UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO MARIANA CUNHA DE ANDRADE ALIENAÇÃO PARENTAL E O SISTEMA DE JUSTIÇA BRASILEIRO

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1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DE RIBEIRÃO PRETO MARIANA CUNHA DE ANDRADE ALIENAÇÃO PARENTAL E O SISTEMA DE JUSTIÇA BRASILEIRO RIBEIRÃO PRETO - SP 2016

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3 MARIANA CUNHA DE ANDRADE ALIENAÇÃO PARENTAL E O SISTEMA DE JUSTIÇA BRASILEIRO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo como requisito parcial para a obtenção de título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Nojiri RIBEIRÃO PRETO - SP 2016

4 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

5 Nome: ANDRADE, Mariana Cunha de Título: Alienação Parental e o Sistema de Justiça Brasileiro Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo como requisito parcial para a obtenção de título de Bacharel em Direito. Aprovado em: Banca Examinadora Prof.(a) Dr.(a) Instituição: Julgamento: Assinatura: Prof.(a) Dr.(a) Instituição: Julgamento: Assinatura: Prof.(a) Dr.(a) Instituição: Julgamento: Assinatura: Ribeirão Preto, de de 2016.

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7 AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Denise e Eduardo, por realizarem todos os meus sonhos e por apoiarem todas as minhas escolhas. Ao meu namorado e melhor amigo, Beto, por ser minha inspiração e pela valiosa contribuição na realização deste trabalho. Ao meu professor e orientador Sérgio Nojiri, pela atenção, confiança e pela amizade desde o início desta graduação. Às minhas amigas e companheiras acadêmicas Isabella Karollina, Isabela Palmer e Daniela Pasquarelli por estarem sempre ao meu lado durante todos esses anos. Aos meus amigos e professores do Mackenzie de quem tenho grande admiração e ótimas lembranças. A todos os professores, amigos, colegas e funcionários da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto que, de alguma forma, enriqueceram minha caminhada acadêmica.

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9 What s your favorite Woody Allen movie? Before you answer, you should know: when I was seven years old, Woody Allen took me by the hand and led me into a dim, closet-like attic on the second floor of our house. He told me to lay on my stomach and play with my brother s electric train set. Then he sexually assaulted me. He talked to me while he did it, whispering that I was a good girl, that this was our secret, promising that we d go to Paris and I d be a star in his movies. I remember staring at that toy train, focusing on it as it traveled in its circle around the attic. To this day, I find it difficult to look at toy trains. (Dylan Farrow) Of course, I did not molest Dylan. I loved her and hope one day she will grasp how she has been cheated out of having a loving father and exploited by a mother more interested in her own festering anger than her daughter s well-being. Being taught to hate your father and made to believe he molested you has already taken a psychological toll on this lovely young woman (...). No one wants to discourage abuse victims from speaking out, but one must bear in mind that sometimes there are people who are falsely accused and that is also a terribly destructive thing. (Woody Allen)

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11 RESUMO O presente trabalho busca, de maneira introdutória, traçar um panorama a respeito da Alienação Parental a partir de análises doutrinárias, a fim de trazer uma breve contextualização histórica que ressalta a atribuição do papel de cuidadora à mãe, e busca compreender a questão da primazia materna estabelecida por uma construção sociocultural dos papéis parentais e das relações de gênero. Ademais, busca-se apresentar diversas definições e incertezas acerca do termo Síndrome da Alienação Parental, proposto pelo Dr. Richard Alan Gardner, a partir de uma revisão da literatura nacional e internacional, bem como suas características e formas de manifestação nos sujeitos envolvidos. Também, o trabalho analisa as falsas alegações e a implantação de falsas memórias de abuso sexual, como instrumentos típicos da Síndrome da Alienação Parental, à luz do direito e da psicologia. Estuda-se o que são falsas memórias, como elas se formam e como podem afetar a identidade das pessoas e prejudicar, em uma última análise, a realização da justiça. Como objetivo principal, o trabalho discute, empiricamente, o papel do Judiciário na resolução dos conflitos envolvendo o tema. Como o Poder Judiciário encara as alegações de alienação parental ou de abuso sexual? Qual é o sexo predominante dos genitores alienadores? Quais os atos de alienação parental que são alegados pelas partes? Quais medidas os magistrados tomam para que a alienação parental seja evitada ao máximo? Para que se possa entender o fenômeno da alienação parental para além dos livros, a pesquisa empírica se mostra item indispensável. Para tanto, é feita uma coleta de dados sobre todos os casos reais envolvendo alienação parental nos Tribunais de Justiça de São Paulo e de Minas Gerais, entre os anos de 2009 e Trata-se, portanto, de um estudo demográfico e empírico quantitativo que trará um panorama das ações que envolvem o tema do fenômeno da Alienação Parental. Por fim, o trabalho apresenta algumas possíveis soluções para o problema da alienação parental, envolvendo a mediação, a guarda compartilhada e a elaboração de planos parentais. Palavras chave: Síndrome da Alienação Parental; Alienação Parental; Falsas Memórias; Pesquisa Empírica; Análise jurisprudencial.

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13 ABSTRACT In an introductory way, this research aims to give an overview about Parental Alienation from doctrinal analysis, in order to bring a brief historical background that underscores the attribution of the caregiver role to the mother, and tries to understand the issue of maternal primacy established by a sociocultural construction of parental roles and gender relations. In addition, it seeks to present several definitions and uncertainties for the term Parental Alienation Syndrome, proposed by Dr. Richard Alan Gardner, from a review of national and international literature, as well as its characteristics and forms of manifestation in the subjects involved. Also, the paper analyzes the false claims and the implementation of false memories of sexual abuse, as typical instruments of Parental Alienation Syndrome, under law and psychology. It studies what are false memories, how they are formed and how they affect people s identity and harm, in a final analysis, the realization of justice. As its main purpose, the paper empirically discusses the judiciary's role in conflict resolution involving the theme. How the judiciary faces the allegations of parental alienation or of sexual abuse? What is the predominant gender of alienating parents? What acts of parental alienation are alleged by the parties? Which measures the magistrates take to avoid parental alienation? To be able to understand the phenomenon of parental alienation in addition to the books, empirical research appears to be an indispensable item. For this purpose, a data collection is made on all actual cases concerning parental alienation in the Courts of Justice of São Paulo and Minas Gerais, between the years of 2009 and It is, therefore, a demographic and empirical quantitative study that will give an overview of lawsuits involving the Parental Alienation phenomenon. Finally, the paper presents some possible solutions to the problem of parental alienation, involving mediation, shared custody and the development of parenting plans. Key words: Parental Alienation Syndrome; Parental Alienation; False Memories; Empirical Research; Case Law Analysis.

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15 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Palavra-chave no site do TJSP FIGURA 2 - Palavra-chave no site do TJMG FIGURA 3 - Gráfico da triagem de resultados FIGURA 4 - Gráfico da quantidade de casos envolvendo alienação parental por ano e por estado FIGURA 5 - Gráfico da frequência com que aparece o termo alienação parental em cada tipo de ação FIGURA 6 - Gráfico a respeito da frequência da realização de perícia multidisciplinar FIGURA 7 - Gráfico a respeito do sexo do suposto alienador FIGURA 8 - Gráfico a respeito do sexo do genitor guardião FIGURA 9 - Gráfico do comparativo entre o sexo do suposto alienador e a veracidade das alegações FIGURA 10 - Gráfico dos atos alienatórios alegados pelas partes FIGURA 11 - Gráfico da frequência com que as partes alegam a existência de alienação parental Figura 12 - Gráfico a respeito da frequência com que a alienação parental é identificada pelo magistrado FIGURA 13 - Gráfico das razões pelas quais os magistrados não identificaram a existência de alienação parental FIGURA 14 - Gráfico a respeito do sentido em que a alienação parental foi citada no caso.. 94 FIGURA 15 - Gráfico da frequência com que há alegações de abuso sexual FIGURA 16 - Gráfico da frequência com que as alegações de abuso sexual são comprovadas na decisão... 97

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17 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - Os sete pecados da memória QUADRO 2 - Diferenças entre o real e o falso abuso sexual QUADRO 3 - Medidas tomadas pelos magistrados nos casos em que a alienação parental foi identificada QUADRO 4 - Medidas tomadas pelos magistrados nos casos em que a alienação parental não foi identificada

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19 LISTA DE SIGLAS SAP Síndrome da Alienação Parental LAP Lei da Alienação Parental TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo TJMG Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJES Tribunal de Justiça do Espírito Santo TJRJ Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro STJ Superior Tribunal de Justiça DSM-5 Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais - 5ª edição.

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21 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO METODOLOGIA A (SÍNDROME) DA ALIENAÇÃO PARENTAL CONTEXTO HISTÓRICO DEFINIÇÕES ALIENAÇÃO PARENTAL E SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL CONTROVÉRSIAS ACERCA DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL REFLEXOS DA ALIENAÇÃO PARENTAL Nos Filhos No Genitor Alienador No Genitor Alienado A IMPLANTAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS A FORMAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS A FALSA DENÚNCIA DE ABUSO SEXUAL E IMPLANTAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS COMO PRÁTICAS DE ALIENAÇÃO DIFERENCIAÇÃO ENTRE O REAL ABUSO E A FALSA MEMÓRIA ANÁLISE JURISPRUDENCIAL E DISCUSSÃO QUANTIDADE DE AÇÕES POR ANO E POR ESTADO TIPO DA AÇÃO PERÍCIA MULTIDISCIPLINAR SEXO ATOS ALIENATÓRIOS FOI ALEGADA ALIENAÇÃO PARENTAL PELAS PARTES? A ALIENAÇÃO PARENTAL FOI IDENTIFICADA PELOS MAGISTRADOS NA DECISÃO?... 92

22 5.8 SE A ALIENAÇÃO PARENTAL NÃO FOI IDENTIFICADA PELOS MAGISTRADOS E NÃO FOI ALEGADA PELAS PARTES, EM QUE SENTIDO ELA FOI CITADA? ALEGAÇÕES DE ABUSO SEXUAL MEDIDAS TOMADAS PELOS MAGISTRADOS POSSÍVEIS SOLUÇÕES PARA A ALIENAÇÃO PARENTAL MEDIAÇÃO E INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA GUARDA COMPARTILHADA PLANOS DE PARENTALIDADE CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS

23 21 1. INTRODUÇÃO A Síndrome da Alienação Parental (SAP), termo cunhado nos Estados Unidos, na década de 1980, pelo Dr. Richard Alan Gardner, é um problema que tem recebido destaque nos debates sobre direito de família, devido à recente Lei nº /2010, que em seu art. 2º, define a alienação como sendo uma "interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este". Dentre outras matérias, a citada Lei estabelece a reprovação estatal à conduta alienadora e fornece ao julgador elementos para identifica-la e repreendê-la. Em linhas simples, trata-se de um fenômeno que, geralmente, surge em situações de graves conflitos familiares, em que se verifica a tentativa de um genitor de afastar o outro da convivência familiar com os filhos, por meio de estratégias e artifícios que são próprios da conduta alienadora. É resultante da combinação entre a programação de um genitor e as contribuições do próprio filho visando a depreciação e o consequente alijamento do outro genitor. No cenário conflituoso de uma dissolução do vínculo conjugal, marcado por disputas envolvendo guarda dos filhos menores e direito a visitas, é possível que os filhos sejam vítimas da manipulação e doutrinação de um dos genitores, que se aproveita da vulnerabilidade das crianças para se vingar do ex-cônjuge e distanciá-lo da convivência familiar com seus filhos. Aproveitando-se do fato de que, normalmente, crianças são mais sugestionáveis, o genitor alienador pode até mesmo implantar falsas memórias de situações que jamais ocorreram, mediante falsas acusações de agressões físicas, psicológicas ou, até mesmo, sexuais. Muito se estudou sobre a recente lei /2010, com inúmeros artigos, dissertações e livros publicados a respeito. Entretanto, não existe na literatura nacional nenhuma análise jurisprudencial que sistematize a questão sobre como os tribunais brasileiros entendem a alienação parental. Sendo assim, a presente pesquisa pretende: (i.) identificar a síndrome da alienação parental, destacando seu contexto histórico, suas definições, controvérsias e efeitos sobre os envolvidos; (ii.) analisar a formação e a implantação das falsas memórias, enfatizando a questão

24 22 das falsas denúncias de abuso sexual como ato alienatório; e, por fim, (iv.) evidenciar como o tema é tratado no Brasil, por meio da análise da visão dos Tribunais de Justiça de São Paulo e de Minas Gerais a respeito da Alienação Parental, mediante o exame de casos jurisprudenciais. Dessa forma, no primeiro capítulo traça-se um panorama do tema, a partir de uma breve contextualização histórica que ressalta a atribuição à mãe do papel de cuidadora e a questão da primazia materna estabelecida por uma construção sociocultural dos papéis parentais e das relações de gênero. Ainda nessa etapa, apresenta-se diversas definições para o termo Síndrome da Alienação Parental, inicialmente proposto por Richard Alan Gardner, a partir de uma revisão da literatura nacional e internacional, bem como suas características e formas de manifestação nos sujeitos envolvidos. Além disso, busca-se entender a diferença entre os termos Alienação Parental e Síndrome da Alienação Parental, que muito embora sejam conceitos complementares, cujos sintomas são semelhantes, não se confundem. Entende-se como alienação parental propriamente dita, qualquer situação em que uma criança seja alijada de seu genitor. Podendo ser causada por diversas situações, como negligência, mau exercício da parentalidade ou abandono, por exemplo. Entretanto, a doutrinação permanente de uma criança por um dos genitores para que se odeie e se afaste do outro ao ponto que até a própria criança passa a contribuir espontaneamente com a difamação deste genitor, é tratada como síndrome da alienação parental. Ainda nesta primeira etapa, a pesquisa também salienta as controvérsias acerca do tema, especialmente no que diz respeito à sua caracterização como uma patologia, já que oficialmente a SAP não é considerada uma síndrome médica válida, pois não foi incluída na última atualização, feita em 2013, do Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-5), que lista diferentes categorias de transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los, elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria. Cabe ressaltar que este trabalho é desenvolvido a partir de uma abordagem eminentemente jurídica, entretanto, tendo em vista a inevitável multidisciplinariedade que o tema exige, também é tratado a partir de uma visão psicológica, buscando entender sua relação com a questão da implantação de falsas memórias. No segundo capítulo, são analisadas as falsas alegações de abuso sexual e a implantação de falsas memórias, como instrumentos da síndrome da alienação parental, à luz do direito e da

25 23 psicologia. Estuda-se o que são falsas memórias, como elas são formadas e como podem afetar a identidade das pessoas e prejudicar, em uma última análise, a realização da justiça. Para tanto, se mostra relevante a diferenciação entre os casos reais de abuso e aqueles em que há implantação de falsas memórias, a partir da identificação de indícios comportamentais nos sujeitos envolvidos que demonstram a presença da síndrome da alienação parental. Na etapa empírica, a pesquisa se vale da análise jurisprudencial de decisões dos Tribunais de Justiça de São Paulo (TJSP) e de Minas Gerais (TJMG), visando investigar as particularidades em relação ao tema. Realizou-se um estudo demográfico e empírico das ações que envolvem o problema da Alienação Parental, no intuito de entender o comportamento das partes nessas situações e de demonstrar como o Direito tem sido aplicado. Cabe ressaltar que o acesso integral aos autos é ainda restrito, uma vez que a penetração do processo eletrônico (Lei /2006) é ainda exígua. Desta forma, foram analisadas apenas decisões de segunda instância (e não a integralidade dos autos) cujos processos foram objeto de apelação ou de agravo de instrumento. Nesta etapa buscou-se fazer uma sistematização da visão do judiciário e das partes no que concerne alguns aspectos fundamentais de uma ação que envolve a alienação parental, como: em quais tipos de ação é mais frequente o aparecimento de alegações a respeito da ocorrência de alienação parental, a frequência com que há determinação de perícia multidisciplinar para investigar aspectos fundamentais à solução do problema, o sexo que supostamente aliena mais, a frequência com que cada ato alienatório aparece nas acusações, a frequência com que aparecem acusações de abuso sexual, bem como a frequência com que essas acusações são consideradas verdadeiras, as medidas tomadas pelos magistrados nos casos em que foi identificada a presença de alienação parental e nos casos em que ela não foi identificada. Enfim, foram analisadas diversas questões a respeito do comportamento das partes e dos profissionais do direito envolvidos em situações em que, de alguma forma, há a presença da SAP, seja como uma acusação infundada de uma das partes contra a outra, como uma simples advertência do magistrado quanto à sua possível instalação, ou como uma prática efetivamente reconhecida pelo magistrado como presente no caso, por exemplo. Por fim, no último capítulo, baseando-se no que foi apresentado ao longo desta pesquisa, foram elaboradas as considerações finais com uma análise crítica dos resultados obtidos e uma proposta para solucionar, ou ao menos minimizar, o problema da alienação parental.

