UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA CURSO DE GRADUAÇÃO DE GEOGRAFIA

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA CURSO DE GRADUAÇÃO DE GEOGRAFIA TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO CONFLITOS NO ORIENTE MÉDIO: Uma análise geográfica de seu processo histórico, sua inserção geopolítica e sua abordagem pela imprensa. UBERLÂNDIA, MG DEZEMBRO/2010

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3 LUCAS OLIVEIRA RESENDE SANTOS CONFLITOS NO ORIENTE MÉDIO: Uma análise geográfica de seu processo histórico, sua inserção geopolítica e sua abordagem pela imprensa. Trabalho final de graduação apresentado à banca do Curso de Graduação em Geografia para obtenção da graduação em bacharel em geografia. Orientadora: Prof. Gláucia Carvalho Gomes UBERLÂNDIA-MG 2010

4 BANCA EXAMINADORA Aprovada em Prof. Dra. Rita de Cássia Martins de Souza Prof. Ms. Tulio Barbosa Prof. Gláucia Carvalho Gomes Orientadora

5 AGRADECIMENTOS Agradeço à minha família Ana Marina, Alexandre, Roberto e também, aos demais familiares, em especial a minha noiva Jenniffer, pelo apoio incondicional em minha trajetória como graduando em bacharel no curso de Geografia. À minha orientadora, professora Gláucia Carvalho Gomes, por ver a importância contida em meu projeto e por ter proporcionado uma produtividade prolífica e coerente, respeitando um cronograma que permitiu a conclusão do trabalho sem muitas adversidades, o que tornou a realização deste algo muito proveitoso e interessante. Aos meus colegas de graduação, que permitiram perceber o quão importante é o apoio e o companheirismo ao longo dos anos que se passaram desde a seleção dos discentes, principalmente no final, quando muitas atividades causam exaustão. Esta, que é amenizada pela descontração provocada pelos amigos.

6 RESUMO O Oriente Médio é a região do globo que agregou mais conflitos internacionais desde o final da II Guerra Mundial, sendo que muitas destas tensões é de origem local e outras devido à intervenção de países que disputam o controle sobre das riquezas existentes. Isso ocorre em função grande importância geoestratégica da região na atualidade, já que ao longo do século XX o Oriente Médio assumiu a liderança mundial em extração e exportação de combustíveis fósseis. A história dos conflitos do Oriente Médio está diretamente atrelada aos eventos ocorridos na Europa na primeira metade do século XX, e também às descobertas das maiores reservas de petróleo do mundo. Estas são ambicionadas devido à importância da cadeia do petróleo para a reprodução ampliada do capital, o que torna a região alvo do processo extensivo de grandes empresas e corporações as quais, sediadas em sua maioria sediada nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, passaram a atuarem sobre o Oriente Médio, interferindo diretamente nos Estados-Nacionais que compõem a região. Muitos dos conflitos e revoltas ocorridas no Oriente Médio foram desencadeados por estas intervenções onde, em função de interesses externos imperialistas, ocorreram queda ou ascensão de lideres políticos na região. Os principais mercados consumidores dos recursos fossilistas encontrados no Oriente Médio localizam-se principalmente nas potências industriais e financeiras ocidentais. Dentro desta intricada cadeia, a opinião pública dos países consumidores é considerada de fundamental importância, na medida em que ação para obtenção deste recurso, não raro, passa por guerras e conflitos armados, já que se trata de ações imperialistas fundamentadas no controle do território. Assim, os grandes veículos de comunicação assumem o papel de (in) formar a opinião das populações que consomem os recursos advindos do Oriente Médio, cujo sentido geral é o de produzir um discurso favorável à intervenção nos países detentores desta riqueza. Palavras-chave: 1. Geopolítica 2. Conflitos 3. Oriente Médio 4. Petróleo.

7 ABSTRACT The Middle East is the region of the globe that faced most international conflicts since the end of World War II, and many of these strains have a local beginning and others due to the intervention of countries vying for control over the existing resources. This happen due to a great geostrategic importance of the region today, as throughout the twentieth century the Middle East acknowledged as the world leader in extraction and export of fossil fuels. The history of conflicts in the Middle East is directly linked to events that occurred in Europe during the first half of the twentieth century, and also due to the findings of the largest oil reserves in the world. Those are coveted because of the importance of the oil chain for the capital reproduction, which makes the region a target of the extensive process by the large companies and corporations in which, based mainly in the United States and Western Europe, began to act over the Middle East, intervening directly in the National States that compose the region. Many of the conflicts and insurgencies that occurred in the Middle East were triggered by these interventions where, according to foreign imperialist interests, happened fall or rising of political leaders in the region. The main consumer markets of the fossil resources extracted from the Middle East are mainly located in the Western financial and industrial powers. Within this intricate chain, the public opinion of the consuming countries is regarded with fundamental importance, in that practice to obtain such resource, it often goes through wars and armed conflicts, since it is based on imperialist actions for the territory control. Thus, the major media outlets assumes the role to (in)form the people's opinion who consume the proceeds of the Middle East, whose general way is to make a favorable speech of the intervention at countries that holds this wealth. Key Words: 1. Geopolitics 2. Conflicts 3. Middle East 4. Oil.

8 Lista de figuras Figura 1: Mapa político do Oriente Médio/ Figura 2: A evolução do território israelense desde antes de Cristo até a Guerra dos Seis Dias.24 Figura 3: A evolução das fronteiras após a Guerra dos Seis Dias Figura 4: Os chefes de Estado de Israel e Egito, respectivamente, durante as primeiras ofensivas da Guerra do Yom Kippur Figura 5: As primeiras ofensivas da Guerra Irã-Iraque Figura 6: O histórico aperto de mãos que viria a selar a paz entre israelenses e palestinos Figura 7: Território afegão em posição central Figura 8: Imagens da CNN de bombardeios em Bagdá, início da Guerra do Iraque em Captura em vídeo do autor Figura 9: Militares americanos em ofensiva no Iraque

9 Sumário INTRODUÇÃO Capítulo 1 A formação do Oriente Médio: uma análise geográfica do processo histórico de formação do Oriente Médio Capítulo 2 Os conflitos do/no Oriente Médio no contexto da geopolítica Mundial: Tudo por causa do petróleo Capítulo 3: A Geopolítica que envolve o Oriente Médio: As representações construídas acerca dos conflitos a partir da análise de sua cobertura jornalística O conflito entre israelenses e palestinos A chamada guerra ao terror no Afeganistão As guerras no Iraque: Guerra do Golfo (1991) e Guerra do Iraque (2003-) CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS

10 INTRODUÇÃO O objetivo desta pesquisa é refletir, a partir do arcabouço teórico da geografia, sobre os conflitos que ocorreram no Oriente Médio, principalmente os ocorridos após o final da II Guerra Mundial. O sentido dessa reflexão é compreender, sob a perspectiva de uma análise geográfica, os fatos históricos, bem como a relação existente entre estes e a nova espacialização e, ainda, as relações geopolíticas produzidas a partir da criação do Estado de Israel dentro do Oriente Médio. Constitui-se ainda em objetivo proposto, entender em que medida esta intervenção pode ter potencializado as diferenças culturais, principalmente religiosas, contribuindo para transformá-las em conflitos bélicos. E, sob a perspectiva geopolítica, compreender a importância desses conflitos para os países ocidentais centrais da economia capitalista e a forma assumida por esses conflitos no discurso veiculado por grandes veículos de comunicação. Entre as consequências que emergiram do pós Segunda Guerra Mundial, a criação do Estado de Israel no Oriente Médio consiste em um dos fatos que mais trouxeram impactos nas relações geopolíticas mundiais. A chegada dos primeiros judeus à Palestina no período entre guerras foi vista como algo positivo e mesmo desejado pelos muçulmanos, já que esta chegada consistia em uma maior possibilidade de entrada de recursos e força de trabalho que, potencialmente, poderia constituir-se em desenvolvimento socioeconômico para a Palestina, conforme refletiu (GRINBERG, 2003). Contudo, a perseguição empreendida aos judeus na Europa intensificou o fluxo destes para o território palestino, o que se configurou na gênese da resistência dos palestinos a migração dos judeus. A posterior redefinição dos limites territoriais da Palestina, que concedeu a autonomia política dos judeus sobre as terras anteriormente pertencentes aos palestinos despertou a insatisfação dos habitantes originais e países vizinhos, o que colocou a disputa Palestina versus Israel no centro de um dos conflitos bélicos territoriais no Oriente Médio. A região denominada de Oriente Médio situa-se a oeste da Ásia Central e a leste da África sendo assim designado desde meados do século XIX. Esta designação traz arraigada em si forte conotação eurocentrica 1, e está inserida no contexto do neocolonialismo 2 europeu 1 Eurocentrismo: termo que visa a valorização de valores exprimidos no continente europeu em detrimento de outros, com o objetivo posicionar geograficamente a Europa no centro do mundo. 10

11 sobre o continente africano e asiático. De acordo com (GRINBERG, 2003), embora ainda estivesse formalmente sob o domínio do Império Otomano, a região já era alvo de interesse dos europeus, principalmente devido à sua localização geográfica. Após a dissolução deste império no término da I Guerra Mundial, o Oriente Médio foi subjugado pelos europeus, principalmente Inglaterra e França, já que, historicamente, a região é estratégica para os interesses europeus desde o século XV, quando se constituía em importante rota comercial para o Oriente. A consolidação do fenômeno da industrialização iniciado na Europa e difundido para os Estados Unidos ao longo do século XIX levou à introdução de novas tecnologias de produção que, entre outros aspectos deu início à dependência desses países industrializados em relação aos combustíveis fósseis, consolidando o que (PORTO-GONÇALVES, 2006) denominou de sistema-mundo-moderno-colonial-fossilista. Ao longo do século XX, essa dependência foi gradativamente acentuada até que os combustíveis fósseis tornassem-se estratégicos para a reprodução social do espaço, principalmente depois da 2ª Guerra Mundial. Nesse novo contexto, o Oriente médio retomou sua importância estratégica para as potências ocidentais, considerando que o controle geopolítico sobre os países detentores das reservas de hidrocarbonetos garantiria condições favoráveis ao desenvolvimento industrial de quem os controlasse. Processo que fez com que esta região tivesse sua função redefinida na reorganização geopolítica mundial e que fomentou novas disputas territoriais, como base de controle das riquezas fossilistas lá existentes. Após a II Guerra Mundial, os Estados Unidos constituíram-se na maior potência capitalista do mundo e, nesta condição, sua influência substituiu a influência dos países europeus que dominavam grande parte do mundo até então. Nesse processo, os Estados Unidos buscaram impor seus hábitos de consumo aos habitantes do Oriente Médio dos países que enriqueciam com a extração petrolífera, como forma de torná-los consumidores de produtos estadunidenses. O objetivo era diminuir a defasagem na balança comercial entre EUA e Oriente Médio. Uma das formas utilizadas para alcançar esse objetivo foi apoiar governos favoráveis, como ocorrido com o Xá Reza Pahlevi quando este ascendeu ao poder no Irã. Todavia, este foi deposto décadas depois pela Revolução Islâmica, ocorrida no final da década de Apesar da deposição do Xá iraniano, os EUA ainda ampliaram o controle 2 Neocolonialismo: Termo cunhado e dirigido aos países subdesenvolvidos da África e da Ásia submetidos ao domínio das principais potências mundiais vigentes desde meados do século XIX até o final da II Guerra Mundial. 11

12 geopolítico da região, mantido pelo fomento das disputas entre os árabes e destes com Israel, bloqueios econômicos, entre outras estratégias adotadas. A tentativa de ocidentalizar o Oriente Médio, inclusive por intervenções militares, deixou como ônus para os EUA uma imagem negativa dentro de muitos países do Oriente Médio, embora este país também tenha constituído aliados nesse processo, como a Arábia Saudita. Contudo, o desgaste político estadunidense não impediu as intervenções geopolíticas estratégicas para este país, tais como as que motivaram as invasões do Iraque ocorridas no fim do século XX e início do século XXI, conforme demonstrou Harvey (2004). Mesmo sem a Organização das Nações Unidas - ONU ter encontrado justificativas para executar as ofensivas, os Estados Unidos atacaram e depuseram o governo iraquiano Sadam Hussein em invasão ocorrida em 2003, conflito que será analisado neste trabalho. Na atualidade, o domínio dos Estados Unidos e a sua consequente influência estão ligados aos países próximos da Arábia Saudita ou em países cujos detentores do petróleo buscaram investir a riqueza gerada pelo petróleo para transformar seus territórios em paraísos da arquitetura e infraestrutura moderna. A divisão política do que é chamado de Oriente Médio pode ser vista na figura 1 sendo que os principais países em destaque são aqueles localizados próximo ao Mar Mediterrâneo, Israel, Líbano, Síria e a Jordânia, que se encontra a leste. Estes, embora se constituam em países de pequena extensão territorial, estiveram no centro de alguns dos principais conflitos entre árabes e israelenses. E, ainda, Egito e a Organização para a Libertação da Palestina - OLP 3, que também protagonizaram diversos embates contra Israel. No centro da figura seguinte está representado o país árabe de maior extensão territorial, a Arábia Saudita, que também possui a maior reserva petrolífera do mundo, o que lhe atribui uma grande importância no Oriente Médio. Finalmente, também estão representados o Irã e o Iraque, situados no extremo leste da região e de grande importância devido às reservas de hidrocarbonetos e aos conflitos que em se envolveram (e foram envolvidos) e que protagonizaram no século XX dentro do Oriente Médio. 3 Organização para Libertação da Palestina: movimento fundado por Yasser Arafat em 2004 cujo foco principal era fundação de um Estado para o povo palestino. No início a luta era armada, o que lhe conferiu um status de organização terrorista. Nos anos 1990, a OLP passou a ser visto como representante legítimo do povo palestino, assumindo um caráter mais político e menos beligerante. 12

13 Figura 1: Mapa político do Oriente Médio/2003. Fonte: Universidade do Texas. A criação do Estado de Israel no Oriente Médio foi justificada como uma forma de conceder aos judeus uma Pátria após o Holocausto 4 ocorrido durante a II Guerra Mundial. No entanto, desde a segunda metade do século XIX já havia reivindicações dos judeus por um território, que foram reconhecidas e discutidas a partir do final da I Guerra Mundial, presente na Declaração Balfour 5. Neste processo o Império assumiu uma postura ambígua, 4 Holocausto: atentados graves aos direitos humanos cometidos pelos nazistas antes e durante a II Guerra Mundial, como parte do desejo de Adolf Hitler de ter uma raça ariana e reinando durante o III Reich. Nisso, foram torturados e massacrados cerca de 6 milhões de pessoas, a maior parte judeus, comunistas, ciganos e deficientes físicos e mentais. 5 Declaração Balfour: declaração feita em 1917 por Arthur James Balfour, para o líder da comunidade judaica na Grã Bretanha sobre a sua vontade de conceder um território na Palestina caso a Inglaterra derrotasse o Império Otomano. 13

