ESTUDO SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL UTILIZADOS EM PLANOS DIRETORES DE LIMPEZA URBANA EM TRÊS SEDES MUNICIPAIS DA BAHIA

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1 ESTUDO SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL UTILIZADOS EM PLANOS DIRETORES DE LIMPEZA URBANA EM TRÊS SEDES MUNICIPAIS DA BAHIA Tema: VII Organização e Gestão dos Serviços de Saneamento: c. Educação Ambiental Autores: Waleska Garcia Mendes Luiz Roberto Santos Moraes Nome do responsável pela apresentação oral e seu currículo: Luiz Roberto Santos Moraes Engenheiro Civil (EP/UFBA) e Sanitarista (FSP/USP); M.Sc. em Engenharia Sanitária (Delft University of Technology); Ph.D. em Saúde Ambiental (University of London); Professor Titular em Saneamento do Departamento de Engenharia Ambiental e do Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana da Universidade Federal da Bahia; Membro do Conselho Diretor Nacional da ASSEMAE. 1

2 ESTUDO SOBRE A IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL UTILIZADOS EM PLANOS DIRETORES DE LIMPEZA URBANA EM TRÊS SEDES MUNICIPAIS DA BAHIA Waleska Garcia Mendes Engenheira Sanitarista (UFBA); MSc em Engenharia Ambiental Urbana (MEAU/UFBA); Consultora na Área de Projetos de Infra-Estrutura Urbana e Meio Ambiente. Luiz Roberto Santos Moraes (1) Engenheiro Civil (EP/UFBA) e Sanitarista (FSP/USP); M.Sc. em Engenharia Sanitária (IHE/Delft University of Technology); Ph.D. em Saúde Ambiental (LSHTM/University of London); Professor Titular em Saneamento do Departamento de Engenharia Ambiental e do Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia; Membro do Conselho Diretor Nacional da ASSEMAE. Endereço (1) : Rua Aristides Novis, 2, Federação, Salvador Bahia, CEP.: ; Telefax: (71) ; moraes@ufba.br RESUMO O presente trabalho tem como objetivo apresentar um estudo sobre as metodologias utilizadas em Programas de Educação Ambiental para Planos Diretores de Limpeza Urbana de cidades da Bahia, por meio de investigação e análise da implantação e resultados alcançados nestes programas. Para tanto, a partir de uma revisão crítica da literatura sobre o tema Educação Ambiental e metodologias utilizadas em Programas de Educação Ambiental, o trabalho procura identificar as etapas metodológicas para a definição de Programas de Educação Ambiental voltados para a questão dos resíduos sólidos, além de realizar uma pesquisa de campo, em três cidades do Estado da Bahia, visando analisar se as metodologias utilizadas na implementação de Programas de Educação Ambiental de Planos Diretores de Limpeza Urbana foram adequadas para se alcançar os objetivos propostos pelos mesmos, utilizando como ferramenta metodológica a construção do Discurso do Sujeito Coletivo. 2

