VI-039 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL UTILIZADOS EM PLANOS DIRETORES DE LIMPEZA URBANA

Transcrição

1 VI-039 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL UTILIZADOS EM PLANOS DIRETORES DE LIMPEZA URBANA Waleska Garcia Mendes (1) Engenheira Sanitarista (EPUFBA), Mestranda em Engenharia Ambiental Urbana (EPUFBA), Consultora na Área de Projetos de Infra-Estrutura Urbana. Luiz Roberto Santos Moraes Engenheiro Civil (EPUFBA) e Sanitarista (FSP/USP), M.Sc. em Engenharia Sanitária (IHE/Delft-Holanda), Ph.D. em Saúde Ambiental (LSHTM/ University of London), Professor Titular em Saneamento da Escola Politécnica da UFBA. Endereço (1) : Rua Paraíba 178, apto. 208, Pituba, Salvador-BA; CEP ; Tel (55-71) ; e- mail: wgmendes@ufba.br RESUMO Desde 1992 Programas de Educação Ambiental utilizados em Planos Diretores de Limpeza Urbana, vêm sendo elaborados por empresas de consultoria, contratadas pelos órgãos do Governo do Estado da Bahia-Brasil, como ferramenta para a sensibilização das populações para vários municípios do Estado. O êxito deste tipo de programa está diretamente e intimamente relacionado com a participação da comunidade envolvida, resultando na ampliação da consciência ambiental, através do exercício permanente da cidadania e em busca da melhoria da salubridade ambiental. Além disso, muitas vezes, programas deste gênero sofrem resistência direta das próprias prefeituras municipais, por falta de conhecimento aprofundado da questão abordada e incorporação de determinadas sugestões técnicas. Sendo assim, o presente trabalho apresenta um estudo sobre as metodologias utilizadas em Programas de Educação Ambiental para Planos Diretores de Limpeza Urbana de cidades do Estado da Bahia, por meio de investigação e análise da implantação e resultados alcançados nestes programas, visando contribuir para o seu aprimoramento. Os estudos realizados contribuíram para analisar a forma de implantação desses programas em três cidades do Estado da Bahia para a realização da pesquisa, além de avaliar se a metodologia utilizada era adequada para a comunidade alvo, como também os resultados alcançados. PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, Programa de Educação Ambiental, Plano Diretor de Limpeza Urbana, Avaliação. INTRODUÇÃO A humanidade encontra-se na mais importante encruzilhada de sua história como espécie, por isso ou mudamos radicalmente, ou desapareceremos, em meio a um espantoso desastre nuclear, ecológico ou moral (GUTIÉRREZ e PRADO, 1999). Essa mudança obriga o homem a construir, o mais breve possível, a partir da vida cotidiana, uma sociedade muito mais em harmonia com suas potencialidades e com as exigências da natureza. Neste sentido, a educação entra em cena agindo como base transformadora nessa busca por uma mudança do tipo de mundo criado e estruturado. A partir do comprometimento ativo com o processo educacional, a família ou grupo, agindo paralelamente com a escola, ajuda o indivíduo (desde muito pequeno) a desenvolver sua aprendizagem e permanentemente reconstruir seu conhecimento. A aprendizagem constitui-se, portanto num estado de ânimo que leva aquele que aprende a constituir-se em sujeito consciente do processo. Essa atitude de busca, de abertura, esse interrogar a realidade de cada dia, é viver permanentemente um riquíssimo processo educativo (GUTIÉRREZ e PRADO, 1999). O enfoque ambiental nas instituições de ensino ainda é bastante tímido, por conta, principalmente, da deficiência na formação do professor, que não recebe da escola as condições necessárias para desenvolver trabalhos sobre a questão ambiental. Baixos salários, falta de material didático e orientação técnica, são apenas ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

