QUINTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº 53073/ CLASSE CNJ COMARCA DE ALTA FLORESTA

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1 APELANTE: APELADA: DIÁRIO EDITORA E RADIOFUSÃO LTDA. - ME MARIA LEONICE SILVERIO CAVALHEIRO Número do Protocolo: 53073/2010 Data de Julgamento: EMENTA RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS PUBLICAÇÃO DE FOTOGRAFIA SEM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DIREITO A IMAGEM OFENSA À REPUTAÇÃO DANO MORAL OCORRÊNCIA DEVER DE INDENIZAR VALOR DA CONDENAÇÃO COERENTE INEXISTÊNCIA DE EXCESSO HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA PERMANÊNCIA RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. - A publicação de foto em periódicos, sem autorização expressa, por se tratar de direito personalíssimo e fundamental, gera indenização por dano moral. - Sendo moderada e sem exagero a condenação em danos morais, até por seu aspecto pedagógico, não comporta diminuição. - Em havendo sucumbência recíproca e a decisão determinando que cada parte arque com os honorários advocatícios de seus patronos, não há motivos para reparação. Fl. 1 de 7

2 APELANTE: APELADA: DIÁRIO EDITORA E RADIOFUSÃO LTDA. - ME MARIA LEONICE SILVERIO CAVALHEIRO RELATÓRIO EXMO. SR. DES. SEBASTIÃO DE MORAES FILHO Egrégia Câmara: Recurso de Apelação interposto por DIÁRIO EDITORA E RADIOFUSÃO LTDA-ME, pleiteando a reforma da decisão proferida pela Juíza de Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de Alta Floresta que, nos autos da Ação Indenizatória por Danos Materiais e Morais, promovida por MARIA LEONICE SILVERIO CAVALHEIRO, onde pretendia ser indenizada por danos morais e materiais, no valor de R$83.000,00 (oitenta e três mil reais), por violação ao seu direito de imagem, o julgou parcialmente procedente, reconhecendo os danos morais, fixando indenização de R$5.000,00 (Cinco mil reais). Condenou ainda, por entender sucumbência recíproca, ao pagamento das custas e despesas processuais em 50% (cinqüenta por cento), para cada uma das partes e honorários advocatícios aos patronos fixados em R$1.000,00 (mil reais). As razões aduzem a inocorrência de ato ilícito e que trouxe apenas informação pública, tendo exercido um direito previsto na constituição. Opõe-se também à condenação em sucumbência recíproca e que pelo princípio da igualdade, se uma parte é atendida pela justiça gratuita, a outra não pode ser prejudicada. As contrarrazões pugnam pela manutenção da decisão. É o relatório. Fl. 2 de 7

3 VOTO EXMO. SR. DES. SEBASTIÃO DE MORAES FILHO (RELATOR) Egrégia Câmara: A questão a ser analisada, cinge-se, a saber, se a Apelada sofreu ou não danos morais, pelo fato de que houve a publicação de uma fotografia na edição do jornal O Diário, do dia 04 de outubro de 2008, com a sua imagem, na reportagem com o título Romoaldo agradece os votos e diz que esperava eleições mais limpas. É certo e induvidoso que a Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, em seu artigo 5º, inciso X, traz a seguinte proteção: Art. 5º:- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: X são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Diante do dispositivo constitucional, não resta nenhuma sombra de dúvidas que, entre outras proteções, a imagem da pessoa é inviolável e nesse sentido, qualquer que seja a violação, perfeitamente cabível a indenização por danos morais. No caso em comento, mesmo em não havendo qualquer citação do nome da Apelada no conteúdo da reportagem, há que se comungar que houve violação de sua imagem, vez que, não foi apresentada nenhuma autorização no sentido de publicar-se a imagem. Ausente a autorização da pessoa, no sentido de que a fotografia seja publicada, é público e notório que há a caracterização de violação de um direito, no caso, constitucional, merecendo a devida reparação. Fl. 3 de 7

4 Acresço que, no caso em tela, embora de forma sutil, a notícia divulgada diz respeito a ficha limpa o que, segundo penso, houve ligeiro dissabor da Apelada ao ver a notícia, de soslaio, na fotografia exibida no jornal. O órgão máximo do Poder Judiciário do País, Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE /RJ, Rel. o Min. CARLOS VELLOSO, decidiu: "EMENTA: CONSTITUCIONAL. DANO MORAL: FOTOGRAFIA: PUBLICAÇÃO NÃO CONSENTIDA: INDENIZAÇÃO: CUMULAÇÃO COM O DANO MATERIAL: POSSIBILIDADE. Constituição Federal, art. 5º, X. I. Para a reparação do dano moral não se exige a ocorrência de ofensa à reputação do indivíduo. O que acontece é que, de regra, a publicação da fotografia de alguém, com intuito comercial ou não, causa desconforto, aborrecimento ou constrangimento, não importando o tamanho desse desconforto, desse aborrecimento ou desse constrangimento. Desde que ele exista, há o dano moral, que deve ser reparado, manda a Constituição, art. 5º, X. II. R.E. conhecido e provido. Na mesma linha de entendimento, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, assim se pronunciou: Número do processo: /001 Relator: LUIZ CARLOS GOMES DA MATA Data do Julgamento: 27/08/2009 Data da Publicação: 14/09/2009 Ementa: INDENIZAÇÃO - PUBLICAÇÃO DE FOTOGRAFIA SEM AUTORIZAÇÃO - DANO MORAL CONFIGURADO - DEVER DE INDENIZAR. O direito à imagem tem caráter personalíssimo e visa resguardar a privacidade do indivíduo, na medida em que este pode se opor à divulgação de sua imagem, sem precisar explicitar suas razões. A partir do momento que é facultado à pessoa, e somente a ela, o poder de decisão acerca do uso de sua imagem, para que ocorra o dano moral basta que esta imagem seja veiculada de maneira indevida, sem a autorização necessária. A indenização por dano moral não pode ser inexpressiva a Fl. 4 de 7