14 comprometendo-se com os judeus para a criação de Israel e com os países Árabes contrários a esta criação e foi motivadosobretudo por interesses ocidentais, o que será visto posteriormente. Os conflitos gerados entre Israel e seus vizinhos por problemas territoriais assumiu a forma de luta armada logo após a declaração de independência, em maio de 1948, quando as forças armadas do Egito, Síria, Jordânia, Líbano, Iraque e Arábia Saudita atacaram Israel. Apesar do grande esforço coletivo, o conflito acabou com a derrota árabe em março de 1949, devido ao suporte bélico efetivo das potências ocidentais dado ao Estado de Israel e também pela divergência entre os países árabes envolvidos no conflito, conforme analisou Grinberg (2003, p. 109). Em 1956, o fechamento do Estreito de Tiran, acesso de Israel ao Mar Vermelho, e ainda a nacionalização do Canal de Suez por parte do Egito levaram Israel a um empreendimento militar que resultou na conquista da Faixa de Gaza e da Península do Sinal, algo justificado por Israel como a garantia da soberania do Estado judeu em um território cercado por árabes, tal como apontado por Grinberg (2003, p. 111). Ainda segundo esta autora, o fechamento do canal de Suez significou a perda do domínio da Grã Bretanha e da França sobre os países árabes. Nessa ação os EUA apoiaram o Egito, contrariando as expectativas britânicas e francesas, o que levou à substituição do domínio anglo-francês pelo domínio estadunidense no Oriente Médio. Os conflitos decorridos do fechamento do Estreito de Tiran só foram amenizados com a imposição de cessar fogo da Organização das Nações Unidas (ONU) que, entre outros, impôs a Israel a devolução dos territórios conquistados. Em 1967, em nova investida liderada pelo Egito, os árabes foram novamente derrotados por Israel, o que também ocorreu em 1973 no ataque surpresa empreendido por Síria e o Egito. Nestes ataques fracassados os árabes somaram, além dos reveses, sucessivas perdas territoriais, ao mesmo tempo em que Israel consolidava-se como a grande força militar do Oriente Médio. Em decorrência da frustrada ofensiva da Guerra do Yom Kippur, ocorreu a primeira Crise do Petróleo, provocado pelo acentuado aumento dos preços do petróleo extraído e exportado pelos países integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo - OPEP. Harvey (2004) analisa o primeiro choque do petróleo sob a perspectiva geopolítica. Assim, para o autor, esse evento constituiu-se em um movimento engendrado pelos Estados Unidos para frear o desenvolvimento de Japão e Alemanha, países que o superavam na produção industrial, mas eram mais dependentes da energia petrolífera devida à ausência ou escassez de reservas em seus territórios. Além da existência de reservas no território 14

15 estadunidense, o controle sobre a distribuição de petróleo permitiu aos Estados Unidos vantagem na produção industrial como uma forma de controlar, ainda que parcialmente, o desenvolvimento industrial de seus concorrentes. Outro conflito importante para compreender as questões e conflitos que envolveram e envolvem o Oriente Médio, foi a invasão israelense sobre o Líbano no início da década de 1980, após o suposto lançamento de mísseis atribuídos aos membros da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) expulsos de Israel. A principal consequência deste evento foi a intensificação das ações espontâneas de resistência palestina que ficaram conhecidas como Intifada 6, além de outras ações organizadas caracterizadas pelos ataques dos chamados homens bomba sob o comando de grupos de luta como Hezbollah 7 empreendendo a Jihad 8. É este contexto geral sobre o qual objetiva-se refletir nesta pesquisa, sendo que o objetivo geral é o de compreender e refletir sobre os conflitos entre países localizados no Oriente Médio, bem como sobre suas consequências. Especificamente, propõe-se ainda refletir sobre a diversidade territorial (aspectos políticos como distribuição étnica entre árabes, persas, pashtuns e naturais como o clima desértico e seus recursos), considerando os interesses socioeconômicos das potências econômicas centrais da economia capitalista em relação ao Oriente Médio, para assim compreender os desdobramentos atuais da reorganização da ordem mundial. Ainda nesta perspectiva, pretende-se considerar a postura historicamente assumida pelas potências capitalistas ocidentais em relação a Israel que, não apenas o reconheceu de imediato como Estado-Nação, como também o apoiou quase que irrestritamente em todos os conflitos entre árabes-israelenses. Entende-se como importante essa consideração na medida em que não foi essa a postura adotada em relação a outros povos, como, por exemplo, palestinos. E, finalmente, como estes conflitos foram considerados e veiculados pelos grupos de comunicação, grupos que cumpriram o papel de divulgação dos eventos ocorridos no Oriente Médio e que, neste processo, contribuíram decisivamente para a construção da representação que se tem de tais eventos. Essa pesquisa foi elaborada tendo como fundamento uma revisão bibliográfica acerca da temática principal, qual seja, os conflitos no Oriente Médio, cuja análise procurou orientar- 6 Intifada: movimento de resistência do povo palestino que consistia em desobediência civil, vandalismo, não pagamento de tributos e ataque com pedras a forças israelenses. 7 Hezbollah: organização política e paramilitar situada no Líbano que, ao contrário do pensamento comum de que é apenas uma milícia armada, assiste à grande parte da população xiita libanesa. 8 Jihad: termo islâmico que significa luta. Também é concebido como uma forma de conflito por alguns islamistas visando o fim da injustiça e da opressão, nesse caso de Israel contra seus vizinhos. 15

16 se por uma perspectiva geográfica. Além da revisão bibliográfica necessária à construção do referencial teórico metodológico, também foi realizada uma pesquisa baseada em levantamento de material jornalístico, cujo objetivo foi de refletir sobre a representação assumida por esses conflitos. Esta análise baseou-se, fundamentalmente, nas notícias e reportagens divulgadas na imprensa brasileira. Ainda como procedimento metodológico adotado, também se destaca a leitura da cartografia do Oriente Médio e de seus conflitos, através da leitura de diversos mapas. 16

17 Capítulo 1 A formação do Oriente Médio: uma análise geográfica do processo histórico de formação do Oriente Médio. A representação comumente difundida entre aqueles que se abastecem cotidianamente de informações oriundas dos veículos de imprensa internacional sobre os conflitos entre israelenses e árabes - além de outros choques que envolvem forças militares de alguns países ocidentais e Estados muçulmanos - é de que há um litígio permanente ligado à questão religiosa. Conflito que, supostamente, remontaria à criação do Estado de Israel no fim da primeira metade do século XX. Todavia, sob a perspectiva geográfica e geopolítica, é possível perceber que os conflitos que envolvem o Oriente Médio antecedem à criação formal do Estado israelense e transcendem em muito a questão religiosa. Isto porque, para compreendêlos é necessário considerar em medida sua localização e riquezas naturais foi objeto de disputas, sendo que o mesmo direta ou indiretamente vinculou-se às duas Grandes Guerras mundiais e aos interesses político-econômicos das grandes potências ocidentais. Segundo Grinberg, (2003, p. 102), os movimentos iniciais para a criação de um Estado judeu começaram a ser materializados quando movimentos anti-semitas formaram-se ou fortaleceram-se na Europa Ocidental desde o final do século XIX até o final da Segunda Guerra Mundial. Nesse período já havia uma relativa integração dos judeus na Europa, com a formação de uma união judaica de orientação socialista, o que demonstra que nem todos os judeus são sionistas. Para a autora: quando o sentimento anti-semita já tinha virado política oficial na Alemanha nazista, a ideia sionista foi desconsiderada pela maioria dos judeus, muitos ainda confiantes na emancipação pessoal ou na integração socialista à sociedade européia, outros preferindo adotar a solução individual da imigração para, principalmente, as Américas. Nem todos os judeus, portanto, tornaram-se sionistas. Assim, é possível perceber que o movimento sionista não surgiu como um sentimento ou reivindicação dos judeus, mas como uma política ocidental que se apropriou da questão dos judeus para se fortalecerem no interior do Oriente Médio. Este fato, se não desautoriza, ao menos relativiza a concepção de que tal conflito explica-se tão somente por uma questão histórico-religiosa. Conforme demonstrado por Grinberg (2003) e Kirk, (1967) no final do século XIX, teve início a imigração de judeus, sobretudo sionistas, para o Oriente Médio, ocupando o 17

18 território palestino. Esse movimento aproveitou-se do progressivo enfraquecimento político do Império Turco Otomano, que até então dominava o território de maioria árabe. Neste período, a migração ocorria de forma voluntária e era bem vista por ambas as partes, porque os migrantes se inseriam na principal atividade econômica no local, a agricultura. Ou seja, ainda que professando religiões diferentes, judeus e palestinos conviveram e somaram esforços no processo de reprodução de sua existência, fato que demonstra o quanto os conflitos não podem ser atribuídos à intolerância entre ambos, argumento que se tornou senso comum ao longo das últimas décadas. Ainda segundo estes autores, ao longo de sua constituição, o Império Turco Otomano exerceu grande controle sobre o Oriente Médio e no norte da África. Entretanto, esse domínio encontrou grande resistência nos povos dominados que, embora também fossem muçulmanos a exemplo dos otomanos, eram árabes, o que contribuiu para que não aceitassem pacificamente o domínio de seus territórios, processo que representou dificuldades e contribuiu para enfraquecer o Império Otomano. Mas este enfraquecimento também teve motivos externos. A partir do século XIX, devido à crise que atravessava, o Império Otomano perdeu grande parte de seu domínio territorial, o que intensificou a grave crise aprofundada pela Guerra da Criméia, conflito ocorrido entre otomanos e russos. Grinberg (2003, p. 102) demonstra o interesse dos países ocidentais sobre essa região, quando afirma que a Inglaterra e sua aliada França apoiaram o Império Otomano na vitória contra a Rússia, e por isso consolidaram definitivamente seu poder na região, fixando as tarifas aduaneiras e controlando todas as trocas comerciais dos endividados otomanos. De fato, o apoio francês e britânico não foi desinteressado, pois ingleses e franceses sabiam que independente do vencedor do conflito, a guerra enfraqueceria ambos os lados, o que poderia abrir caminho para a influência britânica e francesa sobre o Oriente Médio, como de fato ocorreu. A derrocada final do Império Turco Otomano que definitivamente abriu espaço para o domínio das potências ocidentais - veio com a Primeira Guerra Mundial, quando a busca por domínio territorial levou ao enfrentamento das potências imperialistas pela disputa de territórios, provocando um dos maiores conflitos da história da humanidade. Esse conflito foi decisivo para que movimentos árabes nacionalistas ganhassem força e, com apoio britânico 9, derrotassem os turcos otomanos, como analisaram Kirk (1967) e Benjacob (1986). Assim, ao 9 O apoio britânico na revolta árabe foi transposto para o cinema através do clássico Lawrence da Árabia, que conta a história do coronel T. E. Lawrence, o qual liderou os árabes numa revolta contra os otomanos e em troca se tornou um herói em território árabe. 18

19 final da Primeira Grande Guerra, o Império foi extinto em favor de protetorados do mandato da Grã Bretanha e França. Segundo Grinberg: Hussein pretendia constituir um grande Reino Árabe, que incluiria, além da própria Arábia, a Síria, o Iraque e a Palestina. Em 1915, ele iniciou uma correspondência com Sir Henry McMahon, alto comissário britânico para o Egito, comunicando suas pretensões e buscando a concordância britânica para a proclamação de um Califado Árabe para o islã. Embora tendo inicialmente recusado, o governo inglês acabou dando aval para a revolta árabe contra os otomanos, iniciada em 1916 com o auxílio do Coronel Lawrence, o famoso Lawrence da Arábia. A França, por sua vez, divergiu em relação à Grã Bretanha por ter interesses nos territórios do Líbano e da Síria diante de suas pretensões em relação aos territórios do Reino Árabe, o que posteriormente foi atenuado através do acordo de Sykes-Picot 10. A partir daí, foi feita a divisão territorial do Oriente Médio na forma de Estados Nacionais, como o Iraque e a Jordânia. Essa divisão teve apoio britânico e francês, contudo, a mesma não ocorreu da forma desejada pelos povos daqueles territórios, porque as potências europeias objetivavam não defender os interesses desses povos, mas mantê-los divididos. Após o final da Primeira Guerra, a Palestina já se constituía em um território muito cobiçado tanto pelo Império Britânico quanto pela França, para fins de dominação territorial no Oriente Médio, devido a sua posição estratégica dentro da região. Outro elemento que também o tornava interessante era a possibilidade de o mesmo constituir-se em formar um enclave dos impérios colonialistas já em aparente declínio. Com a Declaração Balfour documento que ratificou a criação de um Estado para os judeus que já eram numerosos na Palestina - a Grã Bretanha reafirmou sua influência no território, que também se beneficiou da partilha de grande parte dos territórios independentes do Império Otomano, com exceção da Palestina, cuja população passou a reivindicar a formação de um Estado, principalmente após o aumento da migração sionista. Devido ao aumento significativo da migração dos judeus para o território palestino, os britânicos ratificaram a Declaração Balfour que, no entanto, não era favorável aos palestinos. Assim, se inicialmente os palestinos apreciavam a vinda de judeus como forma de alavancar o desenvolvimento da região (pois ambos atuavam de forma cooperativa na agricultura) posteriormente se viram ameaçados por essa imigração. 10 O acordo de Sykes-Picot foi um termo secreto assinado pelo Reino Unido e pela França, e tendo o respaldo do Império Russo, em 1916 que consiste na divisão de áreas de influência no Oriente Médio. 19

20 Embora a população judaica fosse menos populosa, a desigualdade socioeconômica e o aprofundamento da pobreza entre os palestinos árabes, levou à resistência destes em relação aos judeus. Assim, a insatisfação do povo palestino com a presença judaica em seus territórios pela diferença social somou-se à revolta contra a Grã Bretanha por sua posição aparentemente ambígua, na medida em que essa ambiguidade era favorável aos judeus. Esse processo tornouse ainda mais conflituoso com a intensificação da imigração de judeus para a Palestina devido ao nazi-fascismo 11. Em decorrência desse fato, surgiu um movimento pan-árabe em defesa das reivindicações palestinas, cujo fundamento foi a recusa da partilha da Palestina pelo fato de ser um território exclusivamente árabe, algo que não ocorreu entre os sionistas, que aparentemente, aceitavam sem ressalvas as propostas do Império Britânico. Em 1939 após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, os alemães intensificaram o programa da Solução Final 12, que fez com que os britânicos revogassem a limitação da imigração judaica para a Palestina. Ao final do conflito entre as potências mundiais, acabou-se também o mandato britânico sobre a Palestina, período bastante conturbado, que teve sua partilha proposta pela recém-criada Organização das Nações Unidas, ainda recusada com veemência pelos árabes, mas bem vinda pelos sionistas. Essa mudança, por sua vez, reflete as mudanças ocorridas no jogo de forças internacionais que demonstravam que, ao mesmo tempo em que a Inglaterra perdia influência, os Estados Unidos ascendiam, tendo o seu poder representado pelas chamadas agências multilaterais que, supostamente, eram representantes de um poder supranacional. Consumado o fim do mandato britânico, bem como a decadência de seu império colonial, a ONU assumiu a mediação dos conflitos e, com a consequente falta de autoridades na região, representantes das Nações Unidas declararam a independência e a condição de Israel como Estado-Nação, estatuto não reconhecido pelos Estados árabes, mas que obteve o imediato reconhecimento dos países ocidentais. Sob o argumento de consolidação de seu Estado, Israel deu início às ações bélicas com o intuito de expandir seu território como forma de aumentar sua soberania contra os palestinos. Embora em menor número, mas contando com o apoio militar de países como os EUA, os 11 Nazi-fascismo: movimento político surgido após a Primeira Guerra Mundial e a Crise de 1929, que consistia em um corporativismo político-econômico, na anexação territorial por revanchismo e na exaltação de uma específica classe social. No caso alemão era a raça ariana em detrimento dos judeus, comunistas, homossexuais, deficientes físicos, ciganos, entre outros. Esse foi o estopim para o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial. 12 Solução Final: Estágio final de genocídio aos judeus por parte dos nazistas durante o Holocausto, o qual foi posto em prática a partir da eclosão da Segunda Guerra Mundial. O objetivo dos alemães era de erradicar a população judaica da Europa. 20

