CARACTERIZAÇÃO DA LAMA ABRASIVA GERADA NOS PROCESSOS DE BENEFICIAMENTO DO GRANITO: UM ESTUDO DE CASO NA GRANFUGI LOCALIZADO EM CAMPINA GRANDE - PB
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- Mario Barreto Regueira
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1 XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de CARACTERIZAÇÃO DA LAMA ABRASIVA GERADA NOS PROCESSOS DE BENEFICIAMENTO DO GRANITO: UM ESTUDO DE CASO NA GRANFUGI LOCALIZADO EM CAMPINA GRANDE - PB Jaqueline Guimarães Santos (UFCG) jsantos.adm@gmail.com Sandra Sereide Ferreira da Silva (UFCG) sandrasereide@yahoo.com.br Naudienne Maria da Silva Nascimento (UFCG) nal_pinck@hotmail.com Marinalva Ferreira Trajano (UEPB) marinalvamary@hotmail.com valdicleide silva e mello (UEPB) valdkqi@hotmail.com Na indústria de beneficiamento do granito a geração e descarte da lama é um dos principais passivos ambientais resultante do processo produtivo. Nesse sentido, o objetivo desse estudo é caracterizar a lama abrasiva gerada na indústria do beeneficiamento de granito da GRANFUGI - Mármores e Granito LTDA bem como a viabilidade para a incorporação do resíduo na produção de outros produtos. O estudo é caracterizado como exploratório e descritivo conduzido sob a forma de um estudo de caso. Os dados foram coletados através de uma amostra da lama fornecido pela indústria. Os resultados revelam que este resíduo é um composto de muitos minerais, e que a lama pode ser incorporada em diversas aplicações, podendo atuar como material alternativo para construção civil, de forma a minimizar o impacto ambiental decorrente do processo produtivo, agregando valor a este resíduo. Palavras-chaves: Composto abrasivo, Composição Química, Impacto ambiental.
2 1. Introdução Nos últimos tempos, tem-se tornado perceptível que o crescimento econômico, a evolução tecnológica, a busca por uma melhoria na qualidade de vida, bem como as modificações realizadas nas necessidades humanas vem gerando uma grande pressão sobre o meio ambiente e com isso a necessidade de um maior conhecimento sobre o mesmo. Nessa perspectiva, a sociedade está diante de um dos maiores desafios por ela imposta, principalmente com relação ao destino dos resíduos domésticos, industriais e hospitalares por ela mesmo gerada. Cabe ressaltar que a maioria dos resíduos são frutos de suas próprias atividades produtivas, que em muitos casos são gerados através do emprego de tecnologias pouco desenvolvidas. Nesse sentido, o setor de rochas ornamentais gera uma série de resíduos, tais como: pó de rocha, fragmentos de rochas nas pedreiras e serrarias, lama abrasiva e, além disso, causam ruído, vibrações e impacto visual nas lavras. Desses resíduos gerados, o que mais preocupa o setor e os órgãos ambientais é a lama abrasiva, pois provocam impactos consideráveis ao meio ambiente, quais sejam: contaminação dos corpos hídricos, colmatação do solo, poluição visual e estética. Desse modo, vários estudos para a aplicação dos resíduos de indústria de beneficiamento de rochas ornamentais na construção civil, tem sido realizados especialmente nos estados do Espírito Santo (maior produtor nacional), Paraíba, Ceará e Bahia, pelos convênios entre as universidades, respectivamente, UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), a UFCE (Universidade Federal do Ceará) e a UFBA (Universidade Federal da Bahia), além de estudos feitos nos centros de pesquisas da região nordeste, como o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), a fim de despertar o compromisso sócio-ambiental dos empresários, professores e comunidade para uma atividade produtiva socialmente responsável. Contudo, ainda se faz necessários estudos que iniciem um processo de evolução e conscientização continuada da indústria de rochas ornamentais que proponha uma modificação na postura dos empresários do setor, quanto as questões relacionadas ao tratamento dos rejeitos não-metálicos, procedentes do processo de desdobramento dos blocos de rochas, no qual representa um volume considerável. Em se tratando do fator econômico, as indústrias de rochas ornamentais têm participação efetiva na economia mundial. Essa rocha tem utilização principalmente na construção civil, com seus principais campos de aplicação em peças isoladas, como