa, nos termos do artigo 4º da Lei Estadual nº 2686/97 (em anexo). Desde dezembro de 2002, porém, o Conselho Diretor da ASEP RJ vinha contando com apenas
3 dois conselheiros, encontrando-se impedido de exercer as suas funções, já que o quorum mínimo para deliberação é de três conselheiros, nos termos do Regimento Interno da ASEP RJ (em anexo). A impossibilidade de deliberação da ASEP RJ acabou por possibilitar que concessionárias como Opportrans (metrô), Supervia (trens) e Barcas S.A. reajustassem desgovernadamente suas tarifas sob o argumento de que o fizeram porque a ASEP RJ não se pronunciara no prazo de 30 dias, como determinam os respectivos contratos de concessão (em anexo, o contrato da Opportrans confirma a defesa das concessionárias). Os últimos aumentos foram aplicados no período em que a ASEP RJ esteve inativa. Em oito meses as tarifas de trens tiveram aumento de 50 % (passaram de R$ 1,00 para R$ 1,50). O bilhete de metrô, em abril deste ano, sofreu um reajuste de 27,8 % (passou de R$ 1,47 para R$ 1,88). Indo nas águas das outras concessionárias, a Barcas S.A. reajustou, por conta própria, suas tarifas em 31 de maio em 20 %. Como resultado da inércia do Estado, a fiscalização e regulamentação dos serviços públicos estaduais concedidos e permitidos tornou-se inexistente em determinados setores, causando irreparáveis prejuízos à população consumidora daqueles. No intuito de evitar que tal situação perdurasse por mais tempo, foi aprovada pela Assembléia Legislativa a indicação de três conselheiros para comporem o conselho deliberativo da ASEP RJ feita pela Governadora do Estado, conforme publicado no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro de 27 de agosto de 2003 (em anexo). Um quarto conselheiro fora reconduzido. Em 30 de setembro do presente ano a ASEP RJ teria uma reunião na qual seus conselheiros discutiriam temas como reajustes de tarifas sem autorização do órgão. A sessão não aconteceu, pois dois, dos quatro conselheiros alegaram problemas com o presidente do Conselho. Novamente ficou defasado o quorum para a deliberação, impossibilitando a mesma. Nova reunião fora marcada para o dia seguinte. Mais uma vez não houve quorum, pois dois conselheiros se retiraram da reunião após um bate boca. A regulamentação, o controle e a fiscalização das concessões e permissões deixou de ser uma questão afeta ao Direito Administrativo e de interesse público para se transformar numa disputa política, num jogo de vaidades em que o perdedor sempre será o consumidor, mesmo não figurando dentre os participantes. A Constituição da República dispõe expressamente (artigos 175, par. Único e 37, caput) que incumbe ao Poder Público, na forma da lei, a prestação de serviços públicos, a regulamentação dos direitos dos usuários e da política tarifária a obrigação de manter os serviços adequados e a de receber reclamações relativas à sua prestação.
4 A atribuição primordial da Administração Pública é oferecer utilidades aos administrados, não se justificando sua presença a não ser para prestar serviços à comunidade. Ao Poder Público incumbe a regulamentação e controle dos serviços públicos, devendo exigir sua atualização e eficiência. O Estado deve ter em vista que serviços públicos e de utilidade pública são serviços para o público, para servir ao público. A ASEP RJ está atuando na contra-mão deste entendimento, permitindo, com sua atitude omissiva, que as concessionárias, atuando de forma abusiva, procedam unilateralmente a aumentos em suas tarifas, ofendendo a garantia constitucional de um número indeterminado de consumidores, o que representa ofensa a direito difuso da população fluminense. O órgão supracitado está descumprindo um dos princípios que sintetizam os requisitos do serviço público, que é o princípio da modicidade, que exige a cobrança de tarifas razoáveis e tem previsão constitucional. A ASEP RJ não está atuando de forma eficiente na viabilização da oferta de serviço público que possa ser usufruído pela generalidade dos consumidores. Na realidade, a ASEP RJ não está atuando, e a conseqüência disto tem sido a oferta de determinados serviços públicos a preços inviáveis à grande parcela da população. Diante dos fatos expostos e da existência do evidente e comprovado prejuízo aos consumidores pela cobrança de tarifas cada vez mais elevadas, pelo uso de um serviço de utilidade pública, por falta da atuação da Agência Reguladora responsável, cabe a esta Comissão, legitimada ativa para tanto, submeter a matéria ao Poder Judiciário, através da presente ação civil pública. DO DIREITO: O art.5, XXXII da Constituição Federal é claro ao estabelecer que o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. A compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico devem acontecer de forma a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, inciso V da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores. O Código de Defesa do Consumidor é objetivo ao estatuir como Política Nacional das Relações de Consumo (art. 4, VII do Código de Defesa do Consumidor) dentre outras medidas a serem tomadas pelo ente estatal, o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo e a ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor pela presença do Estado no mercado de consumo, o que se torna imprescindível em se tratando de serviços públicos. No caso em questão, a ASEP-RJ, responsável por, entre outras atividades, decidir, como instancia administrativa, os pedidos de revisão de tarifas de serviços públicos concedidos ou permitidos não
