DESCRIÇÃO DE UMA NOVA ESPÉCIE DE HYMENOEPIMECIS VIERECK (HYMENOPTERA, ICHNEUMONIDAE, PIMPLINAE) PARASITÓIDE DE Leucauge Roseosignata

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1 77 DESCRIÇÃO DE UMA NOVA ESPÉCIE DE HYMENOEPIMECIS VIERECK (HYMENOPTERA, ICHNEUMONIDAE, PIMPLINAE) PARASITÓIDE DE Leucauge Roseosignata Sobczak J.F. 1. Loffredo. A.P.S. 1 Gonzaga M.O. 2 Pentado-Dias. A.M.M. 2 1 Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brazil. jobczak@gmail.com, ap_loffredo@yahoo.com.br 2 Dept. de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brazil. angelica@power.ufscar.br, mogonzaga@yahoo.com.br RESUMO Neste trabalho é descrita uma nova espécie do gênero Hymenoepimecis (Hymenoptera, Ichneumonidae, Pimplinae) parasitóide da aranha Leucauge roseosignata (Tetragnathidae). São descritas também as modificações da teia do hospedeiro promovidas pela larva do parasitóide. Este é o segundo caso conhecido de alterações comportamentais de hospedeiros em Leucauge por vespas do gênero Hymenoepimecis, e o primeiro caso descrito no Brasil. O padrão de teia modificada é muito semelhante ao encontrado na espécie previamente observada na Costa Rica, Leucauge argyra, atacada por H. argyraphaga. Essa constatação indica que a indução da construção do tipo específico de teia usado para a sustentação da pupa não é um caso isolado dentro do gênero Hymenoepimecis e pode ser importante para a sobrevivência das pupas em casos onde a teia original do hospedeiro não possui a estrutura e resistência apropriadas. ABSTRACT In this study we describe a new species of Hymenoepimecis (Hymenoptera, Ichneumonidae, Pimplinae) parasitoid of the spider Leucauge roseosignata (Tetragnathidae). We also describe the host web modifications induced by the parasitoid larva. This is the second case of behavioral alterations in Leucauge induced by a species of Hymenoepimecis, and the first case in Brazil. The structure of the modified web is very similar of the pattern previously observed in the species from Costa Rica, Leucauge argyra, attacked by H. argyraphaga. This observation indicated that the induction of the specific type of web used to hold the cocoon is not an isolated case within Hymenoepimecis, and it could be important to assure the survivorship of the pupae when the original host web offers an inappropriate structure and/or resistance.

2 78 INTRODUÇÃO O gênero Hymenoepimecis Viereck 1912 é atualmente constituído por nove espécies, apresentando distribuição inteiramente Neotropical (Gauld 2000). Todas as espécies são ectoparasitóides cenobiontes de aranhas orbitelas adultas das famílias Araneidae, Tetragnathidae e Nephilidae (Gauld & Dubois, 2006). As interações comportamentais entre a maioria das espécies de Hymenoepimecis e seus hospedeiros, e em vários casos mesmo a identidade desses hospedeiros, são desconhecidas. Existem informações detalhadas apenas sobre as interações entre H. robertsae e Nephila clavipes (Nephilidae), na Costa Rica (Fincke et al. 1990), H. argyraphaga e Leucauge argyra, também na Costa Rica (Eberhard 2000a, b, 2001) e, recentemente, Gonzaga & Sobzack (2007) descreveram as interações entre uma nova espécie de Hymenoepimecis e Araneus omnicolor (Araneidae), no Brasil. Gonzaga & Sobzak (2007) observaram que as teias de A. omnicolor que contém pupas de Hymenoepimecis apresentam a redução da parte orbicular, o que atribuíram ao possível estado debilitado das aranhas ou a alterações comportamentais promovidas diretamente pelo parasitóide. Essa última possibilidade já havia sido proposta por Eberhard (2000b, 2001) para explicar a teia modificada construída por indivíduos de Leucauge argyra parasitados por H. argyraphaga. Esse trabalho teve como objetivos a descrição de uma nova espécie de Hymenoepimecis, parasitóide de uma aranha da família Tetragnathidae, e da modificação da teia do hospedeiro induzida pela larva do parasitóide. MATERIAL E MÉTODOS As pupas do parasitóide Hymenoepimecis sp.n. foram coletadas em teias de Leucauge roseosignata em Julho de 2006 e março de A área onde foram coletados os exemplares é a Serra do Japi (23º 15 S, 46º 57 W), um fragmento de floresta subtropical localizado no município de Jundiaí, SP. A descrição da nova espécie foi feita seguindo Gauld (1991). O holótipo foi depositado na coleção do DEBE (DCBU) da UFSCar e testemunhos do hospedeiro foram depositados no Instituto Butantan, São Paulo. SP. RESULTADOS E DISCUSSÃO Hymenoepimecis sp. nov. (Figs. 1-5) Tipos. - Holótipo: fêmea coletada na Serra do Japi, Jundiaí, São Paulo, Brasil em 17. VII. 2006, Gonzaga. M.O e Sobczak. J.F col.. Parátipo: fêmea coletada na mesma localidade em 15.III.2007, Gonzaga. M.O e Sobczak. J.F col.