esculturas, tampos e pés de mesa, balcões, lápides e arte funerária em geral e edificações, no qual destaca-se os revestimentos internos e externos de paredes, pisos, pilares, colunas e soleiras. Cerca de 80% da produção mundial é atualmente transformada em chapas e ladrilhos para revestimentos, 15% desdobrada em peças para arte funerária e 5% para outros campos de aplicação. Aproximadamente 60% dos revestimentos referem-se a pisos, 16% a fachadas externas, 14% a interiores e 10% a trabalhos especiais de acabamento. (ABIROCHAS, 2008). Segundo Sobreiro (2002), a aceitação dessas rochas acentuou-se nos últimos anos, fazendo com que as empresas investissem em pesquisas na área, para aperfeiçoar suas técnicas e inovação tecnológicas, a fim de se destacar no mercado competitivo atual. 2
3 Nesse contexto, o Brasil faz parte do Grupo dos grandes produtores e exportadores mundiais do setor de rochas ornamentais, com mais de 600 variedades de rochas e com uma produção de ,22 toneladas em 2009, no Espírito Santo. (HENNING, 2009) Recentemente as questões ambientais vêm despertando preocupação e crescente interesse na discussão de um novo paradigma de desenvolvimento, não apenas preocupado com o fator econômico, mas também social, cultural, político e principalmente ambiental, haja vista que nos últimos anos têm-se testemunhado o caráter problemático que reveste a relação entre a sociedade e o meio ambiente. Há uma série de problemas relacionadas ao meio ambiente que a cada dia cresce, sendo necessário que as empresas e os agentes institucionais tenham interesse em alcançar o desenvolvimento sustentável, não preocupando-se apenas com o crescimento econômico. Neste sentido, é imprescindível o reconhecimento de outros elementos que tem a mesma influência das variáveis citadas acima e pode, inesperadamente, afetar criticamente a competitividade. A busca por um monitoramento do ambiente e a necessidade de uma visão integrada dos aspectos sociais, ambientais, políticos, culturais, econômicos e institucionais, quando bem articulados através de ações coletivas resultam na conservação da vantagem competitiva e em decorrência dessa articulação o desenvolvimento sustentável (MARTINS & CÂNDIDO, 2008). Nas indústrias são gerados uma série de resíduos que são colocados diretamente no ambiente, no beneficiamento do granito essa realidade não é diferente, sendo originados muitos detritos, quais sejam: pó de pedra, fragmentos de rocha nas pedreiras e serrarias e a lama abrasiva. (ARAÚJO, 2008). O resíduo gerado mais preocupante é a lama abrasiva, por provocar impactos consideráveis ao meio ambiente que não são descartados de forma responsável. Entre os impactos causados pela lama abrasiva destaca-se a contaminação de corpos hídricos, colmatação dos solos, poluição visual, perda da vegetação nativa, poluição atmosférica, erosão e assoreamento e movimentação dos solos (FILHO et al, 2005). Assim sendo, o objetivo desse estudo é caracterizar a lama abrasiva gerada na indústria do beneficiamento de granito da GRANFUGI Mármores e Granito LTDA bem como a viabilidade para a incorporação do resíduo na produção de outros produtos. A relevância desse estudo consiste em analisar a viabilidade para a incorporação desse resíduo em novos produtos, tornando-o agora não mais um rejeito, mas uma matéria prima. Em termos gerais, o trabalho tem por objetivo iniciar um processo de evolução e conscientização continuada da indústria de rochas ornamentais, propondo uma modificação do pensamento empresarial do setor, quanto às questões relacionadas ao tratamento dos rejeitos não-metálicos, procedentes do processo de desdobramento dos blocos de rochas, visto que representam um volume considerável. O estudo é caracterizado como um estudo exploratório e descritivo, conduzido sob a forma de um estudo de caso na GRANFUGI, a amostra foi concebida pela própria indústria a fim de obter maiores informações, a partir desse estudo, para melhorar sua atuação em relação aos seus resíduos, em busca de práticas economicamente e socialmente responsáveis. Como forma de reconhecer as características do composto em análise, esse artigo está dividido em cinco seções. Além da presente introdução, a segunda seção trabalha os conceitos referentes ao tema proposto. A seção três apresenta os materiais e métodos para a realização da pesquisa. Em seguida, verifica-se os resultados e discurssões e, por fim, a quinta seção trata das considerações finais. 3