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27 25 2. METODOLOGIA O fenômeno da Alienação Parental, em princípio, é explorado por meio de uma análise doutrinária a fim de investigar suas características e consequências, considerando a implantação de falsas memórias envolvendo o abuso sexual como um de seus instrumentos. Cabe salientar que a pesquisa foi realizada tanto no campo jurídico, como no campo da psicologia, tendo em vista o caráter interdisciplinar do projeto. Em um segundo momento, a pesquisa se vale das decisões dos Tribunais de Justiça de São Paulo (TJSP) e de Minas Gerais (TJMG), visando realizar uma investigação das particularidades em relação a esse tema. Trata-se, na verdade, de um estudo demográfico e empírico das ações que envolvem o tema do fenômeno da Alienação Parental. Cabe ressaltar que o acesso integral aos autos, é ainda restrito uma vez que a penetração do processo eletrônico (Lei /2006) ainda é exígua. Desta forma, serão analisadas apenas as decisões de segunda instância cujos processos foram objeto de apelação e de agravo de instrumento. Inicialmente, antes da formatação definitiva da metodologia para a pesquisa empírica, foi realizada uma pesquisa superficial de caráter exploratório, visando compreender melhor a dinâmica das ações que envolvem o tema para determinar com precisão os cortes metodológicos e a combinação de palavras-chave. A pesquisa se deu nos websites dos Tribunais de Justiça de todos os estados do país, nas páginas referentes à busca de jurisprudência. A pesquisa exploratória foi útil em alguns pontos, pois, a princípio, esperava-se que a análise seria realizada a partir das decisões dos Tribunais de Justiça de todo o Brasil sobre o tema. Entretanto, optou-se por realizar uma análise mais contida, apenas nos estados da região Sudeste do Brasil. Isto porque a busca do termo alienação parental no ementário das decisões de todos os Tribunais de Justiça do país gerou um total de 533 resultados. Além disso, metodologicamente, uma pesquisa empírica de decisões judiciais não é tarefa padronizada e simples decorrência principalmente do fato de que não há unificação ou padronização na administração dos diferentes Tribunais de Justiça do país. Consequentemente, cada Tribunal de Justiça traz seu website próprio e é responsável por manter suas próprias bases de dados, o que gerou inúmeras dificuldades práticas. Portanto, haja vista a disponibilidade de tempo e de recursos para a realização desta pesquisa, não seria possível empreender a exploração precisa e

28 26 acurada em todos esses resultados sem comprometer a qualidade das análises. Fez-se, então, o primeiro corte, espacial, para os Tribunais da região sudeste. Infelizmente, outras dificuldades iniciais surgiram na pesquisa exploratória. Não foi possível a realização da pesquisa nos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Não há como acessar o inteiro teor das decisões no website do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), por um erro no sistema, pois ao se tentar abrir o número do processo para visualizar o inteiro teor de qualquer decisão, aparece a seguinte mensagem: Nenhuma jurisprudência encontrada com os termos pesquisados. Em relação ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), do total de 20 resultados encontrados em seu website, apenas uma única decisão não era protegida pelo segredo de justiça, o que inviabilizou a análise das tendências desse Tribunal quanto ao tema proposto. Dessa forma, optou-se por restringir a amostra apenas aos estados de São Paulo e Minas Gerais, o que resultou em um número satisfatório de 100 decisões, desde 2009 até Não foi encontrada nenhuma decisão anterior ao ano de 2009 nos estados de São Paulo e Minas Gerais, o que prejudicou, de certa forma, outra intenção preliminar desta pesquisa de que o corte temporal fosse a partir de 2003 (após a entrada em vigor do Código Civil de 2002), até o final de 2014, de modo a fazer uma análise comparativa da quantidade de ações antes e após a entrada em vigor da Lei da Alienação Parental, em Visando uma otimização dos resultados da pesquisa, definiu-se que a melhor palavrachave a ser buscada nos campos de pesquisa dos websites do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) seria alienação parental, com a ressalva de que o termo seria buscado apenas nas ementas das decisões. A razão para essa escolha foi que, além de resultar em um número satisfatório de decisões, buscar este termo apenas na ementa fez com que as decisões resultantes tratassem, na grande maioria das vezes, da alienação parental como assunto principal. Ademais, o termo alienação parental abarcaria também os resultados que se referissem ao fenômeno como síndrome da alienação parental. Assim, foi possível obter resultados mais precisos para a pesquisa. A seguir, as Figuras 1 e 2 ilustram os campos pesquisados.

29 27 FIGURA 1 - Palavra-chave no site do TJSP Fonte: Website do Tribunal de Justiça de São Paulo FIGURA 2 - Palavra-chave no site do TJMG Fonte: Website do Tribunal de Justiça de Minas Gerais É importante destacar que o acesso às informações processuais no Judiciário não é totalmente transparente, tendo em vista que não se sabe exatamente como se dá a metodologia de indexação e nem como são gerados os resultados da pesquisa pela Internet. Conforme Fabia Fernandes Carvalho Veçoso, et. al (2014, p ), mediante pesquisa nas páginas

30 28 eletrônicas dos Tribunais Superiores, observa-se que o número de decisões que aparecem nas pesquisas não contemplam a totalidade das decisões existentes e nem todas as decisões estão disponíveis na íntegra e, muitas vezes, as ferramentas de busca disponíveis não são precisas. Portanto, as decisões disponíveis ao público nos websites dos Tribunais Superiores consistem em uma amostra do total de casos decididos. Sendo assim, como limitação desta pesquisa, devese levar em consideração que o número de decisões analisadas pode ser menor do que o número real de ações propostas nos Tribunais de São Paulo e Minas Gerais, pois provavelmente a mesma situação descrita ocorre nos Tribunais Inferiores, se considerarmos que o sistema de indexação é análogo ao dos Tribunais Superiores. A etapa referente à triagem dos resultados obtidos nos websites do TJSP e do TJMG consistiu em selecionar apenas apelações e agravos de instrumento, tendo em vista que embargos de declaração, embargos infringentes ou quaisquer outros recursos e ações não possuíam tantas informações de mérito suficientemente relevantes em relação às variáveis analisadas. Ademais, os dados foram tratados e triados para evitar a possibilidade de análise de mais de um recurso de uma mesma ação. Acrescenta-se que, por razões óbvias, foram desconsideradas ações protegidas por segredo de justiça, bem como as decisões que não julgavam o mérito. Mediante a análise do inteiro teor de cada uma das decisões, também foram eliminadas aquelas que não tratavam do tema "alienação parental", mesmo que contivessem a palavra-chave de busca em sua ementa, ou seja, eliminou-se as decisões cujo mérito não estava de acordo com o assunto da presente pesquisa. Nesta triagem foram eliminadas 17 decisões. As razões para exclusão foram: (i) os recursos não se tratavam de apelações ou agravos, mas sim de outros tipos de recursos como embargos de declaração, embargos infringentes e conflito de competência (4 decisões); (ii) tratavam-se de decisões repetidas (5 decisões); (iii) não houve análise do mérito (2 decisões); (iv) o mérito não estava de acordo com o assunto da presente pesquisa (6 decisões). Portanto, com a eliminação de 17 decisões, a amostra total de decisões para a pesquisa foi de 83 resultados válidos, conforme ilustra a Figura 3, abaixo.

31 29 FIGURA 3 - Gráfico da triagem de resultados Triagem de resultados 17% 83% Resultados Válidos Resultados Inválidos Fonte: Dados da pesquisa Por fim, após a finalização da etapa de triagem dos acórdãos, passou-se para a definição das variáveis a serem analisadas. A composição de variáveis foi pensada de modo a obter a maior uniformidade dos resultados possível, levando em consideração que as ações envolvendo questões de direito de família, apesar de muitas vezes possuírem o mesmo pedido, como guarda dos filhos, regulamentação de visitas ou divórcio, por exemplo, possuem muitas particularidades que as singularizam e dificultam uma padronização. Além do fato de que as decisões são elaboradas por diferentes magistrados, que escrevem suas decisões da forma que entendem ser a mais adequada, dando relevância a aspectos que lhe parecem mais importantes e utilizando os elementos que acreditam ser mais pertinentes para justificar sua decisão. Dessa forma, muitas vezes, aspectos encontrados em algumas decisões, não aparecem em outras, como por exemplo a identificação do genitor que tem a guarda dos filhos ou se houve ou não participação de peritos para auxiliar na solução do conflito. As variáveis definidas para a pesquisa foram: 1. Ano do julgamento 2. Estado 3. Tipo da ação 4. Houve auxílio de profissionais de fora do judiciário até o momento? 5. Sexo do suposto alienador 6. Sexo do genitor guardião

32 30 7. Atos alienatórios identificados. 8. Foi alegada alienação parental pelas partes? 9. A alienação parental foi identificada pelos magistrados na decisão? 10. Razões pelas quais entendeu-se pela não existência de alienação parental. 11. Se a alienação não foi identificada na decisão e não foi alegada pelas partes, em que sentido ela foi citada? 12. Houve alegações de abuso sexual? 13. Foi comprovada a existência de abuso sexual? 14. Medidas tomadas pelos magistrados. Algumas das variáveis elencadas foram trabalhadas mediante a combinação destas com outras, de maneira a enriquecer as informações. Por exemplo, ao combinarmos a variável ano do julgamento (variável 1) com a variável estado (variável 2), podemos calcular quantas ações foram julgadas por ano em cada um dos estados da pesquisa. Outro exemplo é a combinação da variável sexo do suposto alienador (variável 6) com a variável a alienação parental foi identificada pelos magistrados na decisão? (variável 9), em que se pode fazer um comparativo entre o sexo do suposto alienador e a veracidade das alegações.

33 31 3. A (SÍNDROME) DA ALIENAÇÃO PARENTAL 3.1 CONTEXTO HISTÓRICO O termo Síndrome da Alienação Parental (SAP) foi cunhado na década de 1980, pelo professor de psiquiatria infantil da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, Dr. Richard Alan Gardner, que atuou também como psiquiatra forense, avaliando famílias que passavam por situações de divórcio. Durante este período, Gardner observou um crescimento no número de crianças que apresentavam sentimentos acentuados de rejeição e hostilidade em relação a um dos genitores. As crianças passavam a repudiar e a rejeitar o pai ou a mãe, que antes era querido, sem que houvesse motivos reais ou justificáveis. Inicialmente, Gardner acreditou ser uma manifestação de lavagem cerebral, entretanto, por se tratar uma prática mais complexa, criou o termo síndrome da alienação parental para se referir a este distúrbio infantil, que se origina, principalmente, em contextos de disputa pela guarda e regulamentação de visitas de filhos (SOUSA, 2010). Apesar de o termo ter sido cunhado somente em meados de 1980, Mário Henrique Castanho Prado de Oliveira (2012, p. 100) acredita que a alienação parental existe desde que as dissoluções conjugais existem, pois, seu desenvolvimento é mais provável em uma situação de litígio. Acrescenta que o progressivo número de separações, principalmente as litigiosas, foi acompanhado por um - igualmente progressivo - aumento nas disputas pela guarda dos filhos. Inicialmente, no começo dos anos 1980, quando Gardner começou a examinar pacientes com SAP, observou que as mulheres tinham prevalência em relação aos homens no que se refere às práticas alienadoras, ou seja, as mães tinham mais probabilidade de praticar a alienação parental em seus filhos, do que os pais. Gardner especifica que em 85-90% de todos os casos estudados, a mãe era a genitora alienadora e o pai o genitor alienado. Entretanto, desde meados da década de 1990, Gardner relata que observou um aumento relevante no número de homens que induzem a SAP em seus filhos, ao ponto de a proporção ser de 50% dos casos. O psiquiatra acredita que uma das razões para esta mudança se deve ao fato de que os homens, atualmente, estão mais propensos a serem os cuidadores primários dos filhos, estabelecendo vínculos mais estreitos com eles. Dessa forma, por terem mais acesso às crianças, têm mais tempo e oportunidade para "programá-las". Ademais, com a difusão do conhecimento a respeito da SAP, mais homens estão aprendendo sobre as técnicas de alienação. Assim, Gardner altera sua

34 32 posição anterior sobre a prevalência das mães como indutoras da SAP e acrescenta que os principais fatores determinantes para se tornar um indutor da SAP são: acesso às crianças, severidade no processo de programação e superioridade financeira para contratar bons advogados e para atrair as crianças materialmente (GARDNER, 2002). Fazendo uma breve retrospectiva histórica para explicar a atribuição inicial do papel de cuidadora primária à mãe, Analicia Souza Martins (2010, p ), explica que nas sociedades contemporâneas ocidentais, ainda é comum a crença a respeito da existência de um instinto materno, que tornaria a mulher naturalmente predisposta para os cuidados infantis. A autora ressalta que tal exaltação da maternidade é algo relativamente recente, tendo em vista que durante os séculos XVII e XVIII, devido as condições precárias da época, era bastante elevada a taxa de mortalidade das crianças, portanto, o entendimento era de que as mães não deveriam se apegar aos filhos. Há quem entenda também que a alta mortalidade das crianças se devia justamente a este desapego e indiferença por parte das mães. Ademais, muitas vezes os filhos eram vistos como empecilho aos compromissos sociais das mulheres da nobreza, bem como ao trabalho e sustento da família, para as mulheres da classe trabalhadora. Entretanto, no final do século XVIII, com a ascensão da burguesia, ocorrem algumas mudanças na mentalidade da sociedade, pois com a nova ordem econômica, as pessoas são vistas como força de trabalho e fonte de riquezas para o Estado. Dessa forma, a proteção das crianças ganha importância e inicia-se uma verdadeira exaltação do amor materno como inato, como um valor social e moral, importante para a preservação da sociedade. Igualmente, iniciase, também, a exaltação da ideia de que a felicidade da mulher estaria intimamente relacionada à realização da maternidade. Nesse contexto, ao mesmo tempo em que há uma ascensão do papel de mãe da mulher, há um declínio gradativo do papel do pai, que pelo fato de lhe ser atribuído o dever de prover o sustento da família, é considerado um mero colaborador da mãe, tendo uma participação secundária na criação dos filhos (SOUSA, 2010, p ). Com base neste ideário de superioridade materna para a criação dos filhos, durante muito tempo, constatou-se a preferência dos tribunais pela atribuição da guarda unilateral dos filhos à mãe após a dissolução da sociedade conjugal, levando em consideração o fato de que as mães possuíam uma aptidão natural para o cuidado dos filhos. Nesse sentido, Tamara Brockhausen (2011, p. 15) descreve que, anteriormente, era preciso que os genitores do sexo masculino provassem uma séria incapacidade materna no

35 33 desempenho das funções parentais para que os tribunais considerassem a possibilidade de conceder a guarda dos filhos a eles. O princípio que norteava a atribuição da guarda era o princípio da presunção da tenra idade, por meio do qual as mães eram beneficiadas em relação à fixação da guarda por serem mais indicadas aos cuidados da criança na primeira infância. Contudo, no início do século XX, devido às transformações ocorridas na legislação, que passou a considerar o superior interesse da criança, a guarda deixou de ser automaticamente atribuída aos pais e passou-se a levar em consideração a capacidade parental, buscando certa igualdade jurídica entre os sexos quanto à atribuição da guarda dos filhos. Ademais, a popularidade da modalidade de guarda compartilhada, que estabelece uma ideia de corresponsabilidade entre os genitores pela criação dos filhos menores, também contribuiu para que a mãe deixasse de ser considerada como a principal referência no cuidado dos filhos. E foi dessa forma que a doutrina da presunção da tenra idade cedeu lugar para a doutrina do melhor interesse da criança e do adolescente (OLIVEIRA, 2012, p. 100). A respeito desta igualdade entre os sexos, a psicanalista Giselle Câmara Groeninga (2011, p. 89) explica que o equilíbrio dos poderes dentro da família se deve ao desenvolvimento e à prática do Princípio da Igualdade, que contribui para o relacionamento e convivência entre pais e filhos e, também, para a formação e efetiva realização dos Direitos da Personalidade dos membros da família. Ainda sobre a questão do Princípio da Igualdade, Mário Henrique Castanho Prado de Oliveira (2012, p. 15) entende ser um dos mais relevantes princípios constitucionais aplicáveis à família. Destaca que o homem e a mulher não são somente iguais entre si, mas também em relação aos filhos, sendo incogitável qualquer supremacia de um em relação ao outro. Portanto, percebe-se que, com a evolução da relação paterno-filial, houve uma maior proximidade e afetividade entre os filhos e o pai moderno que, após a dissolução da sociedade conjugal, busca a legitimação de seu papel de pai por meio do judiciário, demonstrando maior interesse no cuidado e criação dos filhos. Analicia Martins de Sousa (2010, p. 63) destaca que tal relação é chamada por alguns de nova paternidade. Entretanto, como consequência da mitigação da ideia da mulher como única e principal cuidadora dos filhos menores, houve um acelerado crescimento de disputas judiciais visando a concessão da guarda dos filhos em favor dos pais do sexo masculino, o que trouxe desvantagens para as mulheres, conforme relata Tamara Brockhausen (2011, p. 16). Sendo assim, as mães

36 34 que geralmente possuíam a guarda dos filhos, começaram a programá-los para serem seus aliados na disputa judicial e estes, como já estavam acostumados com a convivência materna, passaram a se posicionar em favor das mães, rejeitando e demonstrando aversão em relação ao outro genitor. Contudo, apesar das mudanças ocorridas nas relações de gênero, que proporcionaram uma maior igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres dentro da relação familiar, é necessário reconhecer que ainda é predominante a forma tradicional do exercício dos papéis parentais, verificando-se, até hoje a preferência materna na atribuição da guarda. Conforme o entendimento de Analicia Sousa Martins (2010, p ), os papéis sociais historicamente construídos para os homens e para as mulheres, permanecem até hoje no ideário social como sendo o destino natural de cada sexo. As mulheres são ensinadas desde novas a serem protetoras e a cuidarem da família e dos filhos e os homens, por sua vez, são ensinados a empreender, a competir e a prover para sua família, características estas que fazem parte de sua masculinidade. Dessa forma, ser pai não faz parte da identidade masculina ou de sua realização; a paternidade é uma função extra que lhe pode ser adicionada. Nesse sentido, a autora explica que, mesmo com a inclusão da ideia da importância da realização profissional e da independência feminina, a mulher ainda se vê como principal responsável pelos cuidados do lar e da família. A identidade feminina foi ampliada para abranger novas responsabilidades, havendo uma acumulação de funções. Sendo assim, para que haja uma efetiva igualdade de direitos entre os pais, é essencial que sejam tomadas providências, tanto no âmbito social e judicial, como também, no âmbito normativo, já que, muitas vezes, as leis ordinárias atribuem tratamentos díspares a homens e mulheres no âmbito familiar (SOUSA, 2010, p. 89; 161). Por este motivo, a autora entende que o comportamento de muitas mães guardiãs, consideradas como alienadoras segundo a teoria de Richard Gardner, pode ser "o resultado de uma produção discursiva e social que se estende ao longo dos séculos, e, hoje, é objetivada sob a designação de síndrome da alienação parental" (SOUSA, 2010, p. 161). Neste contexto de exaltação da maternidade como formadora da identidade da mulher, é de se esperar que ela reaja diante da ameaça de perder seu principal papel na família, como ocorre nas situações de litígio conjugal em que há disputa pela guarda dos filhos. Dessa forma, deve-se compreender que, muitas vezes, o comportamento da mãe visando impedir a