2 algumas das dificuldades enfrentadas pelo profissional de ensino, que tem limitações para entender com consistência o assunto e poder repassá-lo para os alunos. Os especialistas da área ambiental estavam certos. Se dependesse das instituições da educação formal no mundo, a Educação Ambiental ou não existiria ou ainda estaria retida nas elucubrações de ordem epistemológica e filosófica, emaranhada pelas teorias divergentes, ao sabor das vaidades acadêmicas e interesses políticos (DIAS, 2000). Há, pois, uma veemente necessidade de mudar a lógica do pensar da estrutura que hoje existe e criar alternativas que possam solucionar problemas. Neste sentido, pensar a Educação Ambiental é extrapolar os moldes tradicionais promovendo um novo tipo de educação que envolva as pessoas com o seu ambiente (suas relações, pertinências) despertando o senso crítico e formando cidadãs(ãos) atuantes, reflexivas(os). A escola precisa estar comprometida com as mudanças sociais, e os conteúdos programáticos devem revelar a sua realidade. Uma escola flexível e aberta ao diálogo, onde se possa entender que as pessoas não se envolvem com a temática ambiental sentadas em suas cadeiras, fechadas em um caixote de tijolo e cimento, regadas a quadro de giz ou parafernália audiovisual. Elas precisam sentir o cheiro, o sabor, as cores, a temperatura, a umidade, os sons, os movimentos do metabolismo do seu lugar, da sua escola, do seu bairro, da sua cidade...isso não se faz sentado em cadeiras. Essa escola, de moldes mais plásticos, poderá formar pessoas - que sairão da posição de sentantes e passarão a de pensantes - com o caráter da mudança, do resgate dos valores que justificam a nossa experiência humana na Terra (DIAS, 2000). O presente trabalho contém estudos realizados acerca das metodologias utilizadas em Programas de Educação Ambiental para Planos Diretores de Limpeza Urbana de cidades do Estado da Bahia-Brasil, por meio de investigação e análise da implantação e resultados alcançados nestes programas, visando contribuir para o seu aprimoramento. O trabalho foi executado tendo como base a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo realizada em três cidades do Estado da Bahia que foram selecionadas a partir de um levantamento criterioso sobre as metodologias existentes nos Programas de Educação Ambiental propostos e/ou implantados nos Planos Diretores de Limpeza Urbana. MATERIAIS E MÉTODOS Pela particularidade do objeto de estudo optou-se por trabalhar com a metodologia qualitativa de investigação, já que este tipo de abordagem permite compreender os valores culturais e as representações de determinado grupo sobre temas específicos (LEFÈVRE e outros, 2000). A metodologia proposta teve como principal fonte de apoio a pesquisa bibliográfica feita por meio da localização, seleção, leitura e análise de textos relevantes ao tema da pesquisa; consultas à literatura específica; pesquisa de campo; e finalmente, tratamento e análise dos dados obtidos, sendo, portanto, modelada em quatro ações específicas: 1. Planejamento da investigação a. Fonte de dados: Consistindo no levantamento e identificação das fontes potenciais de consulta. Nesta etapa de trabalho procurou-se levantar, dentro do Estado da Bahia, as cidades em que houve Programas de Educação Ambiental atrelados a Planos Diretores de Limpeza Urbana. Para tanto foi realizado o 1 levantamento de campo junto a Biblioteca e ao setor de Educação Ambiental da CONDER (Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia) ligado à sua COPLAN (Coordenação de Planejamento). O passo seguinte desta etapa de trabalho foi escolher quais cidades fariam parte da pesquisa. Assim, realizou-se o 2 levantamento de campo, junto ao setor de Educação Ambiental da CONDER, onde foram identificadas as metodologias empregadas nos Programas de Educação Ambiental das cidades que contemplaram este tipo de projeto; b. Amostragem Sendo uma pesquisa qualitativa, o tipo de amostragem proposto é o da intencionalidade, pois considera, além da quantidade, a variabilidade e a qualidade dos sujeitos a serem entrevistados, em termos das possibilidades deles fornecerem dados ricos, interessantes e suficientes para compor e reconstruir o horizonte de pensamento (LEFÈVRE e outros, 2000). ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2