4 2. Referencial Teórico 2.1 Beneficiamento de Rochas Graníticas Os blocos de granitos, após a lavra nas jazidas são transportados às indústrias de beneficiamento, denominadas de serrarias de granito, para o desdobramento ou serragem, onde ocorre o processo de transformação dos blocos em chapas ou placas semi-acabadas, de espessuras que variam geralmente de 1 a 3 cm, utilizando máquinas denominadas de teares (Figura 1). Figura 1: Tear para Desdobramento de Granito. Fonte própria (2008). Quando os teares corta o bloco forma-se o pó de pedra resultante do corte dos blocos de granitos, que juntamente com o cal, formam uma lama denominada de lama abrasiva, que tem como principais objetivos: lubrificar e resfriar as lâminas, evitar a oxidação das chapas, servir de veículo ao abrasivo (granalha) e limpar os canais entre as chapas. A lama abrasiva é distribuída por chuveiros sobre o bloco através de bombeamento (Figura 2). Figura 2: Corte de blocos de granitos com auxílio de lama abrasiva. Fonte própria (1996). Segundo Pedrosa (2000), os principais elementos constituintes de um tear são: O quadro porta lâmina: responsável pela fixação das mesmas, composto de canoas e chapões rigidamente fixados entre si; Conjunto pendular: formado de mancais corrediços, leques e munhecas. Este conjunto é ligado ao quadro, e é ele que permite o movimento pendular do tear; A bateria - conjunto composto de: volante, mancais, excêntricos, biela, braço e eixo amortecedor. Tem a função de transformar o movimento rotativo do motor elétrico em movimento alternativo. Sistema de elevação do quadro: responsável pelo sobe e desce do conjunto pendular. É composto de porca de fuso, fuso, coroa pinhão, transmissão, redutores e motores. 4
5 Sistema de bombeamento e distribuição: é o responsável pelo o transporte da lama abrasiva do poço para o chuveiro. Este sistema é composto de: poço, bomba de poço, cano de recalque, chuveiro e ralo. O chuveiro distribui o fluxo de lama sobre o quadro, permitindo que ela penetre entre as lâminas e o bloco, possibilitando assim, a serrada. Após entrar em contato com a pedra, a lama escorre para o ralo do tear, onde é coada, e retorna ao poço para continuar o processo. As lâminas planas dos teares podem ser consideradas como uma serra sem dentes, enquanto a granalha de aço exerce justamente o papel dos dentes, ao receber a pressão das lâminas, e com isso, forçar o atrito contra a rocha. A granalha de aço é adicionada em um meio fluído chamado lama abrasiva, composta de cal, pó de rocha, água e granalha/lâmina de aço, a qual, homogeneizada, permite o bombeamento de retorno da granalha, para sua contínua reutilização. Essa lama é bombeada de um poço que se localiza na parte inferior do tear, a qual é despejada por sobre o bloco para que a granalha atue entre a lâmina e o granito, mantendo-se um ciclo fechado. Segundo Leite (2006), o tear convencional (multilâminas) é o equipamento mais utilizado na indústria de desdobramento de rochas ornamentais, sendo suas principais características: A utilização de várias lâminas ao mesmo tempo, o que possibilita a serrada total do bloco de uma só vez; O movimento pendular alternativo, o que é proporcionado por um conjunto de biela/manivela, movidos por um volante de inércia e um motor elétrico; O uso da lama abrasiva como elemento cortante. O controle da viscosidade é realizado acrescentando-se periodicamente água e descartando-se a parcela da mistura de menor granulometria, que é bombeada para um tanque onde é efetuada a separação da mistura de maior granulometria. Nos casos mais gerais, esta separação é feita por densidade. Deixa-se o tanque ser preenchido completamente e separa-se a fração de menor granulometria que se posiciona na região superficial, de onde será descartada por transbordamento (ROCHAS DE QUALIDADE,1993). A partir deste descarte, o resíduo é transportado e, posteriormente, depositado em poços e lançados em tanques de deposição final, estes tanques absorvem toda a geração de rejeito do desdobramento. Uma vez cessada esta capacidade, o volume depositado é removido