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Transcrição

1 Luiz Fonseca 46 MODERN DRUMMER Junho 2011

2 Christiano Galvão é um versátil baterista carioca que vem construindo uma sólida carreira atuando ao vivo e em estúdio ao lado de diversos artistas. Sua mais recente novidade é seu primeiro método de bateria, abordando ritmos brasileiros, chamado Creative Brazillian Drumming, lançado por enquanto apenas em inglês. Batemos um papo com o baterista, que conta sobre sua carreira, o desenvolvimento de seu trabalho e também sobre seu primeiro livro. Por Vlad Rocha MD: Conte como foi seu início na bateria. Christiano Galvão: Comecei a tocar como autodidata aos 13 anos de idade, fã de rock como todo adolescente da época do primeiro Rock in Rio, de Depois tive aulas particulares com Ronaldo Alvarenga, Pascoal Meirelles, Dámaso Cerruti e Marcio Bahia. Estudei também no Conservatório Brasileiro de Música. Minha primeira gig foi aos 19 anos, com o guitarrista Celso Blues Boy. Toquei por mais de dois anos na banda dele e fiz minha primeira gravação profissional no LP Celso Blues Boy ao Vivo (1992). MD: Você estudou nos EUA. Como foi essa experiência? Christiano: Em 1994 fui para Nova York onde estudei por um semestre na Drummers Collective. Tive a oportunidade de ver workshops com Dave Weckl, Steve Smith, Simon Phillips e Omar Hakim. Nessa época entrei para uma banda de baile de música brasileira que se apresentava para a comunidade brasileira nos EUA. Toquei também em uma banda de hard rock, com quem me apresentei em vários bares de rock e música alternativa de Nova York. A ida para o exterior foi uma experiência de vida e profissional muito positiva. MD: E depois que você voltou ao Brasil? Christiano: No ano seguinte da volta ao Brasil montei uma banda de baile com amigos chamada Sigilo. Nós nos especializamos em festas para empresas e tocamos nesse segmento por vários anos. Em 1998 comecei a acompanhar vários artistas. No ano seguinte fui convidado para entrar na banda da cantora Zélia Duncan. Toquei por quatro anos com ela, de 1999 a 2003, participando de três turnês (Acesso, Sortimento e Sortimento Vivo), fazendo shows pelo Brasil e em Portugal. Gravei o CD/DVD Sortimento Vivo (2002) da cantora. Toquei com o cantor Jorge Vercilo de 1996 a Mas foi a partir de 2001 que o trabalho passou a ter uma repercussão nacional. Foram inúmeros shows por todo o Brasil com grande sucesso de público. Gravei quatro álbuns e dois DVDs com o artista, destacando o CD de platina Elo (2001) e o DVD de ouro Jorge Vercilo ao Vivo (2006). Ao longo da minha carreira já dividi o palco em shows e gravações com Simone, Jorge Vercillo, Marina Lima, Zélia Duncan, Isabella Taviani, Jorge Ben Jor, Rosa Marya Colin, Beth Carvalho e Daniel Gonzaga, entre outros. Tive a oportunidade de Junho 2011 MODERN DRUMMER 47

3 Christiano galvão substituir amigos em shows de artistas como Lenine, Luiza Possi e Maria Gadú. Na música instrumental já me apresentei em festivais e shows com os guitarristas João Gaspar, Dino Rangel e com o baixista Ney Conceição. MD: Você tem um CD solo lançado. Contenos um pouco sobre ele. Christiano: Lancei meu primeiro CD chamado 1+1 em O trabalho foi feito em parceria com o baixista Alexandre Cavallo. Tocamos em várias casas de shows do Rio de Janeiro e na Expomusic de São Paulo. Entre 2008 e 2009 fizemos duas turnês pelo Nordeste tocando em cidades do Ceará e da Paraíba no circuito dos Centros Culturais do Banco do Nordeste (CCBNB). Participamos da Feira da Música (2008), do IV Festival de Música Instrumental do BNB (2009) e do IB&T Bass Festival, ambos na cidade de Fortaleza. MD: E atualmente, você está tocando com quem? Christiano: Toco com a cantora Simone. Entrei para a banda em setembro de 2010 na turnê de divulgação do seu DVD ao vivo Em Boa Companhia. Fiz várias apresentações pelo Brasil e México no Festival Internacional Cervantino, e na República Dominicana. Este ano toquei em Portugal, nas cidades do Porto e de Lisboa, e no México novamente. MD: Quais são suas influências? Christiano: São muitas! Vários bateras «brasucas» me influenciaram em alguma fase da minha carreira, como Carlos Bala, Jorginho Gomes, Jurim Moreira, Marcio Bahia, Nenê, Erivelton Silva, Milton Banana, Serginho Herval, Pascoal Meirelles, Jorge Samba Gomes, Cássio Cunha, Edu Ribeiro e Rafael Barata, entre muitos outros. Dos bateras estrangeiros posso citar: Neil Peart, Omar Hakim, Phil Collins, Steve Gadd, Steve Smith, Dave Weckl, Vinnie Colaiuta, Horácio El Negro Hernandes, Jojo Mayer e Benny Greb. MD: O que você estuda para se manter sempre em forma? Christiano: Além da rotina normal de estudo,escuto e pratico bastante samba atualmente. Apesar de não me considerar um expert no assunto, estou pesquisando as várias formas de se tocar o samba. Devido ao trabalho com a Simone,tenho procurado ouvir diversos bateras de estilos diferentes. MD: Você atuou muito como sideman durante sua carreira. Que dicas você dá para tocar sempre em alto nível com artistas de diversos estilos? Christiano: Acho que o baterista tem de estar musicalmente bem preparado. Saber tocar vários ritmos é fundamental, pois além de enriquecer o vocabulário musical, deixa você apto para qualquer situação que possa aparecer. Tocar para a música é uma escolha musical que tem de ser feita, e não querer mostrar tudo que sabe tocando mais do que necessário. Ter um bom equipamento e saber timbrá-lo é vital. Isso vai fazer toda a diferença quando você for gravar. Nos shows, os técnicos irão te agradecer muito pelo seu som. Ser criativo, buscando novos sons e construindo levadas, é outro ponto importante. Você pode pegar um trabalho em que o artista te dá certa liberdade para criar e é nessa hora que ele espera a sua contribuição tanto no arranjo de uma música quanto no estúdio, ensaiando para uma turnê. A parte pessoal conta muito também. Ser pontual, responsável e fácil de lidar (sem criar problemas extramusicais) fará com que você construa uma boa reputação. Com certeza as pessoas vão querer trabalhar com você novamente. MD: Como surgiu a ideia de escrever o método Creative Brazillian Drumming? Christiano: Tudo começou em 2007, quando eu estava querendo gravar uma videoaula. Nas minhas horas de estudo, percebi que tocando alguns ritmos brasileiros eu poderia praticar vários tipos de exercícios. Então fui desenvolvendo algumas ideias de coordenação dos pés usando o baião e criando algumas levadas em cima disso. Gravei um piloto do que seria a videoaula em 2008, mas devido ao alto Gláucio Ayala 48 MODERN DRUMMER Junho 2011

