9 RADIOFÁRMACOS GLOSSÁRIO
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- Maria Vitória Mascarenhas Lobo
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1 9 RADIOFÁRMACOS GLOSSÁRIO Atividade específica (ou radioatividade específica): Radioatividade do radionuclídeo relacionada à massa unitária do elemento ou composto. É comumente referida à atividade de 1 g da substância especificada na monografia: em que: S = radioatividade específica; N = número de Avogadro; W = peso atômico; M = peso molecular. Componentes não radioativos para marcação: preparação ou conjunto de reagentes que devem ser reconstituídos ou combinados com um radionuclídeo para a síntese do radiofármaco final, antes da administração ao paciente. Podem vir na forma de reagentes liofilizados ou outras substâncias e são mais comumente conhecidos como kits para marcação. Concentração radioativa: a concentração radioativa da solução é a radioatividade do radionuclídeo contida no volume unitário e geralmente referida como atividade por 1 ml. Como ocorre com todas as especificações envolvendo radionuclídeos, é necessário declarar a data e, no caso de radionuclídeos com meia-vida curta, a hora na qual a concentração radioativa foi determinada. Carreador: isótopo estável do radionuclídeo em questão, adicionado à preparação radioativa na forma química idêntica àquela na qual o radionuclídeo está presente. Decaimento radiativo: os núcleos dos elementos radioativos radionuclídeos sofrem perda de partículas e/ou de energia segundo suas características próprias. Essas características incluem a velocidade de decaimento e o tipo de emissão. A emissão de partículas pelos núcleos determina modificação de seu número de massa. Quando a partícula emitida é portadora de carga positiva ou negativa o núcleo sofre mudança de número atômico e, consequentemente, o número de elétrons na eletrosfera do átomo que lhe corresponde, determinando mudança nas propriedades químicas do átomo. A radioatividade decai em razão exponencial, que é característica para cada radionuclídeo. A atividade em qualquer tempo pode ser calculada pela exressão expressão em que: A = atividade no tempo t; A 0 = atividade inicial; λ = constante de decaimento - também denominada de constante de desintegração ou constante de transformação, i.e., a fração de átomos radiativos que sofrem transformações na unidade de tempo, desde que este tempo seja curto em comparação com a meia-vida física;
2 t = tempo decorrido; e = base de logaritmos neperianos. Desintegração: transformação na qual o núcleo emite uma ou mais partículas. Gerador: sistema que incorpora um radionuclídeo pai que, por decaimento, produz um radionuclídeo filho que pode ser removido por eluição ou por algum outro método para ser utilizado como parte integrante de um radiofármaco. Isótopos: nuclídeos de um mesmo elemento químico cujos núcleos têm o mesmo número atômico e massa atômica diferente. Material de Partida: todos os constituintes que são utilizados na preparação de radiofármacos. Meia-vida biológica: tempo necessário para um organismo remover, por eliminação biológica, metade da quantidade de uma substância administrada. Meia-vida efetiva: tempo necessário para um radionuclídeo em um organismo diminuir sua atividade pela metade como um resultado combinado da eliminação biológica e do decaimento radioativo. A meia-vida efetiva é importante para o cálculo da dose ótima do radiofármaco a ser administrada e no monitoramento da quantidade de exposição à radiação. Pode ser calculado a partir da fórmula: T 1/2e = tempo de meia-vida efetiva do radiofármaco; T 1/2p = tempo de meia-vida física do radionuclideo; T 1/2b = tempo de meia-vida biológica do radiofármaco. Meia-vida física: tempo necessário para metade de uma população de átomos de um radionuclídeo decair para outra forma nuclear. A meia-vida é relacionada à constante de decaimento (λ) pela equação: Neutrino: partícula de difícil detecção, com massa desprezível, neutra, porém dotada de energia, emitida simultaneamente à emissão de partícula beta. A soma das energias da partícula beta e do neutrino corresponde a valor quantificado para cada processo de desintegração beta. Nuclídeos: espécies de átomos caracterizados pela constituição do seu núcleo, em particular pelo seu número de prótons e nêutrons e, também, por seu estado de energia nuclear. Precursores ou matéria-prima para síntese: geralmente, esses precursores não são produzidos em larga escala. Alguns precursores são sintetizados pelo laboratório de produção de radiofármacos, outros são fornecidos por laboratórios produtores especializados. Testes para identidade, para pureza química e ensaio devem ser realizados por meio de procedimentos validados. Quando lotes de precursores são aceitos utilizando-se os certificados de análise, evidências adequadas devem ser estabelecidas para demonstrar a confiabilidade da análise do fornecedor e pelo menos um teste de