para que o tanque fique novamente pronto para estocagem de nova quantidade de resíduo (FARIAS,2002). A lama abrasiva, gerada no desdobramento de granito, é um grave problema para as indústrias de beneficiamento de rochas ornamentais, devido ao descarte desta no meio ambiente, sendo esta uma preocupação dos empresários a fim de buscar soluções adequadas para o manejo e gestão deste passivo ambiental Questão ambiental na indústria de beneficiamento de granito A questão ambiental revela o retrato de uma crise pluridimensional que aponta para a exaustão de um modelo de sociedade que produz, desproporcionalmente, mais problemas que soluções e em que as soluções propostas, por sua parcialidade, limitação e interesse, acabam por se constituir em novas fontes de problemas. 5
6 Diante disso, todas as discussões convergem a uma tentativa comum, o alcance do desenvolvimento sustentável, o que deve estar relacionado à tomada de consciência do homem frente a um cenário preocupante de degradação ambiental. Essa estratégia requer um novo enquadramento mental e novos conjuntos de valores entre os sujeitos (KRAEMER, 2004). Pronk (1982) destaca que o desenvolvimento é sustentável quando o crescimento econômico traz justiça e oportunidades para todos os seres humanos do planeta, sem privilégio de algumas espécies, sem destruir os recursos naturais finitos e sem ultrapassar a capacidade de carga do sistema. A partir disso, fica evidente a preocupação das empresas do setor de rochas ornamentais no destino de seus resíduos. Segundo Filho et. al. (2005), a indústria de rochas ornamentais gera grande quantidade de resíduos e os rejeitos, em sua grande maioria, é lançado em lagoas de decantação e aterros. Além da contaminação direta dos aqüíferos superficiais, os rejeitos da indústria de rochas ornamentais descaracterizam a paisagem e preocupam as autoridades públicas, órgãos sanitários e a população localizada no entorno das serrarias e áreas da extração. Ainda segundo o mesmo autor, no rejeito oriundo do processo de desdobramento dos blocos, podemos encontrar os seguintes tipos: Nas pedreiras: produzem-se pedaços amorfos de rochas sem utilização nos equipamentos de desdobramento; fragmentos de cabo de aço; rejeito fino (pó) oriundo das perfurações das rochas e restos de madeira proveniente de escoramentos utilizados no processo extrativo. Nas Serrarias: laterais dos blocos (casqueiros), oriundos do desdobramento em chapas; Pedaços de chapas brutas em tamanhos pequenos que impossibilitam seus aproveitamentos comerciais, provenientes de quebras e defeitos; Lama abrasiva produzida no processo de corte dos teares (granalha, cal e rocha moída); Madeira de vários tamanhos; Sucatas de lâminas de aço; Sacos de papelão. No tratamento: (Polimento, resinagem, etc.) pedaços de chapas polidas em tamanhos pequenos com valor comercial não condizente com a escala comercial da indústria; Lama produzida no processo de polimento das chapas; Suportes plásticos dos abrasivos; Caixas de papelão; Plásticos de embalagens; Pedaços de madeira diversos. No corte: almas de aço dos discos diamantados; Lama produzida no processo de corte; Discos de desbaste; Rebolos; Corpos de brocas; Pedaços de chapas polidas em tamanhos pequenos com valor comercial baixo; Pedaços de madeira. Em virtude da cobrança cada vez maior e eficaz por parte dos órgãos ambientais, através de sua fiscalização e legislação, fizeram com que os empresários passassem a preocupar com os impactos ambientais gerados pelas diversas atividades desenvolvidas pelo setor, dentre elas a contaminação direta dos rios e o próprio solo, além da desfiguração da paisagem, o que vem preocupando as autoridades e a população que moram próximo das pedreiras. (Figura 3). 6