21 judeus saíram vitoriosos, o que não significou o fim das tensões na região, que se intensificaram a partir de Ao longo da década de 1950, houve a criação da Liga Árabe 13 que, embora tivesse como objetivo a expulsão dos israelenses da Palestina, os países tinham grandes divergências devido às disputas territoriais e interesses sobre os territórios da Palestina. Nesse período, Israel teve seu território ratificado, ao mesmo tempo em que a Cisjordânia foi anexada pela Jordânia, o que fez com que muitos palestinos tivessem que se deslocar para campos de refugiados. Enquanto Israel justificava a saída dos palestinos como uma iniciativa da Liga Árabe, os árabes acusavam as Forças Armadas Israelenses de expulsar os palestinos que se tornaram refugiados próximo à fronteira com o Líbano e da Jordânia. Concomitante à expulsão dos palestinos, Israel concedia cidadania a todos os judeus interessados em estabelecer residência no Estado judeu e também para os palestinos árabes que não se tornaram refugiados a partir de 1950, o que procedeu, assim, a transformação do território judeu em um enclave ocidental. (Grinberg, 2003) Nesse sentido, é possível perceber que a questão dos campos de refugiados palestinos, que perdura até os dias atuais vinculou-se diretamente à solução do problema dos refugiados judeus da Segunda Guerra Mundial. Quando estes se deslocaram para a terra prometida os palestinos lá residentes tiveram sua situação bastante precarizada o que, no entanto, não provocou a mesma comoção causada pelo caso dos judeus. Assim, pode-se afirmar que na base da solução da questão judaica, causada pelos eventos ocorridos na Europa Ocidental, produziu-se a questão palestina. Em 1952, Gamal Abdel Nasser, coronel das forças armadas egípcias chegou o poder no Egito, evento de grande importância segundo Grinberg, (2003) e Benjacob, (1986), já que suas propostas tornaram-se popular nos países árabes. No contexto da Guerra Fria, Nasser propôs o não alinhamento de seu país a nenhuma das duas superpotências, a modernização do Egito e demais países árabes a partir de perspectivas e interesses nacionais. Essa posição não foi bem vista pela ex-união Soviética e Estados Unidos, já que a mesma, potencialmente, retirava esta região geoestratégica da esfera de dominação econômico-política das superpotências. Assim, essa não aceitação não se deveu apenas à localização estratégica e interessante do Egito, mas também pelo grau de influência que a posição egípcia poderia ter 13 Liga Árabe: Organização de Estados árabes presentes em sua maioria no Oriente Médio e no norte da África, com o objetivo de formar uma cooperação sócio-política de forma a assegurar as suas respectivas independências e soberanias. Os países fundadores foram: Egito, Iraque, Jordânia, Líbano, Arábia Saudita e Síria. Atualmente há 22 países membros e é visto pela ONU como uma Organização Regional. 21

22 sobre os demais países ainda não assumidos como não alinhados. Nesse sentido, as superpotências atuaram no sentido de minar essa posição de não alinhamento aos seus interesses, estratégia que passou pela tentativa de anulação da influência do líder egípcio sobre a região. A modernização egípcia deu-se, inicialmente, pela construção da barragem de Assuã e, posteriormente, pela nacionalização que objetivava o controle do Canal de Suez. Com o declínio no pós-segunda Guerra do mandato colonialista do Reino Unido e da França grande parte do Oriente Médio, abriu-se um vácuo de poder nessa área importante para o comércio dos países europeus, condição da qual o Egito tentou-se aproveitar, através do controle do Canal. Todavia, esse fato acabou por se constituir em um momento estratégico para os Estados Unidos ascendessem na região através de sua intervenção (e do modo como esta se deu) na região, ainda que inicialmente essas intervenções tenham se dado de forma indireta. A problemática do Canal de Suez teve início quando o Egito passou a controlá-lo, o que levou Grã Bretanha e a França a apoiarem Israel no que este chamou de ataques preventivos na Faixa de Gaza. Como consequência Nasser decretou o fechamento do canal para navios israelenses, o que desencadeou a invasão do Sinai pelo exército de Israel, movimento freado pela intervenção da ONU. Keila Grinberg, ao refletir sobre esse processo, demonstra como os EUA se beneficiaram do mesmo quando afirma que foi aproveitando o 'vácuo de poder' criado pela decadência britânica, [que] os EUA tomaram uma posição de não defender as ações das potências europeias, para impedir uma polarização na qual a URSS acabaria por consolidar a simpatia de que já dispunha no mundo árabe (p. 111). Após o fechamento do Canal de Suez, os conflitos entre Israel e Egito culminaram com a tomada pelo primeiro da Península do Sinai. Por sua vez, o apoio ocidental concedido aos israelenses consolidou o sentimento dos árabes em relação a Israel, em que este seria um enclave do capitalismo ocidental imperialista dentro do Oriente Médio. O canal de Suez foi reaberto em 1957, mas Nasser consolidou o objetivo de constituirse em uma liderança sobre os povos árabes com o objetivo de unificar os países em torno de uma República Árabe Unida, com o objetivo de alcançar maior autonomia para os países árabes e impedir sua subordinação às potências ocidentais com interesses geopolíticos. Porém, esse objetivo foi frustrado devido ao fato de ter sido descoberto em muitos dos países árabes do Oriente Médio as maiores jazidas petrolíferas do mundo que, com o início de sua exploração, tornou ainda mais complexo e instável o controle sobre o conjunto do Oriente 22

23 Médio. Cada país detentor dessa riqueza passou a reivindicar para si a liderança desse grupo, o que impediu a união entre os mesmos e inviabilizou a proposta egípcia. Entretanto, ainda que a influência egípcia tenha sido minada pela exploração petrolífera, o país ainda permaneceu como porta-voz dos palestinos até a criação da Organização para Libertação da Palestina (OLP) que, no contexto de seu surgimento, foi conduzida pelos egípcios e árabes vizinhos a Israel. Paralelamente, os palestinos reconheciam os movimentos radicais de luta como porta-vozes da libertação da Palestina e não a OLP, que, desde sua fundação adotou a via diplomática como estratégia de luta. Esses movimentos e grupos iniciaram a sua ação através de ataques diretos contra Israel e os judeus, aos quais as forças armadas israelenses responderam com ataques contra os palestinos, à Síria e à Jordânia. Foi este contexto que, segundo Grinberg (2003), levou Egito e Síria a firmarem em 1967 um acordo de defesa mútua, o que contribuiu para a manutenção (ainda que parcial) da liderança egípcia sobre as nações árabes. Todavia, acontecimentos como a internacionalização do Golfo de Ácaba localizado entre a Península do Sinai e o noroeste da Arábia Saudita - e a presença de tropas da ONU no Sinai eram vistos por Nasser como uma afronta à soberania egípcia. Como retaliação, o Egito ordenou a retirada das forças de paz da ONU e mais uma vez fechou o Golfo de Ácaba aos navios israelenses. Essas ações egípcias objetivavam uma situação política que lhe fosse favorável, e não necessariamente a eclosão de outra guerra, visto que em Israel os ataques diretos da resistência palestina eram corriqueiros. Após os litígios entre egípcios e israelenses em que envolveu a saída das forças de paz da ONU e o fechamento do único acesso de Israel ao Mar Vermelho, pelo Golfo de Ácaba - Israel recusou-se a negociar, o que culminou com a eclosão da Guerra dos Seis Dias 14, cujo fim se deu com a vitória decisiva dos israelenses, que anexaram em seus territórios o Sinai, as colinas de Golan, a Cisjordânia e a cidade de Jerusalém por completo. Após a Guerra dos Seis Dias, Israel se consolidou como a maior potência militar da região, e com a incorporação dos territórios, passaram a ter ainda mais poder sobre os palestinos, incluindo os refugiados. Como pode ser visto na figura 2, desde os anos do mandato britânico até a Guerra dos Seis Dias o território israelense e a Palestina sofreram grandes alterações. 14 Guerra dos Seis Dias: conflito engendrado por Israel contra o Egito e seus aliados como retaliação aos atos destinados a atingir Israel economicamente. A guerra durou pouco tempo e Israel obteve êxito em sua campanha. 23

24 Figura 2: A evolução do território israelense desde antes de Cristo até a Guerra dos Seis Dias. 15 Como consequência, fortaleceu-se o sentimento nacionalista dos palestinos, o que culminou no aumento dos ataques de grupos extremistas que, pelos países ocidentais são entendidos como ataques terroristas, concepção que difere dos ataques israelenses para os quais esses países são amplamente condescendentes. Mais uma vez, pode ser constatado o êxito de Israel em seu expansionismo não apenas como forma de assegurar sua defesa, mas como exemplo de apoderamento de território dos países árabes vizinhos como forma de ampliação dos limites territoriais do Estado de Israel. Se inicialmente Israel não questionou o tamanho do território recebido em 1948, posteriormente adotaram ações que consubstanciaram em formas de ampliação dos territórios israelenses, principalmente sobre os 15 Fonte: < acessado dia 19/08/

25 territórios palestinos ocupados nos eventos de 1967 e que, ao contrário dos territórios dos demais países, não foram restituídos aos palestinos até os dias atuais. A figura 3 mostra os desdobramentos do território após a Guerra dos Seis Dias, em que ocorrem as diversas invasões israelenses. É possível ver também que há a formação de assentamentos e colônias de judeus em Gaza e na Cisjordânia que serão melhor discutidos a seguir. Figura 3: A evolução das fronteiras após a Guerra dos Seis Dias 16. Como consequência, ocorreu a exacerbação da hostilidade mútua entre Israel e os países Árabes. Embora a ONU tenha tentado mediar o conflito e proposto uma saída diplomática através da retirada progressiva das tropas israelenses das áreas ocupadas, ambas as partes recusaram o acordo: Israel desejava a manutenção dos territórios conquistados sob a justificativa de estarem isolados dos inimigos, sendo que estas áreas funcionariam como 16 Disponível em: < acessado dia 19/08/

26 áreas de amortecimento, enquanto os árabes se recusavam a negociar sob qualquer forma ou até mesmo reconhecer Israel como Estado Nação, exigindo a imediata devolução dos territórios invadidos pelo Estado de Israel. No início da década de 1970, a fronteira com a Jordânia tornou-se um foco de tensão, como afirmado por Grinberg (2003, p. 114): alocados na fronteira entre Israel e Jordânia, estes grupos constituíam-se cada vez mais em um fator de desestabilização da região, pela força de seus ataques, e em uma nova liderança, já que, a cada atentado, dispunham de maior popularidade entre a população árabe. Os ataques engendrados em território judeu cresceram com o vácuo deixado com a morte de Nasser em 1970 na liderança dos países árabes. Somado a esse fato, a perda de controle sobre os nacionalistas palestinos, o rei da Jordânia liderou uma série de expulsões e massacres de palestinos instalados em seu país, num episódio conhecido como Setembro Negro, também repetido no Líbano. Isso se deve ao fato de que Líbano e Jordânia acolheram os refugiados anteriormente não por uma questão de preocupação para com o povo palestino, e sim como forma de conseguir vantagens políticas. Ao perceber que não seria possível, por causa da resistência armada, ocorreu uma expulsão de refugiados com massacres. Com o fechamento das fronteiras caiu o sonho da irmandade árabe que existia desde o final do colonialismo imperial da Europa Ocidental. Em 1973, Egito e Síria empreenderam um ataque a Israel na tentativa de recuperar os territórios perdidos seis anos antes e invadiram Israel naquele ano no dia do Yom Kippur 17. Apesar das baixas, as tropas israelenses rechaçaram o ataque e avançaram pelo território egípcio. O conflito acabou num acordo de paz, que forçou a retirada de Israel do Egito, ao mesmo tempo em que colocou em xeque o mito da invencibilidade israelense ante a resistência árabe, visto que para derrotar o Egito e a Síria os judeus tiveram de recorrer ao auxílio estadunidense. 17 Yom Kippur: feriado sagrado para os judeus, no qual eles ficam de jejum e tiram o dia para fazer orações. O significado de Yom Kippur é Dia do Perdão. 26

27 Figura 4: Os chefes de Estado de Israel e Egito, respectivamente, durante as primeiras ofensivas da Guerra do Yom Kippur. 18 A principal conseqüência da Guerra do Yom Kippur e que demarcou um novo momento dos conflitos no Oriente Médio foi que pela primeira vez os combustíveis fósseis, principalmente o petróleo, foram utilizados como arma política por parte dos países árabes exportadores de hidrocarbonetos. Em decorrência dos rumos do conflito, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) 19 elevou drasticamente os preços do petróleo, como tentativa de forçar o final das ofensivas israelenses aos países árabes envolvidos no conflito. Esse processo, que ficou conhecido como o Primeiro Choque do Petróleo, levou à explicitação direta da intervenção dos Estados Unidos que viria a assumir uma forma permanente no Oriente Médio, processo que também se relacionou com a crise de acumulação do regime fordista. A produção industrial estadunidense estava em declínio em detrimento da produção europeia e asiática a partir de maquinários mais modernos, sobretudo no que diz respeito às empresas alemãs e japonesas, dependentes diretas do petróleo do Oriente Médio. Os Estados Unidos, apesar de terem até hoje grande dependência de petróleo das reservas da OPEP, ainda possuíam naquele período notável produção interna do recurso, o que lhe permitiu ser menos impactada que Europa e no Japão pela elevação do custo do barril de petróleo. Harvey (2004, p. 58) afirma que o conluio (hoje documentado) entre a administração Nixon e os sauditas e iranianos para elevar loucamente os preços do petróleo prejudicou muito mais as economias europeias e japonesa do que os Estados Unidos (que na época não dependiam muito das reservas do Oriente Médio), fato que esteve diretamente relacionado com a recuperação industrial/financeira estadunidense. 18 Fonte: Revista Veja, número 266, 10/06/ OPEP: Organização dos Países Exportadores de Petróleo, formada em sua maioria pelos países do Oriente Médio que controlam a extração petrolífera e os preços no mercado internacional do produto. 27

28 Em 1978, as pressões da ONU e dos Estados Unidos fizeram com que Israel devolvesse os territórios conquistados nos conflitos anteriormente citados, exceto os palestinos, nos acordos de Camp David, que também concedeu autonomia às colônias palestinas. Todavia, os acordos de Camp David não foram bem recebidos pelos árabes e palestinos por não terem sido consultados sobre os mesmos. Porém, tais acordos serviram para aprofundar a política adotada pelos EUA de fragmentação dos árabes, na medida em que Síria e Líbano consideram a participação do Egito nos acordos uma traição, o que culminou com o alijamento deste país como um dos possíveis mediadores dos conflitos do Oriente Médio. A partir da década de 1980, outros conflitos passaram a dividir o foco com o conflito árabe-israelense, tais como a Guerra Irã-Iraque 20 e a invasão soviética ao Afeganistão, sendo que ambas contaram com o envolvimento indireto dos EUA, formalmente como mediador diplomático e, informalmente como fornecedor de armamentos, principalmente para o Iraque. Após um sangrento conflito entre Irã e Iraque, o mesmo acabou sem um vencedor entre ambos. Porém, ao emergirem desse conflito bastante enfraquecidos, essa condição tornou-se bastante favorável aos interesses das potências ocidentais (especialmente EUA), na medida em que ampliava suas condições de atuação dentro do Oriente Médio não apenas pelo enfraquecimento de Iraque e Irã, mas, também, pela fragmentação dos países árabes que se dividiram no apoio a estes dois países. Após as perdas e o endividamento com a guerra, o Estado iraquiano invadiu o Kuwait alegando descumprimento de regras da OPEP e questões territoriais. Os EUA e coalizão aliada rechaçaram formalmente o ataque, o que levou ao início da Guerra do Golfo, que retirou o Iraque do Kwait, mas não destituiu o governo de Sadam Hussein, o que levou à imposição de embargos econômicos ao Iraque entre 1991 e Os ataques palestinos no final da década de 1970 e no início da década de 1980 forçaram a procura por uma solução para a questão dos refugiados. Em contrapartida, judeus ultra-ortodoxos que exerciam grande influência sobre o Estado israelense, defendiam a anexação de todos os territórios. Essa pressão levou a partir de 1977 à criação assentamentos de israelenses na Cisjordânia (território palestino) para quem desejasse morar lá. Após os acordos de Camp David, a OLP desfez a aliança com o Egito, mas permaneceu com a orientação política de busca de soluções diplomáticas. Mesmo assim, 20 Conflito desencadeado entre o Aitolá Khomeini e Saddam Hussein por razões religiosas e disputa territorial. EUA e outras potências apoiam o Iraque em decorrência da Revolução Islâmica, que retirou do poder o Xá que era aliado dos EUA. 28

