Ginásio São Paulo ASCURRA (SC) Ascurra, abril de 1958

Transcrição

1 Ginásio São Paulo ASCURRA (SC) Ascurra, abril de 1958 Caríssimos Irmãos, Louvado seja Jesus Cristo Ainda com o coração profundamente triste, comunico a morte do nosso caríssimo Irmão, professo perpétuo de 51 anos, que se deu no Hospital São Roque, de Rodeio, no dia 17 de outubro de 1957, às 17h. Padre Aleixo nasceu em LUIS ALVES, Município de Itajaí, Estado de Santa Catarina, no dia 20 março de Foram seus pais João e Verônica Dalprá, imigrantes daquela bela pátria de poetas, de artistas e de santos que Petrarca saudou: "Salve, caro Deo tellus, sanctissima, salve". Família profundamente católica, onde reinava soberano o temor de Deus, educou os filhos na piedade e no trabalho. Ainda nos primeiros anos de seus estudos, teve a desventura de perder o pai. Como Mamãe Margarida, é Dona Verônica o anjo da família que se industrializa para a educação de seus filhos. Completada a sua obra, deixa parentes, amigos e a sua querida Luiz Alves e vem para Ascurra onde passa os 1

2 seus últimos dez anos de vida, até 1952, trabalhando para os Salesianos e Aspirantes nos trabalhos da lavanderia. No longínquo dezembro de 1916, os Salesianos aceitaram a Paróquia de Luis Alves (restituída em 1940 para a Arquidiocese). São inúmeras as vocações sacerdotais e religiosas que surgiram naquela Paróquia. O falecido Padre Ângelo Alberti, primeiro superior da Obra Salesiana em Santa Catarina (chamada, então, MISSÃO DE SANTA CATARINA) com sede em Ascurra, visitando as escolas públicas de Luiz Alves, suscitou muitas vocações. Quero nomear as duas primeiras: Sua Ex.cia D. João Batista Costa, bispo missionário em Porto Velho (RO) e o Sr. Padre José Stringari, nosso Inspetor. No dia 06 de abril de 1921 vem também o jovem Aleixo Costa. Em 1923 o encontramos em Lavrinhas para os estudos ginasiais, distinguindo-se sempre pelo bom comportamento e pelo amor aos estudos e à ordem, como conta um seu companheiro daqueles tempos. Inicia o seu ano de noviciado em Lavrinhas (SP) e recebe a veste talar, a batina, no dia 28 de janeiro de Seu Mestre no noviciado foi o Padre Virgínio Battezzati. Terminado o ano desta segunda prova se consagra a Deus coma profissão religiosa dia 28 de janeiro de Fez o Curso Filosófico em Lavrinhas em 1929 e O tirocínio prático foi em Niterói, no Colégio Santa Rosa, o primeiro colégio salesiano aberto no Brasil, estando ainda vivo Dom Bosco, e que neste ano celebra seu Jubileu de Diamante. Em 1934 faz os votos perpétuos e iniciou seus estudos teológicos em São Paulo, no Instituto Pio XI. Foi ordenado sacerdote no dia 17 de dezembro de 1928 por Sua Ex.cia Dom Pio Freitas, CM, bispo de Joinville, na nossa igreja paroquial de Santo Ambrósio em Ascurra. Depois das primícias sacerdotais na sua cidade natal, a obediência o destinou para este Aspirantado na qualidade de Conselheiro escolar, cargo que desempenhou por três anos. Em 1942, durante a 2ª guerra mundial, os estrangeiros aqui em Santa Catarina sofreram vexações, e o nosso Colégio diversas revistas, investigações, com ameaças de prisões. O Padre Aleixo foi o homem providencial que salvou a situação. Naquele ano foi nomeado Pároco de Ascurra. Com grande disposição para o trabalho se colocou na mesma esteira de 25 anos atrás feita pelo inesquecível padre Alberti e continuada depois pelo Padre Leão Muzzarelli e o 2

3 Padre João Rolando. O seu primeiro trabalho foi a ampliação e a decoração da nossa igreja paroquial. Deu também grande impulso às Associações religiosas. Em 1946 foi transferido para a nossa paróquia de Arrozeira (SC), como pároco e diretor, onde passou dez anos. Foram dez anos de intenso e inteligente trabalho de pastoreio das almas, suscitando numerosas vocações. Arrozeira, neste Estado de Santa Catarina, é um dos redutos mais ricos e mais fecundos de vocações. Já são muitos os sacerdotes e religiosos de ambos os sexos que trabalham na messe da Igreja. Mais numerosos são ainda aqueles que nos seminários de diversas Congregações e preparam para a vida religiosa. No final deste ano termos 7 novos sacerdotes salesianos de Arrozeira. O trabalho do Padre Aleixo foi abençoado por Deus. Que satisfação ver assim coroados os seus esforços. Muitas almas religiosas devem também a ele a perseverança na vocação. Em 1956 a obediência julgou conveniente transferi-lo novamente para Ascurra para ajudar na paróquia e como confessor da comunidade. Para ele custou muito sacrifício ter que deixar Arrozeira. Também os fiéis não podiam conformar-se em deixar partir seu pároco zeloso. Mas venceu o espírito de fé e a submissão aos superiores. Entre nós começou imediatamente o trabalho. O povo queria uma escada na praça da igreja. O Padre Aleixo começou o projeto. Não mediu sacrifícios enquanto não a viu bela e terminada. Pensava-se na inauguração em breve tempo quando a morte o tirou improvisamente. Seja feita a vontade de Deus! A praça receberá, por desejo do povo, o nome de Praça Padre Aleixo. Também em Arrozeira uma nova escola traz o nome de Escola Padre Aleixo. No mês de setembro passado recebemos a graça extraordinária da visita do nosso Venerado Reitor Mor. Foram dois dias de grandes emoções e vivíssima alegria para todos, Salesianos, Aspirantes, Cooperadores e amigos da Obra Salesiana. O senhor Padre Ziggiotti teve sinais de particular estima e grande afeto para com o nosso saudoso irmão, Padre Aleixo. Mas disposições da Providência! justamente no dia em que o superior levantava voo para retornar a Turim 17 de outubro, Deus chamava para si o nosso Padre Aleixo. Parece nos escrevia nesta ocasião D. Antônio Barbosa, que na época era o Inspetor, que Deus tenha querido uma vitima que com seu sangue lacrasse os frutos da visita tornando-os verdadeiros e duradouros. 3