37 35 aproximação do pai com os filhos, não decorre, necessariamente de um transtorno psíquico ou de um comportamento patológico, mas sim, de uma tentativa de reconhecimento e de proteção de sua identidade, de seu espaço na sociedade familiar (VALENTE, 2012, p. 83). Giselle Câmara Groeninga (2011, p. 216) enfatiza que para a formação adequada da criança, é fundamental a presença do pai e da mãe, cujas funções parentais devem ser compreendidas como complementares. Contudo, a lógica judicial das ações de guarda, é centrada na competição, na oposição entre "ganhador e perdedor", "culpado e inocente" e parece não compartilhar desse entendimento a respeito da natureza das relações familiares, pois aquele a quem é atribuída a guarda é considerado como o ganhador, o inocente e o outro é o perdedor, o culpado. A autora entente que quando a SAP é utilizada segundo essa lógica, como uma artimanha para ganhar um processo judicial, a importância de sua identificação e solução acaba sendo deturpada DEFINIÇÕES Nesta pesquisa, buscou-se elencar as principais definições do termo síndrome da alienação parental, identificadas tanto na literatura nacional, quanto na internacional. Segundo, seu criador, Dr. Richard Alan Gardner (2002, p. 95), a SAP não pode ser adequadamente definida por meio dos termos lavagem cerebral, programação, ou qualquer outro equivalente, pois se configura não somente por meio da programação da criança por um dos pais para denegrir o outro, mas também inclui contribuições da própria criança visando apoiar a campanha de difamação iniciada pelo alienador. Sendo assim, segundo a definição dada por Gardner, a síndrome da alienação parental se trata de um distúrbio infantil que surge principalmente em um contexto de disputa pela guarda dos filhos e resulta da combinação entre a doutrinação (lavagem cerebral) feita por um pai programador e as contribuições espontâneas da própria criança para depreciar o genitor alvo. Entretanto, quando há verdadeiro abuso ou negligência dos pais, a aversão da criança é justificável e não pode ser explicada por meio da síndrome da alienação parental. Ana Carolina Carpes Madaleno e Rolf Madaleno (2013, p. 51) explicam que definir a SAP a apenas como uma lavagem cerebral, reduz a complexidade e sofisticação que o termo exige. O conceito de lavagem cerebral não inclui as contribuições espontaneamente oferecidas pela criança na campanha de difamação perpetrada pelo genitor alienador. E, além disso, muitas

38 36 vezes, as pessoas que sofrem lavagem cerebral, decidem voluntariamente participar ou não desta prática, enquanto na SAP as crianças sequer têm conhecimento do que ocorre. Em relação à nomenclatura utilizada, cabe esclarecer que o termo alienador é utilizado para se referir ao genitor que empreende práticas visando denegrir, vilificar e afastar o outro genitor do convívio familiar, que é denominado genitor alienado. Corroborando com o entendimento de Gardner, encontram-se diversos autores da literatura internacional, como o psicólogo forense Deirdre Conway Rand (1997, p ), que conceitua a síndrome da alienação parental como sendo uma reação característica da criança ao divórcio, que se une a um dos pais como uma forte aliada e inicia uma campanha difamatória injustificada e exagerada contra o outro genitor. Nos casos mais graves, o vínculo da criança com o genitor rejeitado, que antes era baseado no amor, é perdido. Richard A. Warshak (2001), psicólogo clínico e pesquisador americano, que escreveu a respeito das controvérsias relacionadas à síndrome da alienação parental, conceitua esta síndrome como sendo um distúrbio, cuja manifestação inicial é a injustificada campanha de difamação empreendida pela criança contra um dos genitores, sob a influência do outro genitor, combinada com contribuições da própria criança. Este autor apresenta, portanto, três elementos essenciais: campanha de rejeição ou difamação de um genitor, ou seja, episódios persistentes e não meramente ocasionais; rejeição injustificada, ou seja, a alienação não é uma reação razoável ao comportamento do genitor alienado; e surge como resultado da influência do genitor alienador. Segundo Warshak, se um destes três elementos estiver ausente, o termo SAP não é aplicável à situação. Por sua vez, a mediadora e consultora americana Mary Lund (1992, p. 17), aponta que, atualmente, síndrome da alienação parental é uma expressão que está em alta no âmbito do direito de família e se trata de um termo que sugere que um dos pais está boicotando, de forma consciente ou não, o relacionamento entre a criança e o outro genitor. Nos casos mais graves, a criança age de forma a corresponder à necessidade de proximidade, de afeto de um genitor alienador emocionalmente perturbado. Lund acrescenta que, embora seja possível que o pai alienado tenha alguns problemas reais no relacionamento com o filho, não há motivos relevantes como abuso físico, emocional ou sexual - para a intensidade da rejeição apresentada pela criança.

39 37 Douglas Darnall (1998, p. xi), psicólogo e escritor americano, também centrado nos estudos de Gardner, ressalta a questão do conflito familiar como sendo o núcleo de desenvolvimento da síndrome da alienação parental, pois em um contexto de separação, de brigas e desentendimentos entre os pais, os filhos, muitas vezes, se encontram no meio de um conflito emocional, que pode impactar de forma negativa em sua saúde mental e em seu desenvolvimento. Sendo assim, um pai que busca prejudicar, de forma consciente ou não, o relacionamento do filho com o outro genitor, como uma forma de vingança contra o ex-cônjuge - comportamento este que configura a base da síndrome da alienação parental -, está na verdade, prejudicando e causando danos permanentes ao seu próprio filho. Jorge Trindade (2013, p. 22) busca definir a SAP ressaltando sua caracterização como patologia, dizendo que se trata de um conjunto de sintomas ocasionados por um processo de programação empreendido pelo genitor alienador que conta com a contribuição da própria criança. Para o autor, a SAP é um transtorno psicológico resultante da transformação da consciência dos filhos, pelo genitor alienador, a partir de diversas estratégias de atuação, objetivando a programação da criança para que odeie e repudie um de seus genitores, sem qualquer motivo aparente, de tal forma que a própria criança contribui para a desmoralização deste genitor e assim, os vínculos familiares são destruídos. Por fim, William Bernett (2006, p. 244), professor de psiquiatria da Vanderbilt University School of Medicine, nos Estados Unidos, esclarece que a SAP é um perturbador fenômeno psicológico, que surge normalmente em situações de divórcio hostil, em que uma criança forma sólidas alianças com um dos genitores e recusa-se, sem qualquer justificativa legítima, a estabelecer um relacionamento com o outro. O professor elenca as manifestações típicas da SAP como sendo: campanha de difamação; racionalizações fracas, frívolas e absurdas para a reprovação; falta de ambivalência; fenômeno do pensador independente; apoio reflexivo a um genitor contra o outro; ausência de culpa na exploração do genitor-alvo; presença de cenários emprestados; e extensão da animosidade à família do genitor alvo. Percebe-se, portanto, que é cediço que o comportamento alienador, na maioria das vezes, tem seu início a partir de disputas judiciais que envolvem a dissolução da família, bem como a fixação da guarda e a regulamentação da visitação dos filhos, uma vez que tais situações de conflito familiar tendem a originar sentimentos como rejeição, insegurança, abandono e vingança.

40 38 No contexto nacional, poucos autores abordaram o tema com profundidade, e é possível encontrar distintas definições a respeito da SAP, nas quais os autores dão suas próprias contribuições, muitas vezes equivocadas ou incompletas. Maria Berenice Dias (2013, p. 15), em capítulo dedicado ao tema, expõe que o genitor que foi surpreendido com o fim da relação conjugal, se sente abandonado, traído e com desejo de vingança. E acrescenta que se o luto conjugal não ocorrer de forma adequada, pode-se ter início um processo de desmoralização que visa à destruição daquele que é considerado o responsável pela separação, usando os filhos como instrumento, influenciando-os a rejeitar e a odiar aquele que se afastou do lar. Segundo a autora, isso ocorre porque, com a separação, os filhos encontram-se psicologicamente fragilizados, estando vulneráveis a esta manipulação psicológica, chamada de síndrome da alienação parental, que os leva a acreditar que foram abandonados pelo outro genitor. Em outro artigo acerca do mesmo tema, nota-se que a autora equipara, de forma equivocada, a implantação de falsas memórias à síndrome da alienação parental: Quem lida com conflitos familiares certamente já se deparou com um fenômeno que não é novo, mas que vem sendo identificado por mais de um nome: síndrome de alienação parental ou implantação de falsas memórias (DIAS, 2010a, p. 1). Incorrem no mesmo erro, Fábio Vieira Figueiredo e Georgios Alexandridis (2014, p ) que, ao definirem o que denominam de fenômeno da alienação parental, o fazem assemelhando-o à implantação de falsas memórias: Muitas vezes, um dos genitores implanta na pessoa do filho falsas ideias e memórias com relação ao outro, gerando, assim, uma busca em afastá-lo do convívio social, como forma de puni-lo, de se vingar, ou mesmo com o intuito falso de supostamente proteger o filho menor como se o mal causado ao genitor fosse se repetir ao filho. Em seu turno, Ana Carolina Carpes Madaleno e Rolf Madaleno (2013, p. 7), seguindo a mesma linha de Gardner, conceituam a SAP como sendo um distúrbio infantil, uma forma de abuso emocional efetivado por uma campanha de difamação que objetiva extinguir os vínculos familiares entre o genitor alienado e o filho. O genitor alienador, vale-se de todos os meios possíveis para obstaculizar a convivência e denegrir a imagem do genitor alienado - que geralmente é aquele que não detém a guarda -, utilizando-se inclusive de falsas alegações de abuso sexual, ameaças de abandono e doutrinação da criança, até que se chegue ao ponto em que ela própria começa a contribuir espontaneamente com a difamação, de forma exagerada e injustificada.

41 39 Paulo Lôbo (2014, p ) ressalta que não é qualquer conduta do genitor em relação ao outro que caracteriza a alienação parental. Meras críticas negativas feitas por um pai aos filhos, se referindo ao outro, em momentos de raiva ou ressentimento, que não causem prejuízo à convivência familiar e nem, tampouco, interfiram na formação psicológica da criança ou do adolescente, não são suficientes para configurar a alienação parental. O autor define a conduta alienatória como sendo uma forma de forjar sentimentos no filho, induzindo-o a romper os vínculos de afeto com o outro pai, comprometendo o direito à convivência. Acrescenta que a alienação parental é comumente associada à contextos de separações e conflitos familiares, em que um genitor utiliza o filho como um meio de vingança contra o ex-cônjuge, podendo até mesmo implantar falsas memórias. A princípio, a alienação parental foi estudada pelas áreas de saúde e psicologia, sendo tratada como uma síndrome, entretanto o direito distanciou-se dessa qualificação como patologia e optou por regulamentar essas condutas, por meio da promulgação da lei /2010, a Lei da Alienação Parental. Tamara Brockhausen (2011, p. 109), em uma leitura mais voltada para a psicanálise, faz novas articulações sobre o tema, que buscam ir além do modelo proposto por Gardner sem deixar de dialogar com o universo jurídico: Do ponto de vista estrutural, a SAP apresenta-se como uma transferência entre a criança e o genitor alienador induzida com finalidade de exclusão do genitor alienado da transmissão simbólica da linhagem e dos ideais para a criança. Do ponto de vista da gênese, a SAP apresenta-se como um reforçamento da alienação fundamental, própria da constituição do sujeito, instalada por uma demanda imperativa através de várias estratégias: retirada do amor, acesso ao gozo e oferta de saber. A gênese da SAP, ao ser explicitada pela psicanálise, esclarece a eficácia do alienador em minimizar e ate desfazer os laços afetivo-sociais. A autora acrescenta ainda que a finalidade da SAP não é somente excluir a presença do genitor alienado, mas também seu papel e função na vida da criança. Segundo a autora, por meio da SAP, Gardner descreve um processo de alienação que objetiva construir uma única referência para a criança, por meio de um discurso em que somente os desejos, os ideais e as demandas de um dos genitores têm validade, excluindo ou minimizando a importância e o papel do outro genitor (BROCKHAUSEN, 2011, p. 128). Douglas Phillips Freitas (2014, p. 24), por sua vez, conceitua a SAP como sendo um conjunto de sintomas, que configuram um transtorno psicológico, tendo em vista que o genitor alienador, se utilizando de estratégias alienatórias, mesmo que de forma inconsciente, altera a

42 40 consciência do filho, visando romper seus vínculos com o outro genitor. Se trata de uma doutrinação constante para que a criança tenha desprezo, ódio ou medo, injustificados, em relação ao genitor alienado. Mário Henrique Castanho Prado de Oliveira (2012, p ) ressalta que a alienação parental nada mais é do que uma violação ao direito constitucional à convivência familiar, que está previsto no art. 227, caput, da Constituição Federal, determinando que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, dentre outros direitos, o direito à convivência familiar. Por fim, a psicóloga Denise Maria Perissini da Silva (2011, p ), define a SAP como uma patologia psíquica, extremamente grave, que acomete a criança, destruindo seus vínculos com o genitor alienado, por meio da manipulação empreendida pelo outro genitor ou terceiro interessado. A psicóloga alega que os artifícios alienatórios derivam de um sentimento neurótico de dificuldade de individuação, de superproteção, de dominação, de opressão, ou seja, o genitor atua no sentido de manter uma simbiose sufocante entre ele e o filho, pois não suporta vê-lo com outra pessoa. O alienador manipula emocionalmente a criança, visando infundir sentimentos de insegurança, ansiedade, angústia e culpa, podendo até mesmo implantar memórias de supostos abusos físicos ou sexuais, que, na maioria das vezes, não são reais, mas são capazes de fazer com que o contato com o suposto agressor seja interrompido ou que ele seja destituído do poder familiar. A partir de uma reflexão feita com base na leitura das diversas definições acerca da SAP, é possível perceber que o discurso de alguns autores endossa a perspectiva inicial de Gardner a respeito do comportamento resultante de um transtorno psicológico das mães guardiãs, considerando o sexo feminino como aquele que tem maior possibilidade de alienar e não levando em consideração, como já mencionado anteriormente, que esta suposta "postura alienadora" da mãe pode ser resultante de um processo construído socialmente, que valoriza a maternidade em detrimento da paternidade, que coloca a maternidade como sendo a principal, ou até mesmo a única, função da mulher na sociedade. E o pai, muitas vezes, é relegado à condição de coadjuvante nos cuidados dos filhos. Ademais, é possível notar que a maioria dos estudiosos do tema - nacionais e estrangeiros - se mostram adstritos à ideia da alienação parental como uma patologia, um

43 41 transtorno psíquico, um distúrbio emocional, uma doença que acomete os envolvidos, sem apresentar dados empíricos e científicos que comprovem cabalmente essa tese. Muitas vezes, as discussões a respeito da SAP no Brasil, priorizam uma visão muito limitada a respeito do litígio conjugal e dos conflitos familiares, sem maiores reflexões, conforme observou Analicia Sousa Martins (2010, p. 165). Os autores nacionais se limitam à um contexto em que os pais induzem seus filhos à SAP instigados por sentimentos de vingança, de dominação e ressentimento ou por alguma patologia psíquica, desconsiderando diferentes aspectos que podem estar envolvidos no conflito familiar ALIENAÇÃO PARENTAL E SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL Ao longo da elaboração desta pesquisa, notou-se que muitas vezes os conceitos de alienação parental e síndrome da alienação parental aparecem como sinônimos, causando certa confusão e imprecisão quanto à definição exata dos termos, especialmente nas publicações nacionais. Entretanto, o próprio Richard Gardner, responsável por cunhar o termo síndrome da alienação parental, estabelece uma diferença entre eles, especificando que a alienação parental é um processo mais amplo que pode vir a culminar em uma síndrome, ou seja, a alienação parental pode ser causada por diversas práticas isoladas que visam o afastamento do filho em relação ao genitor não-guardião. Já a síndrome da alienação parental é uma subcategoria específica de alienação parental, resultante da combinação entre a programação parental e as contribuições da própria criança. Nas palavras de Gardner (2006, p. 6): A alienação parental (AP) é um termo geral que abarca qualquer situação em que uma criança possa ser alienada de um genitor. Pode ser causada por abuso parental físico, verbal, emocional, mental, sexual, abandono e negligência. Adolescentes como atos de rebelião, podem se tornar alienados de um genitor. (...) Uma criança também pode ser programada por um genitor para ser alienada em relação ao outro. Essa categoria específica de alienação parental é genericamente mencionada com síndrome da alienação parental. A síndrome da alienação parental é um subtipo de alienação parental. É o subtipo que é causado pela programação sistemática das crianças por um dos pais contra o outro, que tem sido um bom e amoroso pai. 1 1 GARDNER, Richard. Introduction. In: GARDNER, Richard A.; LORANDOS, Demosthenes; SAUBER, S. Richard (org.) The International Handbook of Parental Alienation Syndrome. Springfield: Charles C. Thomas Publisher Ltd., 2006, p.6. Tradução livre de: "Parental Alienation (PA) is a general term that covers any situation

44 42 Ainda buscando estabelecer a diferenciação entre alienação parental e síndrome da alienação parental, Gardner (2002, p ) explica que a alienação parental está relacionada a uma gama de manifestações que podem resultar ou estar relacionadas ao afastamento de uma criança em relação a um dos pais. Tal alienação pode se dar como resultado de abusos físicos, sexuais ou emocionais. O autor alega que as crianças podem tornar-se alienadas como consequência do abandono, da negligência, da maneira agressiva como são tratadas, do mau exercício da parentalidade, bem como, do comportamento inadequado apresentado pelos pais, como alcoolismo ou narcisismo, por exemplo. Acrescenta que é comum que a criança fique com raiva daquele pai que ela entende ter sido a causa da separação ou que ela acredite nas críticas e depreciações feitas em relação a este. Todos esses comportamentos podem ocasionar a alienação das crianças, mas não podem ser efetivamente considerados como uma síndrome da alienação parental. Entretanto, esse quadro pode evoluir para uma SAP caso o genitor se proponha a intensificar essas críticas e acusações ao ponto de resultar no rompimento completo dos vínculos entre a criança e o genitor alvo. Gardner (1998, p. xxviii) ressalta que, muitas vezes, mesmo sabendo da existência da síndrome da alienação parental, algumas pessoas evitam a utilização deste termo, pois pode ser considerado como "politicamente incorreto". Mas, ressalta que a utilização do termo alienação parental ao invés de síndrome da alienação parental serve apenas para causar confusão. Segundo Douglas Darnall (1998, p. 3-4), a diferença entre a alienação e a síndrome da alienação parental reside no enfoque que cada uma possui. O foco da alienação parental está no comportamento do genitor alienador em relação à criança e ao genitor alienado, e o foco da síndrome da alienação parental está no comportamento da criança em relação ao genitor alienado após ter sido programada para rejeitá-lo. Embora os sintomas observados nas duas possam ser similares, a alienação parental é qualquer conjunto de comportamentos, conscientes ou não, que causem uma perturbação no relacionamento da criança com o outro genitor, já a in which a child can be alienated from a parent. It can be caused by parental physical abuse, verbal abuse, emotional abuse, mental abuse, sexual abuse, abandonment, and neglect. Adolescents, as an act of rebellion, may become alienated from a parent. (...) A child can also be programmed by one parent to be alienated from another. That particular category of parental alienation is generally referred to as parental alienation syndrome. Parental alienation syndrome is one subtype of parental alienation. It is the subtype that is caused by a parente systematically programming the children against the other parent who has been a good, loving parent."