7 Figura 3- Extração de blocos de rochas ornamentais. Fonte própria (1996). Pode-se observar o quão é prejudicado o meio ambiente com esta atividade, principalmente pelos resíduos gerados por ela. Souza et. al. (2006) no estudo sobre a utilização do rejeito com origem da serragem do granito, o sistema de desdobramento de blocos de granito para a produção de chapas gera uma quantidade significativa de rejeitos na forma de lama, 20% a 25% dos blocos, geralmente constituída de água, de granalha, de cal e de rocha moída, pôdese comprovar que os resíduos gerados por essa atividade podem ser utilizados em outras atividades, por exemplo, nos tijolos como forma de aproveitamento deste tipo de rejeito industrial e a redução do impacto ambiental. Nesse contexto, a medida que se processa a perda de umidade, o pó resultante se espalha, contaminando o ar e os recursos hídricos, sendo alguns casos canalizados diretamente para os rios. Tal procedimento tem trazido sérios problemas às indústrias de rochas ornamentais com prejuízos ao meio ambiente. Souza et. al. (2006) comenta que aliado aos problemas ambientais causados pela deposição do rejeito no meio ambiente, algumas características específicas deste rejeito vislumbram potencialidades a sua utilização como material de enchimento em concretos asfálticos. Cita-se como exemplo sua fina granulometria, composição pré-definida (granito moído, cal ou substituto e granalha de ferro ou aço) e a inexistência de grãos mistos entre os três componentes básicos. A Figura 4 mostra a forma convencional de disposição de resíduo do desdobramento de granitos no Estado do Espírito Santo, local considerado maior produtor nacional de rochas ornamentais. Figura 4- Deposição de resíduo proveniente do corte de granito a céu aberto. Fonte: Rochas de Qualidade (1993) 2.3. Composição da Lama Abrasiva A lama abrasiva é um resíduo lançado na natureza pelas empresas beneficiadoras de mármore e granito, causando sérios danos ao meio ambiente, mas que se destinados corretamente para a 7
8 utilização em outras atividades, esses impactos serão diminuídos consideravelmente. Segundo Leite (2006), a composição da lama é formada a partir da junção de alguns componente, quais sejam: cal, água, aço resultante da granalha e lâmina e pó de pedra, sendo cada um responsável por uma função específica. Assim, sua variação ocorre apenas quando a qualidade ou tipo de componente é trocado. Já a concentração destes mesmos elementos, é uma variável permanente, pois todos eles variam sua quantidade durante a serrada. A Tabela 1 mostra a composição média da lama abrasiva no desdobramento de teares no Estado do Espírito Santo. Cal Água Granalha Pó de Pedra Porcentagem em Peso (%): 1,2 33,4 20,1 45,3 Porcentagem em Volume (%): 1,2 66,0 4,2 28,6 Fonte: Leite (2006). Tabela 1: Composição química média da lama abrasiva no desdobramento de granito em teares no Estado do Espírito Santo Estudos realizados com lama abrasiva do desdobramento de granito A utilização de resíduos industriais como aditivos na fabricação de produtos cerâmicos vem despertando um crescente interesse dos pesquisadores nos últimos anos e está se tornando prática comum. Está sendo realizado um projeto na UEPB em parceria com a GRANFUJI LTDA e FUJI S/A, duas indústrias de Beneficiamento de Granito do Estado da Paraíba, onde a lama abrasiva é utilizada para a fabricação de tijolos tijolos ecológicos - logo usando o processo de reciclagem com o resíduo sólido. Além dos tijolos, podemos citar estudos realizados com a lama abrasiva em produtos de cerâmica, filers, entre outros produtos. Segundo Neves (2002), observou que a lama abrasiva é um grave problema para as indústrias de beneficiamento de granito, por toneladas desta, estarem sendo lançadas ao meio ambiente, daí a importância em estudos que evidenciem a reutilização desses resíduos na fabricação de outros produtos. A caracterização já realizada por Neves (2002) nas empresas de beneficiamento do Estado da Paraíba, realizou caracterização da lama abrasiva através de ensaios de caracterização física e mineralógica como a massa específica, análise química, difração de raios-x, microscopia eletrônica de varredura e por microssonda de energia dispersiva das matérias-primas. Para mostrar a importância de trabalhos nessa área, nos últimos três meses, os empresários capixabas Sérgio Tirelo e Irineu Machado, realizaram experiências visando transformar a lama abrasiva, um resíduo do setor de rochas, em matéria-prima para produção de tijolo estrutural ecológico que será utilizado na construção civil. Segundo o empresário Machado (2008), o tijolo estrutural é constituído por 70% a 80% de lama abrasiva, e foi fabricado no tamanho de 20x10x5 para testes, em máquina manual. Os testes feitos com os tijolos demonstraram, entre inúmeras vantagens, que o material é muito mais resistente que os tijolos convencionais (lajotas, maciços e blocos de cimento); que é possível eliminar os gastos com colunas, vigas, reboco, ferragens e madeiramento; além da redução de tempo da mão-de-obra do pedreiro e do servente para ¹/4 do tempo de execução da obra. A principal vantagem, porém, é a redução do custo final da obra em 50%, em média, se comparado ao valor de uma construção convencional. 8
