UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE MESTRADO EM LETRAS JÚLIA PACHECO RINALDI

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1 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE MESTRADO EM LETRAS JÚLIA PACHECO RINALDI HARRY POTTER ENTRE O ESPELHO LITERÁRIO E O CINEMATOGRÁFICO São Paulo 2017

2 JÚLIA PACHECO RINALDI HARRY POTTER ENTRE O ESPELHO LITERÁRIO E O CINEMATOGRÁFICO São Paulo

3 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE MESTRADO EM LETRAS JÚLIA PACHECO RINALDI HARRY POTTER ENTRE O ESPELHO LITERÁRIO E O CINEMATOGRÁFICO Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, para obtenção de título de Mestre em Letras. Orientador: Prof. Dr. Alexandre Huady Torres Guimarães São Paulo

4 R578h Rinaldi, Júlia Pacheco. Harry Potter entre o espelho literário e o cinematográfico / Júlia Pacheco Rinaldi São Paulo, f. : il. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, Referência bibliográfica: p Harry Potter. 2. Tradução intersemiótica. 3. Literatura infanto-juvenil. 4. Cinema. Título. CDD

5 JÚLIA PACHECO RINALDI HARRY POTTER ENTRE O ESPELHO LITERÁRIO E O CINEMATOGRÁFICO Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, para obtenção de título de Mestre em Letras. Banca Examinadora Prof a. Dr a. Regina Helena Pires de Brito Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) Prof. Dr. Marlon Luiz Clasen Muraro Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) Prof a. Dr a. Tatiana Cabral Couto Centro Universitário SENAC 5

6 Para uma mente bem estruturada, a morte é apenas uma aventura seguinte... disse J. K. Rowling, a autora que nos inspirou a realizar este trabalho. Professor Alê (porque senhor, nunca!) foi se aventurar, deixando seus monstrinhos (orientandos) órfãos, mas com parte de sua sabedoria para espalhar e para fazer do mundo um lugar melhor. Que seus novos mundos mágicos sejam repletos de montanhas-russas e #traçosdebeleza... 6

7 JÚLIA PACHECO RINALDI HARRY POTTER ENTRE O ESPELHO LITERÁRIO E O CINEMATOGRÁFICO Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, para obtenção de título de Mestre em Letras. Banca Examinadora Prof.Dr. Alexandre Huady Torres Guimarães- Orientador Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) Prof. Dr. Marlon Luiz Clasen Muraro Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) Prof a. Dr a. Tatiana Cabral Couto Centro Universitário SENAC 7

8 Ao Lucca, que possa se aventurar em muitos mundos mágicos. 8

9 AGRADECIMENTOS No filme Harry Potter e a Ordem da Fênix, após o protagonista enfrentar seu maior inimigo, ainda restam medos para derrotá-lo futuramente. Apesar disso, ele reflete: Apesar de termos uma batalha pela frente, temos algo que Voldemort não tem: algo pelo qual vale a pena lutar., referindo-se à família e aos amigos. A minha luta seria por todos os que me despertam a gratidão. Aos meus pais, Priscila e Celso, por me apoiarem e fornecerem tudo o que eu preciso. Vocês não medem esforços para me ver feliz e eu espero algum dia poder retribuí-los. Queria que vocês fossem eternos... Ao Duds, por todo carinho, apoio e incentivo no meio acadêmico, profissional e pessoal. Que a força esteja sempre com você (e conosco)... À minha irmã, Bárbara, e meu cunhado, Alexandre, que tantas vezes imergiram-se junto a mim em vários mundos mágicos e que também me deram um dos melhores presentes: a oportunidade de reviver a infância com o Lucca... À minha vó Lúcia, por todos os almoços e tardes gostosas que passamos nestes últimos anos e que me fazem tão bem... À minha vó Zezé, que hoje me acompanha de outro lugar, mas que sempre estará comigo onde eu for... Tatah e Kat, vocês são presentes lindos que o Mackenzie me deu, me apoiaram de forma surpreendente nesse percurso. Obrigada! À Jubs e Carol, companheiras que me ajudam a alcançar todas as metas... À Tati, Regiane, Sarah e Jéssica, pelo apoio desde o final da graduação... À Mari, Tales, Fê e todo o pessoal do mestrado, pelas incansáveis horas de compartilhamento de angústias, medos, vontades e conquistas... Aos membros de minha banca, professora Regina Helena Pires de Brito, professor Marlon Luiz Clasen Muraro e professora Tatiana Cabral Couto pela delicadeza em transmitir seus conselhos para um trabalho mais satisfatório. Por fim, ao meu orientador, professor Alexandre Huady, por ter aceitado, novamente, esta parceria que percorre mundos mágicos. 9

10 O espírito sem limites é o maior tesouro do homem. J. K. Rowling 10

11 Resumo O presente trabalho, centrado na área de pesquisa Língua, literatura e sociedade: discurso na comunicação, discurso religioso, discurso pedagógico, discurso político; tem como objeto de estudo a obra literária e a obra cinematográfica Harry Potter e a Ordem da Fênix, quinto volume da narrativa inicializada pela autora inglesa J.K. Rowling a partir da década de 1990 e que foi adaptada para o cinema a partir dos anos Para a realização da pesquisa foi selecionado um fragmento da obra literária, presente especificadamente no quinto volume da série, intitulado Harry Potter e a Ordem da Fênix, em que o jovem Harry tem que duelar contra o seu principal inimigo dentro de seu próprio corpo. Esta passagem possibilita compreender que a personagem passa por uma crise de identidade: Harry Potter recebeu quando bebê alguns poderes mágicos de seu inimigo quando este tentou matá-lo, e ao passar a conviver repentinamente com uma mistura de sentimentos bons (amor, amizade, coragem) e ruins (raiva, medo, insegurança) que oscilam rapidamente, acredita que Voldemort exerce de algum modo um controle sobre si. Harry Potter acredita que está pendendo para o mal, assim como aconteceu com seu inimigo, mas sabe que deve lutar para derrotar Voldemort e os Comensais da Morte e reestabelecer a paz no mundo bruxo. Desta forma, abordar-se-á também este momento no filme (intitulado pelo mesmo nome) buscando entender como a essência do fragmento literário foi transposta para linguagem audiovisual, utilizando, como base teórica principal, a Tradução Intersemiótica de Julio Plaza. Palavras-chave: Harry Potter, Tradução Intersemiótica, Literatura infanto-juvenil, cinema. 11

12 Abstract This development work focused on the research areas Language, Literature and Society: speech communication, religious discourse, pedagogical discourse, political discourse; has as its object of study the literary and cinematographic work Harry Potter and the Order of the Phoenix, the fifth volume of the narrative initialized by the British author J. K. Rowling from the 1990s and adapted for the cinema from the 2000s. To the research, it was selected a piece from the literary work, this specifically in the fifth volume of the series, entitled Harry Potter and the Order of the Phoenix, where the young Harry Potter has fight against your main enemy inside your own body. This passage makes it possible to understand that the character goes through an identity crisis: Harry Potter received when baby some magical powers from his enemy when he tried to kill him, and he suddenly lives with a mixture of good feelings (love, friendship, courage) and bad feelings (anger, fear, insecurity) that oscillates fast, and he believes that Voldemort, somehow, exerts control over them. Harry Potter believes he is leaning toward evil, as well as with your enemy, but knows he must fight to defeat Voldemort and the Death Eaters and restore peace in the wizarding world. In this way, it will be addressed also this point in the film (entitled by the same name) trying to understand how the essence of the literary fragment was transposed into the visual language, using as the main theoretical basis, the translation Intersemiotic by Julio Plaza. Keywords: Harry Potter, Intersemiotic translation, children's literature, cinema. 12

13 SUMÁRIO O menino que sobreviveu (Introdução) EXPRESSO DE HOGWARTS Harry Potter no mercado literário Infanto-juvenil Harry Potter no mercado literário BestSeller Capas da Ordem da Fênix A saga literária de Harry Potter PENSEIRA O feitiço do cinema Harry Potter no mercado cinematográfico A Ordem da Fênix no mercado cinematográfico Pôsteres da Ordem da Fênix TRANSFIGURAÇÃO A magia Um espelho literário no Largo Grimmauld, Um espelho audiovisual no Largo Grimmauld, Dentro do reflexo literário Dentro do reflexo audiovisual 123 Lumus (Considerações Finais) 132 Chapéu Seletor (Referências Bibliográficas) 141 Mapa do Maroto (Glossário) 148 Apêndice

14 O MENINO QUE SOBREVIVEU - Introdução [...] Sua mãozinha agarrou a carta ao lado mas ele continuou a dormir, sem saber que era especial, sem saber que era famoso, sem saber que iria acordar dentro de poucas horas com o grito da Sra. Dursley ao abrir a porta da frente para pôr as garrafas de leite do lado de fora, nem que passaria as próximas semanas levando cutucadas e beliscões do primo Duda... ele não podia saber que, neste mesmo instante, havia pessoas se reunindo em segredo em todo o país que erguiam os copos e diziam com vozes abafadas: - A Harry Potter: o menino que sobreviveu! (ROWLING, 1997, p. 20) 14

15 O Menino Que Sobreviveu Joanne Kathleen Rowling, ou J. K. Rowling, conforme assina suas obras; publicou o primeiro livro da série, Harry Potter e a Pedra Filosofal, em Tentou publicar a história do menino bruxo em doze editoras que recusaram o primeiro livro por afirmarem que, se publicado, seria um fracasso de vendas. Quando a editora Bloomsbury aceitou, lançou a primeira edição que foi considerada bastante pequena para os padrões de literatura vendida na Inglaterra, cerca de 500 exemplares. O livro popularizou-se e tornou-se um dos mais vendidos na época, o que contribuiu para que o sucesso da saga continuasse com o lançamento dos volumes seguintes em 1998, 1999 e no ano Mesmo depois do anúncio da adaptação para o cinema, a série literária foi continuada, tendo lançamento dos volumes seguintes em 2003, 2005 e Em 1999, Rowling vendeu os direitos para filmar o primeiro livro da série para a Warner Bros. Houve especulações sobre o formato que a série deveria ter ao ser adaptada para o cinema. A princípio seria em animação, porém em decisão conjunta com a escritora e produtores, escolheram um filme com atores e atrizes reais, apesar dos desafios que foram colocados no papel em vista aos diversos cenários, espaços e criaturas que deveriam ser apresentadas com a ajuda de efeitos especiais. O diretor Chris Columbus foi o escolhido para levar a história de Harry Potter aos cinemas, e dirigiu os dois primeiros longas, que foram lançados, respectivamente, em 2001 e Ainda em 2001, J. K. Rowling publicou outros dois livros que não fazem parte da sequencia da série, mas que são pertencentes ao mesmo universo relatado de Harry Potter. Os livros, Quadribol Através dos Séculos e Animais Fantásticos e Onde Habitam foram escritos em formato de livro didático: o primeiro traça uma leitura linear da história do Quadribol, esporte praticado pelos bruxos, e o segundo é montado como uma enciclopédia sobre os animais e criaturas mágicas desenvolvido por um bruxo estudioso. Em julho de 2007 o sétimo e último livro da série foi publicado. Este, quando adaptado para o cinema, foi dividido em duas partes, lançadas respectivamente em 15

16 2010 e Com o lançamento do último volume da saga, J. K. Rowling publicou um livro de contos chamado Os Contos de Beedle, o Bardo, mencionado em Harry Potter e as Relíquias da Morte como um livro destinado às crianças do universo bruxo. No ano 2008, a Warner Bros. Entertainment Inc. e a Universal Orlando Resort anunciaram em parceria a construção de um mundo dentro do parque temático Universal s Island of Adventure, que formou o chamado The Wizarding World of Harry Potter Hogsmeade, o qual foi inaugurado em 2010 e que reproduz o vilarejo próximo à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, também construído no local. Com a repercussão da inauguração e com o grande número de visitantes que o parque recebe, em 2014 houve uma ampliação do mundo de Harry Potter no complexo da Flórida, desta vez no segundo parque, o Universal Studios Flórida, e que deu origem ao The Wizarding World of Harry Potter Diagon Alley, uma reprodução do centro de compras frequentado pelos bruxos no mundo mágico descrito nos livros e que também aparece nos filmes. Hoje, além dos dois mundos localizados nos parques da Flórida, há também um mundo no parque da Universal Studios de Tokyo, no Japão, e em Los Angeles, Califórnia também nos Estados Unidos. Além disso, os Estúdios Leavesden em Londres, local de filmagem de grande parte dos filmes de Harry Potter, abriram suas portas para o público, expondo figurinos, permitindo que os visitantes percorram os cenários e tenham contato com o que era feito atrás das câmeras. Em 2009, com a afirmação da autora de que não publicaria mais livros da série, Rowling lançou o site interativo Pottermore, contendo, inclusive, conteúdos inéditos sobre personagens da série. Pottermore funcionou, de início, como uma espécie de jogo online que fazia a reconstrução dos passos do protagonista pelos livros. Tudo era salvo a partir de uma conta individual. Com esta, o usuário era selecionado para uma casa de Hogwarts e acumulava pontos no decorrer em que avançava nos episódios. Hoje Pottermore tem um caráter de plataforma de conteúdos e narrativas especiais inéditas sobre o mundo mágico criado por Rowling. Em 2015, a autora anunciou que faria uma oitava história de Harry Potter junto a dois roteiristas para que esta fosse lançada em forma de peça de teatro em Londres. 16

17 Já em 2016, ainda com muitos rumores sobre o enredo da peça, a autora anunciou que o roteiro seria publicado em forma de livro para todo o mundo. Em 31 de julho do mesmo ano, data de aniversário da autora e de seu protagonista fictício, Harry Potter and the Cursed Child (Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, traduzido pela editora brasileira responsável pela versão em português da série) estreou nos palcos londrinos e foi publicado. Os livros de Harry Potter foram traduzidos para 78 idiomas e são distribuídos por vários países do mundo. J. K. Rowling trabalha atualmente com conteúdos que são disponibilizados no Pottermore e também na continuação do roteiro para a adaptação para o cinema do livro publicado em 2001, Animais Fantásticos e Onde Habitam, que se transformará em cinco filmes ambientados no mesmo mundo mágico, tendo o primeiro estreado em novembro de Do ponto de vista do temático, Harry Potter aborda a questão da jornada do herói: não há a presença apenas de uma, mas de várias figuras heroicas que podem ser aproximadas aos heróis clássicos, mas também há uma fusão de temas contemporâneos, modernos, como a crise de identidade, o amadurecimento, a passagem para a vida adulta. O objetivo geral desta pesquisa visa compreender formas distintas de manifestações (literatura e cinema) de uma mesma narrativa e como esta trata as questões temáticas principais e sua relação com o público leitor e espectador. Para isso, o fragmento será apresentado em sua vertente literária (proveniente do livro) e em sua vertente audiovisual (da cena pertencente ao filme que adapta o momento literário). A passagem literária e o fragmento cinematográfico que a adapta são um exemplo, um recorte da manifestação dos temas de Harry Potter e que podem exemplificar como a saga acompanha o seu público leitor/espectador principal: os jovens em idade de formação. A referência principal para a produção desta pesquisa será buscada a partir das contribuições de Julio Plaza acerca da tradução intersemiótica, uma vez que a passagem entre as mídias a serem estudadas consiste na tradução entre linguagens distintas. 1 Uma linha do tempo demarcando os grandes acontecimentos da saga Harry Potter encontra-se em Apêndice neste trabalho acadêmico. 17

18 Releva-se a importância deste trabalho visando à importância cultural que as duas formas midiáticas exercem no mundo. A literatura e o cinema são duas manifestações de escrita, dois meios de comunicação que abordam linguagens diferentes e que sofreram transformações ao longo dos anos, e são muito presentes tanto como forma de apropriação cultural quanto como forma de entretenimento, não apenas no contexto brasileiro, mas também no mundial. Também justifica-se o fato da importância cultural do objeto de estudo, a saga Harry Potter, em vista a sua popularidade e recorrência até os dias de hoje: mesmo após o lançamento do último volume da série em 2007 e do último filme em 2011, ainda há procura pelo tema na internet, redes sociais e também nas livrarias e espectadores por programas de assinatura online para exibição de filmes e séries (tais como a rede Netflix). Além disso, a saga possibilita a geração de novos produtos e também a adaptação para outros meios. Assim, esta pesquisa poderá contribuir com os estudos destes temas recorrentes, bem como poderá apontar novas possibilidades de estudo para a série Harry Potter (uma vez que ainda é tratada com certo preconceito por seu conteúdo literário ser considerado inadequado por alguns estudiosos por ser considerado um Bestseller) e também por apresentar uma vertente nos estudos de processos de adaptação entre literatura e cinema, ampliando, assim, um novo estudo de comparação temática, sintática, semântica e interdisciplinar que contribuirá para a área de Letras em conjunto com as demais áreas. O primeiro capítulo deste trabalho intitula-se por Expresso de Hogwarts, meio de transporte da narrativa de J. K. Rowling que leva os estudantes para Hogwarts, assim sendo, uma porta de entrada para o mundo mágico. Nesta primeira parte trataremos Harry Potter enquanto obra literária e produto mercadológico e abordaremos em duas vertentes: literatura infanto-juvenil (em vista o conteúdo e o estilo que compõem a narrativa) e literatura Best-seller (por atender a regra que visa à alta produção para atender o consumo massificado). O capítulo trará, também, um breve estudo das capas dos livros do quinto volume, de onde o fragmento escolhido foi selecionado em suas edições precursoras americanas, publicada pela editora Scholastic, cuja mesma capa foi atribuída para a edição brasileira pela editora Rocco e com arte e ilustrações originais de Mary GrandPré e também de sua edição 18

19 britânica, publicada pela editora Bloomsbur com arte e ilustrações por Jason Cockcroft. Tal análise das capas foi realizada com a finalidade de identificar pontos relevantes que pudessem gerar alguma contribuição para a interpretação da parte final deste trabalho. O segundo capítulo tem por título a palavra Penseira, objeto mágico presente na narrativa de Rowling que funciona como um modo de reviver memórias do passado, mas sem alterá-las. O bruxo que utiliza a Penseira assiste a essas lembranças, como a um filme. Por esse motivo, essa segunda parte do trabalho também tratará de Harry Potter, porém enquanto obra fílmica e produto cinematográfico. Será traçado um histórico sobre o percurso do cinema, levando em consideração a necessidade do homem em fazer registros e colocar imagens em movimento desde os seus primórdios. Assim como na primeira parte, foi realizado estudo acerca das capas dos livros de Harry Potter e a Ordem da Fênix, aqui será também apresentado um breve estudo dos pôsteres do filme que o adapta, com a finalidade de gerar novas possibilidades de interpretações que pudessem ser acrescentadas ao final do trabalho. O terceiro capítulo intitula-se Transfiguração, disciplina escolar da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts que ensina a transformar objetos em outros. O conteúdo dessa terceira parte levanta questões sobre o processo de adaptação entre mídias distintas, ou seja, o processo de tradução intersemiótica, fundamentadas pelas contribuições de Julio Plaza, entre o fragmento escolhido e sua adaptação para o cinema, logo, compreenderemos sobre a transformação de um objeto (literatura) em outro (cinema). Para isso serão apresentadas duas análises, a do fragmento literário e a cena fílmica para, então, termos clareza para compreender o que ocorreu nessa passagem. Observaremos questões de transposição de tensões, da emoção, das temáticas existentes naquele momento da narrativa e que envolvem a saga Harry Potter de modo geral. Esta dissertação encerra-se com um capítulo conclusivo que tem por título Lumus, feitiço do mundo de Harry Potter que acende uma luz e que, simbolicamente, ilumina um novo conhecimento com o resultado desse trabalho. 19