29 muitos refugiados não aceitaram isso e continuaram na luta armada, o que motivou a criação de novos grupos de libertação como o Hamas. Foi em função do surgimento e fortalecimento destes grupos palestinos de resistência Armada que Israel justificou sua invasão sobre o território libanês em 1982, utilizando como justificativa o apoio deste país a grupos palestinos guerrilheiros. Contudo, o motivo real foi, além de promover um massacre dos palestinos ali residentes, assegurar um presidente libanês cristão favorável à oposição islâmica, em uma clara intervenção na autonomia do Estado libanês. Neste período, muitas facções libanesas de orientação cristã treinada por Israel, invadiram os campos de refugiados e mataram os civis palestinos. Embora essa ação tenha gerado descontentamento e divide a opinião pública acerca da ação israelense, os demais países não foram incisivos no sentido de impedir as ações de Israel. Ao final da invasão israelense sobre o Líbano, a OLP foi expulsa do país e entrou em crise. Os palestinos revidaram contra as forças israelenses se utilizando de paus e pedras, na chamada Intifada, que contou a participação do Hamas. Yasser Arafat, líder da OLP, utilizou a Intifada como propaganda na imprensa internacional e angariou o apoio internacional como mediador da questão palestina, já que o mesmo representava uma alternativa diplomática para o conflito. Foi neste contexto que em 1988, Arafat renunciou à luta armada e passou a reconhecer o direito de existência do Estado de Israel, desde que houvesse a existência de um Estado palestino. Por consequência da Guerra do Golfo 21 as negociações de paz entre judeus e palestinos só tiveram início em 1992, a partir da gestão do primeiro-ministro israelense Yithzak Rabin. Foi concedida a gradual concessão de autonomia para os palestinos em Gaza e Jericó, junto com a retirada do exército israelense em favor de uma polícia palestina, e dessa maneira vários outros territórios na Cisjordânia seriam englobados, o que veio a formar a Autoridade Nacional Palestina. Como consequência destas negociações de paz Israel beneficiou-se através de acordos de cooperações econômicas com diversos países árabes. Apesar dos avanços diplomáticos, Arafat (tal como Rabin) não tinha controle sobre os militantes da resistência que adotavam a luta armada. A consequência disso para Arafat foi que o mesmo, ao não conseguir controlar esses grupos, perdeu sua competência política, já que grupos como Hizbolá não aceitavam tais acordos. Rabin teve os mesmos problemas, e os colonos ultra ortodoxos se recusavam a deixar os assentamentos. Somado a isso, houve várias 21 A essa altura, os Estados Unidos já eram mediadores de quase todos os assuntos relacionados ao Oriente Médio, tanto para os conflitos regionais quanto para os interesses dos estadunidenses para com as reservas petrolíferas. 29

30 manifestações violentas, com a morte de muçulmanos e o assassinato de Rabin por um extremista israelense em Devido a esse fato e a inoperância dos acordos de paz, as negociações foram interrompidas até o início nova década, quando o presidente dos EUA voltou a reunir os líderes da Autoridade Palestina e o primeiro-ministro israelense, sem sucesso, visto que com a ascensão de Ariel Sharon ao poder de Israel houve o aumento da violência contra os palestinos, e a morte de Arafat mudou grande parte do cenário estabelecido na Cisjordânia. Da promessa israelense de desocupação de Gaza e da Cisjordânia à ação efetiva não houve progressos, já que Israel mantém sua presença militar e a construção de casas para judeus na região. Foram esses os eventos que conformaram a geopolítica do Oriente Médio e transformou esta região na mais conflituosa ao longo das últimas décadas. De fato, a riqueza que poderia ter constituído como fundamental para a melhoria das condições de vida da população daquela região constituiu-se em objeto de disputa e elemento causador dos conflitos que lá ocorreram. Foi neste sentido que David Harvey, ao refletir sobre o imperialismo do atual século afirmou ser, afinal, tudo por causa do petróleo, processo sobre qual se procura se analisar e refletir no capítulo seguinte, como o intuito de compreender a região. 30

31 Capítulo 2 Os conflitos do/no Oriente Médio no contexto da geopolítica Mundial: Tudo por causa do petróleo. Conforme analisado no capítulo anterior, com o fim da guerra em 1945, ocorreram grandes mudanças na estrutura territorial do Oriente Médio, sejam estas de ordem geopolítica ou no que diz respeito à formação de novos Estados-Nacionais, ou, ainda, pela dissolução de fato dos impérios que dominavam a região. De fato, a formação/consolidação dos Estados Nacionais oriundos da dissolução do Império Otomano ocorrida após 1914, exemplifica, em alguma medida, a afirmação de Hobsbawn (1999): Retrospectivamente, os 31 anos desde o assassinato do arquiduque austríaco em Sarajevo até a rendição incondicional do Japão devem parecer uma era de devastação comparável à Guerra dos Trinta Anos do século XVII na história alemã. E Sarajevo a primeira Sarajevo certamente assinalou uma era de catástrofe e crise nos assuntos do mundo ( ) Apesar disso, na memória das gerações pós-1945, a Guerra dos Trinta e Um Anos não deixou atrás de si o mesmo tipo de memória que sua antecessora mais localizada no século XVII. (p. 58) Além das mudanças territoriais impostas pela 2ª Guerra, também ocorrem mudanças significativas de ordem geopolítica e econômica. Com bem refletiu Eric Hobsbawn, após o fim da 2ª Guerra a Europa não conseguiu manter sua área de influência sobre as regiões periféricas mundiais, tendo sido substituída pelos EUA no plano geopolítico. De fato, regiões que outrora eram amplamente influenciadas por Inglaterra ou França passaram para a área de influência estadunidense, processo que indicou o deslocamento a oeste (ou da Europa para América do Norte) do centro de controle da economia capitalista mundial. Embora esse fato seja resultado do fortalecimento político, econômico e militar dos Estados Unidos, o mesmo também foi influenciado pelas consequências imediatas da 2ª Guerra para o continente europeu. Como bem destacou Hobsbawn (1999) a ocorrência de dois conflitos mundiais em território europeu significou um imenso e dispendioso esforço dos Estados Nacionais envolvidos diretamente, sendo que, além dos custos da guerra, ainda tiveram que arcar com destruição de parcela relevante de sua infraestrutura de produção. Apesar dos países europeus aliados terem saído vencedores nos dois confrontos, aqueles onde a guerra ocorreu estavam com sua infraestrutura de produção bastante destruída como consequência da guerra. 31

32 Foi neste contexto que os Estados Unidos viram-se obrigados a investir na recuperação europeia já que o não auxílio aos países da Europa Ocidental e ao Japão na Ásia poderia significar a expansão do chamado bloco socialista para estes países. Assim, os EUA elaboraram um imenso plano para uma rápida e ampla recuperação social e econômica destes países, que ficou conhecido como Plano Marshall. O Plano Marshall consistiu em uma série de empréstimos subsidiados para os países destruídos nos esforços da II Guerra Mundial e, ainda, na reconstrução e reestruturação econômica destes países, o que possibilitou o crescimento econômico notável destes países, especialmente Alemanha e Japão. Assim, o plano de recuperação socioeconômica da Europa levado a cabo pelos Estados Unidos objetivou que os países europeus arrasados pela 2ª Guerra não passassem a integrar a chamada Cortina de ferro, que consistiu na divisão política entre a Europa Ocidental, de orientação capitalista e a Europa Oriental, de orientação socialista sob a égide do controle do Estado soviético. Com o final das disputas bélicas entre os Estados Nacionais europeus após o fim da 2ª Guerra mundial, teve fim também o ímpeto expansionista do Imperador japonês que objetivava conformar a Esfera da Co-prosperidade da Grande Ásia Oriental, como explica Gonçalves (2003, p. 179): ( ) na Conferência de Washington (de 1921/22), os Estados Unidos e a Grã- Bretanha procuraram conter as ambições japonesas no Pacífico, negociando uma limitação de seu programa de expansão naval. Em 1934, o Japão exigiu paridade naval com os Estados Unidos. Uma vez recusada a proposta, os japoneses denunciaram todos os acordos limitativos e retiraram-se da Conferência Naval de Londres, de janeiro de Desde então, os japoneses passaram a falar mais desinibidamente da Esfera de Co-prosperidade da Grande Ásia Oriental, considerada a Doutrina Monroe Japonesa. Passado este momento, a grande disputa diplomática ocorreu em torno das relações antagônicas entre o bloco ocidental comandado pelos EUA, mas que buscava a representação de uma hegemonia no mercado capitalista supranacional baseado na pressão e (quando necessário) coerção econômica, política e ameaça militar, o que ainda se constitui em estratégia dos EUA e seus aliados. Por outro lado, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas URSS que emergiu da 2ª Guerra como grande potência parte devido ao protagonismo na derrocada do empreendimento alemão quanto pelo sistema de economia planificada após sucessivas crises, exercia comando sobre a produção no chamado bloco socialista e também esteve sustentada em intervenções beligerantes, utilizou seu poderio econômico, político (e, quando, sob sua 32

33 perspectiva, foi necessário, o militar) para exercitar seu domínio e controle para com os países da Europa Oriental, o que garantiu que permanecessem sob sua esfera de influência 22. A manutenção do socialismo na Cortina de Ferro foi fundamental para a ex-urss, como forma de proteção de suas fronteiras em relação aos países europeus capitalistas. Assim, os países fronteiriços com a União Soviética constituíam-se em uma área de amortecimento não apenas na eventualidade de um conflito armado, mas também como forma de evitar a influência capitalista sobre sua população. Reis Filho (2003, p. 25) também considera outras intervenções soviéticas ao dizer que esta foi decisiva para inverter situações, como, por exemplo, em 1956, quando apoiara Gamal Abdel Nasser, líder nacionalista árabe, na crise desencadeada com a intervenção anglo-francesa em reação à nacionalização do Canal de Suez. Tais intervenções compunham contrapeso ao apoio estadunidense no que dizia respeito aos movimentos de lutas de libertação cuja inclinação política indicava um alinhamento que caminhavam no sentido contrário aos interesses dos Estados Unidos. Enquanto Estados Unidos e União Soviética emergiram da 2ª Guerra como superpotências mundiais, cada uma liderando sua esfera de influência, as principais potências europeias saíram deste conflito com sua base produtiva bastante deteriorada e sua economia completamente destruída. Embora a infraestrutura e economia tenham sido reconstruídas pelo Plano Marshall, o mesmo não ocorreu com o poder político dos estados europeus ocidentais, sendo que gradativamente foram sendo substituídos por EUA ou URSS. Embora a 2ª Guerra Mundial tenha sido decisiva pela perda de poder, desde a crise do capitalismo mundial de 1929 já havia indícios muitos claros da perda da influência já que a reprodução ampliada do capital já exigia a integração dos mercados mundiais, condição contrária à defendida pelos países europeus. Além disso, esta crise desestruturou a economia dos países europeus, comprometendo decisivamente sua capacidade de intervenção geopolítica. Diferentemente da Europa, os EUA sua recuperaram após a crise de 1929 através da reestruturação econômica, política e social promovida pelo New Deal de Franklin Delano Roosevelt e, principalmente pelo direcionamento de parte considerável de seu parque industrial para a produção de armamentos que seriam utilizados na 2ª Guerra Mundial, conforme afirmou Gonçalves (2003). Esse fato, associado ao papel desempenhado pelos Estados Unidos na II Guerra, juntamente com os danos sofridos pela Europa Ocidental, levaram os EUA à condição de grande produção industrial capitalista, o que aumentou consideravelmente a reserva de divisas deste país. 22 A ex-urss interviu diretamente com tropas militares em insurgências anti-comunistas na Hungria em 1956 e na Primavera de Praga de 1968 na antiga Tchecoslováquia através do Pacto de Varsóvia. 33

34 Após a recuperação da capacidade produtiva européia, restava ainda outro problema a ser resolvido, também decorrente da crise de 1929: as causas que levaram à superprodução de mercadorias e à baixa demanda das mesmas, cuja consequência imediata foi a queda acentuada nas taxas de lucro, conforme refletiu Porto-Gonçalves (2006). Assim, o argumento de Henry Ford (citado por Porto-Gonçalves, 2006), que consistia em conceder maior renda para os trabalhadores (e assim um maior poder de consumo) associada aos preceitos keynesianos de elevação dos gastos do Estado na produção de infraestrutura e em salário indireto foram adotados. Nesse sentido, o regime de acumulação fordista também pode ser compreendido como um regime de acumulação que apresentou mudanças não revolucionárias dentro do capitalismo, que promoveu a formação de um novo conceito de globalização. Harvey (1989) afirma que [O fordismo 23 ] foi consolidado e expandido no esforço de pós-guerra, seja diretamente, através de políticas impostas na ocupação, ou indiretamente, através do Plano Marshall e do investimento americano subsequente (p. 131). Somado ao acordo de Bretton Woods, os Estados Unidos impuseram uma dominação econômica global ao estabelecer o dólar como moeda-reserva mundial, no bojo do qual foi criado o Fundo Monetário Mundial FMI e o Banco Mundial, instrumentos supostamente de caráter supranacionais em que os interesses estadunidenses de controle de capital e de produção não ficassem tão explícitos nas diversas intervenções político-econômicas deste país, especialmente para com os países do terceiro mundo. Outro aspecto fundamental do pós-2ª Guerra foi a globalização financeira ou, nos termos de Chenais (1996) 24, a mundialização do capital, cujo elemento central consistia na pressão sobre os países periféricos para que estes abrissem seus mercados para a livre concorrência do capital (inclusive os países árabes exportadores de petróleo) processo no qual os Estados Unidos se mantinham na liderança. Entre as consequências do regime de acumulação fordista e da globalização econômica encontra-se a exacerbação da produção de base industrial, que abriu caminho para o aumento da demanda por combustíveis fósseis e potencializou os conflitos ocorridos no Oriente Médio. Por sua vez, a elevação da produção industrial impôs forte pressão sobre os recursos naturais, entre eles, os combustíveis fósseis. Esse processo contribuiu para a acentuação do crescimento econômico, inclusive da indústria petroquímica, o que exacerbou a demanda por 23 Fordismo: regime de acumulação baseado na produção em série numa linha de montagem, e que foi dependente do bem-estar da população para que pudesse consumir os produtos industrializados que eram produzidos em massa. 24 CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã,

