Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Amorim Siqueira Des.(a) Amorim Siqueira 24/02/ /03/2015 APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - VEICULAÇÃO IMAGEM - DIREITO À LIBERDADE DE INFORMAÇÃO - LIMITES - AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO E LEGENDA PEJORATIVA - DANO MORAL - EXISTÊNCIA. A Constituição Federal de 1988, no art. 5, incisos V e X asseguram a defesa do direito à imagem e a compensação por danos causados quando há violação desse direito, sendo necessária a comprovação de que houve efetivos danos nas esferas patrimoniais e/ou extrapatrimoniais do lesado. O direito à liberdade de informação, garantido constitucionalmente, não tem aplicação plena e irrestrita, havendo limites relativos à proteção da honra e da imagem. Restando evidenciado nos autos a veiculação de imagem que, além de não autorizada, contém conteúdo pejorativo, resta evidente o dano moral, pois a situação vivenciada pela parte ultrapassa o estágio do mero dissabor, diante da angústia e dor experimentados. Recurso não provido. APELAÇÃO CÍVEL Nº /001 - COMARCA DE JUIZ DE FORA - APELANTE(S): RADIO TELEVISAO RECORD S/A - APELADO(A)(S): FABRICIO AUGUSTO MANSUR POLITO E OUTRO(A)(S), THATHYANA ROCHA DOS SANTOS POLITO A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 9ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. DES. AMORIM SIQUEIRA 1

2 RELATOR. DES. AMORIM SIQUEIRA (RELATOR) V O T O Cuida-se de recurso interposto por Rádio Televisão Record S/A nos autos da ação de indenização por uso indevido de imagem movida por Fabrício Augusto Mansur Polito e outra, contra a sentença de fls. 89/ 93 TJ, a qual julgou procedente o pedido inicial condenando a apelante no pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ ,00 (dez mil reais), corrigida pelos índices da Corregedoria Geral de Justiça a partir do arbitramento e juros de mora de 1% ao mês desde a citação. Nas suas razões recursais, sustenta a apelante, em síntese, a necessidade de reforma da decisão, ao argumento de que não restaram presentes os requisitos do dever de indenizar, mormente a conduta ilícita, uma vez que as imagens da parte autora foram retiradas da internet, tendo o site R7 apenas noticiado a repercussão. Aduz, ainda, que a partir do momento que os apelados divulgaram suas fotos em outro site, tacitamente, autorizaram a utilização destas em toda a internet, colacionando julgado nesse sentido. Alega que os fatos narrados não ensejaram dano moral, requerendo, dessa forma, o provimento do recurso para reformar a sentença hostilizada. Preparo regular à fl. 110/111 TJ. Em contrarrazões, os apelados rechaçaram as alegações, 2

3 requerendo o não provimento do recurso da parte contrária. Decido. Conheço do recurso, porquanto presentes os requisitos de admissibilidade. Adentrando ao mérito, é cediço que os direitos ao nome e à imagem são atributos da personalidade dos quais todos os seres humanos gozam, podendo ser proibidos o uso do nome e da imagem por terceiros para fins comerciais caso não haja autorização do seu titular ou caso a utilização não for necessária à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública. É certo que a Constituição Federal de 1988, no art. 5, incisos V e X, asseguram a defesa do direito à imagem e a compensação por danos causados quando há violação desse direito, assim dispondo: "Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; (...) 3

4 X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação"; No mesmo sentido, a proteção à imagem está também prevista no Código Civil, em seu artigo 12, constante do capítulo reservado aos Direitos da Personalidade, que prevê: Art "Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei." Doutrina e jurisprudência entendem que a violação do direito à imagem, por si só, não caracteriza a responsabilidade civil de indenizar por danos materiais ou compensar por danos morais, sendo indispensável a comprovação de que houve efetivos danos nas esferas patrimoniais e/ou extrapatrimoniais do lesado. Sobre o tema, Alexandre de Morais ensina que: "Os direitos à intimidade e à própria imagem formam a proteção constitucional a vida privada, salvaguardando um espaço íntimo intransponível por intromissões ilícitas externas. (...) Encontra-se em clara e ostensiva contradição com o fundamento constitucional da dignidade da pessoa humana (CF, art. 5º, X) converter em instrumento de diversão ou entretenimento assuntos de natureza tão íntima quanto falecimentos, padecimentos ou quaisquer desgraças alheias, que não demonstrem nenhuma finalidade pública e caráter jornalístico em sua divulgação. Assim, não existe qualquer dúvida de que a divulgação de fotos, imagens ou notícias apelativas, injuriosas, desnecessárias para a informação objetiva e de interesse público (CF, art. 5º, XIV), que acarretem injustificado dano à dignidade humana autoriza a ocorrência de indenização por danos materiais e morais, além do respectivo direito à resposta" (in Direito Constitucional, 24. ed., São Paulo: Atlas, 2009, p.53). Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias ainda asseveram: 4

