Meu Filho, Minha Escolha
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- Benedita Coimbra Rodrigues
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1 Meu Filho, Minha Escolha
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3 GLAUCO DAMAS Meu Filho, Minha Escolha
4 3ª edição a exemplares Maio/2008 Capa: Beato Ten Prenafeta Planejamento gráfico: Equipe O Clarim Casa Editora O Clarim (Propriedade do Centro Espírita O Clarim). Fone: (0XX16) Fax: (0XX16) CNPJ: / Inscr. Est Rua Rui Barbosa, Cx. Postal, 09 CEP Matão - SP oclarim@oclarim.com.br
5 Meu Filho, Minha Escolha Dados para catalogação na editora Glauco Damas Meu Filho, Minha Escolha 1ª edição: novembro/ exemplares Matão/SP: Casa Editora O Clarim 112 páginas 14 x 21 cm ISBN CDD Índice para catálogo sistemático: 1. Espiritismo Romance Espírita Impresso no Brasil Presita en Brazilo
6 agradecimentos DA EDITORA A Editora agradece a valiosa colaboração que nos permitiu a edição desta obra: Ivan Costa Enéas Rodrigues Marques Revisão ortográfica do texto. E aos nossos funcionários. Casa Editora O Clarim Novembro de 2001
7 Este livro é dedicado a todos os pais adotivos pessoas corajosas e cheias de amor para dar. É também dedicado a minha mãe, Lídia Valéria, uma supermãe. Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais será mera coincidência.
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9 Sumário Prólogo parte I Esperança A Escolha do Coração Impossível Resistir parte II Perseverança Algo a Compreender Dúvidas que Machucam Deus Não Abandona Ninguém! Luz no Caminho Quem Encontra Um Amigo Encontra Um Tesouro De Volta Para o Passado Não Há Lugar Como Nossa Casa A Crise Piora Dois Grandes Sustos Um Emocionante Reencontro Um Poço de Emoções parte III Vitória Deus Ajuda das Maneiras Mais Inesperadas Sublime Amor
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11 Cada criança, ao nascer, nos traz a mensagem de que Deus não perdeu a esperança nos homens. Rabindranath Tagore
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13 Fogos de artifício iluminaram o céu. Os médicos e enfermeiros do Hospital Esperança cumprimentaram-se com rápidos votos de Feliz 1985, sem tempo para abraços, enquanto passavam pelos inúmeros leitos improvisados nos corredores. Aquela gestante não está nada bem uma enfermeira avisou à Drª Mara. Apontava para uma mulher de uns 30 anos, morena, maltrapilha, deitada em uma maca, chorando. A Drª Mara deu um profundo suspiro. Estava exausta, de plantão desde as sete da manhã. Foi até lá olhando para o relógio, preocupada porque ainda não conseguira telefonar aos pais e nem ao marido. Oi cumprimentou, já examinando a enorme barriga de gravidez da paciente. Na ficha de triagem, viu o nome dela: Aparecida. Tente se acalmar, Aparecida. Tudo vai terminar bem. Ai, Drª Mara, não sei como estou suportando! a enfermeira resmungou. Nunca tive uma noite tão agitada! Que jeito de receber um ano! Não deveria ser um momento de confraternização? A maioria das urgências era de pessoas que haviam procurado problemas por terem bebido demais: tiros, facadas, queimaduras de rojões, acidentes de trânsito... Trabalhar durante reveiom, carnaval, campeonato de futebol e festa de rodeio é uma loucura que poucos médicos e enfermeiros conseguem enfrentar. Eu sabia que teria esta vida quando fiz Medicina, e você sabia quando fez Enfermagem... disse a Drª Mara. Aparecida levantou-se num piscar de olhos, assustandoas, e saiu correndo. No fim do corredor, entrou em um banheiro. Nem notou que era banheiro masculino. Alguns homens saíram espantados. Meu Filho, Minha Escolha 15
14 Lá dentro, ao ver a médica e a enfermeira, ela gritou, fora de si: Não quero! Não quero! Não quero! Não quero! Não quero! As duas a seguraram, mas só por um segundo. Aparecida conseguiu avançar até um vaso sanitário e ficou sobre ele de pernas abertas. O bebê começava a nascer. A Drª Mara e a enfermeira entreolharam-se. Não queriam acreditar que a mulher pretendia fazer aquilo, mas em seguida ouviram um GLUFT. Aparecida interrompeu os gritos e começou a chorar baixinho. A enfermeira, petrificada, mal respirava. A Drª Mara agachou-se devagar, como se estivesse em uma cena em câmera lenta. Precisava agir rápido mas não conseguia. Chocada, viu o bebê na água. 16 Glauco Damas