20 Ao final deste trabalho encontramos um glossário com uma breve explicação dos principais nomes e termos utilizados aqui, retirados e utilizados nos livros da série Harry Potter. Além do glossário, está disponível em Apêndice alguns exemplos de planos de aulas que aplicam Harry Potter no ensino da educação básica brasileira. Por fim, depois de todo o percurso de Harry Potter, desde a primeira frase que fora escrita por Rowling na mesa de um café londrino até os produtos que, até hoje, são lançados e também das adaptações realizadas, o legado da jornada do menino bruxo prevalece. Na história de J.K. Rowling, o personagem Harry Potter é conhecido no círculo bruxo como o menino que sobreviveu, uma vez que escapou da morte do mais temível entre os bruxos, Voldemort, graças ao amor de sua mãe, assassinada pelo Lord das Trevas. No mundo trouxa (termo utilizados pelas personagens bruxas da série que se referem a pessoas não dotadas de poderes mágicos), Harry Potter também passou e passa por testes de sobrevivência: desde a recusa das editoras que Rowling procurou inicialmente para publicar sua obra, a permanência da audiência dos espectadores com o lançamentos dos novos filmes, a passagem entre uma geração e outra com o avançar dos anos (pais que leram os livros passaram os mesmos aos seus filhos e o mesmo vale para os filmes) etc. Devido a estes e outros dados, Harry Potter é o menino que sobreviveu em vários mundos, mas podemos dizer que também é o menino que sobrevive. 20

21 1. EXPRESSO DE HOGWARTS Olá, querido. É a primeira vez que vai a Hogwarts? O Rony é novo também. Ela apontou o último filho, o mais moço. Era alto, magro e desengonçado, com sardas, mãos e pés grandes e um nariz comprido. É respondeu Harry, A coisa é, a coisa é que não sei como... Como chegar à plataforma? disse ela com bondade, e Harry concordou com a cabeça. Não se preocupe. Basta caminhar diretamente para a barreira entre as plataformas nove e dez. Não pare e não tenha medo de bater nela, isto é muito importante. Melhor fazer isso meio correndo se estiver nervoso. Vá, vá antes de Rony. Hum... Ok. E Harry virou o carrinho e encarou a barreira. Parecia muito sólida. Ele começou a andar em direção a ela. As pessoas a caminho das plataformas nove e dez o empurravam. Harry apressou o passo. Ia bater direto no coletor de bilhetes e então ia se complicar, curvandose para o caminho ele desatou a correr, a barreira estava cada vez mais próxima. Não poderia parar, o carrinho estava descontrolado, ele estava a um passo de distância, fechou os olhos se preparando para a colisão.. E ela não aconteceu... Ele continuou correndo. Abriu os olhos. Uma locomotiva vermelha a vapor estava parada à plataforma apinhada de gente. Um letreiro no alto informava Expresso de Hogwarts 11 horas. Harry olhou para trás e viu um arco de ferro forjado no lugar onde estivera o coletor de bilhetes com os dizeres Plataforma 9 e ½. Conseguira. (ROWLING, 2000, p. 84) 21

22 1.1 Harry Potter no mercado literário Infanto-juvenil Antes de compreendermos Harry Potter no cenário de literatura infanto-juvenil, ressaltamos uma breve história do livro e da leitura que vem sido percorrida há aproximadamente seis mil anos, desde os primórdios da necessidade do homem em realizar registros com a ajuda de vários instrumentos e diferentes materiais. Esses registros permitiram a difusão de culturas, experiências etc. Alguns destes tipos de registros foram feitos em tijolos de barro, pelos sumérios, os indianos em folhas de palmeiras, os povos maias e astecas utilizavam madeira e casca de árvores, os romanos tábuas de madeira. Um dos materiais mais interessantes e que teve origem do antigo Egito, perto do ano 2200 a.c. é o papiro, considerado uma tecnologia avançada para a época. Era feito de fibras unidas que formavam uma superfície lisa e resistente, retiradas próximas ao rio Nilo. Essas fibras poderiam gerar rolos com muitos metros de comprimento. Do nome em latim deu-se o nome papel para a era atual. Conforme a tecnologia avançava, novos materiais foram sendo descobertos que contribuíam para a finalidade de realizar registros. O pergaminho foi um tipo desses materiais que se assemelhavam às características do papiro. O pergaminho, feito de pele de carneiro, permitiu que várias páginas pudessem ser juntadas, formando uma espécie de livro. Apesar da semelhança do papiro com o papel, o que conhecemos como o nosso papel atualmente teve origem na China no início do século II. A matéria-prima era fibra retirada de cascas de algumas árvores misturada com água. Essa mistura, já semelhante a uma pasta era despejada em um recipiente com uma superfície lisa e quando seca formava o material semelhante ao papel que temos hoje. Atualmente o papel ainda é considerado o principal suporte para registros de culturas, experiências, informações, conhecimento e atividade humana. Dados históricos revelam que próximo ao ano de 1150 que os árabes foram os primeiros a instalarem fábricas de papel, após o período de invasão da Península Ibérica. Com a 22

23 expansão do uso desse material quando o comércio europeu o tornou público, houve grande interesse em utilizá-lo para divulgação literária. Gutenberg deu um grande passo ao inventar a tipografia, ou seja, o processo de impressão de caracteres. Tal descoberta foi o marco da Idade Moderna e partir dali o mundo não seria mais o mesmo. Segundo registros, o primeiro exemplar impresso foi feito em 1442 e desde então novos exemplares foram aparecendo, inclusive com a fundação de uma Werk der Buchei, fábrica de livros a partir de tradução livre do alemão. Dentre as produções podemos citar a famosa Bíblia de Gutenberg. Já no século XIX a matéria-prima principal do papel já passava por processos químicos e passou a ser feito de uma pasta de madeira formando a celulose, o que tornou seu custo mais barato e mais acessível. Com isso, o acesso a informação tornou-se mais amplo. O uso do papel predominava e ainda predomina com a impressão de livros e também de jornais. Em relação à leitura como hábito e como experiência, o Instituto Pró-livro realizou em 2011 a 3ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2 levantou os dados acerca do seguinte perfil da população: 52% pertencentes ao sexo feminino e 48% ao sexo masculino entre os quais 25% com idade entre 05 a 17 anos, 13% entre 18 a 24, 9% entre 25 a 29, 16% entre 30 a 39, 14% entre 40 a 49, 18% entre 50 a 69 e 5% dos 70 anos ou mais. Nesse perfil, 2% pertenciam a Classe A, 23% pertencia a Classe B, 51% a Classe C e 24% as Classes D e E. A Pesquisa de 2011 traz em seu levantamento que neste perfil, 58% consideram-se leitores frequentes. É interessante ressaltar a informação que a pesquisa levantou de que no Brasil o número de leitores é maior ao número de não-leitores entre os 5 aos 24 anos e de que a média de livros lidos por todos os entrevistados (considerando livros didáticos, religiosos, literatura e outros) é de 4,0 livros por habitante/ano. O tipo de livro * mais lido visando o total dos entrevistados é a Bíblia, seguido por livros didáticos e romances. Livros infantis estão na sexta posição, citado por 22% do total dos entrevistados e livros juvenis na 13ª posição, citado por 11%. Vale 2 Única pesquisa, em âmbito nacional, que tem por objetivo avaliar o comportamento leitor do brasileiro. É uma contribuição do mercado editorial brasileiro que estimula reflexões, decisões e intervenções para o incentivo da leitura e melhorar os indicadores atuais. Tornou-se referência ao tratar do comportamento leitor no país, desde seu lançamento em 2001 e, desde então deve outras duas edições, em 2007 e em

24 ressaltar que com base nas porcentagens de leitores nas faixas etárias entre 05 a 10 anos, 66% citaram os livros infantis, 34% entre 11 a 13 anos, 11% entre 14 e 17 e 10% entre 18 e 24 anos. 11% das crianças entre 05 a 10 anos citaram livros juvenis, 28% entre 11 e 13, 26% entre 14 e 17 anos e 7% entre 18 e 24 anos. A Pesquisa levantou ainda o nome do último livro lido pelos entrevistados até então, e a saga Harry Potter é citada na 10ª posição entre os livros citados: Imagem 1: Harry Potter citado como último livro lido na Pesquisa do Instituto Pró-livro de Disponível em: Acesso em Entre os últimos livros lidos pelos entrevistados também encontramos outros grandes BestSellers, como os livros da saga Crepúsculo (Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer), A Cabana, A Menina que Roubava Livros, Marley & Eu. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil levantou ainda de seus entrevistados qual foi o livro mais marcante de suas vidas, conforme consta a tabela abaixo. A saga 24

25 Harry Potter é citada em 8º lugar como livro mais marcante dentre um total de 844 livros citados na pesquisa: Imagem 2: Harry Potter como livro mais marcante entre os entrevistados na Pesquisa do Instituto Pró-livro de Disponível em: Acesso em Aqui, trataremos de Harry Potter a partir de um ponto de vista amplo do conceito literário. Sob essa ótica, aprofundar-nos-emos na série literária em duas vertentes mercadológicas, nas quais as obras de J. K. Rowling podem ser encaixadas, a saber: no mercado literário infanto-juvenil e no mercado BestSeller. A primeira vertente será relacionada ao conteúdo que aborda e ao público-alvo da série, já pela segunda vertente serão levados em consideração os aspectos de vendas, popularização e massificação que Harry Potter ganhou ao longo do tempo. Nesta primeira parte vislumbraremos a primeira vertente em que encaixamos a série Harry Potter, a de pertencente ao mercado literário infanto-juvenil. Essa vertente é tratada por Ceccantini (2004, p. 20) como um tipo de literatura cujas fronteiras são 25

26 muito nebulosas [...] e seu público principal, a criança-leitora, é igualmente escorregadio, justamente pela complexidade que está em seu bojo. Primeiramente, quando pensamos em literatura, logo remetemo-nos ao termo e sua definição. Hunt articula o seguinte pensamento: Para muitos leitores, não está claro que é difícil especificar se um texto é ou não literatura apenas por observá-lo. É mais importante o valor que se atribui a ele do que as características que possui. [...] É o contexto cultural que determina a classificação. (HUNT, 2010, p. 84) Essa discussão acerca do termo é muito presente no meio acadêmico para que seja compreendido o que de fato é o objeto de estudo de muitas linhas de pesquisa. Há levantamentos sobre o que deve ser ressaltado ao apontar que determinada obra possa ser considerada literatura, entre eles o período histórico em que ela está inserida, sua estilística, sua funcionalidade. Vale ressaltar, também, que muitos conteúdos podem não ser produzidos com a finalidade de ser literatura, mas que passam a se tornar com o decorrer do tempo como, por exemplo, as epístolas. Ainda sobre o assunto, Lajolo (2001) ressalta: [...] é cada um no silêncio ou na algazarra de suas leituras, que torna literários alguns textos com que se encontra na vida. Às vezes o gesto individual coincide com o gesto oficial de literarizar um texto. Outras vezes não coincide. E cada um que decida a qual gesto se o próprio, se o alheio vai ser fiel e solidário! (LAJOLO, 2001, p. 48). Com esse levantamento sobre literatura surge outra questão: Harry Potter é ou não literatura? Desde o início das primeiras publicações de J. K. Rowling do universo Harry Potter essa dúvida é presente nos meios acadêmicos, em particular da área de Letras. Recentemente, a autora Ruth Rocha realizou uma declaração em sua conta em uma rede social apontando que a série Harry Potter não é literatura. 26

27 Imagem 3: Declaração da autora Ruth Rocha alegando que Harry Potter não é literatura. Matéria divulgada pela Veja São Paulo em abril de Disponível em: Acesso em A declaração da autora repercutiu e gerou discussão entre fãs da série de Rowling. Ao alegar que a saga é modismo, Ruth Rocha remete a diversas outras sagas que trilharam um percurso semelhante a Harry Potter. As sagas Crepúsculo, Jogos Vorazes, Divergente, Percy Jackson, entre outras, foram também publicadas anteriormente à propostas de adaptação para o cinema, e seus filmes geraram lucros exorbitantes e as vendas dos livros, consequentemente cresceram sob o ponto de vista das vendagens. Ainda acerca da literatura, Guimarães nos permite refletir ainda: Assim sendo, a literatura, que da mesma forma pode ser um termo utilizado para fazer referência a um conjunto de textos (esse fato 27

28 pode ser observado em exemplos como literatura brasileira, literatura jurídica, literatura médica), não pode ser aprisionada e não pode aprisionar o leitor, deixando de lado o sabor da leitura em prol de um conjunto de fórmulas e definições. (GUIMARÃES, 2012, p. 38) A saga de J. K. Rowling está inserida em um momento histórico (final do século XX e início do século XXI), possui características próprias em sua escrita e o tema que é proposto pode ser aproximado aos temas de C. S. Lewis, J. R. R. Tolkien também autores do século XX se levarmos em conta que em suas obras os espaços são diferenciados do mundo real, personagens não são meros seres humanos, há a presença de criaturas, objetos e particularidades individualmente inseridos naquele mundo criado, entre outras características, o que pode compreender um conjunto de textos de mesmas características. O sabor da leitura dito por Guimarães remete ao desfruto do ato de ler, de se identificar com o tema, da reflexão gerada que pode ser levada para além das páginas, para a vida do indivíduo. Hunt discute sobre o valor que atribuímos a uma obra, além de suas características. Harry Potter foi capaz de atingir diversos meios como o audiovisual (cinema, games) o presencial (construção de diferentes mundos em parques temáticos, criação e comercialização de produtos originados na obra literária), o teatro (lançamento em julho de 2016 da peça que será a continuação da narrativa), além de que fora capaz de expandir também pelo meio literário: J. K. Rowling publicou outros três livros que seriam pertencentes ao mundo de Harry Potter Animais Fantásticos e Onde Habitam, Os Contos de Beedle, o Bardo e Quadribol Através dos Séculos e outras publicações sobre a saga provenientes de diversos autores também foram lançadas um livro de cartas, escritas por fãs, destinadas ao menino bruxo, livros sobre a adaptação para os filmes que contam o processo de realização de um filme com temas fantásticos etc. Estes diversos meios atingidos atribuem um valor cultural a Harry Potter, pois a série foi capaz de fazer com que pessoas de todas as idades, mesmo não sendo o público-alvo da série, saibam quem é o personagem, o que ele é (um menino que é bruxo), o que confere, também, um valor histórico à saga pelo impacto que teve em quase duas décadas de publicação. Outro valor que pode ser atribuído à saga de Rowling é o educacional, pois o gosto e interesse pelas versões cinematográficas, 28

29 games e experiência no mundo do parque temático levaram muitos jovens a querer conhecer o produto que originou aquela narrativa assistida, vista e sentida, logo, o texto original de J. K. Rowling. São fatos como os levantados anteriormente que deveriam ser levados em consideração quando o paradigma, de preconceito para com a literatura infantil é levado em consideração quando falam que a mesma não é literatura. Hunt (2010, p. 69) traz um pensamento que permite refletir a respeito: [...] a premissa tácita de que, se é literatura, não pode ser para criança, e o paradoxo de que a literatura deve ser a melhor, mas as crianças não podem tê-la. Deve ser levado em consideração o público para as quais as obras compreendidas como literatura infantil ou infanto-juvenil são destinadas e deve-se ressaltar que são obras escritas por adultos, que já têm um controle maior dos valores morais que serão transpostos para o público, uma vez que deve ser respeitado o controle dos valores e compreensão dos mesmos visando cada estágio do crescimento: Na maioria das vezes, podemos dizer que, em estágios diferentes, as crianças terão atitudes variadas em relação à morte, ao medo, ao sexo, a perspectivas, ao egocentrismo, à casualidade etc. Serão mais abertas ao pensamento radical e aos modos de entender os textos, serão mais flexíveis [...]. (HUNT, 2010, p ) Além dos estágios que nos dizem respeito à idade, há também a questão de compreensão de mundo que o público terá, dentre outras razões, também pela época em que vivem. É importante compreender que, por exemplo, as crianças ou os jovens do século XX são diferentes das crianças e jovens do século XXI por motivos culturais, históricos, sociais, econômicos, dentre outros. A criança que leu alguma obra do Sítio do Picapau Amarelo na segunda metade do século XX tinha uma perspectiva de mundo diferente da que uma criança que lê a mesma obra hoje, com a mesma idade. Da mesma forma, as crianças e os jovens de hoje estão lendo Harry Potter e interpretando com os recursos que possuem individualmente, que serão diferentes do público de mesma idade nos próximos anos. Sobre o assunto, Guimarães nos permite a reflexão: 29

30 Precisa-se pensar que a literatura sofre mudanças no correr de sua história. Da mesma maneira que o homem mudou com o passar do tempo, a literatura, produto desse homem, também sofreu alterações. (GUIMARÃES, 2012, p. 36). Acerca da reflexão que questiona se Harry Potter é ou não literatura, devemos lembrar os principais motivos pelos quais a saga é criticada, dentre eles a sua entrada para o que chamamos de cultura pop. Com a adaptação dos livros para o cinema, criação de games, construção de brinquedos e mundos em parques temáticos, a série Harry Potter tornou-se cada vez mais popular, cada vez mais visível ao público e, com isso, mais pessoas passaram a conhecer e admirar. O acesso aos conteúdos também se tornou mais fácil e rápido com o avanço da tecnologia (hoje em dia além da leitura por meios físicos também há a possibilidade de e-books dando acesso por plataformas digitais e até mesmo por smartphones). Tal categorização passou a gerar cada vez mais lucro à franquia que se tornou uma das sagas mais rentáveis de todos os tempos. Por trás de todo o lucro gerado por Harry Potter relembramos o que podemos aproximar do conceito literatura já mencionado anteriormente: a inserção em um período histórico, uma linguagem própria que mostra as características da narrativa e uma linguagem apropriada para o público-alvo. Devemos ressaltar também outros pontos que aproximam Harry Potter à literatura. A saga possui conteúdo que dialoga com o gênero épico, ou seja, notamos a presença de um herói com seus ideais que passa por diversas provações e desafios e que também enfrenta o seu destino e luta por uma nação em comum. O conteúdo narrativo também dialoga com questões modernas como a questão da crise de identidade. Dessa forma dialógica com demais gêneros literários. A saga Harry Potter possui um caráter inovador tratando de temas recorrentes permitindo, inclusive, discussões relevantes. Tal construção narrativa atraiu pessoas de várias faixas etárias, principalmente os jovens, uma vez que o protagonista e seus colegas também têm esta idade. Por atrair os jovens, a saga Harry Potter pode ser a porta de entrada ou um estímulo para o cultivo do gosto da leitura. Por estes motivos defendemos a ideia de que a saga Harry Potter encaixa-se na vertente literária por ter alcançado patamares surpreendentes e por possuir o seu 30

