Já está em vigor o teste da Confederação Brasileira de Cinofilia que informa no pedigree se o cão é certificado para determinada função
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- Ian Moreira Malheiro
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1 Cão Funcional: o teste que deverá revolucionar a cinofilia nacional Já está em vigor o teste da Confederação Brasileira de Cinofilia que informa no pedigree se o cão é certificado para determinada função Um novo programa da Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC) deverá promover o aprimoramento genético dos cães brasileiros. Tratase do Cão Funcional. A iniciativa avalia o desempenho dos cães nas atividades em que são mais usados em nosso país. Provas específicas, divididas em nove modalidades, testam as aptidões dos cães de companhia, de guarda, de farejamento, de pastoreio, de polícia e de serviços prestados a pessoas com limitações visuais, auditivas, motoras ou de saúde. Para cada modalidade, foi desenvolvida uma prova. O cão aprovado por profissional habilitado recebe um certificado que fica registrado no pedigree dele. Com isso, o pedigree passa a dar um aval à aptidão do cão, além de continuar a ser a tradicional prova da pureza racial e de registrar os títulos obtidos pelo cão e por seus ancestrais nas exposições de beleza. Espera-se que a novidade promova a valorização das aptidões caninas, aumentando a proporção de acasalamentos que levem em conta o temperamento do animal, além da perfeição física. A novidade deverá, portanto, contribuir positivamente para a preservação das qualidades funcionais inerentes a cada raça, elevando a qualidade de todo o plantel nacional. Além disso, as linhagens com aptidões aprovadas por meio de provas serão importantes para os compradores que buscam cães para uso em funções específicas. A iniciativa exige uma ampla rede de profissionais habilitados para aplicação das provas em todo o País, bem como para treinar os Cão funcional de companhia: modalidade mais simples das nove, abrange socialização e obediência básica animais que serão avaliados. Para coordenar toda essa atividade, a CBKC criou o Conselho Brasileiro do Cão Funcional (CBCF) em abril de 2012, sob comando de um grande jeffdalt / istock
2 Fotos: arquivo de Janott Coelho Cão funcional nível 2: modalidade avançada, avalia aptidão para provas esportivas, o que inclui forte capacidade de impulsão (à dir.: Janott Coelho testa Malinois em salto de 3,50 metros) amante dos cães, Janott Coelho, que já conviveu com exemplares de 25 raças, é presidente do Kennel Clube do Estado de Rondônia e adestrador profissional há mais de 30 anos. É ele que vem desenvolvendo o programa desde 2009, tendo como base o estudo dos métodos internacionais de avaliação de aptidões caninas mais usados: o schutzhund alemão, o mondioring e o NVBK belgas, o ring francês, o KNPV holandês e o K9 norteamericano. A novidade já começou a ser implantada nos Estados de Rondônia, onde tudo começou, e em São Paulo e Minas Gerais. Gradativamente, deverá chegar a todo o País. Confira, a seguir, mais detalhes em entrevista exclusiva concedida por Janott Coelho à Cães & Cia. Cães & Cia: Qual é o objetivo do programa Cão Funcional? Janott Coelho: A ideia é assegurar o aprimoramento genético das raças caninas pela seleção dos exemplares mais aptos física e psicologicamente. Não faz sentido não valorizarmos as aptidões de cada raça, resultado de muito trabalho, e deixá-las se perderem com o passar do tempo, como vem ocorrendo. Hoje, por exemplo, há cães de guarda que dificilmente mordem e muitos, quando mordem, o fazem com a boca macia, o que não frustra de forma alguma a invasão de uma residência ou empresa e impede o trabalho efetivo por parte dos cães de polícia. Outro benefício desse programa é estimular o aprimoramento dos adestradores profissionais. Cães & Cia: Por que decidiu se dedicar ao desenvolvimento dessas provas? Janott Coelho: Nos meus mais de 33 anos de adestrador, percebi a necessidade de a qualidade dos cães ser reconhecida não apenas pela morfologia (forma e estrutura do corpo), mas também pela aptidão para exercer uma função que os torne úteis. As exposições caninas são de extrema importância para mantermos as raças dentro de seus padrões, porém não há como avaliar com exatidão o temperamento de cada cão que está sendo examinado. Com o novo trabalho, a criação organizada poderá selecionar os acasalamentos levando em conta, além da perfeição física, as aptidões do cão. Estaremos também contribuindo para a produção de cães equilibrados, mesmo quando se dedicam à proteção. Mais um aspecto importante do programa é permitir a comparação dos desempenhos das raças caninas em todo o País, já que os