3 identidade deve ser realizado. Recomenda-se testar materiais precursores antes de seu uso na rotina de produção do radiofármaco, para garantir que sob condições de produção especificadas, o precursor possibilita a preparação do radiofármaco na quantidade e qualidade especificada. Pureza Radionuclídica: é a razão, expressa em porcentagem, da radioatividade do radionuclídeo em relação à radioatividade total do radiofármaco. As impurezas radionuclídicas relevantes estão listadas, com seus limites, nas monografias individuais. Radioatividade Específica: a radioatividade de um radionuclídeo por unidade de massa do elemento ou do produto químico de interesse. Radioatividade Total: a radioatividade do nuclídeo expressa por unidade de massa do elemento ou do produto químico de interesse (frasco, cápsula, ampola, gerador, etc.). Radioisótopos: isótopos radioativos ou radionuclídeos. São isótopos instáveis os quais sofrem decaimento radioativo e transmutam-se em novo elemento. São átomos que se desintegram por emissão de radiação corpuscular (partícula) ou eletromagnética. Todo radioisótopo é caracterizado pelo seu tempo de meia-vida (T1/2), expresso em unidades de tempo (segundos, minutos, horas, dias e anos) e pela natureza e energia de sua radiação. A energia pode ser expressa em eletronvolts (ev), kilo-elétronvolts (kev) ou mega-elétronvolts (MeV). Pureza química: pode ser entendida como a razão expressa em porcentagem da massa da molécula do composto de interesse em seu estado químico indicado, em relação à massa total da preparação. As impurezas químicas relevantes estão listadas com seus limites nas monografias individuais. Pureza Radioquímica: pode ser entendida como a razão expressa em porcentagem de radioatividade do radionuclídeo de interesse no seu estado químico indicado, em relação à radioatividade total da preparação radiofarmacêutica. As impurezas radioquímicas relevantes estão listadas, com seus limites, nas monografias individuais. INTRODUÇÃO Radiofármacos são preparações farmacêuticas com finalidade diagnóstica ou terapêutica que, quando prontas para o uso, contêm um ou mais radionuclídeos. Os radiofármacos compreendem, também, os componentes não-radioativos para marcação e os radionuclídeos, incluindo os componentes extraídos dos geradores de radionuclídeos. A produção dos radiofármacos deverá atender os requisitos das Boas Práticas de Fabricação (BPF) de Radiofármacos, além de atender às especificações farmacopeicas. Os radiofármacos têm a sua produção, suprimento, estocagem, uso e despejo regulamentados pela legislação nacional vigente. O radiofármaco contém o radionuclídeo numa das seguintes formas: como um elemento atômico ou molecular; como um íon; incluído ou ligado as moléculas orgânicas, por processo de quelação ou por ligação covalente. As formas de obtenção de radionuclídeos, usados na produção de radiofármacos são:
4 bombardeamento de nêutrons em reatores nucleares; bombardeamento com partículas carregadas em aceleradores de partículas; fissão nuclear de nuclídeos pesados após bombardeamento com nêutrons ou com partículas; sistemas geradores de radionuclídeos que envolvem a separação física ou química de um radionuclídeo filho, de meia-vida mais curta do que o radionuclídeo pai. ARMAZENAGEM Os radiofármacos devem ser mantidos em recipientes vedados e em local suficientemente protegido para evitar irradiação do pessoal por emissões primárias ou secundárias, de acordo com regulamentos nacionais e internacionais sobre manuseio de substâncias radioativas. ESTABILIDADE As preparações de radiofármacos tendem a serem menos estáveis do que os seus correspondentes inativos, ocorrendo sua decomposição por radiólise e, por isso, devem