35 combustíveis fósseis que, na maioria destes países centrais da economia capitalista não existe em quantidade significativa, com exceção dos EUA e ex-urss. Como consequência desta pressão sobre os combustíveis fósseis, os países exportadores de petróleo que integram o Oriente Médio foram envolvidos em disputas entre Europa Ocidental, ex-urss e EUA, acirrando ainda mais os conflitos na busca pela obtenção deste recurso energético. Quanto mais indispensável tornava-se a importação de hidrocarbonetos, mais os países ocidentais buscavam controlar esse recurso, principalmente pelo fortalecimento das empresas que trabalham com prospecção e refino de óleo, buscando fazer acordos com os países que detêm o recurso, baseados na abertura de mercados defendida e imposta pelos Estados Unidos. Acordos que, quase sempre eram vantajosos para os países ocidentais na medida em que garantiam o fornecimento deste recurso a preços extremamente baixos do barril. Esse processo, somado à rápida recuperação industrial da Europa Ocidental, bem como a ampliação da produção promovida pelo regime de acumulação fordista, tal como refletiu Harvey (1996), exacerbou a demanda por capital, trabalho, matérias-primas e principalmente energia. A consequência imediata da exacerbação desta demanda foi o aumento de interesse das potências industriais sobre o Oriente Médio, o que potencializou e intensificou os conflitos na região em função da disputa pelo fornecimento de combustíveis fósseis a baixo preço. Diante do aumento significativo pela demanda, já na década de 1950 foram divulgados prognósticos pessimistas sobre a disponibilidade deste recurso na escala demandada, o que colocava para a sociedade industrial de base fossilista a incerteza diante da suficiência das reservas de hidrocarbonetos existentes no mundo. Contudo, com a descoberta das vastas reservas no Oriente Médio, os prognósticos pessimistas de escassez dentro dos países ocidentais e orientais não se concretizaram e a ameaça de escassez foi postergada para o final do século XX e o início do século XXI, momento em que estimativas ou projeções indicam a inviabilidade econômica de extração (comumente reduzida apenas como escassez) para os próximos 30 ou 50 anos. Mas a descoberta das grandes jazidas do Oriente Médio não teve como consequência apenas o adiamento do momento em que os países industriais teriam que lidar com a escassez (e a consequente elevação do preço do barril). Ela também recolocou a disputa pelo controle sobre a região do Oriente Médio em outro patamar. Se, outrora sua importância fundamentava-se na sua localização geográfica, condição que motivou a disputa entre Inglaterra e França até meados do século XX, após os eventos da 2ª Guerra Mundial, o 35

36 Oriente Médio tornou-se o grande abastecedor mundial da principal matriz energética do que Porto-Gonçalves (2006) denominou de moderno-mundo colonial-fossilista. Ao definir o mundo moderno como colonial e fossilista, estes autor aponta para a importância que os hidrocarbonetos assumiram na 2ª metade do século XX, processo em que, guardadas as especificidades e proporções, indica a importância geoestratégica sobre o Oriente Médio próxima à aquela adquirida pela América Latina nos séculos anteriores. Segundo Porto- Gonçalves & Haesbaert (2006), a colonização do continente americano foi fundamental para que entre os séculos XVII e XIX a Europa pudesse estabelecer-se como centro geopolítico e econômico da economia mundial. Isto porque, até a colonização americana havia relativo equilíbrio entre o Ocidente (entendido como a Europa) e o Oriente, bem como dizem Porto- Gonçalves & Haesbaert (2006, p.19): Os europeus vão brandir a América como expressão do Novo Mundo e, com isso, contraditoriamente, deixam escapar que foi essa América que lhes serviu não só de contraponto ao Oriente, mas sobretudo, de suporte para que se pudessem afirmar como centro geopolítico e cultural do mundo. A extração de petróleo até aquele momento era concentrada, principalmente, no interior dos Estados Unidos, na Europa Oriental e nas plataformas localizadas no Oceano Atlântico e no Mar do Norte, quando teve início a instalação de poços no Oriente Médio, territórios outrora relegados. O não interesse relativo pela região devia-se a suposta falta de recursos naturais passíveis de serem explorados comercialmente. Todavia, após essa descoberta, a região passou a atrair a atenção não só dos governantes desses Estados, mas também dos países industrializados que dependiam do petróleo, como os Estados Unidos, França, Inglaterra, Alemanha, Rússia e, posteriormente, a China. Além dos Estados Nacionais, as grandes jazidas de combustíveis fósseis do Oriente Médio atraíram a atenção de grandes empresas que atuam na exploração e beneficiamento dos hidrocarbonetos, o que fez com a região fosse alçada a uma condição estratégica para a geopolítica no âmbito do capitalismo global. Efetivamente, pode-se afirmar que todo esse interesse foi motivado, fundamentalmente, pela busca da manutenção de baixos preços do barril de petróleo, o que fez com que as potências ocidentais interferissem nas relações políticas dos países que até os dias atuais regulam o preço e a exportação do petróleo. Foi neste contexto que a importância geopolítica do Oriente Médio foi redefinida, como bem aponta George Kirk (1967): se anteriormente o controle sobre os territórios já era importante devido a sua localização estratégica para rotas comerciais, condição predominante 36

37 até a primeira metade do século XX, a partir de meados deste século o controle sobre os combustíveis fósseis localizados no Oriente Médio tornou-se fundamental na disputa entre as potências industriais. Foram os acontecimentos, descritos no capítulo um (vinculados à Guerra do Yom Kippur e à resposta da OPEP ao conflito), que promoveram a primeira alta significativa do preço do barril de petróleo em 1973 e que consistiu no primeiro uso geopolítico do petróleo. Uso geopolítico que, por sua vez, causou sérios problemas às economias industriais, principalmente a dos países da Europa Ocidental que, conforme demonstrou Harvey (2004), encontravam-se muito mais vulneráveis e mais dependentes em relação aos hidrocarbonetos do que os EUA, o que agravou a crise e acelerou o esgotamento do regime de acumulação fordista. Os países que não tinham reservas tiveram de buscar novas alternativas de recursos para produção, como foi o caso do Brasil 25, ou então aumentar ao máximo a economia de combustíveis fósseis com veículos mais econômicos e menores, através de ações como o aproveitamento materiais reciclados que dispensassem ou exigissem menos utilização de petróleo. Segundo Harvey (2004), a disputa entre EUA, Japão e Europa Ocidental para a supremacia da produção industrial está diretamente associada às 1ª e 2ª crises do petróleo, ocorridas em Quando esta disputa tornou-se ainda mais acirrada após Japão e Alemanha superarem os EUA na produção industrial e capacidade de inovações tecnológicas após 1973, este país, juntamente com Arábia Saudita e Irã, orquestrou a elevação substancial do preço do barril de petróleo, provocando o que ficou conhecido como a primeira crise do petróleo. Consequentemente, esse fato levou à acentuação dos conflitos em torno da luta pelo controle da região o que, conforme já discutido no capítulo anterior, potencializou as rivalidades históricas ali existentes. Entre as intervenções mais incisivas dentro do Oriente Médio, destaca-se a que ocorreu no interior do Irã com o objetivo de constituir neste país um governo aliado dos países ocidentais. Segundo Grinberg (2003); Harvey (2004) e Kirk (1967), em 1953, quando o governo do democraticamente eleito Mohammed Mossadegh, nacionalizou a extração de petróleo no território iraniano, então comandada pela Anglo-Iranian Oil Company, o país foi alvo da intervenção (in) direta dos Estados Unidos e outras potências ocidentais em seu território que, por meio de um golpe de estado, depôs o governo iraniano. 25 Em 1975 o governo brasileiro instituiu o Proálcool, que incentivava a produção de veículos movidos a etanol de cana-de-açúcar. Nos dias atuais, os Estados Unidos mostraram interesse na tecnologia brasileira com o aumento do número de veículos movido a etanol em seu território. 37

38 Todavia, esse golpe de Estado foi apenas o início das diversas intervenções que viriam a ocorrer no Oriente Médio ao longo da 2ª metade do século XX em função da existência dos combustíveis fósseis. Processo que, no limite, colocaram em xeque a autonomia dos Estados- Nacionais que integram a região. Assim, essa intervenção ocidental no Irã que levou à queda de Mossadegh e a posterior instauração de um governo totalitário comandado pelo Xá Reza Pahlevi, levou ao controle do Estado iraniano um aliado do governo estadunidense e das potências ocidentais, o que nos vinte e cinco anos subsequentes fez com que o Irã atendesse aos interesses fossilistas das nações ocidentais. Essa condição perdurou até a Revolução Islâmica, ocorrida em 1979, quando o governo do Xá iraniano foi deposto e teve início o governo do líder religioso islâmico, o Aiatolá Ruhollah Khomeini, conforme afirmou Grinberg ( 2003). Após Khomeini ascender ao poder no Irã, o mesmo estabeleceu um governo teocrático no país, levando ao fim o governo de Pahlevi e rompendo definitivamente com o domínio hegemônico dos EUA dentro do território iraniano. Pahlevi, em sua biografia, afirmou posteriormente ter sido retirado do governo iraniano após um conluio 26 liderado pelos EUA para que houvesse a troca de poder naquele país. Todavia, embora pareça bastante inverídico tal afirmação, na medida em que Pahlevi constituía-se em um aliado incondicional dos EUA e havia sido levado ao poder com o apoio deste país, o que se explicita é a maneira incisiva que, principalmente os EUA (mas não apenas ele), interferiram dentro de outros Estados Nacionais sob o argumento, supostamente legítimo, de garantir os interesses das potências industriais. Na medida em que os revolucionários islâmicos avançavam no controle sobre o poder até destituírem Pahlevi, o Irã retirou-se da esfera direta de dominação dos EUA, o que lhe custou, entre outros, um longo conflito militar com o Estado Iraquiano e, ainda, a acusação de integrar o que os EUA denominam de Eixo do Mal, conforme será discutido adiante. A saída do Irã da esfera de dominação dos Estados Unidos, juntamente com outros fatores diplomáticos, culminou com a Guerra Irã-Iraque, conflito militar travado ao longo da década de 1980, período em que dessangraram os dois Estados Nacionais envolvidos diretamente. Este conflito, que pode e deve ser analisado no interior da Guerra Fria, devido aos EUA afirmar que o Irã aproximava-se perigosamente da Ex-URSS, ficou marcado por ser um dos mais sangrentos e de longa duração que, ao fim e ao cabo, não teve vencedores. Somados ao conflito entre Irã e Iraque outros acontecimentos que ocorrem também na década de 1980 vincularam-se à Guerra Fria, como a invasão soviética ao Afeganistão, muito 26 Retirado de Revista Veja, número 630, 01/10/1983, p. 41, disponível em < acessado dia 06/12/2010, às 20:38. 38

39 criticada pelos ocidentais que armou grupos de resistência que acabaram tomando o poder no país. Um desses grupos fomentou a subida dos Talibãs ao poder afegão e que acolheu a Al Qaeda, grupo de orientação religiosa conservadora liderado por Osama Bin Laden, considerado atualmente pelos EUA como o mais perigoso terrorista do mundo, mas que foi essencial para ocidentais na resistência à invasão soviética. Todavia, a transformação do estado afegão em um governo religioso conservador não correspondia aos interesses dos países ocidentais, o que levou ao distanciamento deste país e as potências ocidentais. Distanciamento que se tornaria antagônico após a associação do Afeganistão aos eventos ocorridos em 11 de setembro de 2001 no interior dos Estados Unidos. Contudo, os processos ocorridos no interior do Oriente Médio, do qual a ingerência sobre o Estado iraniano torna-se emblemática, denota explicitamente o desrespeito das potências ocidentais ao tratado assinado à bordo do Encouraçado Potamac pouco antes do fim da 2ª Guerra conhecido como Carta do Atlântico. Entre as determinações impostas ao mundo por este acordo, encontra-se o compromisso da não intervenção na autodeterminação dos povos, condição que, como mostra o caso iraniano, foi desrespeitada antes mesmo que todos os destroços da 2ª Guerra Mundial tivessem sido recolhidos. Segundo o compromisso assumido e registrado na Carta do Atlântico (Gonçalves, 2003, p. 181) após a 2ª Guerra delimitou que: nenhum país deveria realizar nenhuma modificação territorial sem o consentimento dos povos em tela; deveriam respeitar o princípio de autodeterminação dos povos; não impedir o acesso dos Estados às matériasprimas necessárias ao seu processo econômico; promover a colaboração com todos os Estados com vista ao desenvolvimento econômico-social; levar à pratica, depois da vitória sobre o nazismo, uma paz fundada na segurança coletiva e na redução dos armamentos e promover a liberdade dos mares. Pela Carta do Atlântico, firmada entre o governo dos EUA, Inglaterra e ex-urss, ao intervirem sobre o território iraniano, os Estados Unidos e as potências ocidentais desrespeitaram esse tratado no que se refere à autodeterminação dos povos. Contudo, no mesmo documento, ao referirem-se ao não impedimento do acesso dos Estados às matériasprimas necessárias ao seu processo econômico, estes países não só garantiram as condições para o monopólio das intervenções, como também explicitam que estas seriam afinal, uma prática recorrente sobre a periferia e semi-periferia do sistema capitalista. Conforme afirmado anteriormente, a resposta a esta intervenção (associada a outros fatores específicos) fez com que as lideranças religiosas organizassem o povo iraniano e, a 39

40 partir desta insurgência derrubassem o governo aliado às potências ocidentais através da Revolução Islâmica, levando ao poder o governo do Aiatolá Ruhollah Khomeini. Entre as primeiras ações que caracterizam o governo Khomeini, ocorreu a declaração de aversão aos ocidentais, sobretudo aos Estados Unidos. Essa política despertou grande insatisfação ocidental, visto que o Irã constituía-se em importante fornecedor de hidrocarbonetos. Apesar dos constantes bloqueios econômicos dos países capitalistas ocidentais e do sangrento conflito com o Iraque de Saddam Hussein durante a década de 1980, o Estado iraniano manteve seu sistema governamental e também afastado da esfera de dominação estadunidense. A figura seguinte retrata um dos momentos da ofensiva militar que envolveu Irã e Iraque na década de 1980, conflito que, conforme já dito, não teve um vencedor definido, mas que levou ambos à acentuação de suas dificuldades socioeconômicas, tornando-os, pelo viés econômico, vulneráveis às demandas advindas das potências ocidentais. Figura 5: As primeiras ofensivas da Guerra Irã-Iraque 27 Se não é possível dizer que do confronto entre estes dois países saiu um vitorioso inconteste, o mesmo não pode ser dito das potências ocidentais e principalmente EUA já que, para evitar a estagnação e deterioração de suas economias, estes países, endividados, tiveram que recorrer à elevação da extração e exportação do petróleo que, contudo, era cotado de acordo com os termos dos países compradores. Além desta vantagem ligada a obtenção dos hidrocarbonetos, os EUA também se beneficiaram amplamente deste conflito como fornecedor de armamentos, o que lhe possibilitou escoar a produção de uma mercadoria de utilização bastante específica. Passado o momento mais agudo do pós-guerra, estes países, assumiram caminhos diferentes. No Irã, permaneceu o sistema teocrático e sua resistência aos países ocidentais, sendo este o motivo que levou os Estados Unidos a criminalizarem e o situarem dentro do 27 Fonte: Revista Veja, número 630, 01/10/1980, p