31 valor cultural. Do ponto de vista do conteúdo, o mesmo tange textos clássicos à vertentes modernas, o que chama seu público leitor de características modernas à assuntos e temas épicos. Hunt (2010, p. 109) diz sobre a compreensão do sentido do texto que os leitores mais jovens geram: [...] devemos considerar também a intertextualidade, ou seja, o que se passa entre textos. [...] O que encontramos num texto depende de como o lemos [...]. A criança de hoje poderá ter um conhecimento enciclopédico também mais avançado por conta da disseminação de informação e pela facilidade de ter acesso a estas com a colaboração de recursos como televisão, internet etc. Com essa reflexão, vale ressaltar novamente que uma mesma obra promoverá uma interação diferente com seus leitores de acordo com a época vivida no presente, no conhecimento de mundo e no contexto singular de cada um, o que dá um caráter imediato ao livro infantil: E o imediato tende a ser efêmero e interagir com a cultura imediata (HUNT, 2010, p. 96). Para compreender, por fim, a vertente infanto-juvenil de Harry Potter, podemos levar em consideração o seu conteúdo quando Hunt (2010, p. 116) afirma O público implícito em literatura infantil é um público em desenvolvimento. O protagonista da série também está em desenvolvimento: ao decorrer dos sete livros ele passa por uma série de descobertas descobre o seu mundo e descobre a si mesmo, procura se conhecer como menino emocionalmente e fisicamente, está passando por uma transição e também como bruxo se ele é um bruxo bom ou das trevas, busca compreender seus limites, enfrentar seus medos, enfrentar o novo, estabelece objetivos, entre outras características que traçam a trajetória de uma pessoa em desenvolvimento. Além disso, Harry Potter passa pelo enfrentamento escolar, encontra novos colegas com quem deve se relacionar (e, eventualmente deverá escolher aqueles que também não deverá estabelecer confiança), apresenta facilidades e dificuldades em disciplinas escolares, ao final da série passa pela reflexão de qual carreira deverá seguir, tem envolvimentos amorosos, entre outros acontecimentos. Os colegas de Harry Potter permitem a identificação de vários paradigmas que configuram as diferentes crianças e jovens: a menina estudiosa, o amigo engraçado, 31

32 ou mesmo os deslocados e diferentes como Neville e Luna, e outros característicos. Tais fatos enfrentados e relatados durante a saga de Rowling permitem interação e identificação de seu leitor. Crianças e jovens passam a questionar quem são, passando, inclusive, por uma crise de identidade, são apresentados a novos meios, novas pessoas, novas experiências e no primeiro momento podem levantar o questionamento de saber se aquilo é bom ou ruim, se é o bem ou o mal, assim como Harry Potter, eles querem compreender a si mesmos, começam a levantar que suas escolhas refletirão em seu futuro, em sua própria conduta. Assim, podemos afirmar que a saga Harry Potter contribui para o seguinte sentido, conforme o ressaltado por Hunt (2010, p. 85): [...] o livro será usado não para acolher ou modificar nossas opiniões, mas para formar as opiniões da criança. Por todos os enfrentamentos acometidos na série e os valores que a narrativa transmite, especialmente o bem contra o mal, o leitor em desenvolvimento poderá identificar-se com o conteúdo, com as personagens, promovendo uma leitura agradável, prazerosa e estimulante até mesmo no sentido de imaginação, por apresentar um mundo diferente. 32

33 1.2 Harry Potter no mercado literário BestSeller Devemos ressaltar de início, novamente, de que J. K. Rowling teve sua história recusada por diversas editoras antes de ser aceita pela Bloomsbury. O primeiro livro popularizou-se e tornou-se um dos mais vendidos na época, o que contribuiu para que o sucesso da saga continuasse com o lançamento dos volumes seguintes em 1998, 1999 e no ano Mesmo depois do anúncio da adaptação para o cinema, a série literária foi continuada tendo lançamento dos volumes seguintes em 2003, 2005 e Em termos atuais, nota-se que a saga Harry Potter mantém-se em rankings de livros mais vendidos, nove anos após o lançamento do último volume da série. Em março de 2016, o último volume, Harry Potter e as Relíquias da Morte, ocupou, segundo o site ranker.com 3, ocupava a 21ª posição na lista de Best Selling Books of All Time (livros mais vendidos de todos os tempos), liderados por clássicos de Charles Dickens, Tolkien e Agatha Christie. Ressalta-se que livros religiosos como a Bíblia e o Alcorão não foram acrescentados. 3 Plataforma online que disponibiliza listas organizadas em grupos ou individuais e também por meio de votações. Muitas das listas disponíveis no site são baseadas em vertentes de economia, mas também há listas desenvolvidas com conteúdo de entretenimento. 33

34 Imagem 4: Harry Potter and the Deathly Hallows na 21 a posição na lista de Livros Mais Vendidos de Todos os Tempos. Disponível em: Acesso em Outro recorde curioso do último livro da série foi registrado no Guinnes World Records. Em 21 de julho de 2007, data do lançamento do último volume no hemisfério norte, Reino Unido e Estados Unidos, países do idioma original da escritora, fora registrada o maior número de vendas de um título em apenas 24 horas, dando, assim, a Harry Potter and the Deathly Hallows o título de Fastest Selling Book of Fiction in 24 hours, livro de ficção mais vendido em 24 horas, tendo arrecadado um valor de U$ ,00. 34

35 Imagem 5: Recorde atribuído ao livro Harry Potter and the Deathly Hallowsem julho de 2007 como livro de ficção mais vendido em 24 horas. Disponível em: Acesso em O mesmo site que trouxe o último volume de Harry Potter como um dos livros mais vendidos de todos os tempos também propôs um ranking das séries literárias de categoria infantil e infanto-juvenil mais vendidas até hoje. Nesta, a série de J. K. Rowling aparece em destaque na primeira posição. Imagem 6: A série Harry Potter de J.K.Rowling no topo do ranking de séries de livros mais vendidas. Disponível em: Acesso em

36 A Amazon, empresa americana transnacional de vendas de produtos online atualiza diariamente em sua página inicial os destaques dos principais itens que são vendidos em cada departamento da loja. No departamento de vendas de livros de literatura infantil ou infanto-juvenil, Harry Potter mantém o destaque nos diversos volumes da série como Best Sellers (melhor vendidos), especialmente no formato Kindle, plataforma desenvolvida pela própria empresa para leitura de livros em formato digital (e-readres). Nos serviços da Amazon, o consumidor pode avaliar o produto de acordo com a sua experiência com o mesmo, avaliando com o critério de atribuição de estrelas as suas preferências. Os livros da série de Rowling recebem, também, boa avaliação por seus consumidores, levando em consideração as estrelas concedidas pelos mesmos. Imagem 7: O primeiro livro da saga Harry Potter na terceira posição no ranking de vendas do site Amazon. Harry Potter and the Cursed Child, livro que adapta a peça inspirada no universo da saga lançado em Julho de 2016 aparece na segunda posição como pré-venda em Maio de Disponível em: Acesso em

37 Imagem 8: Terceiro volume da série Harry Potter classificado na sexta posição, segundo volume em sétima posição e o quarto volume classificado em nono no ranking da Amazon. em: Acesso em Imagem 9: Quinto e sétimo volumes da saga Harry Potter nas respectivas décima e décima segunda posição no ranking da Amazon. Disponível em: Acesso em

38 Imagem 10: Sexto livro da saga Harry Potter na 17ª posição no ranking da Amazon. Disponível em: Acesso em Nesta mesma lista da Amazon, nota-se o destaque para Harry Potter and The Cursed Child. Em 2015, foi anunciada a elaboração de uma peça teatral que contaria, novamente, uma narrativa que se passaria no mesmo mundo de Harry Potter, cujo roteiro também está sendo montado por J. K. Rowling em parceria com Jack Thorne e será dirigida por John Tiffany. Muito foi especulado acerca do conteúdo da peça em questão até que em outubro de 2015 quando foi revelado que a peça será passada a partir do final de Harry Potter e as Relíquias da Morte, ou seja, com o protagonista já adulto e com seus filhos em idade escolar (fonte: Acesso em ). A estreia da peça e o lançamento do roteiro em forma de livro foram em 31de julho de 2016 na cidade de Londres e a exibição é dividida em duas partes. Quando, em fevereiro de 2016, J. K. Rowling revelou no site Pottermore que a peça também seria transposta em forma de livro (roteiro da peça), as pré-vendas iniciaram-se no site Amazon e também no Waterstone, atingindo a liderança de vendas cinco meses antes do lançamento. 38

39 Imagem 11: Cartaz oficial da peça Harry Potter and the Cursed Child divulgado inicialmente pelo site Pottermore. Disponível em: Acesso em Em fevereiro de 2016, a Folha de São Paulo, em sua plataforma online, revelou a informação atualizada de que os livros de Harry Potter atingiram cerca de 450 milhões de exemplares vendidos pelo mundo nas 78 línguas para as quais foi traduzida (fonte: Acesso em ). Em vista da importância da saga Harry Potter frente ao mercado de livros, podemos encaixar a série literária também como um BestSeller. Fisher (2005, p. 276) nos traz a seguinte constatação: "o livro moderno pode ser considerado, de fato, a mercadoria global definitiva, uma moeda.". Harry Potter foi capaz de atingir maior disponibilidade de comunicação global, sua distribuição foi massificada, capaz de ser acessível por ser traduzida para diversos idiomas, com a divulgação feita por diversas estratégias de marketing que foram contribuídas, dentre outros motivos, pela presença da narrativa no meio cinematográfico. Com a adaptação para os cinemas, a saga de livros de J. K. Rowling conseguiu uma captação de público mais ampla do que os frequentadores habituais de livrarias. A 39

40 recepção do público pelos filmes permitiu que as livrarias mundiais dedicassem grandes espaços em seus estabelecimentos à obra literária, conforme aponta o mesmo autor (2005, p. 191): para uma produção em massa de páginas de papel impressas, [...] objetivo era ter lucro, aumentando a produção com criatividade, a fim de maximizar as vendas.. As estratégias de marketing nas vendas dos livros, bem como o incentivo proveniente das adaptações cinematográficas e até mesmo pelo interesse do conteúdo da narrativa contribuiu para que os jovens começassem a cultivar o interesse por leitura, consequentemente por literatura e por cinema. Podemos dizer, então, que esta vertente literária, a de Best-sellers, contribuiu, no caso de Harry Potter e contribui até hoje também para a formação de novos leitores que, posteriormente, poderão tornar-se, ou se tornarão leitores críticos, capazes de ler e compreender o mundo, e Paulo Freire (1995, p. 11) reflete a importância de leitores críticos na sociedade: a leitura crítica de mundo precede a leitura da palavra, pois linguagem e realidade se ligam dinamicamente. 40

41 1.3 Capas da Ordem da Fênix As capas dos livros permitem aos leitores uma infinita possibilidade de interpretação do texto em si, sendo elas, segundo Genette (2009) paratextos editoriais que são diversos elementos que acompanham o texto. Alguns desses elementos são verbais, como títulos e subtítulos, nome do autor, comentários da crítica, ou também podem ser elementos não-verbais, como ilustrações, formas distribuídas, conjunto de cores etc. Essas capas apresentam signos e estes, ali presentes, não têm a finalidade de delimitar o universo descrito na narrativa, ou seja, os signos componentes na capa não definem o objeto, conforme nos sugere: Defino um signo como qualquer coisa que, de um lado, é assim determinada por um objeto e de outro, assim determina uma ideia na mente de uma pessoa, esta última determinação, que denomino o interpretante do signo, é, desse modo, mediatamente determinada por aquele objeto. Um signo assim tem relação triádica com seu objeto e com seu interpretante. (PEIRCE, 1987, p. 07) Segundo os estudos de Powers (2008) que mostram as transformações que as capas foram sofrendo ao longo dos séculos, nota-se o gosto dos leitores pela ideia da estética da capa, os compradores passaram a atribuir uma preferência sobre esta questão. Isso foi notado, ao passo em que a literatura foi atingindo novos leitores e novas vertentes, também com o público infantil. Segundo o autor (2008, p. 12), os livros para crianças haviam apontado o caminho para um tratamento decorativo da capa e, com isso, as capas, mesmo para os adultos, passaram a projetos mais elaborados, ademais, capas de livros, além de protejê-los, são atrativos comerciais que chamam a atenção dos leitores e compradores. Lindnen fala sobre o que a capa de um livro pode influenciar na leitura: 41

42 [a capa] constitui antes de mais nada um dos espaços determinantes em que se estabelece o pacto da leitura. Ela transmite informações que permitem apreender o tipo de discurso, o estilo de ilustração, o gênero... situando assim o leitor numa certa expectativa. (LINDEN 2011, p. 57) As capas de nosso objeto de estudo, Harry Potter e a Ordem da Fênix, podem ser consideradas como recurso de compreensão do texto de J. K. Rowling e não como uma retratação concreta e exata do mesmo. No caso das edições de Harry Potter, cada uma segue um padrão que fornece uma identidade visual ao conjunto dos sete livros que compõem a saga que vão de encontro a edição que pertencem. Mesclam uma combinação de elementos textuais, como o título do livro, e elementos não verbais, imagéticos, como gravuras, ilustrações etc. As capas das principais edições destacam-se a seguir: Imagem 12: Primeira edição americana do quinto volume da série Harry Potter, lançada em Disponível em: Acesso em

43 Imagem 13: Primeira edição britânica infanto-juvenil do quinto volume da série Harry Potter, lançada em Disponível em: Acesso em Imagem 14: Primeira edição britânica para adultos do quinto volume da série Harry Potter, lançada em Disponível em: Acesso em

44 Imagem 15: Edição especial americana do quinto volume da série Harry Potter, lançada em 2013 em celebração aos 15 anos do lançamento do primeiro livro da saga (cada volume ganhou uma nova capa). Disponível em: Acesso em Imagem 16: Edição especial para várias partes do mundo do quinto volume da série Harry Potter, lançada em 2013 junto com os demais volumes da saga. Disponível em: Acesso em

45 Imagem 17: Edição limitada conhecida como a Signature Edition feita para várias partes do mundo do quinto volume da série Harry Potter, lançada em 2012 junto com os demais volumes da saga. Disponível em: Acesso em Ressaltando o fato de que as capas são paratextos, ou seja, acompanham o texto (a narrativa de J. K. Rowling), estas também precisam acompanhar o público-alvo para o qual a obra será dedicada. Desse modo há a projeção de capas diferentes que dialoguem com seus leitores. Foram escolhidas três capas para o levantamento de uma breve análise, todas as incluídas são primeiras edições do quinto volume da série Harry Potter, ou seja, capas precursoras, que vieram antes mesmo de haver a adaptação para o filme, publicadas em Primeira edição americana de Harry Potter e a Ordem da Fênix (Imagem 12) As capas das edições americanas são as mesmas quando publicadas no Brasil. A identidade visual com os demais livros da série de edição mantém-se: título ao topo e centralizado, fonte do título ilustra um formato de raio, significando a cicatriz de 45

46 Harry Potter que tem a mesma forma, subtítulo que acompanha os elementos visuais que compõem a capa. Uma ilustração do protagonista, também padrão da edição americana, incide-se ao centro. Harry Potter é representado não como se estivesse de costas, mas como num movimento em que estaria virando para verificar alguma coisa, semelhante a uma posição de defesa. Do plano do olhar, o leitor está um pouco acima de Harry Potter. O fato de o menino estar em posição de defesa também o deixa menor. A cena em questão retratada na capa é o momento em que Ninfadora Tonks, Alastor Moody e Remo Lupin, estes dois últimos ex-professores de Defesa Contra as Artes das Trevas dos anos letivos anteriores, regatam Harry Potter na casa dos tios Dursleys, narrado no capítulo 3 do livro. A cor azul predomina na capa e seus tons variam do claro para o escuro dependendo do foco e da incidência de luz no ambiente retratado. A cor azul remete a noite, que logo tange a ideia de escuridão. Na narrativa da saga Harry Potter a escuridão está associada ao mal. Harry Potter, na capa, está rodeado pelas trevas, porém há pontos de iluminação ocasionados por velas, sendo que estas estão no primeiro plano da ilustração. As velas estão em tons mais claros (por apresentarem mais luz ), bem como a face esquerda do garoto que está virada para as mesmas. As áreas mais escuras ganham um tom mais sombrio, contribuindo, inclusive, para o ar de mistério que a capa ocasiona. Vale ressaltar que algumas das velas estão deformadas, podendo remeter ao movimento em que o garoto está fazendo ao olhar para trás em posição de defesa (no momento, os professores estão abrindo a porta de maneira cuidadosa do quarto e o garoto percebe). Levando em consideração o fato de que a cor azul remete a escuridão, logo, ao mal na saga Harry Potter, os pontos de luz podem ser chamas de esperança em meio às trevas, remetendo também aos professores, que dão luz, saberia ao garoto e que estão se fazendo presentes na cena em questão e no decorrer da narrativa. 46

47 Primeira edição britânica infanto-juvenil do quinto volume da série Harry Potter (Imagem 13) Como é uma edição cujo público alvo é o infantil e juvenil há um forte apelo visual promovido pelas ilustrações e pelas cores fortes. Diferente da edição americana, o protagonista não está representado na capa. A primeira edição infanto-juvenil e apresenta o predomínio de cores quentes e vibrantes, especialmente o amarelo, laranja e o vermelho, ou seja, cores que remetem de imediato ao fogo. Rousseau (2002) exprime que a cor vermelha remete de fato ao fogo que inspira, purifica e regenera, logo, há uma associação com a ave mitológica fênix. A ilustração central mostra uma fênix, ave que quando chega a hora de morrer pega fogo e depois renasce das próprias cinzas. Na parte inferior da capa, é ilustrado o fogo. A presença da fênix retratada aqui remete de imediato ao título do livro, que traz o nome Ordem da Fênix, e trata-se de uma organização de bruxos e bruxas que se uniram no passado para combater Lord Voldemort. Com o decorrer da leitura da narrativa, acompanha-se que a Ordem da Fênix está disposta a voltar a lutar, já que o Lord das Trevas retornou. A fênix, aqui, pode remeter a essa volta da organização de bruxos, a volta da luta contra o mal, podendo simbolizar o bem que renasce das cinzas quando morreu no passado, que se ascende como um fogo para trazer o bem de volta à nação bruxa. Primeira edição britânica para adultos do quinto volume da série Harry Potter (Imagem 14) O que difere a edição adulta da edição infanto-juvenil é a capa, o conteúdo da narrativa é exatamente o mesmo para ambos os públicos. A versão adulta dos livros tem como público alvo pessoas mais velhas. As capas dos livros são apresentadas de forma mais sóbria, sem cores fortes e chamativas, os tons mais escuros são predominantes, os objetos apresentados dão ar de seriedade. 47