3 PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Plano Diretor de Limpeza Urbana; Programa de Educação Ambiental; Discurso do Sujeito Coletivo. INTRODUÇÃO A humanidade encontra-se na mais importante encruzilhada de sua história como espécie: ou muda radicalmente, ou corre o risco de desaparecer, em meio a um espantoso desastre nuclear, ecológico ou moral (GUTIÉRREZ e PRADO, 1999). Essa mudança obriga o homem a construir, o mais breve possível, a partir da vida cotidiana, uma sociedade muito mais em harmonia com as potencialidades e com as exigências da natureza. Neste sentido, a educação entra em cena agindo como base transformadora na busca por uma mudança do tipo de mundo criado e estruturado, onde o que é central é a vida e, portanto, o que é também central, é o ser humano. A situação atual, caracterizada pela busca de uma nova postura pelo homem perante o seu meio ambiente, exige a implementação de dimensões educativas novas, melhores e mais democráticas. Em todas elas coloca-se ênfase no componente ético e orientado à transformação dos comportamentos: a educação para a paz, para a saúde, a educação do consumidor, a educação ambiental que, de certo modo, reúne todas (MEDINA, 1999, p.22). A partir do comprometimento ativo com o processo educacional, a família ou grupo, agindo paralelamente com a escola, ajuda o indivíduo (desde muito pequeno) a desenvolver sua aprendizagem e, permanentemente, reconstruir seu conhecimento. A aprendizagem constitui-se, portanto, num estado de ânimo que leva aquele que aprende a constituir-se em sujeito consciente do processo. Essa atitude de busca, de abertura, esse interrogar a realidade de cada dia, é viver permanentemente um riquíssimo processo educativo (GUTIÉRREZ e PRADO, 1999, p.70). Entretanto, o enfoque ambiental nas instituições formais de ensino ainda é bastante tímido, por conta, principalmente, da deficiência na formação do professor, que não recebe da escola as condições necessárias para desenvolver trabalhos sobre a questão ambiental. Baixos salários, falta de material didático e orientação técnica, são apenas algumas das dificuldades enfrentadas pelo profissional de ensino, que tem limitações para entender com consistência o assunto e repassá-lo para os 3

4 alunos. Na realidade, o que se aprende nas escolas não é, necessariamente, o que está nos programas curriculares, mas o que o professor ensina em sala de aula. Os especialistas da área ambiental estavam certos. Se dependesse das instituições da educação formal no mundo, a Educação Ambiental ou não existiria ou ainda estaria retida nas elucubrações de ordem epistemológica e filosófica, emaranhada pelas teorias divergentes, ao sabor das vaidades acadêmicas e interesses políticos (DIAS, 2000). Há, pois, uma veemente necessidade de mudar a lógica do pensar da estrutura que hoje existe e criar alternativas que possam solucionar problemas. A incorporação de uma nova maneira de entender a educação passa também, pela reorientação dos currículos escolares exigindo, pelo menos, reformas estruturais importantes da educação (CARVALHO, 2003). Neste sentido, pensar a Educação Ambiental é extrapolar os moldes tradicionais promovendo um novo tipo de educação que envolva as pessoas com o seu ambiente (suas relações, pertinências) despertando o senso crítico e formando cidadãs(ãos) atuantes, reflexiva(os). A escola precisa estar comprometida com as mudanças sociais, e os conteúdos programáticos devem revelar a sua realidade. Uma escola flexível e aberta ao diálogo, no qual se possa entender que: as pessoas não se envolvem com a temática ambiental sentadas em suas cadeiras, fechadas em um caixote de tijolo e cimento, regadas a quadro de giz ou parafernália audiovisual. Elas precisam sentir o cheiro, o sabor, as cores, a temperatura, a umidade, os sons, os movimentos do metabolismo do seu lugar, da sua escola, do seu bairro, da sua cidade. Isso não se faz sentado em cadeiras (DIAS, 2000, p.124). O presente trabalho tem como objetivo apresentar estudos realizados acerca das metodologias utilizadas em Programas de Educação Ambiental para Planos Diretores de Limpeza Urbana de cidades do Estado da Bahia, por meio de investigação e análise da implantação e resultados alcançados nestes programas, visando contribuir para o seu aprimoramento. O trabalho foi elaborado tendo como base a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo realizada em três cidades do Estado da Bahia que foram selecionadas a partir de um levantamento criterioso sobre as metodologias existentes nos Programas de Educação Ambiental propostos e/ou implantados nos Planos Diretores de Limpeza Urbana. 4