41 Eixo do Mal, ao qual também integram Afeganistão, o Iraque e que, em um futuro não muito distante poderá envolver a Turquia. É este o argumento de Harvey (2004), que afirma que a ofensiva estadunidense sofrida por alguns destes países no início do século XXI não devem ser entendidas separadamente, mas como um exercício de guerra que objetiva controlar o petróleo do Iraque ao Mar Cáspio. Assim, para este autor, estes ataques, considerados em conjunto, explicitam a geopolítica dos Estados Unidos de tentativa de controlar a torneira do petróleo que abastece os países como geoestratégia de permanecer como principal potência mundial. Nesse sentido, a utilização da força militar para controlar o petróleo na linha que vai do Iraque, passa por Irã e Turquia, alcançando as jazidas do Mar Cáspio, denota claramente os esforços dos Estados Unidos para controlarem a energia central de uma economia mundial essencialmente fossilista e assim se manterem como a grande potência mundial. Por sua vez, a necessidade dos Estados Unidos de controlar o abastecimento mundial de petróleo deve-se ao fato de os mesmos não se sustentarem mais como superpotência no âmbito econômico (sua produção industrial foi superada por outros países) e nem no âmbito político, já que a invasão do Iraque em 2003, sem aprovação da ONU e vetada por Rússia, China, França e Alemanha colocaram em xeque a liderança política dos EUA sustentada na suposta defesa do interesse universal. No que se refere ao Irã, este procurou seguir uma trajetória autônoma, fechando-se nos limites do próprio país (exceto pelas relações de troca comerciais que envolvem o petróleo) tanto devido à revolução quanto ao embargo econômico e sanções impostas pelos EUA. Conjuntura que levou o Estado iraniano a recorrer a investimentos em um programa militar que inclui o desenvolvimento de tecnologia nuclear. Quanto ao Estado iraquiano, governado por Saddam Hussein, este permaneceu aliado dos Estados Unidos até 1991, quando o governo do Iraque aproximou-se de forma perigosa da Europa Ocidental, sob a perspectiva estadunidense. Indubitavelmente, o petróleo foi um dos fatores que contribuíram para a invasão do exército iraquiano ao Kuwait em 1990, quando Saddam Hussein acusou o país vizinho de reduzir o preço do barril de petróleo extraído nos poços kuwaitianos além da cota máxima, e que este fato causaria um colapso na economia iraquiana, além de especificidades que perpassaram a disputa territorial pelo próprio Kuwait, o qual Hussein julga ter sido delimitado para dificultar o acesso do Iraque ao Golfo Pérsico, muito limitado até os dias atuais e possível apenas pelo estreito canal Shatt Al-Arab. Após a invasão do Kuwait, a ONU ordenou a imediata retirada das tropas iraquianas, determinação que não foi atendida pelo governo 41

42 iraquiano e que motivou a coalizão militar liderada pelas forças armadas estadunidenses e britânicas que invadiu o Iraque no início dos anos de De fato, a aproximação do Iraque em relação aos países integrantes da União Europeia, constituía-se em uma grave ameaça à geopolítica dos EUA que visava controlar o abastecimento de petróleo aos seus concorrentes comerciais, nos termos de Harvey (2004), a torneira de abastecimento do petróleo. Caso o governo iraquiano estabelecesse laços diretos de exportação de petróleo com países como França ou Alemanha sem passar pelo crivo dos EUA, tal condição comprometeria sua geoestratégia de permanecer como a grande potência capitalista pelo controle do abastecimento dos combustíveis fósseis. Foi neste contexto que, segundo Harvey (2004), os Estados Unidos induziram o Iraque a invadir o Kuwait, levando os iraquianos a acreditarem que os EUA concordavam e não se oporiam à expansão territorial iraquiana sobre o Kuwait. Contudo, tão logo ocorreu tal invasão, os EUA responderam com uma imensa intervenção militar no Oriente Médio, que ficou conhecida como a Guerra do Golfo ocorrida no início da década de Neste processo é interessante observar como os EUA utilizaramse da conjuntura daquele momento para revertê-la de acordo com seus interesses. Em primeiro lugar, porque a invasão sobre o Kuwait permitiu-lhes impor um gigantesco ataque militar sobre o Iraque, impedindo a aproximação como a União Europeia, sem que, contudo, este aparecesse como o motivo oficial. E, em segundo lugar, permitiu-lhe instrumentalizarem essa invasão para convencer os demais países do Golfo exportadores de petróleo a se armarem, caso Saddam Hussein resolvesse invadi-los. Foi neste contexto que, segundo Harvey (2004), os EUA conseguiram negociar, somente com a Arábia Saudita mais de 20 bilhões em armamentos que os EUA haviam levado para o Oriente Médio por ocasião da Guerra do Golfo. Desta maneira, além de controlarem o Iraque, conseguiram, ainda, fomentar a indústria bélica estadunidense, tornando os países exportadores de petróleo clientes de sua indústria, possibilitando a chamada reciclagem dos petrodólares. Após a derrota iraquiana, este Estado saiu completamente debilitado em sua infraestrutura de exploração do petróleo e, ainda, foi submetido ao bloqueio econômico que perdurou até a segunda invasão sofrida em Porém, o plano estadunidense na Guerra do Golfo envolvia a destruição da infraestrutura de exploração petrolífera iraquiana para, depois do conflito, reconstruir sob a administração de empresas sediadas nos EUA. Contudo, Saddam Hussein recorreu às empresas da Alemanha, da Rússia e da China, o que trouxe grande insatisfação por parte do 42

43 governo estadunidense que, em 1997, assumiu a decisão de intervir militarmente no Iraque novamente, com o intuito de destituir Sadam Hussein do governo Iraquiano. No entanto, para isso, seria necessário um evento catalisador que pudesse mobilizar a opinião pública dos Estados Unidos e, minimamente, justificar essa invasão. Segundo Harvey (2004), os gestores estadunidenses em reunião na época definiram que seria necessário algo semelhante a um novo Pearl Harbor para assim alçar êxito em seus objetivos. Internamente, no ano 2000, as eleições presidenciais dos Estados Unidos confirmavam inicialmente a vitória do candidato do Partido Democrata, Al Gore, em relação ao representante do partido Republicano, George W. Bush. Porém, ao final da (re) contagem de votos no Estado da Flórida, foi constatado um suposto erro e Bush foi eleito em um pleito cercado de dúvidas acerca de sua legitimidade. Tal acontecimento, somado ao perigo de recessão interna, que se confirmou com o estouro da bolha da internet 28 nos primeiros anos do século XXI (ou o que David Harvey, op. cit denominou de escândalo dot.com ) aumentou o índice de reprovação do presidente Bush, mergulhando os EUA em um cenário de incertezas quanto ao futuro. Foi neste quadro geral que ocorreram os ataques de 11 de setembro de 2001 dentro do território estadunidense. Evento que, imediatamente, o governo estadunidense tentou associar ao Iraque personalizado na figura de Saddam Hussein que, supostamente, seria um dos mandantes do ataque, juntamente com a Al Qaeda de Osama Bin Laden, supostamente alocada no Afeganistão. Por esse intermédio o governo Bush logrou êxito e aceitação suficiente para engendrar ataques tanto ao Afeganistão, suposto refúgio de Bin Laden e, posteriormente ao Iraque para capturar Bin Laden, vivo ou morto como repetiu exaustivamente George W. Bush. Por meio desta segunda intervenção militar dos EUA sobre o Iraque, o governo de Saddam Hussein, mesmo que esta ação tenha sido condenada pela ONU e países como Alemanha, França, China e Rússia, foi deposto e, ao fim da invasão iniciada em 2003, os EUA instalaram no Iraque um governo alinhado com seus interesses. Ainda que a resposta aos ataques de 11 de setembro de 2001 tenha sido, supostamente, motivada pela captura de Bin Laden, essa não ocorreu, sendo gradativamente deslocada para o que os EUA denominam Guerra ao Terror contra os países do Eixo do Mal. Pelo que indicam os acontecimentos recentes, amplamente noticiados pela imprensa internacional, 28 Empresas ponto com relacionadas a serviços prestados na internet recebiam diversos investimentos sem a certeza de retorno, e o sucessivo aumento desses investimentos acabou por saturar o mercado da internet e, com o estouro da bolha especulativa, os Estados Unidos entraram em crise junto de grandes empresas do Vale do Silício, na Califórnia. 43

44 o Irã aparece como o próximo alvo da geopolítica dos EUA de controle do petróleo, cuja suposta ameaça é seu programa de enriquecimento nuclear. Segundo o Irã, Estado-Nacional autônomo e legítimo, trata-se de um programa para fins pacíficos, afirmação que os EUA colocam sob suspeição e afirmam ser um programa para o desenvolvimento de ogivas nucleares, o que não é permitido e que entra em contradição, visto que as potências ocidentais e o Estado de Israel têm seu poderio nuclear declarado. Assim, o discurso acerca da preocupação com a segurança nacional dos Estados Unidos e as suposta existência de armas de destruição em massa do Iraque que serviram de justificativa para a invasão do Iraque demonstram como EUA estão dispostos a ir às últimas consequências para manutenção do controle sobre os combustíveis fósseis. Assim, estas intervenções dos EUA no Oriente Médio podem ser entendidas como corretamente afirmou Harvey (2004) como tudo por causa do petróleo. 44

45 Capítulo 3: A Geopolítica que envolve o Oriente Médio: As representações construídas acerca dos conflitos a partir da análise de sua cobertura jornalística. Conforme visto nos capítulos anteriores, o Oriente Médio foi alvo de intensos conflitos ao longo de todo o século XX. Conflitos que se explicam em grande parte pela importância geopolítica dos Estados nacionais que compõem a região em função dos combustíveis fósseis, ao que se somam os fatos geohistóricos que permeiam o Oriente Médio. Neste capítulo, o objetivo é analisar sobre a forma como estes conflitos foram considerados pela imprensa mundial, para refletir em que medida, pode-se afirmar que a forma dada à representação destes conflitos pode ter acirrado o conflito entre o que aparece como ocidentalismo e orientalismo, o que segundo Said (1990, p ) pode ser entendido como uma diferenciação na qual: O oriental é apresentado como algo que se julga (como em um tribunal), algo que se estuda e se descreve (como em um currículo), algo que se disciplina (como em uma escola ou prisão), algo que se ilustra (como em um manual zoológico). A questão é que cada um desses casos o oriental é contido e representado por estruturas dominantes. A reflexão de Said explicita a visão até hoje xenófoba que se tem do oriental, sobretudo aqueles que vivem à margem da globalização, diferentemente do viés colonialista que durou até o final da II Guerra Mundial, que via nos árabes, persas, hindus entre outros povos a serem civilizados pela cultura europeia. O viés atual é o de levar a modernidade, a democracia e a liberdade a esses povos que presumem estar subjugados por regimes classificados como tirânicos, tal como ocorre com a teocracia islâmica do Irã ou o movimento Talibã no Afeganistão. Não somente as produções literárias aos leigos e o jornalismo ocidental colocam o Oriente Médio à margem da modernidade que proporcionou desenvolvimento ao Ocidente, como também diversas produções científicas, muitas delas conceituadas e muito exploradas em âmbito acadêmico. A partir de pesquisa em arquivos da imprensa brasileira, tais como os acervos do jornal Folha de São Paulo, da Revista Veja, revista Caros Amigos, revista Carta Capital, sítios eletrônicos da CNN e BBC, que servem de fonte a grande parte de meios jornalísticos nacionais, pode-se afirmar que foi a partir do final da década de 1940 do século XX que os interesses dos países capitalistas ocidentais voltaram-se com mais intensidade para o Oriente 45

46 Médio, fato explicitado pelas coberturas jornalísticas sobre a região. Esse interesse foi potencializado nas décadas seguintes, devido à centralidade geopolítica que o Oriente Médio assumiu em função das grandes reservas de combustíveis fósseis ali presentes. Outro fator que também explica o crescimento da exposição na imprensa foi o desenvolvimento dos recursos tecnológicos que possibilitaram o aperfeiçoamento e evolução dos meios de comunicação e telecomunicações, que permitiram (e continuam permitindo) o acesso mais rápido (quase imediato) à representação dada aos fatos ocorridos no Oriente Médio. Todavia, é importante considerar que o que chega às demais regiões através dos meios de imprensa são, basicamente, as versões dos fatos ocorridos na visão de grandes redes mundiais de telecomunicação, tais como a CNN dos EUA e BBC da Grã Bretanha. Estas duas grandes redes fazem a cobertura jornalística direta do Oriente Médio e suas reportagens tendem a ser reproduzidas e/ou adaptadas por outros veículos de comunicação, como ocorre aqui no Brasil. Ainda que a interpretação da versão narrada seja diferente, o fato da matriz originária do conteúdo ter quase sempre uma única fonte contribui decisivamente para a construção da representação que se tem na maioria dos países ocidentais sobre os conflitos do Oriente Médio e sobre aqueles que ali ocorrem, mas que são fomentados externamente. Compete destacar que pela grande carga de informações e notícias publicadas todos os dias, quase que em tempo real, o trabalho de pesquisa de notícias veiculadas pela internet há mais de seis meses fica comprometido. Conforme será discutido adiante, problemas a partir da origem restrita de informações encontram-se na possibilidade de distorção dos fatos ou, ainda, na descontextualização histórico-geográfica dos eventos ali ocorridos, como se os mesmos não estivessem intrinsecamente relacionados. Fica atrelado também o fato de que a avalanche de notícias em tempo real reforça o sentido de atopia explicado por Chauí (2006), conforme analisado a seguir. Nesse sentido, no curso deste capítulo será destacada a forma como os chamados meios de comunicação de massa interpretaram os conflitos ocorridos no Oriente Médio, tais como os que envolveram árabes e israelenses desde a guerra que confirmou a instalação do Estado de Israel na região composta majoritariamente por árabes. Assim, objetiva-se compreender o modo como estes grupos de telecomunicação contribuíram e ainda contribuem para formar a opinião pública daqueles que consomem cotidianamente tais notícias. Para tal análise foram considerados os acervos dos veículos de comunicação disponíveis em arquivos digitais anteriormente citados que tratam dos conflitos ocorridos no Oriente Médio ao longo do último século. 46

47 Indubitavelmente, ao noticiarem fatos e eventos ocorridos, a imprensa cumpre um importante papel de informar. Além disso, ao informar sobre fatos ocorridos nas diversas regiões do globo, estes veículos contribuem significativamente para formação da representação de parte considerável da população acerca do mundo em vivem. Assim, possibilitam que as pessoas deste momento histórico experienciem algo que as gerações anteriores ao século XX não puderam vivenciar: a construção via representação através dos meios de comunicação, do mundo em que vivem. Ainda que algumas pessoas nunca saiam de sua região de origem, através das informações, imagens etc. que chegam diariamente torna-se possível conhecer minimamente regiões com as quais nunca teriam o contato direto. Neste sentido, os meios de informação assumem grande importância na sociedade contemporânea como mediadores entre os fatos ocorridos e as populações de diversas regiões, contribuindo decisivamente para a construção de um sentimento de globalização. Entretanto, essa função de formação efetiva só se concebe mediante a construção de uma representação do fato que mais se aproxime do mesmo. Assim, é necessário que os fatos sejam considerados inseridos no contexto que integram e, mais ainda, que os mesmos sejam apresentados em sua complexidade, para que a representação dada aos mesmos seja condizente com a profundidade e complexidade correspondentes a eles, condição em que a informação também se torna formadora. Isto porque, fora destas condições balizadoras, o que se tem é um processo de deformação, simplificação ou pelo menos distorção dos fatos e processos que reproduzem o espaço em que se vive. De fato, nem sempre a forma dada aos fatos noticiados visa o cumprimento do importante papel de informar e contribuir para compreensão mais ampla dos sujeitos acerca do mundo em que vive, principalmente sobre regiões ou fatos que envolvem interesses geopolíticos de controle de territórios para obtenção de riquezas, tal como se observa contemporaneamente. É neste contexto que Chauí (2006) afirma que os meios internacionais de imprensa, historicamente reconhecidos do público como imparciais e de credibilidade transformaram, na atualidade, a propagação de informações em uma espécie de espetáculo, pois deixa apenas de ser a fonte da informação para ser o formador da opinião pública e moldar a notícia à sua maneira. O que faz com que esses meios de imprensa tornem-se importantes instrumentos de poder favoráveis a aqueles que buscam controlar uma região como o Oriente Médio em função de existência de riquezas estratégicas como o petróleo. Assim, tendem, ao invés do fato, a noticiarem uma representação do mesmo, ou seja, o modo como o mesmo é entendido, 47