ser utilizadas em curto prazo. Os efeitos da radiação primária incluem a desintegração do átomo radioativo e a decomposição de moléculas quando a fração de energia de partícula emitida ou do raio gama é absorvida por essas moléculas. A estabilidade dos radiofármacos depende de muitos fatores, incluindo a energia e a natureza da radiação, a atividade específica e o tempo de armazenagem. Os efeitos de radiação primária podem induzir efeitos secundários devidos à formação de espécies excitadas, que podem degradar outras moléculas, por exemplo, as dos solventes ou conservantes. Também, deve ser considerada a susceptibilidade à oxidação e redução de pequena quantidade de espécies químicas presentes. A exclusão inicial de todos os traços de agentes de oxidação e redução nem sempre é suficiente, porque tais agentes podem formar-se continuamente por efeitos da radiação. Durante o armazenamento, recipientes e soluções podem escurecer devido à radioatividade emitida. Tal fato não indica, necessariamente, a deterioração da preparação. Conservantes Preparações radiofarmacêuticas injetáveis são geralmente acondicionadas em recipientes multidose. Os conservantes antimicrobianos podem sofrer decomposição pela influência da radiação e isso restringe seu uso para alguns radiofármacos injetáveis. Portanto, a exigência de que preparações injetáveis contenham um conservante antimicrobiano adequado, em concentração adequada, não se aplica necessariamente, às preparações radiofarmacêuticas. As preparações radiofarmacêuticas injetáveis com período de vida útil maior que um dia e que não contenham um conservante antimicrobiano devem ser fornecidas em frascos de dose única. Se, contudo, a preparação for fornecida num recipiente multidose, deve ser utilizada dentro de 24 horas após a retirada da primeira dose, de forma asséptica. As preparações radiofarmacêuticas injetáveis para as quais o período de vida útil é maior que um dia e que contenham conservante antimicrobiano podem ser fornecidas em recipientes multidose.
5 Após a retirada da primeira dose, de forma asséptica, o recipiente deve ser armazenado em temperatura na faixa de 2 C a 8 C e os conteúdos utilizados no prazo de 7 dias. DILUIÇÃO Caso necessário fazer diluição é preferível utilizar veículos de mesma composição que os presentes na preparação. Em caso de radiofármacos injetáveis devem ser utilizados soluções e materiais estéreis, livres de partículas e de traços de matéria orgânica. A quantidade de material radioativo presente na preparação é frequentemente muito pequena para ser medida pelos métodos químicos ou físicos disponíveis. Considerando a fórmula em que: Smax = atividade específica máxima, W = peso atômico, T 1/2 = tempo de meia-vida em horas. Verifica-se que, por exemplo, para solução de pertecnetato de sódio ( 99m Tc) com a concentração radioativa de 37 MBq (1 mci) por ml, a concentração do pertecnetato pode ser tão baixa quanto 3 x g ml -1. O comportamento de massas tão pequenas em soluções muito diluídas pode requerer a adição de carreador inerte para limitar a adsorção à superfície do recipiente assim como facilitar as reações químicas de preparação de radiofármacos. CONTROLE BIOLÓGICO Esterilidade Radiofármacos injetáveis devem ser preparados de acordo com as BPF de modo a assegurar a esterilidade, atendendo aos critérios do Teste de esterilidade ( ). Por causa das características radioativas das preparações, não é praticável atrasar a liberação de alguns produtos farmacêuticos radioativos por conta do teste de esterilidade. Em tais casos, os resultados dos testes de esterilidade fornecem apenas evidência retrospectiva confirmatória para a garantia da esterilidade, que portanto, depende dos métodos iniciais estabelecidos na fabricação e nos procedimentos de validação/certificação. No caso de radiofármacos preparados em pequenos lotes e para os quais a execução do teste de esterilidade apresenta grau elevado de risco radiológico, a quantidade de amostra requerida no teste de esterilidade deve ser considerada. Se a preparação radiofarmacêutica é esterilizada por filtração ou processada assepticamente, a validação do processo é necessária. Endotoxinas Bacterianas
