O N O V O R E G I M E J U R Í D I C O D A S I N F R A C Ç Õ E S T R I B U T Á R I A S N Ã O A D U A N E I R A S D E C A B O - V E R D E
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- Ana Luiza Carrilho Sales
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1 i N º 4 0 / 1 4 O N O V O R E G I M E J U R Í D I C O D A S I N F R A C Ç Õ E S T R I B U T Á R I A S N Ã O A D U A N E I R A S D E C A B O - V E R D E INTRODUÇÃO Foi publicado no B.O. da República de Cabo- Verde, no passado dia 29 de Outubro, o novo Regime Jurídico das Infracções Tributárias Não Aduaneiras (RITNA), com entrada em vigor em 13 de Novembro de A aprovação do novo diploma surge no âmbito das reformas estruturantes Cabo-Verdianas que visam a simplicidade e a clareza dos normativos legais e, bem assim, uma justiça tributária mais adequada e compatível com os novos tempos. TAX & BUSINESS O novo regime pretende alcançar maior prevenção dos ilícitos fiscais, melhorando o cumprimento das obrigações tributárias e os mecanismos de detecção da prática de infracções e, bem assim, uma redução das situações de fraude e evasão fiscais. A presente Informação Fiscal destina-se a ser distribuída entre Clientes e Colegas e a informação nela contida é prestada de forma geral e abstracta. Não deve servir de base para qualquer tomada de decisão sem assistência profissional qualificada e dirigida ao caso concreto. O conteúdo desta Informação Fiscal não pode ser reproduzido, no seu todo ou em parte, sem a expressa autorização do editor. Caso deseje obter esclarecimentos adicionais sobre este assunto contacte. *** Esta Informação Fiscal é enviada nos termos dos artigos 22.º e 23.º do Decreto-Lei n.º 7/2004, de 7 de Janeiro, relativa ao envio de correio electrónico não solicitado. Caso pretenda ser removido da nossa base de dados e evitar futuras comunicações semelhantes, por favor envie um com Remover para o endereço newsletter@rffadvogados.com. ÂMBITO DE APLICAÇÃO O novo Regime Jurídico das Infracções Tributárias Não Aduaneiras aplica-se às infracções praticadas no âmbito i) dos regimes tributários não aduaneiros independentemente de regularem ou não prestações tributárias; ii) das prestações 01 Best Lawyers - "Tax Lawyer of the Year" 2014 Legal 500 Band 1 Tax Portuguese Law Firm 2013 International Tax Review "Best European Newcomer" (shortlisted) 2013 Chambers & Partners Band 1 RFF Leading Individual 2013 Who s Who Legal RFF Corporate Tax Adviser of the Year 2013 IBFD Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique
2 tributárias; iii) dos benefícios fiscais; e iv) das obrigações tributárias acessórias. Define-se a infracção tributária não aduaneira como todo o facto típico, ilícito e culposo declarado punível, dividindo-se em crime e contra-ordenação fiscal. Nos casos em que um mesmo facto constituiu crime e contraordenação o agente será punido a título de crime. O novo regime é aplicável a todos os factos praticados no território de Cabo Verde ou a bordo de navios ou aeronaves de bandeira / matrícula Cabo Verdiana, independentemente da nacionalidade do agente e, também, a todas as infracções tributárias não aduaneiras ainda que praticadas fora de Cabo-Verde desde que referentes a um imposto devido a um sujeito activo de Cabo-Verde. dias. Nos casos em que os crimes sejam cometidos por pessoas colectivas é aplicável uma pena de multa de 40 até 2500 dias. Nos casos em que se possa, alternativamente, aplicar a pena de prisão ou a pena de multa, o tribunal deve optar pela aplicação da pena de multa, caso esta satisfaça as finalidades de reprovação e de prevenção legalmente exigíveis. Importa referir que a pena de multa varia entre 500$00 e $00, se aplicada a pessoas singulares e entre 1.000$00 e $00, no caso de o crime ter sido praticado por pessoa colectiva ou entidade equiparada. A aplicação de pena de multa deverá ter presente a situação económica e financeira do condenado, podendo, sempre que se justificar, o tribunal autorizar o pagamento em prestações. DOCUMENTOS FISCALMENTE E RELEVANTES Consideram-se