45 43 síndrome da alienação parental, conforme a definição de Gardner, é um distúrbio em que a criança está obcecada com a difamação injustificada e/ou exagerada de um genitor. Darnall (1998, p. 4) acrescenta dizendo que a alienação parental é a fase que antecede a instalação da síndrome da alienação parental, pois quando os filhos começarem a concordar com as críticas do genitor alienador e passarem a odiar o genitor vitimizado, pode ser tarde demais para evitar danos mais severos. Com relação à literatura nacional, Priscila Maria Corrêa da Fonseca (2007, p. 5-16) se preocupou em estabelecer uma distinção entre os dois termos. Segundo a autora, a alienação parental se trata do afastamento do filho de um dos pais, causado pelo outro genitor. E a síndrome da alienação parental está relacionada aos efeitos emocionais e comportamentais que acometem a criança alienada. Portanto, a síndrome refere-se à conduta de rejeição do filho com relação ao genitor alienado e a alienação parental refere-se à conduta do genitor alienador, que busca excluir o outro genitor da vida do filho. Ana Carolina Carpes Madaleno e Rolf Madaleno (2013, p. 51) também se ocupam de fazer essa distinção, apresentando a alienação parental como: "um termo geral que define apenas o afastamento justificado de um genitor pela criança, não se tratando de uma síndrome por não haver o conjunto de sintomas que aparecem simultaneamente para uma doença especifica". Dessa forma, o entendimento dos autores é o de que a alienação parental pode se originar de uma conduta efetivamente praticada pelo genitor que justifique o afastamento da criança, ou seja, uma real situação de abuso, negligência ou maus tratos, ao contrário da SAP, em que o genitor alienador se aproveita de comportamentos normais praticados pelo genitor alienado para desferir críticas exacerbadas visando instigar o ódio da criança em relação a ele. Jussara Schimitt Sandri (2013, p ) entende que a alienação parental ocorre quando há apenas a atuação de um genitor - ou de qualquer outro membro da família -, visando influenciar a criança contra o outro genitor. Mas, quando há contribuições espontâneas da própria criança, que passa a agir ativamente na depreciação do genitor alienado, incorporando as acusações do alienador, configura-se a síndrome da alienação parental. Dessa forma, conforme ensina Mário Henrique Castanho Prado de Oliveira (2012, p ), percebe-se que apesar de serem conceitos complementares, alienação parental e síndrome da alienação parental não se confundem. A alienação parental é praticada pelo genitor alienador, visando interferir na relação paterno-filial entre a criança e o genitor alienado,

46 44 contudo, pode ser que tal objetivo não se concretize, dependendo, dentre outros fatores, do nível de consciência que o filho possui do conflito entre seus pais, bem como da eficiência de intervenções externas, sendo elas judiciais ou não. Por sua vez, a síndrome da alienação parental envolve a absorção da alienação praticada pela criança, que passa a oferecer suas próprias contribuições para a difamação do genitor alienado, ingressando no que Gardner (1998, p. 202) identificou como sendo uma folie à deux: A SAP é um excelente exemplo de folie à deux (Francês: 'loucura a dois', ou 'dupla insanidade'). Folie à deux é uma forma de distúrbio psiquiátrico em que uma das partes (geralmente mais dominadora e autoritária) induz na outra parte (geralmente mais passiva e sugestionável) uma perturbação psiquiátrica. Por mesmo deste processo a primeira parte transmite sua patologia à segunda. Apesar de não ser uma forma de insanidade no sentido mais estrito, a SAP é uma perturbação psiquiátrica sob a forma de folie à deux. 2 Considerando a SAP como uma "evolução" das práticas de alienação parental, infere-se que o tempo é o maior aliado do genitor alienador para alcançar seu objetivo de programar o filho contra o genitor alienado, podendo fazer com que o rompimento da convivência familiar seja irreversível, principalmente nos casos em que uma das táticas utilizadas pelo alienador consiste na falsa acusação de abuso sexual contra o genitor alienado, tendo em vista que, nessas situações, a tendência é que o juiz suspenda o contato do genitor acusado com a criança, até o encerramento do processo. Sobre essa questão, Gardner (1998, p. 200) aponta que, nas ações de disputa pela guarda, o tempo é favorável ao genitor guardião, pois quanto mais tempo a criança permanecer com ele, maior é a possibilidade de que ela apresente resistência à mudança para o domicílio do outro e maior é a oportunidade que o genitor guardião terá para doutrinar o filho, para que ele lhe dê apoio e lealdade na disputa pela guarda. Portanto, a lentidão do sistema legal é considerada como a arma mais poderosa do genitor alienador, Gardner diz que é quase como se o sistema tivesse sido projetado justamente para colaborar com esses genitores. 2 GARDNER, Richard. The parental Alienation Syndrome. 2ª ed. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics Inc., 1998, p Tradução livre de: "The PAS is an excellent example of folie à deux (French: "folly for two", or "double insanity"). Folie à deux is a form of psychiatric disorder in which one party (usually the more domineering and authoritative) induces in another party (usually the more passive and suggestible) a psychiatric disturbance. By this process the first party transmits his (her) pathology to the second. Although not a form of insanity in the strictest sense, the PAS is very much a folie à deux form of psychiatric disturbance".

47 45 Nesse mesmo sentido, Tamara Brockhausen (2011, p. 221) acrescenta que o sucesso da instalação SAP está diretamente relacionado à morosidade do sistema judicial, à resistência dos tribunais em punir o abuso do poder familiar, à recusa do genitor alienador em cumprir as leis e determinações judiciais e à apresentação de graves acusações contra o outro genitor com o intuito de atrasar ainda mais o deslinde do processo e confundir os profissionais envolvidos. Tudo isso faz com que os genitores alienadores utilizem o sistema para alcançar seus objetivos. Segundo a autora, o excesso de precaução do magistrado pode dificultar o estabelecimento da primeira vinculação do genitor com seu filho, o que influenciará o futuro desse relacionamento, podendo facilitar a instalação da SAP. Ressalta que a intensa dependência dos filhos em relação à mãe e a necessidade da presença materna no início da vida da criança, são inegáveis. Contudo, essa dependência mãe-filho não pode ser interpretada de forma a afastar um genitor. A forma como se estabelecem as visitações não contribui para evitar os casos de SAP, tendo em vista que aos homens, muitas vezes, é atribuído um papel secundário no cuidado dos filhos, desprezando sua autonomia parental e impedindo-os de estabelecer uma sadia vinculação primária com o filho, fundamental para o futuro da relação entre eles. Essa situação prejudica até mesmo o aprendizado do pai em relação aos cuidados cotidianos dos filhos, e isso faz com que muitas vezes, as mães reclamem das habilidades do pai nas ações de guarda e regulamentação de visitas, alegando sua inadequação para visitas e pernoites (BROCKHAUSEN. 2011, p. 220). Isto posto, é importante destacar a necessidade de se verificar com seriedade e eficácia, da forma mais rápida possível, a ocorrência da alienação parental - ou da síndrome da alienação parental -, para que seja possível tomar as medidas necessárias a tempo, de modo a minimizar os efeitos prejudiciais na criança e no seu vínculo afetivo com o genitor alienado. Mário Henrique Castanho Prado de Oliveira (2012, p. 174), seguindo esse entendimento, dispõe que não se pode falar em proteção integral da criança e do adolescente e nem na garantia de seu melhor interesse se a questão da alienação parental não for tratada de forma séria e efetiva, sob pena de resultar na formação de uma legião de órfãos de pais vivos, que podem, futuramente, se tornar alienadores. Ressalta-se que no decorrer da elaboração desta pesquisa não foram consideradas as particularidades da distinção entre os termos síndrome da alienação parental e alienação parental, utilizando-se ambos como sinônimos, principalmente porque existem controvérsias

48 46 acerca desta distinção no que concerne a caracterização da prática da alienação parental como uma espécie de síndrome. 3.4 CONTROVÉRSIAS ACERCA DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL É importante ressaltar que inúmeras são as críticas quanto à teoria da SAP proposta pelo Dr. Richard Gardner, não apenas quanto a sua caracterização como síndrome, mas também quanto às formas propostas para lidar com ela. Existe desconfiança até mesmo quanto à idoneidade do próprio autor, pois muitos alegam que, embora se apresentasse como professor da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, era apenas um professor voluntário. A SAP não é considerada uma síndrome médica válida, pois não está incluída na última atualização, feita em 2013, do Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-5), que lista diferentes categorias de transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los, elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria. Richard A. Warshak (2001, p. 29) examina as principais controvérsias acerca da SAP, apontando que: "Críticos argumentam que a SAP: 1) simplifica demais as causas de alienação; 2) induz à confusão em trabalhos clínicos com crianças alienadas, e 3) carece de um embasamento científico adequado para ser considerada uma síndrome". 3 Warshak acrescenta que há quem entenda que a SAP é um estereótipo desnecessário ou potencialmente perigoso usado para designar um comportamento normal presente em situações de divórcio, o que pode ocasionar decisões em relação à guarda que não tutelam o melhor interesse das crianças. Analicia Martins de Sousa (2010, p ) adverte que Gardner atesta a existência da síndrome sem apresentar dados científicos que corroborem sua teoria, afirmando que a validade da SAP aparece mais em seus argumentos do que em métodos científicos. Acrescenta que inúmeros estudos e pesquisas já evidenciaram que num contexto de separação conjugal é comum que se estabeleça uma aliança intensa entre um dos genitores e a criança, ao mesmo tempo que esta pode demonstrar uma rejeição exagerada quanto ao outro genitor. Tais estudos não descrevem esse problema como sendo uma síndrome e, com isso, a autora entende que 3 WARSHAK, Richard A. Current Controversies Regarding Parental Alienation Syndrome. American Journal of Forensic Psychology, v. 19, n. 3, 2001, p. 29. Tradução livre de: "Critics of PAS argue that it: 1) oversimplifies the causes of alienation, 2) leads to confusion in clinical work with alienated children, and 3) lacks an adequate scientific foundation to be considered a syndrome".

49 47 Gardner, amparado pelos autores que seguem suas proposições, foi responsável por estruturar e disseminar uma teoria que transformou um comportamento normal de formação de alianças parentais no âmbito do litígio conjugal em uma síndrome. Além disso, a autora considera que a teoria de Gardner "engendra uma visão determinista e limitada com relação aos comportamentos dos atores sociais, os quais têm ignorada sua singularidade, sua capacidade de desenvolver suportes em meio a situações de conflito e sofrimento". E entende que os conflitos familiares não devem ser analisados a partir de uma ótica psiquiátrica, cujo foco está no exame do indivíduo, mas sim por um viés sóciohistórico, que não examina o indivíduo destacado da sociedade, ou seja, não os examina como opostos (SOUSA, 2010, p. 108; 198). Segundo Ana Carolina Carpes Madaleno e Rolf Madaleno (2013, p.62), há quem entenda que a existência de uma lei específica que dispõe acerca do tema, como a Lei da Alienação Parental (Lei nº /2010), serviria como um incentivo aos reais abusadores, prejudicando não só as mães que tentam proteger seus filhos, como também os próprios filhos, vítimas de abusos sexuais, emocionais ou físicos. A jurista portuguesa Maria Clara Sottomayor (2011, p. 156) entende que a SAP é uma reação natural e temporária da criança em relação ao divórcio, uma vez que a criança se compadece com o sofrimento do genitor com quem possui mais afinidade, com quem mais se afeiçoa. E acrescenta que não há somente uma causa que justifique a rejeição da criança quanto a um dos genitores, como propõe a doutrina da síndrome da alienação parental quando determina que a aversão da criança deriva exclusivamente de uma campanha difamatória perpetrada por um genitor alienador. A jurista explica que essa rejeição é um fenômeno multifatorial, que possui múltiplas causas. Com base nessas alegações, Maria Clara Sottomayor (2011, p. 160) argumenta que a tese da Síndrome da Alienação Parental não possui fundamentos científicos, tanto que é completamente desacreditada pela comunidade científica americana. E acrescenta que seu raciocínio é circular, periférico, baseado na vilificação das mulheres e na negação da violência de gênero e do abuso sexual infantil, servindo como tese de defesa para ocultar comportamentos ilícitos do suposto genitor alienado, que se apresenta como "vítima" da campanha de difamação do outro em casos reais de abuso sexual.

50 48 Joan S. Meier (2010, p ), professora de Clinical Law da George Washington University, afirma que são diversas as críticas a respeito da síndrome da alienação parental de Gardner, cujo foco está na circularidade da teoria, na falta de base empírica e nas crenças bizarras de Gardner a respeito da sexualidade humana. A autora atesta que a circularidade da teoria é a crítica mais óbvia de todas, pois a teoria é auto-referencial e não oferece nenhum elemento que a comprove, nenhuma evidência de sua validade. Em relação à falta de base empírica, a autora diz que Gardner inventou a SAP com base em dois supostos fenômenos: a disseminação do uso de alegações de abuso sexual infantil em disputa pela guarda e sua crença que tais alegações neste contexto tem uma alta probabilidade de serem falsas. Segundo Meier, nenhum dos dois argumentos quantitativos tem qualquer base empírica, a não ser as alegações de Gardner baseadas em sua própria experiência clínica. E, por fim, em relação às crenças bizarras de Gardner a respeito da sexualidade humana, a autora exemplifica dizendo que em seus escritos, dentre outras opiniões estranhas, Gardner expressa a opinião de que todos os comportamentos sexuais desviantes do homem, como pedofilia, sadismo, estupro, necrofilia, entre outros, aumentam o nível geral de excitação sexual na sociedade. Além disso, Gardner vê a sociedade ocidental como extremamente punitiva em relação à pedofilia, que é uma tradição antiga, presente em quase todas as sociedades do presente e do passado. Rebatendo estas críticas à teoria de Gardner, Tamara Brockhausen (2011, p. 23), explica que Gardner diferencia o contexto em que a SAP está presente e o contexto dos divórcios em geral, dizendo que é comum que as crianças demonstrem mais afeto por um dos pais, criticando e demonstrando aversão em relação ao outro, na ocasião de um divórcio. Entretanto, um genitor mentalmente são não explora essas manipulações infantis e nem se aproveita disso para doutrinar a criança. Nem toda manifestação negativa da criança representa uma manifestação decorrente da SAP, porém, os conflitos de lealdade em que a criança se encontra no âmbito de um divórcio podem oferecer um terreno fértil para a instalação da SAP. Giselle Câmara Groeninga (2011, p ) acertadamente observa que a palavra síndrome chama à atenção, tendo em vista que estabelece uma conexão, uma correlação, entre situações que, isoladas, não possuem nexo de causalidade, nem tampouco, possuem previsibilidade ou são passíveis de medidas preventivas ou terapêuticas. Acrescenta que a SAP tem sido utilizada no sentido médico e figurado, e o risco desse tratamento ambíguo é que ao se misturar os níveis de análise, dá-se um caráter objetivo e científico à um fenômeno que é extremamente subjetivo, reduzindo-o e rotulando os envolvidos como inocentes ou culpados, vítimas ou agressores, e não como sadios ou enfermos. Isso não significa que não existam

51 49 vítimas, as vítimas são todos os integrantes da família, tendo em vista a interdisciplinaridade e intersubjetividade das relações. Analicia Martins de Sousa (2010, p. 142) apresenta uma possível explicação para a classificação do fenômeno da alienação parental como uma patologia. Segundo a autora, há dois aspectos característicos das sociedades contemporâneas que justificam o surgimento da ideia de uma síndrome no âmbito da dissolução conjugal, são eles: a tendência de patologizar comportamentos humanos e a tendência de criar estereótipos que causem impacto, que chamem atenção, como a síndrome da alienação parental. A autora se posiciona pela inadequação da teoria de Gardner, embora não negue o fato de que as situações de litígio conjugal envolvam aspectos relacionados a saúde mental. Entretanto, entende que Gardner transformou o fenômeno natural das alianças parentais entre um dos genitores e os filhos após a dissolução do casamento em um distúrbio, atribuindo o estereótipo de síndrome. Dessa forma, defende que é necessário avaliar o contexto, o caso concreto das famílias em dissolução e as condições envolvidas que podem oportunizar o aparecimento de transtornos psíquicos em seus membros. Acredita que a mera atuação sobre os indivíduos que apresentam transtornos mentais não prioriza o melhor interesse da família e seu bem-estar individual (SOUSA, 2010, p ). 3.5 REFLEXOS DA ALIENAÇÃO PARENTAL Nos Filhos Em sua obra, Gardner (1998, p. 76) relata que a SAP é caracterizada por um conjunto de manifestações, chamadas oito sintomas cardinais da síndrome da alienação parental. Normalmente, a criança vítima da SAP tende a exibir a maioria, senão todos estes sintomas. São eles: 1. A campanha de difamação A campanha de difamação é um sintoma que engloba todos os outros por sintetizar a particularidade mais característica da Síndrome de Alienação Parental, que é a depreciação do genitor. O denominador comum das diversas manifestações da SAP é a contribuição da criança para vilificar e desmoralizar o genitor alvo (BROCKHAUSEN, 2011, p. 21).