5 MATERIAIS E MÉTODOS Pela particularidade do objeto de estudo optou-se por trabalhar com a metodologia qualitativa de investigação, já que este tipo de abordagem permite compreender os valores culturais e as representações de determinado grupo sobre temas específicos (LEFÈVRE, LEFÈVRE e TEIXEIRA, 2000, p.104). A metodologia proposta tem como principal fonte de apoio a pesquisa bibliográfica realizada por meio da localização, seleção, leitura e análise de textos relevantes sobre o tema da pesquisa; consultas à literatura específica; pesquisa de campo; e, finalmente, tratamento e análise dos dados obtidos, sendo, portanto, concebida em três ações específicas: 1. Planejamento da investigação a. Fonte de dados: i. Identificação das fontes potenciais de consulta dos Programas de Educação Ambiental associados a PDLU no Estado da Bahia. ii. Busca, levantamento e sistematização das informações oriundas do item i: Bibliotecas da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia-CONDER e da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional do Estado da Bahia-CAR. iii. Identificação das metodologias empregadas nos PEA encontrados na etapa anterior. iv. Seleção das cidades para estudo de caso seguindo os critérios: 1. Tamanho da população de, aproximadamente, 110 mil habitantes e 45 mil habitantes. 2. Distância à capital. 3. Seleção de duas cidades com, aproximadamente, 110 mil habitantes com dois tipos de metodologias empregadas nos PEA e seleção de duas cidades com população em torno de 45 mil habitantes com dois tipos de metodologias empregadas nos PEA. Assim, as cidades selecionadas para a pesquisa foram Lauro de Freitas e Alagoinhas com população em torno de 110 mil habitantes; e Dias D Ávila e Santo Amaro 1 com população de, aproximadamente, 45 mil habitantes. Estas escolhas permitem confrontar as duas metodologias utilizadas pelos Programas de Educação Ambiental para as diferentes faixas de população. 5

6 b. Amostra e Amostragem Sendo uma pesquisa qualitativa, o tipo de amostragem proposto é o da intencionalidade, pois considera, além da quantidade, a variabilidade e a qualidade dos sujeitos a serem entrevistados, em termos das possibilidades deles fornecerem dados ricos, interessantes e suficientes para compor e reconstruir o horizonte de pensamento (LEFÈVRE, LEFÈVRE e TEIXEIRA, 2000). Para cada cidade foi elaborado um quadro com a definição da amostra baseado no total de dados existentes, disponibilizados nos relatórios da CONDER. A amostra assumida para as cidades foi de 10% do total de multiplicadores formados, dando um total de 35 entrevistados para Lauro de Freitas e 32 multiplicadores para Dias D Ávila. No que se refere à cidade de Alagoinhas, como o número de multiplicadores foi bastante inferior ao das outras duas cidades, assumiu-se que a amostra seria o próprio universo de multiplicadores. c. Instrumento de Coleta de Dados A coleta de dados foi realizada por meio da técnica da entrevista semi-estruturada, pautada por um roteiro de questões. Os discursos das entrevistas foram registrados por intermédio de um microgravador com fitas magnéticas de 60 minutos cada e também por registro escrito no questionário aplicado. 2. Execução da Coleta de Dados Consistiu no trabalho de campo utilizando-se a estratégia de pesquisa abordada no planejamento da investigação. Por meio do instrumento de pesquisa proposto no item Planejamento da Investigação foram entrevistados os atores seguindo os quadros com a definição da amostra para cada cidade. Como conseqüência, estão apresentados a seguir na tabela 1, os resultados quantitativos da amostra prevista e realizada de cada cidade. Tabela 1: Amostra para a Pesquisa por Setor e Cidade Lauro de Freitas Alagoinhas Dias D'Ávila Setor Amostra Prevista Amostra Realizada Amostra Prevista Amostra Realizada Amostra Prevista Amostra Realizada Órgão Público Educação Formal Entidades Comunitárias Saúde Serviço Total Nesta cidade não foi possível realizar o trabalho de campo, devido a problemas operacionais. 6