documentos fiscalmente relevantes os livros e os demais documentos e instrumentos de registo, independentemente do seu suporte em papel, informático ou electrónico indispensáveis para o apuramento, avaliação controlo e fiscalização da situação tributária do contribuinte. CRIMES Os crimes tributários não aduaneiros cometidos por pessoas singulares são punidos com pena de prisão, de 1 a 8 anos, e, bem assim, com pena de multa, de 20 até 1000 Quanto à pena de prisão, o tribunal pode suspender a execução da pena, desde que (i) não superior a 3 anos, e (ii) que a personalidade do condenado o justifique. No que diz respeito às penas acessórias, estas poderão ser aplicadas cumulativamente com as penas de prisão ou de multa, tais como: i) interdição temporária do exercício de profissão ou actividades; ii) dissolução da pessoa colectiva; iii) privação do direito de receber subsídios ou subvenções; iv) privação de participar em concursos, mercados e feiras, entre outros, promovidos por entidades pública ou por instituições particulares de solidariedade social; e v) publicação de 02
3 sentença condenatória a expensas do agente da infracção, entre outros. Estas penas são aplicadas cumulativamente sempre que o tribunal considerar tal ser a forma adequada e necessária para punição e prevenção do crime. Não obstante, sempre que o agente da infracção repuser a verdade até ao encerramento da instrução do processo penal pode haver dispensa de pena nos casos em que a gravidade do facto e culpa do agente não forem muito graves. O procedimento criminal por crime tributário não aduaneiro prescreverá, no prazo de cinco ano, podendo este prazo ser interrompido ou suspenso. CONTRA ONTRA-ORDENAÇÕES ORDENAÇÕES As contra-ordenações são qualificadas como simples ou graves, sendo as primeiras as puníveis com coima até $00, e as segunda com o limite máximo superior àquele montante. Também no âmbito das contra-ordenações é possível aplicar-se sanções acessórias, de acordo com as condições e limites definidos e, bem assim, sempre que estas forem necessárias e adequadas. As coimas também podem ser dispensadas, nos casos em que, cumulativamente, i) a prática da infracção não ocasione prejuízo efectivo à Administração tributária; ii) a situação tributária esteja regularizada através da entrega da prestação tributária ou da declaração; e, iii) a falta revelar um diminuto grau de culpa. Se estes requisitos não se verificarem, cumulativamente, pode a coima também ser atenuada, se o arguido reconhecer a sua responsabilidade e regularizar a situação. O procedimento de contra-ordenação extingue-se por prescrição no prazo de 5 anos, podendo este prazo ser suspenso ou interrompido. Por outro lado, as sanções contra-ordenacionais prescrevem no prazo de 8 anos, contados da data do trânsito em julgado da decisão condenatória. PROCESSO DE CONTRA-ORDENAÇÃO ORDENAÇÃO TRIBUTÁRIO O processo para a punição de infracções tributárias não aduaneiras sem natureza criminal são instauradas no serviço tributário respectivo, com autonomia do processo de liquidação do tributo, A aplicação de coimas é da competência do Director da Direcção das Contribuições e Impostos, do Chefe da Repartição Especial dos Grandes Contribuintes do Chefe das Repartições de Finanças territorialmente competente em função do valor do imposto em falta da qualificação da infracção e do correcto ajuste. 03
4 O processo de contra-ordenação pode ter como fundamento: i) auto de notícia levantado por funcionário competente; ii) participação de entidade oficial; iii) denúncia de qualquer pessoa; iv) certidão extraída por entidade pública; e v) pedido do contribuinte ou obrigado tributário a solicitar o exercício do direito à redução da coima. Cada um destes documentos que pode servir de fundamento à instauração de processo de contra-ordenação tem requisitos e disposições específicas que devem ser atendidas. Relativamente às invalidades, o novo regime prevê, como nulidades insanáveis, que são de conhecimento oficioso e podem ser invocadas a todo o tempo, as seguintes: i) o levantamento do auto de notícia por agente ou funcionário sem competência; ii) a falta de assinatura do autuante e de menção de algum elemento essencial; iii) a falta de notificação do despacho para audição e apresentação de defesa; iv) a falta dos requisitos essenciais da decisão de aplicação das coimas e sanções acessórias; e v) a falta de notificação da decisão de aplicação das coimas e sanções acessórias. Estas nulidades têm como efeito a anulação dos termos subsequentes do processo de contra-ordenação que deles dependam absolutamente, aproveitando-se, no entanto, as peças processuais que sejam relevantes para o apuramento dos factos. O processo de contra-ordenação pode ser suspenso sempre que esteja a decorrer algum processo de impugnação judicial ou de oposição judicial até que nestes seja proferida decisão que transite em julgado. Esta decisão constitui caso julgado no processo de contraordenação relativamente às questões decididas. O procedimento de contra-ordenação, extingue-se, ainda, por i) morte do arguido; ii) extinção da pessoa colectiva; iii) prescrição ou amnistia; iv) pagamento voluntário da coima; e v) acusação recebida em procedimento criminal. Assim, sempre que ocorrer uma causa extintiva do processo, ou nos casos em que haja duvidas fundadas sobre os factos, por insuficiência de elementos de prova ou da culpabilidade do acto, a entidade competente arquiva o processo. Importa ainda referir que sempre que o arguido pagar a coima no prazo para defesa, pode beneficiar da redução da coima para valor igual ao mínimo legal. Nos casos em que o pagamento da coima não se verifica, a sua cobrança é feita coercivamente, mediante processo de execução fiscal. A decisão de aplicação da coima deve atender a determinados requisitos essenciais, tais como: i) a identificação do infractor e comparticipantes; ii) a descrição sumária dos factos e indicação das normas violadas e punitivas; iii) a indicação dos elementos que contribuíram para a determinação da coima e sanções acessórias; iv) a indicação de que 04
5 vigora o princípio da proibição da modificação da decisão; v) a indicação do destino das mercadorias apreendidas; e, vi) a condenação em custas. A decisão da aplicação de coima pode ser objecto de recurso para o Tribunal Fiscal e Aduaneiro, no prazo de 25 dias a contar da notificação. O tribunal não está obrigado a apreciar os factos como contra-ordenação, pelo que, oficiosamente ou a requerimento do Ministério Público, pode converter o processo em processo criminal, extinguindo, assim o processo de contra-ordenação. INFRACÇÕES TRIBUTÁRIAS EM ESPECIAL O novo Regime Jurídico das Infracções Tributárias não aduaneiras Cabo-Verdiano prevê os seguintes crimes tributários não aduaneiros: i) burla fiscal; ii) fraude fiscal; iii) fraude fiscal qualificada; iv) abuso de confiança fiscal; v) frustração de créditos; vi) violação do segredo fiscal; e vii) desobediência qualificada. alteração de documentos fiscalmente relevantes; vi) omissões e inexactidões nas declarações ou noutros documentos e nos pedidos de informação vinculativa; viii) inexistência de contabilidade ou de livros fiscalmente relevantes; ix) contabilidade desconforme com as regras de normalização contabilística e atrasos na execução; x) violação de segredo fiscal; xi) falsidade informática e software certificado; xii) pagamento indevido de rendimentos, entre outros. Lisboa, 11 de Dezembro de 2014 Rogério M. Fernandes Ferreira Francisco de Carvalho Furtado Marta Machado de Almeida Catarina Ribeiro Caldas Sheila Monteiro (correspondente local em Cabo-verde) E estão, ainda, previstas as seguintes contraordenações tributárias não aduaneiras: i) recusa de entrega, exibição ou apresentação de escrita e de documentos fiscalmente relevantes; ii) falta de entrega da prestação tributária; iii) falta ou atraso de declarações; iv) falta ou atraso na apresentação ou exibição de documentos ou declarações tributárias e de comunicações; v) falsificação, viciação e 05
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