6 Quando especificado, uma monografia individual para uma preparação radiofarmacêutica requer conformidade com o teste para endotoxinas bacterianas, descrito em Métodos Biológicos Endotoxinas Bacterianas ( ). Na realização do teste devem-se tomar as precauções necessárias para limitar a irradiação do pessoal que realiza o teste. O limite de endotoxinas bacterianas é indicado nas monografias dos radiofármacos. A validação do teste é necessária para excluir qualquer interferência devido à natureza do radiofármaco. Níveis de radioatividade devem ser padronizados já que alguns tipos de radiação e radionuclídeos, especialmente altos níveis de atividade, podem interferir com o teste. O ph de algumas preparações radiofarmacêuticas deverá ser ajustado a ph 6,5-7,5 para promover resultados ótimos. Quando a natureza da preparação radiofarmacêutica resultar em uma interferência por inibição ou potencialização e não for possível eliminar o fator interferente, a conformidade com o teste para endotoxinas bacterianas deve ser especificada. Em alguns casos é difícil concluir o teste antes da liberação do lote para uso, quando a meia-vida do radionuclídeo na preparação é curta. O teste então se constitui um controle da qualidade da produção. PRAZO DE VALIDADE Data limite especificada pelo fabricante para a utilização de um radiofármaco, antes e após a reconstituição e/ou marcação radioativa do produto, levando em conta produtos de degradação químicos, radioquímicos e radionuclídicos, sendo mantidas as condições de armazenagem e transporte estabelecidos. RADIOATIVIDADE Propriedade que certos nuclídeos têm de emitir radiação por transformações espontâneas de seus núcleos. Geralmente o termo radioatividade é usado para descrever o fenômeno de decaimento radioativo e para expressar a quantidade física (atividade) desse fenômeno. A atividade de uma preparação é o número de transformações nucleares por unidade de tempo que ocorrem na preparação. Essas transformações podem envolver a emissão de partículas carregadas, captura de elétrons ou transição isomérica. As partículas carregadas emitidas pelo núcleo podem ser partículas alfa (núcleos de hélio, de número de massa 4) ou partículas beta (elétrons de carga negativa ou positiva, respectivamente -1β négatron ou +1β pósitron). A emissão de partículas beta é acompanhada da emissão de neutrino. A emissão de partículas carregadas pode ser acompanhada de raios gama, os quais, também, são emitidos no processo de transição isomérica. Essa emissão de raios gama pode ser parcialmente substituída pela ejeção de elétrons, conhecidos como elétrons de conversão interna. Esse fenômeno, assim como o processo de captura de elétrons, causa emissão secundária de raios X, devido à reorganização de elétrons no átomo. Essa emissão secundária causa, também, a ejeção de elétrons de baixa energia conhecidos como elétrons Auger. Raios X, eventualmente acompanhados pelos raios gama, são emitidos no processo de captura de elétrons. Partículas +1β são aniquiladas em contato com outro elétron (-1e) presente na matéria, sendo esse processo acompanhado pela emissão de dois fótons gama, cada um com energia de 511 kev, geralmente emitidos a 180 um do outro e que se denomina radiação de aniquilação. O poder penetrante de cada radiação varia consideravelmente de acordo com sua natureza e energia. Partículas alfa são completamente absorvidas por espessuras de sólidos ou líquidos que variam de alguns a dezenas de micrometros; partículas beta são absorvidas completamente na espessura de
7 alguns milímetros a vários centímetros. Raios gama não são completamente absorvidos, mas somente atenuados, e uma redução de dez vezes pode requerer, por exemplo, alguns centímetros de chumbo. Quanto mais denso é o absorvente, menor é o alcance de partículas alfa e beta e maior a atenuação de raios gama. Medida da radioatividade A medida absoluta da radioatividade de uma amostra pode ser efetuada se o esquema de decaimento do nuclídeo é conhecido, mas na prática muitas correções são requeridas para se obter resultados acurados. Por essa razão é comum realizar medidas utilizando-se uma fonte padrão primária. Padrões primários podem não existirem para radionuclídeos de meia-vida curta, como por exemplo, emissores de pósitrons. Os instrumentos de medida são calibrados utilizando-se padrões apropriados para radionuclídeos emissores de partículas. O contador Geiger-Müller pode ser utilizado para medir