5 ponto de estimular a repetição de fatos, tais como os narrados nos autos, nem ser exorbitante ao ponto de ocasionar enriquecimento sem causa. Súmula: DERAM PROVIMENTO. Ainda; Número do processo: /001 Relator: SELMA MARQUES Data do Julgamento: 03/12/2008 Data da Publicação: 09/01/2009 Ementa: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE REPARAÇÃO CIVIL - USO DE IMAGEM SEM AUTORIZAÇÃO - DANO MORAL CONFIGURADO- QUANTUM- MANUTENÇÃO. Em se tratando de ação de indenização onde se busque reparação por desrespeito ao direito à imagem, materializado na utilização desautorizada de fotografias, o dever de indenizar surge com a própria utilização indevida. Cumpre ao juiz, na difícil tarefa de estipular uma quantia para compensar o abalo sofrido por outrem, atentar sempre para a natureza e extensão do dano, bem como para as condições pessoais do ofensor e do ofendido, mormente à situação econômico-financeira, de modo que haja compensação pela dor sofrida, servindo ainda como desestímulo ao causador do dano. Súmula: REJEITARAM A PRELIMINAR E NEGARAM PROVIMENTO AOS RECURSOS. No que se refere à condenação da Apelante em R$5.000,00 (Cinco mil reais), não há o que ser reformado, haja vista que, não se afigura como um valor exagerado, está dentro dos padrões utilizados para compor danos morais. A propósito, o professor Humberto Theodoro Jr. sobre o tema pertinente aos danos morais, leciona: "Para cumprir a tarefa de um árbitro prudente e eqüitativo, na difícil missão de dar reparação ao DANO MORAL, sem cair na pura arbitrariedade, adverte a boa doutrina que: 'ao fixar o valor da indenização, não procederá o juiz como um fantasiador, mas como um homem de responsabilidade e experiência, Fl. 5 de 7

6 examinando as circunstâncias particulares do caso e decidindo com fundamento e moderação. Arbítrio prudente e moderado não é o mesmo que arbitrariedade. (Oliveira Deda, Enciclopédia Saraiva, cit., v. 22, p.290). ("DANO MORAL" - ed. Oliveira Mendes - 1ª ed , p.46). No mesmo sentido a lição de CLAYTON REIS: "O magistrado sensível, perspicaz e atento aos mecanismos do direito e da pessoa humana, avaliará as circunstâncias do caso e arbitrará os valores compatíveis em cada situação. Esse processo de estimação dos danos extrapatrimoniais, decorre do arbítrio do Juiz. O arcabouço do seu raciocínio na aferição dos elementos que concorreram para o DANO, e sua repercussão na intimidade da vítima, serão semelhantes aos critérios adotados para a fixação da dosimetria da pena criminal, constante no art./. 59 do Código Penal. ("Avaliação do DANO MORAL" - Forense - 1ª ed., 1998, p. 64). Nessa seara e não configurando valor excessivo, a condenação deve permanecer na forma em que foi concedida, não cabendo nenhum reparo. Com relação aos honorários advocatícios e face à sucumbência recíproca, nada a ser modificado, vez que, a decisão determinou que CADA PARTE ARCARÁ COM OS HONORÁRIOS DE SEUS PATRONOS, portanto, nada a ser reparado. Com essas considerações, conheço do recurso interposto, mas nego-lhe provimento, mantendo-se a decisão recorrida incólume. É como voto. Fl. 6 de 7

7 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUINTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. MARIANO ALONSO RIBEIRO TRAVASSOS, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. SEBASTIÃO DE MORAES FILHO (Relator), DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA (Revisor) e DES. MARIANO ALONSO RIBEIRO TRAVASSOS (Vogal), proferiu a seguinte decisão: RECURSO DESPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. Cuiabá, 25 de agosto de DESEMBARGADOR MARIANO ALONSO RIBEIRO TRAVASSOS - PRESIDENTE DA DESEMBARGADOR SEBASTIÃO DE MORAES FILHO - RELATOR GEACOR Fl. 7 de 7