7 3. Tratamento e análise dos dados Utilizou-se para tratamento dos dados levantados metodologia que resgatasse o significado e a profundidade dos discursos emitidos pelos sujeitos. Deste modo, entendeu-se que a melhor forma de estudar os dados levantados era desenvolver um trabalho de natureza qualitativa aplicando a construção do Discurso do Sujeito Coletivo DSC. A proposta do DSC é a de organizar e tabular os dados qualitativos de natureza verbal obtidos dos depoimentos, extraindo-se as idéias centrais e expressõeschave, de modo a formar um discurso-síntese, emitido no que se poderia chamar de primeira pessoa (coletiva) do singular (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2003, p.16). Para se chegar ao DSC de cada cidade, os depoimentos gravados foram transcritos e analisados por meio de três das quatro figuras metodológicas propostas por Lefèvre, Lefèvre e Teixeira (2000) que são: expressões-chave, idéia central e discurso do sujeito coletivo. Para a organização do resultado das entrevistas analisou-se cada depoimento extraindo-se as idéias centrais equivalentes e complementares e suas respectivas expressões-chave. Em seguida essas idéias centrais e/ou suas expressões-chave foram agregadas com coerência para compor um único DSC para cada cidade, de modo que a representação dos atores em questão formasse o discurso de um só. Por fim, os DSC das cidades foram estudados a partir da proposição de um modelo comparativo entre as metodologias utilizadas nas três cidades permitindo o confronto de dados e dos aspectos analisados. RESULTADOS A seguir apresenta-se o Discurso do Sujeito Coletivo formado a partir do tratamento dos dados para uma das cidades pesquisadas. 1 Como foi o curso de capacitação para multiplicadores (período, orientações recebidas, material distribuído)? O curso de capacitação foi realizado há bastante tempo, cerca de seis a sete anos atrás, e teve como objetivo formar multiplicadores que passariam as informações recebidas sobre o meio ambiente, por meio de participações em seminários, palestras no contexto da Prefeitura e escolas municipais. Foi um trabalho para 7

8 mudar a si próprio, para depois mudar ao redor. Quanto à capacitação realizada na Escola de Cadetes Mirins esta teve duração de uma manhã. Já a capacitação realizada nas escolas municipais e órgãos da Prefeitura o período foi de oito dias consecutivos. No que diz respeito ao material utilizado, este foi de boa qualidade e enfocou várias questões relacionadas ao meio ambiente. 2 Os multiplicadores receberam alguma remuneração? Os multiplicadores não receberam nenhuma remuneração. 3 Depois de ter participado do curso de capacitação como foi sua atuação como multiplicador? Houve continuidade do Programa? Por quanto tempo? Houve continuidade por um certo período de tempo, em torno de dois ou três meses, depois não houve mais continuidade do Programa, a não ser por ações isoladas nas atribuições individuais dos fiscais interativos. Quanto à capacitação realizada nas escolas, os resultados poderiam ter sido melhor aproveitados se tivesse havido um envolvimento maior da direção. 4 Houve acompanhamento pela CONDER ou órgão/empresa que realizou a capacitação? Por quanto tempo? O acompanhamento pela CONDER foi somente durante o curso ministrado, depois voltou a rotina normal. 5 Houve distribuição de kit? De que era composto o kit distribuído? Era de fácil entendimento? Houve dificuldade para utilizar o material? O kit distribuído continha material didático composto por apostilas. Na escola de Cadetes Mirins houve a apresentação do material para a confecção de papel reciclado. No geral o material distribuído era ilustrado com linguagem clara e de fácil entendimento. 6 Onde se deu sua atuação como multiplicador? A atuação como multiplicador foi mais trabalhada no segmento das escolas municipais que atuaram nas próprias escolas e em escolas circunvizinhas. Quanto à atuação dos fiscais interativos, essa foi absorvida pela rotina diária. Na Escola de Cadetes Mirins, pode-se dizer, que a atuação dos multiplicadores não existiu. 7 Quais as atividades que foram realizadas, associadas à limpeza urbana? Na área da limpeza urbana foram feitos mutirões de limpeza em manguezais e rios como Sapato e Goro. Além disso, foram realizadas oficinas de reciclagem, montadas maquetes e plantadas hortas comunitárias. 8 Quantos NEA foram criados na Cidade? 8