48 A capa do quinto volume da série Harry Potter em sua edição britânica para adultos também segue os padrões identitários da edição: elementos textuais na parte superior, fundo com tons oscilantes de preto a cinza escuros e um único objeto central que tenha relação com o conteúdo da narrativa de cada volume. Conforme citado, o fundo é escuro e assemelha-se a nuvens de chuva prestes a uma grande tempestade. Na narrativa de Harry Potter, quando os bruxos das traves conjuram a Marca Negra, sinal de que Voldemort precisa de seus seguidores, nuvens de tempestades como a representada na capa são formadas. As nuvens e os tons de cores utilizados, que contribuem para um ar de seriedade, remetem ao mal existente no mundo de Harry Potter. Podemos levar em consideração a mesma interpretação proposta para a edição britânica para crianças, com o adendo de que a fênix quebra o fundo de nuvens de tempestade, podendo estas ter sido provocadas pelos seguidores de Lord Voldemort, e, então, aqui a fênix também faria sobressair a questão do bem contra o mal, que mesmo sob uma tempestade forte provocada pelo mal, a fênix renasce das próprias cinzas, o bem é forte e luta por sua sobrevivência. Em ambos os casos das edições infanto-juvenil e adulta de Harry Potter e a Ordem da Fênix, o mundo, representado pela noite, pela escuridão, pelas nuvens de tempestade têm uma quebra do mal pelas chamas da fênix, que é a parte da força do bem renascendo. 48

49 1.4 A saga literária de Harry Potter A série literária é composta por sete livros que narram a história de Harry Potter, menino órfão que mora com os tios que o maltratam. Em seu aniversario de onze anos, descobre que é bruxo e é convidado a estudar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Logo, depara com fatos sobre seu passado e descobre que é conhecido entre os bruxos como o menino que sobreviveu: [...] Sua mãozinha agarrou a carta ao lado mas ele continuou a dormir, sem saber que era especial, sem saber que era famoso, sem saber que iria acordar dentro de poucas horas com o grito da Sra. Dursley ao abrir a porta da frente para pôr as garrafas de leite do lado de fora, nem que passaria as próximas semanas levando cutucadas e beliscões do primo Duda... ele não podia saber que, neste mesmo instante, havia pessoas se reunindo em segredo em todo o país que erguiam os copos e diziam com vozes abafadas: - A Harry Potter: o menino que sobreviveu! (ROWLING, 1997, p. 20) Harry Potter descobre a real causa da morte de seus pais e que ele também sofreu uma tentativa de assassinato pelo mesmo bruxo, Voldemort. O garoto, ao longo dos anos que estuda em Hogwarts (cada ano escolar é relatado em um livro), passa e enfrenta desafios que o fazem lutar por sua vida, pela vida de seus amigos e pela nação bruxa de modo geral. Confronta com o seu inimigo de várias maneiras, mesmo o bruxo tendo assumido outras formas para ser enfrentado. No primeiro livro, Harry Potter e a Pedra Filosofal, o garoto descobre que Hogwarts guarda um objeto mágico, a pedra filosofal, que é capaz de imortalizar as pessoas que bebem o elixir que ela produz. Harry Potter e os colegas descobrem que uma parte de Voldemort, que o garoto descobre posteriormente, ocupa o corpo de um de seus professores, deseja arduamente este objeto para tornar-se imortal. O trio de amigos consegue ultrapassar os desafios postos por Dumbledore para chegar à pedra filosofal e Harry Potter duela com seu inimigo para que o mesmo não conseguisse o objeto. Além do duelo, Harry Potter enfrenta o desafio da tentação, 49

50 Voldemort promete que, se conseguir a pedra filosofal, faria com que os pais do garoto voltassem a vida. Em Harry Potter e a Câmara Secreta o garoto retorna para a escola após receber a visita de um elfo doméstico que pediu incansavelmente para que não voltasse a Hogwarts. Chegando lá, Harry Potter, os colegas e professores recebem uma ameaça de uma frase escrita na parede com sangue, a qual se referia aos nascidos trouxas (2000, p. 122): A CÂMARA DOS SEGREDOS FOI ABERTA. INIMIGOS DO HERDEIRO, CUIDADO.. Com o passar do ano, as ameaças foram tornando-se frequentes e alunos nascidos trouxas eram petrificados misteriosamente, incluindo Hermione Granger. Harry Potter descobre que a Câmara Secreta abriga um basilisco, criatura que está petrificando os alunos nascidos trouxa sob comando do Herdeiro de Sonserina. O garoto e Ron Weasley descobrem a entrada para a câmara, a qual descobriram graças a descoberta de que Harry Potter conseguia falar a língua das cobras, poder herdado de Voldemort na noite em que o mesmo tentou matá-lo e que assassinou seus pais. Na Câmara dos Secreta o garoto descobre que o tal Herdeiro de Sonserina é Voldemort, uma parte dele, uma memória, havia retornado, com a ajuda de um diário. Harry Potter luta com o basilisco e destrói o diário, destruindo também essa memória que permitia o retorno de seu inimigo. No terceiro livro, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, o garoto é alertado pela fuga de um bruxo da prisão de Azkaban, Sirius Black. Durante o ano letivo, Harry Potter é alertado a tomar cuidado com o bruxo e também para não procurá-lo, sem saber exatamente o porquê. Harry Potter descobre que Black é seu padrinho e que fora ele quem contou a Voldemort, no passado, o local em que Lilian e James Potter estavam escondidos. Harry Potter desejou, então, encontrar-se com Sirius Black para vingança. Em uma determinada noite o garoto e seus colegas são levados a Casa dos Gritos, local onde está Sirius Black. Na mesma noite, o então professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, Remo Lupin, juntamente com Sirius Black contam ao menino o que realmente aconteceu, que na verdade fora Peter Pettigrew que contou ao Lord das Trevas o esconderijo dos pais de Harry Potter e que, assim, ele quem traiua a confiança dos Potter. Com a verdade revelada, Harry Potter ajuda Sirius Black a fugir, para que não retornasse a prisão de Azkaban, porém Pettigrew consegue escapar. 50

51 Em Harry Potter e o Cálice de Fogo há uma ameaça na Copa Mundial de Quadribol: comensais da morte atacaram o local e a Marca Negra, marca de Voldemort, fora invocada, sinalizando o retorno do Lord das Trevas. Em Hogwarts, a escola sedia uma edição do Torneio Tribruxo, competição entre jovens estudantes maiores de 17 anos, com isso, Hogwarts recebe outros alunos de outras duas escolas. O torneiro gira em torno de três campeões, um de cada escola, com três competições diferentes que testam suas forças e habilidades mágicas. Harry Potter, porém, é sorteado para participar do Torneiro Tribruxo. Em uma das competições, Harry Potter e Cedrico Diggory, aluno de Hogwarts também competidor, acabam parando em um cemitério, o qual Harry Potter já havia sonhado várias vezes anteriormente. Lá, Petter Pettigrew realiza um ritual que resulta no ressurgimento de Voldemort. Cedrico Diggory, ao tentar ajudar Harry Potter, acaba sendo assassinado. Com a volta do Lord das Trevas e dos Comensais da Morte, o garoto decide enfrentá-lo apesar de todos os seus medos. Harry Potter tem, finamente, a consciência de que tem maturidade de enfrentar seu inimigo, se defender e lutar pelo que acredita. Harry continuou agachado atrás da lápide e percebeu que chegara ao seu fim. Não havia esperança... nenhuma ajuda de ninguém. Quando ouviu Voldemort chegar ainda mais perto, ele soube apenas uma coisa que transcendeu o medo e a razão ele não ia morrer agachado ali como uma criança brincando de esconde-esconde, não ia morrer ajoelhado aos pés de Voldemort... ia morrer de pé como seu pai, e ia morrer tentando se defender, mesmo que não houvesse defesa alguma possível... (ROWLING, 2001, p. 526). Neste momento ocorre o Priori Incantatem, Harry Potter consegue enxergar as ultimas pessoas que Voldemort matou, incluindo seus pais e Cedrico Diggory. O quinto volume da série começa em meados do mês de agosto de 1995, enquanto Harry Potter ainda está passando as férias de verão na casa dos seus tios em Little Whinging. Em um determinado dia, acaba desconfiando de que seu primo Duddley está envolvido com alguns outros garotos de má conduta e eles acabam tendo um rápido enfrentamento verbal. Aqui há um primeiro momento de fúria da parte de Harry Potter, que o toma quase que involuntariamente, devido às maldades ditas por 51

52 Duddley a respeito de sua família e de seus amigos e, por conta disso, ameaça seu primo com sua varinha: - Eu ouvi você à noite passada disse Duda sem fôlego Falando durante o sono. Gemendo. - Como assim? repetiu Harry, mas com uma sensação de frio e afundamento no estômago. Tornara a visitar o cemitério em sonhos, na noite anterior. Duda soltou uma gargalhada rouca, depois fez uma voz de falsete e lamúria. - Não matem Cedrico! Não matem Cedrico! Quem é Cedrico... seu namorado? - Eu... você está mentindo contestou Harry maquinalmente. Mas sua boca secara. Sabia que o primo não estava mentindo. De que outra forma poderia saber o nome de Cedrico? - Papai! Me ajude, papai! Ele vai me matar, papai! Buuuu! - Cala a boca disse Harry em voz baixa. Cala a boca, Duda, estou te avisando! - Vem me ajudar, papai! Mamãe, vem me ajudar! Ele matou Cedrico! Papai, me ajude! Ele vai... Não aponta essa coisa pra mim! Duda recuou contra a parede da travessa. Harry estava apontando a varinha diretamente para o seu coração. Ele sentia catorze anos de ódio ao primo palpitarem em suas veias [...]. - Nunca mais volte a falar nisso rosnou Harry. Está me entendendo? - Aponte essa coisa para outro lado! - Eu perguntei, você me entendeu? - Aponte isso para outro lado! - VOCÊ ME ENTENDEU? (ROWLING, 2003, p. 18). Momentaneamente, o tempo quente de verão sofre uma alteração e Harry Potter e Duddley são atacados por Dementadores. Harry Potter, no entanto, consegue repelir as criaturas com um feitiço, salvando a si e a Duddley. Com a realização do ocorrido, ao tentar proteger a si e a seu primo, Harry Potter infringi uma das leis bruxas mais severas de que é proibido realizar magia na presença de um trouxa, ou seja, de quem não é bruxo (sendo este, Duddley) e sofre uma expulsão da Escola 52

53 de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Porém, Harry é convidado a se apresentar perante um tribunal no Ministério da Magia, que irá analisar a situação. Assim, alguns de seus antigos professores buscam-no na casa dos seus tios e transferemno para o Largo Grimmauld número 12, a sede da Ordem da Fênix. A Ordem da Fênix é uma sociedade secreta que fora organizada por Dumbledore no momento de ascensão de Lord Voldemort na Primeira Guerra Bruxa e reunia grandes bruxos e bruxas com o intuito de juntar forças para derrotar o Lord Voldemort. A Ordem da Fênix reunia-se quando necessário no endereço em Londres no passado, e depois da volta do Lord das Trevas no último desafio do Torneio Tribruxo e com a morte de Cedrico Diggory, os bruxos voltaram a reuniremse. Segundo o Guia completo do saga Harry Potter por Grossi, a fênix é uma ave com características que merecem destaque: [...] capaz de viver muito e muitos anos graças a uma característica especial: ela se regenera. Seu corpo pega fogo e renasce das cinzas. [...] suas lágrimas têm [...] poder curativo e que seu canto aumenta a coragem daqueles que são puros de coração. Quando alguém em perigo dá uma prova de lealdade ao dono da uma fênix, [...] ela virá em seu auxílio. (GROSSI, 2005, p. 56) Além de Dumbledore, fundador da Ordem da Fênix possuir uma fênix chamada Fawkes, a qual, inclusive, ajudou a salvar Harry Potter em seu segundo ano letivo na Câmara Secreta, podemos interpretar o nome da associação secreta como uma referência ao ato de renascer, ou seja, a sociedade fora criada para reestabelecer um bem à nação bruxa fazer o bem renascer das cinzas devido à situação de morte, fazer o mal curar-se. Ademais, os bruxos associados à Ordem da Fênix são puros de coração, visam esse bem e o reestabelecimento da paz na nação bruxa. Ao chegar à sede, Harry Potter encontra Rony e Hermione, que revelam que souberam de reuniões da associação durante as férias em segredo. Harry Potter, então, tem mais um momento de ira. 53

54 - ENTÃO VOCÊS NÃO TÊM PARTICIPADO DAS REUNIÕES, GRANDE COISA! ESTIVERAM AQUI O TEMPO TODO, NÃO FOI? ESTIVERAM JUNTOS O TEMPO TODO! AGORA, EU, FIQUEI ENCALHADO NA RUA DOS ALFENEIROS O MÊS INTEIRO! E JÁ RESOLVI MUITO MAIS DO QUE VOCÊS JAMAIS CONSEGUIRAM E DUMBLEDORE SABE DISSO QUEM SALVOU A PEDRA FILOSOFAL? QUEM SE LIVROU DE RIDDLE? QUEM SALVOU A PELE DE VOCÊS DOIS DOS DEMENTADORES? Cada pensamento amargurado e cheio de rancor que Harry tivera no último mês foi saindo de dentro dele: sua frustração com a falta de notícias, a mágoa de que todos tinham estado juntos sem ele, sua fúria por estar sendo seguido e ninguém lhe informar todos os sentimentos de que sentia uma certa vergonha extravasaram. [...] - QUEM FOI QUE TEVE QUE PASSAR POR DRAGÕES E ESFINGES E OUTRAS COISAS REPUGNANTES ANO PASSADO? QUEM VIU ELE VOLTAR? QUEM TEVE QUE ESCAPAR DELE? EU! Rony ficou ali parado, com o queixo meio caído, visivelmente chocado e sem saber o que responder, enquanto Hermione parecia à beira das lágrimas. - MAS POR QUE EU DEVERIA SABER O QUE ESTÁ ACONTECENDO? POR QUE ALGUEM SE DARIA O TRABALHO DE ME DIZER O QUE ANDOU ACONTECENDO? - Harry, nós queríamos lhe dizer, nós realmente queríamos começou Hermione. - NÃO PODEM TER QUERIDO TANTO ASSIM, PODEM, OU TERIAM ME MANDADO UMA CORUJA, MAS DUMBLEDORE FEZ VOCÊS JURAREM... - Fez mesmo... - DURANTE QUATRO SEMANAS EU FIQUEI ENTALADO NA RUA DOS ALFENEIROS, PESCANDO JORNAIS NAS LIXEIRAS PARA TENTAR DESCOBRIR O QUE ESTAVA ACONTECENDO... - Nós queríamos... - SUPONHO QUE VOCÊS TÊM SE DIVERTIDO PARA VALER, NÃO TÊM, ESCONDIDOS AQUI JUNTOS... (ROWLING, 2003, p ) O narrador, neste momento, descreve que os pensamentos de Harry são amargurados, cheio de rancor e frustrantes. Logo, os demais membros da Ordem da Fênix resolvem contar a Harry Potter que acreditam que Voldemort está reunindo forças, um exercito para conquistar algo que necessita. 54

55 Após sua audiência no Ministério da Magia que acabou permitindo que Harry Potter não entregasse sua varinha (ou seja, não seria expulso de Hogwarts) com a contribuição de Dumbledore que defendeu o garoto, mas o evitou em tribunal, Harry Potter retorna ao quinto ano letivo na Escola. Lá, descobre que alguns de seus colegas não acreditam na sua versão, no seu ponto de vista de que Voldemort, de fato, retornou e, inclusive, tem uma reação de raiva ao discutir com Simas, que afirma que quase fora impedido de voltar para o ano escolar por falta de segurança, devido à história que foi divulgada pelo jornal O Profeta Diário, jornal mais popular do mundo bruxo, não proceder com o que realmente ocorreu: o jornal defende que Voldemort não retornou, que a morte do garoto Diggory fora um acidente e que Dumbledore não está em seu perfeito juízo). A nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, Dolores Umbridge, que esteve presente em seu julgamento no Ministério da Magia e votara contra Harry Potter ser livre de todas as acusações, também defende firme o lado de que Lord Voldemort não retornou. Harry Potter, em sua aula, assume a posição querendo defender fortemente seu lado, chegando a demonstrar raiva da dúvida da professora. Com o decorrer do ano letivo, a professora Umbridge instaura regras severas aos estudantes de Hogwarts, suas aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas não envolviam prática, apenas teoria, e seus atos na escola estavam sendo supervisados pelo Ministério da Magia. Parte dos estudantes fica insatisfeita com a conduta da professora e decidem se unir a um grupo organizado por Rony Weasley e Hermione Granger para que pudessem treinar feitiços e preparar-se para uma possível luta futura com o inimigo. Os amigos pedem para Harry Potter comandar o grupo, já que apresenta facilidade para realizar feitiços e por ter experiência contra as artes das trevas. O garoto concorda, apesar de ainda se demonstrar irritado com alguns colegas que não acreditam nele, e assim é formada a Armada de Dumbledore. Após um tempo, Harry Potter teve um sonho em que atacava um homem no chão com muita agressividade: 55

