IBIÚNA 68: O QUE A HISTÓRIA NÃO CONTA.

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1 FÓRUM NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO (FNPJ) XIII ENCONTRO NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO IX CICLO NACIONAL DE PESQUISA EM ENSINO DE JORNALISMO MODALIDADE DO TRABALHO: Relato de Experiência GRUPO DE PESQUISA: Produção Laboratorial (Eletrônicos) IBIÚNA 68: O QUE A HISTÓRIA NÃO CONTA. Washington José de Souza Filho 1 washsfilho@gmail.com Palavras-chave :Jornalismo de Televisão, Movimento Estudantil, Golpe de 64. Um grupo de profissionais da Comunicação, com experiência e atuação, principalmente, em emissoras da Bahia, propuseram, sob a orientação do autor, a realização de um programa documental para televisão com foco específico na participação dos estudantes baianos no Congresso da UNE, realizado em Ibiúna (SP), em outubro de 68. A proposta foi apresentada como candidata ao edital 68+40, promovido pela Fundação Cultural da Bahia, há dois anos, em 2008, para comemorar no Estado os 40 anos de manifestações ocorridas no Brasil e no Mundo, em A idéia desta proposta era, a partir do trabalho realizado pelo Grupo Tortura Nunca Mais, na Bahia, em busca da divulgação da documentação dos órgãos da repressão dos militares, protagonistas do Golpe de 64,mantida em sigilo reconstituirmos uma parte da História de 68 no Brasil, para permitir à sociedade o conhecimento de fatos sobre a vida dos seus cidadãos, escondidos sobre o manto da inviolabilidade. Uma conseqüência da falta de acesso à documentação, como ainda ocorre na Bahia. Uma parte da história do Brasil está confinada como um segredo, do qual não se pode ter conhecimento. O documentário resultante deste projeto está elaborado em um formato que permite a exibição em emissoras de televisão, particularmente as de caráter educativo. De acordo com o edital, ela será feita na TV Educativa da Bahia. Uma História A tentativa de realizar o Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), em Ibiúna, cidade no interior de São Paulo, a 70 quilômetros da capital, em 1. Jornalista, Professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, atualmente Coordenador da Graduação em Comunicação, Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas.

2 outubro de 68, representou para os estudantes brasileiros a materialização do desafio lançado em maio, cinco meses antes, pelos estudantes franceses, sob o lema proibido proibir. A finalidade era realizar a eleição do presidente da entidade, colocada na ilegalidade depois do golpe militar de 64. A entidade, apesar da decisão dos militares, tinha promovido congressos clandestinos, a partir do ano seguinte, 65, do afastamento do presidente João Goulart. As manifestações nas ruas de Paris, uma reação às tentativas das autoridades francesas de submeter aos estudantes os limites de uma legislação estudantil encontrou eco no Brasil. O contexto, porém, era outro. Os estudantes brasileiros tinham um adversário real, para o qual canalizaram o enfrentamento. A expectativa, no Congresso, era uma disputa em torno da transformação da sociedade. Durante todo o ano de 68, as manifestações com a participação dos estudantes tinham feito deles os condutores da reação da sociedade. Um exemplo é a Passeata dos Cem Mil, realizado em junho daquele ano, no Rio de Janeiro. O Congresso da UNE, marcado para Ibiúna, representava o último lance de uma escalada que determinaria a distinção entre o assalto ao céu, como preconizavam os estudantes franceses, ou o mergulho nas trevas, em função da longa noite que se instauraria no Brasil o que, de fato, ocorreu, com a edição do Ato Institucional número 5, em dezembro daquele ano. Os relatos sobre o Congresso de Ibiúna eram de que a realização era maior do tinha um sentido maior que a eleição do presidente da UNE. As divergências entre as várias correntes, apontavam para discussões, inclusive, sobre a forma de participação na luta armada, aspiração de alguns grupos políticos em atuação no Brasil. Uma situação transformada em realidade, em relação aos estudantes entre os participantes do Congresso, 19 morreram em ações em conseqüência da opção pela luta armada,posteriormente. 2 Os anseios dos estudantes naufragaram, literalmente, no lamaçal, por causa da chuva, em que se transformou o sítio, em Ibiúna, escolhido para sediar o evento. Como se fosse possível reunir quase mil estudantes de todo o País, durante uma semana sem atrair a repressão. Entre os participantes, um contingente de estudantes baianos, envolvidos no clima que caracterizava o Congresso. Mais de 40 anos depois, eles vivem o 2 GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo:Companhia das Letras, 2002.p. 325.