52 50 Portanto, uma das manifestações características da campanha de difamação são as contribuições da própria criança, que demonstra uma raiva irracional em relação ao genitor alienado - que antes era amado -, por meio de reclamações e acusações exageradas e injustificáveis. Gardner (1998, p. 77) explica que, muitas vezes, a criança elabora novas críticas e reclamações que não foram anteriormente mencionadas pelo genitor alienado e, por serem, na maioria das vezes, elaborações absurdas e ilógicas, suscitam dúvidas quanto a sua autenticidade. E é exatamente a combinação entre a doutrinação feita pelo alienador e as contribuições da criança que garantem o diagnóstico da SAP e enriquecem a difamação. 2. Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação As crianças vitimizadas pela SAP apresentam justificativas fúteis, infundadas e desproporcionais, para defender e sustentar sua aversão em relação ao genitor alienado, como lembranças de pequenas discussões comuns do cotidiano familiar ou comportamentos habituais e sadios do genitor alienado que são interpretados de má-fé e usados como motivo para o repúdio. A criança pode usar como justificativa para seu afastamento meros desentendimentos ocorridos com o genitor, desavenças corriqueiras que a maioria das crianças teriam esquecido rapidamente, como por exemplo reclamar que o pai sempre mandava escovar os dentes, sempre pedia para que pegasse as coisas dele, ou pedia que não o interrompesse quando estava falando. Normalmente, essas crianças não conseguem fornecer justificativas mais plausíveis para sua rejeição e o genitor alienador concorda que tais razões justificam a repulsa verificada (GARDNER,1998, p. 87). 3. Falta de ambivalência Este sintoma se caracteriza pela visão tendenciosa que a criança tem dos genitores, considerando o genitor programador como completamente bom e o genitor alienado como completamente ruim, não sendo capaz de admitir aspectos positivos sobre este e nem aspectos negativos sobre aquele. Embora todas as relações humanas, inclusive as paterno-filiais, sejam ambivalentes, as crianças vítimas da SAP não demonstram possuir sentimentos mistos, pois, diferentemente das crianças normais (que não foram vitimadas pela SAP) que são capazes de elencar coisas boas e ruins sobre cada um dos pais, as crianças vítimas da SAP somente

53 51 conseguem fazer críticas ao genitor alvo, não sendo capazes de pensar em um único aspecto positivo. Em contrapartida, enxergam o genitor alienador como sendo perfeito, não apontando um único defeito (GARDNER,1998, p. 94). 4. O fenômeno do "pensador independente" Gardner (1998, p. 96) explica que as crianças vítimas da SAP têm orgulho em demonstrar que a decisão de rejeitar o genitor alienado é própria, negando qualquer participação ou incentivo do genitor alienador, que defende essa independência, alegando, muitas vezes, que querem que o filho tenha contato com o outro genitor, que apoiam a visitação. Embora o genitor programador tente demonstrar que reconhece a importância dessa convivência, suas atitudes indicam o contrário. O genitor alienador nega qualquer participação na rejeição do filho em relação ao genitor alienado, alegando sua inocência e fortalecendo a ilusão de que a criança possui pensamento independente. 5. Apoio reflexivo ao genitor alienador no conflito parental A criança alienada demonstra estar sempre do lado do genitor alienador, defendendo-o e corroborando com suas alegações, podendo, até mesmo, apresentar alegações mais convincentes e incisivas do que o próprio alienador. Mesmo na presença de ambos os genitores, a criança institivamente apoia o genitor alienador, por vezes, antes mesmo de o outro genitor ter tido a oportunidade de se manifestar. A criança pode, inclusive, rejeitar evidências que comprovem a versão do genitor alienado. Algumas vezes, nem o próprio genitor alienador defende sua posição com tanta veemência, como o faz a criança (GARDNER, p. 99). Para exemplificar, Tamara Brockhausen (2011, p ) traz algumas situações em que a criança se recusa a aceitar que o genitor alienador possa estar errado, em uma delas uma mãe reclamava constantemente que seu ex-marido não lhe ajudava financeiramente. Quando o pai mostrou à criança os cheques assinados por ele e nominais à mãe, cancelados no banco por ela, o filho acusou o pai de ter falsificados tais documentos, apenas para enganá-lo. Em outra situação um garoto justificava sua recusa em visitar o pai no fato de que a mãe sempre se queixava de ter sido agredida por ele diversas vezes. Quando a criança foi questionada se alguma vez havia presenciado as agressões, afirmou que confiava em sua mãe, pois ela nunca mentiria, ao contrário do pai, que era mentiroso. Entretanto, a criança não foi capaz de oferecer nenhum exemplo de alguma mentira que o pai tivesse contado.

54 52 6. Ausência de culpa pela crueldade e / ou exploração do genitor alienado Gardner (1998, p. 100) explica que a criança pode demonstrar que não se sente culpada por desconsiderar os sentimentos do genitor alienado, por se comportar de forma a rejeitar todas as manifestações de afeto, por mostrar ingratidão ao receber presentes ou o pagamento da pensão alimentícia. Enfim, as crianças não demonstram qualquer sentimento de culpa por se comportarem de forma cruel e exploradora. A criança não tem consciência dos efeitos que suas atitudes cruéis podem causar no genitor alienado, isso se deve tanto à imaturidade intelectual, no caso de crianças mais novas, como também ao fato de que as crianças são mais suscetíveis à manipulação. O exemplo mais grave de programação de uma criança é quando o genitor alienador induz a criação de falsas memórias, a partir de falsas alegações de abuso sexual contra o outro genitor (BROCKHAUSEN, 2011, p. 28). 7. Presença de cenários emprestados A criança alienada repete expressões e termos que não são comuns para a sua idade, utilizando um discurso ensaiado de hostilidade que parece ser "emprestado" do genitor alienador. Tal comportamento pode servir aos peritos como um forte indicador de que estão lidando com um caso de síndrome da alienação parental. Possivelmente as crianças irão deixar escapar que foi o genitor alienador que lhes disse determinada coisa e assim se confirmarão as suspeitas de que foi programada (GARDNER, 1998, p. 101). As crianças mais novas, principalmente, não percebem que, ao descrever cenários emprestados, ou seja, utilizar expressões, palavras ou versões que não são próprias de sua idade, estão involuntariamente revelando que essas informações provêm de outra fonte, que não são ideias suas, mas sim do alienador. Tamara Brockhausen (2011, p. 29) relata o caso de uma criança que disse a seguinte frase: Mamãe disse que ele tocou no meu pipi, revelando que ela estava apenas reproduzindo um discurso da mãe. 8. Extensão da animosidade aos amigos e/ou família do genitor alienado A aversão da criança alienada não alcança somente o genitor alienado, se estendendo também para seus familiares e amigos, com os quais, na maioria das vezes, a criança sempre teve boas relações. Isso ocorre porque a criança tende a se afastar daqueles que podem influenciá-la a se aproximar do genitor-alvo (BROCKHAUSEN, 2011, p. 30).

55 53 Mário Henrique Castanho Prado de Oliveira (2012, p. 129) acrescenta que a rejeição tende a incluir também a nova companheira ou o novo companheiro do genitor alienado. Apesar de já existir uma tendência natural à rejeição desta pessoa, ela pode aumentar quando há a presença de um genitor alienador, que tenta fazer com que os filhos pensem que ela busca substituir a mãe ou o pai em suas vidas, ou, até mesmo, fazer com que os filhos acreditem que o genitor alienado não tem mais interesse neles, pois constituiu "outra família" No Genitor Alienador O genitor alienador se comporta de modo a induzir a aversão dos filhos em relação ao outro genitor, usando-os como instrumento de vingança, de retaliação e fazendo-os acreditar que o genitor alienado não os ama de verdade e não os considera importantes. Sua conduta se dá através de uma gradual e constante programação da criança, que tende naturalmente a se unir a ele, ou àquele que ela acredita ser "inocente" pela separação da família. Muitas vezes, o genitor alienador se refere ao outro como aquele que abandonou a família, que não quer mais saber dos filhos. Mas, Mário Henrique Castanho Prado de Oliveira (2012, p. 130) ressalta que, na maioria das vezes, o genitor que deixa o lar está, de fato, se afastando e rejeitando o outro genitor, mas isso não quer dizer que também não queira conviver com os filhos, entretanto, o genitor alienador usa essa situação para incutir nos filhos a sensação de abandono, incluindo-os na sua própria frustração. Dentre as manifestações características de alienadores, pode-se destacar manipulações, estratégias psicológicas e implantação de falsas memórias, empreendidas constantemente pelo alienador, de maneira consciente ou não, explícita ou não. Aquilo que se inicia como uma programação consciente, ao longo do tempo, pode se tornar inconsciente, involuntária e profundamente incorporada, ao ponto de o alienador não ter noção do mal que está causando ao filho (BROCKHAUSEN, 2011, p. 36). Maria Berenice Dias (2013, p. 25) traça o perfil de um genitor alienador enumerando algumas características como: dependência, baixa autoestima, não respeita regras, possui o hábito de atacar as decisões judicias, vê a litigância como forma de manter aceso o conflito familiar e de negar a perda, é sedutor e manipulador, é dominante, possui resistência ou demonstra falso interesse pelo tratamento, entre outros traços de personalidade que autora identifica como sendo demonstrativos de alienação.

56 54 Acrescenta ainda que é difícil estabelecer um rol taxativo de condutas alienadoras possíveis, tendo em vista que o comportamento do alienador pode ser muito criativo, mas enumera algumas que são mais comuns como: apresentar o novo cônjuge do genitor alienado como novo pai ou nova mãe; interceptar cartas, s, telefonemas, recados destinados aos filhos; desmerecer o outro cônjuge perante terceiros e perante os filhos; omitir informações importantes em relação aos filhos do outro cônjuge; impedir a realização das visitas; tomar decisões importantes sobre os filhos sem consultar o outro, dentre outras (DIAS, 2013, p ). O artigo 2º, da Lei da Alienação Parental, Lei nº /2010, elenca, em caráter meramente exemplificativo, exemplos de condutas alienadoras praticadas não só por genitores, mas também por qualquer pessoa que tenha a criança ou adolescentes sob sua autoridade, guarda ou vigilância No Genitor Alienado Art. 2 o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. É importante lembrar que os genitores alienados aos quais Gardner se refere em sua teoria, são aqueles realmente inocentes de qualquer tipo de abuso, seja ele físico, emocional ou sexual, que justifique a rejeição dos filhos em relação a ele.

57 55 Gardner (1998, p ) aponta que inicialmente, o genitor alienado se sente confuso, pois seus filhos, que anteriormente eram carinhosos e amorosos, passam a se comportar de forma agressiva e desrespeitosa. Ademais, Mário Henrique Castanho Prado de Oliveira (2012, p ) assinala que o genitor alienado também se sente impotente, uma vez que suas tentativas de aproximação com os filhos se mostram insuficientes e, muitas vezes, causam até mesmo mais rejeição. Podendo chegar ao ponto de ocorrer o efetivo afastamento deste genitor por acreditar ser a melhor solução. E mesmo a proposição de ação judicial contra o alienador, visando a efetivação da tutela do direito de convivência familiar, pode ter efeitos contrários ao pretendido, na medida em que o genitor alienador se utiliza dessa situação para induzir ainda mais os filhos a odiar o outro genitor, sob o argumento de que são vítimas da ação judicial por ele movida (OLIVEIRA, 2012, p. 135).

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59 57 4. A IMPLANTAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS Depois de seis anos de casado, a criança nasceu, ficou um ano morando junto com a criança até que quando a menina tinha um ano e uma semana, uma semana depois do aniversário dela, ela saiu de casa, não dizendo para onde ia, encostou um caminhão de mudança e levou tudo, inclusive a criança. Mas, eu acabei achando a mãe, em outro município e ia visitar a criança. Mas, a coisa ficava cada vez mais difícil, a visitação, "a criança tá doentinha, não pode", "tá com febre", essas coisinhas, né. Eu ia mas não conseguia ver, até que entrei com um processo de regulamentação de visita. Ela, para se defender nesse processo de regulamentação de visita, não sei se defender de quê, mas, ela argumentou que não deixava eu ver a criança porque eu abusava sexualmente da criança. A defesa dela no processo de regulamentação foi o abuso sexual, pseudo abuso sexual, e deu certo, né? Pelo visto. A psicóloga que atesta pela primeira vez, faz questão de botar depois nos relatórios dela que existiam indícios físicos de abuso sexual, não foi nem laudo nem parecer, foram três linhas. Não é laudo, nem parecer, é uma coisa que não é nada, porque um laudo tem que seguir as normas do Conselho Federal de Psicologia, para ser um laudo psicológico tem que ter isso, isso, isso e como ela intitulou o documento foi uma declaração: declaro que a criança está sofrendo abuso sexual incestuoso na primeira infância, devendo ficar afastada do pai, o agressor. Os termos são esses. Ponto final. Acabou. E destruiu duas vidas. Em 2004 o próprio juiz que tinha cassado o meu direito de visitação, cassou a liminar dele próprio, regulamentando a visita provisoriamente até o final do processo. Então eu passei a ter o direito garantido de visitação pelo juiz de 1º instância, a mãe recorre, faz um agravo de instrumento. Neste agravo de instrumento o Tribunal assegura ao pai o direito de visitação. Mas, embora com o direito assegurado, a mãe não deixa ver, não deixa mesmo, eu reclamo ao juiz: óh, não consigo ver. O juiz pede parecer psicológico, parecer psicológico vem Ah isso é caso de terapia. Um crime, cometido contra a criança, pela mãe, o juiz quer tratar como terapia. Para mim, não é caso de terapia, para mim é caso de polícia, é caso de cadeia. Vai ser muito difícil um convívio com essa criança, eu acho que é uma criança que morreu. Tanto pai perde os filhos aí, eu perdi a minha. Mas, vou continuar lutando, tá, para vê-la e tentar algum tipo de contato com essa criança, mas não tenho muitas esperanças de reverter esse quadro. Todo mundo diz, todo mundo diz, que estamos protegendo a criança, mas o que acontece na realidade é que a criança está completamente desprotegida na mão da mãe, porque quando uma criança está envolvida numa acusação de abuso sexual, já não importa se essa acusação é falsa ou verdadeira, ela está em risco. Porque se for verdadeira, é o pai que tem que ser afastado, mas e se for falsa? A mãe deve ser afastada? 4 O trecho apresentado relata o drama vivido por um pai, vítima da alienação parental provocada por sua ex-esposa que, para se defender de uma ação de regulamentação de visitas proposta por ele, argumentou por meio de falsas acusações de abuso sexual. Tais alegações serviram para afastar ainda mais o pai da possibilidade de ter um convívio familiar sadio com a criança. Nesses casos, o poder judiciário tem como procedimento afastar o suposto agressor 4 Transcrição de trecho do documentário "A morte inventada". Roteiro e Direção: ALAIN MINAS. Produção: Daniela Vitorino. Brasil. Caraminhola Produções, DVD (78 min), NTSC, color.

60 58 imediatamente, até a conclusão da investigação. E tendo em vista que, normalmente esse processo é moroso, o vínculo entre pai e filho é, muitas vezes, perdido. 4.1 A FORMAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS Memórias são preciosas. Elas nos dão identidade. Criam um passado compartilhado que nos une com nossa família e amigos. Elas parecem tão fixas e concretas, que se tropeçássemos nelas, elas ainda estariam lá, como sempre estiveram. Mas, as memórias não são fixas, elas são maleáveis. A experiência diária nos ensina que elas podem ser tanto perdidas, como também podem ser drasticamente modificadas ou até mesmo criadas. Memórias imprecisas podem ser, muitas vezes, tão persuasivas e reais quanto uma memória precisa (LOFTUS, 2003, p ). 5 Elizabeth Loftus e Jacqueline Pickrell (1995, p. 720) atestam que não há dúvidas de que a memória pode ser alterada por meio da sugestão, ou seja, as pessoas podem ser induzidas a lembrar de seu passado de diferentes formas, podendo, inclusive, lembrar-se de eventos que nunca realmente aconteceram. Quando isso ocorre, as pessoas podem, até mesmo, descrever com riqueza de detalhes essas memórias falsas ou distorcidas. As autoras afirmam que novas informações nos invadem como um "Cavalo de Tróia", pois não detectamos sua influência, numa analogia ao termo usado pela informática para designar um programa malicioso que contamina o computador, deixando-o suscetível a invasões de vírus e ameaças. "Estudos recentes comprovaram que é possível fazer mais do que modificar um mero detalhe na memória de alguém. É possível fazer as pessoas acreditarem na ocorrência de uma experiência na infância, que na verdade nunca existiu" (LOFTUS, 2003, p ). 6 Nesse sentido, Caroline de Cássia Francisco Buosi (2012, p. 67), atesta que: "A memória é, portanto, não somente a lembrança daquilo que os indivíduos realmente vivenciaram, mas também uma combinação de tudo aquilo que pensam, acreditam, olham, aceitam e recebem do meio externo". 5 LOFTUS, ELIZABETH F. Our changeable memories: legal and practical implications. Natures Reviews - Neurosciencie, v. 4, 2003, p Tradução livre de: "Memories are precious. They give us identity. They create a shared past that bonds us with family and friends. They seem fixed, like concrete, so that if you 'stepped' on them they would still be there as they always were. But memories are not fixed. Everyday experience tells us that they can be lost, but they can also be drastically changed or even created. Inaccurate memories can sometimes be as compelling and 'real' as an accurate memory". 6 LOFTUS, ELIZABETH F., ibidem, p Tradução livre de: "Newer studies showed that you could do more than change a detail here and there in someone's memory. You could actually make people believe that a childhood experience had occurred when in fact it never happened".