9 O Departamento de Gestão Ambiental DGA, ligado à SEPLANTUR Secretaria de Planejamento, Cultura e Turismo absorveu as funções do NEA. 9 Os NEA foram fortalecidos durante o período de execução dos PEA? De que forma? Não houve fortalecimento, conseqüência direta da falta de continuidade das ações após a conclusão da capacitação. 10 Após a conclusão do trabalho do CIMA, o PEA fomentou a continuação das ações dos NEA? O PEA não fomentou a continuação das ações do NEA. Apenas aconteceu o curso de capacitação sem continuidade das ações. 11 Qual a sua percepção quanto à melhoria dos serviços prestados? Pode-se dizer que não há relação entre os serviços de limpeza urbana prestados e o Programa de Educação Ambiental no município de Lauro de Freitas. Há sim, uma tomada de consciência de algumas das pessoas que participaram do curso, em relação a necessidade de se trabalhar a importância das questões ambientais para melhorar a realidade local, embora as ações para que isso aconteça não existam. DISCUSSÃO A pesquisa desenvolvida ao longo desse trabalho tem limitações, haja vista, o tamanho da amostra prevista e realizada nas três cidades, impossibilitando a análise quantitativa dos dados. Mesmo assim, tem sua importância, no que se refere à metodologia de análise dos resultados, por meio da construção do Discurso do Sujeito Coletivo, porquanto, resulta em um método confiável de análise, já que resgata com fidelidade os discursos emitidos pelos informantes. Quanto à pesquisa de campo, a pretensão inicial era analisar as metodologias utilizadas em quatro cidades da Bahia, para confrontar as duas metodologias utilizadas e o tamanho das populações. Entretanto, por problemas operacionais, só foi possível pesquisar três cidades. Os PEA, para as cidades de Lauro de Freitas e Dias D Ávila, seguiram a metodologia A Natureza da Paisagem e estiveram vinculados ao Projeto Metropolitano, componente Limpeza Urbana. Com referência a cidade de Alagoinhas, o Programa de Educação Ambiental foi realizado por meio do Projeto Pró-Saneamento, componente Resíduos Sólidos, sendo aplicada uma metodologia desenvolvida pela CONDER, denominada Escola/Comunidade. 9

10 O perfil do público alvo nas três cidades pesquisadas foi formado por informantes da administração das Prefeituras, como também por pessoas ligadas à educação formal (professores e diretoras de escolas). A cidade de Alagoinhas contou também com um informante do setor de serviços ligado a uma emissora de rádio. Em relação ao curso de capacitação para multiplicadores, segundo os DSC elaborados, pode-se afirmar que para as cidades de Lauro de Freitas e Dias D Ávila o objetivo principal do Programa de Educação Ambiental era formar multiplicadores ligados a diversos segmentos da sociedade, para trabalharem, dentro de cada setor, as questões relacionadas ao meio ambiente. Já para a cidade de Alagoinhas o objetivo foi formar, a partir dos multiplicadores capacitados, o NEA para a cidade. Comparando as metodologias empregadas nos PEA das três cidades estudadas, pode-se afirmar que não há praticamente diferenças metodológicas significantes, uma vez que as duas metodologias utilizam recursos didáticos semelhantes e focalizam a formação de multiplicadores. Também não foi observada relação entre o tamanho da população da cidade e a metodologia utilizada. Em relação ao acompanhamento do órgão gestor, pode-se afirmar que a CONDER esteve presente durante a realização dos cursos de capacitação nas três cidades. Entretanto, nas cidades de Lauro de Freitas e Alagoinhas, depois da conclusão dos PEA, o órgão gestor se afastou completamente. Com relação à cidade de Dias D Ávila foram realizadas, ainda, duas avaliações depois da conclusão do Programa. Durante a execução dos PEA não houve fortalecimento do NEA, na cidade de Lauro de Freitas, conseqüência direta da falta de continuidade das ações, após a conclusão da capacitação. No que diz respeito à cidade de Alagoinhas, o fortalecimento foi modesto, resumido à realização de três reuniões e implementação de ações pontuais relacionadas à limpeza urbana, como, por exemplo, o fornecimento de sacos plásticos para apoiar as práticas de separação para a reciclagem e limpeza locais. Já em relação à cidade de Dias D Ávila, pode-se afirmar que houve fortalecimento do NEA, na medida em que a equipe da CONDER realizava visitas periódicas, para acompanhamento dos trabalhos. Depois da conclusão dos Programas de Educação Ambiental e afastamento do órgão gestor, não houve continuidade das ações dos NEA em nenhuma das três cidades, devido, sobretudo, a falta de recursos disponíveis para implementar as ações na cidade de Alagoinhas, como, também, por causa da troca de administração na cidade de Dias D Ávila. 10