3 cotidiano de cada um deles, separados pelo tempo de um ato que guarda como marca da história o registro de um inquérito policial, instaurado pela Polícia Federal, ao qual não se pode ter acesso. Os dados estão adormecidos nos arquivos dos órgãos policiais do Estado, sem nenhuma possibilidade de liberação. Justificativa A realização do programa é importante pela dimensão que a televisão alcança, entre os meios de comunicação. A forma de realização é documental, com entrevistas de participantes do Congresso de Ibiúna, entre os estudantes baianos, com o uso da documentação levantada pelo Grupo Tortura Nunca Mais como referência. O programa servirá para demonstrar a importância deles para reconstituição da história do Brasil e o reconhecimento da luta de jovens que buscavam a realização de um sonho libertário, que mesmo 40 anos depois, está vivo na expectativa dos que têm esperança na transformação. O Grupo Tortura Nunca Mais, a partir de um levantamento realizado em órgãos que atuaram na repressão e segurança do regime militar tem buscado apoio para a divulgação e preservação de uma parte importante da história, de homens e mulheres, brasileiros que sonharam mudar o País. O Tortura Nunca Mais, de atuação nacional, foi fundado na Bahia em A sua atuação é voltada para o apoio às vítimas da repressão do regime militar, inclusive familiares. Este projeto, de produção de um programa de televisão esteve relacionado à uma disciplina (Edição e Montagem), no âmbito da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, ministrada pelo autor. A realização do projeto foi pensada como integrada a uma atividade didática, contribuindo no trabalho de formação de estudantes do curso de Comunicação, da referida Faculdade. A Realização Mais de dois anos depois da apresentação da proposta, em função do edital promovido pela Fundação Cultural da Bahia, o vídeo Ibiúna 68: O que a história não conta está concluída. O que falta para a sua exibição, neste momento, em março de 2010, é a conclusão da prestação de contas, para ele ser entregue à TV Educativa da Bahia.

4 É um atraso significativo em relação à previsão, mas não compromete a avaliação da proposta. De acordo com o edital, a apresentação do programa seria em outubro de 2008, na marca exata dos 40 anos de realização do Congresso. O processo de liberação dos recursos do edital, porém, atrasou. Apenas em abril do ano passado, 2009, ele foi formalizado, em função de pendências de diversas formas, relacionadas à proposta. O atraso, de alguma forma, favoreceu aos estudantes, porque o projeto acabou dividido em duas fases. Uma oportunidade de maior participação para alguns deles. A primeira fase, para manter o cronograma do projeto, resultou na elaboração de uma primeira versão do programa, denominada de piloto, realizada com a participação de 20 estudantes. Esta versão, produzida e editada, exclusivamente, por eles foi transformada em uma referência para todos de participação na atividade. Ela foi concluída no fim do período letivo de 2008, com uma exibição pública, no auditório da Faculdade de Comunicação. A fase que corresponde à segunda é a que está relacionada à versão do programa que tem a exibição prevista pela TV Educativa. O número de estudantes foi reduzido, para dez. A participação deles ficou limitada à atuação como assistentes, com o envolvimento em cada uma etapas de produção, aplicadas para a realização de um programa de televisão, depois da leitura de textos, inclusive relacionados ao tema, e a exibição de filmes relacionados ao assunto. Nas duas fases, além do autor, jornalista profissional, com a experiência de atuação em emissoras de televisão e jornais da Bahia e de outros Estados do País, o trabalho foi supervisionado por profissionais experimentados, associados ao projeto para a orientação dos estudantes. 3 Uma única tarefa, relacionada à segunda fase, foi realizada por um profissional, o maestro Luizinho Assis, sem participação dos estudantes a produção da trilha musical, um arranjo da música Maio 68, cedida pelo compositor Jorge Portugal, que na Bahia atua como professor de Português e Redação, tendo destaque como apresentador de televisão. Conclusão 3 Os profissionais são os jornalistas Ilna Baptista, Produção; Julio Cesar Almeida, repórtercinematográfico, Fotografia e Câmera; e Alexandre Teles, designer, Edição de Arte.

5 Ainda falta, ao programa Ibiúna 68:O que a história não conta o cumprimento de mais uma fase: o da exibição. A avaliação, porém, depois da concretização desta proposta, mesmo que com os percalços registrados, é que existe a necessidade, no espaço de um curso como os oferecidos na área de Comunicação, incluído os de Jornalismo, de buscar propostas que, sem reproduzir o espaço de trabalho, permite aos estudantes o contato efetivo com a realidade da sua atuação. Uma das constatações percebidas com esta experiência é que, além da maior segurança na realização dos procedimentos da produção do programa, o que garantiu a alguns estudantes, agora formados, a realização de trabalhos de conclusão, que tiveram o vídeo como suporte, é que eles puderam descobrir fatos da História do Brasil que, pela força da juventude, o conhecimento era pequeno ou desconhecido. Referências bibliográficas BETTO, Frei. Batismo de Sangue os dominicanos e a morte de Carlos Marighella. São Paulo:Editora Rocco,1982. GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada.São Paulo:Companhia das Letras, 202. GORENDER, Jacob. O Combate nas Trevas A esquerda brasileira:das ilusões perdidas à luta armada. São Paulo: Editora Ática,1987. KELLINSON, Cathrine. Produção e Direção para TV e Vídeo;uma abordagem prática. Tradução de Natalie Gerhardt. Rio de Janeiro:Elsevier, MUSBURGER, Robert. Roteiro para mídia eletrônica.tradução de Natalie Gerhardt. Rio de Janeiro:Elsevier, VENTURA, Zuenir Ventura. 1968:O ano que não terminou. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, Filmes BATISMO DE SANGUE, de Helvécio Ratton (Brasil, 2006). HÉRCULES 56, de Sílvio Da-Rin (Brasil, 2006). O SOL CAMINHANDO CONTRA O VENTO, de Tetê Moraes e Martha Alencar (Brasil, 2006).