emissores beta e beta-gama. Contadores de cintilação, semicondutores ou câmaras de ionização podem ser utilizados para medir raios gama. Emissores beta de baixa energia necessitam de contador de cintilação líquido. Nesse caso, a amostra é dissolvida na solução de uma ou mais (geralmente duas) substâncias orgânicas fluorescentes (cintiladores primários e secundários), que convertem parte da energia de desintegração em fótons de luz, os quais são detectados e convertidos em impulsos elétricos no fotomultiplicador. Quando se utiliza o contador de cintilação líquido, medidas comparativas devem ser corrigidas devido aos efeitos de interferência da luz. Medidas diretas devem ser feitas em condições que assegurem que as condições geométricas sejam constantes (volumes idênticos dos recipientes e soluções). Qualquer que seja o equipamento usado é essencial que se trabalhe em condições geométricas extremamente bem definidas, de modo que a fonte radioativa esteja sempre na mesma posição no aparelho e, conseqüentemente, sua distância do dispositivo de medição seja constante e permaneça a mesma, enquanto a amostra é substituída pelo padrão. Todas as medidas de radioatividade devem ser corrigidas pela subtração da atividade da radiação de fundo, devida à radiatividade do meio e aos sinais espúrios gerados no próprio aparelho. Em certos equipamentos, nos quais a contagem é feita em altos níveis de atividade, a correção pode ser necessária em razão das perdas por coincidência, devidas ao tempo de resolução do detector e do equipamento eletrônico associado. Para sistema de contagem com tempo morto fixo (τ), após cada contagem a correção é dada pela equação: N = taxa de contagem real por segundo; N 0 = taxa de contagem medida por segundo; τ = tempo morto em segundos. Em certos equipamentos, a correção é feita automaticamente. Correções da perda por coincidência devem ser feitas antes das correções para radiação de fundo.
8 Nas determinações de radioatividade há variações estatísticas porque estão relacionadas à probabilidade de desintegração nuclear. Um número suficiente de contagens deve ser feito para compensar variações no número de desintegrações por unidade de tempo. Pelo menos contagens são necessárias para obter desvio padrão de não mais de 1%. A atividade decai em razão exponencial, que é característica de cada radionuclídeo. Sua determinação somente é verdadeira no tempo de referência especificado. A atividade em outros tempos pode ser calculada a partir da equação exponencial ou pela tabela de decaimento ou, ainda, pode ser obtida graficamente da curva estabelecida para cada radionuclídeo. Todas as determinações de atividade devem ser acompanhadas de declaração da data e, se necessário, da hora em que as medidas foram feitas. A medida da atividade de amostra em solução é calculada em relação ao seu volume original e expressa por unidade de volume - concentração radioativa. Unidades de Radioatividade No Sistema Internacional (SI) a radioatividade é expressa em becquerel (Bq) que significa uma transformação por segundo. A unidade histórica de atividade é o curie (Ci) que é equivalente a 3,7 x Bq. Os fatores de conversão entre becquerel e curie e seus submúltiplos são assinalados na Tabela 1. Tabela 1 Unidades de radioatividade utilizadas em radiofarmácia e as conversões entre unidades SI e unidades históricas. Número de átomos transformados por segundo Unidade SI: becquerel (Bq) Unidade Histórica: curie (Ci) 1 1 Bq 27 picocurie (pci) kilobecquerel (Kbq) 27 nanocurie (nci) 1 x megabecquerel (MBq) 27 microcurie (µci) 1 x gigabecquerel (GBq) 27 millicurie (mci) Bq 1 (nci) KBq 1 (µci) 3,7 x MBq 1 (mci) 3,7 x GBq 1 Ci Identificação de radionuclídeos O radionuclídeo é, geralmente, identificado pela meia-vida física ou pela natureza e energia de sua radiação ou radiações, ou por ambos. Medida do tempo de meia-vida A meia-vida é medida com auxílio de aparelhos de detecção tais como câmara de ionização, contador Geiger- Müller, contador de cintilações ou detector semicondutor. A quantidade de radioatividade, consideradas as condições experimentais, deve ser suficientemente alta para permitir a detecção durante várias meias-vidas presumíveis, porém não alta demais, para evitar o fenômeno de perda por coincidência devida, por exemplo, ao tempo morto do equipamento.