15 parte I Esperança A fé é uma força tão real como a eletricidade. A fé transporta montanhas montanhas de dificuldades, dúvidas e desconfianças. A fé desobstrui todos os caminhos. Orison Swett Marden
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17 A Escolha do Coração 1990 A quentíssima São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, tinha aproximadamente 320 mil habitantes. Volta e meia aparecia nas listas das dez cidades brasileiras com melhor nível de vida. Helena e Daniel Martins saíram arrasados da Clínica Vida. Ela era uma bonita mulher de trinta anos, longos cabelos loiros, olhos verdes. Trabalhava como vendedora de tecidos. Ele, bancário, tinha a mesma idade e também era bonito, alto, de olhos e cabelos castanho claro. Humildes, viviam bem, mas... Todo casal tem um mas. Helena e Daniel viviam em uma harmonia rara entre casais. Eram felizes, mas... seria melhor se conseguissem realizar o maior de seus sonhos: ter um filho. Uma gestante passou por eles. Percebeu o olhar de Helena e apressou os passos, intrigada. Helena só desviou o olhar quando sentiu a mão de Daniel no ombro, transmitindo-lhe força. * * * No carro um carro popular comprado com muito sacrifício, ficaram em silêncio durante dez minutos. Daniel sentiu-se aliviado quando Helena abriu a boca: Acha... acha que um dia... vai dar certo? É claro que vai, querida. O é claro não soava firme como antes. Às vezes eu me sinto... ela não teve coragem de continuar. Meu Filho, Minha Escolha 19
18 Uma inútil? Não vai dizer aquelas coisas de novo, vai? Meça suas palavras. E se você engravidar daqui a dez anos, meu amor por você vai diminuir? Não! E se você nunca engravidar, o amor vai diminuir? Não! Mais alguns minutos de silêncio. Helena fitou o marido. Vou confessar uma coisa... disse timidamente. A gente vê por aí tantos casais com problemas... Minhas amigas. Basta observar minhas amigas. Todas reclamam do casamento. Eu, Daniel... eu... sempre agradeço a Deus por ter você. Ele a encarou com os olhos molhados. Deu-lhe um beijo rápido, pois estava dirigindo. Helena abriu o porta-luvas e pegou o O Evangelho Segundo o Espiritismo em versão miniatura. Leu um trecho em voz alta e, com o marido, fez uma prece. Quando terminaram, Helena fechou o livro, olhou para o lado... e viu que estavam passando em frente de um orfanato. Vinte dias depois * * * No Orfanato Filhos de Deus, um garoto de doze anos entrou como um furacão no pátio: O Casal Triste Sete voltou! Os garotos davam apelidos a todos os casais que visitavam o orfanato, assim ficava mais fácil saber quem estava voltando. O casal que retornava era anunciado antes mesmo de entrar no prédio, porque sempre havia algum interno de olho na rua. Helena e Daniel eram o Casal Triste Sete. Os garotos haviam sentido tristeza em seus olhos. Isso era motivo de ânimo, pois significava que o casal estava triste por não ter filho, e queria muito adotar um. Quando Helena e Daniel entraram no pátio, a algazarra Glauco Damas 20
19 parou como se uma fada tivesse aparecido para encantar todos eles. Precisavam se comportar. Esforçavam-se para ser simpáticos. Sorriam. Dezenas de olhares ansiosos aguardavam o milagre da adoção. Tanta carência incomodava o casal. Logo avistaram Alex, um garotinho de cinco anos. Era moreno, miúdo, com olhar melancólico. Eu não disse? um garoto de quinze anos cochichou para um colega da mesma idade, revoltado. É o terceiro sábado que vejo esses dois e reparo que eles só olham para a bestinha do Alex! Eles vão ficar com o Alex! Pode apostar! Querem gente pequena... Sempre querem gente pequena! Não adianta, a gente não tem vez. Daniel percebeu o olhar crítico dos garotos. Perturbado, desviou novamente os olhos para Alex. Alex forçou um sorriso, como se fosse o garotinho mais feliz do mundo. * * * Helena e Daniel estavam na sala da diretora do orfanato, Amélia. Ela era uma simpática mulher de sessenta anos. Colocou sobre a mesa uma pasta com uma etiqueta indicando Alex Silva Matrícula 03/1985. Foi a Márcia quem o batizou