61 59 O diretor do departamento de psicologia da Universidade de Harvard, Daniel Schacter, classifica as imperfeições da memória em sete categorias: QUADRO 1 - Os sete pecados da memória Pecado Descrição Exemplo Transitoriedade Distração Bloqueio Atribuição errônea Sugestionabilidade Parcialidade Diminuição da acessibilidade da memória ao longo do tempo Lapsos de atenção que resultam em esquecimento. Informação está presente, mas temporariamente acessível. Memórias são atribuídas a uma fonte incorreta. Memórias implantadas sobre coisas que nunca aconteceram. Conhecimentos e crenças atuais distorcem nossas memórias do passado. Simples esquecimento de eventos passados Esquecer a localização das chaves do carro. Na ponta da língua. Confundir um sonho com uma memória. Perguntas sugestivas produzem falsas memórias. Recordar atitudes passadas conforme atitudes atuais. Persistência Lembranças indesejadas que nunca podemos esquecer. Memórias traumáticas de guerra. Fonte: SCHACTER, Daniel L.; CHIAO, Joan Y.; MITCHELL, Jason P. The seven sins of memory: implications for self. Annals of the New York Academy of Sciences, 1001, 2003, p A sugestionabilidade da memória se trata da capacidade de um indivíduo de incorporar informações falsas às suas lembranças pessoais, a partir de outras pessoas, fotografias, imagens, textos escritos, enfim, qualquer fonte externa. As lembranças sugeridas podem parecer tão reais, quanto aquelas que são efetivamente genuínas (SCHACTER, 2011, p. 139). Talvez a sugestionabilidade seja uma das imperfeições mais graves da memória, justamente pelo fato de que contribui para formação de falsas memórias, podendo colaborar para que testemunhas oculares façam atribuições equivocadas ou, até mesmo, para a criação de

62 60 memórias concernentes aos aspectos mais íntimos e pessoais da nossa vida, contribuindo para a formulação de falsas acusações de supostos abusos sofridos no passado. Daniel Schacter (2011, p. 126) explica que se levarmos em consideração a heurística da distintividade - regra empírica que induz os indivídios a exigir lembranças de detalhes distintivos de uma experiência antes de estarem dispostos a decidir se a recordam - e nossas expectativas em relação às nossas memorias, talvez não seja tão surpreendente a possibilidade de se recordar de falsas lembranças da primeira infância. Em geral, não esperamos nos lembrar de acontecimentos da primeira infância com a mesma clareza e precisão com que nos lembramos de algo recente. É extremamente difícil implantar falsas memórias de experiências pessoais notórias que supostamente aconteceram ontem, como perder-se em um shopping, porque supomos que podemos nos lembrar dos fatos de ontem com certo detalhe e clareza. Para os acontecimentos recentes podemos recorrer a heurística da distintividade: se o evento sugerido tivesse ocorrido, nos recordaríamos graficamente. Entretanto, esperamos pouco de lembranças da primeira infância, por isso é mais provável que interpretemos imagens confusas ou vagas sensações de saber algo como sinais de uma memória emergente, especialmente se nos advertiram de que é possível ter essas lembranças (SCHACTER, 2011, p. 156). 7 Portanto, a utilização de técnicas sugestivas, como hipnose e imaginação guiada, por exemplo, para relembrar o passado, pode ser potencialmente nociva, principalmente quando busca-se lembranças de um fase da vida que é notadamente repleta de memórias falíveis e maleáveis, como é a infância. Relembrar o passado não é somente avivar um aspecto ou uma imagem latente, se trata de uma interação complexa entre o presente, ou seja, aquilo que realmente esperamos recordar e aquilo que guardamos no passado. As técnicas sugestivas podem alterar o equilíbrio entre esses elementos, fazendo com que os estímulos utilizados desempenhem um papel muito mais relevante, na definição daquilo que lembramos, do que o que de fato aconteceu no passado (SCHACTER, 2011, p. 156). 7 SCHACTER, Daniel L. Los siete pecados de la memoria: como olvida y recuerda la mente. Barcelona: Ariel, 2011, p Tradução livre de: En general no esperamos recordar los incidentes de la vida temprana con igual claridad y viveza que si se trata de un suceso reciente. Es dificilísimo implantar recuerdos falsos de experiencias personales destacadas que supuestamente ocurrieron ayer, como perderse en el centro comercial, porque suponemos que vamos a evocar los hechos de ayer con cierto detalle y claridad. Para los acontecimientos recientes podemos recurrir a la heurística de distintividad: si el suceso sugerido se hubiera producido, lo recordaríamos graficamente. No obstante, esperamos poco de recuerdos de la infancia temprana, con lo cual es más probable que interpretemos imagenes borrosas o sensaciones vagas de saber algo como señales de un recuerdo emergente, especialmente si nos an avisado de que es posible tener estos recuerdos.

63 61 Para comprovar que falsas memórias podem ser insinuadas por meio do uso de técnicas sugestivas, pesquisadores tentaram implantar memórias que seriam altamente impossíveis ou improváveis. Em um dos estudos realizados, foi pedido que algumas pessoas avaliassem um folheto de propaganda que mostrava pessoas apertando as mãos com o Pernalonga em uma visita à Disneylândia. Mais tarde, 16% dos participantes afirmaram que se lembravam de encontrar e de apertar as mãos com o Pernalonga (LOFTUS, 2003, p. 232). Posteriormente, em uma pesquisa complementar realizada, a apresentação de diversas falsas propagandas envolvendo o Pernalonga na Disneylândia, resultou em uma quantidade de 25-35% dos indivíduos alegando que o encontraram. Ademais, quando se pediu que esses indivíduos relatassem precisamente o que se lembravam sobre seu encontro com o Pernalonga, 62% lembraram-se de apertar sua mão e 42% lembraram-se de abraçá-lo. Algumas pessoas lembraram até mesmo de tocar suas orelhas ou seu rabo. Uma pessoa lembrou que ele estava segurando uma cenoura. Entretanto, é importante ressaltar que as cenas descritas no anúncio nunca ocorreram, porque o Pernalonga é um desenho da Warner Bros, e não da Disney (LOFTUS, 2003, p. 232). Elizabeth Loftus (2003, p ) relata que o uso de fotografias falsas é uma das mais inteligentes e poderosas técnicas para implantar falsas memórias extremamente improváveis. A autora cita o exemplo de um experimento em que foi apresentada a cada um dos participantes uma fotografia falsificada a partir de uma foto real, em que esta foto foi colada em outra que mostrava um passeio de balão de ar junto com um parente. Os membros da família do participante confirmaram que ele jamais havia feito um passeio de balão. Então, ao mostrar a foto aos indivíduos, foi pedido que narrassem detalhadamente tudo o que pudessem lembrar. Ao final do experimento, 50% dos participantes havia lembrado, parcialmente ou claramente, da viagem fictícia de balão de ar. Alguns incrementaram seus relatos com detalhes sensoriais desta experiência na infância que nunca ocorreu. Por exemplo, um indivíduo disse que tinha quase certeza que o evento havia ocorrido quando ele estava na sexta série e que sua mãe estava no solo, tirando fotos. Esse estudo é somente um, dentre vários que comprovam que as pessoas podem desenvolver crenças e memórias sobre eventos que definitivamente nunca viveram. Isso pode acontecer quando são influenciadas por fortes sugestões - como "sua família nos contou sobre esse acontecimento" ou "veja essa foto sua na sua infância". Elas podem fazer isso até mesmo quando são induzidas a imaginar as experiências (LOFTUS, 2003, p. 233).

64 62 Nesse mesmo sentido, Daniel Schacter (2011, p. 152) conta a respeito da psicóloga Ira Hyman e seus colegas da Universidade do Oeste de Washington, que conseguiram implantar, satisfatoriamente, falsas memórias de experiências infantis em uma quantidade significativa de participantes em seus experimentos. Em um desses experimentos, Hyman perguntou à estudantes universitários sobre diversas experiências reais de sua infância e sobre uma experiência falsa, segundo informações fornecidas pelos pais dos estudantes. Uma das perguntas feitas foi a seguinte: Quando você tinha cinco anos estava no jantar de casamento de uns amigos da família, e corria de um lado para o outro com outras crianças, você tropeçou em uma mesa e derrubou a tigela de ponche sobre os pais da noiva, lembra?. Os participantes lembravam com precisão de quase todos os acontecimentos reais, mas à princípio, não se lembraram dos acontecimentos falsos. Entretanto, em entrevistas posteriores, cerca de 20% a 40% de participantes descreveram certas lembranças do acontecimento falso. Mais da metade dos que relataram a lembrança falsa, incluíram detalhes específicos do acontecimento, como o lugar exato e o modo como derramaram o ponche. O autor atribui esses resultados às imagens visuais, ou seja, entende que as imagens visuais são responsáveis pelas memórias sugeridas, pois quando Hyman e seus colegas disseram aos participantes para tentar imaginar o acontecimento, caso não estivessem conseguindo recordá-lo, observaram mais lembranças falsas do que quando permitiam que os participantes tentassem se lembrar tranquilamente, sem qualquer interferência, se o fato havia acontecido ou não. Segundo o autor, isso ocorre porque, normalmente, as verdadeiras lembranças de fatos reais se dão por meio de numerosas imagens visuais, cheias de detalhes. Portanto, se as imagens são uma espécie de gatilho mental das memórias verdadeiras, incrementar uma falsa memória com intensas imagens mentais pode fazer com que pareça real (SCHACTER, 2011, p ). Ira Hyman, Troy Junior e James Billings (1995, p ) concluem que a combinação entre as experiências passadas de uma pessoa e o falso evento pode atuar de modo a dificultar ou a facilitar a criação de falsas memórias, portanto se trata de um fator crucial para a sua formação. Para demonstrar a importância de compreender o papel que as experiências passadas desempenham na formação de falsas recordações, os pesquisadores argumentam que muitos adultos, mesmo aqueles que não sofreram abuso, têm lembranças e conhecimentos pessoais relevantes diretamente relacionados ao abuso infantil, que podem servir de base para a formação de uma falsa memória. Exemplificam dizendo que a maioria das pessoas, quando crianças, foram punidas fisicamente, beijadas e abraçadas, as vezes mesmo quando não queriam, bem

65 63 como, banhadas e vistas nuas por adultos, portanto, a história pessoal de qualquer indivíduo possui elementos necessários para a construção da falsa recordação de abuso. Ademais, a construção de uma falsa memória não depende somente de um conhecimento pessoal que tenha alguma relação com o abuso, mas também pode ser alcançada a partir de um conhecimento genérico, como histórias sobre abuso que aconteceram com terceiros. A partir disso, os pesquisadores enfatizam que o entrevistador pode ativar essa conexão entre as experiências e conhecimentos pessoais passados e os falsos acontecimentos, por meio de sugestão direta, podendo rejeitar as razões de uma pessoa para desconfiar de uma lembrança e encorajar a consideração de uma imagem como uma recordação precisa. Dessa forma, falsas recordações de experiências vividas na infância podem ser criadas no decorrer da terapia, o que gera um difícil impasse para os terapeutas que entendem que a recuperação de memórias reprimidas é fundamental para que a terapia seja bem-sucedida. Tendo em vista a flexibilidade da memória humana, é possível que, buscando por memórias reprimidas de eventos traumáticos, um terapeuta possa, involuntariamente, estimular a criação de falsas memórias (HYMAN; JUNIOR; BILLINGS, 1995, p. 195). Há também exemplos do mundo real que comprovam como as falsas memórias podem repercutir no comportamento e nas escolhas posteriores de uma pessoa, pois quando se modifica uma memória, modifica-se a pessoa. Elizabeth Loftus (2004, p ) utiliza como exemplo um culto denominado Heaven's Gate ("Portão do Céu"), cujos membros foram levados a acreditar que haviam entrado em contado telepático com alienígenas. Aparentemente, os membros do culto assinaram uma apólice de seguro para se assegurarem contra abduções, fecundações ou assassinatos praticados por aliens. O grupo pagou mil dólares por ano por esta cobertura. Portanto, resta claro que suas crenças - provavelmente falsas - tiveram consequências econômicas. Contudo, as consequências não foram apenas econômicas, trinta e nove membros do culto participaram de um suicídio em massa, em 1997, acreditando que, tirando suas próprias vidas, estariam libertando suas almas. Enormes mudanças na autobiografia podem ser alcançadas rapidamente. Tentativas de diferenciar as falsas memórias das verdadeiras tem mostrado, ocasionalmente, diferenças estatísticas na confiança, vivacidade ou detalhamento, ou diferenças em potencialidades lateralizadas do cérebro. (...) A ciência da psicologia ainda não desenvolveu uma forma confiável de classificar as memórias em verdadeiras ou falsas.

66 64 Ademais, deve-se ter em mente que muitas falsas memórias são expressadas com uma enorme confiança (LOFTUS, 2003, p ). 8 Se levarmos em consideração que a memória de vítimas e de testemunhas de crimes também podem ser falsas e imprecisas, muito embora elas acreditem que sejam reais, chegaremos à conclusão de que diversas pessoas podem ter sido prejudicadas por falsas acusações, enquanto os verdadeiros criminosos jamais foram punidos. Até mesmo interrogatórios mais sugestivos podem levar às testemunhas a se equivocarem em suas memórias, trazendo graves implicações para o sistema legal e contribuindo para injustiças que poderiam ter sido evitadas (LOFTUS, 2003, p ). 4.2 A FALSA DENÚNCIA DE ABUSO SEXUAL E IMPLANTAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS COMO PRÁTICAS DE ALIENAÇÃO Se por um lado chega a ser abominável imaginar a hipótese de um genitor abusar sexualmente da própria prole - o que acontece, tristemente, com certa frequência -, não deixa de ser estarrecedor que um genitor, para afastar o outro do convívio com os filhos comuns, acuse-o falsamente, em juízo de ter praticado tal abuso. E é com pesar que se admite que tal situação vem acontecendo com uma frequência cada vez maior (OLIVEIRA, 2012, p. 119). Denise Maria Perissini da Silva (2011, p. 101) explica que a indução dos filhos a formular falsas acusações de abuso sexual contra o outro genitor é uma das formas mais desprezíveis e condenáveis de alienação parental, tendo em vista que, além de ser contra a moral e os bons costumes, em algum momento da vida da criança, essa falsa memória encontrará suporte em alguma fase do desenvolvimento psicossexual infantil. Gardner (2002, p ) explica que uma acusação de abuso sexual pode ser uma estratégia da SAP, servindo como um artifício extremamente persuasivo em disputas quanto à guarda dos filhos, mas isso não quer dizer que não existam acusações reais de abuso sexual, feitas de boa-fé. O autor entende que a falsa acusação é a forma de vingança mais poderosa que uma mulher pode utilizar contra seu ex-cônjuge, tendo em vista que pode resultar no afastamento imediato e permanente do acusado do convívio familiar. Gardner se refere à mulher 8 LOFTUS, ELIZABETH F. Our changeable memories: legal and practical implications. Natures Reviews - Neurosciencie, v. 4, 2003, p Tradução livre de: " Large changes in autobiography can be achieved quickly. Attempts to distinguish the false memories from true ones have occasionally shown statistical differences, such as differences in confidence, vividness os amount of detail, os differences in lateralized brain potentials. (...) Psychologial science has not yet developed a reliable way to classify memories as true or false. Moreover, it should be kept in mind that many false memories have been expressed with great confidence".