56 O sonho mudou. Ele sentiu seu corpo liso, forte, flexível. Estava deslizando entre barras de metal brilhante, pela pedra fria e escura... colado no chão, deslizando de barriga... estava escuro... contudo podia ver objetos à sua volta que refulgiam em cores estranhas e vibrantes... ele estava virando a cabeça... ao primeiro relance via um corredor vazio... mas não...havia um homem sentado no chão mais adiante, o queixo caído sobre o peito, seu contorno brilhando no escuro... Harry estirou a língua... provou o cheiro do homem no ar... estava vivo, mas atordoado... sentado à porta no fim do corredor... Harry sentia vontade de morder o homem... mas precisava controlar o impulso... tinha coisa mais importante pra fazer... O homem estava se mexendo... uma capa prateada caiu de suas pernas quando ele se pôs em pé; e Harry viu seu contorno vibrante e difuso elevar-se acima de sua cabeça, viu-o tirar uma varinha do cinto... não teve escolha... recuou ganhando altura do chão e atacouo uma vez, duas, três, enterrando suas presas na carne do homem, sentindo as costelas se partirem sob suas mandíbulas, sentindo o sangue jorrar quente... O homem gritou de dor... depois se calou... tombou de costas contra a parede... o sangue manchou o chão... Sua cicatriz doía horrivelmente... parecia que ia se romper... - Harry! HARRY! Ele abriu os olhos. (ROWLING, 2003, p ) Toda a violência que provocou ao homem, que identificou como Arthur Weasley, pai de seu amigo Rony Weasley, fê-lo sangrar e sofrer. Posteriormente, Harry concluiu que ele realizara o ataque em Arthur Weasley na forma de uma cobra. Harry Potter insistiu ao dizer que o ocorrido não fora meramente um pesadelo, mas que fora real. Assim, Dumbledore descobriu que o pai de seu amigo realmente sofrera um ataque e que seria levado a um hospital. Tal episódio gerou uma reflexão pelos membros da Ordem da Fênix, pois Harry Potter não estava vendo o ataque, vendo a cobra, ele estaria realizando o ataque e ele era a cobra, assim, poderia estar sendo possuído por Lord Voldemort. Após retornar a Hogwarts, Harry Potter é indicado a realizar um procedimento chamado Oclumência, que funcionaria como um treino para aprender a evitar que Voldemort entrasse em sua mente. Nestas aulas, Snape penetraria por meio de um feitiço nas memórias de Harry Potter e o garoto teria de tentar combater este ataque. 56

57 Em uma das reuniões da Armada de Dumbledore, a professora Umbridge descobre a organização estudantil após a aluna Marieta Edgecombe delatar o grupo. A professora, então, ordena uma sentença de prisão a Dumbledore, pois acredita que ele está conspirando contra ela. Harry Potter tenta, ainda assim, resolver o assunto, porém Dumbledore insiste em deixar Hogwarts para que os alunos não sofressem a culpa. Dessa forma, Dolores Umbridge assume a direção da escola. Em um dado momento, Harry Potter está realizando um exame institucional e adormece, tendo mais uma visão. Nesta, vê Sirius Black no Ministério da Magia sendo ameaçado por Voldemort, exige que Black entregue algo a ele e o força com uma maldição da tortura. Hermione Granger, a princípio, acredita que o inimigo manipulou a visão de Harry Potter, mas o garoto insiste em ter que fazer algo. Após tentar escapar de Hogwarts e ser pego pela professora Umbridge, Hermione Granger bola um plano que os levam para a Floresta Proibida, onde o irmão de Hagrid, o gigante Grope ajuda para que fossem liberados para sair de Hogwarts enquanto a professora estava sob custódia de centauros. Assim, escapam com testrálios para Londres rumo ao Ministério da Magia, onde, supostamente, Sirius Black estaria. Ao chegar ao Ministério da Magia, Harry Potter e os colegas que foram junto dirigem-se ao Departamento de Mistérios e entram na Sala das Profecias. Lá, encontra uma esfera de vidro, uma profecia, com o seu nome. Nesse momento, Comensais da Morte surgem na sala e exigem que Harry Potter entregue a profecia. O grupo que está com o garoto luta bravamente contra os seguidores de Voldemort, porém a esfera pertencente a profecia de Harry Potter se quebra. Junto ao grupo de alunos também está Sirius Black, que surgiu para tentar resgatar os garotos. Harry Potter, então, ao tentar encaminhar seus colegas para um local onde estivessem a salvo, vê que a bruxa Bellatrix Lestrange, ao estar lutando com Sirius Black, atinge-o com a maldição da morte. Em seguida, Dumbledore chega ao local e Voldemort aparece. Os dois bruxos instauram um duelo violento por meio de feitiços e produção de armadilhas um contra o outro, Dumbledore o fez para defender Harry Potter, e Voldemort desejaria, assim, conquistar a profecia retirada da Sala das Profecias e também atingir o garoto. Infeliz no duelo, Voldemort desaparece. 57

58 Logo após, Harry Potter sente sua cicatriz estourar como nunca antes, a dor é imensurável, sente como se uma criatura o estivesse envolvendo como se fossem um só e, naquele momento, sentiu como se Voldemort estivesse em si próprio. Desejou arduamente morrer para cessar aquela dor. Aquele sofrimento passou ao ver uma imagem de Sirius Black em sua mente. Após esse ocorrido, o ministro da magia chega ao local e se espanta ao ver Dumbledore e Harry Potter extremamente abatido. Fica impressionado ao constatar que ali estava o Lord das Trevas, uma vez que defendia a versão de que o mesmo não havia retornado. Após retornar a Hogwarts, Harry Potter junta-se a Dumbledore para compreender o ocorrido. O garoto demonstra muita raiva, estava angustiado e abalado com a morte de seu padrinho, queria que aquilo tudo acabasse. Dumbledore, então, revela a Harry Potter o que continha na profecia que fora perdida: a única pessoa que poderia derrotar Voldemort seria um menino nascido no fim do mês de julho de dezesseis anos anteriores, cujos pais teriam lutado contra o bruxo anteriormente. Dessa forma, haveria, assim, duas opções: Harry Potter ou Neville Longbottom, porém Dumbledore acreditou que Harry Potter fora o escolhido pela marca de violência deixada no garoto, sua cicatriz em forma de raio, que seria um ligamento entre os dois. No final, a profecia dizia que um teria de matar ao outro para sobreviver: Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês... e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece... e um dos dois deverá morrer na mão do outro, pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar.... (ROWLING, 2003, p. 679) Neste quinto volume de Harry Potter, notamos que o garoto está passando por uma fase de autoconhecimento: ele passa por fases do crescimento, como ter que refletir sobre sua futura carreira profissional, ter que se dedicar aos estudos para atingir um bom nível nos exames, ter o primeiro envolvimento amoroso com uma garota da escola. Além disso, este autoconhecimento também está na forma com que Harry 58

59 Potter olha para si mesmo, pois compreende que ele também possui as características de Voldemort. Nota-se, também, que neste volume da saga, Harry Potter demonstra-se com ira em vários momentos, podendo ainda ser ressaltada como uma característica peculiar que também apresenta seu inimigo. Em parte destes momentos em que sente raiva, esta parece ser sentida de forma incontrolável, involuntariamente. No texto de J. K. Rowling, esses momentos de ira são demarcados, inclusive, por letras maiúsculas. Tais acontecimentos permitem compreender que Harry Potter está passando por uma crise de identidade, pois está debatendo contra si mesmo as transformações pelas quais está passando, ele deseja compreender o que está acontecendo, ele não sabe mais quem é. Suas características estão em transformação, ele descobre coisas e fatos novos que comprometem o seu eu. 59

60 2. PENSEIRA Isso? Chama-se Penseira, às vezes eu acho, e tenho certeza de que você conhece a sensação, que simplesmente há pensamentos e lembranças demais enchendo minha cabeça. Hum fez Harry, que não podia realmente dizer que já tivesse sentido nada igual. Nessas ocasiões continuou Dumbledore indicando a bacia de pedra uso a Penseira. Escoo o excesso de pensamentos da mente, despejo-os na bacia e examino-os com vagar. Assim fica mais fácil identificar padrões e ligações, compreende, quando estão sob esta forma. O senhor quer dizer... que isso aí são os seus pensamentos? disse Harry, olhando a substância branca que redemoinhava na bacia. Sem dúvida. Deixe-me mostrar. (ROWLING, 2001, p. 475). 60

61 2.1 O feitiço do cinema O primeiro filme da série Harry Potter foi lançado em 2001, mais de um século após os primeiros passos que desenvolveram a linguagem cinematográfica do modo que o conhecemos hoje em dia. Aqui nos é importante compreender este percurso pelo qual o cinema passou até o contexto atual, em que a série cinematográfica de Rowling foi inserida. O cinema vivenciou várias mudanças desde as primeiras ideias de que o poderia vir a se tornar e continua, atualmente, em transformações constantes. Vale ressaltar, entretanto, que a origem do cinema deu-se por conta de importantes passos de descobertas e necessidades do homem em séculos anteriores. Precedente aos inventos modernos do homem para o registro de imagens e movimentos, o homem primitivo tinha a necessidade de fazer seus registros cotidianos, porém com uma limitação de recursos ou instrumentos que pudessem auxiliar o homem para realizá-lo. Na pré-história, o homem utilizava as paredes de grutas e cavernas para realizar seus registros. Apesar de serem elementos muito simples, com pouca diversidade de cores, formas, detalhes, é possível identificar, na grande maioria, figuras de animais e de pessoas. Muito ainda é questionado a respeito da significação destes elementos, mas acredita-se que essas gravuras e pinturas rupestres representam a cultura dos homens daquela época, as atividades que realizavam em seus cotidianos, como a caça, rituais etc. Esses registros de ações de movimentos era possível graças à configuração das imagens distribuídas nas paredes com a luz e sombras dentro das cavernas. Aqui há a primeira necessidade de o homem gravar algo, ainda que somente pelo uso de imagens. A respeito, Wachtel reflete: os artistas do Paleolítico tinham os instrumentos do pintor, mas olhos e a mente do cineasta. Nas entranhas da terra, eles construíam 61

62 imagens que parecem se mover, imagens que 'cortavam' para outras imagens ou dissolviam-se em outras imagens, ou ainda podiam desaparecer e reaparecer. (1993, p. 140). Posteriormente, as pinturas do antigo Egito ganhavam formas por esculturas e ilustrações bidimensionais. Os traços dos desenhos eram mais bem definidos, havia diversidade nas cores e formas, os elementos apresentavam simetria. As pinturas, distribuídas em espaços arquitetônicos importantes para aquela civilização, tinham o caráter simbólico, remetendo ao plano místico da pós-morte. Com a mesma necessidade de gravar eventos e atividades cotidianas e culturais, outros povos também deixaram seus registros, cada qual com suas características e peculiaridades. Assim, o povo antigo que habitou a ilha grega de Creta deixou para a humanidade um grande sítio arqueológico com diversos afrescos, ou seja, gravuras em gesso, nas paredes, que apresentavam uma antiga civilização em atividades com animais. Outro registro antigo que merece destaque é a Tapeçaria de Bayeux, que mostra não apenas um evento específico, mas um episódio da Normandia do século XI. As imagens no grande tapete narram o período histórico da Batalha de Hastings, que cravou uma luta pelo poder entre o exército franco-normando de Guilherme II e o exército inglês do rei Haroldo II. A tapeçaria não apenas ilustra o episódio da batalha, mas o seu prelúdio e prólogo. 62

63 Imagem 18: Visitantes no Musée de la Tapisserie de Bayeux, onde a Tapeçaria de Bayeux se encontra na Normandia. Nota-se a disposição das imagens na tapeçaria como uma narrativa. Disponível em: Acesso em Imagem 19: Extrato da Tapeçaria de Bayeux. Disponível em: jpg. Acesso em Se compararmos a parâmetros atuais, a Tapeçaria de Bayeux aproxima-se ao que conhecemos como storyboard no cinema, um conjunto de cenas que compõem uma narrativa por meio de uma sequência de imagens, geralmente utilizadas para prévisualizar um filme. A seguir temos um fragmento do storyboard original, ainda em 63

64 fase de desenho, do quinto filme da saga Harry Potter, ilustrando a primeira cena do longa: Imagem 20: Modelo de storyboard da primeira cena do filme Harry Potter e a Ordem da Fênix. Disponível em: Acesso em É importante ressaltar, novamente, a necessidade que o homem tinha (e mantém até hoje) de registrar a realidade, ou seja, o cotidiano, a cultura e para fins de entretenimento e que, com o passar dos anos, os recursos e instrumentos para realizar estes registros sofreram alterações, porque a necessidade do homem foi ficando maior, ainda mais com a procura de não realizar registros e formas narrativas totalmente estáticas, mas com movimentos e dinamicidade. Carrière traz uma reflexão que nos permite compreender um dos propósitos do cinema: 64

65 Inicialmente, o que surpreendia as pessoas quanto ao cinema era a capacidade deste de reproduzir a realidade. [...] No cinema, tudo parece simples. Para descrever, basta fazer a câmera funcionar. Mas para descrever o quê? A realidade? Uma imagem achatada da realidade? [...] Na qual a realidade é peneirada por uma rede de palavras, não é mais densa, profunda e, afinal, mais palpável, do que uma vagarosa panorâmica sobre os objetos? (2014, p. 170) Compreendendo o cinema como uma forma de representação da realidade, logo entendemos que essa é uma forma de registro da realidade, e uma manifestação e/ou representação artística, que o homem desenvolveu com a ajuda de recursos, máquinas especiais que foram sendo descobertas e incrementadas com a evolução da tecnologia de cada época. Estes recursos podem ser apontados mesmo na época pré-cinema, conforme explicita Machado: A história da invenção técnica do cinema não abrange apenas pesquisas científicas de laboratório ou investimentos na área industrial, mas também um universo mais exótico, onde se incluem ainda o mediunismo, a fantasmagoria ([...] projeções[...]), várias modalidades de espetáculos de massa, os fabricantes de brinquedos e adornos de mesa [...] (1997, p. 15). Um dos fundamentos mais antigos que podemos compreender como precursor do cinema dá-se com a antiga cultura oriental de jogo de sombras, tratando-se de projeções sobre as paredes que consistiam de recortes manipulados, postos em oposição a um foco de luz, como uma lamparina ou fogueira. As pessoas que geralmente conduziam, propunham algum tipo de narrativa que acompanhasse as figuras projetadas. Na mesma ideia de projeção sobre superfície que no século XV Leonardo da Vinci idealizou o desenvolvimento da caverna de Platão em Câmara Escura, porém foi Della Posta, no século seguinte, que divulgou estes princípios. Segundo A República de Platão, o mito da caverna é baseado na captação da existência do mundo sensível e do mundo conhecido pela razão. Nesta, homens nascidos prisioneiros 65

66 veem projeções das paredes das cavernas em que moram geradas a partir de uma fogueira e com estas sombras acabam por gerar e refletir sobre situações. Lo Duca articula a questão da caverna de Platão na história do cinema salientando também o teatro de sombras: [...] a caverna de Platão em câmara escura Platão descreve perfeitamente uma sala de projeção de sombras chinesas. Surgiu até que reduzisse a um buraquinho a abertura em seu antro [...] Platão, desenvolvendo seu fundo da caverna, teria obtido um filme gigantesco. (LO DUCA, 1949, p. 06) A Câmara Escura consistia de uma caixa com uma abertura circular pequena coberta por uma lente. Por esta abertura passava-se os raios produzidos por objetos exteriores. Dentro dessa câmara, assim, eram projetadas as imagens invertidas na realidade. Foi com a contribuição de Athanasius Kirchner, no século XVII, que o oposto foi desenvolvido: as projeções passaram a ser realizadas do lado de fora da caixa a partir de uma vela inserida em seu interior que emitia luz a uma lâmina de vidro com imagens desenhadas. Conhecemos esse mecanismo como Lanterna Mágica. Com a chegada do século XIX vários inventores desenvolveram novas máquinas que permitiam novos recursos de projeções e movimentação de imagens. Ainda nesse século a fotografia é elaborada, sendo a primeira da história registrada em 1826 por Joseph Nicéphore Niépce, com exposição ao sol de 6 a 8 horas. Com o decorrer dos anos, esse tempo de exposição foi reduzindo e ao final daquele século, em 1888, George Eastman desenvolve o primeiro aparelho fotográfico a filme, permitindo maior acesso à população. Em 1832 Plateau desenvolve um mecanismo, chamado de Fenacitoscópio, que, quando em movimentos circulares, dá a ilusão de ótica de que a imagem inserida em seu interior está em movimento, promovida pela sucessão de imagens que decorrem uma ação. 66

67 Em 1877 Émile Reynaud apresenta o Praxinoscópio, uma máquina circular com imagens em seu interior e uma série de espelhos em seu centro e que, quando em movimento, promove uma ilusão de ótica que faz parecer que as imagens estão sendo sucedidas. Outro passo que merece destaque é o desenvolvimento do Fuzil Fotográfico por Étienne-Jules Marey disposto ao longo de uma pista de corrida, disparando sucessivamente 24 disparos consecutivos de 24 máquinas diferentes, formando fotografias que registram a ação dos movimentos. O Cinetoscópio de Thomas Edison (1890) e o Cinematógrafo dos irmãos Lumière (1895) marcaram o fim do século XIX. O primeiro tinha um visor individual, permitindo somente um espectador por vez, exibia uma tira de filmes em looping em seu interior. Edison realizou a produção destes pequenos filmes para exibir em sua máquina dentro de um pequeno estúdio que ficou conhecido como o primeiro da história do cinema do mundo, conhecido como Black Maria. O Cinematógrafo fazia os filmetes e ganhou ampla divulgação. Os irmãos Lumière eram negociantes e fizeram publicidade do que sua máquina era capaz de produzir, fazendo com que em 28 de dezembro de 1895, data de demonstração para o público, ganhasse destaque. Sabendo das transições pelas quais vários recursos foram desenvolvidos e aprimorados para que chegassem ao cinema mais próximo do que conhecemos hoje, compreendemos que não houve um único precursor ou responsável, conforme ressalta Mascarello: Não existiu um único descobridor do cinema, e os aparatos que a invenção envolve não surgiram repentinamente num único lugar. Uma conjunção de circunstâncias técnicas aconteceu [...] vários inventores passaram a mostrar os resultados de suas pesquisas na busca da projeção de imagens em movimento [...]. (2013, p. 18). Com a repercussão dos acontecimentos promovidos pelo invento dos irmãos Lumière, novos olhares foram se atentando para a novidade, e um dos destaques é George Mèliés. Lo Duca (1949, p. 16) coloca-nos o seguinte ponto: Com Lumière 67

68 nasceu o cinematógrafo. Com Mèliés nasce o espetáculo cinematográfico, o cinema. Mèliés, mágico e encenador, ficou atraído pelo desenho, pela máquina e pela ideia de espetáculo que a invenção proporcionava. Com centenas de filmes realizados, muitas destas produções eram de caráter ficcional, apresentando criaturas e mundos diferentes além de atmosferas que se aproximavam a do fantástico. A estrutura de seus filmes aproximava-se a do teatro. Mèliés descobriu por acidente o truque da substituição, o que contribuiu ainda mais para a inclusão de novos espetáculos visuais para os espectadores juntamente com efeitos especiais realizando durante as filmagens. Conforme o aprimoramento das técnicas mais preliminares com a junção de outras linguagens e culturas (como o teatro, atrações de feiras), a fonte de espetáculos foi transformando-se até chegar a um patamar de manifestação artística. Mascarello afirma, a respeito: Os filmes teriam aos poucos superado suas limitações iniciais e se transformando em arte ao encontrar os princípios específicos de sua linguagem, ligados ao manejo da montagem como elemento fundamental da narrativa. (2013, p. 22). No começo do século seguinte, alguns estúdios de filmes foram instalando-se. A área conhecida hoje em dia por Hollywood, localizada em Los Angeles, Califórnia, era na época muito barata e permitiu o crescimento abundante destes estúdios, incluindo Fox, Universal, Paramount, The Walt Disney Company, que, mais à frente, ganharia destaque com filmes de animação que chamou a atenção especialmente do público infantil; e da Warner Bros. A Warner Bros, companhia que nos anos 2000 proporcionou a adaptação dos filmes de Harry Potter fora fundada em 4 de abril de 1923 pelos irmãos poloneses e judeus Albert, Sam, Harry e Jack Warner, que já haviam aberto seu primeiro cinema em