11 O município de Lauro de Freitas não conta com sistema de coleta seletiva, apesar do curso de capacitação para multiplicadores ter fomentado essa prática nas escolas municipais. A diferença entre o sistema de coleta proposto pelo PDLU e o que está sendo operado atualmente, bem como a falta de integração com o PEA, deixa claro que a metodologia não levou em conta os objetivos do PDLU, e mais, não levou em conta os conceitos e práticas mais recentes acerca da não geração e minimização da geração de resíduos sólidos. Da mesma forma, a prática da geração cada vez menor de resíduos sólidos, proposta nos objetivos do PDLU de Dias D Ávila não foi explorado pela metodologia do curso de capacitação. Apenas a reciclagem foi abordada como prática. Quanto a relação entre a melhoria dos serviços de limpeza urbana prestados pelas três prefeituras e os cursos de capacitação realizados, pode-se afirmar que não existe, uma vez que a atuação dos multiplicadores foi muito tímida ou quase nula, não surtindo efeitos significantes na comunidade. O PEA implementado em Lauro de Freitas atingiu a um dos objetivos propostos pelo PDLU no que tange à conscientização da população que participou da capacitação, embora esse resultado não tenha sido estendido à maioria da população da cidade, sendo que os 491 multiplicadores formados representaram apenas 0,45% do total da população urbana do município. Já em Dias D Ávila, os 370 multiplicadores formados representaram apenas 0,87% da população urbana do município. Ademais, a questão mais central percebida quanto à implementação de PEA é a da sustentabilidade necessária dos mesmos, depois que o órgão gestor se afasta e os multiplicadores têm que dar continuidade aos trabalhos de Educação Ambiental. Em nenhuma das metodologias houve o desenvolvimento, ou, sequer, a discussão acerca da possibilidade de se criar um meio, para que, depois de concluídos os trabalhos de capacitação houvesse a continuidade dos PEA. A sustentabilidade aqui se refere ao apoio financeiro, pois sem ele não é possível implementar várias ações, além do apoio metodológico, com avaliação periódica da metodologia e atualização de conceitos. Apenas a criação dos NEA, como constatado, principalmente, em Alagoinhas, não viabiliza a continuação dos trabalhos. 11

12 CONCLUSÃO De acordo com os objetivos propostos, com a metodologia utilizada na pesquisa de campo e com base nos resultados apresentados e discutidos anteriormente, podese concluir que: * A metodologia utilizada na pesquisa, com base na revisão de literatura associada à construção do Discurso do Sujeito Coletivo, apresentou-se satisfatória na sistematização das informações a respeito da análise das metodologias utilizadas em Programas de Educação Ambiental de PDLU em cidades da Bahia. * Algumas limitações podem ser atribuídas ao trabalho como, por exemplo, o número reduzido de informantes para a amostra proposta de cada cidade, impossibilitando a análise quantitativa dos dados, além dos problemas operacionais que inviabilizaram a pesquisa na cidade de Santo Amaro. Contudo, a análise qualitativa realizada, por meio da ferramenta metodológica, resgatando o Discurso do Sujeito Coletivo para cada cidade faz supor que a contribuição das entrevistas foi importante para se alcançar os objetivos propostos. Quanto à revisão da literatura, certamente, o trabalho encontra-se longe de esgotar o assunto, sendo necessário certo aprofundamento, no que tange ao embasamento teórico apresentado, em virtude da pesquisa não haver explorado de forma extensiva a literatura internacional. * Quanto às metodologias para Programas de Educação Ambiental, utilizadas em Planos Diretores de Limpeza Urbana nas três cidades da Bahia estudas ao longo deste trabalho, torna-se necessária uma revisão na forma de implementação de Programas dessa natureza, haja vista, os resultados obtidos, discutidos anteriormente. Dentro do universo pesquisado, percebeu-se que as metodologias utilizadas na implementação de Programas de Educação Ambiental de Planos Diretores de Limpeza Urbana não foram adequadas para se alcançar os objetivos propostos pelos mesmos, e, ainda, não houve diferenças significativas entre as duas metodologias estudadas. * Em relação ao tamanho da população da cidade e a metodologia utilizada, ainda que tenha havido limitação na amostra pesquisada, pode-se considerar não existir relação significativa entre esses dois aspectos. * A pesquisa realizada veio confirmar as metodologias utilizadas em Programas de Educação Ambiental para PDLU, nas cidades estudadas, foram ineficientes, pois pouco levaram em conta as peculiaridades da comunidade e do local, e mais, 12