9 A fonte radioativa é preparada de modo a evitar perdas durante sua manipulação. Amostras líquidas devem estar contidas em frascos ou tubos selados. Produtos sólidos devem ser protegidos por capa de folha adesiva de acetato de celulose, ou outro material cuja massa por unidade de área seja desprezível para evitar a atenuação de quantidade significativa da radiação em estudo. A mesma fonte é medida em condições geométricas idênticas e em intervalos que correspondem usualmente à metade da meia-vida e pelo tempo correspondente a aproximadamente três meias-vidas. O funcionamento correto do equipamento é verificado por meio do uso de uma fonte permanente e as variações da contagem são corrigidas, se necessário, conforme descrito em Medida da radioatividade. Traça-se uma curva lançando-se o tempo no eixo das abscissas e no eixo das ordenadas, o logaritmo do número de contagens por unidade de tempo, ou a corrente elétrica, conforme o tipo do equipamento usado. A meia-vida calculada a partir dessa curva deve atender à especificação descrita na respectiva monografia. Determinação da natureza e da energia da radiação A natureza e a energia da radiação emitida podem ser determinadas por diversos procedimentos que incluem a elaboração da curva de atenuação e o uso de espectrometria. A curva de atenuação é usada geralmente para a determinação da energia da radiação beta e a espectrometria é usada principalmente para determinação da energia da radiação gama. A curva de atenuação é elaborada para emissores beta puros ou para emissores beta-gama quando não há disponibilidade de espectrômetro de raios gama. Esse método de determinação de energia máxima da radiação beta fornece apenas valores aproximados. A fonte, montada convenientemente para proporcionar condições geométricas constantes, é colocada em frente à janela delgada do contador Geiger-Müller e protegida conforme descrito em Medida do tempo de meia-vida. A contagem da fonte é, então, medida. Entre a fonte e o contador são colocados pelo menos seis absorvedores de alumínio, de massa crescente por unidade de área, até que a taxa de contagem não seja afetada pela adição de absorvedores adicionais. Os absorvedores são inseridos de modo tal que as condições geométricas sejam mantidas constantes. Constrói-se uma curva colocando em abscissas a massa por unidade de área do absorvedor expressa em mg cm -2 e, em ordenadas, o logaritmo do número de contagens por unidade de tempo para cada um dos absorvedores utilizados. Curva idêntica é elaborada utilizando-se o padrão. O coeficiente de atenuação de massa é calculado em relação à parte mediana, praticamente retilínea, das curvas. O coeficiente de atenuação da massa, expresso em cm 2 mg -1, depende da energia da emissão beta e das propriedades físicas e químicas do absorvedor. Isso possibilita a identificação de emissão beta e o coeficiente é calculado, a partir de curvas construídas como descrito anteriormente, pela expressão: ( ) em que: m 1 = massa por unidade de área, do absorvedor mais leve; m 2 = massa por unidade de área, do absorvedor mais pesado (medir m1 e m2 dentro da parte retilínea da curva); A 1 = taxa de contagem para massa por unidade de área ml;