69 Com a chegada da década de 1920, novos gêneros de filmes foram surgindo, como o western, policial, comédia, entre outros. Com a força do crescimento dos estúdios de Hollywood um novo fenômeno surgiu, o star system, ou seja, a sistematização de estrelas, de modelos que encantavam os espectadores, fabricando, assim, estrelas de cinema. Até o começo dos anos 1930, o cinema ganhou força também na Europa, sendo influenciado pelas vanguardas predominantes de cada lugar: o cinema francês foi marcado pelo impressionismo, o alemão pelo expressionismo e o espanhol pelo olhar surrealista. A época ainda foi marcada pela chegada da era do som no cinema, com o aprimoramento do recurso da sincronização junto à imagem. Com a chegada do som um novo gênero surgiu e ganhou destaque: o musical. A Warner Bros. conseguiu a partir da sincronização dos sons inserir alguns diálogos em seus filmes, sendo o pioneiro o filme The Jazz Singer (1927). A década de 1950 ficou marcada pela popularização da televisão e esta expansão contribuiu para uma substituição dos meios para entretenimento, ou seja, a população agora recorria à televisão para o lazer e para a informação. Com o tempo, houve uma predominante crise nos estúdios de Hollywood por influência, além da atenção dos mais jovens pelo cinema o que aumentou a frequência destes nas salas, pela substituição do cinema. Mascarello sintetiza essa informação: Se na década de 1950 o cinema fora substituído pela TV como principal fonte de entretenimento nos EUA, na de 1960, a própria ida ao cinema sofre profundas alterações, com destaque para dois efeitos do processo de suburbanização da classe média a obsolescência das salas das grandes cidades e o estabelecimento do circuito drive-in (que irão aprofundar o fenômeno da juvenilização das audiências) e para a consolidação do espaço mercadológico do cinema de arte e ensaio. (MASCARELLO, 2013, p. 345). Hollywood verificou uma presença maior do público juvenil nas salas de cinema e os estúdios viram, assim, uma oportunidade de investir naqueles jovens de uma 69

70 geração de uma frente pós-contracultura uma nova fonte de sobrevivência do cinema. Então, no começo dos anos 1970, surge a aposta dos blockbusters. Em inglês, block em tradução literal dá-se por blocos, buster em português podemos dizer que remete à explosão. O termo blockbuster, assim, pode ser associado a sucesso (remetido à explosão) que tomam blocos, quarteirões, logo, do ponto de vista do mercado cinematográfico, filmes que fazem sucesso e dobram quarteirões (blocos) devido à grande audiência. Essa nova era de filmes superava questões de valores tanto em questões de produção quanto em estratégias de marketing. Os filmes, mais elaborados, mais divulgados e acessados pelo público promoveram ótimas bilheterias primeiramente com filmes de temáticas catastróficas, a citar O destino do Poseidon (1972), Terremoto (1974), entre outros. Com a questão dos blockbusters em alta, três eventos merecem destaque: o lançamento do filme Tubarão (1975) de Steven Spielberg, que investe fortemente na questão da publicidade em massa, o filme Os Embalos de Sábado a Noite (1977) de John Badham, que renova a possibilidade de mistura e da aproximação de filme com música; e Star Wars (1977) de George Lucas, que investiu na criação dos chamados filmes-franquia. Segundo Mascarello (2013, p. 347), esses filmes-franquia têm uma característica peculiar que marca a história do cinema: dando início ao florescimento da indústria de negócios conexos intimamente associada [...] à prática das reprises ou sequências.. Em parâmetros atuais, a frequência de filmes-franquia ainda é destaque no cinema. Os filmes de Harry Potter, iniciados com Harry Potter e a Pedra Filosofal e baseados nos sete livros de J. K. Rowling tiveram as sequencias dos volumes da obra literária adaptadas, sendo assim, considerado um filme-franquia. Além disso, do ponto de vista de sucesso de bilheteria, Harry Potter pode ser considerado um blockbuster pelo lucro rendido e também houve um forte investimento de marketing, especialmente depois do sucesso do primeiro longa da série, tendo sido divulgado por diversos meios como televisão, revistas, jornais, além da importante disseminação nas próprias salas de cinema com os comerciais, 70

71 trailers e pela exposição de pôsteres que promoviam o interesse e a curiosidade do público. O público juvenil é destaque com os filmes de Harry Potter. É o mesmo público que permite que o fenômeno de livros Best Sellers adaptados para o cinema esteja popularizando e ganhando força, especialmente a partir dos anos A citar como exemplo temos As Crônicas de Nárnia 2005, 2008 e 2010 ; sagas como Jogos Vorazes 2012, 2013, 2014 e 2015 ; Divergente 2014, 2015, 2016 ; Percy Jackson 2010 e 2013 ; Desventuras em Série 2004 ; a própria saga Harry Potter, entre outras. Séries adaptadas dos quadrinhos como os da Marvel e da DC Comics também recebem grande destaque pelo sucesso de bilheteria. A reprodução do conteúdo literário em outra linguagem (no caso o cinematográfico) permite maior acesso à população. É importante ressaltar novamente que estas obras cinematográficas contribuem para o crescimento do número da formação de leitores, uma vez que, com o interesse pelo filme, os jovens podem buscar a forma que originou aquela estória que assistiram, seja romance, quadrinho ou game. Os exemplos citados anteriormente, entre outros, são também exemplos de atuais blockbusters não apenas pela questão do conteúdo, mas visam também o sucesso de bilheteria, modo de promoção, o grande investimento das produtoras para que o filme se concretize. Em relação à rotina cultural dos brasileiros, segundo a Pesquisa Nacional sobre Hábitos Culturais feita pela Fecomércio RJ e Ipsos 4, em dezembro de 2015, foi demonstrado que as pessoas que não realizam programas de lazer cultural passaram a frequentar mais os cinemas, essa porcentagem da população cresceu 100% nos últimos oito anos (de 17% para 35% dos brasileiros que não possuem hábitos cultuais). O motivo principal, ressaltado pela pesquisa, deste "não consumo" de bens cultuais se dá, justamente, pela falta de hábito. Dos brasileiros que frequentam as salas de cinema atualmente, foi apontado pelo Ipobe, em fevereiro de 2016 (pesquisa realizada entre 2014 e 2015), que 68% dos espectadores têm preferência e costumam assistir com frequência filmes do gênero 4 Disponível em com acesso em

72 de ação ou aventura, seguido por filmes de comédia (50%), animações (28%), comédias românticas (27%) e ficção científica (25%). Imagem 21: Gráfico da pesquisa feita pelo Ibope sobre as preferências de gênero de filmes dos brasileiros. Disponível em: Acesso em Por fim, mesmo após o lançamento do sétimo livro em 2007 e do oitavo e último filme em 2011 a saga Harry Potter mantém-se recorrente no contexto cultural de pessoas de diferentes idades. Além do conteúdo, os livros e os filmes, hoje há muitas páginas sobre o tema na internet, em redes sociais e também nas livrarias. Espectadores podem ter acesso aos filmes por meio de programas de assinatura online para exibição de filmes e séries (como a rede Netflix). A saga possibilita a geração de novos produtos e também a sua adaptação para outros meios onde os ambientes relatados nas narrativas, tanto na literatura quanto nos filmes, são recriados. 72

73 2.2 Harry Potter no mercado cinematográfico David Heyman, produtor cinematográfico, havia concordado em ler o manuscrito ainda não publicado de Harry Potter e a Pedra Filosofal em 1997 devido a sugestões de sua assistente. Ainda no mesmo ano, entrou em contato com a Warner Bros. e conseguiu um acordo para negociações dos direitos autorais de Harry Potter para que a narrativa de J. K. Rowling fosse adaptada para o cinema. Em 2000, após a recusa de vários roteiristas em produzir um roteiro adaptado da obra de Rowling, cujo primeiro volume da série circulava em sua primeira edição ainda sem muita popularidade, o profissional foi escolhido, bem como diretor que estaria responsável por apresentar a história de Harry Potter para o mundo cinematográfico. Cerca de 50 diretores demonstraram interesse inicial para dirigir o primeiro longa da série, incluindo Steven Spielberg, entretanto o diretor escolhido foi Chris Columbus que possuía uma visão de direção voltada mais para o lado familiar, seus filmes destinados ao público infanto-juvenil (a citar: Esqueceram de Mim, Uma Babá Quase Perfeita) possuem uma linguagem próxima ao público, o que, na época, buscavam para a adaptação de Harry Potter. Segundo o site inglês imdb.com 5, Harry Potter e a Pedra Filosofal teve um orçamento próximo a U$ ,00 e rendeu no primeiro final de semana em sua estreia em novembro de 2001 cerca de (aproximadamente U$ ,00). Com o passar dos anos e das adaptações dos volumes seguintes, a série em sua forma cinematográfica, totalizando oito filmes (em vista que o sétimo e último livro foi adaptado para os cinemas em duas partes) teve quatro diretores, além de Chris Columbus que dirigiu os dois primeiros longas, dentre eles Alfonso Cuarón, diretor mexicano com uma visão bastante diferente e uma linguagem menos infantil e mais 5 Plataforma online originária do Reino Unido que aborda conteúdos de cinema e televisão com dados oficiais. Hoje conta com a tradução para outros idiomas e está disponível também de modo mobile em forma de aplicativos para smartphones, facilitando o acesso para seus usuários. A plataforma, hoje pertencente ao grupo da Amazon, também está disponível através de redes sociais. 73

74 obscura, Mike Newell e David Yates, responsável pelos quatro últimos filmes da franquia. De acordo com o imdb.com (online, 2016), juntando todos os valores, a série em oito filmes de Harry Potter custou cerca de U$ ,00. O lucro com o primeiro final de semana de exibição de cada filme arrecadou aproximadamente U$ ,00 e teve uma arrecadação bruta próxima aos U$ ,00 por todo o mundo. A série cinematográfica de Harry Potter ganhou proporções grandiosas, não sendo apenas produções simples do cinema inglês, recebendo reconhecimento por Hollywood. Ao todo, os filmes de Harry Potter foram indicados a 12 Oscars nas categorias técnicas, porém não recebeu os prêmios, e também em vários BAFTA Film Awards. O sucesso que atingiu os filmes de Harry Potter incluem os longas no decorrer da lista com 100 primeiros filmes no ranking mundial de maiores bilheterias da história do cinema divulgada pelo site boxofficemojo.com 6. Imagem 22: Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 na 8ª posição no ranking mundial de bilheterias. Disponível em: Acesso em O site americano divulga a lista atualizada diariamente do ranking mundial de bilheterias do cinema. A empresa Amazon é proprietária da plataforma online. 74

75 Imagem 23: Harry Potter e a Pedra Filosofal na 26ª posição e Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1 na 29ª posição no ranking mundial de bilheterias. Disponível em: Acesso em Imagem 24: Harry Potter e a Ordem da Fênix na 32ª posição, Harry Potter e o Enigma do Príncipe na 34ª posição, Harry Potter e o Cálice de Fogo na 38ª posição e Harry Potter e a Câmara Secreta na 42ª posição no ranking mundial de bilheterias. Disponível em: Acesso em

76 Imagem 25: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban na 55ª posição no ranking mundial de bilheterias. Disponível em: Acesso em A tabela a seguir, baseada no mesmo site (online acesso em ) mostra uma relação de algumas das principais sagas cinematográficas e suas respectivas posições no ranking mundial de bilheterias (entre as 100 primeiras colocações): 76

77 Star Wars Episódio VII: O Despertar da Força (2015) 3ª posição Star Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma (1999) 22ª posição Star Wars Episódio III: A Vingança dos Sith (2005) 50ª posição Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança (1977) 62ª posição Star Wars Episódio II: O Ataque dos Clones (2002) 97ª posição Os Vingadores (2012) 5ª posição Os Vingadores: Era de Ultron (2015) 7ª posição Homem de Ferro 3 (2013) 10ª posição O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003) 13ª posição O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (2002) 37ª posição O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001) 45ª posição Jogos Vorazes: Em Chamas (2013) 47ª posição Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 (2014) 69ª posição Jogos Vorazes (2012) 86ª posição Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 2 (2015) 96ª posição 007: Skyfall (2012): 14ª posição 007: Spectre (2015): 42ª posição O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2012) 24ª posição O Hobbit: A Desolação de Smaug (2013) 32ª posição O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014) 33ª posição A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2 (2012) 52ª posição A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1 (2011) 79ª posição 77

78 A Saga Crepúsculo: Lua Nova (2009) 81ª posição A Saga Crepúsculo: Eclipse (2010) 83ª posição Transformers (2007) 82ª posição Transformers 2: A Vingança dos Derrotados (2009) 51ª posição Transformers 3: O Lado Oculto da Lua (2011) 12ª posição Tranformers 4: Era da Extinção (2014) 15ª posição Ainda sobre ranking de bilheterias, a Forbes Brasil 7 inclui a série Harry Potter como uma das franquias de filmes que mais arrecadaram na história do cinema. Os filmesfranquia tornaram-se populares a partir dos anos 1970, com a expansão de filmes considerados blockbusters, como Star Wars e Tubarão, lançados nesta época. Com o passar dos anos, o número de blockbusters cresceu, incluindo o fato de novos filmes adaptados de grandes BestSellers literários e também de quadrinhos internacionalmente populares. Nesta lista, a saga Harry Potter está posicionada em 2º lugar, ficando atrás apenas dos filmes da franquia Marvel, que adapta histórias em quadrinhos, estando junto com outras grandes franquias do cinema como 007, O Hobbit, entre outros. 7 Revista conceituada de negócios e economia mundial. 78

79 Imagem 26: Harry Potter na 2ª posição no ranking de maiores franquias do cinema. Disponível em: Acesso em Lembrando-se do importante fato de que a produção cinematográfica de Harry Potter adaptou a série literária de J. K. Rowling, ressalta-se o momento em que a franquia foi inserida no mercado cinematográfico. Com os anos 2000, o cinema apostou em diversas sagas literárias infanto-juvenis que se tornaram mundialmente BestSellers para adaptação para o cinema. Dentre as outras, além de Harry Potter, podemos citar a saga Crepúsculo, de Stephanie Meyer; a trilogia Jogos Vorazes, de Suzanne Collins; O Hobbit, de Tolkien; As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis; Alice 79

80 no País das Maravilhas, de Lewis Carroll; Percy Jackson, de Rick Riodan; a saga Divergente, de Veronica Roth dentre outras. Uma lista também feita pela Forbes Brasil revela quatro filmes da série Harry Potter entre as 10 maiores bilheterias de livros que viraram filmes. Imagem 27: Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 em 1º lugar no ranking de adaptações literárias de maior bilheteria de todos os tempos. Disponível em: Acesso em

81 Imagem 28: Harry Potter e a Pedra Filosofal em 6º lugar no ranking de adaptações literárias de maior bilheteria de todos os tempos. Disponível em: Acesso em

82 Imagem 29: Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1 em 8º lugar no ranking de adaptações literárias de maior bilheteria de todos os tempos. Disponível em: Acesso em

83 Imagem 30: Harry Potter e Ordem da Fênix em 10º lugar no ranking de adaptações literárias de maior bilheteria de todos os tempos. Disponível em: maiores-bilheterias-de-livros-que-viraram-filmes/#foto10. Acesso em

84 2.3 A Ordem da Fênix no mercado cinematográfico A adaptação do quinto volume da série Harry Potter começou a ser filmada em fevereiro de 2006 por David Yates, que enfrentaria o grande desafio de adaptar o livro mais longo da saga (na primeira edição brasileira, o livro atinge 702 páginas, na americana 870 e na britânica 900), e possivelmente o mais detalhado até então e que continha partes necessárias para o entendimento da narrativa posteriormente. Yates adaptou o quinto volume em um filme de duas horas e dezoito minutos, o filme da série de menor duração até então, optando por reduzir passagens que não interfeririam na compreensão da história para os espectadores, também realizou junções de elementos que possibilitaram uma experiência plena do universo do quinto livro de Rowling. O diretor buscou desta maneira, não comprometer uma narrativa longa e detalhada e também agradar os fãs da série. O longa fora anunciado para estrear em 13 de julho de Com a repercussão e expectativas dos fãs da saga para o novo filme, a Warner Bros. decidiu, de modo excepcional, alterar a data do lançamento de Harry Potter e a Ordem da Fênix no mundo todo. Com menos de um mês para a chegada do filme nos cinemas, mesmo com toda a divulgação de pôsteres, comerciais, teasers e trailers para cinema e televisão, a data de estreia passou para o dia 11 de julho de A data escolhida marcaria dez dias para o lançamento do sétimo e último livro da saga na Inglaterra e nos Estados Unidos. Harry Potter e as Relíquias da Morte chegaria às livrarias no dia 21 de julho do mesmo ano. Os fãs foram, então, bombardeados por divulgações do lançamento do novo livro e também do novo filme. Na época, inclusive no Brasil, o surgimento e lançamento de produtos derivados da série surgiram nas mais diversas prateleiras, tais como álbum de figurinhas do quinto filme, materiais escolares, revistas e almanaques colecionáveis sobre a série, entre outros. Mesmo com a alteração da data do lançamento do filme, Harry Potter e a Ordem da Fênix arrecadou, de acordo com o imdb.com (online, 2016), em seu primeiro final de 84

85 semana, um valor estimado de ,00 (aproximadamente U$ ,00), valor superior a todos os filmes da série lançados até então em suas respectivas datas de estreia. Com o orçamento inicialmente cotado em aproximadamente U$ ,00, o filme lucrou, no total e no mundo todo, um valor bruto de cerca de U$ ,00. Em visões atuais, o filme Harry Potter e a Ordem da Fênix atingiu 79% de críticas positivas pelo Tomatometer 8 do site rottentomatoes.com 9, e, apesar de esta ser a menor nota entre todos os filmes de Harry Potter pelo site americano, o longa atingiu 81% de votos positivos pelo julgamento da audiência geral da plataforma e ganhou o selo Fresh dos críticos, apenas concedido aos filmes bem avaliados (acima dos 70% pelo Tomatometer) no Rotten Tomatoes. Imagem 31: Avaliação de Harry Potter e a Ordem da Fênix do site Rotten Tomatoes. Disponível em: Acesso em Termômetro do site rottentomatoes.com que demonstra a aprovação de um filme segundo críticos certificados por várias associações e aclamados de várias partes do mundo. 9 Site americano de propriedade da NBCUniversal e Warner Bros. que coleta opiniões online de críticos de cinema e televisão certificados por várias associações. O nome faz referência ao ato de atirar tomates em atrações não aprovadas pelo público. 85

