Excelentíssimo Secretário da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo Sr. Lourival Gomes

Transcrição

1 São Paulo, 16 de maio de Excelentíssimo Secretário da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo Sr. Lourival Gomes Ref.: Pedido de acesso a informações relativas às condições de saúde e higiene das mulheres encarceradas no Estado de São Paulo Excelentíssimo Sr. Secretário, No dia em que entra em vigor a Lei de Acesso à Informação Pública (Lei nº /2011), dirigimo-nos ao Exmo. Sr. com o intuito de requerer informações relativas às condições de saúde e higiene das mulheres que se encontram encarceradas nas unidades prisionais do estado de São Paulo, como será detalhado adiante. Atualmente, alguns órgãos públicos, atentos ao dever de transparência que lhes é imposto pela Constituição Federal, disponibilizam informações gerais a respeito dos presos no estado. Dessas informações, é possível extrair dados genéricos sobre a situação das mulheres presas. A consulta ao Sistema Integrado de Informações Penitenciárias (InfoPen) 1, cujos dados são fornecidos pelos Estados, disponível no sítio eletrônico do Departamento Penitenciário Nacional/Ministério da Justiça (DEPEN/MJ), permite o levantamento das seguintes informações com relação ao estado de São Paulo 2 : Há mulheres custodiadas no sistema penitenciário paulista. Ao todo, há capacidade para pessoas, resultando em um déficit de vagas. Das mulheres presas em 2011, foram condenadas por tráfico de entorpecentes, e por crimes contra o patrimônio. 1 O sistema pode ser acessado em 2 Dados referentes a dezembro de 2011, consultados em 11/05/12. 1

2 No que concerne às mortes no sistema penitenciário, consta que, em 2011, houve três óbitos, sendo dois naturais e um acidental. Há 98 médicos clínicos gerais para homens e mulheres, dois ginecologistas, e 61 psiquiatras. Os dados disponíveis no sítio eletrônico da Secretaria de Administração Penitenciária 3, por sua vez, demonstram que, no estado de São Paulo, existem 16 unidades prisionais femininas. É possível verificar, em cada uma delas, a capacidade, o número de presas e o déficit de vagas: Unidade Capacidade Presas Déficit de vagas Penit. Feminina de Campinas Penit. Feminina de Ribeirão Preto Penit. Feminina da Capital Penit. Feminina de Sant ana Penit. Feminina I "Santa Maria Eufrásia Pelletier" de Tremembé Penit. Feminina II do Tremembé Não há (-130) Penit. Feminina de Tupi Paulista Centro de Progressão Penitenciária Feminino "Dra. Marina Marigo Cardoso de Oliveira" de Butantan Centro de Progressão Penitenciária Feminino de São Miguel Paulista Centro de Detenção Provisória Feminino de Franco da Rocha de Araraquara de Itapetininga "Carlos Sidnes Cantarelli" de Não há (-98) Não há (- 4) A tabela foi elaborada com base nos dados disponíveis em: (acesso em 11/05/2012). 2

3 Piracicaba de Rio Claro de São José do Rio Preto de São José dos Campos Não há (- 4) Não há (-2) Não há (- 84) Tais fontes não permitem, contudo, a extração de dados mais detalhados a respeito das condições em que as mulheres presas se encontram, especialmente no que concerne aos cuidados destinados à sua saúde e higiene. Não estão disponíveis informações que permitam traçar um panorama mais amplo sobre a forma como o estado tem tratado a população prisional feminina. Em relatório de inspeção realizado no estado de São Paulo pelo Conselho Nacional de Política Criminal Penitenciária (CNPCP) em 2011, viu-se que a Penitenciária Feminina de Sant ana tinha mais de 2600 mulheres presas, porém não possuía hospital em funcionamento. Esse é um exemplo que ilustra a importância de que dados relativos às políticas de saúde nas unidades prisionais femininas sejam constantemente atualizados e disponibilizados pelas instituições responsáveis. Em publicação intitulada Relatório sobre mulheres encarceradas no Brasil 4, de fevereiro de 2007, as organizações autoras afirmam que São raras as informações com relação à situação das mulheres encarceradas de todos os estados brasileiros (p. 4). A publicidade de informações sobre o sistema penitenciário paulista não pode ficar dependente de inspeções realizadas por órgão do governo federal. O direito à informação inclui tanto a obrigação de que os órgãos públicos disponibilizem certas informações, independentemente de requerimentos, quanto a necessidade de que esses órgãos garantam o acesso a informações que lhes forem solicitadas. 4 Relatório disponível em: (consulta em 11/05/2012). O relatório foi produzido pelas organizações Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional, Associação Juízes para a Democracia, Instituto Terra, Trabalho e Cidadania, Pastoral Carcerária Nacional/CNBB, Instituto de Defesa do Direito de Defesa, Centro Dandara de Promotoras Legais Popular, Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude, Comissão Teotônio Vilela, Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, e entregue à OEA. 3

4 Tal direito está explicitamente previsto na Constituição Federal de 1988 (artigo 5º, XXXIII), que também impõe à Administração Pública o respeito ao princípio da publicidade (artigo 37, caput) e que assuma a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem (Art º). A Lei de Acesso à Informação Pública (Lei nº /2011), que entra em vigor justamente no dia de hoje, regulamenta esses dispositivos constitucionais, estabelecendo um novo marco legislativo em que a transparência é a regra, e o sigilo, exceção. Essa legislação entende a informação como dados, processados ou não, que podem ser utilizados para produção e transmissão de conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte ou formato (art. 4º, I) e estabelece que qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a informações (art. 10). Seguindo essa linha de raciocínio, e tendo em vista a ausência de informações relativas às condições de saúde e higiene das mulheres presas disponibilizadas pelos órgãos públicos, requeremos, no exercício do direito constitucional à informação, as seguintes informações relativas às mulheres presas no Estado de São Paulo: SAÚDE Com que periodicidade é oferecida às mulheres presas a possibilidade de realização de exames ginecológicos? Qual o número de médicos ginecologistas para atendimento das mulheres presas no estado? Como é o regime de trabalho desses médicos (carga horária de trabalho; regime de visitação nas unidades; etc.) Há enfermarias em funcionamento em todas as unidades? Existe atendimento psicológico/psiquiátrico às presas? Com que periodicidade as mulheres presas têm acesso a consultas individuais com esses profissionais? Qual é a política de tratamento das presas adictas? 4

5 HIGIENE Como se dá a distribuição às presas do chamado kit higiene por unidade prisional? Com que periodicidade o kit higiene é distribuído? Quais itens compõem o kit higiene? MATERNIDADE Qual é a quantidade de mulheres grávidas atualmente presas unidades no estado de São Paulo? Com que frequência essas mulheres realizam exames pré-natal? Nas unidades em que ficam mulheres que acabaram de dar à luz, há pediatras disponíveis para exames dos recém-nascidos? Com que periodicidade os exames pediátricos são realizados nos recém-nascidos das mães presas? Com que frequência essas mulheres realizam exames pós-natal? Existe alguma alimentação específica para mulheres gestantes e/ou recém-nascidos? Como se estrutura a assistência psicológica às presas gestantes no período pré e pós-natal? Diante de todo o exposto, aguardamos as informações ora requeridas e nos colocamos à disposição para o que estiver ao nosso alcance. Receba nossos votos de mais alta estima e consideração. Atenciosamente, Lucia Nader Diretora Executiva da Conectas Direitos Humanos lucia.nader@conectas.org 5