48 distorcendo o evento propriamente dito para que seja apresentado à população nos termos mais favoráveis a determinado grupo, segmento empresarial ou mesmo Estado-nacional. Do que foi afirmado, a segunda invasão dos EUA sobre o Iraque constitui em exemplo elucidador. Assim, pode-se afirmar que, em muitos caos, o entendimento e abordagem dada aos fatos não são orientados apenas pela concepção de quem informa ou pela veracidade e complexidade dos eventos, mas também pelos interesses envolvidos na questão noticiada, processo que pode levar da distorção à completa inversão dos fatos, como muitas vezes ocorre na cobertura dada aos conflitos entres Israel e Palestina. Segundo Marilena Chauí, isso se tornou ainda mais comum em um mundo onde corporações passam a se confundidas como gestores de Estados nacionais, dado o poder de influência conferido a essas, o que, considerando a região em questão, remete diretamente às grandes corporações do setor petroquímico de atuação em âmbito global. Assim, é a partir da consideração dos argumentos desta autora, bem como dos interesses das grandes corporações que visam construir condições mais apropriadas para atuação no Oriente Médio, que se entende que, minimamente, torna-se necessário refletir para além das mensagens explícitas nas reportagens que cobriram e divulgaram os conflitos no Oriente Médio ao longo de toda a 2ª metade do século XX e início do XXI. Outro aspecto relevante da forma dada à representação dos fatos destacados pela autora é o modo como a veiculação de informações (escritas ou televisivas) constrói uma impressão junto ao telespectador de anacronia e atopia, ou seja, que tudo acontece dentro do aparelho televisor ou do rádio, processo em que estes aparelhos parecem reproduzir a realidade do mundo. Gradativamente, por meio destes instrumentos, parcela relevante da sociedade vai construindo sua compreensão de mundo, formando sua opinião em relação aos acontecimentos fundamentada no que é veiculado. Construção que, no entanto, também vai distanciando os conflitos e dilemas realmente vividos por estes sujeitos que, cada vez menos, percebem-se como partícipes efetivos da realidade que percebem. E, ao mesmo tempo, retirase dos sujeitos pertencentes e envolvidos nos fatos noticiados essa condição de sujeitos, considerando-os como abstrações ou estatística. Por sua vez, ao se noticiar os conflitos e aqueles que são atingidos, retira-se destes parte de sua humanidade, sendo que esta constituída é sua cotidianidade. Nesse sentido, os mortos e feridos não são apresentados como pai, mãe, filho, irmão, esposa, esposo que são, naquilo que lhes confere concretude e humanidade. Ao contrário, são abstratamente chamados de vítimas ou atingidos ou, menos ainda, são 48

49 inseridos nas estatísticas que, supostamente, são representativas do ocorrido com as pessoas atingidas. Ao referir-se aos eventos ocorridos no Afeganistão, Marilena Chauí exemplifica bem esse processo ao afirmar que subitamente, o Afeganistão passou a existir ( ), porém, foi um espetáculo de rádio e televisão, tanto assim que, decorridos alguns meses ( ) desapareceu dos meios de comunicação (2006, p. 47). Essa sensação distorcida também ocorreu em relação aos ataques em 11 de setembro de 2001 quando radiouvintes e telespectadores tiveram a impressão de que os ataques às torres de Nova York havia sido um ato repentino de loucura, algo insano, súbito e inexplicável, pois não tinham nenhuma informação sobre o passado que levou a tal acontecimento (p. 47). O processo histórico raramente é considerado nas reportagens jornalísticas, o que leva a crer que o fato é algo isolado, e se explica fora de seu contexto. Entretanto, o contexto dos acontecimentos é muito mais complexo, pois, conforme discutido nos capítulos anteriores, principalmente a partir das reflexões de Harvey (2004), pode-se afirmar que os ataques de 11 de setembro de 2001 aos EUA só podem ser compreendidos no contexto da geopolítica imperialista dos Estados Unidos. É em decorrência dessa desconsideração que eventos geopolíticos como o conflito que ocorre no Afeganistão são noticiados como se tivesse um início e fim em si mesmo e, ainda, como se tivesse início e final programado, possível de ser determinado pelos EUA, a exemplo de folhetins de ficção, algo utilizado para distorcer a realidade e criar uma representação ideológica compatível com as opiniões de determinada agência de notícias. Assim, é possível dizer do término oficial do conflito, sem que, contudo, o mesmo efetivamente chegue ao fim. Há, então, uma distorção que leva a um maniqueísmo, em que colocam as potências ocidentais como defensores da democracia e da liberdade, portanto integrantes do eixo do bem, enquanto os governos orientais seriam ditatoriais e bárbaros porque são contrários à liberdade e democracia. Seriam, portanto, integrantes do eixo do mal e ameaçadores da liberdade em escala global, em especial no Ocidente, criando o argumento legitimador para invadi-los e assim pilhar a riqueza pertencente a estes países. Outra consequência deste processo é que notícias acabam tornando-se descartáveis, pelo fato de atenderem aos interesses de quem as transmitem, sempre com o objetivo de elevar audiência e ampliar seus ganhos econômicos. Ao longo do tempo e em função do caráter dado, as notícias acerca dos eventos de natureza geopolítica tornaram-se quase que uma forma de entretenimento (como pôde ser observado nas coberturas jornalísticas das guerras ao Afeganistão e, principalmente ao Iraque em 2003), a partir da recepção do público, 49

50 subsidiada por governos e patrocinada por empresas cujos vínculos com administrações de territórios ocidentais se estreitam cada vez mais, o que reflete a lógica geopolítica na reprodução capitalista do espaço moderno. As informações, que quase sempre são repetidas, sob as mesmas perspectivas, levam a um entendimento parcial do fato, moldando a compreensão daqueles que se informam através de meios de comunicação de massa. Um bom exemplo disso é a exploração dos ataques de palestinos ao Estado de Israel. Quase sempre, são apresentados pela imprensa como atos bárbaros praticados por aqueles que disseminam o terror, portanto, terroristas. Todavia, estes ataques ocorrem quase que diariamente e quase sempre se constituem em respostas a ataques engendrados pelo Estado israelense. Contudo, a opinião pública, já (con) formada a ver os árabes palestinos como terroristas defendem ou não se sensibiliza a ponto de condenar a intervenção das forças armadas israelenses para coibir estes ataques enquanto segue o uso da violência desmedida contra civis em território palestino. É neste sentido que a seguir procura-se refletir acerca da forma como tais conflitos foram noticiados e, em que medida, foi (ou não) relacionada com o contexto históricogeográfico do qual fazem parte. O conflito entre israelenses e palestinos A análise do conflito entre árabes e israelenses é aqui considerado especialmente sobre os questionamentos colocados pelos meios de comunicação acerca de sua legitimidade e seu suposto fim. Como pode ser observado nos trechos destacados, é visível a tentativa de determinados grupos midiáticos no sentido de minimizar ou justificar os atos de Israel, ao mesmo tempo em que reforçam uma imagem negativa de seus respectivos opositores. O fragmento seguinte foi extraído de uma reportagem da revista Veja publicada em 2002: Há nove anos, quando os acordos de paz entre os israelenses e palestinos foram assinados, Arafat recebeu o controle administrativo das maiores áreas urbanas da Cisjordânia e de Gaza e se comprometeu a trabalhar para evitar ataques a Israel. Não cumpriu a promessa. Em parte, porque sua polícia não tem condições de impedir cada ataque suicida. Mas também porque não quis Retirado de: Revista Veja, número de abril de p. 43, disponível em < acessado dia 06/12/2010, ás 20:43. 50

51 No trecho anterior é possível perceber o modo como o insucesso do encerramento do conflito foi atribuído ao líder palestino, sem considerar, no entanto, o amplo e complexo contexto que envolve este conflito. De fato, acordos políticos constituem-se em avanços no sentido de sua superação. Todavia, são insuficientes, na medida em que se trata de uma disputa de território mediada por relações culturais. Noticiar este conflito fora deste contexto leva à distorção ou, pelo menos, ao entendimento reduzido da questão, tornando-a simplista, o que permite afirmar que o insucesso dos acordos deve-se à impossibilidade de evitar ataques suicidas ou à falta de vontade de Arafat. Os fatos que permeiam os conflitos geralmente são veiculados sem a própria busca pela solução dos mesmos, algo que poderia ser de fato prejudicial aos países que dominam a imprensa de massa. Esta solução para o fim dos ataques proporcionados por grupos palestinos está embasada na saída e na desapropriação dos assentamentos judaicos dentro de territórios administrados pela Autoridade Palestina. Esta forma de noticiar os conflitos entre árabes e israelenses ganha sentido quando se considera a dupla cooperação entre países ocidentais (especialmente EUA), e o Estado de Israel desde a sua fundação e ao longo de seu histórico de conflitos, conforme analisados no capítulo um. Ao se considerar tais conflitos inseridos no contexto histórico e geopolítico de que fazem parte, é possível observar que a problemática teve início exatamente em função da criação do Estado de Israel como um enclave no Oriente Médio, cuja criação deu-se não apenas à revelia, mas também contrariando os interesses dos povos árabes do Oriente Médio, já que os mesmos não compuseram o grupo que decidiu sobre a criação do Estado de Israel na região. Assim, já em sua criação, Israel foi alvo de ataques dos países árabes, cuja resposta também foi militar e serviu de artifício para ampliação de seu território, já que os judeus, posteriormente, anexaram territórios dos países árabes vizinhos, tudo sob a devida aceitação de países como Inglaterra, França e, principalmente, EUA. Ao fim e ao cabo, Israel acabou se tornando um provável responsável pela desarticulação dos árabes na construção de uma pátria própria, dados os objetivos iniciais destes. O que ocorre a partir da primeira menção sobre um conflito entre árabes e israelenses é que a raiz do problema está relacionada à criação de um território para o povo palestino, enquanto, na verdade tudo teve início com a aprovação das Nações Unidas para a criação de um Estado judeu em 1948, sem consulta ou aprovação dos povos árabes que ali viviam. Tal citação apenas aparece brevemente enquanto o principal objetivo é expor e defender os objetivos israelenses. 51

52 As informações acerca dos conflitos entre Israel e árabes noticiados no Brasil (quase sempre) são provenientes de agências de notícias e canais de televisão instalados nos Estados Unidos ou Europa Ocidental, que tendem a condenar os ataques palestinos ou colocá-los como causadores dos bombardeios de Israel sobre a Palestina, como ocorre com os demais países em geral. Os fragmentos a seguir foram veiculados na revista Veja e explicitam o modo como, tendencialmente, estes conflitos aparecem fora de contexto e a ação israelense justificada como uma forma de defesa contra atos de terroristas palestinos: ( ) as hamullas 30 colocam algum de seus integrantes dentro dos grupos armados controlados pelo governo e pelos partidos palestinos. Nesse ambiente caótico, em que as diferenças políticas entre os partidos Fatah, secular, e Hamas, islâmico, se confundem com os interesses individuais dos clãs, não causa estranheza a visão de palestinos encapuzados trocando tiros nas ruas de Gaza. 31 O contexto deste fragmento mostra que surgiram milícias armadas em plena Faixa de Gaza após diferenças políticas dos integrantes do governo da Autoridade Palestina. A atopia se mostra ainda mais presente no seguinte fragmento: Esse ensaio de guerra civil já causara mais de meia centena de mortos na semana passada. E nem sequer foi interrompida pelos bombardeios aéreos de Israel, que começaram na quinta-feira em represália aos foguetes caseiros que o Hamas dispara contra cidades israelenses. 32 O que é possível perceber ao analisar as reportagens é que há uma defesa das ações de Israel não qualificadas como atos brutais ou massacres que são atos consumados ao longo de mais de seis décadas. Porém, isso possivelmente se explique porque, conforme descrito nos capítulos anteriores e embasado por autores como Harvey (2004), o Estado israelense é um aliado dos países ocidentais, e os conflitos engendrados pelos judeus causam uma instabilidade favorável a seus interesses, o que contribui para a viabilização do controle das potências capitalistas ocidentais sobre o Oriente Médio. Nos meios de comunicação, em geral, isso toma forma com o caráter de formadores de opinião pública ao invés de informarem ou aumentarem a compreensão acerca do que realmente ocorre, causando distorções e atendendo aos interesses daqueles que fomentam tal situação. A partir da década de 1980, a repressão aos palestinos promovida pelos ataques israelenses forçou o aumento do contingente de refugiados e o consequente aumento da violência tornou-se pauta quase que obrigatória para as agências de notícias que fazem a 30 Hamullas: tribos ou clãs que surgiram na Faixa de Gaza e que faziam as próprias leis, e deixaram o território à beira de uma guerra civil. 31 Fragmentos retirados de: Revista Veja. Número de maio de pp , disponível em < acessado dia 06/12/2010, às 20:55 32 Ibid. 52

53 cobertura jornalística da região do Oriente Médio. Todavia, as reportagens realizadas quase sempre caminharam no sentido apontado por Chauí (2006), ou seja, sem contextualizar os conflitos e sem explorar a complexidade que envolve tais conflitos, como pode ser observado nos fragmentos a seguir: As Forças Armadas de Israel confirmaram a ofensiva em um túnel de Rafah e alegaram que palestinos lançaram nove foguetes e morteiros na quarta-feira, que atingiram áreas israelenses a leste da fronteira com Gaza. Foi divulgado que catorze ataques ocorreram desde domingo passado. A escalada da violência é presente mesmo com novas negociações de paz no Oriente Médio, que se iniciaram na terça-feira no Egito e seguirão na quartafeira em Jerusalém. 33 Assim, ao longo dos anos, a população acostumou-se a ver países surgindo do nada e desaparecendo de forma tão rápida quando apareceram nos noticiários, como o Líbano e a Síria, países vizinhos à Israel, que, entre outros motivos, sofrem ataques deste exatamente por apoiarem a causa palestina e deter em seus países campos de refugiados palestinos. Ainda no fim do século, outros conflitos inter ou intra países ocuparam espaço na imprensa internacional no final do século XX, como a Guerra da Bósnia e da Independência da Croácia, duas ex-repúblicas formadas após o fim do socialismo na Iugoslávia e que desencadeou massacres comandados pela Sérvia aos povos desses países, principalmente na Bósnia, de maioria muçulmana. Estes também foram amplamente noticiados. Todavia, também nos termos indicados por Marilena Chauí: de repente falava-se destas regiões sem considerá-las em seu contexto geopolítico e histórico. Assim, tal como no Oriente Médio, a cobertura da imprensa em geral enfatizou o genocídio e da violência dos ataques que motivaram a intervenção das potências ocidentais, sob a égide da Organização do Tratado do Atlântico Norte OTAN. Os fragmentos a seguir referem-se a estes eventos. Neles, pode ser observado o modo como aparecem fora do contexto do qual fazem parte. As guerras da Iugoslávia, na década de 1990, não tiveram vencedores nem vencidos, no sentido usual do termo. No entanto há várias formas de lidar com as consequências dos conflitos nas diversas ex-repúblicas. Onde as devastações não foram tão terríveis assim e, apesar de todas as feridas, restou a impressão de se estar do lado dos justos e dos vitoriosos, é mais fácil arcar com a herança da guerra do que em outros Estados onde esse não foi o caso. Segundo Dennis Gratz, politólogo e membro da Associação dos Ex-Alunos do Centro de Estudos Interdisciplinares de Pós-Graduação (ACIPS), uma ONG sediada em Sarajevo, isso se manifesta nitidamente na forma de ligar com os crimes de guerra. Ele cita um bom exemplo: "O fato de a Croácia ter, ela mesma, 33 Disponível em: < > acessado dia 13/11/2010, traduzido e adaptado pelo autor. 53