4 custo da produção, me vi obrigado a tentar alguma parceria para realizar o projeto. Com esse objetivo fui para a Expomusic, em São Paulo, tentar algum apoio, mas não obtive o resultado que queria. Mesmo assim, mostrei o vídeo para um amigo que tinha vindo dos EUA para a feira. Ele me perguntou se eu tinha o método daquele vídeo. Eu disse que não, mas que poderia escrevê-lo. Comecei a preparar o livro em português e inglês, mas sem a menor pretensão de publicá-lo. Aos poucos fui desenvolvendo mais exercícios baseados em outros ritmos, por exemplo: maracatu como exercício de independência, o frevo para estudar rufos e acentos, e o samba para criar levadas misturando ritmos como o partido-alto e o drum n bass. Coloquei partituras no final de cada capítulo para o baterista tocar junto e treinar a leitura. O esboço do livro ficou pronto em Antes mesmo de começar a procurar uma editora no Brasil, encontrei, por acaso, um ex-aluno meu que já tinha vendido livros da editora americana Hal Leonard. Ele tinha contato apenas com o representante de vendas, mas foi daí que surgiu a oportunidade de mandar meu material para a editora nos EUA. Mesmo achando muito difícil conseguir um contrato com eles, resolvi ariscar. Só que o livro ainda não estava com uma boa apresentação. Então comecei a pesquisar e refiz a diagramação, deixando o método mais limpo, com menos texto e mais didático. Quando finalizei, mandei dois capítulos para eles. Eles me responderam dizendo que, apesar de a editora ter alguns títulos sobre ritmos brasileiros, acharam o material interessante e me pediram uma cópia do livro completo para análise. Fui para o estúdio para gravar o CD com as demonstrações e as músicas, e depois mandei tudo para os EUA, inclusive a versão do livro em português. Após uma espera de mais de quatro meses, tive a resposta positiva de que eles iriam publicar o livro, mas somente a versão em inglês. No início de 2010 mandei os originais para a publicação. O livro foi Gláucio Ayala Junho 2011 MODERN DRUMMER 49

5 Luiz Fonseca editado em dezembro, e lançado nos EUA e no Canadá em janeiro de MD: Quais são os planos para a divulgação do seu método? Christiano: No ano de 2011 estarei envolvido no lançamento do meu método.a ideia é visitar várias cidades para fazer oficinas e shows. Estou trabalhando também para ir ao exterior assim que possível. Meu plano é ir ao EUA ano que vem para fechar um tour de workshops, já que o livro foi editado lá. MD: Existe alguma previsão para o livro ser lançado em português? Christiano: No momento estou negociando com uma editora brasileira para lançar o livro em português. Ainda não tenho uma previsão. Mas não vejo muito problema com relação ao livro estar em inglês, pois são poucos textos e o que prevalece no livro é a linguagem universal da partitura musical. MD: Você já tem algum outro projeto educacional? Christiano: Para o futuro penso num segundo livro. Vou continuar nesta temática de trabalhar com os nossos ritmos, mais ainda não tenho uma ideia definida se será um volume 2 ou um trabalho totalmente novo. Vou esperar para ver como será a sua aceitação. Tenho ideia de lançar um DVD do livro, o que seria um bom desdobramento do projeto. Penso também num segundo CD, inclusive já estou conversando com meu amigo baixista Alexandre Cavallo para começarmos a compor um novo material. 50 MODERN DRUMMER Junho 2011

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