13 foram frágeis em relação a garantia da sustentabilidade do Programa depois que o órgão gestor se afastou. * Não basta a empresa ou órgão gestor responsável pela implementação do PEA elaborar um diagnóstico superficial para compor o material didático a ser utilizado. O ideal é que, na medida do possível, fizesse parte da metodologia a construção pelos participantes dos cursos dos diagnósticos e das necessidades em relação à limpeza urbana ou a qualquer outro tema abordado. Incluir nas metodologias propostas a abordagem de temas relacionados às tendências atuais, que apontam para o desenvolvimento da consciência crítica da população para a não geração e a minimização da geração de resíduos sólidos, parece indicar o caminho para que programas dessa natureza alcancem os resultados esperados. Apenas o trabalho com práticas de reciclagem não é suficiente para se iniciar uma mudança que garanta às pessoas repensar o modelo econômico atual. Por fim, apresenta-se a seguir recomendações para o desenvolvimento de etapas metodológicas para a definição de um Programa de Educação Ambiental voltado para a questão dos resíduos sólidos. O centro do PEA seria a compreensão do que é a vida, uma experiência de aprendizado no mundo real, que supera a separação do Homem em relação à natureza e cria de novo uma noção dos fatos fundamentais da vida. Assim, um Programa desta natureza poderia contemplar as seguintes etapas: 1. Definição de Conceitos. 2. Contextualização da Educação Ambiental. 3. Definição dos objetivos da Educação Ambiental. 4. Definição dos objetivos do Programa de Educação Ambiental. 5. Definição dos Conteúdos. 6. Escolha da Metodologia de Educação Ambiental. 7. Escolha dos Recursos Didáticos. 8. Desenvolvimento da auto-sustentabilidade do Programa. 9. Realização de Avaliação. 13

14 REFERÊNCIAS 1. CARVALHO, Vilson Sérgio. A Educação Ambiental nos PCNs: o meio ambiente como tema transversal. In: MACHADO, Carly Barbosa et al. Educação Ambiental Consciente. Rio de Janeiro: WAK, p DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 6.ed. rev. e ampl. São Paulo: Gaia, GUTIÉRREZ, Francisco; PRADO, Cruz. Ecopedagogia e Cidadania Planetária. São Paulo: Cortez, LEFÈVRE, Fernando; LEFÈVRE, Ana Maria C. O Discurso do Sujeito Coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos). Caxias do Sul: EDUCS, LEFÈVRE, Fernando; LEFÈVRE, Ana Maria C.; TEIXEIRA, Jorge J.V. O Discurso do Sujeito Coletivo: uma nova abordagem metodológica em pesquisa qualitativa. Caxias do Sul: EDUCS, MEDINA, Nana Mininni; SANTOS, Elizabeth da Conceição. Educação Ambiental: uma metodologia participativa de formação. Petrópolis-RJ: Vozes,