9 Buscando dar continuidade ao projeto, os empresários estão desenvolvendo uma máquina para produção em larga escala dos tijolos ecológicos e a expectativa é produzir tijolos por dia. A produção destes tijolos, além transformar a lama abrasiva, um resíduo causador de sérios problemas ambientais, em matéria-prima de qualidade, viabilizará a sua utilização na construção de moradias em conjuntos habitacionais de baixo custo e ecologicamente corretos, visando atender a população de baixa renda, destacou Machado (2008). O SENAI/PB em parceria com a UEPB e FUJI S/A aprovaram em 2008 projeto de financiamento para fabricação de uma máquina de tijolo de solo-cimento que agregam tecnologia para maior produção e com diferentes design e texturas de tijolos. Os estudos para a reutilização da lama abrasiva são promissores, devendo-se dar continuidade as pesquisas nesta área, inclusive que possam atingir viabilidade técnica e econômica afim de que sejam aplicadas junto ao setor produtivo, visando melhorias para as indústrias e a sociedade. 3. Material e Métodos 3.1 Amostragem e preparação A amostra avaliada foi fornecida pela GRANFUJI Mármores e Granito LTDA, localizada em Campina Grande-PB. Seguindo as orientações de ARAÚJO (2008), a amostra foi colhida dos tanques de decantação no pátio da empresa. O resíduo foi separado das fases sólidas e líquida pelo filtro prensa, a qual se apresenta na forma sólida. Após secagem natural (temperatura ambiente), em um período de 4 a 7 dias, exposto ao ar livre, tornando-se de fácil desagregação manual. O composto da lama abrasiva foi peneirado em uma peneira específica com uma malha fina n 200, sendo coletada na forma de poupa (pó) e seca em uma estufa a 110 C. Em seguida foi armazenada em sacos plásticos identificados. 3.2 Caracterização química Análise química semi-quantitativa ou Fluorescência de Raios X (FRX) com Perda ao Fogo (PF) Realizou-se com auxílio do Shimazdu (EDX 720), poderoso equipamento que reúne análise rápida e precisa detectando elementos em baixas concentrações, ou seja, um espectrômetro de Fluorescência de Raios-X. A partir disso, determinou-se a composição química semiquantitativa. Seguindo o processo, a amostra foi moída e prensada em prensa manual em forma de pastilha com 15 mm de diâmetro. Por limitação do método, somente elementos entre o Sódio (Na) e o Urânio (U) foram analisados. Para a avaliação da perda ao fogo, o material após moído e seco em estufa por 24 horas em temperatura em 110 C, foi aquecida até 1000 C por 20 minutos Difração de raios-x Realizou-se com o auxílio do equipamento Shimadzu (XRD 6000). Utilizando-se radiação Kα do Cu com varredura de 2θ de 5 a 60 o e com varreduras e de 2 a 12 o com e sem saturação com etileno glicol (para a varredura de 5 a 60 o foram utilizadas fendas de dispersão e espalhamento grandes) e para a varredura de 2 a 12 o (foram utilizadas fendas pequenas) Análise de dados 9
10 A análise de dados foi feita basicamente pelas referências bibliográficas, estudos realizados anteriormente e nas normas NBR 10004/2004, sendo esta última uma lei ambiental que classifica a periculosidade dos resíduos industriais no meio ambiente. 4. Análise dos Resultados A partir das análises feitas anteriormente, foi possível verificar que a lama abrasiva é constituída principalmente por quartzo e ilita (K, H 3 O)Al 2 Si 3 AlO 10 (OH) 2. Podem ser observados também picos pouco intensos de anortita (CaAl2Si2O8), calcita (CaCO3) e Magnesiorniblenda Ca 2 (Mg,Fe +2 ) 4 Al(Si 7 Al)O 22 (OH,F) 2. Isso ocorre devido ao beneficiamento de granito, que durante o corte produz um pó da pedra o quartzo e a ilita e junta-se a lama abrasiva, evidenciando uma maior quantidade em sua composição desses compostos. Como podemos observar os difrato gramas de raios X na figura 1. Elaboração Própria (2009) FIGU