86 2.4 Pôsteres da Ordem da Fênix Pôsteres de filmes podem ser aproximados à capas de livros no sentido de que formam um convite visual ao leitor, ou no caso espectador, a experimentar aquela produção. Um pôster cinematográfico também poderá contar com alguns paratextos verbais: nome do diretor, atores e atrizes principais, não somente como um informativo, mas, dependendo da popularidade dos mesmos, também como uma estratégia de chamar a atenção do público. Também poderão aparecer data e lançamento, nome da distribuidora, caso o filme seja adaptado de alguma outra mídia, como livros, o nome do autor também poderá aparecer (bem como informativo ou estratégia). Segue abaixo alguns dos principais pôsteres de Harry Potter e a Ordem da Fênix: Imagem 32: Teaser pôster do filme Harry Potter e a Ordem da Fênix. Disponível em: Acesso em:

87 Imagem 33: Pôster do filme Harry Potter e a Ordem da Fênix para os cinemas brasileros. Disponível em: Acesso em: Imagem 34: Pôster final do filme Harry Potter e a Ordem da Fênix para os cinemas brasileros. Disponível em: Acesso em:

88 Teaser pôster de Harry Potter e a Ordem da Fênix para os cinemas (Imagem 32) O que chamamos de teasers, de acordo com Luzzi (2001) seriam um anúncio do anúncio, ou seja, um teaser promove suspense anterior ao produto principal. No caso dos teaser pôsteres, eles são lançados anteriormente aos pôsteres oficiais, que são aqueles que ganham destaque nas salas de cinemas na época de exibição. Os teaser pôsteres são marcados por elementos enigmáticos que aguçam a curiosidade de público, podendo conter uma frase de efeito, uma única imagem, algum conceito minimalista que represente uma parte do todo do filme etc. O teaser pôster de Harry Potter e a Ordem da Fênix tem a predominância de um fundo preto, do centro deste fundo surge Lord Voldemort, porém ele não está simplesmente inserido neste fundo, ele brota dele. Sua capa também é preta, o que permite também a mistura com esse fundo. Pela luz produzida pela varinha conseguimos perceber que se trata do Lord das Trevas. A personagem não é apenas retratada como uma fotografia, e sim é a personagem no momento de sua ação, no momento em que está fazendo sua magia. Lord Voldemort está observando o observador com o ar de como estivesse olhando para seu inimigo, ou seja, o observador do pôster faz o papel de Harry Potter, o observador está sendo encarado, como um convite ao enfrentamento. No caso, o pôster promove um convite ao espectador a acompanhar o enfrentamento que esta por vir no filme. O foco é um contra plongeé, ou seja, Voldemort está sendo visto de cima, o que valoriza ainda mais o seu poder, a sua maldade, a sua pessoa. Há poucos elementos textuais no pôster, entre eles o título do filme, data de lançamento, o site e os dizeres "Você perderá tudo", citação marcante em Harry Potter e a Ordem da Fênix que Voldemort dirige a Harry Potter no momento em que há um duelo entre eles na mente do garoto quando no Ministério da Magia. A frase, como é dirigida ao garoto, no momento do pôster é dirigida ao observador, que é instigado a partir do enfrentamento com o inimigo. Esse teaser pôster cria um clima de mistério em torno dos elementos que o compõe, que fazem com que o frequentador do cinema e futuro espectador daquele filme crie 88

89 expectativas e formule possíveis interpretações para compreender e solucionar os mistérios criados a partir daquele pôster até que se possa assistir ao filme. Toutain (2007, p. 92) articula essa possibilidade: Este processo de captar, representar e interpretar a informação é simultâneo, permanente, contínuo; pressupõe um sistema de significação.. Quando os filmes geralmente são lançados nos cinemas são escolhidos alguns pôsteres para ilustrarem as salas, indicando que aquele filme encontra-se ali em exibição. A escolha desses pôsteres oficiais pode depender do país em que o filme será exibido. Primeiro pôster oficial de Harry Potter e a Ordem da Fênix para os cinemas (Imagem 33) Esse primeiro pôster oficial do quinto longa adaptado da série Harry Potter possui uma atmosfera diferente do teaser pôster, chama a atenção pelas cores, pela presença do protagonista e de seus colegas de escola. A presença de Rony e Gina Weasley, Hermione Granger, Neville Longbotton e Luna Lovegood dão uma ideia de força: Harry Potter não está sozinho na busca de seu objetivo, ele agora tem uma equipe consigo, a qual o ajudará em sua jornada e todos terão a proteção de uns aos outros caso o mal, os bruxos das trevas, decidam atacar. O cenário é o Ministério da Magia, quando Harry Potter e seus colegas escapam de Hogwarts para tentar resgatar Sirius Black, após o garoto ter sua mente invadida pelo inimigo mostrando que estava mantendo seu padrinho como refém. Há luz por trás e ao lado das personagens, porém não a luz vinda pela frente. A fotografia dá a sensação de que o caminho vindo pela frente da equipe está escuro, o que remete ao lado sombrio, perigoso, desconhecido, e também ás trevas de Lord Voldemort e seus seguidores. Esse jogo de luzes remete a ideia de que a luz acompanha a equipe de Harry Potter, não somente por eles serem o bem, a luta contra as trevas, mas também remetem a sabedoria que eles trazem pela instrução de seus professores mentores. O escuro é 89

90 o desconhecido que vem pela frente, o destino de cada um deles, impossível de saber o que virá. Harry Potter, porém, tem em suas mãos dois objetos que poderão ajudá-lo nesse desconhecido: sua varinha, ou seja, sua arma de proteção pessoal, de proteção aos seus colegas, que abrirá seu caminho e iluminará a escuridão, e também a profecia, objeto que diz sobre seu futuro e o futuro do Lord das Trevas. Com a profecia em mãos, há também o simbolismo de que Harry Potter está com o seu destino nas mãos, que ele deverá cumprir o objetivo de derrotar o seu inimigo e livrar a nação bruxa das trevas. As personagens estão em um leve contra plongeé, o que traz a ideia de enfrentamento, demonstrando que os mesmos têm coragem. O queixo de Harry Potter e dos colegas está levemente para cima, como se estivessem encarando o perigo, ressaltando ainda mais a ideia de determinação. A frase A rebelião vai começar é uma amostra do conteúdo que está por vir no filme. O espectador que assistiu ao filme anterior sabe das circunstâncias que o garoto terá que enfrentar nesse quinto filme, porém ao dizer que haverá uma rebelião, dará a ideia ao espectador de que um conjunto irá contra algo. No caso, a rebelião acontecerá para desconstruir algo que já está constituído, o mal. Pôster final de Harry Potter e a Ordem da Fênix para os cinemas (Imagem 34) Vemos Harry Potter e sua equipe formada por seus colegas de Hogwarts, só que, diferente do outro pôster oficial, anteriormente apresentado neste trabalho, as personagens estão com suas vestes da escola. Simbolicamente, podemos dizer que as roupas da escola podem ser comparadas a uma armadura, a um uniforme de exército que dá igualdade a todos, mostrando que são uma legião de alunos que buscam o bem e que defendem a bandeira que vestem: a bandeira da escola, defendem seus colegas, a nova geração bruxa que luta contra o mal. Se levarmos em consideração o contexto da narrativa desse quinto longa, essa legião de alunos que se juntam para combater o mal são a chamada Armada de Dumbledore, organizada por Hermione Granger e Rony Weasley para que Harry Potter ajude os 90

91 demais colegas a praticar para futuras possíveis lutas contra Lord Voldemort e seus seguidores. Também diferente do outro pôster oficial, as personagens não estão em um momento da narrativa, mas estão inseridos numa fotografia, perceptível pelas imagens sangradas. Em primeiro plano enxergamos a principal arma de proteção de Harry Potter, sua varinha. Além disso, seus colegas também estão com as varinhas a postos, prontos para qualquer enfrentamento que esteja por vir. Observamos aqui as personagens de baixo para cima, e o olhar de Harry Potter ganha destaque pela seriedade que leva. A parte direita de seu rosto está escurecida devido a falta de foco de luz: há iluminação aos lados e de trás. Se pensarmos novamente no contexto da narrativa, sabemos que é um momento em que Harry Potter está enfrentando uma crise de identidade, ele se questiona se está pendendo para o lado das trevas após a reflexão de que tem muitas características semelhantes ao seu inimigo. Essa parte obscura do rosto de Harry Potter pode remeter ao outro lado que Harry Potter acredita que está dentro de si, o lado sombrio, o lado das trevas. Por outro lado, a face esquerda do menino está iluminada, já aproximando a ideia do bem, o lado que acredita de fato fazer parte e pelo qual vale a pena lutar. Em geral, pôsteres têm também o objetivo de promover um atrativo aos espectadores, estimular as pessoas a querer assistir ao filme, a desvendar os mistérios por trás de suas frases e imagens enigmáticas. Por esse conjunto de elementos presentes nos pôsteres que podem influenciar o possível público-alvo, ressalta-se Bakhtin: Não se pode construir uma enunciação sem modalidade apreciativa. Toda enunciação compreende antes de mais nada uma orientação apreciativa. É por isso que, na enunciação viva, cada elemento contém ao mesmo tempo um sentido e uma apreciação. (BAKHTIN, 2012, p. 140). 91

92 Esse contato também permite que o espectador crie expectativas e busque as respostas para os mistérios. Sobre isso, Morin reflete: O espectador ativo colabora tanto quanto autores de uma produção. [...] Assim, o espectador que reliza o filme, confere-lhe todas as racionalizações da percepção, e irrealiza, ao mesmo tempo, esta realidade que acabou de fabricar, situa-a entra-empiricamente, vive-a afetiva e não praticamente, interioriza as suas respostas em vez de as exteriorizar em atos. (MORIN, 1997, p. 182). Por fim, podemos dizer que há um envolvimento simbólico do público-alvo pelo filme mesmo anterior a experiência propriamente dita, ou seja, mesmo antes de se assistir ao filme a pessoa se envolve naquele mundo. 92

93 3. TRANSFIGURAÇÃO Do outro lado de Harry, Percy e Hermione conversavam sobre as aulas. Espero que elas comecem logo, tem tanta coisa para a gente aprender, estou muito interessada em Transfiguração, sabe, transformar uma coisa em outra, claro, dizem que é muito difícil, a pessoa começa aos poucos, fósforos em agulhas e coisas pequenas assim. (ROWLING, 2000, p. 111) 93

94 3.1 A magia Na saga Harry Potter uma das disciplinas ensinadas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts é a Transfiguração. Nestas aulas, os alunos aprendem a transformar objetos e seres em outras formas distintas do que eram inicialmente. Aqui, aproximaremos a magia da Transfiguração ao processo de transformação de um texto em uma forma para outro meio distinto, como é o caso de nosso objeto de estudo em questão, a transposição de um produto literário para um filme. Nesta parte do trabalho procuraremos compreender o processo que Harry Potter texto literário passou para se tornar produto cinematográfico. Para entender melhor a relação estabelecida entre os livros de Harry Potter e os demais produtos e mídias para as quais a obra foi transposta, não apenas os filmes, abordaremos as definições de Genette (2012, p. 18) que estabelece "por hiper-textualidade toda relação que une um texto B ([...] hipertexto) a um texto anterior A ([...] hipotexto) do qual ele brota [...].". Sendo assim, consideramos aqui a série literária Harry Potter (os sete livros pertencentes à narrativa publicados por Rowling entre os anos 1997 e 2007) como "texto A", ou seja, o hipotexto (produto original). As diversas adaptações dos livros em forma de filmes, parque temático e site, games, peça de teatro e livros publicados pela própria autora da série que são obras pertencentes ao mundo bruxo, mas que não narram a história de Harry Potter serão tidas como "textos B", portanto, como hipertextos. O gráfico a seguir passa a ilustrar este conceito: 94

95 Hipotexto (texto original) Série literária Harry Potter (livros lançados entre 1997 e 2007) Adaptações cinematográficas da série Harry Potter (filmes lançados entre 2001 e 2012). Pottermore (site interativo e com conteúdos inéditos lançado em 2009). The Wizarding World of Harry Potter (mundos em parques temáticos inaugurados em 2010 e 2014). Video games (lançados entre 2001 e 2012, após a estreia dos filmes). Livros que se passam no mesmo universo de Harry Potter, mas que não narram a história da personagem. (Exemplos: Quadribol Através dos Séculos e Animais Fantásticos e Onde Habitam, lançados em 2001). Outros produtos. Hipertextos (textos baseados no orginal) Gráfico 1: Exemplo dos objetos de estudo em relação de hipertextualidade. 95

96 Genette (2012, p. 22) ainda caracteriza a definição de hipertexto como "todo texto derivado de um texto anterior por trans-formação simples [...] ou por transformação indireta [...].". No caso de nosso objeto de estudo, o processo foi a transformação de uma mídia (literária) em outra plataforma, outra mídia (cinematográfica), ou seja, a transformação de um sistema em outros. O termo "mídia" utilizado anteriormente pode ser definido: [...] como um meio de comunicação convencionalmente distinto, especificado não só por canais (ou um canal) de comunicação particular(es), mas também pelo uso de um ou mais sistemas semióticos que servem para transmitir mensagens culturais. (CLÜVER, 2006, p. 34) Entendendo que nesse processo diferentes mídias estão envolvidas, ou seja, são diferentes canais de comunicação, a transposição da obra literária Harry Potter para demais mídias estabelecem uma relação de intermidialidade, pois há processo de transcodificar uma mídia a outra diferente. Termo genérico para todos aqueles fenômenos que (como indica o prefixo inter-) de alguma maneira acontecem entre as mídias. Intermidiático, portanto, designa aquelas configurações que têm a ver com o cruzamento de fronteiras entre as mídias [...]. (RAJEWSKY, 2012, p. 18). Ainda sobre a relação de transformação entre mídias, é importante salientar que para se tornar um produto cinematográfico, o produto literário Harry Potter passou por um processo de adaptação. Tendo em vista a consideração feita por Hutcheon (2011, p. 09), devemos compreender como uma forma de transcodificação de um sistema de comunicação para outro.. Vale ressaltar que processos de adaptação são de extrema importância para o meio cultural, pois são capazes de conservar, renovar, recontar histórias através de gerações, conforme explica a mesma autora: 96

97 A adaptação é (e sempre foi) central para a imaginação humana em todas as culturas. Nós não apenas contamos, como também recontamos nossas histórias. E recontar quase sempre significa adaptar ajustar as histórias para que agradem ao seu novo público. (HUTCHEON, 2011, p. 10) Como tratamos de uma passagem de livro para filme, podemos falar que os dois meios midiáticos podem possuir algumas características que se aproximam. Brito (2006, p. 07) afirma que existem afinidades semióticas entre o cinema e a literatura: entre a verbalidade da literatura e a iconicidade do cinema. O autor expõe seu levantamento em relação ao cinema: Uma arte heterogênea que soma características básicas das outras modalidades de arte existentes, um autentico compósito que sintetiza em si mesmo, entre outras coisas: a plasticidade da pintura, o movimento e o ritmo da música e da dança, a (pseudo)tridimensionalidade da escultura e a arquitetura, a dramaticidade do teatro e a narratividade da literatura. (BRITO, 2006, p. 135). Por esse ponto de vista compreendemos que o cinema traz em sua completude diversas características que se aproximam de outras reproduções midiáticas e consegue ser capaz de reproduzir uma ideia, um pensamento, uma história com as mesmas características das demais artes em conjunto. Eagleton (1994, p. 04) ressalta uma das características da literatura como: Uma reunião mais ou menos arbitrária de artifícios [...]. Os artifícios incluem som, imagens, ritmo, sintaxe, métrica, rima, técnicas narrativas; [...].. A partir desta fala conseguimos aproximar a literatura com o cinema, uma vez que o mesmo é constituído de uma base de sons e imagens, o ritmo pode ser assemelhado ao desenrolar do filme, a sequência de conteúdos narrados, a sintaxe compara-se à linguagem utilizada, porque bem como existe uma linguagem literária há uma linguagem cinematográfica, a métrica e a rima, como características de uma 97

98 construção poética no cinema também pode ser aproximada à sua linguagem, técnicas narrativas também estão presentes na construção do conteúdo de um filme. A referência principal para nossa melhor compreensão será buscada a partir das contribuições de Julio Plaza acerca da Tradução Intersemiótica, uma vez que a passagem entre as mídias a serem estudadas consiste na tradução entre linguagens distintas (2010, p. 11): A Tradução Intersemiótica [...] consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais, ou de um sistema de signos para outro.. Ainda sobre a definição, o mesmo autor reflete: A Tradução Intersemiótica se pauta, então, pelo uso material dos suportes, cujas qualidades e estruturas são os interpretantes dos signos que absorvem [...]. Diz mais respeito às transmutações intersígnicas do que exclusivamente à passagem de signos linguísticos para não-linguisticos. (PLAZA, 2010, p. 67). No caso de nosso objeto de estudo, estamos trabalhando a partir de um sistema trabalhado com signos verbais Harry Potter literatura que passa a ser interpretado com signos não verbais Harry Potter filme (que podemos considerá-lo como adaptador do primeiro meio) portanto, dizemos que há transmutações intersígnicas, no caso, o processo pode ser caractreizado como uma tradução. Diferente de uma tradução entre dois idiomas, ou seja, de uma tradução interlingual, a qual ocorre um processo em um mesmo meio, na tradução intersemiótica são levadas em consideração as relações entre sentidos em meios e códigos distintos. O ato tradutório seria o intervalo entre uma imagem passada para uma nova imagem, essa imagem passada exerce uma influência no produto presente, sendo este paralelo e recíproco ao original, mas ainda assim autônomo. Sobre isso, Plaza articula: Tradução é [...] repensar a configuração de escolhas do original, transmutando-a numa outra configuração seletiva e sintética. [...] Criação e tradução se confundem num único objeto: renovar [...]. (PLAZA, 2010, p. 40). 98