5 vem cumprido com sua obrigação de garantir ao consumidor que sejam tarifados de forma correta os serviços prestados pelas ditas concessionárias. Desta forma permitindo que as concessionárias procedam de forma abusiva, aplicando aumentos cuja autorização não fora concedida, ofendendo assim, a garantia constitucional de um número indeterminado de consumidores. A omissão da ASEP-RJ no cumprimento de suas obrigações atenta contra o estabelecido no art. 22 do Código de Defesa do Consumidor: Art. 22 Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único: No caso de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste Código. Some-se a isso o fato de que o aumento da tarifa procedido sem a devida autorização da ASEP- RJ, importa em prática abusiva prevista no art. 39, V e X do Código de Defesa do Consumidor, eis que passaram a exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva ao elevar sem justa causa o preço das tarifas. Portanto, é a ASEP-RJ, inquestionavelmente, solidária e objetivamente responsável pelos aumentos praticados pelas concessionárias, a teor do art. 37, 6 da Constituição Federal, pelo que se faz imperiosa a sua condenação a ressarcir os danos até agora injustamente experimentados pelos usuários dos serviços públicos ante a desautorizada majoração de suas tarifas. DA MEDIDA LIMINAR : A Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos do Estado do Rio de Janeiro ASEP RJ continua, apesar de já contar com número suficiente de conselheiros para deliberar, a não fiscalizar as concessionárias privadas que administram os serviços de metrô, trens, barcas, gás e abastecimento de água. Assim, entende deva ser a ASEP RJ - imediatamente compelida a organizar-se internamente de forma a que de suas reuniões resultem decisões das quais dependem os consumidores para não mais serem submetidos a aumentos repentinos e freqüentes das tarifas remuneratórias de determinados serviços públicos, visto que presentes os pressupostos ensejadores da concessão, quais sejam:
6 a) O fumus boni iuris que se caracteriza pela omissão da ASEP RJ em cumprir com suas tarefas, apesar de já contar com número mínimo de membros para tal, possibilitando, com tal omissão, que as concessionárias continuem a reajustar livremente as tarifas dos serviços públicos a elas atribuídos. b) O periculum in mora está presente, diante da natural demora da tramitação de uma ação coletiva, a qual oportunizará o aumento livre e abusivo das tarifas de determinados serviços públicos por suas concessionárias sob o argumento de que não têm como submeter suas decisões à ASEP-RJ. Assim, forte no art.84 do Código de Defesa do Consumidor e no artigo 273, I do Código de Processo Civil, requer seja determinada liminarmente a reunião dos membros do Conselho Diretor para que deliberem acerca da atuação das concessionárias privadas que administram os serviços públicos já mencionados. DOS PEDIDOS: Diante do exposto requer a autora: A a consolidação da medida liminar e a condenação da ré à obrigação de fazer, consistente na realização de suas atribuições como Agência Reguladora de Concessionárias de Serviços Públicos, fiscalizando-os e regulamentando-os, visto que já conta com nº suficiente de membros para atuar; B seja a ré obrigada a restituir, em dobro, aos consumidores que se habilitarem, os valores cobrados indevidamente quando do aumento das tarifas pelas concessionárias sem sua concordância, acrescidos de juros legais e correção monetária, apurados em liquidação de sentença (art.42, par. Único C.D.C); C a condenação da ré à obrigação de publicar, às suas custas,em dois jornais de grande ciculação desta Capital, em quatro dias intercalados, sem exclusão do domingo, em tamanho mínimo de 20cmx20cm, em uma das dez primeiras páginas de ambos os jornais, a parte dispositiva de eventual sentença condenatória, a fim de que os consumidores tomem ciência da sentença, que deverá ser introduzida pela seguinte informação: Acolhendo pedido veiculado em ação coletiva de consumo ajuizada pela Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, o juízo da ( )ª Vara de Fazenda Pública condenou a Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos do Estado do Rio de Janeiro, nos seguintes termos ( ) ; Esse pedido, além de servir para recompor o dano moral coletivo sofrido pelos consumidores e por toda a sociedade, também tem como objetivo restabelecer a harmonia e a confiança no mercado de consumo; D a fixação de multa diária para a hipótese de descumprimento dos pedidos alinhados pelos itens
7 A e B, em valores capazes de intimidar a desobediência; E a citação do demandado à Rua do Bispo nº 08, 13º e 18º andares, Centro, cep , na pessoa de seu representante legal para tomar ciência da presente ação civil pública, e, querendo, oferecer contestação, sob pena de confissão quanto à matéria fática; F a intimação do Ministério Público para integrar o feito nos termos da legislação aplicável; G a publicação do edital ao qual se refere o art.94 do C.D.C.; H a condenação da ré ao pagamento das custas e demais despesas processuais decorrentes da sucumbência, exceto honorários advocatícios; I - a procedência da ação. DAS PROVAS E DO VALOR DA CAUSA Protestando por todos os meios de provas cabíveis na espécie, dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 ( hum mil reais ), para efeitos fiscais. Nestes termos, Pede deferimento. Rio de Janeiro, 03 de outubro de ADRIANA MONTANO LACAZ OAB/RJ ROLAND PASCHKE ESKENAZI PERNIDJI OAB/RJ CATARINA OLIVEIRA DE ARAUJO COSTA OAB/RJ
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