10 A 2 = taxa de contagem para massa por unidade de área m 2. O coeficiente de atenuação assim calculado não deve diferir em mais de 10% do coeficiente obtido em condições idênticas com o padrão do mesmo radionuclídeo. A espectrometria gama é usada para identificar radionuclídeos pela energia e intensidade dos raios X ou gama. Baseia-se na propriedade que certas substâncias (cintiladores) têm de emitirem luz quando interagem com radiação eletromagnética. O número de fótons produzido é proporcional à energia absorvida pelo cintilador. A luz é transformada em impulsos elétricos de amplitude aproximadamente proporcional à energia dissipada pelos fótons gama. Com a análise dos impulsos de saída por porcentagem obtem-se, com auxilio do analisador de pulsos, o espectro de energia da fonte. Nos espectros de cintilação de raios gama há um ou mais picos característicos correspondentes às energias da radiação gama na fonte. Esses picos são acompanhados por outros, mais ou menos largos, devidos a efeitos secundários da radiação no cintilador ou ao material em torno dele. A forma do espectro varia de acordo com o equipamento utilizado, tornando-se necessário calibrá-lo com auxílio de padrão do radionuclídeo em questão. O espectro de raios gama do radionuclídeo que os emite é próprio dele, sendo caracterizado pelo número de raios gama de energia individualizada produzida por transformação. Essa propriedade pode ser utilizada para identificar quais radionuclídeos estão presentes na fonte e as quantidades de cada um deles. Possibilita, também, avaliar o grau de impurezas presentes, pela detecção dos picos estranhos àqueles esperados. O detector preferido para a espectrometria de raios gama é um detector semicondutor de germânio ativado com lítio. Os detectores de cintilação de iodeto de sódio ativados com tálio, embora apresentem resolução menor, também, podem ser usados. A saída de cada um desses detectores ocorre na forma de pulsos elétricos, cuja amplitude é proporcional à energia dos raios gama detectados. Após amplificação, esses pulsos são analisados em analisador multicanal, que fornece o espectro de energia gama da fonte. A relação entre energia gama e o número do canal pode ser facilmente estabelecida utilizando-se fontes de raios gama de energia conhecida. O sistema de detecção deve ser calibrado, pois a eficiência do detector é função da energia da radiação gama, da forma da fonte e da distância da fonte ao detector. A eficiência da detecção pode ser medida com auxílio de fonte calibrada do radionuclídeo em questão ou, para trabalho mais genérico, pode ser construída uma curva de eficiência versus energia gama a partir de uma série de fontes calibradas de vários radionuclídeos. A utilização de detector de baixa resolução poderá trazer alguma dificuldade em identificar as impurezas, pois, os picos no espectro podem não estar bem resolvidos. Nesse caso, é recomendável a determinação da meia-vida por medidas repetidas da amostra. Se, numa fonte, a impureza radioativa de meia-vida diferente estiver presente, ela é facilmente detectável pela identificação de picos característicos, cujas amplitudes decrescem em taxas diferentes daquelas do radionuclídeo esperado. A determinação da meia-vida de picos interferentes por medidas repetidas da amostra ajudará na identificação da impureza. É possível estabelecer a taxa de decaimento da radioatividade usando espectrometria gama desde que os picos diminuam em amplitude em função da meia-vida. Informações sobre as características físicas dos radionuclídeos de relevância na produção de radiofármacos são fornecidas na Tabela 2.