RA 1: Difrato grama de Raios- X da Lama Abrasiv a Fonte: Podemos observar portanto, a presença dos compostos que formam a lama abrasiva em diferentes concentracões, quais sejam: o carbonato de cálcio na amostra observada (ponto 1) é relativamente esperada, pois a cal é um dos constituintes principal no processo de beneficiamento do granito, auxiliando o corte do bloco. Já o quartzo, com um pico expressivo (ponto 2), com uma distância interplanar de 3,33 Å, indicando que a sua presença na amostra deve-se a serragem do bloco de pedra, resultando em um resíduo mineral na lama abrasiva, conhecido como pó de pedra, (RODRIGUES, 1996) A anortita (ponto 3), apareceu em uma distância interplanar de 3,16 Å, é um dos minerais da série da plagioclase, um dos grupos de minerais mais abundantes na crusta. Ocorre nas rochas ígneas e metamórficas. Como o quartzo, este também apareceu na amostra devido à serragem. A ilita, o pico mais expressivo (ponto 4), com maior intensidade e uma distância interplanar de 9,84 Å, representa um mineral argiloso cuja estrutura está essencialmente relacionada com as micas e que são encontradas nas rochas calcárias. Provavelmente deve-se ao considerável aumento da quantidade de cal colocada no processo do beneficiamento de granito. (ARAÚJO, 2008). Continua-se com uma menor quantidade de Mica Moscovita e os outros 10
11 minerais. Esses poucos minerais que aparecem na composição da lama abrasiva são originados das rochas ornamentais brutas que ao serem serradas passam para o resíduo em poucas quantidades, mas o suficiente para fazerem parte da composição do resíduo industrial. A Magnesiorniblenda, Ca 2 (Mg,Fe +2 ) 4 Al(Si 7 Al)O 22 (OH,F) 2, com uma difícil interpretação de distância interplanar, apresenta-se com um menor índice de presença nessa amostra analisada. Isso ocorre devido a poucas quantidades desse tipo de mineral nas pedras ornamentais. Assim, aparece apenas em um pico do difrato grama de raios-x. No ensaio de Fluorescência de Raio-X foi possível evidenciar a composição química com a porcentagem referente a cada elemento na forma de óxido contido na lama abrasiva, conforme mostrado na Tabela 1. Óxidos Percentual(%) CaO 40,67 SiO 2 14,60 Fe 2 O 3 8,74 Al 2 O 3 5,85 K 2 O 1,89 MgO 1,59 TiO 2 1,43 Na 2 O 0,87 MnO 0,12 SrO 0,08 ZrO 2 0,04 Cr 2 O 3 0,03 CuO 0,03 ZnO 0,02 PF 24,04 TABELA 1: Análises químicas e PF (Ponto ao Fogo) pela fluorescência de raio-x da lama abrasiva Fonte: GRANFUJI - Mármores e Granitos LTDA Verificou-se uma significativa porcentagem de Óxido de Ferro (Fe 2 O 3) o que provavelmente dificulta a utilização deste resíduo em produtos cerâmicos sem um tratamento de desferrização da lama. É preciso uma desferrização, para que o produto tenha uma qualidade melhor, mas, sabe-se que o óxido de ferro serve para a obtenção da cor avermelhada nos produtos de cerâmica, podendo também ser empregada na produção de telhas, por exemplo. Observa-se também uma grande porcentagem da cal, com 40,67 %, indicando um aumento significativo no uso da cal no processo do beneficiamento de granito, essencial para a serragem do bloco, pois sem a cal, não há o corte da rocha ornamental de forma eficiente. A cal e a granalha de ferro propiciam o corte dessas rochas. Mesmo que coloquem outro composto como, por exemplo, a bentonita no processo de beneficiamento de granito barateando o custo da produção, precisa-se da cal para que o corte da pedra seja eficaz. Por outro lado, quanto ao quartzo, o óxido de silício ou sílica, observa-se uma diminuição de desgaste do bloco com apenas 14, 60 %. Assim, diminuindo alguns resíduos (pó de pedra) minerais na amostra. Além da caracterização da lama abrasiva, pode-se observar que esse composto pode ser utilizado na fabricação de tijolos e produtos da construção civil, de modo a diminuir os impactos que o mesmo pode proporcionar ao meio ambiente, ou seja, agregar valor ao resíduo, transformando-se em matéria-prima. Dessa forma, irá contribuir positivamente para o 11
