De Keynes aos Desafios Futuros
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- Marisa Brandt Bergler
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1 Other universities From the SelectedWorks of Paulo Ferreira da Cunha December 14, 2011 De Keynes aos Desafios Futuros Paulo Ferreira da Cunha, Universidade do Porto Available at:
2 RAZOAR XII DE KEYNES AOS DESAFIOS FUTUROS I. A importância de Keynes ( ) é diretamente proporcional ao seu atual esquecimento. Não só pela sua teoria, como porque nos deixou uma relevantíssima escola, a qual, durante muito tempo, prevaleceu por todo o mundo das ciências económicas e financeiras. O que, de resto, nos deixa saudades, porque os substitutos não convenceram minimamente. E a prova é a crise em que persistem em afundar-nos. Com os seus quase dois metros de altura, um sorriso vivo e algo trocista, uma inteligência vivíssima, capaz de enfrentar os mais diversos desafios, teórico da economia, mas ele próprio investidor e conhecendo os caprichos do mercado, desconcertou muitos no seu tempo, e ainda hoje é um dos objetos dos ódios de estimação dos neoliberais. A ideia de que os Estados precisam de gastar mais do que têm conseguiu salvar as economias ocidentais, e não somente, como alguns pensam, o capitalismo. A sua teoria é sedutora, mas mais importante ainda é a prática a que levou. As suas inclinações estéticas (era colecionador de arte, entre muito mais coisas) e os seus interesses diversificados fizeram dele um modelo do economista com charme, cultura, totalmente diferente do estereótipo quase inumano de quem sabe o preço de tudo e desconhece o valor de qualquer coisa, ou pessoa. Estereótipo que se está a volver no de sádico, sempre havendo um novo especialista que acha que a maior das austeridades não chega. Keynes era um génio na interpretação de dados e estatísticas, dizendo alguns que parecia saber mais do que os dados de que dispunha. Ora este gigante da ciência económica não era somente um grande homem, mas um homem bom, tendo além do mais dado alegria e entusiasmo a estes estudos, tantas vezes considerados áridos,
3 normalmente submersos na lei de aço da raridade, de que se não consegue sair... Se a canção Happy days are here again poderia ter um simbólico inspirador na Economia, seria Keynes. Falava-se de "gozosa revelação em tempos de penumbra"... Diz sobre ele David Benson-Butt, citado por Robert Skidelsky: "O capitalismo reformado por Keynes tinha tudo o que a geração fabiana tinha buscado no socialismo, e ainda mais: era igualitário em termos morais, incluía o pleno emprego, era generoso e alegre..." 1. II. Keynes desafiou os padrões normais dos sistemas políticos. Hoje precisamos de encarar também o problema de frente. Com o rodar dos tempos, vai-se compreendendo que a distinção entre socialismo democrático e capitalismo reformista, com preocupações sociais, pode esbater-se. Os conceitos continuam a ser complexos: ou reservamos para a expressão "socialismo" a sua identificação com o pensamento comunista, marxista-leninista e afim, e então todos os sociais democratas e mesmo socialistas democráticos serão irremediavelmente capitalistas (ou, como a extrema esquerda costumava dizer, "fieis gestores - ou "lacaios", para os mais agressivos - da ordem capitalista), ou então se pode considerar socialismo democrático, social democrata, uma forma de capitalismo moderada e com preocupação social. Tudo depende de como se defina capitalismo, também. No Brasil, recentemente, tem-se falado em capitalismo humanista, sendo seu arauto Ricardo Sayeg 2, reclamando-se de uma síntese (necessariamente complexa) de Tomás de Aquino, Locke, Maritain, Dworkin e Amartya Sen. Em Espanha, Javier Montoro Conde considera o capitalismo humanista como instrumento de gestão: capitalismo mais humanista, mas não menos eficiente ou economicista, advoga. Outro problema se coloca: o que significa economicista? Para os humanistas, precisamente, dir-se-ia que economicismo significa precisamente o contrário de humanismo, ou seja, excesso de frieza e cegueira de números, de gráficos, e de utilitarismo e argentarismo. Mas não pode conviver uma coisa com outra, pelo que, aqui, "economicismo" deve querer dizer, rigor e qualidade da ciência económica - cremos nós.
4 Várias "terceiras vias" foram resposta à subida (mesmo eleitoral) de partidos mais ou menos de base conservadora que fizeram bandeira ou política do neoliberalismo. Contudo, os resultados dessa reforma de alguns partidos trabalhistas, socialistas e afins não terão conseguido travar a vaga de fundo dos neocons. Alguns mesmo consideram que esses mesmos partidos de esquerda ou centro esquerda de algum modo cederam ao vírus neoliberal, acabando por, em muitos casos, não se distinguir dos partidos mais à direita que combatiam. A crise da social-democracia e do socialismo democrático é um tema que supera este fenómeno, mas que se revela fulcral na reflexão do nosso tempo. Um estudo notável sobre a questão é o de Eduardo Lourenço 3, e mais recentemente, e numa outra clave, mesmo ideológica, está Alexandre Drobán 4. A verdade é que subsiste sempre a questão de fundo, que é a revolução profunda e violenta vs. a moderação política, e esta tenderá sempre a ter os seus representantes, seja quais forem as cores com que se pintem e os rótulos que assumam ou se lhes coloquem. Como dizia Paul Valéry 5 : "Le monde ne vaut que par les extrêmes et ne dure que par les moyens. Il ne vaut que par les ultras et ne dure que par les modérés". Um novo slogan da área do Partido Trabalhista britânico dá que pensar na sua polissemia: Next Left 6 A próxima esquerda, e a esquerda que se seguirá... Paulo Ferreira da Cunha 1 SKIDELSKY, Robert, Keynes, Oxford, Oxford University Press, 1996, trad. cast. de Carlos Rodríguez Braun, Keynes, Madrid, Alianza Editorial, 1998, p SAYEG, Ricardo / BALERA, Wagner, Capitalismo Humanista. Filosofia Humanista de Direito Econômico, Brasil, KBR, LOURENÇO, Eduardo, Esquerda na Encruzilhada ou Fora da História?, Lisboa, Gradiva, DROBÁN, Alexandre, A Crise de Ideias da Social-democracia, "Vértice", II série, n.º 157, março-abril 2011, pp VALÉRY, Paul, Tel quel, I, 1941, p
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