de Alex a diretora contou. Márcia é aquela voluntária que os recebeu na segunda visita. Abriu a pasta. O Alex nasceu nos primeiros minutos de Sabemos quem são os pais. Sabem? surpreendeu-se Helena. Infelizmente. Gostaria de nunca saber, para evitar que minhas ajudantes tivessem a desagradável sensação de querer bater nos pais. É uma sensação involuntária, sabem? Acontece. Afinal... qual é a história dele? perguntou Daniel. A diretora falou com naturalidade, mostrando que histórias tristes eram banais por ali: Conheço a médica que o trouxe. Drª Mara. Médica muito dedicada. Em 1985, era casada havia três anos e não Meu Filho, Minha Escolha 21
20 conseguia engravidar. Sentia-se frustrada, principalmente quando via mulheres tendo bebês em série. Estão me entendendo? Um filho atrás do outro, como coelhos, sem ligar para nenhum deles. Ou melhor, não como coelhos, porque as coelhinhas são mamães muito dedicadas... Mas como eu ia dizendo... A médica não achava justo. Por que ela, que seria mãe exemplar, não conseguia ter um filho? Entendo... disse Helena. É, eu sei que entendem. Amélia deu um profundo suspiro. A médica estava de plantão quando a mãe de Alex chegou, maltrapilha, em trabalho de parto, chorando. Saiu correndo da cama e a médica e a enfermeira só a alcançaram quando ela parou num banheiro. Estava sobre uma privada, com as pernas abertas. Gritava que não queria o filho. O bebê caiu na água da privada... a diretora fez uma pequena pausa, mediante a expressão de horror de Helena e Daniel mas a Drª Mara conseguiu salvá-lo. Fez um bom trabalho, porque lá está ele, saudável, um lindo garotinho de cinco anos. Sabem o que aumentou a revolta da Drª Mara? O parto foi rápido. O bebê saiu num piscar de olhos, sem sofrimento para a mãe. É o tipo de parto que toda mulher gostaria de ter! Entendo... repetiu Helena. Mas devemos enfrentar com fé e amor as provações que aparecem em nosso caminho. Faz parte de nosso processo evolutivo... A diretora continuou: Concordo. Onde eu estava? Ah, sim. A Drª Mara denunciou o caso à polícia. No dia seguinte, pegou o endereço da mulher, anotado na ficha do hospital, e foi fazer uma visita. O que ela viu foi tão horrível quanto a cena no banheiro. Helena e Daniel arquearam as sobrancelhas, em grande suspense. A mulher morava em uma casa caindo aos pedaços. Apanhava constantemente do marido, bêbado e desempregado. O casal tinha nove filhos. Nove. Todos pequenos, famintos, com olhos saltados. Alex foi o décimo. A mulher não queria mais um para sofrer, por isso ficou desesperada no hospital. Coloquem-se no lugar dela... Glauco Damas 22
21 Puxa vida! exclamou Helena. Apertou a mão do marido. Dias depois, a Drª Mara soube, por uma assistente social, que a mulher havia participado de um programa de controle de natalidade, mantido pela Secretaria Municipal da Saúde. Começaram distribuindo camisinhas, mas logo notaram que a maioria dos homens se recusava a usar. Preconceito de pessoas sem cultura. Adotaram então as pílulas anticoncepcionais. Sabem o que aconteceu? Muitas mulheres, por algum motivo, sentiam que a fome diminuía quando tomavam as pílulas. Sim, aconteceu isso mesmo que vocês estão pensando: algumas começaram a dar as pílulas para as crianças. Foi o caso da mãe do Alex. Ouvi dizer que isso aconteceu certa vez no Nordeste. Meu Deus! balbuciou Daniel. O programa foi cancelado prosseguiu Amélia, ela não tomou mais as pílulas... e ficou grávida do Alex. O que podemos fazer? Recriminar a mulher? Eu recriminaria se fosse a senhora, D. Helena, fazendo isso. A senhora, que é uma pessoa culta. Mas o que podemos exigir de mulheres como a mãe do Alex? Mais uma vez digo: coloquem-se no lugar dela. Que... que triste! disse Helena. Estão muito chocados? O caso do Alex é um dos mais suaves. Se eu contar alguns outros, vocês... Ah, por favor! interrompeu Daniel, educadamente. A diretora viu, através da janela, um garotinho triste se distanciando com uma malinha surrada. Vejam. É o Pepito. Toda vez que se simpatiza com um casal, pega a mala e vai para o pátio, achando que será escolhido. Meu Filho, Minha Escolha 23
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