12 alcance do desenvolvimento sustentável, já que dimensões econômicas, sociais e ambientais estão sendo levadas em consideração. 5. Considerações Finais Com os estudos realizados neste trabalho sobre a caracterização da lama abrasiva no desdobramento de granito pode-se concluir que na difração de raios-x observou-se uma quantidade de quartzo significativa ocasionado da serragem dos blocos de granito. O mineral ilita apresentou um maior teor devido ao aumento considerável do uso da cal no processo de beneficiamento de granito que foi aumentando ao passar do tempo. A fluorescência de raios-x mostrou que a lama abrasiva contém um maior percentual de cal e quartzo e um menor percentual de óxido de zinco. Além desses já citados, foram encontrados elementos como: óxido de alumínio, óxido de potássio, óxido de magnésio, óxido de titânio, óxido de sódio, óxido de manganês, óxido de estrôncio, óxido de cromo, óxido de cobre e óxido de zicórnio. Então, observa-se uma variedade de minerais que se apresentaram no resíduo sólido. Isso ocorre devido à rocha ornamental já existir esses minerais e outros são adquiridos no processo do desdobramento de granito. Como a lama prejudica o meio ambiente, agregar valor a ela poderá promover grandes benefícios para a população e para as indústrias de desdobramento de granito que são as grandes responsáveis pela sua existência. Logo, pode-se concluir que é viável a produção de tijolos, como a produção de outros produtos da construção civil, já que os resultados observados neste trabalho estão de acordo com as normas NBR 10004/2004, a lei ambiental que classifica os resíduos industriais no meio ambiente, indicando assim, que o resíduo (lama abrasiva) da empresa GRANFUJI - Mármores e Granitos LTDA não apresenta riscos para a produção de produtos cerâmicos na construção civil, tornando o detrito uma matéria prima para outros produtos, dessa forma, diminui os impactos que esse resíduo pode causar ao meio ambiente, tornando possível o alcance do desenvolvimento voltado para a sustentabilidade. Referências ARAÚJO, J.M.S. Tijolos modulares de solo-cimento com a incorporação da lama abrasiva proveniente do beneficiamento de granito, Monografia UEPB, Campina Grande (2008). Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais - ABIROCHAS Rochas Ornamentais, São Paulo, SP (2008) Associação Brasileira de Normas Técnicas -ABNT, NBR 10004/2004, Classificação dos resíduos sólidos, Rio de Janeiro, RJ (2004). FARIAS, Carlos Eugênio Gomes (1995). Mercado Nacional. Séries Estudos Econômicos Sobre Rochas, vol. 2, Fortaleza. FILHO, H. F. M.; POLIVANOV, H.; MOTHÉ, C. G.; Reciclagem dos Resíduos Sólidos de Rochas Ornamentais, Anuário do Instituto de Geociências, UFRJ, Vol. 28-2/2005, p HENNING, Henrique. Codesa - Brasil exporta rochas para o mundo todo. Vitória, ES, jul Disponível em:< Acesso em: 19 jan KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Gestão ambiental: enfoque no desenvolvimento sustentável. Itajaí/SC: Univali, 2004 LEITE, R. Guia Orientativo do Serrador de Granito. Sinto Brasil Produtos Limitada. Rer. 03/06. PEDROSA,S.C. CETEMG - Curso de Serrador. Cachoeira de Itapemirim-ES.Outubro de
13 PRONK, J.; HAK, M. Sustainable Development: from concept to action. The Hague report. New York: United Nations Development Programme, REVISTA ROCHAS DE QUALIDADE. Disponível em:< Acesso em: 26 de fevereiro de RODRIGUES, E.P., Panorama sobre o mercado nacional e internacional do setor de rochas ornamentais. Terra em Revista, v.1, p.40-49, 1996 SOBREIRO, M. J. & Vieira, T., Rochas ornamentais e industriais portuguesas. (Bol. Minas, vol. 39, (3 4), pp , I.G.M., Lisboa. SOUZA, J. N.; RODRIGUES, J. K. G. ; NETO, P. N. DE S.; Utilização dos Resíduos Provenientes da Serragem de Rochas Graníticas como Material de Enchimento em Concretos Asfaltos Usinados a Quente. Disponível: Acesso em 05 fev MACHADO, I. Fique Informado - Rochas Ornamentais: Expositores mostram tijolo.... Disponível em:<http: fiqueinformadorochas.blogspot.com/2008/08/expositores-mostram-tijolo-ecolgico-e.htm>. Acesso em : 26 de fevereiro de MARTINS, M. F.; CÂNDIDO, G.A. Índice de Desenvolvimento Sustentável IDS dos Estados brasileiros e dos municípios da Paraíba. Campina Grande: Sebrae, NEVES, G. A.; Reciclagem de Resíduos da Serragem de Granitos para Uso como Matéria-Prima Cerâmica, Doutorado em Engenharia de Processos. Universidade Federal de Campina Grande, UFCG, Brasil. 13
Palavras-chave: Caracterização, lama abrasiva, rochas ornamentais.
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