67 65 como aquela que mais utiliza esse tipo de acusação, sob a justificativa de que os pais do sexo masculino possuem mais dificuldade em utilizá-la, já que, segundo ele, a probabilidade de as mães abusarem de seus filhos é menor do que a dos pais. O autor ressalta que a utilização do termo SAP como sinônimo de uma falsa acusação de abuso sexual indica uma percepção equivocada do significado da síndrome da alienação parental, pois na maioria dos casos de SAP, não há acusação de abuso sexual, apenas quando todas as outras manobras alienatórias falharem, que essas acusações geralmente surgem. Portanto, a falsa acusação de abuso sexual, normalmente, deriva da SAP e não pode ser considerada como sinônimo dela. Segundo Gardner, nas situações de divórcio em que a acusação de abuso sexual surge sem que haja uma SAP preexistente, deve-se considerar a possibilidade de que essa acusação seja verdadeira, especialmente se o abuso sexual antecedeu a separação conjugal (GARDNER, 2002, p ). Nesse sentido, Maria Berenice Dias (2010b) expõe que todos os artifícios são usados pelos pais diante do conflito familiar, inclusive a acusação de que o filho foi vítima de abuso sexual durante o período de visitação. Diante dessa acusação de incesto, o filho, que muitas vezes não consegue identificar a o jogo de manipulações ao qual está submetido, é levado a acreditar que isso realmente aconteceu e passa a reproduzir o que lhe foi contado, vivendo uma falsa história a partir de falsas memórias. A autora afirma que, com o passar do tempo, nem a própria mãe é capaz de identificar o que é verdade e o que é mentira. Embora a explicação jurídica para as falsas alegações de abuso sexual pressuponha a prática intencional de alienação parental, é importante ressaltar que existem outras circunstâncias nas quais as falsas denúncias também podem surgir, conforme esclarece Tamara Brockhausen (2011, p. 89). A autora exemplifica dizendo que a falsa alegação de abuso sexual inventada, com o intuito de obter vantagens processuais contra o outro, com o intuito de vingança, é diferente daquela falsa acusação originada de uma preocupação genuína com a proteção dos filhos, que visa esclarecer uma suspeita real. Acrescenta ainda que as falsas alegações podem ser tanto conscientes e intencionais, como inconscientes e involuntárias. Mônica Guazelli (2013, p. 195) destaca que a falsa denúncia de abuso sexual e a implantação de falsas memórias nos filhos são efeitos distintos da síndrome da alienação parental. Segundo a autora, as falsas memórias constroem uma realidade inexistente para a criança, e configuram uma forma de abuso psicológico, que afeta o desenvolvimento da criança

68 66 e seu relacionamento com o genitor alienado. As falsas denúncias também configuram uma espécie de abuso emocional e psicológico, em que os filhos são manipulados e expostos a uma mentira. Para a autora, pode ser que quando o genitor alienador acusa - falsamente - o outro genitor de abusar de seus filhos em um processo judicial, existe a possibilidade haver, também, a implantação de falsas memórias nas crianças, configurando duas práticas diferentes decorrentes da alienação parental. A autora acrescenta que o guardião pode facilmente usar a sugestionabilidade das crianças em seu favor para implantar falsas memórias e criar uma situação que, posteriormente, não será possível saber a respeito de sua veracidade. Por mais experientes e preparados que sejam os operadores do direito, será extremamente difícil acreditar na inocência do genitor acusado diante do depoimento de uma criança que indique o contrário (GUAZELLI, 2013, p. 193). A respeito da drástica medida de inversão da guarda e os prejuízos que ela causa para o esclarecimento da veracidade das alegações de abuso sexual, tendo em vista que os profissionais, muitas vezes, não estão preparados para lidar com essa situação, Tamara Brockhausen (2011, p. 94) alega que, geralmente, a complexidade das condutas necessárias para a investigação de uma suspeita de abuso sexual em um contexto em que a SAP pode estar presente, exige certo treinamento específico e disponibilidade de tempo que os peritos provavelmente não possuem. Com a inversão da guarda em favor do alienador, a solução do problema torna-se ainda mais difícil, pois, é possível que a programação se intensifique e impossibilite o esclarecimento da demanda. Ana Carolina Carpes Madaleno e Rolf Madaleno (2013, p. 106) relatam o quão comum tem sido o aparecimento de denúncias de abuso sexual do genitor não-guardião em ações específicas de alienação parental, ou mesmo em ações de divórcio, de dissolução de união estável, de guarda de filhos, de regulamentação de visitas, ou até mesmo, de alimentos. Tais alegações, por sua gravidade, fazem com que o julgador, muitas vezes, determine - de imediato - o afastamento do genitor acusado do convívio familiar com os filhos, suspendendo o regime de visitas, por temer pela segurança das crianças ou adolescentes. Nesses casos, nota-se que a atuação do sistema judiciário vai ao encontro dos propósitos do genitor alienador, que usa o processo como instrumento formal de alienação.

69 67 Nesse sentido, Tamara Brockhausen (2011, p. 98) observa que diante de uma suspeita de abuso, os operadores do direito interrompem imediatamente o convívio entre a criança e o acusado. Entretanto, uma forma de atenuar os efeitos de uma possível síndrome da alienação parental e evitar o rompimento definitivo dos laços afetivos é permitir a continuidade das visitas até que as investigações sejam concluídas. Portanto, a autora entende que o rompimento total do contato entre a criança e o genitor acusado pode contribuir ainda mais para o agravamento da alienação e da violência psicológica sofrida por eles. A veracidade e a seriedade das falsas acusações são ainda maiores quando o alienador induz nos filhos a criação de falsas memórias da ocorrência de abuso sexual, ou mesmo físico ou emocional, praticados pelo genitor visitante, tendo em vista que o relato da criança sobre o abuso, muitas vezes, é o único meio de prova existente para incriminar o genitor acusado. Por isso um dos aspectos mais delicados em relação às falsas alegações de abuso sexual é o testemunho infantil, que, segundo os estudos psicológicos, é o indício mais confiável de uma situação abusiva. Entretanto, os peritos, preocupados em proteger a criança, podem acabar produzindo estudos precipitados que confirmam o abuso a partir de depoimentos fracos e inconclusivos (BROCKHAUSEN, 2011, p. 91). Para exemplificar tal situação, Tamara Brockhausen (2011, p. 91) cita um caso narrado por Gardner em um de seus livros, em que uma menina de quatro anos de idade disse que não queria nunca mais ver seu pai, e justifica essa aversão dizendo que ele havia lhe "penetrado". Ao ser perguntada sobre o significado da palavra "penetrar", a criança respondeu dizendo para perguntarem a sua mãe, pois ela saberia dizer o que essa palavra significa. Relatando sua experiência no Serviço Social Judiciário do Foro Central de Porto Alegre, onde realizam perícias sociais no núcleo de família, serviço este que hoje integra a Central de Atendimento Psicossocial Multidisciplinar (CAPM), Denise Duarte Bruno (2013, p ) narra em um dos casos apresentados, a utilização de uma falsa memória, visando o afastamento da criança do convívio familiar com o pai. Nesse caso, a mãe da criança, que tinha cerca de quatro anos de idade, ingressou com uma ação de suspensão de visitas do pai à filha, alegando que a companheira do pai teria raspado a pomada de assadura dos genitais de sua filha com uma colher, com intenções libidinosas. O processo veio acompanhado de atestados médicos que afirmavam que, no dia seguinte à visita na casa do pai, a criança estava com os genitais irritados, indicando a possibilidade de abuso sexual. Entretanto, ao ser entrevistada, a menina fez diversas referências positivas ao pai, à sua companheira e aos momentos que passavam juntos, porém,

70 68 afirmou que não mais poderia ir à casa do pai, usando as mesmas justificativas da mãe a respeito do episódio com a colher. Ao ser questionada sobre como sabia que se tratava de uma colher, a criança respondeu que ao chegar em casa, a mãe havia lhe contado o que aconteceu. Ademais, ao final da entrevista, ao ser perguntada se gostaria de dizer mais alguma coisa, a criança respondeu que já havia dito tudo o que combinou com a mãe que deveria ser dito. Diante disso, ressalta-se a importância de se investigar minuciosamente a veracidade ou não de uma alegação de abuso sexual, sem descartar qualquer possibilidade. Denise Duarte Bruno (2013, p. 291) enumera três cuidados a serem tomados diante de uma acusação de abuso sexual, dizendo que não deve-se esquecer: a. que nenhuma alegação de abuso deve ser negligenciada; b. que falsas memórias, mesmo que não sejam abusos, precisam ser objeto de intervenção psicoterápica; c. que uma avaliação objetiva e detalhada, mesmo que sucinta, pode ser importante para sensibilizar o magistrado no sentido de um encaminhamento rápido, que proporcione o atendimento adequado às crianças vitimizadas. Nesse sentido, sabe-se que não é possível calcular a frequência com que as alegações de abuso sexual são falsas. Por se tratar de um tema recente, são necessárias mais pesquisas na área e uma especial dedicação dos profissionais envolvidos. Portanto, desde o início da perícia, o investigador deve considerar que um abuso real e um falso abuso têm a mesma probabilidade de ocorrência (BROCKHAUSEN, 2011, p. 98) DIFERENCIAÇÃO ENTRE O REAL ABUSO E A FALSA MEMÓRIA (...) em situações em que ocorrem acusações de abuso sexual, ainda que sem comprovação, os sintomas de uma criança supostamente abusada se assemelham aos de uma criança verdadeiramente abusada, o que torna difícil a identificação pelos profissionais, principalmente aqueles desconhecedores da existência das falsas acusações de abuso sexual (SILVA, 2013, p. 354). José Manoel Aguilar apresenta uma tabela que detalha as diferenças entre um caso real de abuso sexual e um caso em que está presente a SAP: QUADRO 2 - Diferenças entre o real e o falso abuso sexual ABUSO SEXUAL (Continua) SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL O filho lembra do que ocorreu sem nenhuma ajuda externa. O filho programado não viveu o que seu progenitor denuncia - precisa se recordar.

71 69 As informações que transmite têm credibilidade, com maior quantidade e qualidade de detalhes. Os conhecimentos sexuais são impróprios para sua idade: ereção, ejaculação, excitação, sabor do sêmen etc. Costumam aparecer indicadores - sexuais: condutas voltadas ao sexo, conduta sedutora com adultos, jogos sexuais precoces e impróprios com semelhantes (sexo oral), agressões sexuais a outros menores de idade inferior, masturbação excessiva etc. Costumam existir indicadores físicos do abuso (infecções, lesões). Costumam aparecer transtornos funcionais: sono alterado, eneresis, encopresis, transtornos de alimentação. Costuma apresentar atrasos educativos: dificuldade de concentração, de atenção, falta de motivação, fracasso escolar. Costuma apresentar alterações no padrão de interação: mudanças de conduta bruscas, isolamento social, consumo de álcool ou drogas, agressividade física e/ou verbal injustificada, roubos etc. Costuma apresentar desordens emocionais: sentimentos de culpa, estigmatização, sintomas depressivos, baixa autoestima, choro sem motivo, tentativas de suicídio. Sente culpa ou vergonha do que declara. As denúncias de abuso são prévias à separação. O progenitor percebe a dor e a destruição de vínculos que a denúncia provocará na relação familiar. Seria esperado que um progenitor que abusa de seus filhos pudesse apresentar outros transtornos em diferentes esferas de sua vida. As informações que transmite têm menor credibilidade, carecem de detalhes e inclusive são contraditórias entre os irmãos. Não tem conhecimentos sexuais de caráter físico: sabor, dureza, textura etc. Não aparecem indicadores sexuais. Não existem indicadores físicos. Não costuma apresentar transtornos funcionais que o acompanhem. Não costuma apresentar atraso educativo em consequência da denúncia. O padrão de conduta do sujeito não se altera em seu meio social. Não aparecem sentimentos de culpa, ou estigmatização, ou condutas de autodestruição. Os sentimentos de culpa ou vergonha são escassos ou inexistentes. As denúncias de abuso são posteriores à separação. O progenitor não leva em conta, nem parece lhe importar, a destruição dos vínculos familiares. Um progenitor alienado aparenta estar são nas diferentes áreas de sua vida.

72 70 Um progenitor que acusa o outro de abuso a seus filhos costuma acusá-lo também de abusos a si mesmo. (Conclusão) Um progenitor programador só denuncia o dano exercido aos filhos. Fonte: AGUILAR, José Manoel. Síndrome da alienação parental. Disponível em: < Acesso em: 21 dez Denise Maria Perissini da Silva (2013, p ) também relata alguns fatores indicativos da veracidade ou não das acusações de abuso, dentre eles, destaca-se as situações de litígio judicial entre os pais, envolvendo questões como regulamentação de visitas e pensão alimentícia, principalmente aquelas iniciadas antes do aparecimento das acusações, como fortes indicativos de que a acusação de abuso aparece como o último recurso do genitor alienador na tentativa de afastar o genitor alienado. Ademais, a autora entende que a presença de aspectos passíveis de discriminação e preconceito no genitor acusado, como sua orientação sexual, raça, religião, grau de escolaridade, posição econômica, situação de emprego, entre outros, também servem como indicadores quanto a veracidade das acusações de abuso sexual. A autora acrescenta ainda que, na situação em que realmente ocorreu o abuso, os lapsos na memória da criança são decorrentes do trauma vivenciado, tendo em vista que a vítima quer esquecer o que aconteceu. Já nas falsas acusações, os lapsos na memória se referem às mentiras, às contradições e às invenções exageradas e desnecessárias que permeiam o relato da suposta vítima, tendo em vista que tal relato foi induzido pelo genitor alienador, que acredita que dessa forma irá convencer o judiciário e justificar o afastamento do genitor acusado. Outrossim, a autora entende que os pais das crianças vítimas de abuso real se sentem aliviados quando comprova-se que não houve abuso, pois não querem acreditar que seus filhos passaram por tal sofrimento. Já nos casos de falsos abusos, tanto os pais, como os filhos - supostas vítimas - demonstram uma certa obsessão em falar do abuso e se mostram decepcionados diante da comprovação da sua não ocorrência (SILVA, 2013, p ). Gardner (1999, p ) explica que o primeiro passo para diferenciar uma situação em que a SAP está presente de uma situação de abuso real, que ele chama de abuso genuíno, é atentar-se para a presença dos oito sintomas primários da SAP - campanha de difamação; racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para a depreciação; falta de ambivalência; o fenômeno do pensador independente ; apoio reflexivo ao genitor alienador no conflito parental; ausência de culpa pela crueldade e/ou exploração do genitor alienado; presença de cenários emprestados; e extensão da animosidade aos amigos e/ou família do genitor alienado

73 71 -, tendo em vista que as crianças vítimas da SAP provavelmente apresentarão estes sintomas, ao contrário daquelas que realmente foram abusadas. O autor acrescenta ainda que a maioria das crianças que realmente sofreram abuso, costumam apresentar os principais sintomas observados no Transtorno de Estresse Pós- Traumático, como: preocupação com o trauma; revivência episódica do trauma e flashbacks; dissociação; despersonalização; desrealização e entorpecimento psíquico; dessensibilização; sonhos específicos relacionados ao trauma; medo de pessoas que lembram o abusador; hipervigilância e/ou sobressaltos frequentes; pessimismo em relação ao futuro; entre outros, conforme dispõe o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV), da Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association), publicado em Dessa forma, a observação destes sintomas, bem como dos sintomas primários da SAP, pode ser útil para diferenciar entre o abuso genuíno e a falsa memória em crianças vítimas da SAP (GARDNER, 1999, p ).

74 72

75 73 5. ANÁLISE JURISPRUDENCIAL E DISCUSSÃO Conforme evidenciado no tópico referente à metodologia da pesquisa, foram analisados 100 acórdãos, referentes aos estados de São Paulo e Minas Gerais, dos quais 83 foram considerados válidos para a análise das 14 variáveis escolhidas para compor os resultados desta pesquisa. 5.1 QUANTIDADE DE AÇÕES POR ANO E POR ESTADO Mediante análise dos resultados válidos, foi possível estabelecer a quantidade de ações em que o termo alienação parental foi citado de alguma forma, seja como acusação de uma das partes contra a outra, como prática identificada pelo juiz, ou como mera advertência acerca de suas consequências. Mediante essa apuração, contabilizou-se a quantidade de decisões proferidas por ano em cada um dos dois estados pesquisados. Como mencionado anteriormente, na etapa referente à metodologia, a intenção inicial era de que o corte temporal da amostra fosse a partir do ano de 2003, até o ano de Entretanto, em ambos os estados, foram encontrados resultados apenas a partir do ano de Uma possível razão para isso pode ser a limitação dos tribunais em oferecer a totalidade dos resultados jurisprudenciais. Outra possível explicação reside no fato de que o termo alienação parental é relativamente novo, tendo que vista que foi proposto por Gardner em meados da década de 80 e, no Brasil, a prática somente adquiriu destaque em 2010, com a promulgação da Lei , que trata do tema.

76 74 FIGURA 4 - Gráfico da quantidade de casos envolvendo alienação parental por ano e por estado QUANTIDADE DE AÇÕES Minas Gerais São Paulo Fonte: Dados da pesquisa Por meio da análise do gráfico, pode-se concluir que não é possível identificar um padrão de crescimento ou de decréscimo na quantidade de decisões proferidas por ano. O mesmo ocorre na comparação entre os dois estados, tendo em vista que, no ano de 2009, por exemplo, foram proferidas 14 decisões em São Paulo e apenas uma em Minas Gerais, já no ano de 2013 foram proferidas 12 decisões em Minas Gerais, e apenas uma em São Paulo. 5.2 TIPO DA AÇÃO É certo que a prática da alienação parental é identificada, principalmente, em contextos de conflitos familiares. Conforme o entendimento de Mário Henrique Castanho Prado Oliveira (2012, p. 149), é muito comum que a alienação parental se inicie após o estabelecimento da guarda e do regime de visitas, momento em que o genitor guardião passa a dificultar o exercício regulamentado da convivência familiar da criança com o genitor alienado. O caput do art. 4º, da Lei /2010, prescreve que o juiz pode declarar a existência de atos de alienação parental e determinar as medidas cabíveis em qualquer momento processual, em qualquer ação e grau de jurisdição, a requerimento das partes ou de ofício, em uma demanda autônoma ou incidental: Art. 4 o Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.

77 75 Portanto, presente algum indício de alienação parental, o genitor alienado não precisa, necessariamente, ingressar com uma ação específica de alienação parental, podendo se utilizar de um processo em andamento caso haja algum que pode ser relativo a uma ação de divórcio, de alimentos, de guarda de filhos, de regulamentação de visitas, de reconhecimento e dissolução de união estável, ou até mesmo medida cautelar de busca e apreensão de menor. Nesse mesmo processo, caso o magistrado não tenha agido de ofício, diante de indícios alienatórios, pode a parte interessada ou o representante do Ministério Público denunciarem os atos de alienação (MADALENO; MADALENO, 2013, p. 105). O gráfico abaixo mostra em quais tipos de ação as práticas de alienação parental aparecem com mais frequência (como acusações feitas pelas ou identificadas de ofício pelo juiz). Os tipos de ação possíveis foram elencados em 9 categorias: separação, divórcio, guarda e visitas; ação de destituição do poder familiar; medida cautelar de busca e apreensão de menor; separação e divórcio; ação de declaração de alienação parental; guarda e visitas; visitas; e guarda. Os resultados obtidos corroboram com o entendimento da doutrina, tendo em vista que as ações envolvendo guarda e/ou visitas são aquelas em que mais se encontram discussões acerca de condutas alienatórias. De 83 decisões analisadas, 60 eram provenientes de ações envolvendo algum aspecto referente à guarda e/ou visitas, compreendendo as seguintes categorias: guarda e visitas; somente visitas; ou dissolução da sociedade conjugal, cumuladas com estabelecimento de guarda e regime de visitas. Portanto, cerca de 72% do total de decisões analisadas são provenientes de ações que discutem o estabelecimento, a destituição ou a modificação de guarda dos filhos e/ou a regulamentação, a suspenção ou a modificação visitas. Cerca de 10% do total de decisões correspondem a ações específicas visando a declaração de alienação parental. Também foram identificadas discussões acerca da alienação parental em ações de destituição poder familiar, medidas cautelares de busca e apreensão de menor, ações envolvendo separação e divórcio. O restante, classificado no gráfico como Outros, corresponde à cerca de 6% do total de decisões e envolve: ação de indenização por danos morais, ação de reconhecimento e dissolução de união estável, medida protetiva intentada pelo Ministério Público, procedimento de averiguação de paternidade e exceção de incompetência.