3 Assim, a população foi formada por pessoas de órgãos públicos, da educação formal, de entidades comunitárias e do setor de serviços; c. Instrumento de Coleta de Dados A coleta de dados está sendo feita por meio da técnica da entrevista semi-estruturada, pautada por um roteiro de questões. Os discursos das entrevistas são registrados por intermédio de um microgravador com fitas magnéticas de 60 minutos cada e também por registro escrito no questionário a ser aplicado. O que se pretende com a aplicação desta técnica é superar a limitação implícita na compreensão dos campos por meio de dados quantitativos, pois, ao mesmo tempo que valoriza a presença do investigador, oferece perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias enriquecendo a investigação (LEFÈVRE e outros, 2000); 2. Coleta de dados Consistindo no trabalho de campo utilizando a estratégia de pesquisa abordada no planejamento da investigação; 3. Tratamento e análise dos dados Nesta etapa de trabalho está sendo feita a digitação e análise dos dados coletados, representação gráfica dos resultados elaborada a partir de um modelo comparativo entre as metodologias utilizadas nas três cidades estudadas, permitindo o confronto de dados e dos aspectos analisados; 4. Produção da documentação Por meio da elaboração e entrega do relatório de pesquisa, contendo uma avaliação conclusiva do objeto de estudo, apresentando as interpretações e recomendações pertinentes. RESULTADOS PRELIMINARES Em três cidades do Estado da Bahia está sendo realizada uma pesquisa comparativa de campo, para avaliar as metodologias propostas e/ou implantadas nos Programas de Educação Ambiental. Nesta etapa de trabalho estão sendo realizadas entrevistas com autoridades municipais, educadores municipais, multiplicadores que participaram dos programas e lideranças chaves, através de aplicação de questionários estruturados, com o objetivo de avaliar a percepção dos mesmos em relação aos programas de Educação Ambiental implantados. Paralelamente à realização das entrevistas e coletas de dados e informações está sendo avaliado a utilização de indicadores que possam traduzir a eficácia dos programas e a durabilidade das ações propostas e/ou implantadas. A Figura 1 a seguir mostra as cidades da Bahia em que foram desenvolvidos Planos Diretores de Limpeza Urbana e Programas de Educação Ambiental atrelados a esses Planos Diretores. O Quadro 1 contém os resultados do segundo levantamento de campo realizado, que se referem às metodologias dos Programas de Educação Ambiental implantados segundo os Planos Diretores de Limpeza Urbana. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

4 Metropolitano Pró-Saneamento Baia de Todos os Santos PRODUR Projeto de EA Implantado Salvador 02. Lauro de Freitas 03. Simões Filho 04. Itaparica 05. Vera Cruz 06. Candeias 07. São Francisco do Conde 08. Madre de Deus 09. Camaçari 10. Dias D Ávila 11. Nazaré 12. Mata de São João 13. Alagoinhas 14. Maragojipe 15. Muritiba 16. Cachoeira 17. São Félix 18. Gv. Mangabeira 19. Santo Amaro 20. Porto Seguro 21. Sta. Cruz Cabralia 22. Ilhéus 23. Feira de Santana 24. Itabuna 25. Juazeiro 26. Entre Rios (Sauípe) 27. Valença 28. Vitória da Conquista 29. Itacaré 30. Uruçuca/Serra Grande 31. Cruz das Almas 32. Eunápolis 33. Belmonte 34. Brumado 35. Camamú 36. Conceição do Coité 37. Ibotitama 38. Ipiaú 39. Jacobina 40. João Dourado 41. Mucuri 42. Poções 43. Seabra 44. Sr. Do Bomfim 45. Serrinha 46. Xique-Xique Figura 1: Situação atual da Educação Ambiental no Estado da Bahia. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4

5 Quadro 1: Levantamento das metodologias utilizadas nos Programas de Educação Ambiental. Projeto Município Metodologia Utilizada PROJETO METROPOLITANO PRÓ-SANEAMENTO BAÍA DE TODOS OS SANTOS PRODUR Salvador Lauro de Freitas Simões Filho Itaparica Vera Cruz Candeias São Francisco do Conde Madre de Deus Camaçari Dias D Ávila Nazaré Mata de São João Alagoinhas Maragojipe Muritiba Cachoeira São Félix Gov. Mangabeira Santo Amaro Porto Seguro Sta. Cruz Cabralia Ilhéus Entre Rios (Sauipe) Itacaré Uruçuca/Serra Grande Belmonte CONCLUSÃO O produto final gerado pelo estudo consiste num instrumento de consulta, capaz de contribuir na tomada de decisão, de técnicos e instituições governamentais, especialmente as municipais, na área da Educação Ambiental, voltadas principalmente para a questão da limpeza urbana, bem como para organizações da sociedade civil interessadas no tema. O estudo aqui descrito visa subsidiar, tecnicamente, a utilização de Programas de Educação Ambiental atrelados aos Planos Diretores de Limpeza Urbana, de forma que estes possam atingir seus reais objetivos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 6.ed. rev. e ampl. São Paulo: Gaia, LEFÈVRE, Fernando; LEFÈVRE, Ana Maria C.; TEIXEIRA, Jorge J.V. O Discurso do Sujeito Coletivo: uma nova abordagem metodológica em pesquisa qualitativa. Caxias do Sul: EDUCS, GUTIÉRREZ, Francisco; PRADO, Cruz. Ecopedagogia e Cidadania Planetária. São Paulo: Cortez, ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5