O QUE USAR PARA LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE CORDAS?

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1 O QUE USAR PARA LIMPEZA E CONSERVAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE CORDAS? Por *Vlamir Devanei Ramos - 20/02/2017 Este artigo não foi elaborado para luthiers, mas sim para músicos e estudantes que de maneira simples, metódica e econômica, podem manter seu instrumento sempre em boas condições de conservação e beleza sem danificá-lo. O músico fica na dúvida e pergunta: O que posso usar para limpar e conservar meu instrumento? Existem muitas opiniões a respeito, umas diferentes de outras, mas todas, quase sem exceção, com explicações apenas imaginariamente técnicas. Nos casos em que o profissional não tem uma explicação baseada no verdadeiro conhecimento científico, se limita a dizer que é para não prejudicar o verniz, ou então porque é um produto natural. Talvez este artigo seja polêmico, mas tem como objetivo trazer alguma luz. Geralmente busca-se um produto que, ao mesmo tempo limpe e faça o polimento do instrumento. Mas limpeza e polimento são coisas diferentes. Eventualmente no caso de sujeiras leves e superficiais, um produto polidor pode efetuar também a limpeza, mas sua função não é essa. Ceras, óleos e polidores, sim ou não? Quais as vantagens e quais os danos? Diversos experimentos mostram que um verniz sintético (nitrocelulose ou PU) é muito resistente à ação de praticamente todos os limpadores e polidores, não havendo portanto restrições quanto à utilização desses produtos nos instrumentos com eles envernizados. As diversas formulações de ceras, inclusive as automotivas, geralmente são bem apropriadas por conterem cera de carnaúba e outras ceras naturais em sua composição, formando uma camada protetora que não permite acúmulo de poeira e também por não serem abrasivas (não confundir com as massas de polir), não causando dano algum ao verniz.

2 No caso dos vernizes naturais, é sempre aconselhável que se utilize produtos compatíveis e, apenas por prudência, que sejam naturais, mas isto não significa que todos os produtos industrializados sejam nocivos ou tragam prejuízos ao verniz, assim como também nem todos os produtos naturais são benéficos. O óleo de peroba, apesar do nome, na verdade é um óleo mineral, portanto seu uso é considerado inadequado por não ser secativo. Se penetrar na madeira através de alguma rachadura ou falha do verniz, esse local fica impregnado e antiaderente, não permitindo boa restauração do mesmo. E os lustra móveis? Podem? Há quem os condene por causa do silicone, mas este é o único complicador, pois não é possível removê-lo quando houver absorção, e assim como o óleo de peroba, se houver contato direto com a madeira, impede um bom restauro do verniz no local. Excetuando-se este elemento, os demais componentes das fórmulas de lustra móveis em geral, nada diferem da maioria dos componentes utilizados nos cleaners e polishs à venda como produtos específicos para instrumentos de cordas. Praticamente são os mesmos produtos, portanto, se o verniz estiver em perfeitas condições, sem falhas ou rachaduras, não havendo contato com a madeira nua, os lustra móveis não geram problemas, podendo ser utilizados com atenção, cuidado e moderação. São produtos que foram pensados e formulados para proteger a superfície, não para danificá-la.

3 Os luthiers e músicos puristas condenam veementemente qualquer produto industrializado, específico ou não, pois imaginam que somente fórmulas antigas e naturais são adequadas, já que existem há séculos. Mas ao se observar tais fórmulas naturais, a base é sempre um óleo vegetal ou até mineral, cera de abelha, de carnaúba e algum solvente, que pode ser terebintina ou água-ráz. Estas fórmulas praticamente em nada diferem dos produtos industrializados, porém, os pretensos especialistas e conhecedores imaginam que agentes conservantes, aromáticos e emulsificantes das fórmulas modernas são prejudiciais ao instrumento, apenas por serem produtos químicos. Nada a ver. Há quem prefira amassar nozes em um pano e utilizar seu óleo para proteger o verniz. É uma prática bastante antiga e muito saudável, porque sendo um óleo secativo, adere-se ao verniz do instrumento sem prejudicá-lo. Mas se o excesso não é retirado devidamente, retém sujeira e umidade, além do breu que aos poucos se acumula na superfície e, ao secar, forma uma camada de difícil remoção. Por muito tempo a água-ráz mineral foi considerada inadequada e prejudicial ao verniz, tanto na preparação deste, como na limpeza do instrumento. Durante anos ouviu-se que atacava o verniz do instrumento e, portanto, a essência de terebintina (água-ráz vegetal) era o produto ideal. Mas se a essência de terebintina é chamada água-ráz vegetal, seria mesmo menos agressiva ou menos prejudicial que a águaráz mineral? Teria mesmo alguma função diferente, protetora e conservante? Empiricamente, músicos e luthiers afirmaram que sim, porque uma é derivada do petróleo e a outra é vegetal, de plantas terpênicas. Mas o tempo é senhor da razão, e ele passou mostrando que não. Atualmente a terebintina teve seu uso controlado e sua venda proibida na Itália por ser considerada cancerígena. Como resolver o problema? Como preparar verniz a óleo de agora em diante? Como limpar os instrumentos?