5 "No mundo pós moderno, marcado pelo avanço tecnológico, pelo uso da Internet, pela facilitação na captação de imagens, representadas por equipamentos eletrônicos e digitais, a preocupação com a tutela da imagem é evidente, salta os olhos. A massificação no uso da imagem permite uma fácil e veloz exploração da imagem das pessoas. ( Direito Civil, Teoria Geral, 7ª edição; editora Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2008 p. 140/141). Posto isso, no caso em exame, entendo que razão não assiste à apelante, pois do cotejo da documentação coligida nos autos, verifica-se que a reportagem produzida pela recorrente foi veiculada com as imagens dos recorridos, associadas a legendas pejorativas, de cunho ofensivo, restando patente a violação do direito de imagem. Ora, vê-se a teor documento de fl. 21/23 TJ que, além ser publicada a imagem dos recorrentes sem a devida autorização, houve também a colocação da seguinte legenda: "Poxa, pai" A gente sabe que você ta adorando ser pai, mas... precisa fazer ESSA CARA DE PSICO?" Com efeito, a responsabilidade da recorrente é evidente, notadamente diante da comprovação de veiculação de imagem e reportagem ofensivas aos recorridos, cabendo ressaltar que sequer há insurgência quanto ao conteúdo, se limitando a dizer que não tem responsabilidade, pois as imagens foram retiradas da internet, o que não merece prosperar. Em caso como tal, não se pode imputar a responsabilidade a terceiro, como quer entender a recorrente, uma vez que, como mantenedora do site, no mínimo, agiu de forma imprudente ao divulgar mensagens ofensivas e pejorativas à imagem dos autores. Registra-se que o direito à liberdade de informação, garantido constitucionalmente, não tem aplicação plena e irrestrita, havendo limites relativos à proteção da honra e da imagem, direitos estes 5

6 também protegidos pela Constituição da República, não podendo a empresa jornalística extrapolar a medida necessária a atender o seu fim social. Assim, resta configurado o dano advindo do uso indevido da imagem da parte autora, sendo nesse sentido os seguintes precedentes jurisprudenciais: APELAÇÃO. DIREITO DE INFORMAÇÃO. ADJETIVAÇÃO DE CUNHO OFENSIVO. DANO MORAL CARACTERIZADO. Ainda que haja direito de informação, não pode este investir contra direitos de privacidade e de não ser molestado. A adjetivação inadequada e sugestiva, de cunho ofensivo, extrapola o exercício regular do direito de manifestação do pensamento. (TJMG - Apelação Cível /002, Relator(a): Des.(a) Tiago Pinto, 15ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 20/09/2012, publicação da súmula em 28/09/2012) APELAÇÃO CÍVEL - RESPONSABILIDADE CIVIL - EXIBIÇÃO DE REPORTAGEM DE CUNHO DEPRECIATIVO - OFENSA À IMAGEM E À INTEGRIDADE MORAL DE MENOR - DANO MORAL - EXISTÊNCIA - QUANTUM INDENIZATÓRIO - MANUTENÇÃO. - Nos termos do art. 5º, X, da Constituição Federal, são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. (...)- Na ponderação entre a liberdade de informação jornalística e o direto à imagem e à integridade moral, deve prevalecer a tutela desse último se a veiculação da imagem depreciativa da pessoa se mostra absolutamente desnecessária à informação objetiva e de interesse público veiculada na reportagem. - Para a fixação do dano moral o Julgador deve levar em consideração a natureza e extensão da lesão sofrida pelo ofendido, a capacidade econômica do ofensor, o caráter punitivo e compensatório da medida e os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, de modo a não gerar enriquecimento ilícito nem reparação insuficiente. Fixada indenização em valor não excessivo, incabível sua redução. Recurso não provido. (TJMG - Apelação Cível /001, Relator(a): Des.(a) Pedro Aleixo(JD Convocado), 12ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 05/11/2014, 6

7 publicação da súmula em 12/11/2014). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. VEICULAÇÃO DE VÍDEO E REPORTAGEM OFENSIVA À IMAGEM DO AUTOR. DANO MORAL CONFIGURADO. VALOR. 1. Para que se condene alguém ao pagamento de indenização por dano moral é preciso que se configurem os pressupostos ou requisitos da responsabilidade civil, que são o dano, a culpa do agente, em caso de responsabilização subjetiva, e o nexo de causalidade entre a atuação deste e o prejuízo. 2. Quando o direito à liberdade de expressão, de pensamento e de imprensa é exercido de maneira abusiva, com a divulgação de vídeo e reportagem ofensiva à imagem do autor, deve ele ceder frente ao direito à reputação, à honra e à imagem. 3. A indenização por danos morais se presta a minimizar o constrangimento e aflição suportados pela vítima, não constituindo, por outro lado, fonte de enriquecimento ilícito. 4. O valor a ser fixado competirá ao prudente arbítrio do magistrado, que, tendo em vista as dificuldades da positivação, traços e contornos do dano moral, deverá estabelecer uma reparação eqüitativa, levando-se em conta as peculiaridades de cada caso, tais como, a conduta e condição financeira do ofensor e a gravidade do dano. (TJMG - Apelação Cível /001, Relator(a): Des.(a) Wagner Wilson, 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 14/08/2013, publicação da súmula em 26/08/2013). Desta feita, não resta dúvida que os fatos narrados e a situação vivenciada pelos autores que se depararam com reportagens e imagens de cunho ofensivo publicadas no site administrado pela apelante, ultrapassaram o estágio de mero dissabor do cotidiano, mormente diante da angústia e dor experimentados, estando evidenciado, portanto, o dano moral. Anota-se ser irrelevante a demonstração do prejuízo efetivamente sofrido para que ocorra o direito à indenização, posto que o dano extrapatrimonial prescinde de provas materiais, sendo suficiente a comprovação do fato objetivo que, em circunstâncias normais, caracteriza ofensa aos direitos fundamentais do cidadão. 7

8 Destarte, o não provimento do presente recurso é medida que se impõe, devendo ser mantida a sentença hostilizada. Diante do exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. Custas pela apelante. DES. PEDRO BERNARDES (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. MÁRCIO IDALMO SANTOS MIRANDA - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO" 8