testes são padronizados a partir de um regulamento único. Atualmente, por falta desse recurso, corporações militares e policiais não conseguem comparar o desempenho de seus cães com o das demais corporações, apesar de contarem com excelentes profissionais de adestramento. Cães & Cia: No que se diferenciam as provas do Cão Funcional das existentes no exterior? Janott Coelho: Fomos buscar os melhores testes de cada técnica para avaliar as aptidões importantes para o desempenho de uma ampla diversidade de funções, desde as mais tradicionais, como companhia, guarda, farejamento, pastoreio e cães de polícia até o auxílio a pessoas com deficiências. Os testes de faro serão direcionados conforme a especialidade. Por exemplo, a prova de resgate de pessoas terá avaliações diferentes da de detecção de entorpecentes. Temos também um teste que avalia a aptidão para o trabalho, denominado cão funcional nível 1, que verifica sociabilização, obediência, saltos, faro e proteção em nível básico. Os níveis 2 e 3 desse teste medem a capacidade do cão para provas esportivas de adestramento com alto nível de dificuldade, cada qual exigindo aprovação no respectivo nível anterior. Um cão para obter o título de
3 Bikeworldtravel / istock cão funcional nível 2, por exemplo, deverá ser robusto, ter reflexos rápidos, muita resistência à fadiga e ao calor, possuir forte capacidade de impulsão e grande elasticidade, além de ser capaz de permanecer tranquilo e, em caso de necessidade, passar rapidamente à ação, demonstrando pleno equilíbrio. Cães & Cia: Quais raças podem ser avaliadas? Janott Coelho: Pela amplitude das aptidões que o programa testa, todas as raças podem participar. Para as de menor porte, por exemplo, existe a prova de companhia e, aquelas com aptidão para a caça, como o Beagle e o Dachshund, podem passar pelo teste de faro. Cães & Cia: Quais diretrizes orientaram o desenvolvimento das provas do Cão Funcional? Janott Coelho: Uma delas foi identificar para quais raças Cão funcional auxiliar: deve ter um conjunto de qualidades necessárias para poder dar apoio a pessoas com limitações, como de visão, e cadeirantes determinados testes são fáceis ou difíceis demais. Outra foi perceber o grau de dificuldade das pessoas para aprender a preparar seus cães para as provas, de modo a não desestimular o treinamento e o próprio animal. Preservar o equilíbrio psicológico do cão e seu espírito de luta, tomando o cuidado de não exagerar nos exercícios, foi mais um aspecto levado em conta. Cães & Cia: Quais raças participaram desse trabalho? Janott Coelho: Quase todos os cães utilizados no desenvolvimento dos testes eram meus. As raças foram: Border Collie, Bull Terrier, Dachshund (Teckel), Dobermann, Retriever do Labrador, Pastor Alemão, Pastor Belga Malinois, Parson Russell Terrier, Rastreador Brasileiro e Rottweiler. Cão funcional de pastoreio: habilidade para controlar o rebanho é essencial e deve ser instintiva em raças como o Border Collie Cães & Cia: Com a adoção do Cão Funcional pela CBKC como meio de registrar no pedigree a qualidade temperamental do cão, haverá obrigatoriedade de fazer a prova? Janott Coelho: Assim como não é obrigatório que os cães com pedigree participem de exposições de beleza, não será obrigatório que sejam submetidos à certificação de funcionalidade. Em ambos os casos, as avaliações servem para comprovar a qualidade genética dos cães. O certificado de aptidão é um recurso importante para quem valoriza a preservação do temperamento em sua criação e para os compradores que buscam cão de linhagem adequada para o trabalho de interesse deles. Em futuro próximo, iniciaremos a promover competições de cão funcional. Esses torneios servirão para detectar os exemplares de cada raça mais aptos para exercer determinada função e se tornarão mais uma alternativa para quem gosta de adestramento. Cães & Cia: Por enquanto, como inscrever o cão para o teste? Janott Coelho: Quem quiser homologar o cão como funcional terá de seguir o regulamento da modalidade escolhida, onde consta quais exercícios serão avaliados e a idade mínima para participar da prova, que varia de 12 a 18 meses de vida. Os regulamentos de todas as modalidades poderão ser encontrados no site do CBCF, que está em fase final de montagem ( ou pelo caofuncional@hotmail.com ou tel.: (69) Haverá também um link no site da CBKC (www. cbkc.org). Os kenneis clubes já estão divulgando o programa. Quando o cão estiver apto para participar da prova, a inscrição deverá ser feita no kennel clube da região, o qual entrará em contato com o CBCF KateLeigh / istock