54 se libertado, facilita a essa sociedade confrontar-se com os crimes de guerra em seus próprios quadros". Por outro lado, onde crimes de guerra foram sistemática e conscientemente empregados como método bélico, a situação é outra. Fuzilamentos, pilhagens, expulsão ou estupros em massa dos bosníacos (bósnios muçulmanos) na Bósnia- Herzegóvina serviam à chamada "limpeza étnica" e foram empregados como arma sobretudo pelos sérvios da Bósnia. Por isso, hoje é difícil chegar a um consenso quanto à elaboração do passado na Bósnia-Herzegóvina, onde bosníacos, sérvios e croatas devem formar e manter unificado um Estado, observa Gratz. 34 Entretanto, já nos primeiros anos da década de 1990, os interesses da imprensa mundial também retornaram para o Oriente Médio. Além da invasão iraquiana ao Kuwait e a subsequente resposta da OTAN que declarou guerra do Iraque, em 1993, foram firmados os acordos de Oslo, cujo objetivo era decretar uma paz nunca antes vista entre árabes e israelenses, processo capitaneado por Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, com a mediação dos EUA. Estes acordos receberam grande destaque da imprensa mundial, sendo que a foto a seguir foi mundialmente divulgada. Figura 6: O histórico aperto de mãos que viria a selar a paz entre israelenses e palestinos Disponível em: < acessado em 25/11/2010, 09:54 35 Fonte: < acessado dia 13/11/

55 Porém, após este momento do célebre e celebrado aperto de mãos, o período que vai deste encontro até a morte de Rabin em um atentado foi marcado pela pouca atenção da imprensa mundial para a região, o que não significa que o confronto tenha arrefecido. O que ocorre é que, mediante ao acordo de paz não falar dos conflitos era uma forma de, supostamente, contribuir para seu sucesso. Porém, esta condição mudaria radicalmente no início do século XXI pela retomada da ocupação do território palestino pelos israelenses e a consequente resposta palestina e, ainda, pelos desdobramentos do ataque de 11 de setembro de 2001 que colocaram o Iraque como principal alvo militar dos EUA no século que se iniciava. Sob outra linha editorial, com alguma diferença em relação a adotada pela revista anterior, a revista Época publicou uma reportagem um exemplo de outro modo como pode ser abordado o conflito árabe-israelense: Palestinos e israelenses estão mergulhados há décadas num conflito de raízes históricas e políticas. O ciclo de violência nasceu em 1948, quando foi criado o Estado de Israel, e já desencadeou três guerras. A onda atual de atentados terroristas invariavelmente seguidos por retaliações israelenses começou em setembro passado com uma intifada, ou rebelião palestina. O objetivo dos rebeldes é a recuperação total dos territórios ocupados por Israel em 1967 (Cisjordânia e Faixa de Gaza) e a criação de um Estado palestino. Um lado acusa o outro pela guerra. Ambos, de vingança em vingança, sepultaram as negociações de paz iniciadas na década passada, com base no princípio da troca de terras pelo fim das hostilidades. Nos primeiros anos, a ideia funcionou razoavelmente: Israel devolveu várias porções de território aos palestinos e permitiu a criação de um governo autônomo nessas áreas, a Autoridade Palestina, presidida por Yasser Arafat. A AP, em contrapartida, conteve o Hamas e outras organizações radicais, despachando para a cadeia, sem nenhuma acusação formal, cerca de ativistas islâmicos. Sem acordo, bastou um pretexto a visita do líder conservador Ariel Sharon (atualmente, o primeiro-ministro de Israel) a um local sagrado para judeus e muçulmanos, no ano passado para a explosão de um círculo vicioso de ataques e revides, que tem impedido a retomada do processo de paz. 36 Nesta reportagem é possível perceber, ainda que de maneira incipiente, um esforço de contextualização do conflito no início, que procura situar a informação atual dada dentro do contexto histórico-geográfico do qual emerge, o que contribui sensivelmente para a compreensão efetiva do leitor do que se trata. Porém, logo a reportagem assume o caráter geral de defesa dos atos de Israel, vinculando-os a respostas aos supostos ataques a priori dos palestinos, ao mesmo tempo em que não revela um dos fundamentos do conflito entre palestinos e israelenses: o não 36 Fonte: < A+FACE+DO+HORROR+EM+ISRAEL.html>, acessado em 22 de novembro, às 22:41. 55

56 reconhecimento da condição de Estado do território palestino. Por sua vez, esse não reconhecimento da condição de Estado dos territórios palestinos vincula-se à localização estratégica destes territórios dentro do Oriente Médio, o que fomenta mais conflitos dentro da região, desencadeados pela maior facilidade para a manutenção da influência ocidental sobre os recursos tão importantes para a indústria destes em um contexto de instabilidade, já que nessa condição uma aliança entre os árabes torna-se bastante difícil. De fato, como afirma Ben Jacob (1986, p. 53), a localização estratégica do território palestino é considerada como de fundamental importância econômica desde o início do século XX: O caminho do Canal de Suez, que passa a poucos quilômetros da Palestina, constituía ontem, como hoje, a melhor e mais curta rota para os transportes marítimos, carregando as riquezas petrolíferas de vital importância para o mundo ocidental e cuja segurança deveria ser garantida. Sobre estas considerações estratégicas desenvolveu-se durante dezenas de anos toda a política britânica na região. Assim, apareceram dois novos fatores de orientação política colonialista. Primeiro: o mandato sobre a Palestina falava na criação de um Lar para o Povo Judeu e segundo a interpretação britânica, esta noção não significava necessariamente, um Estado Judeu. Segundo: As autoridades britânicas exploraram arbitrariamente o princípio de que nada deve ser feito em detrimento das outras comunidades da Palestina e agiram conforme os próprios interesses. Embora mais tarde a ONU tenha criado o Estado de Israel com a promessa de criação do Estado palestino, criação inserida no contexto já discutido em capítulo anterior, os territórios da Palestina permanecem ainda hoje como territórios, na medida em que continuam possuindo uma localização estratégica para o escoamento dos combustíveis fósseis extraídos no Oriente Médio. A revista Istoé também mantém notícias constantes vindas do Oriente Médio, como a destacada a seguir: O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chegou na tarde desta segunda-feira a Israel, como parte de uma visita à região destinada a retomar o processo de paz, constatou a AFP. Biden foi recebido no aeroporto Ben Gurion de Tel Aviv pelo vice-primeiroministro israelense, Moshé Yaalon. Trata-se da mais alta autoridade americana a realizar visita a Israel e aos territórios palestinos desde que Barack Obama assumiu a presidência. No domingo, dirigentes palestinos aceitaram, com reservas, a "proposta dos Estados Unidos" de realizar negociações indiretas com Israel, como forma de reativar o processo de paz, suspenso desde a ofensiva israelense da Faixa de Gaza, no final de

57 O anúncio do consentimento foi feito por Yasser Abed Rabbo, secretário-geral da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) em entrevista coletiva à imprensa em Ramallah (Cisjordânia), sede da Autoridade Palestina, do presidente Mahmud Abbas. Segundo ele, "a direção palestina decidiu dar uma oportunidade à proposta americana de tentativa de acordo. 37 A partir desta reportagem é possível perceber que, pelo modo em que foi construída a narrativa dos eventos (sejam estes fatuais ou não), supostamente, os dois lados estariam dispostos a negociar o processo de retomada de paz. Todavia, conforme relatado, o movimento parece ser muito mais uma nação de uma autoridade palestina (que não representa o seu conjunto). Por outro lado, há apenas implícito o movimento por parte de Israel, o que não é enfatizado na narrativa em questão já que, o primeiro gesto efetivo de Israel em favor de um processo de paz seria a desocupação da faixa de gaza, território que em 1948 na divisão da ONU foi definido como palestino e sobre o qual Israel vem a décadas expandindo, irregularmente, seu território. Assim, ao leitor, o acordo de paz entre ambos pode parecer algo factível, que depende apenas da boa vontade de seus líderes. Assim, constrói-se uma representação de que Israel sempre está pronto a negociar e que esta é uma das raras oportunidades de razão por parte da Autoridade Palestina para que se possa viabilizar a paz, reforçando a concepção historicamente construída de quem está certo ou errado na questão. Porém, a questão fundamental sequer é abordada e apenas transmite aquilo as questões pertinentes às elites. Ainda que a maioria dos veículos de imprensa tenham linhas editoriais que tendem a reproduzir um discurso mais favorável ao Estado de Israel, há alguns que não podem ser assim enquadrados. É o caso, por exemplo, do canal Deustsche Welle, localizado na Europa, uma entidade direcionada aos europeus que vivem fora de seu continente e que possui um jornalismo que se propõe independente, cujas reportagens tendem a se diferenciar de outras agências de notícias, como pode ser no fragmento a seguir: O ataque de militares israelenses a uma frota de ajuda que viajava rumo a Gaza em maio passado resultou em violações dos direitos humanos e da lei humanitária internacional, afirmou nesta quarta-feira (22/09) uma comissão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. 37 Disponível em: < AR+PROCESSO+DE+PAZ?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage> acessado em 23/11/2010, às 21:17 57

58 Os três especialistas juízes do Reino Unido e de Trinidad e Tobago e um ativista de direitos humanos da Malásia afirmaram que Israel utilizou uma força desproporcional, "totalmente desnecessária e uma violência incrível" ao interceptar a frota. "O ataque foi feito com um nível inaceitável de brutalidade, uma conduta que não pode ser justificada com argumentos de segurança ou outros", diz o documento, divulgado na noite desta quarta-feira no site do Conselho de Direitos Humanos. Os especialistas afirmaram que Israel tem o direito de garantir a sua segurança e acrescentaram que o lançamento de foguetes a partir da Faixa de Gaza contra Israel também constitui uma violação da lei humanitária. Mas o bloqueio israelense à região palestina equivaleria a uma punição coletiva a toda a população civil e não seria legítima sob qualquer circunstância, ressaltam. O documento afirma ainda que o governo de Israel não colaborou com a missão de investigação. Os especialistas, que não puderam entrar em Israel, pediram às autoridades que identifiquem os envolvidos nos atos de violência contra a frota de ajuda aos palestinos. Israel conduz investigação própria O Ministério do Exterior de Israel desqualificou o Conselho de Direitos Humanos da ONU, afirmando que ele adota uma posição partidária, politizada e extremista. Ainda assim, o governo israelense disse que vai analisar o texto. Israel havia declarado desde o início que não iria colaborar com a investigação do Conselho de Direitos Humanos. Muitos países afirmam que o conselho, no qual países islâmicos e aliados têm maioria, concentra-se no tratamento de Israel para com os palestinos, deixando de lado outros temas de direitos humanos. O governo de Israel disse que iria colaborar com outra investigação da ONU, convocada pelo Conselho de Segurança, e que também faria sua própria investigação. Nove pessoas morreram no ataque à frota de embarcações que viajavam para Gaza em 31 de maio passado. 38 Embora a mesma analise um ataque que não está diretamente ligada conflito entre israelenses e palestinos, há na mesma elementos que indicam a ação autoritária de Israel. Outro fator que foi amplamente noticiado a partir da década de 2000 foi o cerco promovido ao Quartel-General da Autoridade Palestina, ocorrido em 2002 com o objetivo de capturar Arafat por sua incapacidade de frear os grupos rebeldes que continuavam a promover ataques suicidas contra a população judaica. O cerco, bem sucedido, fez parte de uma ação que visava construir a imagem de Arafat como um líder inepto e que falhou na sua missão de promover a paz entre israelenses e palestinos, na medida em que ele não conseguiu liderar a Palestina rumo à conquista de seu território e nem evitar os ataques suicidas, o que, afinal, nunca foi a real intenção dos agentes geopolíticos que transformaram o Oriente Médio em uma região beligerante, como condição de facilitação da exploração de sua riqueza central. Arafat foi alvo de um maniqueísmo que a princípio o colocou como vilão, posteriormente 38 Disponível em: < acessado dia 25/11/2010, 10:02 58

59 visto como um provável articulador da paz entre israelenses e palestinos, mas a sua inépcia o colocou como vilão novamente, permanecendo no ostracismo até a sua morte. Assim, o que se pode perceber é que, embora este conflito em geral esteja longe de ser uma questão de que possa ser compreendida a partir de uma visão maniqueísta, pois ambas as partes possuem direitos ao território e à constituição de um Estado-Nação com os devidos direitos para todos ali residentes, é assim que o mesmo tem sido amplamente tratado pelos veículos de imprensa que se propõem a divulgar e narrar os eventos que ocorrem naquela região do planeta. O papel da imprensa, que deveria estar associado à garantir a informação o mais próximo possível dos fatos, e, neste caso, contextualizar e apresentar o conflitos entre palestinos e israelenses dentro de sua complexidade fundamentada na disputa por território e pelo reconhecimento da legitimidade de cada um, está longe ser cumprido. Quando os fatos narrados não são assim balizados, seja por interesses estratégicos ou mera simplificação saiu do plano da informação que forma para que a deforme, espetaculariza, tal como refletiu Chauí (2006). A chamada guerra ao terror no Afeganistão O Afeganistão é um país que, como expressam seus indicadores econômicos e sociais e ausência de investimentos, ainda que possua bons prospectos pela presença de hidrocarbonetos ainda não explorados, é um país dividido e com muitos problemas políticos, econômicos e sociais. As referências a este país na imprensa internacional foram praticamente inexistentes por serem vizinhos de países que vivem em litígio, e consequentemente de maior destaque nos noticiários, como Irã, Paquistão e Índia, países com os quais faz divisa como pode ser observado na figura a seguir: 59

60 Figura 7: Território afegão em posição central. 39 Entre as primeiras menções ao território afegão, destacam-se as que ocorreram em 1979 durante o período da Guerra Fria, quando a ex-urss invadiu e atacou os combatentes mujahedin 40 em favor da manutenção do regime socialista no país. A imprensa ocidental abordou o conflito como uma intervenção equivocada por parte dos soviéticos, que tentavam dessa maneira ampliar a abrangência do bloco socialista. A opinião pública ocidental repudiou a ação militar levada a cabo pela ex-urss e os Estados Unidos encabeçaram medidas de retaliação aos soviéticos, inclusive por meio de boicote aos Jogos Olímpicos de Moscou, ocorrido em 1980 e que teve o apoio da maioria dos países alinhados aos EUA. Mikhail Gorbatchev, chefe de Estado soviético à época da retirada soviética do Afeganistão em 1989, em recente entrevista à BBC, prevê a derrota das forças invasoras do território afegão, lideradas pelos Estados Unidos, como pode ser visto abaixo: O ex-líder da União Soviética Mikhail Gorbachev disse em entrevista à BBC que uma vitória das forças da Otan (aliança militar ocidental) no Afeganistão é impossível. Gorbachev afirmou que os Estados Unidos não têm alternativa a não ser retirar suas tropas "se quiserem evitar outro Vietnã". O ex-líder elogiou a decisão do presidente americano, Barack Obama, de começar a retirada de soldados do país no ano que vem, mas disse que os Estados Unidos vão passar por dificuldades para resolver a situação. "A vitória é 39 Fonte: Google, destaque feito pelo autor. 40 Mujahedin: combatentes fundamentalistas islâmicos que no Afeganistão se organizaram na luta do governo socialista apoiado pela ex-urss. 60

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