4 Na tarde daquele dia, acompanhado de um Irmão Coadjutor e alguns empregados, foi a Guaricanas, onde o Aspirantado tem um belo terreno para plantações. Começou a derrubar uma grande árvore. Não se sabe como, na queda a árvore o atingiu pelas costas abatendo-o inexoravelmente no chão já sem sentidos. Atingiu o crânio e quebram-se todas as costelas provocando hemorragia interna. Transportado urgentemente para o Hospital São Roque de Rodeio, o médico constatou caso gravíssimo e fatal. Foi-lhe administrada a Extrema Unção. Às 17h. circundado por alguns Irmãos Salesianos e pelas Irmãs da Divina Providência, entregou sua bela alma a Deus. A triste notícia se espalhou como um relâmpago. Impossível descrever a dor que abateu a todos. Quanta tristeza e quanta lágrima. Todos, de fato, o queriam muito bem. O seu corpo foi transportado para o nosso Aspirantado. Salesianos, Aspirantes e paroquianos se sucederam ininterruptamente por toda a noite ao redor do caixão na capela interna do seminário dedicada ao Espírito Santo. No dia 18 pela manhã foi levado para a Igreja Paroquial onde se cantou missa exequial solene de corpo presente. Durante o dia, novamente, ocorreu uma massa imensa de povo para os solenes funerais que se deram às 17hs. Nunca se viu tanta aglomeração de fiéis em Ascurra, provenientes de Ascurra, Luiz Alves, Rodeio e Apiúna. As máximas autoridades do Município e do Distrito estavam presentes, ao lado dos Padres Franciscanos de Rodeio, dos Missionários do Verbo Divino de Apiúna, o pároco de Ibirama e aos nossos Irmãos de Arrozeira e Rio do Sul. Era o reconhecimento de autoridades e do povo, a gratidão de tantas almas beneficiadas pelo seu zelo apostólico em dezoito anos de ministério sacerdotal. No cemitério deram o último adeus um padre Franciscano, um aspirante, um ex-aluno em nome do Município e uma Filha de Maria Auxiliadora. Todos os oradores tiveram palavras de elogio às virtudes e benemerências do caro extinto arrancando lágrimas. O seu túmulo está constantemente coberto de flores, de velas acesas. Há aqueles que dizem ter recebido graças depois de terem rezado pela alma do Padre Aleixo. O município, por vontade do próprio prefeito (protestante luterano), quis perpetuar sua memória dando a uma das ruas de Ascurra o nome de Rua Padre Aleixo. * * * 4

5 Caros Irmãos, Com o Padre Aleixo desaparece um dos primeiros fervorosos, zelosos, trabalhadores e piedosos salesianos que generosamente deixaram o trabalho do campo para consagrar-se ao Senhor. Eram suas características: o trabalho, a caridade e a alegria. Estava sempre disposto para qualquer trabalho. Estava sempre pronto para tudo. Nunca dizia não. Parecia que tinha feito suas as palavras do Apóstolo: Omnibus omnia factus fez tudo para todos. Mas o que mais impressionou na sua vida de Salesiano foi a sua caridade para com todos, de modo particular para com os seus Irmãos de Congregação. Dele nunca foi ouvida uma palavra de reprovação ou de crítica contra quem quer que seja. Não falava mal de ninguém, nem mesmo daqueles o tinham lhe causado algum desgosto. Sereno e otimista conquistava todos. A sua alegria era contagiante. Tinha traduzido na prática a recomendação de Dom Bosco: - Esteja sempre alegre. Nada te perturbe. Nos seus cadernos de noviciado encontramos este pensamento: Devo ser humilde porque Deus quer que eu seja humilde. E verdadeiramente o foi. Quantos o conheceram viram a sua humildade, modéstia no comportamento e a sua simplicidade que transparecia de todo o seu ser e de seu agir. Era notório para todos o seu espírito de pobreza, seja na alimentação, contentando-se com qualquer coisa, seja na pessoa. Que a Providência nos mande muitas vocações do estilo deste humilde e digno filho de Dom Bosco. Rezemos pela alma escolhida deste nosso caro Irmão, sendo-lhe generosos de muitos sufrágios. Queiram também encomendar a Deus nas suas fervorosas orações esta casa de formação e aquele que se professa Afeiçoadíssimo nos Corações de Jesus e de Maria, P. ALFREDO BORTOLINI DIRETOR 5

6 DADOS PARA O NECROLÓGIO P. ALEIXO COSTA *Luiz Alves (SC), 20 de março de 1906, Ascurra (SC), 17 de outubro de 1957, com 51 anos de idade, 28 de profissão religiosa salesiana e 18 de presbiterado. 6