78 76 FIGURA 5 - Gráfico da frequência com que aparece o termo alienação parental em cada tipo de ação. TIPO DA AÇÃO G U A R D A 31 V I S I T A S 19 G U A R D A E V I S I T A S A Ç Ã O D E D E C L A R A Ç Ã O D E A L I E N A Ç Ã O P A R E N T A L 8 9 S E P A R A Ç Ã O E D I V Ó R C I O O U T R O S 5 6 M E D I D A C A U T E L A R D E B U S C A E A P R E E N S Ã O D E M E N O R A Ç Ã O D E D E S T I T U I Ç Ã O D E P O D E R F A M I L I A R S E P A R A Ç Ã O E D I V Ó R C I O, G U A R D A E V I S I T A S Fonte: Dados da pesquisa De qualquer forma, seja incidental ou autônoma, a demanda deve ter tramitação prioritária, caso sejam identificados indícios de prática de alienação parental, devendo o juiz determinar as medidas provisórias cabíveis, com o objetivo de preservar a convivência familiar e a integridade psicológica da criança ou adolescente. 5.3 PERÍCIA MULTIDISCIPLINAR As ações que versam sobre direto de família, na maioria das vezes, necessitam da realização de perícias multidisciplinares para averiguar aspectos biopsicossociais determinantes para o deslinde do processo. No caso de uma situação que envolve alienação parental, a perícia tem a função de determinar com precisão a sua existência. Tal perícia exige não só a atuação de psicólogos, mas também de outros profissionais, como assistentes sociais ou médicos (FREITAS, 2014, p. 52). Conforme se extrai do art. 5º, da Lei /2010, a perícia multidisciplinar deve ser a mais ampla e minuciosa possível, envolvendo alguns requisitos mínimos para a confiabilidade do laudo, como: entrevista pessoal com as partes, isoladamente e em conjunto, se possível, bem como exame de documentos trazidos aos autos, análise do histórico de relacionamento das partes em litígio e da personalidade dos envolvidos e, principalmente, exame da criança ou

79 77 adolescente e da forma como se manifestam em relação aos genitores. O propósito da perícia é verificar a ocorrência de atos alienatórios e seu estágio de desenvolvimento. Art. 5 o Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial. 1 o O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor. 2 o A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental. 3 o O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada. Além disso, conforme o entendimento de Denise Maria Perissini da Silva (2011, p ) em consonância com o 2º, do art. 5º, da referida lei, é fundamental que o perito tenha conhecimento a respeito da alienação parental e de seus efeitos para o desenvolvimento afetivo e social da criança ou adolescente para que seja possível a realização do diagnóstico diferencial, evitando avaliações com base em impressões superficiais e estereotipadas. A autora entende que o psicólogo deve ter aptidão para notar qualquer tipo de manipulação ou influência exercida pelo alienador sobre a criança, bem como identificar se os relatos são realmente autênticos e ser capaz de perceber qual é o ambiente mais favorável e sadio para o desenvolvimento da criança. Acrescenta ainda que se não for um caso de alienação, o perito deve ter meios suficientes para fundamentar sua conclusão. Na visão de Elizio Luiz Perez (2013, p. 50), Juiz do Trabalho em São Paulo e responsável pela consolidação do anteprojeto que deu origem à lei sobre a alienação parental, considerar a necessidade da perícia como absoluta incorre em verdadeiro retrocesso, tendo em vista que casos evidentes de alienação parental e abuso, como a deliberada obstaculização de visitas regulamentadas por sentença, por exemplo, ensejam imediata intervenção judicial. Por outro lado, segundo o entendimento de Fábio Vieira Figueiredo e Georgios Alexandridis (2014, p. 52), tendo em vista a seriedade da situação, a colheita de provas periciais multidisciplinares em relação a todos os envolvidos, se mostra indispensável para que o juiz possa ter elementos suficientes para caracterizar a existência da alienação parental.

80 78 Deirdre Conway Rand (1997, p. 14) busca fazer uma contraposição entre os aspectos positivos e negativos da participação de profissionais multidisciplinares nos casos envolvendo disputas de guarda e visitas que envolvam alegações de alienação parental. Especialistas em saúde mental podem se envolver em disputas pela guarda ou visitação desempenhando uma variedade de papéis: como avaliadores, terapeutas, advogados, mediadores, gestores, educadores e/ou consultores para os pais ou seus advogados. Profissionais da saúde mental podem ajudar a identificar as necessidades da criança, avaliando os pontos fortes e fracos dos pais, modificando a dinâmica específica do conflito parental e aconselhando os tribunais. (...). Por outro lado, os serviços de saúde mental podem ser demorados e ineficazes em casos de alto conflito. Na verdade, algumas vezes podem causar danos às partes e às relações familiares. 9 O autor acrescenta que os terapeutas infantis podem, muitas vezes reforçar o sentimento de raiva e culpa de uma criança contra um dos pais. Isso ocorre quando a própria visão do terapeuta em relação ao pai alienado é negativa, ou seja, a opinião do terapeuta pode influenciar negativamente a criança, o que corrobora para reforçar o desenvolvimento da alienação parental. Quando há alegações de abuso, é possível que qualquer um que esteja numa posição de autoridade, como terapeutas, policiais, médicos, assistentes sociais, atue no sentido de corroborar com as alegações, ao invés de conduzir uma investigação objetiva, pois pode assumir antecipadamente que o abuso realmente ocorreu (RAND, 1997, p. 15). Portanto, conforme já explicitado no tópico referente a formação de falsas memórias, a sugestionabilidade da memória pode ser um fator prejudicial ao sucesso da perícia multidisciplinar, tendo em vista que muitas vezes, o próprio avaliador é involuntariamente responsável por criar falsas memórias. O gráfico a seguir expõe dados a respeito da realização de perícia multidisciplinar nos casos envolvendo alienação parental. Cabe ressaltar que foi analisada a frequência com que houve realização da perícia conforme o momento específico em que se encontrava o processo. Aquelas decisões em que o juiz determinou a realização de perícia psicológica ou biopsicossocial, mas que, até aquele momento processual, ela ainda não havia sido realizada, 9 RAND, Deirdre Conway. The Spectrum of Parental Alienation Syndrome, Part II. American Journal of Forensic Psychology, v. 15, n. 4e, 1997, p. 14. Tradução livre de: Mental health experts can become involved in contested custody/visitation disputes in a variety of roles: as evaluators, therapists, advocates, mediators, case managers, educators and/or consultants to parents or their attorneys. Mental health professionals may assist in identifying the needs of the child, assessing strengths and weaknesses of the parents, modifying the specific dynamics of parental conflict and advising the courts. ( ) On the other hand, mental health services may be protracted and ineffective in high conflict cases. Sometimes they actually cause damage to the parties and to family relationships.

81 79 foram computadas dentro das 30 decisões em que não houve realização de perícia multidisciplinar. Mediante a análise do gráfico, é possível perceber que na maioria das decisões (cerca de 63%) há a realização de perícia multidisciplinar e em apenas 36% do total de decisões analisadas não houve a realização de perícia, pelo menos até o momento processual em que se encontravam. FIGURA 6 - Gráfico a respeito da frequência da realização de perícia multidisciplinar HOUVE REALIZAÇÃO DE PERÍCIA MULTIDISCIPLINAR? 1% 36% 63% Sim Não Não foi mencionado Fonte: Dados da pesquisa 5.4 SEXO O gráfico adiante reflete o sexo que predomina como suposto alienador nas acusações de alienação parental, percebe-se que em 66% do total de casos analisados, o suposto alienador é do sexo feminino. Tal resultado faz referência principalmente às mães, mas também, avós, madrastas e até mesmo tias, aparecem como supostas alienadoras. Em contrapartida, apenas 17% dos casos têm como suposto alienador uma pessoa do sexo masculino. Em 11% dos casos ambos os sexos são acusados de serem os supostos alienadores apenas 17% dos casos sendo homens os supostos alienadores. Em 11% dos casos ambos os sexos são acusados de serem os supostos alienadores. Isso ocorre porque a troca de acusações envolvendo a prática de atos alienatórios é comum entre os genitores ou responsáveis pela criança ou adolescente.

82 80 Em 6% dos casos não foi possível identificar o sexo do suposto alienador por falta de informações suficientes disponíveis na decisão. FIGURA 7 - Gráfico a respeito do sexo do suposto alienador SEXO DO SUPOSTO ALIENADOR 11% 6% 17% 66% Feminino Masculino Ambos Não foi mencionado Fonte: Dados da pesquisa Quanto ao sexo do genitor guardião, retratado no gráfico a seguir, tem-se que em 72% dos casos analisados o detentor da guarda dos filhos é do sexo feminino e em 21% dos casos o guardião é do sexo masculino. Apenas em 7% dos casos a guarda era exercida por guardiães de ambos os sexos. Tais casos correspondem às hipóteses em que a guarda é exercida pelos avós, por pais socioafetivos, ou mesmo pelos próprios pais biológicos, em casos de guarda compartilhada.

83 81 FIGURA 8 - Gráfico a respeito do sexo do genitor guardião SEXO DO GENITOR GUARDIÃO 7% 21% 72% Feminino Masculino Ambos Fonte: Dados da pesquisa A partir destes resultados pode-se inferir que, na maior parte das vezes, o guardião da criança é quem pratica os atos alienatórios. Ou seja, aquele que tem a clara obrigação de tomar todas as medidas razoáveis para garantir o contato familiar da criança com o genitor nãoguardião é justamente aquele que pratica a alienação parental. Sobre essa questão, Mário Henrique Castanho Prado Oliveira (2012, p. 52) leciona que o direito de visitas decorre justamente da modalidade de guarda unilateral, em que um dos genitores é o guardião e ao outro cabe o direito de visitas. Sendo assim, o genitor guardião conserva a titularidade dos direitos e deveres que já lhe pertenciam quando compartilhava a guarda simultaneamente com o outro genitor, entretanto, possui o encargo complementar de assegurar o direito dos filhos à convivência familiar com o genitor não guardião. Além disso, o guardião está sujeito ao direito - e dever - de supervisão a ser exercido pelo genitor não guardião, afim de fiscalizar o cumprimento de todos os cuidados que a guarda impõe, como o de conduzir a educação dos filhos, assegurar-lhes segurança e garantir-lhes proteção à saúde. O gráfico a seguir representa um comparativo entre o sexo do suposto alienador e a veracidade das alegações - reconhecida judicialmente. Tem-se que, dos 83 casos analisados, 55 tinham como suposto alienador, pessoas do sexo feminino. Destes 55 casos, em apenas 23 houve a identificação da prática de alienação parental na decisão judicial, contra 32 casos em que ela não foi identificada pelo magistrado.

84 82 Por outro lado, somente 14 casos, de todos os analisados, tinham pessoas do sexo masculino como suposto alienador e, destes 14, foi identificada a presença de alienação parental em apenas 9. FIGURA 9 - Gráfico do comparativo entre o sexo do suposto alienador e a veracidade das alegações COMPARATIVO ENTRE O SEXO DO SUPOSTO ALIENADOR E A VERACIDADE DAS ALEGAÇÕES Alienação identificada Alienação não identificada F E M I N I N O M A S C U L I N O A M B O S N Ã O F O I M E N C I O N A D O Fonte: Dados da pesquisa Com base nisso, conclui-se que, em números absolutos, na amostra, pessoas do sexo feminino alienaram mais. Proporcionalmente, entretanto, a alienação parental foi mais identificada nos homens 64% das acusações foram procedentes contra homens, ao passo que apenas 42% foram identificadas contra mulheres. Homens também fizeram mais acusações infundadas (58%) do que as mulheres (36%). 5 Tais resultados levam a uma reflexão a respeito da conexão entre a alienação parental, as questões relacionadas ao sexo e ao contexto social em que a ideia da alienação parental foi desenvolvida, como já foi exposto no tópico referente ao contexto histórico desta pesquisa.

85 83 Michele Adams (2006, p ) enumera uma série de acontecimentos que influenciaram o surgimento e desenvolvimento da síndrome da alienação parental, dentre eles, a pesquisadora destaca: O movimento pelo direito das mulheres, que demandava igualdade entre os sexos, tendo em vista que as mulheres eram vistas como vítimas da discriminação patriarcal da época; O contra movimento pelo direito dos pais, que exigia igualdade em relação as mulheres nos tribunais e na elaboração de legislações concernentes ao direito de família, tendo em vista que se viam como vítimas do feminismo e do sistema de direito de família; O crescente índice do percentual de divórcios e as mudanças no regime de guarda dos filhos, que se deu por meio do desenvolvimento da modalidade de guarda compartilhada imparcial em termos de gênero; O aumento dos relatos de abuso infantil, cuja descoberta e disseminação foram auxiliadas pela afirmação feminista de que a instituição patriarcal permitia aos homens o exercício de seu poder (físico, psicológico e sexual) sobre as mulheres e crianças da família; A mudança do regime de divórcios, que deixa de focar no juízo de culpabilidade, visando eliminar o clima de rivalidade que antagonizava de um lado a vítima (geralmente a mulher) e de outro lado o culpado (geralmente o marido); E, principalmente, a mudança na forma como as questões de gênero eram tratadas, tanto na esfera pública, como na esfera privada. Dentro desse contexto de transições em relação ao sexo e às questões familiares, a autora entende que a difusão da síndrome de alienação parental se deve a uma manobra bem sucedida do movimento pelos direitos dos pais, pois não só desvia o foco dos pais como possíveis suspeitos de abuso infantil, como também permite que eles sejam vistos como vítimas de mulheres vingativas e desprezíveis, incentivando a fixação de uma guarda conjunta ou, até mesmo, guarda unilateral em favor do pai, dando a eles um controle quase absoluto sobre os filhos, o que acaba sendo uma forma de evitar a emasculação que os homens normalmente associam ao divórcio, pois continuam exercendo sua autoridade sobre os filhos. Portanto,

86 84 segundo Adams (2006, p ), a disseminação da SAP reflete a habilidade dos homens de incorporar e adaptar a retórica feminista de igualdade, vitimização e liberdade de escolha e associá-la com estereótipos femininos, visando reverter os sucessos alcançados pelos movimentos feministas em fracasso para as mães. Em contrapartida, para as mães, a dominância das alegações de SAP representa uma situação devastadora, pois com uma acusação bem-sucedida de alienação parental contra ela, é ela quem passa a ser vista como abusadora, podendo perder seu poder familiar, além de se sentir impotente por não ser capaz de proteger seu filho de um suposto abusador infantil. Ademais, com o estigma de alienadora, muito provavelmente, ela jamais conseguirá provar sua inocência (ADAMS, 2006, p. 337). Como já foi mencionado anteriormente nesta pesquisa, inicialmente Gardner avaliou que cerca de 90% dos responsáveis pela alienação parental eram as mães, tendo em vista que, com a valorização do interesse superior da criança como base para a fixação da guarda, houve um aumento na determinação da guarda conjunta, em detrimento da guarda unilateral em favor da mãe com base em seu sexo, fazendo com que as mães começassem a fomentar a existência de um distúrbio que pudesse oferecer uma vantagem para que continuassem exercendo a guarda exclusiva dos filhos. Tal desvantagem relativa presumida das mães em relação à guarda dos filhos, reflete um dos indícios sexistas da síndrome de alienação parental (ADAMS, 2006, p. 326). Segundo Adams (2006, p ), as suposições de Gardner, que permeiam todo seu trabalho, de que mulheres divorciadas são necessariamente desprezíveis, irritadas, vingativas e dispostas a fazer uso de medidas extremas para se vingar de seus ex-maridos por tê-las rejeitado, enquanto os homens são vítimas inocentes, estereotipa e rotula as mulheres, e como qualquer estereótipo, não exige nenhum fundamento científico. Portanto, tudo leva a crer que a construção da SAP foi feita sobre estereótipos de gênero. No entanto, a autora deixa claro que isso não significa que a alienação parental ou o abuso infantil não aconteçam. Mas, a contraposição dos dois em uma competição altamente subjetiva para decidir qual é o verdadeiro abuso é expor a criança a uma disputa em que todos saem perdendo. 5.5 ATOS ALIENATÓRIOS O gráfico abaixo retrata os atos alienatórios alegados pelas partes nos casos analisados. Buscou-se uniformizar as alegações em categorias segundo o parágrafo único, do art. 2º, da Lei

87 /2010, que elenca, de forma exemplificativa, as condutas praticadas por genitores, avós ou por quem tenha a criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância, que são consideradas atos de alienação parental. FIGURA 10 - Gráfico dos atos alienatórios alegados pelas partes ATOS ALIENATÓRIOS ALEGADOS Omissão deliberada de informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço Negativa materna em informar a qualificação do pai da criança, dificultando contato da crianc a ou adolescente com genitor 1 1 Mudança para domicílio distante ou sucessivas mudanças de domicílio, sem justificativa, visando a dificultar a convivência familiar da criança com o outro genitor e sua família Interferência na formação psicológica da criança promovida ou induzida pelo genitor causando prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com o outro genitor Falsa denúncia de abuso (sexual, físico ou moral) contra genitor para obstar ou dificultar a convivência com a criança ou adolescente 24 Dificultação do exercício do direito regulamentado de convivência familiar 52 Campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade Fonte: Dados da pesquisa Cabe destacar que também é caracterizadora de alienação parental a mera conduta que prejudique o vínculo familiar da criança com o genitor, não importando se produziu efeitos ou não. O legislador culpabilizou a conduta do genitor que visa a obstrução da convivência familiar, bem como o resultado alcançado por esta obstrução, ainda que não tenha havido a clara intenção de efetivá-la (OLIVEIRA, 2012, p. 147).

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