11 PUREZA RADIONUCLÍDICA Para estabelecer a pureza radionuclídica da preparação, a radioatividade e a identidade de cada radionuclídeo presente devem ser conhecidas. O método mais comumente utilizado para examinar a pureza radionuclídica é o da espectrometria gama. Não é um método totalmente preciso porque as impurezas alfa e beta-emissoras geralmente não são detectáveis e, quando são empregados detectores de iodeto de sódio, os picos devidos às impurezas são frequentemente encobertos pelo espectro do radionuclídeo principal. Na monografia estão estabelecidas as exigências gerais para a pureza radionuclídica (por exemplo, o espectro de raios gama não deve diferir significativamente daquele da fonte padrão) e pode estabelecer limites para impurezas radionuclídicas específicas (por exemplo, molibdênio-99 em tecnécio-99m). Essas exigências são necessárias embora elas por si só não sejam suficientes para assegurar que a pureza radionuclídica da preparação seja adequada para uso humano. O fabricante deve analisar seus produtos, especialmente as preparações de radionuclídeos de meia-vida curta, quanto à presença de impurezas de meia-vida longa, após período conveniente de decaimento. Dessa maneira, podem ser obtidas informações sobre a adequação dos processos de fabricação e dos procedimentos de controle. Devido às diferenças nas meias vidas dos diferentes radionuclídeos presentes na preparação farmacêutica, a pureza radionuclídica muda com o tempo. A especificação de pureza radionuclídica deve ser garantida durante todo o prazo de validade. Às vezes é difícil realizar esse teste antes da liberação para uso de um lote produzido, quando a meia-vida do radionuclídeo na preparação é curta. O teste constitui-se, nesse caso, um controle de qualidade de produção. PUREZA RADIOQUÍMICA A determinação da pureza radioquímica requer a separação das substâncias químicas diferentes contendo o radionuclídeo e a estimativa da porcentagem da radioatividade associada à substância química declarada. Na determinação da pureza radioquímica podem ser usados métodos analíticos de separação, tais como métodos cromatográficos (cromatografia em papel, em camada delgada, de exclusão molecular, cromatografia gasosa ou cromatografia a líquido de alta eficiência), eletroforese e extração por solventes. Na cromatografia, o volume da amostra a ser utilizado depende da técnica adotada. É preferível não diluir a preparação em análise, mas é importante utilizar quantidade de radioatividade tal que perdas de contagem por coincidência não venham a ocorrer durante a medida da radioatividade. Considerando as massas muito pequenas do material radioativo aplicado aos cromatogramas, o uso de carreadores é, às vezes, necessário e eles podem ser adicionados quando a monografia assim o prescrever. Após o desenvolvimento da cromatografia em papel ou em camada delgada, o suporte é seco e as posições das áreas radioativas são detectadas ou pela autorradiografia ou pela medida da radioatividade ao longo do cromatograma, com auxílio de contadores devidamente colimados, ou pelo corte das fitas e contagem de cada porção. As posições das manchas ou áreas permitem identificação química por comparação com soluções das mesmas substâncias químicas (não radioativas), visualizadas por reação de cor ou exame sob
12 luz ultravioleta. A visualização pela reação de cor direta da amostra radioativa nem sempre é possível ou desejável, já que a revelação pode causar difusão da substância radioativa para além das manchas ou áreas identificadas. Medidas de radioatividade podem ser feitas por integração, utilizando-se equipamento automático ou contador digital. As proporções das áreas abaixo dos picos fornecem as relações das concentrações radioativas das substâncias químicas. Quando as fitas são cortadas em porções, as razões das quantidades de radioatividade medidas fornecem as proporções das concentrações de espécies químicas radioativas. Como a pureza radioquímica pode mudar com o tempo, principalmente por causa da decomposição por radiação, o resultado do teste deve indicar que o produto apresenta valores especificados durante todo o prazo de validade do radiofármaco. ATIVIDADE ESPECÍFICA A atividade específica é calculada relacionando-se a concentração radioativa (radioatividade por unidade de volume) com a concentração da substância química em análise, após verificação de que a radioatividade é devida somente ao radionuclídeo (pureza radionuclídica) e à espécie química (pureza radioquímica) em questão. A atividade específica muda com o tempo, devendo ser expressa tendo como referência a data e, se necessário, a hora. A especificação deve ser garantida durante todo o período de validade do radiofármaco.
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