4 Os luthiers e as escolas italianas de luteria passaram a utilizar um produto chamado "essência de petróleo", que nada mais é do que a própria água-ráz mineral. Este produto limpa sem deixar resíduos terpênicos como a terebintina. Geralmente os luthiers e músicos recomendam passar apenas uma flanela ou pano seco no instrumento, mas isso pode ser prejudicial. A resina (breu) acumulada no tampo é abrasiva, então o movimento do pano ao ser esfregado na superfície de um instrumento com verniz tradicional (óleo ou álcool), produz uma leve abrasão que, com o passar do tempo, produzirá desgastes. Nos casos em que o instrumento possui muita sujeira acumulada, o desgaste é ainda mais acentuado. O instrumento poderá ser parcialmente limpo com flanela imediatamente após o uso, porém uma limpeza mais completa deverá sempre ser efetuada com a utilização de algum produto. Em casos extremos (sujeira acumulada ou impregnada), deve-se recorrer a um luthier. Opinar tecnicamente sobre quaisquer assuntos, exige conhecimento, experiência e pesquisa, mas a grande maioria dos luthiers e músicos apenas seguem uma tradição, utilizam informações da internet ou concluem de forma empírica, sem conhecer realmente o que afirmam. No Brasil ainda é possível comprar essência de terebintina, ou apenas terebintina como é chamada, mas as marcas Acrilex, Gato Preto e Corfix possuem água-raz mineral bidestilada de excelente qualidade, que pode ser encontrada em qualquer loja de produtos artísticos ou papelarias. Também é possível usar o limoneno, chamado de terebintina cítrica ou solvente ecológico, encontrado no mercado com a marca Ecosolv.

5 Tanto a água-ráz mineral quanto o limoneno substituem a terebintina (terpeno) sem problemas e, segundo as leis italianas, evita o câncer. Limpeza e polimento Sempre que o instrumento estiver demasiadamente sujo ou impregnado de breu, deve-se levá-lo a um profissional de luteria a fim de resolver o problema. Isto porque ele é a pessoa com formação e conhecimento adequados para realizar certas tarefas mais complexas, sabendo os riscos, o procedimento e os cuidados para que o instrumento seja preservado sem danos. É sempre prudente nunca arriscar com tentativas caseiras mas, no dia a dia, o próprio músico pode se utilizar de ações simples e produtos básicos para evitar esse acúmulo de sujeiras e situações extremas. O processo é composto de duas etapas, sendo a primeira a limpeza e a segunda o polimento, obviamente com utilização de produtos diferentes e adequados para cada uma delas. PROCEDIMENTOS LIMPEZA: Após usar o instrumento e sempre antes de guardá-lo no case, passar levemente uma flanela para retirar o breu. Uma vez por semana, efetuar uma limpeza mais ampla com um pano de algodão e um pouco de cleaner, essência de terebintina, água-ráz, ou limoneno. Sem retirar as cordas e nem o cavalete, limpar todo o tampo do instrumento, assim como o espelho, as faixas laterais, o fundo, o braço e a voluta. Após isso, passar outro pano seco para retirar possíveis marcas. Obs.: Nunca passar pano seco nas cordas, pois isto danifica o enrolamento de acabamento. Cordas sempre devem ser limpas com essência de terebintina, água-ráz ou limoneno, o que pode ser feito no mesmo momento de limpeza do espelho. Nunca utilizar álcool, óleos ou cremes.

6 POLIMENTO: Uma ou duas vezes por mês, é importante efetuar uma limpeza mais elaborada e também fazer um polimento. Este procedimento mantém a beleza do verniz, além de conservá-lo por muito mais tempo evitando acúmulo excessivo de sujeira e resíduos. Para isso, basta passar com outro pano de algodão, um produto polidor que pode ser o polish, ou óleo de noz (retirado esmagando-a em um pano), algum composto de ceras naturais e, não havendo falhas ou rachaduras no verniz, um pouco de lustra móveis ou cera automotiva (não pode ser massa de polir). É importante observar que não haja falhas no verniz, por causa do silicone da fórmula que, como já foi citado, deixa o local impregnado e antiaderente, não permitindo boa restauração do mesmo.. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES 1) Estas orientações e conselhos não foram elaborados para luthiers, mas sim para os músicos que de maneira simples, metódica e econômica, podem manter seu melhor aliado, o instrumento, sempre em boas condições de conservação e beleza sem danificá-lo. Importante relembrar que, nos casos em que o profissional não tem uma explicação baseada no verdadeiro conhecimento científico para se justificar a respeito de certos procedimentos e produtos, limita-se a dizer que prejudica o verniz, ou então não é um produto natural, mas opinar tecnicamente sobre quaisquer assuntos, exige conhecimento, experiência e pesquisa. A grande maioria dos luthiers e músicos apenas seguem uma tradição, utilizam informações da internet ou concluem de forma empírica, sem conhecer realmente o que afirmam, e sem falar na falta de formação de muitos luthiers que são apenas práticos. 2) Nunca utilizar álcool para a limpeza e, em casos extremos (sujeira acumulada ou impregnada), não abusar da sua confiança e não utilizar outros produtos não mencionados neste artigo. 3) Na dúvida, deve-se sempre procurar um profissional de luteria. *Vlamir Devanei Ramos é Tecnólogo, Luthier, Professor de Luteria Teórica e Prática, Desenho de Luteria e Física Aplicada aos Instrumentos de Cordas no Conservatório de Tatuí.