3 79 Descrição. Fêmea (holótipo): Comprimento do corpo: 9.2 mm, asa anterior: 8.9 mm, antena com 36 segmentos, face alongada, 0.7 tão alta quanto larga, lisa e com pelos esparsos na face, com dois sulcos rasos na porção mediana, cabeça em vista dorsal com gena longa, ocelo posterior distante dos olhos por 0.4 vezes seu próprio diâmetro. Distância da tegula até a cabeça de aproximadamente 0.7 a distância da tegula até a margem posterior do propódeo, escutelo em perfil convexo, mesopleura lisa e polida, ventralmente com pelos finos e esparsos, propódeo liso e polido com pelos esparsos, com carena lateral longitudinal presente apenas posteriormente, carena submetapleural ausente. Asa anterior com nervuras Cu-a intersticial à base de Rs & M, 2 rs-m com aproximadamente 0.5 tão longo quanto a abscissa de M entre 2rsm e 2m-cu, nervura 3rs-m ausente. Asa posterior com a abscissa Cu1 mais ou menos eqüidistante entre M e 1A. Perna posterior com tíbia mais tarsos 0.5 vezes o comprimento da asa anterior. Tergito I 0.6 tão longo quanto sua largura posterior, presença de carena lateral somente na região anterior; esternito I com uma pequena protuberância arredondada, tergitos de I V lisos com pelos esparsos nas laterais dos tergitos. Ovipositor 0.9 tão longo quanto à tíbia. Cabeça com coloração preta, peças bucais amarelas exceto extremidade da mandíbula. Mesossoma amarelo, metassoma com os tergitos de I-V anteriormente castanho e tergitos VI,VII,VIII predominantemente enegrecidos. Ovipositor castanho, com bainhas pretas. Primeiro e segundo pares de pernas amarelas, as pernas posteriores castanhas com a base da coxa e da tíbia marrom claro. Asa anterior fusco com pterostigma castanho. Macho: Desconhecido Diagnose. - Hymenoepimecis sp.nov. assemelha-se a Hymenoepimecis cameroni (Townes, 1966) por conter as asas anteriores e pterostigma uniformemente fuscos, mas diferencia-se na coloração das pernas. Em H. cameroni os dois primeiros pares de pernas são avermelhados e em Hymenoepimecis sp. n. são amarelos. História Natural. - Os dois exemplares de Hymenoepimecis sp.nov. foram coletados em teias modificadas de Leucage roseosigmata. A modificação da teia do hospedeiro provavelmente seja induzida pela inoculação de alguma substância pela larva, assim como previamente descrito na interação entre H. argyraphaga e Leucauge argyra (veja Eberhard 2000a,b, Eberhard 2001). A teia que sustenta o casulo apresenta apenas três raios, formados por muitos fios, e nenhuma espira (Figs 6-12). O casulo fica preso ao ponto de intersecção desses raios, suspenso por um fio. Esse arranjo deve conferir maior estabilidade à teia e evitar a ocorrência de interceptação de insetos, o que poderia danificar a estrutura da teia e derrubar o casulo. Este é o segundo caso descrito de modificação comportamental de hospedeiros por vespas do gênero Hymenoepimecis, mas é possível que o fenômeno seja comum e importante para a sobrevivência das pupas. Distribuição. - Conhecido apenas da localidade tipo.

4 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS EBERHARD, W. G. 2000a. The natural history and behavior of Hymenoepimecis argyraphaga (Hymenoptera: Ichneumonidae) a parasitoid of Plesiometa argyra (Araneae, Tetragnathidae). Journal of Hymenopteran Research 9: EBERHARD, W.G. 2000b. Spider manipulation by a wasp larva. Nature 406: EBERHARD, W.G Under the influence: webs and building behavior of Plesiometa argyra (Araneae, Tetragnathidae) when parasitized by Hymenoepimecis argyraphaga (Hymenoptera, Ichneumonidae). Journal of Arachnology 29: FINCKE O.M., HIGGINS L. & ROJAS E Parasitism of Nephila clavipes (Araneae, Tetragnathidae) by an ichneumonid (Hymenoptera, Polysphinctini) in Panama. Journal of Arachnology 18: GAULD, I.D. & DUBOIS, J Phylogeny of the Polysphincta group of genera (Hymenoptera: Ichneumonidae; Pimplinae): a taxonomic revision of spider ectoparasitoids. Systematic Entomology 31: GONZAGA M.O. & SOBCZAK J.F Parasitoid-induced mortality of Araneus omnicolor (Araneae, Araneidae) by Hymenoepimecis sp. (Hymenoptera, Ichneumonidae) in southeastern Brazil. Naturwissenschaften 94:

5 Figuras. 1-5: 1. Vista dorsal de fêmea de H. sp. nov.; 2. Asas anterior e posterior; 3. Metassoma (vista dorsal); 4. Metassoma (protuberância arredondada ventral- seta); 5. Cabeça, com sulcos frontais rasos, 6. Teia normal de L. roseosigmata; 7. Fêmea de L. roseosigmata com uma larva do parasitóide presa ao abdome (seta); 8. Larva de terceiro instar consumindo a aranha após a construção da teia modificada; 9. Larva presa ao centro da teia após consumir a aranha; 10. Teia modificada com apenas três raios; 11. Detalhe mostrando o número de fios que compõe cada um dos raios e o ponto de fixação dos fios à vegetação; 12. Detalhe do centro da teia alterada. 81