99 Ressaltamos novamente que numa tradução intersemiótica ocorre uma tradução entre diferentes signos, tendo este como algo que representa uma ideia a partir de um veículo que o comunica. Salientando que, em uma tradução o processo é críticocriativo, entendemos que o tradutor deverá ter um original como leitura base a qual fará uma nova leitura, ou seja, uma releitura, uma reescritura, uma re-produção e esse novo produto exigirá do mesmo novas características que tornarão o novo não apenas como autêntico, mas como um complemento. Essa complementaridade entre o original e a tradução propõe um trânsito de sentidos e formas, criando um diálogo entre os signos, uma reescritura da história. A seguir será ilustrado por meio de um gráfico, exemplificado a partir de nosso objeto de estudo, Harry Potter e a Ordem da Fênix, a questão da criação no processo de tradução intersemiótica conforme explicado por Julio Plaza (2010, p 08): Na medida em que a criação encara a história como linguagem, no que se diz respeito a tradução, podemos aqui estabelecer um paralelo entre o passado como ícone, como possibilidade como original a ser traduzido, o presente como índico, como tensão criativo-tradutora, como momento operacional e o futuro como símbolo, quer dizer, a criação à procura de um leitor. 99

100 PASSADO - ÍCONE Objeto Original: livro Harry Potter e a Ordem da Fênix (escrito) por J. K. Rowling. PRESENTE - ÍNDICO Processo de tradução: passagem entre livro e filme: tensão criativo-tradutora, momento operacional. FUTURO - SÍMBOLO Objeto Traduzido: filme Harry Potter e a Ordem da Fênix (dirigido) por David Yates. Gráfico 2: Exemplo dos objetos de estudo em um processo de tradução intersemiótica. Nesse processo de tradução entre meios, ressalta-se que houve uma adaptação, logo o novo signo produzido (o filme) representa o seu objeto original (livro) em outra linguagem distinta que, apesar de se aproximarem, conforme discutido anteriormente, não são idênticas e diferem-se em certos aspectos, podendo atribuir, inclusive, novas qualidades materiais que permitirão interpretações na relação entre os signos ou até mesmo novas interpretações conforme defende Julia Plaza (2010, p. 23): "A linguagem, que acentua seus caracteres materiais, distrai-se da incompletude do signo e dos significados fechados para tornar-se completa e aberta à interpretação.". O momento operacional se caracteriza por uma tensão criativo-tradutora porque o tradutor deverá encontrar alternativas que realizem a passagem de um meio para o outro em sua completude através de procedimentos de transição de linguagens, códigos, meios e formas. Nesse processo há uma "expansão das artes" para que a 100

101 cultura do original seja preservada, mas que trará novos sentidos no produto traduzido. No momento da tradução, o tradutor realiza recursos como a colagem, a montagem, a interferência, as apropriações, as integrações, as fusões de personagens, os espaços da própria narrativa etc. Esses recursos são utilizados, na mesma forma, porque é impossível manter cem por cento do conteúdo em uma tradução entre meios. No caso de nosso objeto de estudo, Harry Potter e a Ordem da Fênix foi o livro publicado mais extenso da série e sua tradução intersemiótica, para o filme, resultou no filme de menor tempo de duração. Se o filme adaptasse cem por cento do conteúdo do livro, ele provavelmente teria maior tempo de duração, podendo tornarse um produto exaustivo para o receptor. O diretor (tradutor) teve o cuidado de manter o conteúdo em uma sequência correta para que os espectadores conseguissem acompanhar a trama de forma satisfatória, clara e que não fosse cansativa. Citando um exemplo com o próprio livro Harry Potter e a Ordem da Fênix, há um momento em que Harry Potter e os colegas realizam algumas reuniões secretas para treinar Defesa Contra as Artes das Trevas e são descobertos porque a aluna Marieta Edgecombe (não mencionada nos filmes) conta secretamente à professora Umbridge sobre os encontros, após a mesma ter proibido reuniões ilícitas dos estudantes em Hogwarts. No momento relatado no livro, Harry Potter, a professora Umbridge, o Ministro da Magia e Marieta Edgecombe estão em uma sala e a expressão "dedo duro" surge como marcas no rosto da menina, e Harry Potter então descobre que a colega contou. No filme, quem conta sobre as reuniões à professora Umbridge é a aluna Cho Chang, menina pela qual Harry Potter está apaixonado naquele momento da narrativa. Após descobrir que a garota contou à professora, os colegas da Armada de Dumbledore passam a deixá-la de lado, porém com o decorrer do enredo descobre-se que, na verdade, Cho Chang foi interrogada pela professora Umbridge sob efeito da poção Veritasserum, que não a deixa contar mentiras: 101

102 Quando Marieta ergueu a cabeça, Fudge deu um salto para trás chocado, quase se estatelando na lareira. Em seguida praguejou e sapateou na bainha da capa que começava a fumegar. Marieta deu um guincho e puxou o decote das vestes até os olhos, mas não antes de todos verem que seu rosto estava terrivelmente desfigurado por uma quantidade de pústulas roxas muito juntas que cobriam seu nariz e suas faces formando a palavra DEDO-DURO. - Não se incomode com as marcas agora, querida disse Umbridge impaciente -, tire as vestes de cima da boca e conte ao ministro. Mas Marieta soltou um outro guincho abafado e sacudiu a cabeça freneticamente. - Ah, muito bem, sua tolinha, eu contarei disse Umbridge com rispidez [...] Bom, a senhorita Edgecombe aqui veio a minha sala pouco depois do jantar hoje à noite e me disse que queria contar uma coisa. Contou que se eu fosse a uma sala secreta no sétimo andar, às vezes conhecida como Sala Precisa, eu descobriria algo que me interessaria. [...]. (ROWLING, 2003, p. 497). Imagem 35: Momento da cena do filmes Harry Potter e a Ordem da Fênix em que Cho Chang é acusada de ser a dedo-duro. Disponível em: Acesso em Neste episódio citado anteriormente, o diretor realizou uma fusão de personagens (uma vez que Cho Chang passou, em um momento, a ser a "dedo-duro"), apropriações de elementos da narrativa (sob a ótica geral de Harry Potter) ao 102

103 colocar a poção Veritasserum como "responsável" pela menina ter contado a verdade. A cena escolhida para este trabalho também passa por esses recursos, já que passou do livro para o filme. O momento em questão ainda é privilegiado graças aos recursos próprios que o cinema permite existir, efeitos especiais, movimentação e posição da câmera, a montagem das cenas em flashbacks que mostram outros tempos, não só o tempo presente na narrativa etc. Tais recursos deixam a cena recriada no filme rica, com detalhes, com uma grande dimensão, mas isso não significa que o original, a cena literária, seja pobre ou que não tenha qualidade. Julio Plaza nos ajuda a entender: O caráter tátil-sensorial, inclusivo e abrangente, das formas eletrônicas permite dialogar em ritmo intervisual, intertextual e intersensorial como vários códigos de informação. [...] É nesses intervalos que o meio adquire a sua real dimensão, a sua qualidade, pois cada mensagem engole [...] as anteriores, já que estão formadas pela mesma energia. [...] para caracterizar as formas tecnológicas da atualidade como formas re-correntes da história, como formas tecnológicas tradutoras, elas mesmas, da história. [...] passado-presente-futuro ou originaltradução-recepção, estão necessariamente atravessados pelos meios de produção social e artística. (PLAZA, 2010, p. 13). A experiência de passagem de um recurso verbal, como o texto literário de Harry Potter, para um texto como o cinema permite uma criação visual do que é narrado sob o olhar de um diretor. Quando é lido primeiramente o texto verbal, o leitor cria, imagina, especula detalhes de uma cena de acordo com o que está contado e também pelas múltiplas interpretações que a leitura do texto verbal permite. Com o filme, sob o ponto de vista da visualidade, a interpretação feita pelo leitor com o texto original, ou seja, a interpretação prévia ou posterior que o leitor faz do texto original não implica uma interpretação correta ou incorreta. Deste modo há uma relação entre os visuais "causados" pelas leituras entre os dois textos: livro e filme. Vale ressaltar que a intenção deste trabalho ao analisar a passagem de uma cena literária para o meio cinematográfico não visa saber se a adaptação foi fiel. A questão da fidelidade em uma operação tradutora entre linguagens distintas possui 103

104 um caráter mais ideológico, uma vez que um novo signo surgirá por estar "apontando" ao objeto original, ou seja, o signo que adapta criará uma verdade própria. Essa "nova" verdade criada pelo objeto não "rouba a luz" do objeto original. Se pensarmos na cena escolhida para este trabalho, em seu meio literário conseguimos compreender os sentimentos e sensações que Harry Potter tem naquele momento pela descrição que é feita: o garoto sente como se estivesse sido apertado por uma criatura de olhos vermelhos: Ele foi levado ao saguão, preso nas espirais de uma criatura de olhos vermelhos tão apertadas que ele não sabia onde terminava o seu corpo e começava o da criatura [...]. (ROWLING, 2003, p. 660), porém na adaptação cinematográfica não é retratada tal criatura conforme o que fora descrito no livro. No filme, o garoto sente dores como se estivessem tentando entrar em seu corpo e em sua mente, contorce de sofrimento. No texto literário, as dores cedem quando Harry Potter lembra-se de Sirius Black, e é descrito que seu coração encheu de emoção: E reverei Sirius. E o coração de Harry se encheu de emoção, as espirais da criatura se afrouxaram, a dor desapareceu [...]. (ROWLING, 2003, p. 660). Na adaptação cinematográfica, Harry Potter não apenas lembra-se de Sirius Black, mas seu sentimento de emoção é despertado ao olhar para os amigos que estão na sala observando-o, lembra de momentos com os colegas, pensa em seus pais: a emoção de ter amor e amizade derrota o sofrimento e pensamentos ruins que Voldemort está ocasionando em sua mente, pois é mais forte que o mal. Tais exemplos mostram que a releitura criada pelo diretor do filme daquela cena não foram transpostas ipisis literis, mas houve uma interpretação que tange e complementa o original. Brito propõe: Partindo do princípio de que estilo se define pela fusão de forma e fundo, conclui que toda fidelidade é ilusória, e sequer desejável. O que cabe ao cineasta fazer é encontrar equivalentes cinematográficos ao original, pois sendo o filme uma tradução estética do romance para outra linguagem, fundada numa simpática fundamental do cineasta pela romancista, trata-se de respeitar o espírito do romance adaptado, a fidelidade do autor consistindo 104

105 apenas em inventar e articular os elementos audiovisuais que ele não desautorizaria. (2006, p. 148) Assim, compreendemos que as interpretações propostas no filme, sendo elas "novas" verdades trazidas pelo tradutor, não fazem com que estas sejam infiéis ao original por serem "mais amplas" ou "mais reduzidas", pois a essência, a proposta daquela cena foi mantida. Julio Plaza explicita: A tradução mantém uma relação íntima com o seu original, ao qual deve sua existência, mas é nela que a vida do original alcança sua expansão póstuma mais vasta e sempre renovada; [...] Já do ponto de vista da poética da tradução, o aumento ou diminuição da informação estética fornece-nos o nível e a qualidade da operação tradutora que pode ser vista como complementação do signo traduzido. (2010, p ). Assim sendo, não nos caberá aqui julgar se a cena literária transposta para o cinema fora retratada fielmente no que se diz respeito à descrição e dos detalhes que envolvem o fragmento, e sim se a intenção da cena, quando colocada em seu original, foi preservada, se a mensagem que o autor planejou para aquele momento no objeto original (do momento passado, tido como ícone) está intrínseca no objeto traduzido (tido como símbolo do original). 105

106 3.2 Um espelho literário no Largo Grimmauld, 12 Na saga Harry Potter as reuniões realizadas pela sociedade secreta Ordem da Fênix para levantar questões sobre como derrotar o Lord das Trevas ocorrem na antiga casa da família de Sirius Black, localizada no Largo Grimmauld número 12, uma casa que só é visível para os bruxos. Aqui neste trabalho o Largo Grimmauld mostrará os nossos objetos de estudo, sendo nesta primeira parte o trecho literário. O fragmento para estudo ocorre, na narrativa literária, no espaço do Ministério da Magia, após Harry Potter e seus colegas saírem escondidos de Hogwarts (sob vigilância da professora Dolores Umbridge). Ainda na escola, Harry Potter teve uma visão, gerada e controlada por Voldemort, de que o seu inimigo estava fazendo Sirius Black, seu padrinho como refém, pois desejava algo, uma espécie de arma ou objetvo, que o garoto ainda desconhecia o que era. Voldemort ameaçava matar Sirius Black. Harry Potter, querendo salvar o padrinho, escapa da escola após enfrentar sua professora e chega ao Ministério da Magia. Lá, entra na Sala de Mistérios e encontra uma profecia com seu nome, a qual somente poderia ser retirada por ele. Neste momento, seguidores de Voldemort, os Comensais da Morte, surgem e tentam tomar a profecia do garoto. Relutante, Harry Potter e os amigos escapam e lutam com os Comensais da Morte. Em seguida, alguns membros da Ordem da Fênix aparecem e ajudam os garotos na batalha, é quando Bellatrix Lestrange, uma das seguidoras de Voldemort, mata Sirius Black. Com o objetivo de encontrar diferenças que pudessem alterar ou criar novos sentidos ao momento literário escolhido, serão apresentados, a seguir, o mesmo fragmento selecionado de três edições distintas, todas pioneiras: a edição brasileira, a americana e a inglesa. Não foram encontradas diferenças significativas que alterassem a compreensão do leitor. As principais diferenças se dão, principalmente, pela pontuação comum das literaturas inglesas e americanas que diferem do que é comum para a leitura de Língua Portuguesa. 106

107 Primeira edição brasileira Então a cicatriz de Harry estourou e ele sentiu que estava morto: era uma dor que superava a imaginação, uma dor que superava a capacidade de sofrer... Ele foi levado ao saguão, preso nas espirais de uma criatura de olhos vermelhos tão apertadas que ele não sabia onde terminava o seu corpo e começava o da criatura: estavam fundidos, unidos pela dor e não havia saída... E quando a criatura falou, usou a boca de Harry, fazendo com que, em sua agonia, o garoto sentisse o queixo mexer. - Me mate agora, Dumbledore... Cego e moribundo, cada parte do seu corpo gritando por alívio, Harry sentiu a criatura usando-o mais uma vez... - Se a morte não é nada, Dumbledore, mate o garoto... Faça a dor passar, pensou Harry... faça ele nos matar... acabe com isso, Dumbledore... a morte não é nada em comparação... E reverei Sirius. E o coração de Harry se Primeira edição inglesa Then Harry's scar burst open and he knew he was dead: it was pain beyond imagining, pain past endurance -' He was gone from the hall, he was locked in the coils of a creature with red eyes, so tightly bound that Harry did not know where his body ended and the creature began: they were fused together, bound by pain, and there was no escape -' And when the creature spoke, it used Harry's mounth, so that in his agony he felt his jaw move... 'Kill me now, Dumbledore...' Blinded and dying, every part of him screaming for release, Harry felt the creature use him again... 'Kill me now, Dumbledore, kill the boy...' Let the pain stop, thought Harry... let him kill us... end it, Dumbledorer... death is nothing compared to this... And I'll see Sirius again... And as Harry's heart filled Primeira edição americana And then Harry s scar burst open. He knew he was dead: it was pain beyond imagining, pain past endurance He was gone from the hall, he was locked in the coils of a creature with red eyes, so tightly bound that Harry did not know where his body ended and the creature s began. They were fused together,bound by pain, and there was no escape And when the creature spoke, it used Harry s mouth, so that in his agony he felt his jaw move.... Kill me now, Dumbledore.... Blinded and dying, every part of him screaming for release, Harry felt the creature use him again.... If death is nothing, Dumbledore, kill the boy.... Let the pain stop, thought Harry. Let him kill us.... End it, Dumbledore.... Death is nothing compared to this.... And I ll see Sirius again.... And as Harry s heart filled 107

108 encheu de emoção, as espirais da criatura se afrouxaram, a dor desapareceu; ele estava deitado sobre o gelo e não madeira... E havia vozes ecoando pelo saguão, mais vozes do que deveria haver... Harry abriu os olhos, viu seus óculos junto ao calcanhar da estátua sem cabeça que o guardava, mas que agora estava caída de costas no chão, rachada e imóvel. Pôs os óculos, erguei ligeiramente a cabeça e descobriu o nariz torto de Dumbledore a centímetros do dele. - Você está bem, Harry? - Estou disse Harry, tremendo com tanta violência que não conseguia manter a cabeça em pé direito. Estou... onde está Voldemort, onde... quem são esses... que é... (ROWLING, 2003, p. 660). with emotion, the creatures coils loosened, the pain was gone; Harry was lying face down on the floor, his glasses gone, shivering as though he lay upon ice, not wood... And there were voices echoing through the hall, more voices than there should have been... Harry opened his eyes, saw his glasses lying by the heel of the headless statue that had been guarding him, but which now lay flat on its back, cracked and immobile. He put them on and raised his head a little to find Dumbledore's crooked nose inches from his own. 'Are you all right, Harry?' 'Yes', said Harry, shaking sdo violently he could not hold his head up properly. 'Yeah, I'm - where's Voldemort, where - who are all these - what's -' (ROWLING, 2003, p. 848). with emotion, the creature s coils loosened, the pain was gone, Harry was lying facedown on the floor, his glasses gone, shivering as though he lay upon ice, not wood.... And there were voices echoing through the hall, more voices than there should have been: Harry opened his eyes, saw his glasses lying at the heel of the headless statue that had been guarding him, but which now lay flat on its back, cracked and immobile. He put them on and raised his head an inch to find Dumbledore s crooked nose inches from his own. Are you all right, Harry? Yes, said Harry, shaking so violently he could not hold his head up properly. Yeah, I m where s Voldemort, where who are all these what s (ROWLING, 2003, p. 816). 108

109 3.3 Um espelho audiovisual no Largo Grimmauld, 12 Bem como o item Espelho Literário trouxe o fragmento retirado do livro para estudo, o Espelho Audiovisual agora apresentará a cena fílmica de Harry Potter e a Ordem da Fênix. A cena recortada 10 adapta o momento literário em que Harry Potter está no Ministério da Magia com os colegas de Hogwarts após lutarem com Comensais da Morte. No filme, Dumbledore aparece e luta com Voldemort, que desaparece e passa a atacar a mente de Harry Potter. 10 Para melhor visualização e análise da cena, ela está apresentada neste trabalho quadro a quadro. Os mesmos foram retirados do site Potterwish (disponível em: e com acesso em ), uma plataforma online feita por fãs da série Harry Potter que têm o objetivo de apresentar notícias e novidades da saga em primeira mão. O site está no ar há 13 anos e disponibiliza uma galeria de fotos que incluem os frames de todos os filmes de Harry Potter. Os diálogos foram incluídos pelos autores. No filme, a cena se inicia aos 2:00:34 aos 2:03:

110 Você perdeu, velhote. Harry? 110

111 111

112 (Voldemort) Tão fraco. (Voldemort) Tão vulnerável. (Voldemort) Olhe para mim. 112

113 Harry, não é como vocês são semelhantes, são as diferenças. Harry? 113

114 Você é o fraco

115 ... você nunca conhecerá o amor ou a amizade. E eu sinto pena de você. 115

116 Você é um tolo, Harry Potter. 116

117 E você perderá tudo. Ele voltou! 117

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