4 para agendamento. Cães & Cia: Em quais situações o cão poderá ser preparado pelo dono do cão? Janott Coelho: Por serem testes que exigem treino, a recomendação é contar sempre com a orientação de profissional de adestramento homologado. É claro que, quanto mais básica for a prova, como é o caso da de cão de companhia e da funcional de nível 1, mais os leigos podem participar, desde que se adaptem bem ao ensino dos cães. A prova de cão funcional de companhia, por exemplo, pode ser feita com idade mínima de 12 meses e testa a habilidade para acompanhar o condutor nos ambientes públicos (comandos junto, senta, deita, fica, aqui, sobe e desce ) e a sociabilização (não demonstrar agressão a pessoas ou animais, deixar-se tocar, manter-se indiferente Fotos: arquivo de Janott Coelho Já homologadas: Border Collie Kiara, cão funcional de faro (é especializada em detecção de explosivos e contrabando da fauna e flora), e Parson Russel Nina, cão funcional de companhia a sons altos e estridentes e uso de focinheira). Cães & Cia: Poderia dar um exemplo de avaliação feita na prova cão funcional nível 1? Janott Coelho: Todo cão funcional precisa aprender o junto combinado com o troca, por exemplo. Ao ouvir junto, o cão acompanha o condutor em passo normal, mantendo-se à esquerda dele. Com o troca, passa imediatamente para o lado direito do condutor até ouvir novamente o junto e reassumir o lado esquerdo, sem nunca ter interrompido a caminhada. O objetivo é apenas afastar o cão dos passantes e dos obstáculos, sem ser preciso mudança de curso por parte do condutor. Cães & Cia: Você já deu palestras sobre o Cão Funcional em outros países. Como está sendo a receptividade? Cão: Endless Summer P.R. That s NINA Fotos: arquivo de Janott Coelho Cão funcional nível 2: deve intercalar rapidamente ação com tranquilidade para mostrar equilíbrio (à dir, Janott Coelho faz apresentação na Bélgica observado pelo campeão mundial de mondioring e ring belga, Filippo Rocchi)
5 Arquivo de Janott Coelho Equipe participante do programa: Daiana e Bio, Denise e Akon, Erika e Kiara, José Wilson e Ranson, Jadnelson e Axcel, Jonatan e Fauna, Acas e Gamas, José de Oliveira e Mali, Janott Coelho e Fast Mukoyama Megumi / Cão: Belov Br do Mundurancania (Ranson) Janott Coelho: Nosso trabalho foi demonstrado no Peru e na Argentina com excelente aceitação e interesse. No final de maio e início de junho estive na Bélgica, país especializado em NVBK e mondioring, que são, na minha opinião, os dois melhores programas de adestramento do mundo. Lá divulguei o programa e busquei detalhes para finalizar os regulamentos de várias provas. Em outubro, explicarei no Panamá o nosso teste de faro para cães de detecção de animais e plantas silvestres, útil para agentes que combatem o contrabando de espécies nativas. Cães & Cia: Entre os planos, consta a popularização do programa? Janott Coelho: Além de matérias como esta que ajudam a difundir o programa, duas iniciativas previstas para breve contribuirão para a maior divulgação. Uma é a promoção dos campeonatos de cão funcional e, a outra, a implantação de representantes do CBCF em todos os Estados brasileiros, o que gerará palestras, seminários e cursos locais sobre o programa. Cães funcionais em homologação: Rastreador Brasileiro Ranson, especializado em rastreamento de pessoas na selva, e Rottweiler especializado em guarda com Alex Veiga, de Minas Gerais Arquivo de Janott Coelho Cães & Cia: O programa já está funcionando? Janott Coelho: Temos alguns adestradores profissionais capacitados para aplicação dos testes de companhia, guarda, faro e cão funcional nível 1 nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rondônia, e que se encontram em fase final de adequação. Em Rondônia, já homologamos 10 cães nas modalidades companhia, faro e nível 1. Para as raças de pastoreio e de auxílio a pessoas com deficiências, as provas serão aplicadas por entidades homologadas pelo CBCF, bastando que nos seja apresentada a súmula dada pelo juiz ao cão aprovado, para que o resultado passe a constar no pedigree do animal. Já os demais testes serão aplicados com regulamentos específicos elaborados pelo CBCF. Como estamos ainda na fase da difusão junto aos adestradores e de convidá-los a participar do programa, neste ano faremos em Minas Gerais nosso primeiro encontro com esses profissionais, aberto a participantes de todo o Brasil. Levando-se em conta a enorme extensão geográfica do Brasil e o fato de o adestramento de cães não fazer parte da nossa cultura, a implantação, em todo o território nacional, de um programa com a abrangência do Cão Funcional tende a demorar alguns anos. Agradecemos ao entrevistado. Reportagem, checagem de conteúdo e coordenação de imagens: Samia Malas Revisão de estilo: Marcos Pennacchi Texto: Marcos Pennacchi e Samia Malas
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